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História da Civilização Ocidental 01- Edward McNall Burns

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Capítulo 18
A Revolução Comercial e a Nova Sociedade
(1400-1700)
OS TRÊS últimos capítulos descreveram com bastante minúcia a
transição intelectual e religiosa do mundo medieval para o
moderno. Observamos que a Renascença, apesar dos seus muitos
laços de parentesco com a Idade Média, proferiu sentença de
morte contra a filosofia escolástica, solapou à supremacia da
arquitetura gótica e destruiu as concepções medievais da política e
do universo. Ficou também claro que, antes de haver a
Renascença completado a sua obra, uma poderosa torrente de
revolução religiosa arrancou o cristianismo dos seus alicerces
medievais e preparou o caminho para atitudes espirituais e morais
de acordo com as tendências da nova época. É escusado dizer
que tanto a Renascença como a Reforma foram acompanhadas de
transformações econômicas fundamentais. Na verdade, as
sublevações de ordem intelectual e religiosa dificilmente teriam
sido possíveis se não ocorressem alterações drásticas no padrão
econômico medieval. Essa série de mudanças que assinala a
transição da economia estática e contrária ao lucro, dos fins da
Idade Média, para o dinâmico regime capitalista do século XV e
seguintes, é conhecida como Revolução Comercial.
1. CAUSAS E INCIDENTES DA REVOLUÇÃO
COMERCIAL
Não são muito claras as causas que deram início à Revolução
Comercial por volta de 1.400. Isso se deve a ter sido a primeira
fase do movimento mais vagarosa do que comumente se supõe.
Na medida em que é possível isolar causas particulares, as
seguintes podem ser apontadas como básicas: 1) a conquista do
monopólio comercial do Mediterrâneo pelas cidades italianas; 2) o
desenvolvimento de um lucrativo comércio entre as cidades
italianas e os mercadores da Liga Hanseática, no norte da Europa;
3) a introdução de moedas de circulação geral, como o ducado
veneziano e o florim toscano; 4) a acumulação de capitais
excedentes, fruto das especulações comerciais, marítimas ou de
mineração; 5) a procura de materiais bélicos e o estímulo dado
pelos novos monarcas ao desenvolvimento do comércio, a fim de
criar mais riquezas tributáveis; e 6) a procura de produtos oriundos
do Extremo Oriente, estimulada pelas narrativas de viajantes, em
especial pela fascinante descrição das riquezas da China,
publicada por Marco Polo depois de voltar de uma viagem a esse
país, nos fins do século XIII. Essa combinação de fatores deu aos
homens do começo da Renascença novos horizontes de opulência
e poder e dotou-os com parte do equipamento necessário à
expansão dos negócios. Daí por diante, era inevitável que se
sentissem insatisfeitos com o acanhado ideal das corporações
medievais, que proibia o comércio lucrativo.
A Revolução Comercial, no entanto, não teria atingido tamanha
amplitude se não fossem as viagens ultramarinas de
descobrimento, As viagens iniciadas no século XV. Não é difícil
perceber as razões que determinaram a realização dessas
viagens. Consistiram elas principalmente na ambição espanhola e
portuguesa de tomar parte nos proventos do comércio com o
Oriente. Desde algum tempo esse comércio vinha sendo
monopolizado pelas cidades italianas, donde resultava que a
Península Ibérica se via obrigada a pagar altos preços pelas
sedas, perfumes, especiarias e tapeçarias importadas da Ásia.
Era, portanto, muito natural que os mercadores espanhóis e
portugueses tentassem descobrir uma nova rota para o Oriente,
livre do controle italiano. Uma segunda causa das viagens de
descobrimento foi o fervoroso proselitismo dos espanhóis. Sua
bem sucedida cruzada contra os mouros gerara um excedente de
zelo religioso que se traduzia no desejo de converter os pagãos. A
tais causas deve-se ajuntar o fato de terem os marinheiros cobrado
mais coragem para se aventurarem no mar alto, graças aos
progressos do conhecimento geográfico e à introdução da bússola
e do astrolábio. Os efeitos de tais ocorrências não devem, no
entanto, ser exagerados. É positivamente errônea a vulgarizada
idéia de que todos os europeus, antes de Colombo, acreditavam
ser chata a terra. A partir do século XII, seria quase impossível
encontrar um homem instruído que não aceitasse o fato da
esfericidade do nosso planeta. Além disso, a bússola e o astrolábio
eram conhecidos na Europa muito antes de qualquer marinheiro
sonhar com, uma travessia do Atlântico, salvo os nórdicos. A
bússola fora trazida pelos muçulmanos no século XII,
provavelmente da China. Quanto ao astrolábio, sua introdução é
de data ainda mais antiga.
Se excetuarmos os nórdicos, que descobriram a América por volta
do ano 1.000 d.C., os pioneiros da navegação oceânica foram os
portugueses. Pelos meados do século XV haviam descoberto e
colonizado as ilhas da Madeira e dos Açores e explorado a costa
africana para o sul, até a Guiné. Em 1.497, Vasco da Gama, o seu
mais bem sucedido navegador, contornou a extremidade
meridional da África e, no ano seguinte, chegou à Índia.
Entrementes, o marinheiro genovês Cristóvão Colombo tinha-se
convencido da possibilidade de atingir a Índia pelo Ocidente.
Repelido pelos portugueses, dirigiu-se aos soberanos espanhóis,
Fernando e Isabel, e obteve o apoio deles para o seu plano. Sua
histórica viagem e os respectivos resultados são conhecidos por
todos, de forma que não precisamos repeti-Ios aqui. Ainda que
tenha morrido na ignorância do verdadeiro feito que realizara, os
seus descobrimentos constituíram a base das pretensões
espanholas à posse de quase todo o Novo Mundo. Seguiram-se a
Colombo outros descobridores, representando a coroa espanhola,
e, a pouco trecho, os conquistadores Cortés e Pizarro. Daí resultou
a fundação de um vasto império colonial que incluía a atual porção
sudoeste dos Estados Unidos, a Flórida, o México, as Antilhas, a
América Central e toda a América do Sul, com exceção do Brasil.
Os ingleses e os franceses não tardaram a seguir o exemplo
espanhol. As viagens de João Cabot e de seu filho Sebastião, em
1.497-98, forneceram uma base às pretensões inglesas na
América do Norte, embora nada tenha havido que merecesse o
nome de império britânico no Novo Mundo antes da colonização da
Virgínia, em 1.607. No começo do século XVII o explorador francês
Cartier remontou o S. Lourenço, dando assim à sua pátria um
semblante de direito ao Canadá oriental. Mais de cem anos depois,
as expIorações de Joliet, La Salle e do Padre Marquette permitiram
que os franceses se estabelecessem no vale do Mississipi e na
região dos Grandes Lagos. Após a sua vitória na guerra pela
independência, os holandeses também participaram da luta peta
obtenção de um império colonial. A viagem de Henrique Hudson,
subindo o rio que tem o seu nome, conduziu à fundação da Nova
Holanda em 1623, mas cerca de quarenta anos depois foram
forçados a entregá-Ia aos ingleses. As possessões mais valiosas
dos holandeses, no entanto, eram Malaca, as Molucas e os portos
da Índia e da África tomados aos portugueses no começo do
século XVII.
