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1 2 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL RESUMO Este livro tem como objetivo, mostrar a importância do aprender de forma lúdica e prazerosa para a criança, enfocando o brincar durante o processo de desenvolvimento enquanto ser humano e sua contribuição para o desenvolvimento no ensino e a aprendizagem na educação infantil, enfatizando, o prazer de descobrir o mundo em que está inserida, através da brincadeira, na construção do seu caráter, sua formação moral e social, de acordo com o ambiente no qual a mesma se encontra. As brincadeiras são importantíssimos instrumentos pedagógicos no desenvolvimento e na aprendizagem da criança, pois ajudam a construir conhecimento e ainda proporcionam momentos de alegria para o desenvolvimento da criança e o despertar para várias linguagens. 3 . 4 É essencial que a criança tenha espaço para se descobrir, que tenha contato consigo mesma, além da possibilidade explorar o mundo a sua volta. Neste contexto escolar, nosso desafio como educadores, é mediar criando situações (Atividades e propostas) para que a criança sinta-se à vontade em desenvolver sua melhor linguagem. 5 SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................................................02 2 – O BRINCAR........................................................................................................................06 3 – BRINCADEIRA É COISA SÉRIA..............................................................22 4 - BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NOS ESPAÇOS ESCOLARES........23 5 - A LINGUAGEM LÚDICA..........................................................................27 6 - EDUCAÇÃO E PRÁTICAS LUDICAS......................................................32 7 - O LÚDICO COMO PROCESSO EDUCATIVO.........................................36 8 - A IMPORTÂNCIA DAS BRINCADEIRAS FOLCLÓRICAS...................40 9 - A MÚSICA E SUA CONTRIBUIÇÃO EDUCACINAL PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM......................................................................................45 10- A MÚSICA COMO FERRAMENTA LÚDICA NA ESCOLA.................48 11- PSICOMOTRICIDADE E DESENVOLVIENTO INFANTIL..................76 12- A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO LIGADO ÀS HABILIDADES MOTORAS........................................................................................................79 13- CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................96 6 O BRINCAR O brincar é um importante processo psicológico, fonte de desenvolvimento e formação de caráter educacional e social. Ele envolve complexos processos de articulação entre o velho e o novo, entre a experiência, a memória e a imaginação, entre a realidade e a fantasia, sendo marcado como uma forma particular de relação com o mundo, distanciando-se da realidade da vida comum, ainda que nela referenciada. A brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil, na medida em que a criança pode transformar e produzir novos significados. O brincar não só requer muitas aprendizagens como também constitui um espaço de aprendizagem. Como ressalta Machado (2003, p.37). O brinquedo, visto como objeto, como suporte da brincadeira, permite à criança criar, imaginar e representar a realidade e as experiências por ela adquiridas. Proporciona a criação, por parte da criança, criação esta que é fruto da sua imaginação e de sua fantasia. O educador é aquele que cria as oportunidades, oferece materiais e participa das brincadeiras, mediando à construção do conhecimento. O uso de materiais lúdicos em sala de aula para contribuir no desenvolvimento e aprendizagem de maneira mais criativa, prazerosa e sociável. Como afirma Borba (2006), a imaginação, constitutiva do brincar e do processo de humanização dos homens, é um importante processo psicológico, iniciado na infância, que permite aos sujeitos se desprenderem das restrições impostas pelo contexto imediato e transformá-lo. Combinada com uma ação performativa construída por gestos, movimentos, vozes, formas de dizer, roupas, cenários etc., a imaginação estabelece o plano do brincar, do fazer de conta, da criação de uma realidade “fingida”. 20 Vygotsky (2007) defende que nesse novo plano de pensamento, ação, expressão e comunicação, novos significados são elaborados, novos papéis sociais e ações sobre o mundo são desenhados, e novas 7 regras e relações entre os objetos e os sujeitos e desses entre si, são instituídas. A brincadeira de faz-de-conta estimula a capacidade de a criança respeitar regras que valerão não só para a brincadeira, mais também para a vida. Ela também ativa a criatividade, pois através da escolha dos papéis, a criança terá que reproduzir e criar a representação na brincadeira. É assim que cabos de vassoura se transformam em cavalos e com eles as crianças cavalgam para outros tempos e lugares; pedaços de pano transformam-se em capas e vestimentas de príncipes e princesas; pedrinhas em comidinhas; cadeiras em trens; crianças em pais, professores, motoristas, monstros, super-heróis etc. (Borba, 2006). O brincar envolve múltiplas aprendizagens. Vygotsky afirma que na brincadeira “a criança se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo, é como se ela fosse maior do que ela é na realidade” (2007, p.122). Isso porque a brincadeira, em sua visão, cria uma zona de desenvolvimento proximal, permitindo que as ações da criança ultrapassem o desenvolvimento já alcançado (desenvolvimento real), impulsionando-a a conquistar novas possibilidades de compreensão e de ação sobre o mundo. Segundo Vygotsky (2007, p.118). Toda criança tem necessidade e o direito de brincar, isto é uma característica da infância garantida em Lei. A função do brincar não está no brinquedo, no material usado, mas sim na atitude subjetiva que a criança demonstra na brincadeira e no tipo de atividade exercida na hora da brincadeira. Essa vivência é carregada de prazer e satisfação. É a falta desse prazer ou dessa satisfação que pode acarretar na própria criança, alguns distúrbios de comportamento. Em cada etapa evolutiva da criança, o brincar vai se modificando, mais é essencial que ela tenha oportunidade de explorar todas as fases do brincar. A importância do brinquedo é a da exploração e do aprendizado concreto do mundo exterior, utilizando e estimulando os órgãos dos sentidos, a função sensorial, a função motora e a emocional. 8 A brincadeira tem uma enorme função social, desenvolve o lado intelectual e principalmente cria oportunidades para a criança elaborar e vivenciar situações emocionais e conflitos sentidos no dia a dia de toda criança. 4 Segundo RCNEI (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil), entendemos a importância do brincar (e que esta questão na vida escolar da criança), tendo em vista, o desenvolvimento da criança em todos os seus aspectos, ou seja, cognitivo, afetivo, motor e social. 9 O brincar favorece a criança o aprendizado, pois é brincando que o ser humano se torna apto a viver numa ordem social e num mundo culturalmente simbólicos.É o mais completo dos processos educativos, pois influencia o intelecto, o emocional o e corpo da criança. Brincar faz parte da especificidade infantil e oportunizar a criança seu desenvolvimento e a busca de sua completude, seu saber, seus conhecimentos e suas expectativas do mundo. Por ser importante para as crianças, a atividade lúdica e suas múltiplas possibilidades pode e deve ser utilizada como recurso de aprendizagem e desenvolvimento. É no brincar que acontece a aprendizagem da criança, é através das brincadeiras as crianças podem desenvolver a sua capacidade de criar brincadeiras, para dar condições do desenvolvimento na diversidade das brincadeiras nas experiências através da troca com outra criança ou com os professores ou com a sua família. Quando a criança está brincando, ela cria situações imaginárias que lhe permite manusear objetos e se aventurar em situações do mundo dos adultos. Enquanto brinca, seu conhecimento se amplia, pois ela pode fazer de conta que age de maneira adequada ao manipular objetos com os quais o adulto opera e ela ainda não. O brincar é muito importante por que é através do mesmo que a criança desenvolve, conhece e compreende o aprendizado e se expressa no mundo que a cerca. Com base nas palavras que Vigotsky destacou, a importância da brincadeira para o aprender, o desenvolvimento infantil, segundo o autor, vem auxiliando cada vês mas a criança e facilitando seu modo de absorver conhecimento, no faz de conta a criança tem a oportunidade de ser aquilo que ainda não é ou seja, ser o que ela imagina ser, através do seu imaginário ela vive suas próprias estórias e num mundo cheio de fantasias e encantamento, neste mundo as crianças se sentem a vontade em agir como se fossem maiores ou até imita os adultos, exercitam a compreensão de papéis sociais e pode usar, de modo simbólico, objetos e ações que ainda não lhes são permitidos. Dessa forma, enquanto brinca, a criança realiza muitas descobertas sobre o mundo que a cerca e sobre si mesma, bem como aprende a relacionar-se com o outro, com o mundo