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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL NEO E ORDOLIBERALISMO Emilene Zibetti Alberton Indrieza da Silva Curtinaz Júlia Marasca Pedro Augusto Pedroso Tejera Rafaela Bastos Oliveira História do Pensamento Econômico I Professor Fernando Frota Dillenburg NEOLIBERALISMO O que é? Baseada na revalorização do liberalismo econômico dos séculos XVIII e XIX, esta ideologia tenta recuperar o “sentido original do liberalismo”. A teoria neoliberal contemporânea é, fundamentalmente, um liberalismo econômico, que exalta o mercado, a concorrência e a liberdade de iniciativa privada, rejeitando veementemente a intervenção estatal na economia. O discurso neoliberal procurava mostrar a superioridade do mercado frente à ação estatal. Dentre essas vantagens, podem-se discriminar algumas delas: 1) A superioridade econômica, já que o livre jogo da oferta e procura (e o sistema de preços a ele ligado) permite uma alocação ótima dos recursos disponíveis; 2) A superioridade política e moral, já que a soberania do consumidor, num ambiente de concorrência, possibilita o desenvolvimento moral e intelectual dos cidadãos; 3) Diferentemente do mercado, a ação estatal, seja como produtor de bens e serviços, seja como regulador das relações entre os agentes econômicos, é danosa. A intervenção estatal poderia deformar o sistema de preços e criar monopólios, eliminando a soberania do consumidor. É importante observar a estreita relação entre o momento histórico em que este sistema de ideias começa a ganhar corpo e a luta política e ideológica que se acirra no imediato pós-2ª Guerra Mundial, com a divisão do mundo entre os blocos capitalista e socialista, bem como o desenvolvimento da realidade política bipolar da Guerra Fria. O Neoliberalismo também defronta-se com o Estado de Bem-Estar social. Os pensadores neoliberais argumentam que o igualitarismo (relativo), promovido por esse modelo, destruiria a liberdade dos cidadãos e a vitalidade da concorrência, da qual depende a prosperidade de todos. O receituário neoliberal era a manutenção de um Estado: forte na capacidade de romper com o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. Por que surgiu o Neoliberalismo? Toda e qualquer doutrina deve ser entendida como o resultado de uma oposição. Ela estrutura-se para combater algum princípio que lhe desagrada, oferecendo uma nova alternativa. O liberalismo clássico teve uma queda lenta iniciada no século XIX e terminou com uma parada brusca durante a crise mundial de 1929, com a queda da Bolsa de Valores de Nova York. A partir daí, para superar essa crise, as grandes potências mundiais passaram a adotar políticas econômicas intervencionistas. As medidas adotadas, principalmente, pelo governo dos Estados Unidos e da Alemanha foram racionalizadas e teorizadas por Keynes e ficaram conhecidas como medidas Keynesianas. Assim como o Keynesianismo foi uma oposição ao liberalismo clássico, o Neoliberalismo surgiu para se opor ao Keynesianismo. Em 1938, aconteceu um encontro, em Paris, que recebeu o nome de “Colóquio Walter Lippman”, em homenagem ao jornalista, cuja obra é considerada um marco do encerramento do pensamento liberal clássico. Nesse evento, vários intelectuais da época se reuniram para repensar o modo como o liberalismo se aplicava a um mundo diferente e distante de figuras como Adam Smith e Ricardo. Contudo, devido à longa era de prosperidade que impulsionou o mundo ocidental depois da Segunda Guerra Mundial e que se deu graças às políticas intervencionistas, os neoliberais não tiveram grande êxito. A partir da crise do petróleo de 1973, seguida pela onda inflacionária, que surpreendeu os intervencionistas, o Neoliberalismo gradativamente voltou à cena. Os defensores dessa doutrina denunciaram que a inflação seria o resultado de um Estado demagógico perdulário, chantageado constantemente pelos sindicatos e pelas associações. Além disso, responsabilizaram os impostos elevados, os tributos excessivos e a regulamentação da atividade econômica como os culpados pela queda da produção. Como surgiu? O