Foram quase incalculáveis os resultados dessas viagens de
descobrimento e da fundação dos impérios coloniais. Para
começar, expandiram o comércio, que até então se limitara ao
tráfico do Mediterrâneo, e deram-lhe as proporções de um
empreendimento mundial. Pela primeira vez na história os navios
das grandes potências marítimas singravam os sete mares. O
pequeno, mas sólido monopólio do tráfico oriental, mantido pelas
cidades italianas, foram completamente destruídos. Gênova, Pisa
e Veneza mergulharam daí por diante em relativa obscuridade, ao
passo que nos portos de Lisboa, Bordéus, Liverpool, Bristol e
Amsterdã se acotovelavam os navios e os armazéns dos seus
comerciantes não tinham espaço suficiente para conter as
mercadorias. Um segundo resultado foi o tremendo aumento no
volume do comércio e na variedade dos artigos de consumo. Às
especiarias e tecidos do Oriente haviam-se ajuntado as batatas, o
tabaco e o milho da América do Norte; o melaço e o rum das
Antilhas; o cacau,o chocolate, a quina e a cochonilha da América
do Sul; e ainda o marfim, os escravos e as penas de avestruz da
África. Além desses artigos, até então desconhecidos ou obtidos
apenas em quantidade ínfima, o suprimento de outros produtos já
conhecidos aumentou enormemente. Tal foi em especial o caso do
café, do açúcar, do arroz e do algodão, os quais passaram a ser
importados em tais quantidades do Hemisfério Ocidental que
deixaram de ser mercadorias de luxo.
O mais importante resultado do descobrimento e conquista das
terras de além-mar foi, provavelmente, a expansão do suprimento
de metais preciosos. Calcula-se que quando Colombo descobriu a
América a quantidade de ouro e prata em circulação na Europa
não ultrapassava duzentos milhões de dólares. Por volta de 1.600,
o volume dos metais preciosos naquele continente atingira o
pasmoso total de um bilhão de dólares. Parte dele era fruto das
pilhagens feitas pelos espanhóis nos tesouros dos incas e astecas,
mas o grosso provinha das minas do México, da Bolívia e do Peru.
Os efeitos desse fenomenal aumento das reservas de metal
precioso só podem ser qualificados de momentosos. Nenhuma
outra causa influiu de maneira tão decisiva no desenvolvimento da
economia capitalista. Os homens possuíam, agora, a riqueza sob
uma forma que podia ser convenientemente armazenada para uso
subseqüente, e é desnecessário lembrar que a acumulação de
riqueza para investimento futuro constitui um característico
essencial do capitalismo. Além disso, como o ouro e a prata vieram
a ser empregados principalmente como símbolos de utilidades e
não como utilidades em si mesmas, o ideal medieval do comércio
como uma troca de coisas equivalentes perdeu a sua razão de ser
e foi substituído, pela concepção moderna do negócio com mira no
lucro. Por fim, o rápido afluxo de metais preciosos estimulou a
especulação. O valor do ouro e da prata passava por largas
flutuações à medida que se descobriam novas jazidas ou se
perdiam as esperanças de um farto rendimento. Essas flutuações
influíam nos preços das mercadorias, resultando daí que os
mercadores e os banqueiros eram tentados a jogar nas
possibilidades futuras.
Os incidentes ou característicos da Revolução Comercial já foram
parcialmente indicados pelo anterior exame das causas. O mais
importante dentre eles foi a ascensão do capitalismo. Reduzido à
expressão mais simples, o capitalismo pode ser definido como um
sistema de produção, distribuição e troca em que a riqueza
acumulada é empregada pelos seus possuidores individuais com
fins lucrativos. Os traços distintivos do sistema são o
empreendimento privado, a concorrência e o negócio com fito no
lucro. Geralmente, compreende também o sistema de salários
como forma de pagamento dos trabalhadores, isto é, uma forma de
pagamento baseada, não na quantidade de riqueza que estes
criam, mas na sua capacidade de competir uns com os outros para
conseguir empregos. Além disso, é um sistema dinâmico, fundado
na premissa de que todo produtor ou comerciante tem o direito de
incrementar os seus negócios pelo estímulo à procura dos artigos
que tem a vender. Como já foi salientado, o capitalismo é a
antítese direta da economia semi-estática das corporações
medievais, na qual se concebiam a produção e o comércio como
orientados no sentido de beneficiar a sociedade, com uma
remuneração apenas razoável dos serviços prestados, ao invés de
lucros ilimitados. Ainda que o capitalismo não tenha alcançado a
completa maturidade senão no século XIX, quase todos os seus
característicos essenciais se desenvolveram durante a Revolução
Comercial.
Outro fato importante dessa revolução foi o desenvolvimento do
sistema bancário. Devido à vigorosa condenação da usura, os
negócios bancários mal eram considerados respeitáveis durante a
Idade Média. Durante muitos séculos, o pouco que se realizou
nesse sentido foi virtualmente monopolizado pelos muçulmanos e
judeus. No tempo das Cruzadas, os mosteiros e os templários
emprestavam dinheiro para financiar as expedições ou atender às
necessidades dos soldados depois que chegavam ao Oriente, mas
nenhum desses casos pode ser considerado como exemplo de
uma operação bancária no sentido moderno do termo. A
justificação dos empréstimos não era econômica, mas religiosa, e
mesmo assim considerava-se necessário evitar o anátema lançado
sobre a usura, aceitando presentes ao invés de cobrar juros. Só no
século XIV foi que o empréstimo de dinheiro se estabeleceu
solidamente como empresa comercial. As verdadeiras fundadoras
desse gênero de negócios com mira no lucro foram algumas das
grandes casas comerciais das cidades italianas. Salientou-se entre
elas a firma dos Médicis, em Florença, com um capital de
7.500.000 dólares para financiar as suas atividades. O emblema
comercial dessa firma - o cacho de três bolas de ouro - continua a
ser ainda hoje, no mundo ocidental, a conhecida insígnia das
casas de penhor. No século XV, os negócios bancários tinham
atingido a Alemanha meridional, a França e os Países-Baixos. A
principal firma do norte era a dos Fuggers, de Augsburgo, com um
capital de vinte milhões de dólares. Os Fuggers emprestaram
dinheiro a reis e bispos, serviram como corretores do papa na
venda de indulgências e adiantaram os fundos graças aos quais
Carlos V pode comprar a sua eleição ao trono do Santo Império
Romano. Dirigiam os seus negócios com tanta astúcia e tão
implacavelmente perseguiam os seus devedores - chegando a
ameaçar o próprio imperador como se fosse um traficantezinho
qualquer - que a firma auferiu um lucro anual de 54% durante
década e meia, no século XVI. O aparecimento dessas casas
bancárias particulares foi seguido pela fundação de bancos
públicos ou, pelo menos, parcialmente controlados pelo governo,
os quais se destinavam a atender às necessidades monetárias dos
estados nacionais. O primeiro em ordem cronológica foi o Banco
da Suécia (1.656), mas era ao Banco da Inglaterra, fundado em
1.694, que estava reservado o papel de maior importância da
história econômica. Embora até 1.946 não se achasse
tecnicamente sob o controle do governo, foi o banco de emissão
deste e o depositário dos fundos públicos.
