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As Variações Linguísticas e os Níveis de Linguagem Comunicação e Expressão | EAD 01 As Variações Linguísticas e os Níveis de Linguagem - Aula 02 As Variações linguísticas e os Níveis de linguagem Olá, aluno(a)! Começamos esta aula fazendo um breve histórico dos estudos da linguagem – essa capacidade que cada um tem de se comunicar. Em nosso país, usamos o mesmo código para nos comunicar, ou seja, usamos a língua portuguesa. Muitos estados têm limites com outros países, cada um foi colonizado por povos diferentes, cada um tem clima, aspectos e culturas diferentes; porém todos falam o mesmo idioma. Mas será que esse idioma é, realmente, o mesmo? Um pouco de história Muitos linguistas estudaram a linguagem humana ao longo dos tempos. Até o sécu- lo XVII, o que eles faziam, na verdade, era selecionar uma língua e a analisar nos seus aspectos: sons (fonética), sentido (semântica), gramaticais (sintaxe) e estrutura (morfologia). Mas pouco sabiam sobre como funcionavam as outras línguas. Com a chegada do século XVII, surgiu a vontade de criar uma língua comum a todas as pes- soas, sem que tivéssemos que estudar o inglês, por exemplo, para falar com os britâ- nicos, ou o espanhol, para falarmos com os argentinos. Foi a partir desse desejo de construir uma língua universal, que os linguistas foram forçados a estudar diferentes línguas ao mesmo tempo, fazendo comparações em todos os seus aspectos. Assim, apesar de não conseguirem a tal “língua universal” descobriram princípios comuns entre todas as línguas do mundo. Entre eles o Princípio da Variação Linguística. No século XIX o polonês Lázaro Luiz Zamenhof criou o Esperanto. Um idioma in- ternacional planejado para servir de meio de comunicação entre duas pessoas que falam idiomas diferentes. Se quiser conhecer um pouco sobre o Esperanto, visite o site http://kke.org.br/perguntas. Mas o Esperanto não foi, e não é, totalmente eficiente, porque não permite criar iro- nias e ambiguidades, dificultando seu emprego, mesmo tendo uma gramática bas- tante simples e, portanto, acessível. No final do século XIX, os estudiosos se interessaram em encontrar uma língua-mãe, que tivera dado origem às demais línguas. Nesse estudo, descobriram que o idioma sofre alterações de maneira ordenada, em consequência do uso que um grupo faz desse idioma. A partir daí, Ferdinand Saussure passou a estudar a linguagem verbal humana e, em 1916, publicou o livro Linguística Geral. A preocupação do linguista não é determinar o que é certo ou errado na língua, mas analisar seus usos e estru- turas por um determinado grupo de usuários dessa língua. Para os linguistas, não é errado dizer “A gente sabemo esses negoçu tudo.” Desde que a mensagem seja entendida em determinado contexto comunicativo, ela será objeto de estudo para compreender porque os indivíduos se comunicaram assim. Porque essa estrutura gramatical não está de acordo com a língua padrão. E o que é a língua padrão? É um dos níveis de linguagem que estudaremos em breve, ainda nesta aula. Comunicação e Expressão | EAD 02 As Variações Linguísticas e os Níveis de Linguagem - Aula 02 1. As Variações Linguísticas Como já perguntamos antes: o idioma usado no Brasil inteiro é, realmente, o mes- mo? Não se pode esperar que em todas as regiões do Brasil se fale a mesma língua portuguesa. A língua se modifica, ou varia, de acordo com a necessidade do falante. Sempre que precisamos de uma estrutura adaptada ou nova, mudamos a nossa língua. Por isso, de acordo com o Princípio da Variação Linguística, todas as línguas mudam no tempo e no espaço. Existem diferentes tipos de Variação Linguística e podemos dividi-los em dois grupos principais: variações diacrônicas (ou históricas) e variações sincrônicas. FIQUE ATENTO! Diacrônico = ao longo do tempo Sincrônico = ao mesmo tempo 1.1 Variações Diacrônicas No século XIX, você encontraria um folheto como este: Figura 1 - http://sereduc.com/W53Sv6 Comunicação e Expressão | EAD 03 As Variações Linguísticas e os Níveis de Linguagem - Aula 02 As expressões Pharmacia popular e