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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO CONTESTADO Unidade Universitária de Mafra Curso: Direito Disciplina: Direito Internacional Público Professor: Andhielita Graciela Valiati Turma: 9ª Fase AULA 08 1 – RESPONSABILIDADE NO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 1.1 - Teoria e Evolução Histórica da Responsabilidade Internacional A partir do século XX, o instituto da responsabilidade internacional do Estado vem sendo tratado pela doutrina como uma das mais importantes disciplinas que envolvem o Direito Internacional. Não se pode desconsiderar a possibilidade da responsabilização do Estado no âmbito internacional, seja por ação ou omissão da qual resulte a violação de norma ou obrigação internacional. As teorias formadas acerca da responsabilidade internacional do Estado evidenciam que, inexiste uma orientação jurídica uniforme sobre o tema, em virtude do tratamento diverso na história da sociedade internacional. Na idade Antiguidade e na Idade Moderna, a teoria da Irresponsabilidade Internacional do Estado prevaleceu, já na Idade Média, o conceito de responsabilidade se apresentou pela “justiça pelas próprias mãos”, com a atuação dos senhores feudais nas hipóteses em que detivessem pretensos direitos violados em seus domínios ou quando seus súditos alegassem o ter. Com a revolução francesa a teoria da irresponsabilidade passou a ser combatida. A Constituição Francesa de 1789 apresentou avanços que, acolhendo normas de responsabilidade dos funcionários do Estado, em decorrência de atos danosos que por culpa grave ou dolo praticassem em propriedades particulares. Podemos dizer que a responsabilidade do Estado constituiu uma novidade do século XX. Após a Segunda Grande Guerra, é que a teoria da irresponsabilidade foi abandonada e se deu espaço para as teorias civilistas de responsabilização estatal, apoiadas na ideia de culpa. Buscou-se então a codificação dos costumes internacionais relacionados à responsabilidade dos Estados, através de atos da Liga ou Sociedade das Nações e da Organização das Nações Unidas. Em 2001, com o Projeto da Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas sobre Responsabilidade Internacional dos Estados se verificou um avanço no tocante a responsabilidade, não codificando somente os usos e costumes globais mas, propiciou uma evolução às norma. O projeto ainda pendente de aprovação pelos países, tem papel importante na aplicação atual da responsabilidade internacional do Estado, servindo como fonte para decisões das cortes e orientações Internacionais. 1.2 - Definição e Características da Responsabilidade Internacional 1.2.1 - Conceito Trata-se da responsabilidade que, decorre da relação entre o sujeito do Direito Internacional Público que obriga o Estado responsável por prática de ato ilícito a reparar o dano causado a outro Estado. Havendo uma afronta a uma norma de direito internacional e resultando dano, o Estado será responsabilizado pelo dano. Basicamente obedece a mesma sistemática do direito interno. Podemos dizer que, a responsabilidade internacional é normalmente considerada como a finalidade dos Estados enquanto sujeitos de Direito Internacional, aplicando a teoria da responsabilidade aos ilícitos praticados no âmbito da sociedade internacional e, representando uma segurança às relações jurídicas extraterritoriais. Para a caracterização da responsabilização, deverá ocorrer a ligação entre a responsabilidade do agente e o seu dever de reparar o dano. Assim, o agente, será um sujeito de Direito Internacional - Estado ou Organização Internacional. A responsabilidade será do sujeito, proveniente de uma conduta praticada por órgão ou funcionário desse ente público, no exercício de suas funções e seja tida como ilícita para o Direito Internacional. O Estado será responsável pelo ilícito internacional mesmo não sendo ele o autor imediato da antijuridicidade e, deverá compensar os danos decorrentes dos atos de seus órgãos internos, agentes políticos e particulares. Podemos dizer que, a responsabilidade internacional é uma técnica fundamental de sanção à afronta das normas internacionais pelo Estado, onde o ente público civilmente responsável deve uma reparação ao Estado para o qual causou dano. A responsabilidade será sempre de Estado a Estado, com a finalidade de cessar a pratica danosa e reparar o prejuízo causado, sua natureza é civil e não criminal. A responsabilização se dará através de cortes arbitrais ou judiciais internacionais, em casos em que não haja uma reparação espontânea pelo ordenamento interno. A responsabilização internacional tem como características o seu caráter interestatal, finalidade reparatória civil, a sua orientação de instituto consuetudinário (costumes), o aspecto político do ilícito praticado. Para parte da doutrina, há possibilidade da reparação não ficar limitado ao Estado vítima, ante a gravidade. 