O desenvolvimento do sistema bancário fez-se acompanhar
necessariamente da adoção de vários instrumentos auxiliares das
transações financeiras em larga escala. As facilidades de crédito
se expandiram de tal forma que um comerciante de Amsterdã
podia comprar mercadorias de um outro, em Veneza, mediante
uma letra de câmbio emitida por um banco da sua cidade. O
comerciante veneziano embolsava o seu dinheiro apresentando a
letra de câmbio ao banco local. Os dois bancos, mais tarde,
acertavam as suas contas pelo confronto dos respectivos
balanços. Com o tempo, chegou-se a estabelecer um sistema
bastante perfeito de compensação internacional que possibilitava a
liquidação de um grande volume de contas com pequeníssima
troca de dinheiro. Entre as outras facilidades para a expansão do
crédito figuravam a adoção do sistema de pagamento por cheque
nas transações locais e a emissão de notas bancárias como
substitutos do ouro e da prata. Ambos esses expedientes foram
introduzidos pelos italianos e gradualmente adotados na Europa
setentrional. O sistema de pagamento por cheque assumiu
especial importância por aumentar o volume do comércio, uma vez
que os recursos de crédito dos bancos puderam então expandir-se
muito além do montante real dos seus depósitos.
A Revolução Comercial não se limitou, é claro, ao desenvolvimento
do comércio e do sistema bancário. Incluiu, também, modificações
fundamentais nos métodos de produção. O sistema de manufatura
desenvolvido pelas corporações de ofício da última fase da Idade
Média caminhava a passos rápidos para a extinção. As próprias
corporações, dominadas pelos mestres, tinham-se tornado
egoístas e exclusivistas. Delas participavam, comumente, tão-só
umas poucas famílias privilegiadas.Além disso, estavam tão
fossilizadas na tradição que eram incapazes de ajustar-se às
novas condições. E mais ainda, haviam surgido novas indústrias
que eram completamente alheias ao sistema corporativo.
Exemplos característicos foram a mineração, a fundição de
minérios e a indústria da lã. O rápido desenvolvimento dessas
empresas foi estimulado por progressos técnicos tais como a
invenção da roda de fiar e do tear para tecer meias e o
descobrimento de um novo método de fundir latão que
economizava quase metade do combustível anteriormente
empregado. Nas indústrias de mineração e fundição de minérios
adotou-se uma forma de organização muito semelhante à que
chegou até nós. As ferramentas e instalações pertenciam aos
capitalistas, enquanto os operários eram meros percebedores de
salários, sujeitos aos azares dos acidentes, do desemprego e das
doenças profissionais.
A modalidade mais típica de produção industrial era, porém, o
sistema doméstico, introduzido originalmente na indústria de
tecelagem da lã. Deriva ele o seu nome do fato de ser o trabalho
executado em sua própria casa pelos artífices, em lugar de o ser
na oficina de um artesão-mestre. Visto como as várias tarefas da
manufatura do produto eram distribuídas por empreitada, mais ou
menos dentro do moderno regime de exploração máxima do
trabalhador, o sistema é também conhecido como sistema de
encomenda. Não obstante a escala diminuta da produção, a
organização era inteiramente capitalista. A matéria-prima era
comprada por um empresário e transferida aos trabalhadores
Individuais, cada um dos quais devia perfazer a respectiva tarefa
em troca de um pagamento estipulado. No caso da indústria de
tecelagem, a lã era distribuída em primeiro lugar aos fiandeiros e
depois, sucessivamente, aos tecelões, pisoeiros e tingidores. Uma
vez pronto o pano, o industrial o recolhia e vendia no mercado livre
pelo melhor preço que pudesse conseguir. O sistema doméstico
não se restringia, naturalmente, à manufatura do pano de lã. Com
o correr do tempo, estendeu-se a muitos outros campos de
produção. Harmonizava-se muito bem com a nova glorificação da
riqueza e com a concepção de uma economia dinâmica. O
capitalista podia, agora, deitar para um canto as velhas objeções
contra o lucro. Não havia associações de rivais para criticar a
qualidade dos seus produtos ou os salários que pagava aos seus
operários. O melhor de tudo, talvez, é que podia expandir os seus
negócios como bem lhe conviesse e introduzir novas técnicas
capazes de reduzir os custos ou aumentar o volume da produção.
Indubitavelmente o sistema doméstico apresentava vantagens
para os próprios trabalhadores, em especial quando comparado
com a sua sucessora - a fábrica. Embora os salários fossem
baixos, não havia horário de trabalho e, geralmente, cada um
podia aumentar os rendimentos da família cultivando um pequeno
pedaço de terra e colhendo, pelo menos, algumas hortaliças. Além
disso, as condições de trabalho em casa eram mais saudáveis do
que nas fábricas e o trabalhador dispunha da família para ajudá-Io
nas tarefas mais simples. Também deve ser considerada como
uma positiva vantagem a ausência da supervisão de um capataz e
do medo de ser despedido por motivos fúteis. Por outro lado, não
se pode esquecer que os operários estavam por demais
espalhados para se organizarem com eficiência, visando uma ação
conjunta. Conseqüentemente, não tinham meios de se protegerem
contra os empregadores desonestos que lhes sonegavam parte
dos salários ou os forçavam a aceitar o pagamento em gêneros. É
também verdade que, nos últimos tempos da Revolução
Comercial, os operários se tornaram cada vez mais dependentes
dos capitalistas, que haviam passado a fornecer não somente as
matérias-primas, mas também as ferramentas e utensílios. Em
alguns casos, os operários eram reunidos em grandes oficinas
centrais e obrigados a trabalhar dentro de uma rotina fixa. A
diferença entre isso e os métodos intensivos do sistema fabril era
tão-somente questão de grau.
Que a Revolução Comercial acarretaria grandes mudanças na
organização dos negócios era coisa que se poderia prever desde
os primeiros passos. A unidade dominante de produção e comércio
na Idade Média era a oficina ou o armazém de propriedade de um
individuo ou de uma família. A sociedade comercial era também
bastante comum, a despeito da grave desvantagem que
representava a responsabilidade ilimitada de cada um dos sócios
pelos débitos da firma. Evidentemente, nenhuma dessas unidades
se adaptava bem a negócios que envolvessem grandes riscos e
um enorme emprego de capital. O primeiro resultado das tentativas
para conseguir uma organização comercial mais adequada foi a
formação das companhias regulamentadas. Tratava-se de
associações de comerciantes unidos num empreendimento
comum. Os associados não operavam uma fusão de capitais;
concordavam apenas em cooperar para proveito de todos e em
obedecer a certas regras definidas. Em geral, o objetivo da
combinação era manter em certa parte do mundo um monopólio
comercial. Os sócios freqüentem ente pagavam contribuições para
a manutenção de docas e trapiches e, em particular, para a
proteção contra os "entrelopos", como eram chamados os
comerciantes que tentavam quebrar o monopólio. Um dos mais
notáveis exemplos dês se tipo de organização foi uma companhia
inglesa conhecida como os "Merchant Adventurers", fundada com
o objetivo de comerciar com os Países-Baixos e a Alemanha.