em que vive. O faz de conta depende da capacidade de cada criança para simbolizar o seu imaginário e para favorecer esse fazer da criança, é de fundamental importância que o espaço ofereça recursos e materiais variados que permitam a elas, expressarem emoções e representarem 10 situações cotidianas. Pode-se afirmar que o Brincar “É de fundamental importância para a aprendizagem da criança, por que é através dela que a criança aprende, gradualmente desenvolve conceitos de relacionamento casuais ou sociais, o poder de descriminar, de fazer julgamentos, de analisar e sintetizar, de imaginar e formular e inventar ou recriar suas próprias brincadeiras” (SANTIN, 2001, p.523), ou ainda simplificada nas seguintes palavras de Ferreiro (1988), Brincar “É divertir-se e entreter-se infinitamente em jogos de criança” Lúdico - “Que tem caráter de jogos, de aprender brinquedo e divertimento; é uma necessidade básica da personalidade, do corpo e da mente, faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana” (FERREIRO, 1988, p.139). O ato de brincar não é somente “O brincar por brincar”, mais sim o que ela representa para quem brinca. O brincar está em uma dimensão valorizada no desenvolvimento do aprender, abrangendo crianças e adultos, elevando-os a patamares ainda maiores, representando a necessidade de conhecer, construir e de se descontrair, em um mundo real ou simbólico cheio de momentos maravilhosos que só acontece através da prática da própria palavra. Para Huizinga (1999), o jogo, o brincar, deve ter caráter de liberdade para as crianças irem muito além das suas fantasias, deve ser uma atividade voluntária e quando esta atividade é imposta, deixa de ser uma brincadeira ou um jogo. É na brincadeira que as crianças aprendem como os outros pensam e agem, descobrindo assim uma forma mais rápida para a troca de ideias, respeito pelo outro e a própria convivência social. Enquanto aprendem brincando também ensinam algo de sua vivência, resultando na interação do aprender e ensinar ao mesmo tempo. O brincar tem grande importância para educação infantil, principalmente no aspecto cognitivo, proporcionando á criança, a criatividade com o objetivo de desenvolver suas habilidades. As brincadeiras fazem parte da infância de toda criança e possuem um grande significado emocional e cultural. Temos várias razões para brincar, pois sabemos que é extremamente importante para o desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo e social da criança. É brincando que a criança expressa vontades e desejos construídos ao longo de sua vida, e quanto mais oportunidades a criança tiver de brincar, mais fácil será o seu desenvolvimento para aprender. Segundo Carneiro e Dodge (2007, pág. 59), “ O movimento é, sobretudo para criança pequena, uma forma de expressão e mostra a relação existente entre ação, pensamento e linguagem”. A criança consegue lidar com situações novas e inesperadas, e age de maneira independente, consegue enxergar e entender o mundo fora do seu cotidiano. Atualmente, as crianças 11 entendem por brincadeira os jogos eletrônicos, fazendo com que as mesmas não se movimentem, deixando-as estáticas e com isso sedentárias e obesas. Com as brincadeiras tradicionais, como, por exemplo, pular no pula-pula, corda, elástico, pique, etc., fazem com que as crianças se movimentem a todo tempo, gastando energia e dando liberdade para criar proporcionando alegria e prazer. As razões para brincar são inúmeras, pois sabemos que a brincadeira só faz bem e só não entendemos porque em muitos lugares isso incomoda tanto na sociedade ou algumas pessoas, pais, professores..., mas sabemos que o brincar é um direito da criança, como apresentado na Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, denominada Estatuto da Criança e do Adolescente, acrescenta no Capítulo II, Art. 16°, Inciso IV, que toda criança tem o direito de viver o seu tempo de infância que é o de brincar, praticar esportes e divertir-se. Então vimos que, a criança tem o direito de brincar, pois está amparada por lei e esta, é mais uma razão para que as crianças brinquem, além das inúmeras situações que já citamos, porque o brincar favorece a descoberta, a curiosidade, uma vez que auxilia na concentração, na percepção, na observação, além disso, as crianças desenvolvem os músculos, absorvem oxigênio, crescem, movimentam-se no espaço, descobrindo o seu próprio corpo. O brincar tem um papel fundamental neste processo, nas etapas de desenvolvimento da criança. Na brincadeira, a criança representa o mundo em que está inserida, transformando-o de acordo com as suas fantasias e vontades e com isso solucionando problemas. Para Cunha (1994), o brincar é uma característica primordial na vida das crianças, porque é bom, é gostoso e traz felicidade quando estão a brincar. Além disso, ser feliz é estar mais predisposto a ser bondoso, a amar o próximo e a partilhar fraternalmente, são outros pontos positivos dessa prática. A educação infantil abre portas para que as vivenciem em grupos nessa faixa etária tornem-se significativas no processo de aprendizagens futuras. A história da educação infantil é marcada por altos e baixos, seu surgimento se deu com a revolução industrial, esse movimento levou mulheres e mães para fora do lar, gerando a necessidade do surgimento das creches. A educação infantil abre portas para que as vivencias em grupos nessa faixa etária, tornem-se significativas no processo de aprendizagens futuras. . Através das brincadeiras as crianças podem aprender sobre o mundo, desenvolvendo-senos sete eixos mencionados nos RCNEIS. 12 A grande maioria das brincadeiras estão associadas ao desenvolvimento dos movimentos corporais, trabalhando as destrezas, habilidades, lateralidade. Muitas brincadeiras proporcionam o aprendizado das regras de convivência, dos conceitos matemáticos como; noções de espaço e tempo, outras desenvolvem a linguagem e a autonomia, pois a criança precisa comunicar-se e expressar suas preferências para brincar, as brincadeiras ultilizando a música e as artes ativam a criatividade, outras brincadeiras ensinam as ciências. O universo escolar proporciona experiências únicas na vida de uma criança, seja qual for sua idade, pôr ser o início destas descobertas já começa na educação infantil. Desde muito cedo as crianças brincam e esta é uma realidade nas creches e pré-escolas. A criança começa primeiro a deselvonver brincadeiras com o seu corpo para aos poucos ir diferenciando os objetos ao seu arador. Discorrendo sobre o tema a história do brincar Craidy e Kaercher (2001) afirmam que a criança vê o mundo através do brinquedo e que sempre existiram formas, jeitos e instrumentos para brincar. As brincadeiras se perpetuam e se renovam a cada geração carregando os traços característicos de cada uma. Elas continuam ressaltando: A criança se expressa pelo ato lúdico e é através desse ato que a infância carrega consigo as brincadeiras. Elas perpetuam e renovam a cultura infantil, desenvolvendo formas de convivência social, modificando-se e recebendo novos conteúdos, a fim de se renovar a cada geração. É pelo brincar e repetir a brincadeira que a criança saboreia a vitória da aquisição de um novo saber fazer, incorporando-o a cada novo brincar. (2001,p.103). Mesmo com a implantação das novas tecnologias, as simples brincadeiras não deixam de ter sua relevância, elas podem tornar-se fontes de estímulo ao desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da criança ou até mesmo as brincadeiras podem ser resgatadas para dentro da escola. O grande educador Rubem Alves escrevendo sobre a importância do brincar na educação infantil afirma como o lúdico interfere no desenvolvimento da criança. 10 É através das descorbertas proporcionadas pelo ato de brincar, que as crianças, afima Rubem Alves “Podem exercer sua capacidade de criar”, condição imprescindível para que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhes são oferecidas nas instituições, sejam elas mais voltadas ao lúdico ou às aprendizagens que ocorrem por meio de uma intervenção direta. Sendo assim quando a criança está brincando a criança deselvolve seu lado criativo. O brincar na Educação Infantil serve como o eixo orientador e estimulador para o desenvolvimento e o desempenho de suas atividades, mostrando assim, que é necessário que o professor tenha consciência do valor pedagógico das brincadeiras e dos jogos para a criança já desde a educação infantil. As variações das brincadeiras na Educação Infantil vão promover um maior desenvolvimento da criança que pode favorecer uma prática voltada para um relacionamento mais reflexivo, entre muitas outras contribuições do brincar para a prática pedagógica, na educação infantil. A importância da Infância, do brincar é algo historicamente construído, a infância e o brincar, possuem perspectivas diferentes de acordo com a sociedade e também com cada período histórico tomado como base para a pesquisa. O seu significado vai depender do contexto onde surge e como se dão as relações sociais, históricas, políticas e culturais dentro do contexto estudado. 