2.3 Elementos Constitutivos da Responsabilidade Internacional A doutrina em sua maioria classifica como elementos constitutivos da responsabilidade internacional, sendo eles: 2.3.1 - Elemento Objetivo: Fato Ilícito – conduta ilícita, que afronte costume, princípio geral, dispositivo de tratado ou outra normatização, não cabendo alegação de que no direito interno é ato lícito. No tocante a nomenclatura a Comissão de Direito Internacional da ONU preferiu utilizar o termo fato ilícito à nomenclatura tradicional ato ilícito, para resumir o elemento objetivo da responsabilidade internacional. O ato ilícito, sentido estrito seria o comportamento humano, a vontade para o ato e exclui a responsabilidade do Estado já os fatos jurídicos, independem da vontade. Assim o fato ilícito existe quando ao Estado violar uma obrigação de Direito Internacional, independente de origem ou natureza. 2.3.2 Elemento Subjetivo: Atribuição (Imputabilidade) – a ação ou omissão deve ser imputável ao sujeito internacional. É o nexo causal A doutrina clássica trata a ação ou omissão como imputabilidade, porém a doutrina contemporânea defende que, o termo deve ser tratado como atribuição. O objetivo é interromper qualquer vínculo entre o conceito de atribuição do ilícito e a autoria imediata do ato ilícito, uma vez que, o Estado embora não seja o causador imediato do ato ilícito responde pelos atos praticados por representantes do estado (funcionários). O Estado então responde pelas consequências legais do ato praticado. Para a doutrina clássica, trata o tema como imputabilidade, não se tratando da responsabilidade imediata do Estado. As duas terminologias tratam do nexo causal do ilícito e atribuem ao Estado o dever de reparação. Por fim, as duas terminologias são aceitas no âmbito da responsabilização do Estado no Direito Internacional. 2.3.3 - Elemento Dano - Deve decorrer um dano, seja material ou imaterial. Somente o Estado vítima do dano é que pode requerer a responsabilização, não podendo terceiro o fazer. Trata-se de elemento essencial, sem o dano não há o que se falar em responsabilidade . O dano não depende necessariamente ser material, existem danos imateriais que são passíveis de responsabilização I - Responsabilidade Indireta Ocorre quando o Estado responde por um ilícito provocado por dependência sua. Ex: Territórios sob sua tutela, Estados membros, Associações etc. II - Responsabilidade Direta Responsabilidade pelos atos dos órgãos de qualquer natureza de nível hierárquico, salvo ilícitos cometidos no exercício da função. A responsabilização será convencional quando a violação ferir um direito previsto em tratado internacional e, será delituosa quando ferir normas consuetudinárias. 2.4 - CONSEQUÊNCIAS DA RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL. Possui natureza compensatória de reparação civil, não implica diretamenteem pagamento de valores, podem haver a condenação por outras formas, como retratação, reparação indireta, pedido formal de desculpas etc. A reparação difere-se da sanção, esta tem caráter penal e critica moral, já a reparação visa simplesmente o ressarcimento do ato ilícito internacional praticado pelo responsável. Sobre as espécies de reparação, vejamos: 2.4.1 – Restituição Integral Trata-se da chamada do Estado que cometeu o ilícito para que, restabeleça a situação anterior ao cometimento do ato. 2.4.2 – Compensação Nem sempre será possível que a restituição integral se efetive, neste caso se aplica a compensação, a problemática aqui é como será calculada a compensação (podendo ser incluído o lucro cessante) uma vez que, no direito internacional público, não se pode utilizar das regras de direito interno para a compensação. 2.4.3 – Satisfação É quando o Estado que cometeu ato ilícito é chamado a satisfazer o dano. Entende-se por satisfação: Desculpa; danos morais; Reparação em casos de grave infração que reflitam a esta; em casos de má conduta de funcionários a aplicação de ação disciplinar ou “castigo ao responsável”. A satisfação será utilizada sempre que não for possível a restituição ou a compensação. 2.4.4 – Garantias e promessas de não repetição. O Estado ofendido é chamado, para que o Estado que cometeu o ato firme garantias ou promessas de que o ato ilícito não se repetira. 2.4.5 – Contramedidas Trata-se de uma espécie de represálias, antes da aplicação desta medida o Estado deve tentar negociar a solução, é pré-condição e obrigação. Faculta-se ao Estado afetado utilizar de medidas intermediárias de proteção. 