Neoliberalismo origina-se do texto O Caminho da Servidão, de Friedrich Hayek, escrito já em 1944, o qual trata-se de um ataque apaixonado contra qualquer limitação dos mecanismos de mercado por parte do Estado, denunciados como uma ameaça letal à liberdade, tanto econômica quanto política. Em 1947, enquanto se construíam efetivamente as bases do Estado de Bem-Estar na Europa do pós-guerra, Hayek convocou aqueles que compartilhavam sua orientação ideológica para uma reunião na estação de Mont Pèlerin, na Suíça. Desse encontro, participaram adversários do Estado de Bem-Estar europeu e inimigos do New Deal norte-americano, tais como: Milton Friedman, Karl Popper, Lionel Robbins, Ludwig Von Mises, Walter Eupken, Walter Lipman, Michael Polanyi, Salvador de Madariaga, entre outros. A partir dessa reunião, se fundou a Sociedade de Mont Pèlerin, uma espécie de franco-maçonaria neoliberal, altamente dedicada e organizada, com reuniões internacionais a cada dois anos. Esta sociedade objetivava combater o Keynesianismo e o solidarismo imperantes e preparar as bases de um outro tipo de capitalismo para o futuro, duro e livre de regras. Entretanto, as condições para este trabalho não eram totalmente favoráveis, uma vez que o capitalismo avançado estava entrando numa longa fase de auge sem precedentes – sua idade de ouro –, quando apresentou o crescimento mais rápido da história, durante as décadas de 1950 e 1960. Por esta razão, não obtinham, nesse momento, credibilidade os avisos neoliberais dos perigos que a regulação do mercado por parte do Estado representavam. A polêmica contra a regulação social, no entanto, tem uma repercussão um pouco maior. Hayek e seus companheiros argumentavam que o igualitarismo promovido pelo Estado de Bem-Estar nesse período destruía a liberdade dos cidadãos e a vitalidade da concorrência, das quais dependia a prosperidade de todos. Desafiando o consenso ideológico oficial da época, eles argumentavam que a desigualdade era um valor positivo – na realidade imprescindível em si –, pois disso precisavam as sociedades ocidentais. Porém, por conta de ter surgido no auge do Estado de Bem-Estar social, esta mensagem permaneceu na teoria por mais ou menos 20 anos. A chegada da grande crise do modelo econômico do pós-guerra em 1973, quando todo o mundo capitalista avançado caiu numa longa e profunda recessão – combinando, pela primeira vez, baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação –, mudou tudo. A partir desse momento as ideias neoliberais passaram a ganhar terreno. Hayek e seus companheiros afirmavam que as raízes da crise estavam localizadas no poder dos sindicatos e, de maneira mais geral, do movimento operário, que havia corroído as bases de acumulação capitalista com suas pressões reivindicativas sobre os salários e com sua pressão para que o Estado aumentasse cada vez mais os gastos sociais. Esses dois processos destruíram os níveis necessários de lucros das empresas e desencadearam processos inflacionários que não podiam deixar de terminar numa crise generalizada das economias de mercado. A solução, então, era clara: manter um Estado forte, sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e de controlar o dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A estabilidade monetária deveria ser a meta suprema de qualquergoverno, e, para isso, seria necessária uma disciplina orçamentária com a contenção dos gastos com Bem-Estar e a restauração da taxa "natural" de desemprego, ou seja, a criação de uma de reserva de trabalho para quebrar os sindicatos. Ademais, reformas fiscais eram imprescindíveis para incentivar os agentes econômicos, atuando na redução de impostos sobre os rendimentos mais altos e sobre as rendas. Desta forma, uma nova e saudável desigualdade iria voltar a dinamizar as economias avançadas, então às voltas com uma estagflação. Esta era proveniente dos legados combinados de Keynes e de Beveridge, ou seja, da intervenção anticíclica e da redistribuição social, as quais haviam tão desastrosamente deformado o curso normal da acumulação e do livre mercado. O crescimento retornaria quando