11 A criança não pode ser vista como algo que independe das relações, como algo já previsto ou descontextualizado. De acordo com o Art. 2º do estatuto da criança e do adolescente “Considera-se criança a pessoa até doze anos de idade incompletos” para as ações tomadas no Brasil, o parâmetro para a definição de criança é esta faixa etária, logo o período da infância coincide com o período em que os indivíduos são considerados crianças. A conceituação da criança e da infância é algo construído pelo adulto, essa construção faz parte de um processo duplo que num primeiro momento tem toda uma associação com o contexto, regras e valores colocados pela sociedade, e outro que traz as percepções do adulto com relação as suas memórias, ou seja, a concepção de infância acaba por ter em seu conteúdo uma visão idealizada do passado do adulto somada com a visão trazida pela sociedade. A criança não é e não pode ser vista um adulto em miniatura, ela ainda precisa passar por diversas fases de sua vida, o desenvolvimento motor, físico, cognitivo e social para chegar a fase adulta e o brincar é um dos elementos necessários para seu desenvolvimento. O ato de brincar, como já foi visto, é algo intrínseco ao ser humano e que está presente em sua vida, sobretudo, durante a infância. Qualquer ação pode ser considerada brincadeira, não há nenhum traço específico para determinar quais formas de agir podem ser consideradas e interpretadas como tal. Para que se identifique que a ação realizada seja uma brincadeira, basta que os sujeitos envolvidos nela e a determinem dessa forma. Todo jogo e toda a brincadeira pressupõe uma cultura específica que pode ser denominada cultura lúdica, um conjunto de procedimentos que tornam a ação do jogo e a atuação dos que brincam, possível. Kishimoto (2008 p.24) afirma que “Dispor de uma cultura lúdica é dispor de um número de referências que permitem interpretar como jogo atividades que poderiam não ser vistas como tal para outras pessoas”. O jogo pressupõe um ponto de partida que chamamos de cultura lúdica, é ela que determina o andamento e o desencadear da brincadeira, a cultura lúdica é fruto de uma interação social e está ligada a cultura geral de onde e de quem se brinca. Como a cultura de um povo não é algo estático – ressignificada a todo o tempo, não haveria como a cultura lúdica ser algo fixo. A cultura geral pode ser vista como uma construtora da lúdica, assim no decorrer das brincadeiras e do desenvolvimento a criança brinca e molda a todo tempo os elementos da vida social que chegam até ela. Para Kishimoto (2008, p.26) “O desenvolvimento da criança determina as experiências possíveis, mas não produz por si só a cultura 12 lúdica. Esta se origina das interações sociais”. No momento em que a criança domina essa cultura lúdica e brinca envolve-se em diversos estilos e formas de brincar, sobretudo as brincadeiras de faz de conta quando se cria uma situação imaginária que é vivenciada e trazida para a sua realidade. Quando a criança inicia a construção do faz de conta ela passa a utilizar e definir objetos e funções além daquelas que se percebe, um exemplo é quando ela brinca com um a cabo de vassoura acreditando ser um lindo cavalo. Esse processo de construção da brincadeira e da imaginação traz para a criança consequências importantes para o seu desenvolvimento, ao entrar no mundo do faz de conta ela faz uma separação dos campos de percepção e da motivação, já que há muitas vezes, a simulação de ações, em que materiais são utilizados para significar outro. 13 Nesse momento a criança passa a interpretar o campo do significado quando ela utiliza objetos para outras funções, em meio a sua brincadeira, que não são as suas funções reais. Durante as brincadeiras de faz de conta, a criança acaba por utilizar em alguns momentos, elementos presentes em suas vivências cotidianas, ela utiliza como matéria prima de sua imaginação o que foi observado e vivenciado durantediversos momentos de sua vida como Cerisara afirma: Quando a criança brinca, ela cria uma situação imaginária, sendo esta uma característica definidora do brinquedo em geral. Nesta situação imaginária, ao assumir um papel, a criança inicialmente imita o comportamento do adulto tal como ele observa em seu contexto (CERISARA, 2008, p.130). A ação de brincar não pressupõe a utilização apenas de elementos do imaginário, pode-se também combinar situações reais vivenciadas com outras do universo da imaginação. Essa adesão do real com o imaginário promove a recombinação criativa das experiências vividas com suas ideias virtuais e também dos materiais, com o que se brinca; Estes podem receber a denominação de “Brinquedo”. De acordo com Brougére (1995) a brincadeira pode ser vista como uma forma de interpretação que a criança fez sobre o brinquedo, ele não condiciona as ações da criança, mas oferece um suporte que poderá ganhar inúmeros significados a partir do imaginário e de acordo como o decorrer da brincadeira. No momento que se vive a infância e que se brinca, existe no brinquedo e na brincadeira um pouco do mundo real, dos valores da sociedade, mas existe também elementos do imaginário. Outra modalidade de brincadeira presente na vida da criança é o jogo de regras que começa a tornar-se participante do cotidiano das mesmas em torno dos 6 anos de idade, em que se estabelecem parâmetros para que a brincadeira possa ocorrer, na maioria das vezes essas regras possuem como parâmetro inicial as regras gerais da sociedade. De acordo com Friedman (1996) as regras podem ser 14 de dois tipos, as transmitidas, aquelas que se tornam institucionais, em que a ação dos mais velhos acabam determinando a ação dos outros mais jovens e dessa forma vão sendo passadas e legitimadas, são os mais velhos que trazem as regras para a brincadeira; e as regas espontâneas que possuem natureza momentânea, que são criadas de acordo com a necessidades dos seres brincantes. Quanto a forma de jogar e as práticas das regras, existem também alguns estágios definidos por Friedman, o primeiro é definido como motor e individual, em que fazem parte as crianças de 0 a 2 anos, são regras não presentes, o segundo estágio que compreende as crianças de 2 a 5 anos, é chamado de estágio egocêntrico, em que a criança brinca sozinha e quando brinca juntamente com outras crianças, não existe a preocupação para estabelecer nem para obedecer regras; terceiro estágio denominado de cooperação em que estão presentes as crianças de 7 a 10 anos em que há a necessidade de vencer o seu parceiro, assim surge uma necessidade de controle das ações dentro das brincadeira, do que deve e o que não deve ser feito e o quarto estágio que é o de codificação das regras que compreende crianças ente 11 e 12 anos, nesta fase as brincadeiras são todas regulamentadas e as regras são seguidas e levadas a sério. No momento em que a criança brinca, pode-se considerar que ali existe o lúdico em ação. Quando brinca, a criança pode fazê-lo de diversas formas, como já foi visto, com os jogos de exercício, faz de conta, brincadeiras musicas, simbólicas e até mesmo jogos de regras. Estudando o lúdico e suas implicações, torna-se possível perceber algumas definições distintas para as diversas formas de brincar e consequentemente os elementos que compoem esta prática. Segundo Kishimoto (1996), a atividade lúdica pode apresentar-se de três formas o jogo, brinquedos e brincadeiras, cada atividade desta possui características distintas, entretanto se assemelham quanto ao desenvolvimento cognitivo e ao prazer proporcionado por eles, assim, para um a melhor compreensão torna-se importante distingui-las e identificá-las de forma mais detalhada. A escola de Educação Infantil deve proporcionar um ambiente agradável que atenda às necessidades das crianças com atividades pedagógicas embasadas no lúdico, valorizando e oportunizando os bebês para explorarem o espaço e conquistar novas habilidades, como define o autor: A experiência da criança no contexto educativo precisa ser muito mais qualificada. Ela deve incluir o acolhimento, a segurança, o lugar para se trabalhar emoção, para o gosto e para o desenvolvimento da sensibilidade. (Bujes, 2001, p.13). As diversidades de práticas pedagógicas caracterizam o universo escolar infantil, refletindo em diferentes concepções, e em funções atribuídas ao movimento no cotidiano das 15 creches, pré- escolas e instituições afins. Existem muitas possibilidades de incorporar atividades 16 lúdicas na aprendizagem, para isso é importante, que permita à decisão, a escolha, as descobertas, as perguntas e as soluções por parte das crianças, pois ao contrário será compreendida apenas como mais um exercício. Brincar é a fase mais importante da infância do desenvolvimento humano, neste período por ser auto - ativa representação do interno a representação de necessidades e impulsos internos. (FROEBEL, 1912, p.54- 55). Pois as crianças possuem inúmeras maneiras de pensar, de jogar, de brincar, de falar estudar e se movimentar, por meio destas diferentes linguagens as quais se expressam no seu cotidiano, ou seja, no convívio escolar, familiar e escolar, construindo assim uma identidade infantil. No entanto elas imaginam, falam, fantasiam, colecionam, reconstroem o seu mundo infantil. Nesse sentido, é muito importante estar proporcionando