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APELAÇÃO CIVEL

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 16ª VARA CÍVEL CENTRAL DA COMARCA DE PORTO DE PORTO ALEGRE/RS
Processo nº:...
BENÍCIO, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, que move em face de INSANA SERVIÇOS MÉDICOS E HOSPITALARES LTDA., também já qualificada nos autos, vem, através de seu representante legal, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor 
	RECURSO DE APELAÇÃO	
Bem como, que seja recebido munida de efeitos devolutivo e suspensivo no tocante da presente ação. Ademais, seja conferido regular processamento a este recurso, através da intimação do Apelado para que este apresente suas contrarrazões, caso julgar necessário.
Destarte, requer-se a juntada da guia de preparo anexada, comprovando assim o seu devido recolhimento.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Porto Alegre, 24 de maio de 2016.
_____________________
Advogado
OAB/RS...
RAZÕES DE APELAÇÃO
Apelante: BENÍCIO
Apelado: INSANA SERVIÇOS MÉDICOS E HOSPITALARES LTDA.
Origem: Processo nº... - 16ª VARA CÍVEL CENTRAL DA COMARCA DE PORTO DE PORTO ALEGRE/RS
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
COLENDA CÂMARA JULGADORA
EMINENTES DESEMBARGADORES
I – SÍNTESE DO PROCESSADO
Trata-se de ação de cunho indenizatório por danos morais e materiais, proposta por BENÍCIO, ora denominado apelante, em face de INSANA SERVIÇOS MÉDICOS HOSPITALARES, ora denominada apelada. Destarte, a ação fundou-se devido a contração de infecção hospitalar pelo apelante, visto que este sofreu acidente automobilístico e foi encaminhado ao HOSPITAL SALVA-SE QUEM PUDER, este mantido pela apelada. No que tange, o apelante fora submetido a cirurgia em face deste acidente, restando ela bem sucedida, entretanto, acabou por contrair infecção hospitalar que o deixou internado por dois meses. Desta maneira, o apelante moveu ação indenizatória por danos morais e materiais, visto a obstação do exercício de sua atividade profissional durante o tempo em que esteve internado.
A Apelada/Réu contestou a ação e alegou não ter concorrido com culpa pelos fatos elencados na exordial movida. Cumpre ressaltar, que sobreveio sentença julgando improcedente os pedidos do Apelante/Autor, conforme segue:
“(...) Ante o exposto, julgo improcedentes os pedidos formulados por BENICIO, tendo em vista que não comprovou a culpa dos profissionais que o atenderam, como exige o art. 14, §4º, do Código de Defesa do Consumidor instituído pela Lei nº 8.078/90.
Publique-se.
Registre-se.
Intimem-se. (...)”
Inconformado com a r. decisão, interpõe o apelante o presente recurso de apelação, a fim de seja reformada a sentença recorrida, pelas razões que passar a expor.
II – DAS RAZÕES PARA A REFORMA DA SENTENÇA
Nobres julgadores, a sentença apelada merece ser reformada, visto que ao contrário do que decidiu o juízo a quo o apelante não deve comprovar a culpa dos profissionais que o atenderam, por se tratar de relação de consumo onde a sociedade apelada é prestadora de serviço, recaindo à esta a responsabilidade objetiva. Assim, não realizados os procedimentos para impedir a contaminação em suas dependências, o hospital deve responder pelos danos sofridos pelo paciente acometido de infecção hospitalar.
A – DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA
A Responsabilidade objetiva é a responsabilidade civil fundamentada no dano efetivamente causado, na conduta do agente e no nexo causal entre o prejuízo sofrido e a ação do agente. É uma responsabilidade calcada no risco assumido pelo lesante, em razão de sua atividade.
A Teoria da Responsabilidade Objetiva é a da Teoria do Risco, que diz que aquele que, por meio de sua atividade, cria um risco de dano para terceiros, será obrigado a repará-lo, mesmo que seu comportamento seja isento de culpa. Para tanto, examina-se a situação e, sendo verificada, objetivamente, a relação de causa e efeito entre o comportamento do agente e o dano sofrido pela vítima, esta tem direito a ser indenizada por aquele.
B – DA RESPONSABILIDADE HOSPITALAR NO CDC
De maneira equivocada o magistrado proferiu a sentença fundamentando sua decisão no artigo 14, §4º, do Código de Defesa do Consumidor, conforme estudo do artigo em questão
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
[...]