Productos Chimicos Pharmaceuticos parecem bem diferentes de como as vemos hoje, não é? Nos dias de hoje, se passarmos em frente a uma Farmácia Popular, certamente encontraremos Produtos Químicos. Essas mudanças são representações de Variação Diacrônica (ou histórica). Existem outros exemplos no site de origem dessa imagem: http://sereduc.com/4LHoFt 1.2 Variações Sincrônicas Já as Variações Sincrônicas (que acontecem em um mesmo tempo, ou em um mes- mo momento histórico) se dividem em quatro tipos: 1.2.1 Variações diatópicas (ou regionais) Cada região apresenta características próprias quanto à geografia, ao clima, aos colonizadores, à cultura, etc. Logo, cada uma delas criou termos próprios para se expressarem. Em Santa Catarina, por exemplo, todos os anos, acontece a Festa da Bergamota. Nessa festa, ainda, ocorre a prova de veloterra. Figura 02 - http://sereduc.com/sqoYLG Bergamota é a fruta chamada de “laranja cravo” no Nordeste, de “mexerica” em São Paulo e em Minas Gerais e de “tangerina” no Rio de Janeiro. E a veloterra? Nada mais é do que uma corrida de MotoCross. Comunicação e Expressão | EAD 04 As Variações Linguísticas e os Níveis de Linguagem - Aula 02 Escute e leia uma canção gaúcha em http://sereduc.com/S8kodI . Quem não é do Sul certamente tem dificuldades para entender o que está sendo cantado. A diferença entre a língua portuguesa utilizada em Portugal e aqui no Brasil também demonstra as variações diatópicas. No livro Schifaizfavire (Dicionário de Português), o escritor Mario Prata descreve, de forma bem humorada, verbetes com significados diferentes no Brasil e em Portugal. Você já deve ter presenciado algumas brinca- deiras com as palavras “rapariga”, “camisola”, “putos”, cujos significados são bem diferentes do que utilizamos no Brasil. Nenhuma dessas palavras é pejorativa, difa- matória. Está com curiosidade para saber seus significados? Segundo o autor, os verbetes acima, em português brasileiro, tem os seguintes sig- nificados: Rapariga Saber que é moça todo mundo sabe. O que o brasileiro não sabe é como se aproxi- mar de uma rapariga. Dizem que são dificílimas. São necessários meses e meses de intenso trabalho de persuasão. Camisola No verão, você vai ouvir muito, mas muito mesmo, nas transmissões das corridas de bicicleta, uma paixão europeia, os locutores dizendo que o primeiro classificado vai vestir a camisola amarela. Não se assuste: ele não vai subir as montanhas do Norte vestido de mulher, não. Quase todo tipo de camisa é camisola. Grande, pequena, larga, apertada, de homem, de mulher. Tudo camisola. Mas há controvérsias. Uns dizem que camisola tem que ser de lã. Só suéter é camisola? De algodão não vale. Eu desisti de entender. A nossa camiseta, por exemplo, é camisola interior. Putos São os quase adolescentes. Devem ser chamados assim porque todo adolescente está sempre puto com alguma coisa. 1.2.2 Variações diastráticas (ou sociais) Os usuários da língua são pessoas diferentes e, portanto apresentam características diferentes em função do nível de escolaridade, da idade (maturidade), do sexo, da profissão e dos grupos sociais de que fazem parte. São essas características que compõem um grupo de critérios utilizados para analisar as variações diastráticas ou sociais. Nível de escolaridade – Quanto maior o tempo de escolarização de uma pes- soa, maior a possibilidade de sua escrita e sua fala serem conforme a norma gramatical (ou norma culta), já que é a escola que propaga as normas da gra- mática. Comunicação e Expressão | EAD 05 As Variações Linguísticas e osNíveis de Linguagem - Aula 02 Faixa etária – Como o mundo muda, os que vivem nele se adéquam à realida- de em que vivem. Você, certamente, não fala como seus pais e, muito menos, como seus avós. Assim como na variação diacrônica, o tempo muda as pes- soas e a forma delas se comunicarem. Figura 03 Sexo – A educação dada a homens e a mulheres, geralmente, não é a mesma e isso se reflete na forma de se comunicar de cada um deles. As mulheres, por exemplo, se utilizam de diminutivos e vocábulos mais meigos. Já os homens estão habituados a