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Responsabilidade Civil - Parte Geral

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EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Direito antigo: confusão entre a responsabilidade civil e responsabilidade penal.
Vingança privada: retribuição de um mal com o outro. Quem era ofendido com seus bens ou sua pessoa sofria com o mal feito. 
Evolução: ideia de proporcionalidade – lei de talião (ideia do olho por olho, dente por dente, assim como o código de Hamurabi) – presente em vários Códigos antigos, ex: código de Hamurabi. 
Lex aquilia: culpa como fundamento para a imputação de responsabilidade civil.
Idade média: cristianismo, reforço da ideia da culpa.
Direito moderno: código de Napoleão (1800/1804). Art. 1.382, culpa como fundamento da responsabilização. 
Conduta, dano, nexo causal e culpa são os pressupostos para realização fundada no Código de Napoleão.
A culpa, elemento essencial para causar responsabilidade civil, também é importante na área de penal. Ela é causada por imprudência (ação), negligência (omissão) ou imperícia (falta de conhecimento técnico).
Porém, o dolo também entra nessa classificação para responsabilização, pois há a intenção, vontade de causar o dano.
Revolução industrial: riscos criados pelo maquinismo e pela automoção do mundo. Há dificuldade em fazer prova da culpa do patrão.
Nova doutrina francesa: Sailelles, Josserand, Ripert – estabeleceram o risco como fundamento da responsabilidade civil.
OBJETIVA E SUBJETIVA:
Código de 1916: culpa, art. 159 do Código Civil.
Constituição de 1988: grande passo em direção a objetivização da responsabilidade.
1. Art. 37, § 6º.
Estado e prestadores de serviços públicos. Responsabilidade objetiva, o Estado indeniza.
2. Art. 225, § 3º. 
Responsabilidade por danos ambientais. Responsabilidade objetiva. 
3. Art. 21, XXIII, “d”. 
Responsabilidade por danos nucleares. Responsabilidade objetiva.
A responsabilidade civil é dividida em objetiva (art. 927, parágrafo único; art. 187 e art. 981 do Código Civil) e subjetiva (art. 186 e 927 do Código Civil). A subjetiva causada por conduta culposa, que envolve a culpa e o dolo. Na objetiva, a culpa é desconsiderada como elemento indispensável. É do Estado. É a ideia de que o prejuízo deve ser atribuído ao autor e reparado por quem o causou independente de ter ou não agido com culpa. É INDEPENDENTE DE CULPA, resolvendo-se o problema através do nexo de causalidade.
Ou seja, em geral, na responsabilidade subjetiva é caracterizada pela culpa ao passo que a objetiva não precisa desse elemento, quem causou o dano irá restituí-lo, indenizá-lo ou responder por ele.
Culpa e riscos convivem como fatores de atribuição de responsabilidade. 
Responsabilidade subjetiva: se não houver previsão em contrário.
Responsabilidade objetiva: se a lei estabelecer.
Diferença de dolo e culpa: o dolo é uma conduta intencional, na qual o agente atua conscientemente de forma que deseja que ocorra o resultado ou assume o risco de produzi-lo. A culpa, por sua vez, em stricto sensu não existe a intenção de lesar, ou seja, a conduta é voluntária, o resultado alcançado não (o agente não deseja alcançar o resultado, mas por falta de dever de cuidado, atinge-o).
Ação ou Omissão: a responsabilidade pode derivar de ato próprio, de ato de terceiro que esteja sob a guarda do agente, e ainda de danos causados por coisas e animais que lhe pertençam. A lei prevê a responsabilidade por ato próprio, dentre outros, nos casos de calúnia, difamação e injúria; de demanda de pagamento de dívida não vencida ou já paga; de abuso de direito.
A responsabilidade por ato de terceiro ocorre nos casos de danos causados pelos filhos, tutelados e curatelados, ficando responsáveis pela reparação aos pais, tutores e curadores. Como também o patrão responde pelos atos de seus empregados. Os educadores, hoteleiros e estalajadeiros, pelos seus educandos e hóspedes. A responsabilidade por danos causados por animais e coisas que estejam sob a guarda do agente é, em regra, objetiva: independe de prova de culpa.