No século XVI, a companhia regulamentada foi em grande parte
suplantada por um novo tipo de organização, ao mesmo tempo
mais sólida e de alcance mais amplo. Era a sociedade por ações,
formada mediante a subscrição de quotas de capital por um
número considerável de inversores. Os que compravam ações
podiam ou não tomar parte nas atividades da companhia, mas
tanto num caso como no outro eram co-proprietários do negócio e,
como tais, tinham direito a participar dos lucros na proporção do
dinheiro empregado. A sociedade por ações apresentava
numerosas vantagens sobre a sociedade de responsabilidade
ilimitada e sobre a companhia regulamentada. Em primeiro lugar,
era uma unidade permanente, não estando sujeita à reorganização
todas as vezes que um dos membros morria ou se retirava. Em
segundo, acabou por estabelecer-se na base de uma
responsabilidade limitada, isto é: cada sócio só era responsável
pelos débitos da companhia na proporção do seu investimento de
capital. E, em terceiro, tornava possível um acúmulo muito maior
de capital, graças à ampla distribuição das ações. Em resumo,
possuía quase todas as vantagens de uma sociedade anônima
moderna, exceto quanto a não ter personalidade jurídica, com os
direitos e privilégios garantidos aos indivíduos. Se bem que a
maioria das primeiras sociedades por ações tivessem sido
fundadas para empreendimentos comerciais, mais tarde algumas
se organizaram para fins industriais. Entre as principais
organizações de mercadores, umas havia que eram também
companhias privilegiadas, isto é, possuíam cartas de privilégio do
governo que lhes concediam o monopólio do comércio em certa
localidade e lhes conferiam ampla autoridade sobre os habitantes.
Graças a um privilégio desse tipo, a Companhia Inglesa das Índias
Orientais governou a índia como se fosse um estado particular, até
1.784, e em certo sentido até 1.858. Famosas foram também a
Companhia Holandesa das Índias Orientais, a Companhia da Baía
de Hudson, a Companhia de Plymouth e a Companhia de Londres.
Esta última fundou a colônia da Virgínia e governou-a durante
certo tempo como se fora propriedade sua.
Resta ainda considerar um característico da Revolução Comercial,
que foi o desenvolvimento de uma economia monetária mais
eficiente. O dinheiro estivera em uso, é claro, desde a
revivescência do comércio no século XI. Não obstante, eram raras
as moedas cujo valor fosse reconhecido fora do seu local de
origem. Por volta de1.300, o ducado veneziano e o florim
florentino, valendo cada um cerca de 2,25 dólares, tinham ganho
considerável aceitação dentro da Itália e mesmo nos mercados
internacionais do norte da Europa. De nenhum país se pode dizer,
entretanto, que possuísse um sistema monetário uniforme. Em
quase toda parte reinava grande confusão. Moedas emitidas por
reis circulavam lado a lado com o dinheiro dos nobres locais e até
com os maravedis muçulmanos. Além disso, os padrões
monetários sofriam freqüentes modificações e as próprias moedas
eram muitas vezes adulteradas. Um método usado comumente
pelos reis para fazer crescer as suas rendas era aumentar a
proporção dos metais mais baratos nas moedas que emitiam. O
desenvolvimento do comércio e da indústria na Revolução
Comercial acentuou, porém, a necessidade de sistemas
monetários mais estáveis e uniformes. O problema foi resolvido
pela adoção, por todos os estados mais importantes, de um
sistema-padrão de dinheiro para ser usado em todas as
transações dentro dos seus limites. Muito tempo se passou,
entretanto, antes que a reforma se completasse. A Inglaterra
iniciou a elaboração de uma cunhagem uniforme no reinado de
Elisabet, mas a tarefa não ficou terminada antes do fim do século
XVI. A França não conseguiu reduzir o seu dinheiro aos modernos
padrões de simplicidade e comodidade senão no tempo de
Napoleão. A despeito de tão longas dilações, parece acertado
concluir que as moedas nacionais foram realmente uma conquista
da Revolução Comercial.
2. O MERCANTILISMO NA TEORIA E NA PRÁTICA
A Revolução Comercial foi acompanhada, em suas últimas fases,
pela adoção de um novo corpo de doutrinas e de normas práticas
conhecido como mercantilismo. No seu sentido mais amplo, o
mercantilismo pode ser definido como um sistema de intervenção
governamental para promover a prosperidade nacional e aumentar
o poder do estado. Se bem que seja muitas vezes considerado
como um programa de ordem exclusivamente econômica, os seus
objetivos eram em grande parte políticos. A finalidade da
intervenção nos assuntos econômicos não era apenas expandir o
volume da indústria e do comércio, mas também trazer mais
dinheiro para o tesouro do rei, o que lhe permitiria construir
armadas, apetrechar exércitos e fazer o seu governo temido e
respeitado em todo o mundo. Devido a essa íntima associação
com as ambições dos príncipes, empenhados em aumentar o seu
próprio poder e o dos estados que dirigiam, o mercantilismo tem
sido às vezes chamado estatismo. O sistema, certamente, nunca
teria existido se não fora o desenvolvimento de uma monarquia
absoluta em lugar da estrutura fraca e descentralizada do
feudalismo. Não o criaram, porém, os reis sozinhos. Como era
natural, os novos magnatas dos negócios prestaram-Ihes
entusiástico apoio, pois o favorecimento ativo do comércio pelo
estado lhes traria vantagens evidentes. O apogeu do mercantilismo
foi o período entre 1.600 e 1.700, mas muitos de seus
característicos sobreviveram até o fim do século XVIII.
Se houve um princípio que desempenhasse o papel central na
teoria mercantilista, foi a doutrina do metalismo. Essa doutrina O
metalismo estabelece que a prosperidade de uma nação é
determinada pela quantidade de metais preciosos de comércio
existente dentro dos seus limites. Quanto mais favorável ouro e
prata um país possui, tanto mais dinheiro o governo poderá
recolher em impostos e tanto mais rico e poderoso se tornará o
estado. O surto tomado por uma tal idéia era alimentado pelo
conhecimento da prosperidade e poder da Espanha, que pareciam
resultar diretamente do afluxo de metais preciosos procedentes
das colônias americanas. Mas que poderiam fazer os países que
não tivessem colônias produtoras de ouro ou prata? Como
conseguiriam tornar-se ricos e poderosos? Os mercantilistas
tinham uma resposta pronta para essas perguntas. A nação que
não tivesse acesso direto ao ouro e à prata devia tentar aumentar
o seu comércio com o resto do mundo. Se o governo de uma tal
nação tomasse medidas para fazer com que o valor das
exportações excedesse constantemente o das importações, a
entrada de ouro e prata no país superaria a saída. Chamava-se a
isso manter uma "balança de comércio favorável". Para tal, três
medidas principais tornavam-se necessárias: primeiro, tarifas
elevadas para reduzir o nível geral das importações e impedir
completamente a entrada de certos produtos; segundo, prêmios às
exportações; e terceiro, um amplo fomento da indústria, para que o
país tivesse a maior quantidade possível de mercadorias para
vender ao estrangeiro.
