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APELAÇÃO CRIME

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EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE NOVO HAMBURGO/RS
Processo n.:
Apelante: Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul
Apelado: Douglas
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, através de membro abaixo assinado, e usando das atribuições que lhe são conferidas pela Constituição Federal e Leis extravagantes, vem, perante V. Exª, para apresentar suas
RAZÕES 
EM APELAÇÃO CRIMINAL
ante sua irresignação quanto aos fundamentos apresentados na sentença do processo em epígrafe.
Requer, destarte, que depois de recebido o presente recurso e atendidas as formalidades, se digne este juízo de determinar a remessa dos autos para a apreciação do Egrégio Tribunal de Justiça deste Estado, com as razões inclusas.
São os termos em que pede deferimento.
Novo Hamburgo, 7 de março de 2016.
__________________________
Promotor de Justiça
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RAZÕES EM APELAÇÃO CRIMINAL
	
Apelante: Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul	
Apelado: Douglas
Excelentíssimos Senhores Desembargadores desta
Câmara Especializada Criminal do 
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
I – BREVE RELATO DOS FATOS
Busca o Ministério Público Estadual, por meio da presente apelação, que seja declarada revista e retratada a sentença prolatada pelo juízo da 1ª Vara Criminal desta Comarca.
Cumpre ressaltar a denúncia sintetizada e arrolada aos autos do processo em epígrafe:
No dia 20 de fevereiro de 2015, por volta das 12h, no interior da Farmácia São João, situada na Avenida Júlio de Castilhos, nº 2365, Bairro Centro, nesta Cidade, o denunciado Douglas deu início ao ato de subtrair, para si, 01 (um) spray de cabelos, marca Chaming Cless; 01 (um) fixador para cabelos, marca Karina; 01 (um) kit de xampu, marca Monange; 01 (um) xampu, marca Origem e 02 (dois) xampus, marca Lux (apreendidos – auto da fl. 14), avaliados conjuntamente em R$ 61,14, conforme auto de avaliação da fl. 35, em prejuízo da Farmácia São João, somente não consumando o delito por circunstâncias alheias à sua vontade.
Na oportunidade, o denunciado adentrou no referido estabelecimento comercial, arrecadou a res e deixou o local a pé. Em seguida, um funcionário de uma empresa de vigilância foi acionado, logrando deter o denunciado, na posse da res. Com a chegada de uma guarnição da Brigada Militar, o denunciado foi preso em flagrante. O denunciado é reincidente. (grifo nosso)
Diante dos fatos elencados, o acusado foi incurso na denúncia pelo delito tipificado no artigo 155, caput c/c art. 14, II do Código Penal Brasileiro, conforme disposição:
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
 Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
[...]
Art. 14 - Diz-se o crime:
[...]
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Entretanto, a Excelentíssima julgadora da 1ª Vara Criminal de Novo Hamburgo entendeu que o Princípio da Insignificância estava presente nesta situação fática, visto o valor de R$ 61,14 ser considerado irrisório para aplicação da pena conforme denúncia oferecida por este Órgão Ministerial, e, por tanto, julgou improcedente a denúncia e concedeu a absolvição ao acusado com fulcro no artigo 386, III do Código de Processo Penal, conforme segue:
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
[...]
III - não constituir o fato infração penal;
[...]
Não convencido da decisão proferida pelo juízo a quo, adentramos com esta apelação tomando como sustentação o entendimento proferido pelo Supremo Tribunal Federal acerca dos requisitos que fundamentaram a absolvição do réu, bem como para a correta aplicação do Princípio da Insignificância na seara do Processo Penal:
O princípio da insignificância tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, ou seja, não considera o ato praticado como um crime, por isso, sua aplicação resulta na absolvição do réu e não apenas na diminuição e substituição da pena ou não sua não aplicação. Para ser utilizado, faz-se necessária a presença de certos requisitos, tais como: (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada (exemplo: o furto de algo de baixo valor). Sua aplicação decorre no sentido de que o direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultado cujo desvalor - por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social. (grifo nosso) 
À luz do que nos ensina o STF, vimos que a aplicação decorre de conduta que não represente prejuízo importante ao titular do bem jurídico tutelado ou a ordem social. Entretanto, cumpre ressaltar a reincidência do acusado na prática de pequenos furtos naquela região retratada pelo depoimento do Policial Militar William, onde torna cristalino que o autor do crime é conhecido na região pela prática corriqueira de pequenos furtos, causando assim prejuízos não somente para este estabelecimento, bem como aos demais comerciantes que ali exercem sua atividade laboral. Destarte, é fundamental mencionar que não restaram dúvidas quanto ao reconhecimento do réu por um funcionário prestador de serviço de segurança privada, bem como de uma cliente que estava no interior do estabelecimento comercial.
Como não houve observância do juízo a quo acerca da correta aplicação do Princípio da Insignificância neste caso fático e que restou por fim absolvido o acusado da denúncia ora apresentada, é de suma importância para este órgão, representado por este membro que o escreve, incumbido de ser o guardião da sociedade justa, trazer à luz o entendimento mais recente proferido pela Ilma. Min. Cármen Lúcia do STF acerca da reincidência na prática de crimes e a aplicação do Princípio da Insignificância para absolver o acusado:
Reincidência do Recorrente assentada nas instâncias antecedentes. O criminoso contumaz, mesmo que pratique crimes de pequena monta, não pode ser tratado pelo sistema penal como se tivesse praticado condutas irrelevantes, pois crimes considerados ínfimos, quando analisados isoladamente, mas relevantes quando em conjunto, seriam transformados pelo infrator em verdadeiro meio de vida. O princípio da insignificância não pode ser acolhido para resguardar e legitimar constantes condutas desvirtuadas, mas para impedir que desvios de conduta ínfimos, isolados, sejam sancionados pelo direito penal, fazendo-se justiça no caso concreto. Comportamentos contrários à lei penal, mesmo que insignificantes, quando constantes, devido à sua reprovabilidade, perdem a característica da bagatela e devem se submeter ao direito penal. HC N. 112.811-SP, RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA (grifo nosso)
Desta forma, com base na sentença proferida entende-se que a presente absolvição não levou em consideração as práticas constantes de pequenos furtos naquela região pelo acusado, conforme já externado anteriormente. Sendo assim, segue em caminho adverso ao entendimento mais recente proferido pelo STF no que tange a aplicabilidade do Princípio da Insignificância, tendo em vista o descumprimento dos critérios previamente estabelecidos para uma correta aplicação deste princípio.
 
III – DO PEDIDO
Diante do exposto, requer que este Egrégio Tribunal conheça do presente recurso e lhe dê provimento para:
 Declarar nula a sentença proferida nos autos, procedendo com a devolução dos autos ao juízo a quo para novo julgamento, e posterior prolação de nova sentença,
São os termos em que pede deferimento.
Novo Hamburgo, 7 de março de 2016.
____________________________________
Promotora de Justiça
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