Culpa ou dolo do agente: artigo 186 cogita do dolo logo no início: “ação ou omissão voluntária”, passando em seguida, a referir-se à culpa: “negligência ou imprudência”.
O dolo consiste na vontade de cometer uma violação de direito a culpa, na falta de diligência. Dolo é a violação deliberada, consciente, intencional, do dever jurídico.
Para obter a reparação do dano, a vítima geralmente tem de provar dolo ou culpa stricto sensu do agente, segundo a teoria subjetiva adotada no código civil brasileiro. Porém, como essa prova muitas vezes se torna difícil de ser conseguida, o nosso direito positivo admite, em hipóteses específicas, alguns casos de responsabilidade sem culpa: a responsabilidade objetiva, com base especialmente na teoria do risco, abrangendo também casos de culpa presumida.
Relação de causalidade: é a relação de causa e efeito entre a ação ou omissão do agente e o dano verificado. Sem ela não existe a obrigação de indenizar. Se houve dano mas sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade e também a obrigação de indenizar.
Dano: sem a prova do dano, ninguém pode ser responsabilizado civilmente. O dano pode ser material ou simplesmente moral, ou seja, sem repercussão na órbita financeira do ofendido.
Por exemplo, o motorista comete várias infrações de trânsito, mas não atropela nenhuma pessoa nem colide com outro veículo, nenhuma indenização será devida, malgrado a ilicitude de sua conduta. A obrigação de indenizar decorre, pois, da existência da violação de direito e do dano, concomitantemente.
EXCLUSÃO DE ILICITUDE:
Nem todo ato danoso é ilícito, assim como nem todo ato ilícito é danoso. Por isso a obrigação de indenizar só ocorre quando alguém praticou ato ilícito e causa dano a outrem.
Vemos isso no artigo 927 do CC que diz: “Aquele que, por ato ilícito (artigos 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.” E o artigo 186, por sua vez, fala em violar o direito e causar dano.
Com isso, observamos que a ilicitude não está automaticamente atada à consequência indenizatória, podendo aquela ilicitude receber outras consequências jurídicas, como a nulidade do ato, a perda de um direito material ou processual, e assim por diante. Há ilicitude sem dano, conduta culposa e até dolosa, que não chega a causara prejuízo a outrem e dano sem ilicitude.
No artigo 188 CC prevê hipóteses em que a conduta do agente, embora cause dano a outrem, não viola dever jurídico, isto é, não está sob censura da lei – são causas de exclusão de ilicitude, como por exemplo: exercício regular de um direito, em legítima defesa ou em estado de necessidade.
OBS: a doutrina italiana faz distinção entre reparação por atos lícitos e ilícitos, sendo que na primeira como ressarcimento e a segunda como indenização.
ATOS LÍCITOS – RESSARCIMENTO
ATOS ILÍCITOS - INDENIZAÇÃO
O cenário da sociedade contemporânea releva que as consequências do exercício de qualquer ação são inerentes a todos os indivíduos, notadamente pela coexistência de pessoas na sociedade. Neste contexto, o Direito, como produto da atividade humana e fenômeno histórico e cultural tem como finalidade a busca de pacificação e harmonia por meio de normas e técnicas de solução de conflitos.
Na seara do direito civil, o tema da responsabilidade integra o ramo do direito obrigacional, relativo ao dever, segundo o qual a conduta humana está vinculada ao seu fim, econômico ou social, e, na eventualidade do descumprimento de uma obrigação, surge, então, o dever de compensar o dano causado.
De forma geral, o Direito sempre combateu as injustiças sofridas em decorrência dos atos humanos por meio de penas ou indenizações. No entanto, para que seja possível entender as concepções atuais sobre a responsabilidade civil, faz-se necessário compreender sua extensa evolução histórica e seus pressupostos.