utilizar palavras mais fortes e agressivas como demonstra- ção de virilidade. Durante muito tempo os homens se utilizaram mais dos pala- vrões do que as mulheres. Hoje elas passaram a utilizar com maior frequência como consequência da aproximação da vida social masculina. Ainda sobre as diferenças de gênero, pesquisas registram que as mulheres costumam ser mais atentas na utilização das normas gramaticais em relação aos homens, inclusive quando possuem o mesmo nível de escolaridade. Profissão – Certas profissões apresentam expressões características de seu dia a dia. Os advogados, por exemplo, usam frequentemente termos latinos. Muitas vezes não compreensíveis para outras profissões. A variação típica de um grupo profissional é chamada de jargão. Grupos sociais – Existem diferentes formas de agrupamento social: os jovens, os surfistas, os funkeiros. Além das roupas, comportamentos e ideologias dife- rentes, os grupos se caracterizam por uma linguagem própria, que os destaca dos demais grupos. Assim podem ser incluídos ou excluídos aqueles que não dominam os aspectos da “tribo”. Eu e meus irmãozinhos fomos a uma festinha na casa de amiguinhos. Eu e os brothers fomos a uma balada na casa da galera. Eu e meus colegas fomos a uma reunião na casa de amigos. Comunicação e Expressão | EAD 06 As Variações Linguísticas e os Níveis de Linguagem - Aula 02 Figura 04 1.2.3 Variações diamésicas (oralidade e escrita) Você já deve ter percebido que a oralidade (quando falamos) e a escrita apresentam características bem diferentes. As variações diamésicas são exatamente as diferen- ças entre a oralidade e a escrita. Segundo Mesquita: Por abranger todas as relações cotidianas do homem, a língua precisa de certos cuidados para que desempenhe o importante papel da comunicação. Convém, por isso, notar que entre a língua oral ou a falada e a escrita há diferenças bem acen- tuadas. Escrever uma história, por mais simples que ela seja, é diferente do ato de contá-la oral- mente. Cada uma dessas modalidades de expressão tem suas características, seus fundamentos, suas necessidades e suas realizações. (MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da Língua Portuguesa. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007. Pag. 20.) Dropei a onda, peguei um tubo e levei uma vaca! Fui a um baile que era a maior maresia. Conheci um alemão que tinha o maior conchavo e dava corte em todas as princesas. Comunicação e Expressão | EAD 07 As Variações Linguísticas e os Níveis de Linguagem - Aula 02 Veja as principais diferenças de quando falamos e quando escrevemos no quadro abaixo. ORALIDADE ESCRITA Os momentos de envio da mensagem e de recebimento são simultâneos. Há diferença entre o momento de pro- dução e o de recebimento da mensa- gem. É possível negociar o sentido do que foi dito com o receptor, além de corrigir-se quando necessário. O emissor deve prever dúvidas do re- ceptor e esclarecer no momento da produção textual. Os interlocutores interagem continua- mente, interferindo um no discurso do outro. O emissor produz o texto sozinho e depois o receptor decodifica a informa- ção. Não se pode voltar atrás no que foi dito. É possível repensar e reescrever o tex-to quantas vezes quiser. O processo de produção é transparente e o receptor vê os erros e as correções do emissor. O processo fica oculto, pois o receptor tem acesso apenas ao texto final. Tende a ter maior tolerância a erros, visto que não é elaborado com antecedência. Tende a ter maior cobrança, portan- to mais formalidade, já que o emissor teve tempo de elaborar seu texto. Predominam as frases curtas e simples. Predominam as frases longas e os pe-ríodos compostos, mais complexos. Predomina a voz ativa e a ordem direta: “Vamos revisar os elementos da comuni- cação”. Uso frequente da voz passiva e da or- dem indireta: “Serão revisados os ele- mentos da comunicação”. 