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Aula 11

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
DISCIPLINA: DIREITO DO CONSUMIDOR
PROF.: ANA LECTÍCIA
AULA 11
TEMA: Contratos submetidos às regras do CDC II: Contratos bancários. Cartão de Crédito. Arrendamento mercantil. Contratos Cativos.
CONTRATOS BANCÁRIOS
O contrato em análise sofre a incidência do CDC, uma vez que a instituição financeira se enquadra no conceito legal de fornecedor de serviço (art.3o, § 2°: serviço é qualquer atividade(...) mediante remuneração, inclusive, as de natureza bancária, de crédito e securitária”), enquanto, por outro lado, também se verifica a presença do consumidor destinatário final (standard – art.2o, caput). (vide Verbete 297 STJ).
Só não haverá relação de consumo caso o devedor tome o dinheiro para repassá-lo, caracterizando atividade empresarial, pois neste caso não será destinatário final. (vide RESP 264126/RS).
Para alguns, ainda que o objeto do contrato seja dinheiro, este, segundo a lição de Pablo Stolze, é um bem consumível por excelência, inserindo-se no conceito do art.3o, §1o, CDC. Segundo o STJ, ainda que se transferisse o dinheiro a terceiros, em pagamento de outros bens ou serviços, não haveria descaracterização do consumidor final dos serviços prestados pelo banco, pois esta é finalidade última deste bem de consumo. Além do que, é flagrante a vulnerabilidade (art.4°, I, CDC) do cliente bancário diante da instituição financeira ou bancária.
No tocante ao crédito (=bem imaterial), a sua concessão é técnica complementar e necessária ao consumo, permitindo a aquisição de bens de maior valor, bem como conforto e segurança nas compras pelo consumidor.
Importa ressaltar que não há gratuidade nos serviços prestados pelo banco. Isso porque, cuida-se de mera gratuidade aparente, uma vez que os bancos, ao reaplicarem no mercado financeiro os recursos captados pelos poupadores e correntistas, recebem uma remuneração indireta, muito superior ao rendimento creditado aos titulares das contas.
Trata-se de contrato de adesão (art.54), formulado prévia e unilateralmente pela instituição financeira, sem que o consumidor possa discutir ou modificar tais cláusulas.
A responsabilidade da instituição bancária é objetiva, ou seja, independentemente de culpa. Basta que o serviço seja prestado de forma defeituosa (ex. falha do sistema de computação e conseqüente inclusão indevida do nome do consumidor no Serasa, para dar ensejo à possível ação de indenização). 
No tocante ao cheque falsificado, vide Verbete 28 do STF.
O banco responde pelos danos ocorridos no interior de seu estabelecimento, ainda que a vítima não seja cliente da instituição (art.17: consumidores por equiparação), e responde pelos danos que seus prepostos causarem a terceiros. (ex. informação incorreta prestada a alguém sobre a idoneidade financeira de um cliente). Dessa forma, o banco responderá pelos atos do seu preposto pelo fato de o haver escolhido (mecanismo da substituição), sendo este longa manus da empresa.
Ademais, se se tratar de contrato de cofre de segurança, o cliente busca proteção e segurança excepcionais, assumindo o banco obrigação de resultado. Assim, o assalto evidencia ter falhado o sistema de segurança.
No CDC, existe regramento específico no art.52 e seus parágrafos, sobre outorga de crédito ou concessão de financiamento (exs. mútuo, cheque especial), que estabelece como requisitos dessa forma de contratação: a informação prévia e adequada (princípio da informação) acerca dos juros de mora e da taxa anual de juros, eventuais acréscimos legalmente previstos, tais como taxas de cadastro, montante do seguro, a soma total a pagar com e sem financiamento, o preço em moeda corrente nacional; a possibilidade de liquidação antecipada do débito mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos.
Além disso, releva ressaltar que as multas de mora não poderão ser superiores a 2% do valor da prestação, consoante o disposto no § 1° do citado artigo.
Outrossim, ainda que não haja previsão expressa no CDC, é vedada a capitalização de juros (anatocismo: cobrança de juros sobre juros), nos termos da Sum 596 do STF. Além disso, muito embora tenha ocorrido revogação expressa do art.192 da CRFB no parágrafo atinente a vedação de juros superiores à 12% ao ano, sempre que a taxa se mostrar desarrazoada e trouxer excessiva onerosidade para o consumidor, ainda que não haja um limite legal, será possível postular a readequação da equação econômico-financeira do contrato, visando ao equilíbrio da relação consumerista, conforme determinam os arts.4º, III e 6°, V, ambos do CODECON.