TENDÊNCIAS ATUAIS:
Foco na vítima e não no agente causador do dano. 
Objetivização dos riscos: solidariedade social (art. 3º, I, CF).
Prevenção: responsabilidade preventiva.
a) Princípio da precaução.
b) Princípio da prevenção.FUNÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL
Princípio da imputação civil dos danos: há um problema da “distribuição dos infortúnios”, ou seja, sempre que ocorre um dano há necessidade de se apontar quem irá suportá-lo, pois pode ser que o causador do dano não seja tal pessoa. Ex: um incapaz. Portanto, a imputação deve ser feita a alguém, mas essa responsabilização nem sempre é do causador, de modo que alguém estaria sendo responsabilizado pela conduta de outro.
De modo que esse problema visa encontrar alguém para sofrer a responsabilidade do dano, mesmo que seja a própria vítima, mas isso deve ser feito com alguns limites. Ex o patrimônio do imputado responde pela indenização, mas há limites como o bem de família. É importante apontar que a obrigação não é o mesmo que a responsabilidade, pois aquela é originária e esta é derivada, de modo que, se a obrigação for adimplida espontaneamente, não haverá responsabilização.
Função prioritária da responsabilização penal: sancionatória.
Função reparatória e/ou compensatória: com objetivo de reparar ou compensar o dano causado a outrem de forma proporcional.
Função punitiva? Direito penal ou direito administrativo. Em geral, o direito civil não pune ninguém, salvo exceções. Porém, há quem diga que o direito civil, em um segundo plano, possui função punitiva. Se for considerada punitiva, há problemas. Se na Constituição diz que não há pena sem lei anterior que a defina, como a responsabilidade civil será punitiva se nenhuma lei a define? 
Função preventiva? Existem estudos que sustentam a ideia de responsabilidade civil sem dano. Ou seja, responsabilidade usada para evitar o dano. É a indenização pelo risco que a pessoa cria, assume. 
Foco na vítima e não no agente causador do dano: há uma tendência em utilizar a responsabilidade civil como forma de punição, como forma de desestimular a agente de causar outros danos – tal mentalidade é muito difundida nos EUA, principalmente para com os danos causados por PJ. No Brasil essa tendência tem se dado na relação de consumo. Ex: banco que cobra indevidamente R$5,00 na conta corrente de seus correntistas.
Há problemática nessa forma de entender a responsabilidade civil por falta de embasamento legal, pois se estaria utilizando o direito civil como forma de punição, o que não seria correto porque não era sua finalidade.
Um segundo problema seria o enriquecimento sem justa causa. Ex: a pessoa teve R$5,00 descontadas de sua conta corrente e depois foi indenizado em R$1.000,00, havendo um enriquecimento sem causa de R$995,00 à custa do banco. De modo que dessa forma se gera um descompasso entre o dano e a indenização. Um modo de que não houvesse esse enriquecimento sem causa seria a destinação do “excedente da indenização” para um fundo público.
TEORIA DO RISCO
Para realizar um fundamento para a responsabilidade objetiva, os juristas, principalmente na França, conceberam a teoria do risco, justamente no final do século XIX, quando o desenvolvimento industrial agitava o problema da reparação dos acidentes de trabalho.
Risco é perigo, é a probabilidade de dano, importando, isso, dizer que aquele que exerce uma atividade perigosa deve-lhe assumir os riscos e reparar o dano dela decorrente.
TODO PREJUÍZO DEVE SER ATRIBUÍDO AO SEU AUTOR E REPARADO POR QUEM CAUSOU, INDEPENDENTEMENTE DE TER OU NÃO AGIDO COM CULPA.
Modalidades do Risco
1) Risco Proveito:
Responsável é aquele que tira proveito da atividade danosa, com base no princípio de que, onde e está o ganho, aí reside o encargo.