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
Contudo, como verificado anteriormente a cirurgia na qual o apelante fora submetido teve resultado bem sucedido, o que de fato afastaria a responsabilidade da equipe médica, porém, após o procedimento este contraiu infecção hospitalar nas dependências do estabelecimento hospitalar. A julgar pela jurisprudência deste Egrégio Tribunal, a responsabilidade neste tipo de situação recai sobre o prestador de serviço, no caso a apelada, e não no profissional liberal, como decidido pelo juízo a quo.
RESPONSABILIDADE CIVIL. CIRURGIA DE CATARATA. PERDA DA VISÃO DO OLHO DIREITO. INFECÇÃO ADQUIRIDA NO PÓS OPERATÓRIO. AUSÊNCIA DE CONDUTA NEGLIGENTE DOS MÉDICOS. INEXISTÊNCIA DE ERRO DE DIAGNÓSTICO GROSSEIRO. DEVER DE INDENIZAR NÃO CONFIGURADO. A responsabilidade civil médica, em relação aos profissionais liberais, segue a regra do art. 14, § 4º, do CDC, exigindo a prova da culpa dos médicos, enquanto que hospitais e clínicas respondem objetivamente pelos serviços prestados, na forma do art. 14, caput, do CDC. Hipótese em que autor atribuiu a perda da visão ocular direita à má assepsia dos instrumentos cirúrgicos utilizados no procedimento de correção de catarata, bem como à conduta negligente dos médicos que lhe prestaram atendimento no pós-operatório. Caso, porém, em que a prova técnica desvinculou por completo o episódio do apelante ao surto isolado de infecção oftalmológica ocorrido em período posterior à sua cirurgia, de sorte que resta afastada a alegação de infecção hospitalar. A cegueira do autor foi causada por endoftalmite, infecção a qual é considerada uma intercorrência possível, que se desenvolve com maior propensão em pacientes com diabetes. Considerando os sintomas de inflamação e glaucoma, com melhora transitória do paciente, o diagnóstico tardio da infecção não se revelou como erro evitável (grosseiro) apto a ensejar a obrigação de indenizar. Improcedência mantida. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70065938557, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Túlio de Oliveira Martins, Julgado em 17/03/2016) (grifo nosso)
Destarte, com o estudo da jurisprudência em tela, é possível concluir que a responsabilidade do hospital em relação aos danos decorrentes da infecção hospitalar é objetiva, pois a incolumidade do paciente internado é obrigação de resultado, e não simples obrigação de meio, como a atividade médica em geral. Ademais, ainda que na prestação de serviços na área da saúde não exista a obrigação de garantir a cura do paciente, há a obrigação de garantir a incolumidade do paciente, resguardando-o da ocorrência de danos durante o período de internação. De modo que, diante das normas estabelecidas pelo Código de Defesa do Consumidor, verifica-se que nos casos em que o paciente adquire infecção hospitalar nas dependências de estabelecimento hospitalar ou assemelhado, em razão da prestação defeituosa de seus serviços, este é o responsável de forma objetiva pelos prejuízos causados, devendo, portanto, reparar os danos causados.
Cumpre ressaltar, que os estabelecimentos hospitalares e assemelhados possuem responsabilidade objetiva na reparação dos danos causados aos seus pacientes, devendo responder, independentemente da existência de culpa, pela prestação defeituosa de serviços. Conforme a legislação vigente, o dever de indenizar dos hospitais pelos danos causados aos consumidores, decorrentes de defeitos na prestação dos serviços, só pode ser afastado se o estabelecimentohospitalar comprovar a inexistência de defeito na prestação desse serviço ou no caso de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros, conforme demonstrado pelo Art. 14, §3º, do Código de Defesa do Consumidor.
Por todo o exposto, restam demonstradas as razões pelas quais a apelação deve ser provida e a sentença reformada.
III – DOS REQUERIMENTOS
Por tudo quanto exposto, requer-se o conhecimento deste recurso de apelação para reformar integralmente a sentença recorrida para que os pedidos do autor sejam julgados procedentes, nos moldes formulados na exordial.
Termos em que pede deferimento.
Porto Alegre, 24 de maio de 2016.
________________
Advogado
OAB/RS...

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