1.2.4 Variações diafásicas (níveis de linguagem) Essas variações são de extrema importância para a compreensão do que estudamos nesta disciplina. Como o objetivo da disciplina de Comunicação e Expressão – EAD é preparar você para se comunicar no contexto formal que o meio profissional exige, precisa conhecer bem o conceito de registro. Registro ou nível de linguagem é a va- riante linguística relacionada ao grau de formalidade nas situações comunicacionais. Sempre que você se comunica deve ter o hábito de observar em que contexto comu- nicativo está inserido, para utilizar o nível de linguagem adequado. Ainda que os lin- guistas digam que não existe o certo e o errado na língua, você deve ter consciência de que existe sim o que é adequado e o que é inadequado para cada situação. Para tanto vamos ver quais são os principais níveis de linguagem e assim fazer a escolha certa na hora de empregá-los. Comunicação e Expressão | EAD 08 As Variações Linguísticas e os Níveis de Linguagem - Aula 02 Linguagem culta, padrão ou formal – No nível culto, você diz “Entregue-me os documentos”. Esse nível está de acordo com as normas gramaticais, segue a gramática tradicional, que determina as regras. É a linguagem ideal para cor- respondências oficiais (escrita) ou em palestras e conferências (oralidade). Linguagem coloquial ou informal – Neste nível, você pode dizer: “Me dá os documentos.”. São possíveis pequenos desvios da gramática normativa. É uti- lizada em uma carta ou e-mail a um amigo ou parente (escrita) ou em uma conversa com colegas e amigos (oralidade). Linguagem vulgar ou inculta – Este nível apresenta diversas inadequações se formos levar em conta a gramática normativa. Mas, em situações de comu- nicação oral, pode ser usada sem prejuízo para o emissor. Você poderia até dizer: “Dá cá os documentos.” E não seria desprestigiado ou mal interpretado, desde que utilizasse esse nível em um bilhete na geladeira (escrita) ou em uma conversa familiar (oralidade). É importante você saber que as variações diafásicas (ou de registro) perpassam por todas as outras variações; ou seja, independente de qual variedade linguística você use, sempre poderá se expressar de maneira mais ou menos formal, de acordo com a situação comunicacional em que estiver. E quando o preconceito aparece? Existem motivos para as modificações da língua. Você pôde observar no estudo das variações linguísticas que as situações comunicacionais, as intenções do emissor são causadoras dessas modificações na língua. A maneira como muitas pessoas veem as variações menos prestigiadas na sociedade, ou as mais utilizadas pela porção com menor poder aquisitivo, pode ser preconceituosa se apenas se limitar a condenar as variações que se distanciam da norma gramatical. O professor e escritor Marcos Bagno produziu obras descrevendo e combatendo o preconceito linguístico. Em “Preconceito Linguístico: o que é, como se faz” e em “A Língua de Eulália”, o professor desmistifica a condenação de quem se distancia da norma culta quando a situação comunicacional permite. Recentemente, o lançamento do livro “Por uma vida melhor” foi bastante comentado na mídia. Adotado pelo Programa Nacional do Livro, do Ministério da Educação, e distribuído para cerca de 485 mil estudantes jovens e adultos, o livro não condena o uso de errosde português na língua falada. A professora Heloisa Ramos, uma das autoras, defende uma suposta supremacia da linguagem oral sobre a linguagem escrita, admitindo a troca dos conceitos “certo e errado” por “adequado ou inadequado”. Por esse raciocínio, frases com erros de português como “nós pega o peixe” poderiam ser consideradas corretas em certos contextos. Comunicação e Expressão | EAD 09 As Variações Linguísticas e os Níveis de Linguagem - Aula 02 Assista a um debate realizado pela TV Brasil, no programa Observatório da Imprensa no link http://sereduc.com/XVltre. Ele apresenta um rico debate sobre o tema. Ele será utilizado para a atividade desta aula. Em nosso próximo encontro virtual, vamos continuar estudando as características de nossa língua como ferramenta imprescindível para o ato de comunicação profissio- nal. O texto verbal e o texto não verbal, além da denotação e da conotação, serão nossos próximos assuntos. Até breve!
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