2) Risco Profissional:
O dever de indenizar tem lugar sempre que o fato prejudicial é uma decorrência da atividade ou profissão do lesado. Foi desenvolvida para justificar a reparação dos acidentes ocorridos com os empregados no trabalho ou por ocasião dele, independentemente de culpa do empregador.
3) Risco Excepcional:
A reparação é devida sempre que o dano é consequência de um risco excepcional, que escapa à atividade comum da vítima, ainda que estranho ao trabalho que normalmente exerça.
4) Risco Criado:
“Aquele que, em razão de sua atividade ou profissão, cria um perigo, está sujeito à reparação do dano que causar, salvo prova de haver adotado todas as medidas idôneas a evitá-lo” (Caio Mário).
Se alguém põe em funcionamento qualquer atividade, responde pelos eventos danosos que esta atividade gera para os indivíduos, independentemente de determinar se em cada caso, o dano é devido à imprudência, a negligência, a um erro de conduta, e assim se configura a teoria do risco criado.
5) Risco Integral:
O dever de indenizar é imputado àquele que cria o risco, ainda que a atividade por ele exercida não tenha sido a causa direta e imediata do evento. Bastará que a atividade de risco tenha sido a ocasião, mera causa mediata ou indireta do evento, ainda que este tenha sido a ocasião, mera causa mediata ou indireta do evento, ainda que este tenha tido por causa direta e imediata fato irresistível ou inevitável, como a força maior e o caso fortuito. Por exemplo, terremoto seguido de ondas gigantes (tsunami), que invadem usina nuclear e causam dano nuclear e ambiental.
Em suma, a teoria do risco integral todos os riscos, diretos e indiretos, que tenham relação com a atividade de risco, mesmo que não lhes sejam próprios, estarão sob responsabilidade do agente.
OBRIGAÇÃO E RESPONSABILIDADE
Obrigação e responsabilidade não se confundem. (SCHULD X HAFTUNG). 
A obrigação sempre surge antes da responsabilidade, somente surgindo esta se a obrigação não foi cumprida espontaneamente. De modo que a responsabilidade é subsidiária da obrigação, ou seja, a responsabilidade é à sombra da obrigação. A obrigação é sempre um dever originário e a responsabilidade é sempre um dever sucessivo.
RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL X EXTRACONTRATUAL (AQUILIANA): 
A diferença entre elas é somente a existência do contrato, não fazendo sentido com relação à responsabilidade civil.
É a responsabilidade civil contratual.
a) Responsabilidade contratual: está disciplinada a partir do art. 389 do CC. Quando há um contrato em curso, havendo obrigações assumidas em função desse instrumento, o não cumprimento presume a culpa, havendo responsabilidade subjetiva, mas com a presunção de culpa – a menos que se demonstre alguma excludente de culpa (ex: força maior ou caso fortuito).
Da responsabilidade contratual surgem a “mora” (art. 394 do CC – não cumprimento de prazo ou cumprimento indevido, diferente do que fora acordado) e o “inadimplemento absoluto”.
No caso da mora, há possibilidade de indenização pelos danos emergentes e pelos lucros cessantes, mas também permanece o interesse do credor em ver adimplida a obrigação, pois presume que a parte quer receber pelos danos que lhe foi causado. Pela mora há correção monetária e também os juros.
No caso do inadimplemento absoluto não há mais interesse do credor em ver cumprida a obrigação, o cumprimento da prestação em atraso não tem mais utilidade para o credor (ex: taxista é contratado para levar alguém para o concurso, mas no dia da prova ele não aparece) – hodiernamente discute-se também a responsabilidade civil sobre a “perda de uma chance” – no caso de o inadimplemento absoluto se resolve com perdas e danos.
b) Responsabilidade extracontratual: também denominada “aquiliana”, é aquela pela qual não há um contrato para que surja responsabilidade. Essa responsabilidade está prevista em dois artigos do Código Civil que são aplicados de forma combinada art. 186 e art. 927, caput. 