A teoria mercantilista incluía também certos elementos de
nacionalismo econômico, paternalismo e imperialismo. O primeiro
significa o ideal de uma nação que se basta a si mesma. A política
de favorecer novas indústrias não tinha em vista apenas aumentar
as exportações, mas também tornar o país independente dos
fornecimentos estrangeiros. Da mesma forma, os mercantilistas
argumentavam que o governo devia exercer as funções de um
zeloso guardião sobre as vidas dos seus cidadãos. O casamento
precisava ser encorajado e regulamentado a fim de aumentar
constantemente a população. Cumpria que o governo exercesse
um controle cuidadoso sobre os salários, as horas de trabalho, os
preços e a qualidade dos produtos. Impunha-se uma assistência
generosa à pobreza, inclusive a assistência médica gratuita para
os que não pudessem pagá-Ia. Essas coisas não seriam feitas, no
entanto, dentro de qualquer espírito de caridade ou justiça, mas
principalmente para que o estado pudesse repousar sobre sólidas
bases econômicas e para que tivesse, em caso de guerra, o apoio
de cidadãos numerosos e sadios. Finalmente, os mercantilistas
advogavam a aquisição de colônias. Aqui, também, o objetivo
principal não era beneficiar individualmente os cidadãos da
metrópole, mas tornar a nação forte e independente.
Os tipos de possessões mais ardentemente desejadas eram
aquelas que pudessem aumentar os fundos nacionais de metais
preciosos. Na falta delas, seriam muito aceitáveis as colônias que
fornecessem produtos tropicais, abastecimentos navais ou
quaisquer outros artigos que a metrópole não pudesse produzir.
Baseava-se esse imperialismo na teoria de que as colônias
existiam para benefício dos estados possessores. Por tal razão,
não se lhes permitia dedicarem-se à indústria ou à navegação. Sua
função era produzir matérias-primas e consumir o máximo possível
de produtos manufaturados. Desse modo robusteceriam as
indústrias da metrópole, dando-lhe assim uma vantagem na luta
pelo mercado mundial.
A maioria dos que escreveram sobre a teoria mercantilista não
eram economistas profissionais, mas homens de ação
pertencentes ao mundo dos negócios. A melhor exposição do
assunto parece ter sido a de Thomas Mun, um comerciante de
destaque e diretor, por muitos anos, da Companhia Inglesa das
Índias Orientais. Sua obra principal foi publicada postumamente,
em 1.664, sob o título England's Treasure by Forraign Trade, or
The Ballance of Our Forraign Trade Is the Rule Of Our Treasure
(isto é, mais ou menos: "A riqueza da Inglaterra pelo comércio
estrangeiro, ou A balança do nosso comércio estrangeiro é a
reguladora da nossa riqueza.") Além de numerosos outros
campeões pertencentes às fileiras do comércio, o mercantilismo
também encontrou defensores em alguns filósofos políticos. Entre
eles figuram advogados da monarquia absoluta como o francês
Jean Bodin (1.530-96) e o inglês Thomas Hobbes (1.588-1679),
naturalmente predispostos a apoiar qualquer política que
aumentasse a riqueza e o poder do governante. Conquanto a
maioria dos apologistas do mercantilismo se interessasse por ele
principalmente como um meio de promover uma balança de
comércio favorável, outros o concebiam como uma espécie de
paternalismo com vistas em aumentar a prosperidade interna do
país. O inglês Edward Chamberlayne, por exemplo, defendia umapolítica de certo modo semelhante às idéias atuais sobre os
empreendimentos governamentais. Recomendava que o estado
destinasse abundantes fundos para o auxílio aos pobres e para a
construção de obras públicas como meio de estimular os negócios.
As tentativas de pôr em prática a doutrina mercantilista
assinalaram a história da maioria das nações da Europa ocidental
nos séculos XVI e XVII. Evidentemente a Espanha teve a
vantagem inicial, devido ao afluxo de metais preciosos proveniente
do seu império americana. E, embora os espanhóis não
precisassem de recorrer a meios artificiais a fim de trazer dinheiro
para dentro do país, o seu governo manteve assim mesmo um
controle rigoroso sobre o comércio e a indústria. A política de
quase todas as demais nações orientava-se no sentido de
remediar a falta de colônias produtoras de ouro e prata pela
conquista de um quinhão maior no comércio de exportação. Isso
naturalmente implicava um programa de prêmios, tarifas e extensa
regulamentação da indústria e da navegação. A política
mercantilista foi resolutamente adotada na Inglaterra durante o
reinado de Elisabet e continuada pelos monarcas da casa dos
Stuarts e por Oliver Cromwell. A maioria desses governantes se
empenharam numa furiosa disputa pela aquisição de colônias,
concederam privilégios de monopólio a companhias comerciais e
procuraram, por múltiplos meios, controlar as atividades
econômicas dos cidadãos. Os exemplos mais interessantes de
legislação mercantilista na Inglaterra foram, em primeiro lugar, as
leis elisabetanas destinadas a eliminar a ociosidade e estimular a
produção, e, em segundo, as Leis de Navegação. Por uma série
de leis decretadas no fim do século XVI, Elisabet autorizou os
juizes de paz a fixar preços, regulamentar as horas de trabalho e
obrigar todo cidadão fisicamente capaz a trabalhar em alguma
atividade útil. A primeira das Leis de Navegação foi promulgada
em 1651, no governo de Cromwell. Visando anular o predomínio
holandês no comércio de transportes, determinava que todos os
produtos coloniais exportados para a metrópole fossem
embarcados em navios ingleses. Uma segunda Lei de Navegação,
aprovada em 1660, confirmava a primeira, proibindo, ademais, o
envio direto de certos "artigos enumerados" para os portos do
continente europeu - em especial do tabaco e do açúcar. Tais
produtos deviam ser enviados primeiro à Inglaterra, de onde, após
o pagamento dos direitos alfandegários, poderiam ser
reembarcados para outros portos. Ambas essas leis baseavam-se
no princípio de que as colônias deviam servir para enriquecer a
metrópole.
Durante a Revolução Comercial os estados alemães estavam por
demais ocupados com problemas internos para tomarem parte
ativa na luta pelas colônias e pelo comércio ultramarino. Em
conseqüência disso, o mercantilismo alemão interessou-se
principalmente em aumentar a força interna do estado.