nas atividades realizadas com as mesmas brincadeiras e jogos que estimulem suas habilidades e possam descobrir seus talentos próprios. Por que brincar? O brincar é uma atividade muito importante para a vida humana, por que a mesma é a criadora do desenvolvimento, na qual a imaginação, desenvolve a fantasia da realidade para o interagir na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos para a convivência na sociedade. A brincadeira traz em si a articulação de elementos imaginários de imitação e também de elementos da realidade, ela acaba por ser uma transformação da realidade no plano da imaginação e das emoções através do brinquedo. O brincar causa na criança, inúmeras sensações como representação, a imitação do cotidiano ou de situações vividas anteriormente nas questões individuais e sociais, enfim promove novas vivências, o que acarreta num desenvolvimento e por consequência um aprendizado, sempre acompanhados pelo prazer, que o brincar proporciona. Em contrapartida aos discursos dos pais de que o aluno só vai aprender se deixar de lado a brincadeira, Vigotski afirma que a brincadeira proporciona aprendizado fazendo com que a criança se relacione com o outro, entenda as relações humanas, seu papel nelas, construindo sua identidade. A brincadeira na Educação Infantil não deve ser entendida, apenas no seu aspecto funcional, colaborando para a melhoria das aprendizagens cognitivas, mas também brincam para satisfazer necessidades como, por exemplo, viver a brincadeira. Durante essas brincadeiras a criança utiliza seu corpo e o movimento como forma de interagir com outras e com o meio, produzindo culturas. Essas 17 culturas estão embasadas em valores com a ludicidade, a criatividade e nas suas experiências de movimento. Desta forma entende-se que as práticas escolares devem respeitar e compreender o universo infantil, desenvolvendo na criança a capacidade de produzir conhecimentos fundamentais para seu próprio caráter. Durante o brincar as crianças aprendem umas com as outras e se desenvolvem como seressociais, que pensam que possuem atitudes, que geram novas capacidades, que desenvolvem novas habilidades de descoberta do mundo. Como nos afirma Brasil, (2002, p. 27), “Ao brincar as crianças criam, recriam e repensam os acontecimentos do seu imaginário, para o aprender que acontece através do brincar, desenvolvendo o aprender de forma lúdica, mais as brincadeiras não podem ser sempre dirigidas da mesma forma, mas de maneiras variadas, livres com o intuído de gerar aprendizagem, ou seja, com uma função educativa para o desenvolvimento da criança Os resultados demonstraram que “A importância do brincar e do aprender na educação infantil” é de fundamental importância na vida da criança e a brincadeira é um meio que a criança utiliza para desenvolver, aprender a se relacionar com as outras crianças e com o mundo em que estão inseridos. Vale ressaltar que as escolas de educação infantil devem oferecer à criança um ambiente de qualidade e favorecedor para o desenvolvimento da criança, que estimule as interações sociais e que seja um ambiente enriquecedor da imaginação infantil, por que é através do brincar que a crianças aprendem, tornando os momentos de aprendizagens prazerosos. A importância de valorizar a prática do brincar do lúdico para incentivar crianças na educação infantil, é enorme e os benefícios que o brincar proporciona no desenvolvimento da criança são inúmeros, através desse momento à criança, se comunica, descobre suas habilidades com naturalidade e com prazer, dentro desse universo de faz de conta. Levando em conta o que foi analisado o brincar este diretamente relacionado ao desenvolvimento intelectual da criança, dessa forma, a criança precisa de estímulos quanto nos ambientes escolares, quanto familiar, dando oportunidades de contatos com materiais que dão suporte a uma aprendizagem de qualidade. Em virtude do que foi mencionado não se pode simplesmente culpar os educadores ou considerá-los desmotivados pelo assunto, mas, é preciso mostrar quais são os benefícios de um trabalho bem elaborado, que envolva as atividades 18 lúdicas de qualidade, com liberdade de ação física, mental, utilizando recursos e transparência, no estímulo na competição entre os alunos através dos brinquedos, oferecer segurança, tudo isso são notáveis para enriquecimento do trabalho, e a construção de sua identidade. Considerando esses aspectos, com base nas pesquisas sobre a importância do brincar na educação infantil, pode se obter um resultado satisfatório na busca por uma identidade infantil de qualidade. Apesar de a palavra brincadeira ser estreitamente ligada à infância e às crianças, vemos que a brincadeira sempre foi uma atividade significativa na vida dos homens em diferentes épocas e lugares (Borba, 2007). De acordo com Borba (2007), a experiência do brincar, cruza diferentes tempos e lugares, passados, presentes e futuros, sendo marcada ao mesmo tempo pela continuidade e pela mudança. Mas essa experiência não é simplesmente reproduzida, e sim recriada a partir do que a criança traz de novo, com seu poder de imaginar, criar, reinventar e produzir cultura. A brincadeira não é algo já dado na vida do ser humano, ou seja, aprende-se a brincar desde cedo, nas relações que os sujeitos estabelecem com os outros e com a cultura. Para a referida autora, brincar é uma atividade que, ao mesmo tempo, identifica e diversifica os seres humanos em diferentes tempos e espaços. É também uma forma de ação que contribui para a construção da vida social coletiva. Para as crianças, a brincadeira é uma forma privilegiada de interação com os outros sujeitos, adultos e crianças, e com os objetos e a natureza à sua volta. Brincando, elas se apropriam criativamente de formas de ação social tipicamente humana e de práticas sociais específicas dos grupos aos quais pertencem, aprendendo sobre si mesmas e sobre o mundo em que vivem. A brincadeira, por sua vez, cria laços de solidariedade e de comunhão entre os sujeitos que dela participam e também assume importância fundamental como forma de participação social. Segundo Borba (2007, p.12). Crianças são sujeitos sociais e históricos, marcados pelas contradições das sociedades em que estão inseridas. Elas produzem cultura e são produzidas na cultura em que se inserem (em seu espaço) e que lhes é contemporânea (de seu tempo). Por isso, não formam uma comunidade isolada, mas, fazem parte de um grupo e suas brincadeiras expressam esse pertencimento (Kramer, 2007). 19 E por situar-se nesse contexto histórico e social, as crianças acabam por incorporar à experiência social e cultural do brincar por meio das relações que estabelecem com os outros – adultos e crianças. Para Borba (2006, p.39). Brincar é uma experiência de cultura importante não apenas nos primeiros anos da infância, mas durante todo o percurso de vida de qualquer ser humano. As crianças brincam, isso é o que as caracteriza (Kramer, 2007). Para ilustrar essa afirmação, devemos atentar que mesmo antes do brincar com os objetos, vem o brincar consigo mesmo e com as pessoas. O brincar com o corpo é descoberta. As primeiras brincadeiras do bebê estão relacionadas à descoberta do eu corporal: lidar com o seu corpo é uma grande e importante brincadeira das crianças (Machado, 2003). O brincar alimenta-se das referências e do acervo cultural a que as crianças têm acesso, bem como das experiências que elas têm (Borba, 2007). Machado (2003, p.21) afirma que: “Brincar é nossa primeira forma de cultura. A cultura é algo que pertence a todos e que nos faz participar de ideais e objetivos comuns, nossa herança mais profunda. A cultura é o jeito de as pessoas conviverem e se expressarem, é o modo como as crianças brincam, como os adultos vivem Mesmo sem estar brincando com o que denominamos “brinquedo”, a criança brinca com a cultura”. “No brincar, a criança lida com sua realidade interior e sua tradução livre da realidade exterior: é também o que o adulto faz quando está filosofando, escrevendo e lendo poesias, exercendo sua religião”. O brincar é uma linguagem e que para explorar, descobrir e apreender a realidade, paradoxalmente a criança se utiliza do faz-de-conta e das brincadeiras. Brincando, ela aprende a linguagem dos símbolos e entra no espaço original de todas as atividades sócio-criativo-culturais. 