No direito civil pode haver responsabilização mesmo que por uma conduta culposa, sendo que quando se utiliza o termo “culpa”, ele se dá em latu senso. Uma mesma conduta pode causar tanto dano moral quanto material. Pelo art. 186, quem causar dano, mesmo que culposamente, comete ato ilícito. Pelo art. 927, quem cometer ato ilícito deverá indenizar. Nesse caso, não há qualquer necessidade de haver uma relação contratual entre as partes, ex: acidente de automóvel.É considerada como subjetiva porque está fundada na culpa subjetiva. Quandoa lei não disser que a responsabilidade independe de culpa, esta será um elemento necessário para caracterização da responsabilidade. Com isso há necessidade de existir uma conduta com culpa (dolo ou culpa stricto senso), nexo causal e dano para que haja responsabilidade civil subjetiva extracontratual.
Há uma teoria que trata a obrigação como um processo, por isso é que se divide o contrato em fases: pré-contratual, execução do contrato e pós-contratual. A boa-fé objetiva existe nessas três fases – é um padrão de conduta que o legislador impõe às partes, sendo o dever de lealdade entre elas – art. 422 do CC. 
A boa-fé contratual cuida também de deveres secundários na responsabilidade contratual, mesmo que elas não estejam dispostas em cláusulas. Ex: um advogado não pode “espalhar” algo que foi comentado com ele por um possível cliente, mesmo que ainda não se tenha firmado contrato de prestação de serviço.
A boa-fé objetiva está também prevista na interpretação dos negócios jurídicos, ao passo que, em havendo duas interpretações possíveis, o juiz deve considerar que a interpretação correta seria aquela que consagra a forma de agir de alguém de boa-fé (art. 113). A vedação do abuso de direito também trata da boa-fé objetiva, limitando o exercício de condições jurídicas abusivas (art. 187); nessa vedação é que se enquadra o “venire contra factum proprium”, ou seja, vedação do comportamento contraditório. Ex: não cobrança de uma multa por diversos anos e depois a pessoa resolve cobrar. Considera-se que a boa-fé objetiva já teria sido alçada como um princípio geral do Direito.
Na responsabilidade extracontratual, tem-se se a objetiva e subjetiva:
b.1) Objetiva: não há necessidade de auferir a culpa, o fator de atribuição não é esta, de modo que até poderá estar existente a culpa, mas não é necessário que esteja. O surgimento desse conceito se deu na doutrina francesa, havendo entendimento que a culpa não seria fundamento suficiente para ensejar a responsabilidade civil, pois a vítima dificilmente conseguiria comprová-la, ficando a vítima não ressarcida, suportando o risco da atividade de terceiros. Essa ideia surgiu após a revolução industrial, principalmente por danos causados pelas máquinas que surgiram no mundo. Diante disso, o legislador passou a conceber situações de risco nas quais a culpa não seria fator de atribuição de responsabilidade, havendo somente a necessidade de comprovar a conduta, nexo e o dano causado.
Dentre os agentes que estão englobados nessa responsabilidade aquiliana objetiva está o Estado. Evidentemente a PJ do Estado não causa danos, mas os seus agentes sim, por isso, no art. 37, §6º da CF há previsão dessa forma de responsabilidade objetiva para os danos causados pelos agentes estatais. Inicialmente, o Estado não possuía qualquer responsabilidade, passando pela responsabilidade subjetiva e agora tendo responsabilidade objetiva – isso porque o Estado possui uma atividade que beneficia a coletividade, de modo que esta é que deverá suportar os riscos dessa prestação, não somente uma pessoa que sofreu o dano.
A culpa é analisada quando do dano causado pelo Estado, somente para com a ação de regresso em face do agente estatal. Portanto, o Estado para se voltar de forma regressiva para com o agente causador do dano deverá comprovar a culpa desse agente.