2.5 - REALIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL SOBRE PREJUÍZO DO INDIVÍDUO Quando se trata da proteção de pessoas físicas, jurídicas ou funcionários de Organizações Internacionais a busca pela responsabilidade do Estado causador do ilícito encontra dificuldade no âmbito direito internacional. Havendo violação de direito do estrangeiro, primeiramente, deve-se verificar se atendeu “Due Diligence” (devida diligência) e em seguida se estrangeiro esgotou todos os meios domésticos ou se lhe foi denegada justiça, podendo então utilizar- se da proteção diplomática em razão da nacionalidade. 2.5.1 - “Due Diligence” e o padrão mínimo internacional O indivíduo ao residir ou adquirir bens de um pais estrangeiro, presume-se que aceita as ordenações jurídicas daquele Estado. Entretanto, pode o indivíduo reclamar, se as leis ou comportamento daquele Estado não atenderem ao padrão mínimo internacional, geralmente relacionadas às normas de direitos humanos. O que é difícil, é estabelecer um critério objetivo sobre o tema. 2.5.2 - Proteção diplomática – diferente das relações diplomáticas, aqui serão indivíduos vítimas de um procedimento arbitrário, fara o pedido para que o Estado de origem abra reclamação ao ato. O Estado não é obrigado abrigar o estrangeiro mas, autorizando sua entrada deve trata-los de forma correta. A proteção se realiza mediante negociações, arbitragens ou até soluções judiciais. Não se trata de uma responsabilização do Estado infrator para com o indivíduo e sim, em relação ao Estado do reclamante em razão da sua nacionalidade. I – Endosso No endosso, o Estado assume a reclamação como sua, perante o Estado causador do ato ilícito. Antes do endosso, busca-se a solução pacífica diplomática/política da solução do conflito. O estado tem a faculdade de conceder ou recusar o endosso. II - Elementos para utilização da proteção diplomática (ou condições do endosso) a) Nacionalidade da vítima: O sistema de proteção diplomática vem para suprir a falta de reconhecimento do indivíduo nas cortes internacional, porém é um direito do Estado cabendo a este decidir se irá acionar o mecanismo internacional ou não. A ligação existente entre o Estado e o Indivíduo é a nacionalidade, e como visto ela é determinada pela lei do Estado. Cabendo o Estado proteger diplomaticamente o seu nacional, devendo o indivíduo manter sua nacionalidade até a decisão final do processo. Pessoa Jurídica – foro de sua constituição; Pessoa Física – Local de nascimento (exceção: Apátridas). A nacionalidade deve ser continua, com vínculos patrial e social efetivos. O Estado protegerá seus subordinados em situação funcional. Aos polipátridas qualquer dos Estados podem promover a defesa contra outro Estado. b) Esgotamento dos recursos internos: O indivíduo deverá comprovar que não conseguiu a solução do conflito no âmbito interno, esgotando as vias administrativas ou judiciais, para que seja outorgado o endosso. Pressupõe que se tem vínculo com estado estrangeiro. 2.6.2 - Efeito jurídico do endosso - O Estado torna-se dono do litígio podendo haver assistência do particular no andamento da reclamação. O Estado é quem vai conduzir a ação podendo utilizar vias diplomáticas ou judiciarias. O estado não é obrigado a repassar a indenização ao particular, eis que o Direito Internacional Público não traz esta imposição, o repasse será feito por disposição de normas internas ou por princípios éticos 2.6.3 - Renúncia do direito de da proteção diplomática O Estado tendo renunciado à sua reclamação, não pode mudar de opinião e formular uma nova reclamação. Como a reclamação pertence ao Estado, a renúncia do particular não impede que o estado de continuidade. A Chamada Doutrina Calvo foi criada em 1868 na Argentina onde se estatuiu que nacionais e estrangeiros só poderiam recorrer a corte local contra atos da administração. Segundo a doutrina não haveria endosso e nem mesmo proteção diplomática. A doutrina não foi recepcionada pelo Direito Internacional Público 2.7 – PROTEÇÃO FUNCIONAL A proteção funcional será conferida aos agentes das Organizações Internacionais, em razão da sua função diferente a proteção diplomática que é conferida aos súditos do Estado em razão da nacionalidade. Para o caso de concorrência de proteção diplomática e funcional, o direito internacional público não tem regra absoluta, por analogia pode-se concluir que teria preferência a proteção funcional. E sendo impossível a proteção funcional, o Estado poderia aplicar a proteção diplomática. FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO CONTESTADO Unidade Universitária de Mafra Curso: Direito
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