20 Desta forma, a criança na brincadeira se apropria de elementos da realidade imediata, atribuindo-lhes novos significados. Por isso, toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções e das ideias, de uma realidade anteriormente vivenciada. A criança que brinca, está não só explorando o mundo ao seu redor, mas também, comunicando sentimentos, ideias, fantasias, intercambiando o real e o imaginário nesse espaço chamado brincadeira e que será o de suas futuras atividades culturais. Como membros da sociedade, as crianças herdam a cultura dos adultos e são socializadas nesta cultura. Se outrora a criança era vista como um ser marcado pela ingenuidade, ignorância e indolência, cujo desenvolvimento dependia estritamente do controle adulto, através da disciplina e da moralização, hoje ela assume o lugar de protagonista, alvo privilegiado da sociedade de consumo. Se outrora a família e a escola eram instituições privilegiadas para a socialização das crianças, hoje elas contam com o aporte da mídia eletrônica, com a qual tem interagido diariamente. Nesse contexto, o mundo contemporâneo, marcado pela falta de espaço nas grandes cidades, pela pressa, pela influência da mídia, pelo consumismo e pela violênciaacabam se refletindo na forma como as crianças brincam. Constituindo um saber e um conjunto de práticas partilhadas pelas crianças, o brincar está estreitamente associado à sua formação como sujeitos culturais e à constituição de culturas em espaços e tempos nos quais convivem cotidianamente (Borba, 2006). Borba (2006) assinala que essa influência pode ser tanto pelo contexto físico do ambiente, a partir dos recursos naturais e materiais disponíveis, como também pelo contexto simbólico, ou seja, pelos significados preexistentes e partilhados pelo grupo de crianças. Todos esses elementos externos à brincadeira, localizados na escola, na família, no bairro ou na mídia televisiva, entre outros espaços propiciadores de experiências sociais e culturais, são reinterpretados pelas crianças e articulados às suas experiências lúdicas. A partir daí geram-se novos modos de brincar. A tv e os aparelhos eletrônicos, por exemplo, são elementos externos de grande influência, mas é preciso salientar que suas imagens e representações não são simplesmente imitadas pelas crianças, mas recriadas a partir de suas práticas lúdicas. A televisão e a internet, não só transformou a cultura, a política e o cotidiano das pessoas como também criou novos hábitos e comportamentos, propondo identidades e linguagens, acelerando o ritmo entre produção e consume.. 21 É a mídia que se tem maior acesso sendo possível até afirmar sua participação nos processos de socialização e subjetivação infantis. Porém, essas transformações trazem como pano de fundo as mudanças econômicas e culturais do mundo capitalista que migra de uma lógica centrada na produção e no trabalho do adulto, para a lógica do consumo, em que a criança na condição de consumidora, já está inserida mesmo antes de nascer. O mercado está cada vez mais atento ao público infantil, grupo que tem por linguagem singular a brincadeira, onde o real e o imaginário/fictício se entrelaçam. É fato como afirma Brougère (2001), que a mídia com suas imagens e ficções, influencia a vida e a cultura lúdica das crianças. O que a criança assiste oferece conteúdo para suas brincadeiras, não de forma natural, mas na medida em que pode ser incorporada na cultura lúdica da criança. Isto se dá porque a cultura lúdica da criança, estrutura complexa e hierarquizada, é constituída de costumes lúdicos e brincadeiras (conhecidas, disponíveis, individuais, tradicionais, universais, geracionais, etc.) e, também, de uma estrutura simbólica e de representações, sempre imersas no contexto mais amplo da realidade cultural em que a criança está inserida (Pereira e Santos, 2008). A brincadeira é um lugar de construção de culturas fundado nas interações sociais entre as crianças. O brincar contém o mundo e ao mesmo tempo, contribui para expressá-lo, pensá-lo e recriá-lo. Brincando, jogando e criando narrativas, as crianças estão falando de si próprias, de seus medos, coragem, angústias, sonhos e ideais. Estão falando de seu tempo, da cultura em que vivem, aprendem e se desenvolvem das promessas e do mal estar dessa mesma cultura. Estão falando também de nós, adultos, de nossas expectativas e projetos, de nossa presença e silêncio, de nossas certezas e dúvidas. Para Salgado (2008, p.105): “Fazer do lúdico um espaço dialógico entre crianças e adultos abre a possibilidade de participarmos da vida da criança e de sua cultura como outro que traz experiências, histórias, visões e valores distintos e por ocupar outro lugar social e olhar para a vida sob outras perspectivas, apresenta modos diversos de interpretar e lidar com a cultura contemporânea”. 20 Nos últimos anos tem sido notável a mudança na cultura lúdica da criança. Atualmente, a cultura lúdica está sendo direcionada constantemente para o domínio de objetos. De certa forma a cultura lúdica evoluiu, devido à chegada de novos brinquedos. Dentro desta evolução chegaram os jogos eletrônicos e o videogame. Novas construções de brincadeiras ou desenvolvimento de algumas na falta de outras, novas representações (Brougère, 2001). Brincadeiras que são desenvolvidas nas ruas em coletividade, praticadas por adultos e crianças e geralmente, transmitidas de geração para geração, como: roda, ciranda, amarelinha, pular elástico, cabo de guerra, passa anel, cabra-cega, boca-de-forno, o pique e suas variações estão sendo deixadas de lado, ou seja, sendo substituídas. Com a evolução da cultura lúdica surgiram novos brinquedos. E foram por esses brinquedos que as brincadeiras de rua foram substituídas. Os brinquedos eletrônicos se fazem mais atraentes. E com o decorrer dos dias, a variedade dos brinquedos se torna maior. Exemplo disso pode ser comparado às crianças de gerações passadas que não estavam expostas a tantas mudanças que levam as crianças de hoje a uma espécie de vazio e insatisfação permanentes, pois fica cada vez mais difícil acompanhar o ritmo do brinquedo ou do jogo que está na moda, tal sua agilidade, versatilidade e fugacidade (Ketzer, 2003). As brincadeiras de rua estão tão esquecidas que muitas crianças nem mesmo as conhecem. Como ressalta Postman (1999, p.18) “as brincadeiras de criança, antes tão visíveis nas ruas das nossas cidades, também estão desaparecendo. Os jogos infantis, em resumo, estão em extinção”. Tendo em vista que na sociedade em que se vive, em uma era de avanço tecnológico jamais visto, estes tipos de brincadeiras não passam de mais um referencial e uma nostalgia para quem viveu a época em que eram um hábito comum e prazeroso (Abramovich, 1983). As novas tecnologias, as novas formas de se comunicar através de brincadeiras com jogos eletrônicos e as comunicações online via internet são novos meios de comunicação geniais para a evolução humana. Mas cabe reconhecer que assim como vem ampliando a capacidade de interação social de forma virtual, vem também reduzindo essas capacidades presencialmente. De acordo com Marcondes (apud Paternost, 2005, p.174), “o verdadeiro processo de intercomunicar vai além do contato verbal, quer seja escrito ou oral”. Segundo Lê Boulch (apud Paternost, 2005) é por intermédio do corpo que se efetiva a presença na vida do outro e no mundo. Portanto, as brincadeiras presenciais em grupo, anteriormente citadas, proporcionam as reais capacidades de interação social, pelo fato de compreender e compartilhar emoções com o outro. Este aspecto 21 proporciona o desenvolvimento do reconhecimento das pessoas pelo olhar, do ato de se comportar em grupo e saber se expor, se colocar através da fala. Como ressalta Fortuna (2008, p.15): “No mundo do faz-de-conta, outro senso da realidade é experimentado, impulsionando a confiança na possibilidade de transformação da realidade, marcada por novo imaginário, novos princípios e novos valores gerados na solidariedade, ousadia e autonomia que as atividades lúdicas podem comportar. Isso é consequência da interação social plasmada no brincar, que nos lança em direção ao outro, e nesse enlace – recordemos o étimo da palavra brincar: vinculum, no latim – constitui-nos como sujeitos. Brincando, reconhecemos o outro na sua diferença e na sua singularidade, e as trocas inter-humanas aí partilhadas podem lastrear o combate ao individualismo e ao narcisismo, tão abundantes na nossa época, restituindo-nos o senso de pertencimento igualitário. Não é à toa que justo a brincadeira, em tempos tão hostis, pode contribuir para trazer para a realidade a utopia de um mundo melhor, no qual todos estejam incluídos. Brincar é um meio de aprender a viver e de proclamar a vida. Um direitoque deve ser assegurado a todos os cidadãos, ao longo da vida, enquanto restar dentro do homem a criança que ele foi um dia e enquanto a vida nele pulsar. Quem vive brinca”. 22 BRINCADEIRA é COISA SÉRIA Sabendo que o brincar é um espaço de apropriação e constituição pelas crianças de conhecimentos e habilidades no âmbito da linguagem, da cognição de valores e da sociabilidade, e apesar de todo aporte teórico que tem surgido sobre o tema, afirmando a importância da brincadeira, ainda assim, encontramos ideias e práticas que reduzem o brincar à uma atividade de menos importância no cotidiano escolar e isso se dá à medida em que se avançam os segmentos escolares. O discurso se faz mais forte e presente na Educação Infantil. Porém, no Ensino Fundamental, ele “desaparece” se nos pautarmos apenas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, onde no documento redigido para a Educação Infantil, a questão da ludicidade encontra-se no artigo 3°, inciso I, alínea c e diz o seguinte: “ Art. 3° São as seguintes as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil: As propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil devem respeitar os seguintes fundamentos norteadores: os princípios estéticos da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e de manifestações artísticas e culturais”. Já no documento redigido para o Ensino Fundamental, a questão da ludicidade “desaparece”, assim como mostra o art. 3°, inciso I, alínea “Art. 3° São as seguintes as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental: As escolas deverão estabelecer como norteadores de suas ações pedagógicas: os princípios estéticos da sensibilidade, da criatividade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais”. Também encontramos referência ao brincar no Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 16, inciso IV, dizendo que: “Art. 16 O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: IV. brincar, praticar esportes e divertir-se”. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei Federal n° 8069/1990, deixa claro a proibição do trabalho para menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz e aponta o direito à liberdade, incluindo o brincar, a prática de esportes e a diversão. Mas, ainda é na Educação Infantil, único nível de ensino que a escola deu “passaporte livre”, aberto à iniciativa, criatividade, inovação por parte de seus protagonistas, que a brincadeira pode assumir sua forma específica. E como mostra o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (2002, p.27): “A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um vínculo essencial com 23 aquilo que é o “não brincar”. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imaginação, isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver consciência da diferença existente entre brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu conteúdo para realizar- se. Nesse sentido, para brincar é preciso apropriar-se de elementos da realidade imediata de tal forma a atribuir-lhes novos significados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articulação e a imitação da realidade. Toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções e das ideias, de uma realidade anteriormente vivenciada. A brincadeira favorece à autoestima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interiorização de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos sociais diversos. Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no em um espaço singular de constituição infantil”. Neste documento, a brincadeira é considerada um meio que favorece a autoestima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa, transformando os conhecimentos que já possuíam em conceitos gerais com os quais brinca. As crianças podem acionar seus pensamentos para a resolução de problemas que lhes são importantes e significativos, pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imaginativas e criadas por elas mesmas. Portanto, propiciando a brincadeira cria-se um espaço na qual as crianças podem experimentar o mundo e internalizar uma compreensão particular sobre as pessoas, os sentimentos e os diversos conhecimentos. Porém, todo esse aparato legal não garante na prática o direito de brincar. E assim, entre o discurso e a realidade, o tempo e o espaço do brincar vão sendo reduzidos, sendo este, visto até mesmo como atividade oposta ao trabalho. 24 BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NOS ESPAÇOS ESCOLARES A brincadeira é uma palavra estreitamente associada à infância e às crianças. Porém, ao menos nas sociedades ocidentais, ainda é considerada irrelevante ou de pouco valor do ponto de vista da educação formal, assumindo frequentemente a significação de oposição ao trabalho, tanto no contexto da escola quanto no cotidiano familiar (Borba, 2006). Na opinião de Borba (2006), a significativa produção teórica já acumulada afirmando a importância da brincadeira na constituição dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem não foi capaz de modificar as ideias e práticas que reduzem o brincar a uma atividade à parte, paralela, de menos importância no contexto da formação escolar da criança. Por outro lado, podemos identificar hoje um discurso generalizado em torno da “importância do brincar”, presente não apenas na mídia e na publicidade produzidas para a infância como também nos programas, propostas e práticas educativas institucionais. Como ressalta a referida autora, tanto a dimensão científica quanto a dimensão cultural e artística deveriam estar contemplados nas nossas práticas junto às crianças, mas para isso é preciso que as rotinas, as grades de horários, a organização dos conteúdos e das atividades abram espaço para que possamos, junto com as crianças, brincar e produzir cultura. A autora destaca ainda, que a brincadeira está entre as atividades frequentemente avaliadas por nós como tempo perdido e que essa visão é fruto da ideia de que a brincadeira é uma atividade oposta ao trabalho, sendo por isso menos importante, uma vez que não se vincula ao mundo produtivo, não gera resultados. Borba (2006) enfatiza também que é essa concepção que provoca a diminuição dos espaços e tempos do brincar à medida que avançam as séries/anos do ensino fundamental. Seu lugar e seu tempo vão se restringindo à “hora do recreio”, assumindo contornos cada vez mais definidos e restritos em termos de horários, espaços e disciplina: não pode correr, pular, jogar bola etc. Sua função fica reduzida a proporcionar o relaxamento e a reposição de energias para o trabalho, este sim sério e importante. De acordo com Perrotti (1990, p.20): “A racionalidade do sistema produtivo torna o lúdico inviável, pois o tempo do lúdico não é regulável, mensurável, objetivável. Toda tentativa de subordiná-lo ao tempo da produção provoca sua morte. Por isso ele é banido da vida cotidiana do adulto e permitido nas esferas discriminadas dos 25 “improdutivos”. O lúdico, dentro do mecanismo do sistema, é a sua negação. Em seu lugar permite-se o lazer, o não trabalho, coisa totalmente diferente do lúdico, que é o jogo, a brincadeira, a criação contínua, ininterrupta, intrínseca à produção”. Segundo Wajskop (1999), a brincadeira é uma forma de comportamento social, que se destaca da atividade do trabalho e do ritmo da vida, reconstruindo-os para compreendê-los segundo uma lógica própria, circunscrito e organizado no tempo e no espaço. Mais que umcomportamento específico, a brincadeira define uma situação onde esse comportamento adquire uma nova significação. Como atividade social específica, ainda, a brincadeira é partilhada pelas crianças, supondo um sistema de comunicação e interpretação da realidade que vai sendo negociado passo a passo pelos pares, à medida que este se desenrola. Da mesma forma, implica uma atividade consciente e não evasiva, dado que cada gesto significativo, cada uso de objetos implica a reelaboração constante das hipóteses sobre a realidade com os quais se está confrontando. A criança que brinca pode adentrar o mundo do trabalho pela via da representação e da experimentação; o espaço da instituição deve ser um espaço de vida e interação e os materiais fornecidos para as crianças podem ser uma das variáveis fundamentais que as auxiliam a construir e apropriar-se do conhecimento universal (Wajskop, 1999). Perrotti (1990) afirma que o tempo do lúdico não pode ser jamais o da produção capitalista. Daí o lúdico identificar-se com a criança, já que ela não está apta para o sistema de produção em virtude de o espírito da racionalidade não ter conseguido ainda domá-la. Porém, “com o tempo, ela trocará seus sonhos, seu tempo, pelos privilégios parcos oferecidos pelo sistema; premida pelas exigências, ela sucumbirá à racionalidade” (p.20). Segundo Vidal e Filho (2000), a escola não foi feita nem pensada de forma afetiva, mas para que corpos estejam em pleno trabalho. Para os autores: “A repartição das salas e dos corredores, a localização e o formato de janelas e portas, a distribuição de alunos e alunas na sala de aula e nos demais espaços das escolas dos nossos atuais prédios apontam para a construção de lugares concebidos como cientificamente equacionados, em função do número de pessoas, tipo de iluminação e cubagem de ar. Frias, as paredes e as salas conformam a imagem de ensino racional, neutro e asséptico. Implicitamente se afastam do ambiente escolar características afetivas. Mentes, mais do que corpos, estão em trabalho. E, nesse esforço, a escola abandona a criança para constituir o aluno” (p.32). Como assinala Wajskop (1999), é na situação de brincar que as crianças se podem colocar desafios e questões além de seu comportamento diário, levantando 26 hipóteses na tentativa de compreender os problemas que lhes são propostos pelas pessoas e pela realidade com a qual interagem. Quando brincam, ao mesmo tempo em que desenvolvem sua imaginação, as crianças podem construir relações reais entre elas e elaborar regras de organização e convivência. Concomitantemente a esse processo, ao reiterarem situações de sua realidade, modificam-nas de acordo com suas necessidades. Ao brincar, as crianças vão construindo a consciência da realidade, ao mesmo tempo em que vivenciam uma possibilidade de modificá-la. Portanto, a brincadeira é uma situação privilegiada de aprendizagem onde o desenvolvimento pode alcançar níveis mais complexos, exatamente pela possibilidade de interação entre os pares em uma situação imaginária e pela negociação de