Apresentava o duplo caráter de um nacionalismo econômico e de
um programa de sociedade planificada. Mas escusamos de dizer
que o planejamento se fazia com a mira principal em beneficiar o
governo e só acidentalmente se interessava pelo povo. Devido ao
seu objetivo dominante de aumentar as rendas do estado, os
mercantilistas alemães são conhecidos como "cameralistas" (de
Kammer, nome dado ao tesouro real). A maioria deles eram
advogados e professores de finanças. As idéias cameralistas
foram postas em prática pelos reis Hohenzollerns da Prússia,
notadamente por Frederico Guilherme I (1.713-40) e por Frederico
o Grande (1.740-86). A política desses monarcas assumia a forma
de um plano múltiplo de intervenção e controle na esfera
econômica, visando aumentar a riqueza tributável e fortalecer o
poder do estado. Drenaram-se pântanos, abriram-se canais,
fundaram-se novas indústrias com o auxílio do governo e os
camponeses receberam instruções sobre as culturas que deviam
plantar. A fim de que a nação se tornasse auto-suficiente no mais
breve tempo possível, foram proibidas as exportações de matérias-
primas e as importações de produtos manufaturados. O grosso das
rendas advindas dessas medidas era aplicado em objetivos
militares. O exército regular da Prússia foi aumentado, por
Frederico o Grande, para 160.000 homens.
Talvez a aplicação mais completa do mercantilismo, em todos os
seus aspectos, tenha sido a que se verificou na França sob Luís
XIV (1.643-1.715). Isso se deveu, em parte, a ser o estado francês
a encarnação perfeita do absolutismo e também, em parte, à
política de Jean-Baptiste Colbert, chefe de ministério do grand
monarque entre 1.661 e 1.683. Contrariamente a uma opinião
bastante difundida, Colbert não foi um teorizador mais sim um
político prático que ambicionava o poder pessoal e procurava por
todos os meios multiplicar as oportunidades de enriquecimento da
classe média, a que pertencia. Aceitou o mercantilismo, não como
um fim em si mesmo, mas como o meio mais conveniente de
aumentar a riqueza e o poder do estado, conquistando assim a
aprovação do seu soberano. Nem por isso, contudo, a maioria das
suas medidas políticas deixou de pautar-se inteiramente pela
doutrina mercantilista. Tinha a firme convicção de que a França
devia adquirir a maior quantidade possível de metais preciosos.
Para isso proibiu a exportação de dinheiro, impôs altas tarifas aos
produtos manufaturados estrangeiros e concedeu prêmios liberais
para estimular o desenvolvimento da navegação francesa. Foi
também, principalmente com esse fim que fomentou o
imperialismo, esperando melhorar a balança de comércio favorável
mediante a venda de produtos manufaturados às colônias.
Comprou, portanto, as ilhas de Martinica e Guadalupe nas
Antilhas, favoreceu o estabelecimento de colônias em S.
Domingos, no Canadá e na Luisiana e fundou entrepostos
comerciais na Índia e na África. Era, além disso, tão devotado ao
ideal da auto-suficiência como qualquer cameralista da Prússia.
Subsidiou novas empresas instalou certo número de indústrias do
estado e até fez com que o governo comprasse mercadorias que
não eram realmente necessárias, só para manter em pé certas
companhias. Estava, no entanto, resolvido a conservar a indústria
manufatureira sob rigoroso controle, a fim de que as companhias
comprassem da França ou de suas colônias as matérias-primas e
produzissem os artigos necessários à grandeza nacional.
Conseqüentemente, impôs à indústria uma regulamentação
minuciosa que prescrevia quase todos os detalhes do processo de
manufatura. Por fim, deve-se mencionar que Colbert tomou
algumas medidas diretas para aumentar o pode político na nação.
Proveu a França de uma armada de quase trezentos navios,
recrutando cidadãos das províncias marítimas e a criminosos para
tripulá-Ios. Procurou estimular o rápido crescimento da população
desencorajando os jovens de se tornarem monges ou freiras e
isentando de quaisquer impostos as famílias com dez ou mais
filhos.
Pelo que foi dito, parece ter ficado bastante claro que o
mercantilismo foi a expressão econômica lógica do absolutismo
político dos séculos XVI e XVII. Por isso, teve ele muito de comum
com o fascismo. Tanto os mercantilistas como os fascistas
desejavam acorrentar o sistema econômico ao carro da grandeza
nacional. Uns e outros acreditavam num rígido controle da
produção e da distribuição da riqueza, principalmente como meio
de conseguir o poderio militar. Uns e outros abraçaram o
imperialismo com o mesmo objetivo fundamental de adquirir fontes
de matérias-primas que a metrópole não podia produzir e
conseguir uma vazão para os produtos manufaturados. Embora
tanto os fascistas como os mercantilistas fizessem um fetiche da
auto-suficiência, nem uns nem outros acreditavam numa economia
completamente fechada, pois todos eles tentavam vender o
máximo possível no exterior, sem comprar, em troca, mais do que
o estritamente necessário. Mercantilistas e fascistas baseavam-se
também no princípio de que os fundos governamentaisdeviam ser
utilizados no estímulo aos negócios e ao emprego e de que era
preciso tomar medidas para encorajar um forte crescimento da
população. Havia, porém, uma importante diferença econômica
entre os dois sistemas. Os mercantilistas interpretavam a riqueza
nacional em função da quantidade de metais preciosos existente
no país. Não concebiam o uso do crédito governamental como um
meio para tirar a "riqueza" do nada, emitindo obrigações aos
bancos e depois valendo-se dessas obrigações como lastro para
novas emissões de dinheiro, que por sua vez seria pago ao povo
em troca de mercadorias e serviços, Os fascistas rejeitavam
inteiramente a teoria metalista da riqueza, negando que o ouro ou
a prata desempenhassem um papel indispensável na vida
econômica da nação. Tendiam a considerar os produtos da terra e
do trabalho humano como fontes exclusivas da riqueza nacional.
3. RESULTADOS DA REVOLUÇÃO COMERCIAL
É desnecessário dizer que a Revolução Comercial foi um dos
desenvolvimentos mais significativos da história do mundo
ocidental. Todo o quadro da vida econômica moderna teria sido
impossível sem ela que deslocou as bases do comércio do plano
local e regional da Idade Média para a escala mundial que desde
então o tem caracterizado. Exaltou, além disso, o comércio com
finalidade lucrativa, santificou a acumulação de riqueza e
estabeleceu a concorrência como base da produção e do
comércio. Numa palavra, é à Revolução Comercial que se devem
quase todos os elementos que vieram a constituir o regime
capitalista.
Esses não foram, porém, os seus únicos resultados. A Revolução
Comercial também deu surto às primeiras grandes especulação,
muito semelhantes àquelas com que se habituou, muito a
contragosto, o mundo moderno. O afluxo de metais preciosos, a
rápida alta dos preços e o encarecimento da riqueza como
finalidade da vida fomentaram um espírito de jogo nos negócios, o
qual nunca teria sido possível dentro da economia estática da
Idade Média. A rápida expansão dos negócios nos primeiros
tempos da Revolução levou os homens a pensar que se poderia
fazer fortuna do dia para a noite. Projetaram-se inúmeras
empresas para toda espécie de fins absurdos - tornar doce a água
salgada ou fabricar máquinas de moto-contínuo - e milhares de
compradores de ações morderam a isca. Um grupo de agentes
velhacos chegou até a vender ações de uma companhia cujo
objetivo era tentadoramente descrito como "um empreendimento
que seria revelado em tempo oportuno". Calculou-se que nada
menos de um milhão e meio de dólares foram invertidos nesses
projetos insensatos durante os primeiros anos do século XVIII.