Cláusula geral: art. 927, parágrafo único. Qualquer atividade que cause riscos para o direito alheio. Ao mesmo tempo em que é considerada uma cláusula de grande avanço, ninguém sabe ao certo explicar o que diz ao certo. É um risco extraordinário, mas que tipo de atividade é? A doutrina não é precisa. 
b. 2) Subjetiva: (art. 186 e 927, caput do CC – precisam ser analisados juntos) independente de culpa. Em alguns casos o ordenamento jurídico institui tal responsabilidade em determinadas ocorrências. Por isso, é necessário estudo de caso a caso, pois somente é objetiva quando a lei disser expressamente ou por entendimento doutrinário em alguns casos que a legislação é silente.
A ausência ou existência da culpa na responsabilidade objetiva é irrelevante, pois o legislador utiliza o risco como fator de imputação. Portanto, há necessidade de que houvesse uma conduta, nexo causal, dano e fator de atribuição. São poucos doutrinadores que utilizam a expressão “fator de atribuição”, sendo mais comum denominar como “nexo de imputação”.
O risco é tido como o fator de atribuição. Essa ideia passou a surgir na época da Revolução Industrial em virtude dos acidentes laborais que ocorriam nas indústrias. A prova da culpa nesses casos era praticamente impossível, surgindo doutrinas “avançadas” na França retirando a culpa como elemento de responsabilidade, sendo esta fundada no risco.
A responsabilidade extracontratual é considerada como subjetiva porque está fundada na culpa subjetiva. Quando a lei não disser que a responsabilidade independe de culpa, esta será um elemento necessário para caracterização da responsabilidade. Com isso há necessidade de existir uma conduta com culpa (dolo ou culpa stricto senso), nexo causal e dano para que haja responsabilidade civil subjetiva extracontratual.
TIPOS DE RESPONSABILIDADE
Responsabilidade do Estado: sempre que o Estado causar danos por meio de seus agentes haverá responsabilidade objetiva, sendo isso fundamentado pela Teoria do Risco Administrativo. Esse entendimento decorre da noção de que o Estado chama para si a atividade de administrar toda a sociedade, isso ocorre em benefício de todos, surgindo um risco administrativo dessa disposição, não sendo adequado que a pessoa que sofra o dano suporte sozinha todo esse risco social. Art. 37, §6º da CF. O mesmo vale para as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público (ex. delegação ou concessão) – seria também objetiva por causa da relação de consumo. 
A expressão “agente público” deve ser tomada da forma mais ampla possível, sendo qualquer pessoa que pratique atos em nome do Estado, não somente detentora de cargo público. Ex: estagiário voluntário do MP.
A ação regressiva do Estado contra o agente causador do dano depende, para caracterização da responsabilidade, da comprovação de culpa. Portanto, o Estado indeniza objetivamente a vítima, mas para ter direito à ser ressarcido pelo agente haverá necessidade de prova da culpa.
Discute-se a possibilidade de a vítima processar primeiramente o agente causador do dano. Há julgados no STF que entendem pela impossibilidade desse processamento diretamente contra o agente RE 327.904, pois o agente público causou o dano agindo em nome do Estado, portanto este seria o causador do dano. Na prática, seria interessante a promoção da ação em face do agente causador para que fosse agilizado o recebimento da indenização, tendo em vista que o pagamento do Estado se dá pelos precatórios.
Há também que se apontar a responsabilidade do Estado em caso de omissão. Nesse caso a responsabilidade seria subjetiva, devendo haver comprovação de culpa. Apenas o doutrinador Nelson Neri considera que a responsabilidade estatal seria objetiva mesmo quando da omissão.
Danos nucleares: a responsabilidade civil do Estado por danos nucleares independe da existência de culpa, sendo, portanto, objetiva. Art. 21, XXIII, d. Essa responsabilidade objetiva está fundada na Teoria do Risco Integral, ou seja, as excludentes clássicas de responsabilidade civil não excluem a responsabilidade civil no caso de exploração de atividade nuclear.
