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PROFESSORA: ALINE GUARANY ALUNOS: MICHELE MOURA - 201401016839 ÍCARO GUIMARÃES – 201402072333 RESUMO DO CAPÍTULO 8 SAUDE MENTAL DO TRABALHADOR A Saúde Mental e Trabalho deixaram de ser um tema de pesquisa para tornar-se uma área pela porta dos fundos. No caso de estresse, tomado como um conceito da fisiologia e ampliado por Selye para os eventos psicológicos, este foi chamado a intervir no trabalho para explicar coisas que se observam e não tinham nome. O sofrimento psicológico no trabalho tem sido prioritariamente estudado de três maneiras diferentes. Para dizer de outra maneira, a história desta área selecionou três grandes abordagens para o próprio problema: estresse, psicodinâmica do trabalho e epidemiologia do trabalho. Outras classificações e priorizações, é claro, serão e seriam possíveis, mas foi assim que os autores destas linhas pensaram o problema e dividiram a área. Uma das marcas centrais dessa área é a maneira como ela se posiciona perante a Psicologia Organizacional e do Trabalho: não é difícil de compreender. Se admitirmos que o sofrimento psicológico é produzido pelo trabalho, estudar o problema e propor-lhe intervenções deixa-nos ligados intimamente ao individuo, no sentido que a psicologia clinica quer ser. Isso, por sua vez, nos obriga a redefinir a forma como compreendemos a área em questão. Este será o nosso inicio: de qual Psicologia do Trabalho estamos trabalhando ao falar de Saúde Mental e Trabalho. DE QUE ESTAMOS FALANDO? A Psicologia das Organizações e/ou trabalho seria uma psicologia utilizada no trabalho ou nas organizações, uma aplicação especifica da psicologia. Por exemplo, quando as teorias de motivação são aplicadas para melhorar o desempenho do trabalhador; quando as teorias de Psicologia Social sobre liderança são utilizadas para o desenvolvimento de modos de gestão. O sentido de Psicologia do Trabalho que estamos adotando é um sentido de origem, ou ainda, de causa. Quer dizer que uma parte significativa dos fenômenos que a psicologia estuda provém, tem sua origem, sua determinação. Estamos afirmando que “para compreender-se a psicologia, é preciso compreender o trabalho”; que o trabalho é um objeto de estudo necessário para se compreender o fenômeno psicológico, assim como, por exemplo, a psicanálise afirmou que seria preciso entender a sexualidade para se compreender a dinâmica psicológica. Alias, mais do que um exemplo, afirmamos que o trabalho é tão importante quanto a sexualidade na construção da psique de qualquer ser humano. Quando Freud afirmou que a sexualidade constituía a nossa psique, anunciou uma descoberta que poderia ser formulada assim: para que o ser humano seja de fato um ser humano, ele precisa se reproduzir, sua espécie precisa continuar existindo como tal, portanto, precisa lidar com desejos, erotismo, amor, sexualidade. Se compreendermos o modo como o ser humano reproduz a si mesmo. A história vem demonstrando que tal hipótese é correta. O LUGAR DO TRABALHO Baseadas nos modelos importados de outras ciências, as primeiras tentativas de se entender o sofrimento psíquico buscavam encontrar fatores externos que atingissem o sujeito provocando problemas. Entretanto o desenvolvimento da psicanálise, do bahaviorismo e da gestalt, do inicio à metade do século XX, ensinaram a nós que, em psicologia, simplesmente, não se pode pensar somente em fatores externos. Porque, para a vida humana, nada pode ser considerado externo, ou melhor, tudo importa na exata medida em que se internaliza pela ação humana. Assim, uma luza vermelha para um ser humano não é um fator externo, é parte de uma árvore de natal, um sinal de semáforo para parar no cruzamento, a chamada de um passageiro para a aeromoça ou do paciente no hospital. Ou seja, sempre traz um significado que se incorpora à vida, e há que se compreender não o efeito da luz vermelha ao sistema, mas como o estimulo foi incorporado ao sistema. A Psicologia do Trabalho é uma abordagem que tem como foco principal e a concepção do trabalho humano em todos os seus significados e manifestações, e em diferentes contextos. A inquietação dos alunos de uma creche interessa à Psicologia do Trabalho na medida em que esse comportamento interfere na relação da crecheira com o seu trabalho; as neuroses e psicoses com as quais o psicólogo clínico lida interessa à Psicologia do Trabalho à medida que inviabilizam o labor de quem sofrem, ou porque o labor pode explicar tais sofrimentos. Enfim, o trabalho estará onde a psicologia estiver. Para Freud, a saúde mental é a “capacidade de amar e de trabalhar”. Não é preciso ser um psicanalista para concordar com isso, e mesmo se você nunca tivesse escutado falar em