O auge do frenesi especulativo foi atingido no escândalo dos
Mares do Sul e no do Mississipi, por volta de 1.720. O primeiro
resultou da inflação do capital da Companhia dos Mares do Sul, na
Inglaterra. Os incorporadores dessa companhia concordaram em
assumir a responsabilidade de cerca de cinqüenta milhões de
dólares da dívida nacional e, em troca, receberam do governo
inglês a exclusividade do comércio com a América do Sul e as
ilhas do Pacífico. As perspectivas de lucro pareciam quase
ilimitadas. As ações da companhia subiram ràpidamente de
cotação até serem vendidas por mais de dez vezes o seu valor
nominal. Quanto mais subiam, mais crédulo se mostrava o povo.
Gradualmente, porém, cresceu a suspeita de que as possibilidades
da empresa tinham sido superestimadas. As róseas esperanças
cederam o lugar ao temor e os compradores fizeram tentativas
frenéticas para desfazerem-se de suas ações por qualquer preço.
A falência foi o resultado inevitável.
Ao mesmo tempo que se alimentava a quimera dos Mares do Sul
na Inglaterra, os franceses eram arrastados por uma onda
semelhante de loucura especulativa. Em 1.715, um escocês
chamado John Law, que fora obrigado a fugir da Inglaterra por ter
matado o seu rival numa disputa amorosa, estabeleceu-se em
Paris, depois de ter sido bem sucedido em várias aventuras de
jogo em outras cidades. Persuadiu o regente da França a adotar
um plano seu de pagar a divida nacional mediante uma emissão
de papel-moeda, concedendo-lhe o privilégio de organizar a
Companhia do Mississipi para a colonização e a exploração da
Luisiana. À medida que os empréstimos governamentais eram
remidos, aqueles que recebiam o dinheiro eram levados a comprar
ações da companhia. Em breve as ações começaram a subir
vertiginosamente, alcançando afinal uma cotação de quarenta
vezes o seu valor original. Quase todos aqueles que podiam juntar
algumas moedas lançaram-se na porfia pela riqueza. Contavam-se
histórias de açougueiros e alfaiates que passavam por ter ficado
milionários comprando algumas ações para jogar na alta. Mas, à
medida que se tornava evidente que a companhia jamais poderia
pagar dividendos capazes de compensar tais preços, os inversores
mais prudentes começaram a vender as suas ações. O alarma
disseminou-se e em breve estavam todos tão ansiosos por vender
como antes tinham estado por comprar. Em 1.720 o escândalo
estourou, gerando tremendo pânico. Milhares de pessoas, que
haviam vendido as suas propriedades para comprar ações a um
preço fantástico, ficaram completamente arruinadas. O colapso
das companhias dos Mares do Sul e do Mississipi arrefeceu um
pouco a paixão pública pelo jogo. Não tardou muito, porém, que se
reavivasse a cobiça dos lucros especulativos e as orgias de
agiotagem que acompanharam a Revolução Comercial repetiram-
se muitas vezes durante os séculos XIX e XX.
Entre outros resultados da Revolução Comercial podem citar-se a
ascensão da burguesia ao poder econômico, o início da
europeização do mundo e o restabelecimento da escravidão. Cada
um deles exige breve comentário. No fim do século XVII a
burguesia se tornara a classe econômica dominante em quase
todos os países da Europa ocidental. Dela faziam parte os
comerciantes, os banqueiros, os proprietários de navios, os
principais acionistas e os empresários de indústrias. Essa subida
ao poder deveu-se principalmente ao aumento da riqueza e à
tendência de se aliarem aos reis contra os remanescentes da
aristocracia feudal. Mas o poder da burguesia, por enquanto, era
puramente econômico. Foi só no século, XIX que a supremacia
política da classe média se tornou realidade. Por europeização do
mundo deve entender-se a transplantação dos hábitos e da cultura
europeus para outros continentes. Em resultado do trabalho dos
comerciantes, missionários e colonos, as Américas do Norte e do
Sul assumiram rapidamente a feição de apêndices da Europa. Na
Ásia não houve mais do que um início de transformação, mas era
o bastante para deixar prever as tendências dos tempos
posteriores, quando até o Japão e a China adotariam as
locomotivas ocidentais e os óculos de aros de tartaruga. O
resultado mais deplorável da Revolução Comercial foi o
restabelecimento da escravidão. Como vimos no estudo da Idade
Média, por volta do ano 1.000 a escravidão havia praticamente
desaparecido da civilização européia. Mas o desenvolvimento da
mineração e das fazendas de plantação nas colônias inglesas,
espanholas e portuguesas provocou enorme procura de
trabalhadores não especializados. A principio tentou-se escravizar
os índios americanos, mas estes, em geral, se mostraram
demasiado rebeldes à sujeição. O problema foi resolvido no século
XVI pela importação de negros africanos. Durante os seguintes
duzentos anos ou mais a escravidão negra fez parte integrante do
sistema colonial europeu, mormente nas regiões fornecedoras de
produtos tropicais.
Por fim, a Revolução Comercial teve grande importância em
preparar o caminho para a Revolução Industrial. Isso se deu por
várias razões. Primeiro, a Revolução Comercial criou uma classe e
capitalistas que constantemente procuravam novas oportunidades
para empregar os seus lucros excedentes. Segundo, a política
mercantilista, com a importância que atribuía à proteção das
indústrias incipientes e à produçãode mercadorias para
exportação, deu um poderoso estímulo ao desenvolvimento das
manufaturas. Terceiro, a fundação dos impérios coloniais inundou
a Europa de novas matérias-primas e aumentou muitíssimo o
suprimento de certos produtos até então considerados como de
luxo. A maior parte deles precisava ser manufaturada antes de
passar ao consumidor. Em conseqüência, surgiram novas
indústrias completamente livres de qualquer regulamentação
corporativa que porventura ainda subsistisse. O exemplo mais
frisante foi a manufatura de tecidos de algodão, e é ainda bastante
significativo ter sido ela a primeira indústria a se mecanizar. Por
último, a Revolução Comercial caracterizou-se pela tendência de
adotar os métodos fabris em certos ramos de produção, a par de
aperfeiçoamentos técnicos tais como a invenção da roda de fiar, a
do tear de fazer meia e o descobrimento de um processo mais
eficiente para reduzir minérios. Não é difícil perceber a conexão
entre tais fatos e os progressos mecânicos da Revolução
Industrial.