regras de convivência e de conteúdo. Enfim, é preciso deixar que as crianças e os adolescentes brinquem, é preciso aprender com eles a rir, a inverter a ordem, a representar, a imitar, a sonhar e a imaginar. “Brincar é viver criativamente no mundo. Ter prazer em brincar é ter prazer em viver”. M.M. Machado O ser humano, em todas as fases de sua vida, está sempre descobrindo e aprendendo coisas novas pelo contato com seus semelhantes e pelo domínio sobre o meio em que vive. Ele nasceu para aprender, para descobrir e apropriar- se dos conhecimentos, desde os mais simples até os mais complexos, e é isso que lhe garante a sobrevivência e a integração na sociedade como ser participativo, crítico e criativo. A esse ato de busca, de troca, de interação, de apropriação é que damos o nome de educação. Esta não existe por si só; é uma ação conjunta entre as pessoas que cooperam, comunicam-se e comungam do mesmo saber. A infância é a idade das brincadeiras. Acreditamos que por meio delas a criança satisfaz, em grande parte, seus interesses, necessidades e desejos particulares, sendo um meio privilegiado de inserção na realidade, pois expressa a maneira como a criança reflete, ordena, desorganiza, destrói e reconstrói o mundo. O lúdico como uma das maneiras mais eficazes de envolver o aluno nas atividades, pois a brincadeira é algo inerente na criança, é sua forma de trabalhar, refletir e descobrir o mundo que a cerca. 27 A educação lúdica é uma ação inerente na criança e aparece sempre como uma forma transacional em direção a algum conhecimento, que se redefine na elaboração constante do pensamento individual em permutações constantes com o pensamento coletivo. (ALMEIDA, 1995, p.11) A LINGUAGEM LÚDICA A literatura especializada no tema não registra concordância quanto a um conceito comum para o lúdico na educação. Porém, alguns autores relacionam o lúdico ao jogo e estudam profundamente sua importância na educação. Huizinga (1990) foi um dos autores que mais se aprofundou no assunto, estudando o jogo em diferentes culturas e línguas. Estudou suas aplicações na língua grega, chinês, japonês, línguas hebraicas, latim, inglês, alemão, holandês, entre outras. O mesmo autor verificou a origem da palavra - em português, “jogo”; em francês “jeu”; em italiano, “gioco”; em espanhol, “juico”. Jogo advém de “jocus” (latim), cujo sentido abrangia apenas gracejar ou traçar. O referido autor (1990) propõe uma definição para o jogo que abrange tanto as manifestações competitivas como as demais. O jogo é uma atividade de ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, seguindo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentido de tensão, de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana. Segundo Piaget (1975) e Winnicott (1975), conceitos como jogo, brinquedo e brincadeira são formados ao longo de nossa vivência. É a forma que cada um utiliza para nomear o seu brincar. No entanto, tanto a palavra jogo quanto a palavra brincadeira podem ser sinônimas de divertimento. Conforme Santos (1999), para a criança, brincar é viver. Esta é uma afirmativa bastante usada e aceita, pois a própria história da humanidade nos mostra que as crianças sempre brincaram, brincam hoje e, certamente, 28 continuarão brincando. Sabemos que ela brinca porque gosta de brincar e que, quando isso não acontece, alguma coisa pode não estar bem. Enquanto algumas crianças brincam por prazer, outras brincam para dominar angústias, dar vazão à agressividade. A partir do que foi mencionado sobre o brincar, nos mais diferentes enfoques, podemos perceber que ele está presente em todas as dimensões da existência do ser humano e, muito especialmente, na vida das crianças. Podemos afirmar, realmente, que “brincar é viver”, pois a criança aprende a brincar brincando e brinca aprendendo. A criança brinca porque brincar é uma necessidade básica, assim como a nutrição, a saúde, a habitação e a educação são vitais para o desenvolvimento do potencial infantil. Para manter o equilíbrio com o mundo, a criança necessita brincar, jogar, criar e inventar. Estas atividades lúdicas tornam-se mais significativas à medida que se desenvolve, inventando, reinventando e construindo. Destaca Chateau (1987, p.14) que “Uma criança que não sabe brincar, umaminiatura de velho, será um adulto que não saberá pensar. ” Por meio da psicologia, temos conhecimento que, além de ser genético, o brincar é fundamental para o desenvolvimento psicossocial equilibrado do ser humano. Por intermédio da relação com o brinquedo, a criança desenvolve a afetividade, a criatividade, a capacidade de raciocínio, a estruturação de situações, o entendimento do mundo. A autora Wajskop (1995, p.68) diz: “Brincar é a fase mais importante da infância - do desenvolvimento humano neste período - por ser a auto ativa representação do interno - a representação de necessidades e impulsos internos”. Brincando, o sujeito aumenta sua independência, estimula sua sensibilidade visual e auditiva, valoriza sua cultura popular, desenvolve habilidades motoras, exercita sua imaginação, sua criatividade, socializa-se, interage, reequilibra-se, recicla suas emoções, sua necessidade de conhecer e reinventar e, assim, constrói seus conhecimentos. A concepção de criança é uma noção historicamente construída e constantemente vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e época. Assim é possível que, por exemplo, em uma mesma cidade, existam diferentes maneiras de se considerar as crianças, dependendo da classe social a qual pertencem, do grupo étnico do qual fazem parte. 29 Boa parte das crianças brasileiras enfrenta um cotidiano bastante adverso que as conduz desde muito cedo a precárias condições de vida, ao trabalho infantil, ao abuso e exploração por parte de adultos. Outras crianças são protegidas de todas as maneiras, recebendo de suas famílias e da sociedade em geral cuidados necessários ao seu desenvolvimento. “A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo social em que se desenvolve, mas também o marca”. Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo deve ser o grande desafio da educação infantil. Embora os conhecimentos derivados da psicologia, antropologia e sociologia possam ser de grande valia para desvelar o universo infantil apontando algumas características comuns de ser, elas permanecem únicas em suas individualidades e diferenças. Alerta Rosamilha (1979, p.77) : “A criança é antes de tudo, um ser feito para brincar. O jogo, eis aí um artifício que a natureza encontrou para levar a criança a empregar uma atividade útil ao seu desenvolvimento físico e mental. Usemos um pouco mais esse artifício, coloquemos o ensino mais ao nível da criança, fazendo de seus instintos naturais, aliados e não inimigos”. A capacidade de brincar possibilita às crianças um espaço para resolução dos problemas que as rodeiam. A literatura especializada no crescimento e no desenvolvimento infantil considera que o ato de brincar é mais que a simples satisfação de desejos. O brincar é o fazer em si, um fazer que requer tempo e espaço próprios; um fazer que se constitui de experiências culturais, que são universais, e próprio da saúde porque facilita o crescimento, conduz aos relacionamentos grupais, podendo ser uma forma de comunicação consigo mesmo e com os outros. Cabe ressaltar, no entanto, que no mundo capitalista em que vivemos o lúdico está sendo extraído do universo infantil. As crianças estão brincando cada vez menos por inúmeras razões: uma delas é o amadurecimento precoce; outra é a redução violenta do espaço físico e do tempo de brincar, ou seja, o excesso de atividades atribuídas, tais como escola, natação, inglês, computação, ginástica, 30 dança, pintura, etc. Tudo isso toma o tempo das crianças e, na hora de brincar, quando sobra tempo, muitas vezes ficam horas em frente à televisão, divertindo- se com jogos violentos e rodeados de brinquedos eletrônicos, onde as interações sociais e a liberdade de agir ficam determinadas pelo próprio brinquedo. Eles fazem quase tudo pelas crianças, se movimentam e até falam, sobrando pouco espaço para o faz-de-conta. Entretanto, o mais grave de tudo, é que os pais estão esquecendo a importância do brincar. Muitos acham que um bom presente é um tênis de grife ou uma roupa porque é “mais útil”. Brinquedo virou supérfluo. No desespero por fazer economia, os pais estão cortando o brinquedo do orçamento familiar. Grande engano, com consequências muito sérias se o erro não for reparado a tempo, pois as roupas e acessórios em geral não vão desenvolver o raciocínio nem a afetividade. Pelo contrário, vão transformar a criança em um miniadulto que, desde já, precisa estar “sempre ligado”. Mas e o resto? E a criatividade, a emoção, o desenvolvimento lógico e casual, a alegria de brincar? Tudo isso pode ser economizado? É preciso respeitar o tempo de a criança ser criança, sua maneira absolutamente original de ser e estar no mundo, de vivê-lo, de descobri-lo, de conhecê-lo, tudo simultaneamente. É preciso quebrar alguns paradigmas que foram sendo criados. Brinquedo não é só um presente, um agrado que se faz à criança: é investimento em crianças sadias do ponto de vista psicossocial. Ele é a estrada que a criança percorre para chegar ao coração das coisas, para desvelar os segredos que lhe esconde um olhar surpreso ou acolhedor, para desfazer temores, explorando o desconhecido. De acordo com Vygotsky (1984, p.97): A brincadeira cria para as crianças uma “zona de desenvolvimento proximal” que não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível atual de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou com a colaboração de um companheiro mais capaz. 