psicologia, concordaria que estas são as duas grandes áreas na vida de um ser humano adulto: o amor, traduzido nos afetos, nos amigos, na família e no erotismo, e o trabalho, na profissão, no dinheiro, na classe social, ma produção, no consumo, entre outros fatores. De forma ampla, nada ficou de fora: amar e trabalhar resume a vida adulta. Pelo amor reproduzimo-nos, pelo trabalho produzimos – produzir e reproduzir explicam nossa existência. Se é uma proposta da psicologia entender o indivíduo e enfrentar o sofrimento psicológico, a doença mental, os distúrbios psicológicos, ou qualquer outro nome que queiramos dar a estes fenômenos, então, o problema da psicologia estará em entender como os homens amam e como trabalham; em seguida, terá de propor modos saudáveis de viver, ou seja, de amar e trabalhar. Simples de dizer, mas complicado de fazer. OS MODOS DE FAZER SAUDE MENTAL E TRABALHO No Brasil, começaram se configurar três abordagens mais frequentes e talvez mais profícuas em Saúde Mental e Trabalho: estresse, psicopatologias/psicodinâmica do trabalho e abordagem epidemiológica. TEORIA DE ESTRESSE O Termo estresse popularizou-se a partir de seu uso na medicina, de tal forma que ninguém desconhece ou deixa de usá-lo em algum momento e com os mais variados significados. A imprecisão do termo não é a marca apenas do seu emprego na produção de conhecimento científico nas várias áreas que o adotaram, inclusive na psicologia. A definição precisa da física (da qual o conceito se origina) refere-se a uma força de resistência interna oferecida pelos materiais sólidos antes a forças externas (cargas), mas esta não se mantém nas outras áreas que adotaram o conceito. Na medicina e na psicologia, assim como no seu uso popular, estresse aparece tanto para denominar condições externas, ou uma força imposta ao organismo, como para fazer referencia às respostas desse mesmo organismo ante a estas forças, o que estaria mais próximo ao sentido original. Apesar de algumas aplicações do termo estresse na medicina datarem do inicio do século XX, foram os trabalhos de Selye, a partir de 1936, que deram visibilidade ao fenômeno. Este passou então a ser reconhecido na medicina e na biologia, e depois, a ser empregado também pela psicologia. O estresse, “síndrome especifica, constituída por todas as alterações não especificas, produzidas num sistema biológico”, foi identificado pelas suas varias manifestações fisiológicas, mas sem causa definida. E é justamente esse caráter inespecífico presente na definição do estresse que explica a grande difusão do conceito, que pôde, por esta razão, ser empregada nas mais variadas circunstância. O conceito de estresse, que inicialmente referem-se à reação dos tecidos frente a agentes físicos agressores, pode então ser transportado para tantos outros domínios, inclusive para as situações de trabalho. “As definições de estresse como “adaptação às tensões e pressões da existência cotidiana” e “grau do desgaste total causado pela vida” abriram caminho para seus vários empregos no campo psicológico”. O esforço principal dos pesquisadores sobre o tema estresse no campo do trabalho e das organizações está voltado para a identificação de estressores, ou seja, a eventos que provocam respostas indicativas de estresse, tais como mudanças fisiológicas, sintomas físicos etensão psicológica, na maioria das pessoas expostas e estas condições. Interessam os efeitos psicológicos do estresse, como insatisfação no trabalho, ansiedade, depressão, burnout, fadiga, irritação, hostilidade, etc. Várias respostas também sugerem consequências comportamentais a partir do estresse, como afastamento da organização e intenção de abandoná-la. PSICODINAMICA DO TRABALHO Esta abordagem, que ficou conhecida primeiramente como Psicopatologia do trabalho, buscava a análise dinâmica dos processos psíquicos mobilizados pela confrontação do sujeito com a realidade do trabalho. Após cerca de dez anos de investigação, não encontrando, ao céu ver, dados consistentes sobre quadros psicopatológicos associados ao trabalho, Dejours aponta duas contradições básicas com relação às pesquisas em que ocorre o problema. Ou seja, de um lado, a psicopatologia/sofrimento psíquico ocorre na esfera individual do sujeito; de outro, as questões referentes ao trabalho ocorrem na esfra coletiva, ou seja, os problemas decorrentes do trabalho ocorrem na relação individuo-trabalho ou entre individuo-trabalho. A segunda contradição, mais relacionada à esfera do sofrimento em si, vai de encontro ambiguidade patológico versus não patológico. Essas duas contradições implicaram a necessidade da identificação de um método que, de um lado, possibilidade analisar o “individuo em relação”, e, de outro, pudesse superar