2) CARTÃO DE CRÉDITO	
		Cuida-se de poderoso instrumento na política da economia popular, com a finalidade precípua de gerar a expansão do crédito, formado por três elementos, quais sejam, o emissor do cartão (empresa que explora o crédito, em regra, uma pessoa jurídica que se interpõe entre o titular do cartão e as empresas); o titular do cartão e o vendedor (fornecedor: empresas pertencentes à rede filiada).
 		Na verdade, dois contratos diferentes são celebrados entre tais agentes, a saber: o primeiro contrato) Entre emissor e titular do cartão. Neste o emissor credencia o titular a utilizar o cartão, comprometendo-se a pagar as dívidas contraídas. O titular, por sua vez, se compromete a pagar uma importância anual (anuidade) ao emissor, a título de contraprestação pelo credenciamento que este lhe faz junto ao fornecedores de produtos e serviços. O contrato entre eles encerra uma prestação de serviços: credenciamento junto a vários fornecedores e uma abertura de crédito.
		Já o segundo contrato é o de filiação, celebrado entre emissor e vendedor, por meio do qual aquele se obriga a pagar as despesas do titular do cartão e, o vendedor, possui as seguintes obrigações: a) aceitar o cartão sem acréscimo nos preços dos produtos; b) manter cartazes informadores; c) verificar a autenticidade da assinatura do comprador, que deve coincidir com a do cartão. Se porventura houver má utilização do mesmo, o emissor poderá se negar a pagar ao fornecedor o preço da coisa vendida ao portador do cartão. 
		Não é despiciendo ressaltar que é constante a falta de cautela das lojas vendedoras que se omitem no dever de conferir a assinatura do portador do cartão e exigir deste outro documento de identificação. Daí o grande percentual de demandas motivadas por compras feitas por cartão de crédito com assinatura falsificada, saques criminosos em caixas eletrônicos etc.
		O titular do cartão não pode responder pelo fato culposo das lojas filiadas, por não ter com elas nenhum vínculo contratual; nessa esfera, nos ensina Sérgio Cavalieri Filho “o vínculo é com o próprio emissor do cartão, perante quem deve o estabelecimento responder por sua falta de cautela. Em suma, o risco de aceitar o cartão, sem conferir assinaturas e sem exigir qualquer outro documento, é do vendedor. Se por falta de cautela, acaba vendendo mercadoria a quem não é o legítimo portador do cartão, torna-se vítima de um estelionato, cujos prejuízos deve suportar. Nesse caso, pode o emissor do cartão, negar-se a pagar a dívida alegando má utilização do cartão. Mas se preferir assumir a dívida por conveniência do seu negócio, não pode depois transferir o prejuízo para o titular do cartão, que não tem nenhum vínculo com o estabelecimento comercial filiado”.
		Assim, enquanto na compra e venda tradicional quem compra deve pagar ao vendedor, naquela que é feita através do cartão de crédito quem paga é o emissor para depois receber o que pagou do titular do cartão. Nessa operação, o emissor aufere lucros – um percentual sobre o valor do negócio realizado – mas assume também pesadas obrigações, entre as quais o risco da operação.
		O Código de Consumidor se aplica neste contrato, expressamente, pelo disposto nos arts. 3º, § 2º: “atividade de crédito” e 14 “fornecedores de serviços” com responsabilidade objetiva (risco do empreendimento), isto é, independentemente da prova da existência de culpa pelos danos causados aos titulares. Ademais, também é tido como um contrato deadesão (art. 54 e parágrafos, do CDC).
		A empresa que explora do crédito podem cobrar juros remuneratórios de mercado, consoante o disposto no Enunciado 283 do STJ, in verbis: “As empresas administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas cobrados não sofrem as limitações da Lei de Usura (Dec 22.626/1933)”. Vide também art. 17 da Lei 4.595/64 e Lei Complementar 105/2001. Porém, a capitalização de juros, mesmo quando convencionada, é vedada, conforme dispõe o Verbete 121 do STF.