31 Por meio das atividades lúdicas, a criança reproduz muitas situações vividas em seu cotidiano, as quais, pela imaginação e pelo faz-de-conta, são reelaboradas. Esta representação do cotidiano se dá por meio da combinação entre experiências passadas e novas possibilidades de interpretações e reproduções do real, de acordo com suas afeições, necessidades, desejos e paixões. Estas ações são fundamentais para a atividade criadora do homem. Tanto para Vygotsky (1984) como para Piaget (1975), o desenvolvimento não é linear, mas evolutivo e, nesse trajeto, a imaginação se desenvolve. Uma vez que a criança brinca e desenvolve a capacidade para determinado tipo de conhecimento, ela dificilmente perde esta capacidade. É com a formação de conceitos que se dá a verdadeira aprendizagem e é no brincar que está um dos maiores espaços para a formação de conceitos. Negrine (1994, p.19) sustenta que: “As contribuições das atividades lúdicas, no desenvolvimento integral indicam que elas contribuem poderosamente no desenvolvimento global da criança e que todas as dimensões estão intrinsecamente vinculadas: a inteligência, a afetividade, a motricidade e a sociabilidade são inseparáveis, sendo a afetividade a que constitui a energia necessária para a progressão psíquica, moral, intelectual e motriz da criança”. 32 Brincar é sinônimo de aprender, pois o brincar e o jogar geram um espaço para pensar, sendo que a criança avança no raciocínio, desenvolve o pensamento, estabelece contatos sociais, compreende o meio, satisfaz desejos, desenvolve habilidades, conhecimentos e criatividade. As interaçõesque o brincar e o jogo oportunizam favorecem a superação do egocentrismo, desenvolvendo a solidariedade e a empatia, e introduzem, especialmente no compartilhamento de jogos e brinquedos, novos sentidos para a posse e o consumo. EDUCAÇÃO E PRÁTICAS LUDICAS A educação traz muitos desafios aos que nela trabalham e aos que se dedicam a sua causa. Muito já se pesquisou, escreveu e discutiu sobre a educação, mas o tema é sempre atual e indispensável, pois seu foco principal é o ser humano. Então, pensar em educação é pensar no ser humano, em sua totalidade, em seu corpo, em seu meio ambiente, nas suas preferências, nos seus gostos, nos seus prazeres, enfim, em suas relações vivenciadas. Alunos querendo mais aprendizagem, não tendo vontade de sair da aula após seu término; alunos querendo voltar à escola porque lá é um lugar bom para passar o dia. Esta é uma realidade desejada por muitos educadores. O que será que os educadores estão fazendo para proporcionar este prazer de aprender nos alunos? A escola está proporcionando um ambiente para concretizar esta ideia? De acordo com Resende (1999, p. 42-43), Não queremos uma escola cuja aprendizagem esteja centrada nos homens de “talentos”, nem nos gênios, já rotulados. O mundo está cheio de talentos fracassados e de gênios incompreendidos, abandonados à própria sorte. Precisamos de uma escola que forme homens, que possam usar seu conhecimento para o enriquecimento pessoal, atendendo os anseios de uma sociedade em busca de igualdade de oportunidade para todos. A maioria das escolas de hoje está preparando seus alunos para um mundo que já não existe. Ações como dar aulas deverão ser substituídas por orientar a aprendizagem do aluno na construção do seu próprio conhecer, como preconiza o construtivismo, o sociointeracionismo, porque, afinal, ou aluno e professor estão mobilizados e engajados no processo, ou não há ensino possível. 33 O homem informa-se. Ninguém ensina a quem não quer aprender, pois Ausebel, citado por Barreto (1998), alerta para o fato de que a verdadeira aprendizagem é sempre significativa. Na realidade, no contexto atual, já não há mais espaço para o professor informador e para o aluno ouvinte. A muito chegou o tempo da convivência com a autoaprendizagem, expressão autêntica da construção do conhecimento que força o professor a tornar-se um facilitador do processo ensino- aprendizagem, e o aluno, um verdadeiro pesquisador da sociedade vigente. Desta forma, a brincadeira exerceu papel e funções específicas de acordo com cada momento histórico. Teve funções e papéis irrelevantes, esteve vinculada à educação de forma descontextualizada com o objetivo de facilitar a transmissão de conhecimentos, ajudou na educação dos filhos, principalmente das mães operárias e, atualmente, tem um papel relevante, pois é um dos maiores espaços que a criança tem para formar seus conceitos, seus conhecimentos, conhecer o mundo e integrar-se a ele. Se entendermos o conhecimento como uma representação mental, devemos saber que ensinar é um convite à exploração, à descoberta, e não uma pobre transmissão de informações e técnicas desprovidas de significado. Aprender a pensar sobre diferentes assuntos é muito mais importante do que memorizar fatos e dados a respeito dos assuntos. A própria criança nos aponta o caminho no momento em que não utiliza nem precisa utilizar as energias vãs despendidas pela escola, sacrificadas e coroadas pelo descrédito, porque desprepara seus alunos. 34 O homem é um ser em constante mudança; logo, não é uma realidade acabada. Por esse motivo, a educação não pode assumer o papel e o direito de reproduzir modelos e muito menos, de colocar freios às possibilidades criativas do ser humano original por natureza. Sneyders (1996) comenta que a pedagogia, ao invés de manter-se como sinônimo de teoria de como ensinar e de como aprender, deveria transformar a educação em desafio, em que a missão do mestre é propor situações que estimulem a atividade reequilibradora do aluno, construtor do seu próprio conhecimento. A escola deve compreender que, por um determinado tempo da história pedagógica, foi um dos instrumentos da imobilização da vida, e que esse tempo já terminou. A evolução do próprio conceito de aprendizagem sugere que educar passe a ser facilitar a criatividade, no sentido de repor o ser humano em sua evolução histórica e abandonando de vez a ideia de que aprender significa a mesma coisa que acumular conhecimentos sobre fatos, dados e informações isoladas numa autêntica sobrecarga da memória. De acordo com o Referencial Curricular da Educação Infantil (1998, p.23), Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. A ideia de estudo com prazer provém da época de Platão e Aristóteles e foi se adaptando às várias concepções de criança e aos interesses e necessidades Entende-se que educar ludicamente não é jogar lições empacotadas para o educando consumir passivamente. Educar é um ato consciente e planejado, é tornar o indivíduo consciente, engajado e feliz no mundo. É seduzir os seres humanos para o prazer de conhecer. É resgatar o verdadeiro sentido da palavra “escola”, local de alegria, prazer intelectual, satisfação e desenvolvimento. 35 Para atingir esse fim, é preciso que os educadores repensem o conteúdo e a sua prática pedagógica, substituindo a rigidez e a passividade pela vida, pela alegria, pelo entusiasmo de aprender, pela maneira de ver, pensar, compreender e reconstruir o conhecimento. Almeida (1995, p.41) ressalta: “A educação lúdica contribui e influencia na formação da criança, possibilitando um crescimento sadio, um enriquecimento permanente, integrando-se ao mais alto espírito democrático enquanto investe em uma produção séria do conhecimento. A sua prática exige a participação franca, criativa, livre, crítica, promovendo a interação social e tendo em vista o forte compromisso de transformação e modificação do meio”. A escola necessita repensar quem ela está educando, considerando a vivência, o repertório e a individualidade do mesmo, pois se não considerar, dificilmente estará contribuindo para mudança e produtividade de seus alunos. A negação do lúdico pode ser entendida como uma perspectiva geral e, desse ponto de vista, está diretamente relacionada com a negação que a escola faz da criança, com o seu desrespeito, ou ainda, o desrespeito à sua cultura. 36 O LÚDICO COMO PROCESSO EDUCATIVO Marcellino (1990) defende a reintrodução das atividades lúdicas na escola. Entende- se que esse direito ao respeito não significa a aceitação de que a criança habite um mundo autônomo do adulto, tampouco que deva ser deixada entregue aos seus iguais, recusando-se, assim, a interferência do adulto no processo de educação. Os estudos da psicanálise demonstram, entre outros caracteres não muito nobres, o autoritarismo que impera entre as crianças. Mas a intervenção do adulto não precisa ser necessariamente desrespeitada. É preciso que, ao intervir, o adulto respeite os direitos da criança. A proposta do autor nos remete a pensar numa ação educativa que considere
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