a visão dicotômica entre normal e patológico, pratica comum na psicologia clinica. De maneira a privilegiar a normalidade sobre a patologia, buscando a aproximação ao individuo trabalhador para compreender como este alcança certo equilíbrio psíquico, mesmo estando submetido a condições de trabalho desestruturantes, Dejours define o conceito de Psicodimânica do trabalho, que passa a ser o foco central de seu trabalho, em substituição à Psicopatologia do Trabalho. ABORDAGEM EPIDEMIOLÓGICA E/OU DIAGNÓSTICA A abordagem epidemiológica em saúde mental é herdeira da lógica de epidemiologia central, que tem como preocupação básica a produção de conhecimentos sobre o processo de saúde-doença, o planejamento de ação de políticas de saúde e a prevenção de doenças. A epidemiologia parte do pressuposto da multicausalidade das doenças e vai em busca de seus determinantes. É herdeira, e mantém-se fiel, à metodologia empregada por Le Guillant, e busca sua teorização em Leontiev e Marx. No campo de Saúde Mental e Trabalho, Le Guillant foi pioneiro ao articular os aspectos sociais às condições objetivas e subjetivas do trabalho e fatos clínicos na busca dos possíveis determinantes do sofrimento psíquico neste âmbito. A concepção de trabalho compatível a essa proposta tem sido encontrada em Marx e em Leontiev, para os quais o trabalho/atividade aparece como fator de construção da individualidade do sujeito, sendo o elo entre sujeito-sociedade. A concepção marxista de homem permite a subjetividade como produto da relação do individuo com o mundo concreto. A psicopatologia só pode ser decifrada se remetida aos vínculos concretos do homem na vida. As doenças seriam consequência da lógica da produção capitalista. Então, a partir de Marx faz-se necessário reconhecer a natureza social e histórica do processo saúde-doença. Codo , por sua vez parte de uma definição do psíquico do individuo como um produto social em que a individualidade é construída socialmente. ALCANCES E LIMITAÇÕES DAS ABORDAGENS O campo da Saúde Mental e Trabalho trazem de sua origem a marca do preventivismo, que dá o sentido da sua existência e explica a ênfase na busca das condições que possam estar na origem da patologia, nas diversas vertentes de estudo que coexistem atualmente. No preventivismo, mas também na denuncia: boas contribuições em Saúde Mental e Trabalho advêm da crítica ao sistema social, como, por exemplo, os clássicos trabalhos de Le Guillant. Com isso, se o sistema capitalista ganhou um competente espírito de porco, perdeu-se de vista, durante muito tempo, o poder que essa área tem de diagnosticar problemas e propor soluções para o mundo do trabalho. Apesar dessa origem comum, as abordagens que foram apresentadas diferenciam-se quanto às tradições teóricas das quais deveriam (psicanálise, estresse, epidemiologia, atividade e marxismo) e quanto ao método de investigação que empregam, variando do predominantemente quantitativo, ou, ainda, representam a união dessas duas possibilidades. Cada uma dessas abordagens, partindo de referências teórico-metodológicos distintos e com diferentes níveis de desenvolvimento, conduz a avanços sobre as relações entre Saúde Mental e Trabalho por caminhos diferentes, que por vezes entrecruzam-se. OS DESDOBRAMENTOS DA CONCEPÇÃO DE HOMEM SOB AS TEORIAS DO ESTRESSE Para os teóricos do estresse, um relacionamento do homem com a natureza, dele com os outros e consigo mesmo, sem conflito, particularmente no trabalho. Para dar um exemplo caricato, quanto algumas empresas japonesas colocam nos seus sótãos imagens ou bonecos dos patrões para serem “agredidos” pelos funcionários, o que se considera, de um lado, é que a raiva seja algo passageiro, e o que se busca, de outro, é eliminá-la, para que as pessoas convivam melhor. Curiosamente, o estresse, geralmente, é utilizado como crítica organização de trabalho moderna. OS DESDOBRAMENTOS DA CONCEPÇÃO DE HOMEM SOB A PSICODINAMICA DO TRABALHO Admitir que o trabalho possa ser portador da saúde (ou da doença) mental seria admitir um fazer e um refazer da estrutura básica do sujeito; no limite, quiça, o seu desaparecimento no mosaico teórico da psicanálise. OS DESDOBRAMENTOS DA CONCEPÇÃO DE HOMEM SOB A EPIDEMIOLOGIA DO TRABALHO DE BASE MARXISTA Se o trabalho é o centro da sociedade humana, se é o modo como os homens tornam-se homens, então, ele governa os homens, a despeito deles. O trabalho tem seu próprio rumo, faz e refaz o destino dos homens. Por sua vez cabe aos homens lutarem, perenemente, para refazer o trabalho. Na psicanálise e no marxismo não resta outra coisa ao homem senão lutar, na primeira, contra si mesmo, e no segundo, para impor seu desejo ao mundo.
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