Portanto, caso ocorra um terremoto sem precedentes, causando danos à estrutura de uma usina nuclear, acarretando danos nucleares, mesmo sendo um caso de força maior, não haverá rompimento de nexo causal, havendo responsabilidade de indenizar.
Todos sabem que a utilização da energia nuclear possui riscos, de modo que, ao escolher por se utilizar disso, o Estado estará chamando para si esse risco, assumindo o risco integral disso, ensejando a responsabilidade objetiva.
Responsabilidade civil do transportador: art. 734 do CC. Todo contrato de transporte possui umacláusula presumida de incolumidade, ou seja, o transportador assume o compromisso de entregar a pessoa em seu destino sem qualquer dano.
Caso a pessoa transportada sofra qualquer tipo de dano no percurso, o transportador responde objetivamente, sendo a única excludente possível o motivo de força maior. Evidentemente a responsabilidade objetiva da empresa é para com o passageiro, mas há possibilidade de ação de regresso.
É preciso distinguir o que se chama de fortuito interno do externo. A empresa de transporte não responde por fortuitos externos, ou seja, não fazendo parte da atividade dela. Fazendo parte da atividade da empresa há fortuito interno. Portanto, faz parte da atividade da empresa rodar pelas vias brasileiras, havendo risco nisso, de modo que qualquer caso fortuito nessa atividade será interno, ensejando responsabilidade objetiva para com o passageiro.
Em caso de roubo ao ônibus seria um caso de fortuito externo, não respondendo objetivamente a empresa. Mas a jurisprudência passou a divergir quando isso ocorre corriqueiramente e a empresa não toma providências para diminuir tal risco, mesmo que seja acionando o poder público. O mesmo valeria para uma enchente, por exemplo, se ela ocorreu inesperadamente não há responsabilidade objetiva por ser força maior, mas se naquela área sempre há enchentes poderia se considerar a responsabilidade objetiva – isso não é pacífico.
Com relação à pessoa que “dá carona” com frequência para alguém não há incidência nesse tipo de responsabilidade, isso por força do art. 736. A doutrina entende que nesse caso de transporte por amizade, mesmo que por culpa, o agente causador do dano somente teria que indenizar quando ocorresse culpa grave, de modo que uma culpa leve também não ensejaria responsabilidade, mas isso é uma construção doutrinária.
É necessário se atentar para transportes de remuneração indireta, por exemplo, o hotel que oferece translado para seus hóspedes – o preço desse serviço já estaria “diluído” nas demais taxas do Hotel. Nesse caso há também responsabilidade objetiva.
Transporte de passageiros: o art. 734 do CC determina que há responsabilidade objetiva no caso de transporte de passageiros a não ser no caso de força maior ou caso fortuito externo.
No caso da “carona”, ou seja, do transporte a título gratuito, por cortesia, não há tal responsabilidade por força do art. 736. A única exceção ocorre se o dano for causado por dolo ou culpa grave.
Há necessidade de se atentar para o caso de remuneração indireta, ou seja, o transporte em si não é cobrado, mas se aufere alguma vantagem disso; nesse caso é um transporte não considerado gratuito, havendo responsabilidade objetiva. Art. 736, parágrafo único.
Todo serviço de transporte possui horário e itinerário, eventuais atrasos que causem danos podem justificar indenização. Art. 737. O atraso por força maior exclui essa responsabilidade.
Danos decorrentes do uso de automóvel: não somente quando a pessoa estiver dirigindo, mas, por exemplo, estacionar o veículo sem puxar o freio de mão e ele, sem ninguém, sair andando e causar dano a outrem.
Maioria da doutrina não entende que o mero empréstimo do veículo não enseja responsabilidade objetiva, mas poderá haver responsabilidade subjetiva por parte do proprietário do veículo.
No caso de veículo locado, a responsabilidade é objetiva por causa dessa locação, respondendo a locadora solidariamente com o causador do dano – Súmula 492 STF.