		Questão bastante discutida acerca desse contrato versa sobre a chamada “cláusula mandato”, por meio da qual, a cada vez que o débito é financiado, o usuário do cartão elege a administradora como sua mandatária para obter, no mercado financeiro, os meios necessários à realização da sua vontade: obter o financiamento do seu débito”. 
		A jurisprudência dominante no STJ têm admitido a validade da cláusula mandato, inexistindo violação do art. 51, VIII, do CDC e nem ao art. 122, uma vez que não se considera uma cláusula potestativa pura.
		O envio de cartão não solicitado fere o art. 39, III, do CDC, sendo prática abusiva.(ex. vide Ap Cível 200700124365).
		Por fim, haverá solidariedade entre o banco e a administradora do cartão: quando entre eles houver parceria comercial com as empresas de cartão de crédito, se empenhando para tornar clientes seus usuários de certas bandeiras. Além do que, segundo Cavalieri, “a parceria fica fortalecida pelo fato de o banco expedir correspondência do cartão, cobrar faturas, até mesmo diante de débito em conta corrente, cartões múltiplos que permitem saques em dinheiro e outras operações bancárias.
		São, portanto, parceiros comerciais, não importando a forma ou o tipo de sociedade, sendo indiscutível haver solidariedade entre eles, quer à luz do art. 7º, parágrafo único do CDC, quer do art. 25, § 1º ou 14 do mesmo diploma legal.																			
3) ARRENDAMENTO MERCANTIL (Leasing)																				
	Conceito. “É o contrato pelo qual uma pessoa jurídica, proprietário de um bem móvel ou imóvel (arrendador) cede a terceiro ( pessoa física ou jurídica: arrendatário) o uso desse bem por prazo determinado, mediante o recebimento de certa quantia mensal (prestação), com a opção de findo o contrato adquirir o bem por um preço residual previamente fixado.	Desse forma, na verdade, ao fim do contrato, restam três opções ao arrendatário:
	a) Comprar o bem pelo valor previamente contratado;
 b) renovar o contrato por novo prazo, tendo como principal o valor residual;
 c) devolver o bem ao arrendador.
	A finalidade do leasing financeiro é assegurar ao arrendatário o uso imediato do bem (ex. equipamentos, veículos...) sem a necessidade de mobilizar capital de forma adiantada e de valor expressivo.
	Cuida-se de contrato submetido à disciplina do CDC, consoante arts. 3º, § 2º (operação de financiamento, incluída no conceito de serviço), 14 e 54.
	Porém, não haverá aplicação do CDC quando tal contratação de destinar ao incremento da atividade empresarial.
	Questão bastante controvertida reside no pagamento antecipado do VRG (valor residual garantido): Verbete 263 versus 293 do STJ, que tem prevalecido: “A cobrança antecipada do VRG não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil”. 				O VRG é o preço contratualmente estipulado para o exercício da opção de compra, ou valor contratualmente garantido pelo arrendatário como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros do bem arrendado, na hipótese de não ser exercida a opção de compra. Corresponde ao que o bem ainda vale no final do contrato, afastada a depreciação que sofreu e que foi suportada pelo arrendatário juntamente com o aluguel.	
	Outra questão interessante é a relativa aos contratos de leasing vinculados ao dólar. A maxidesvalorização do real frente ao dólar em janeiro de 1999, acarretou a inadimplência de milhares de contratos e ajuizamento de milhares de ações judiciais.
	O objetivo era a alteração do indexador, substituindo pelo IPC (índices de preços aos consumidor) ou manter a variação cambial no patamar inicial de 1 (U$) para 1,21 (R$).
	Tal alteração foi possível tendo em conta o art. 6º, inciso V, do CDC (teoria do rompimento da base do negócio – bastando que os fatos supervenientes tornem as prestações excessivamente onerosas, ainda que não sejam imprevisíveis, bastando que sejam inesperados), bem como por violação aos princípios da transparência (os riscos não foram explicitamente esclarecidos); confiança (a súbita elevação do dólar frustou a expectativa legítima do consumidor de que teria condições de continuar pagando as prestações até o final do financiamento) e boa-fé objetiva (pq através dessa cláusula o financiador procurou transferir os riscos do seu negócio ao consumidor, o que é vedado pelo lei).

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