4. PROGRESSOS REVOLUCIONÁRIOS NA
AGRICULTURA
Em larga medida, as transformações profundas que se operaram
na agricultura durante os séculos XVII e XVIII podem ser
consideradas como efeitos da Revolução Comercial. A alta dos
preços e o aumento da população urbana, por exemplo, fizeram
com que a agricultura se tornasse um negócio rendoso, tendendo
assim a promover a sua absorção pelo sistema capitalista. Além
disso, o desenvolvimento da indústria da lã na Inglaterra levou
muitos proprietários rurais a substituir o cultivo do solo pelo
pastoreio como fonte principal de renda. Houve, porém, outras
causas que não tinham nenhuma relação direta com a Revolução
Comercial. Uma delas foi a falta de braços, devida à Peste Negra e
à evasão dos camponeses para as cidades e vilas a fim de
aproveitarem as oportunidades de uma vida melhor, nascidas do
restabelecimento do comércio com o Oriente Próximo. Uma outra
foi o arroteamento de novas fazendas em que vigorava o sistema
do trabalho livre e da iniciativa individual. As Cruzadas e a Guerra
dos Cem Anos constituíram uma terceira causa, por terem
determinado o enfraquecimento do poder dos nobres e solapado a
estrutura da antiga sociedade. O efeito conjunto desses fatores foi
a destruição do sistema senhorial e o aparecimento de uma
agricultura erigida sobre bases de certo modo semelhantes às
modernas. A transformação foi mais completa na Inglaterra, mas
também em outros países houve progressos no mesmo sentido.
O primeiro entre os fatos marcantes da revolução agrícola foi o
abandono do antigo sistema senhorial de cultivo. Sob o regime
medieval, o solar com as terras circundantes era a parte do feudo
reservada ao proveito exclusivo do senhor. O trabalho de cultivo
dessas terras devia ser realizado pelos servos, como uma das
obrigações devidas àquele. Mas, à medida em que aumentava o
número de servos emigrantes ou dizimados pela Peste Negra,
tornava-se impossível exigir o cumprimento dessa obrigação,
assim como o de muitas outras. Os senhores recorreram então ao
expediente de arrendar as terras do solar aos camponeses,
recebendo a renda quer em produtos, quer em dinheiro. Aos
poucos, o sistema de arrendamento se estendeu às outras porções
aráveis do feudo, donde resultou converterem-se os proprietários
feudais de outrora em senhorios do tipo moderno.
Simultaneamente com esses fatos, ocorria a eliminação gradual do
sistema de "campo aberto". Este, como os leitores devem lembrar-
se, era o sistema pelo qual as terras dos camponeses se dividiam
em faixas disseminadas pelas várias partes do feudo e cultivadas
em comum. O objetivo principal parece ter sido uma divisão
eqüitativa das áreas melhores e piores de cultivo. O sistema
começou a desintegrar-se com a alta dos preços dos produtos
agrícolas no fim da Idade Média. Os camponeses mais astutos e
ambiciosos desgostavam-se cada vez mais da lavoura
cooperativa. Convencidos de que poderiam ganhar mais dinheiro
como lavradores individuais, negociavam entre si faixas de terra,
arrendavam porções do domínio do senhor feudal e, aos poucos,
iam reunindo toda a sua terra em blocos compactos. Quando por
fim se completou esse processo, conhecido como a consolidação
dos lotes, um grande passo fora dado no sentido de abolir a
agricultura senhorial.
A terceira ocorrência importante da revolução agrícola foi o
movimento das tapagens, que teve considerável repercussão na
Inglaterra. Esse movimento assumiu dois aspectos principais:
primeiro, o cercamento das terras comuns de mata e pastoreio,
abolindo desse modo os direitos comunais que os camponeses
tinham gozado, de apascentar os seus rebanhos e colher lenha
nas partes não cultivadas da propriedade senhorial; segundo, o
fato de grande número de camponeses serem desapossados dos
direitos de arrendamento ou de outros direitos de locação sobre as
terras aráveis. Ambas essas formas de tapagem representavam
sérios reveses para a população rural. Durante séculos os direitos
dos camponeses sobre a pastagem comum e as terras de mata
haviam constituído um elemento essencial do seu plano de
subsistência e era-lhes muito difícil passar sem eles. Mas, a sorte
dos que se viam inteiramente esbulhados dos seus direitos de
arrendamento ainda era bem pior. Na maioria dos casos eram
obrigados a tornar-se jornaleiros sem terras, ou então miseráveis
mendigos. A principal razão que determinou o movimento das
tapagens foi o desejo, por parte dos antigos proprietários feudais,
de converter a maior área possível dos seus domínios em terras de
pastio para carneiros, em vista do alto preço que podia conseguir
então pela lã. Geralmente começavam por cercar as terras
comunais, como propriedade sua. Amiúde seguia-se também a
isso a conversão de grande parte das lavouras de trigo em campos
de pastio, donde resultava o despejo daqueles camponeses, em
especial, cujos direitos de arrendamento não eram muito sólidos.
As tapagens começaram no século XIV e prosseguiram até além
do período da Revolução. Comercial. Ainda em 1.819 estavam
sendo aprovadas pelo parlamento britânico centenas de
ordenações autorizando o despejo de rendeiros e a tapagem de
grandes propriedades. Nos séculos XVIII e XIX o processo foi
acelerado pela ambição dos capitalistas que desejavam alçar-se à
aristocracia tornando-se gentlemen-farmers (fazendeiros por
esporte). O movimento das tapagens completou a transformação
da agricultura inglesa num empreendimento capitalista.
A fase final da revolução agrícola que acompanhou ou seguiu a
Revolução Comercial foi a introdução de novas culturas e de
melhorias no equipamento mecânico. Nenhum desses progressos
se tornou manifesto antes do começo do século XVIII. Foi mais ou
menos por essa época que Lord Townshend descobriu na
Inglaterra o valor do cultivo do trevo como meio de impedir a
exaustão do solo. Não só o trevo reduz muito menos a fertilidade
do solo do que o fazem os cereais, mas ainda melhora a qualidade
da terra pela acumulação de nitrogênio e por torná-Ia mais porosa.
A plantação desse vegetal de tempos em tempos tornava
desnecessário o antigo sistema de deixar cada ano um terço da
terra em pousio. Além disso, o trevo em si mesmo constituía uma
ótima forragem de inverno para os animais, contribuindo assim
para a criação de um gado mais numeroso e melhor. Muito poucos
melhoramentos mecânicos foram introduzidos na agricultura dessa
época, mas tiveram importância nada desprezível. Em primeiro
lugar, houve a adoção do arado de metal, que permitia abrir sulcos
mais largos e profundos do que seria possível obter com os
primitivos arados de madeira herdados da Idade Média. Durante
certo tempo os lavradores relutaram em adotar essa inovação, na
crença de que o ferro envenenaria o solo, mas a superstição
acabou por abandonada. O outro aperfeiçoamento mecânico
importante desse período foi a semeadeira para grãos. A adoção
desse invento eliminouo velho e anti-econômico método de
semear à mão, deixando a maior parte das sementes à flor da
terra, onde era comida pelas aves. Por significativos que fossem
esses melhoramentos, a verdadeira mecanização da agricultura só
se deu, no entanto, já em pleno século XIX.
5. A NOVA SOCIEDADE
Profundas modificações da estrutura social acompanham
inevitavelmente as revoluções econômicas ou intelectuais. A

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