Responsabilidade dos pais: a emancipação voluntária não cessa o dever indenizatório dos pais pelos danos de seus filhos, mesmo que sejam dessa forma emancipados. Somente a emancipação legal (ex. ser aprovado em concurso público) causaria tal efeito. Não há ação regressiva dos pais em face dos filhos – art. 934.
Responsabilidade de incapazes: no caso do incapaz, é importante ressaltar que há possibilidade de sua responsabilização, nos termos do art. 928, desde que seus responsáveis não tenham obrigação de fazê-lo ou não tenham condições econômicas para isso.
No novo CPC continua a existir os bens que sejam impenhoráveis, constituindo um núcleo patrimonial mínimo. Diante disso, pode ser que os responsáveis tenham apenas esse núcleo patrimonial mínimo, mas o incapaz possua patrimônios, p.ex. por decorrência de herança.
A indenização pelo incapaz é um dos poucos casos que se dá por equidade, e não pela extensão do dano. Isso porque, em função da incapacidade essa indenização não poderá privar do necessário o incapaz e seus eventuais dependentes – art. 928, §U.
Responsabilidade dos curadores e tutores: também há responsabilidade deles pelos danos causados pelos curatelados e pelos tutelados. Mas nesse caso há possibilidade de ação regressiva, diferentemente do que ocorre com relação aos pais e filhos.
O Estatuto das Pessoas com Deficiência andou mal ao dizer que as pessoas com deficiência mental são capazes – art. 6º L. 13146/15, incorrendo em evidente erro ao diminuir as garantias dessas pessoas, mesmo porque mais adiante há previsão para curatela dessas pessoas. Diante disso, por analogia, o curador continuará a assistir a pessoa com deficiência.
Responsabilidade do empregador: o empregado que causar danos no exercício do trabalho ou função dele poderá gerar responsabilidade ao empregador. Isso ocorre porque o empregado é considerado como longa manus de seu empregador.
Muitas vezes o empregador adentra a responsabilidade objetiva tanto pelo art. 932, III; quanto pelo art. 12 CDC no caso das relações de consumo.
Responsabilidade dos donos de hotéis: há responsabilidade quanto aos danos causados pelos seus hóspedes, a não ser que o hotel tenha sido mero cenário para o acontecimento.
Da mesma forma que a escola responde pelos danos causados por seus educandos quando estiverem sob a sua guarda. No caso do cyber bullyng há entendimento que não seria responsabilidade da escola porque a internet poderia ser utilizada em qualquer lugar, não havendo como responsabilizar a instituição. Quanto a ação regressiva da escola para com os pais do educando causador do dano, há divergência na doutrina, entretanto, as posições mais modernas entendem por essa possibilidade porque a responsabilidade pela criação dos filhos é primordialmente dos pais e não da escola.
Responsabilidade por participação gratuita em crime: os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. Caso contrário haveria enriquecimento sem causa da pessoa que assim participou, mesmo que tenha recebido o bem sem qualquer culpa.
Responsabilidade solidária: somente se discute se haveria responsabilidade solidária quanto ao inciso I do art. 932, isso porque, com base no art. 928, haveria entendimento de que os pais responderiam em primeira mão, sendo os filhos somente demandados nos casos previstos neste artigo. Nos demais casos dos incisos do art. 932 há responsabilidade solidária.
Dano causado por animais: art. 936. Quem tenha a guarda do animal responde pelos danos causados por ele.
Não depende de culpa do guardião do animal, sendo sua responsabilidade objetiva. Somente será isentado dessa responsabilidade quando houver culpa (fato) exclusiva da vítima ou força maior, sendo estas excludentes de responsabilidade civil.
Responsabilidade nas relações de consumo: responsabilidade no Código de defesa do consumidor é objetiva, fundada no dever e segurança do fornecedor em relação aos produtos e serviços lançados no mercado de consumo, razão pela qual não seria também demasiado afirmar que, a partir dele, a responsabilidade objetiva, que era exceção em nosso Direito, passou a ter um campo de incidência mais vasto do que a própria responsabilidade subjetiva.

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