a estabilidade monetária e os incentivos essenciais houvessem sido restituídos. A hegemonia deste programa não se realizou do dia para a noite. Levou mais ou menos uma década, os anos 1970, quando a maioria dos governos da OCDE – Organização Européia para o Comércio e Desenvolvimento – tratava de aplicar remédios keynesianos às crises econômicas. Mas, ao final da década, em 1979, surgiu a oportunidade. Na Inglaterra, foi eleito o governo Thatcher, o primeiro regime de um país de capitalismo avançado publicamente empenhado em pôr em prática o programa neoliberal. Um ano depois, em 1980, Reagan chegou à presidência dos Estados Unidos. Em 1982, Khol derrotou o regime social liberal de Helmut Schimidt, na Alemanha. Em 1983, a Dinamarca, Estado modelo do Bem-Estar escandinavo, caiu sob o controle de uma coalizão clara de direita, o governo de Schluter. Em seguida, quase todos os países do norte da Europa ocidental, com exceção da Suécia e da Áustria, passaram a ser dirigidos pela direita. A partir daí, a onda de direitização desses anos tinha um fundo político para além da crise econômica do período. Em 1978, a segunda guerra fria eclodiu com a intervenção soviética no Afeganistão e a decisão norte-americana de incrementar uma nova geração de foguetes nucleares na Europa ocidental. O ideário do Neoliberalismo havia sempre incluído, como componente central, o anticomunismo mais intransigente de todas as correntes capitalistas do pós-guerra. O novo combate contra o império do mal – a servidão humana mais completa aos olhos de Hayek – inevitavelmente fortaleceu o poder de atração do Neoliberalismo político, consolidando o predomínio da nova direita na Europa e na América do Norte. Os anos 1980 viram o triunfo mais ou menos incontrastado da ideologia neoliberal na região onde o capitalismo avançou. Autores do Neoliberalismo: MILTON FRIEDMAN - Vida: Economista, estatístico e escritor norte-americano, lecionou na Universidade de Chicago por mais de três décadas. Recebeu o Nobel de Economia em 1976. Também é considerado líder da Escola de Economia de Chicago. - Obras: Capitalismo e liberdade; Liberdade de Escolher Milton Friedman é um dos principais autores neoliberais. Dentre as ideias que ele defendia, estão: uma ampla liberdade econômica com mínima participação do Estado (uma das ideias fundamentais do Neoliberalismo); democracia política; valorização da competição econômica; diminuição do tamanho do Estado; Economia de Mercado como fonte para a prosperidade do país e das pessoas; uma política fiscal baseada na redução de impostos. FRIEDRICH HAYEK - Vida: Economista e filósofo austríaco, cujas ideias são associadas também à Escola Austríaca. Naturalizou-se britânico posteriormente e lecionou na Escola de Economia de Londres. Recebeu um Nobel de Economia em 1974. Deixou contribuições nas áreas de economia, política, teoria do direito e psicologia. - Obras: o Caminho da Servidão (inaugurou o pensamento neoliberal) Sua obra foi vista muito negativamente, pois fazia uma crítica à assistência em demasia por parte do Estado e ao Keynesianismo, sendo considerado, assim, contrário ao Estado de Bem-Estar. Para Hayek, o Estado deve prover condições que possibilitem às pessoas uma mobilidade de classes e, além disso, criar uma infraestrutura a qual permita um melhor aproveitamento por parte dos empreendedores. Assim, o Estado mínimo, defendido por Hayek, se reduz a interferências restritas a momentos críticos da economia, as quais asseguram o bom funcionamento do mercado de modo a manter a ordem, elaborar leis de proteção à propriedade privada e à liberdade de expressão e realizar a manutenção dos cárceres e defesa das fronteiras. Governos com Política Econômica Neoliberal: GOVERNO THATCHER Elaborou um programa rigoroso para inverter a crise da economia britânica, mediante a redução da intervenção estatal e a implementação de um programa de privatização. Os principais postulados foram o Neoliberalismo e o monetarismo estritos. Ademais, restringiu os serviços sociais e, limitando o poder dos Conselhos de Salários, praticamente aboliu o salário mínimo. Tal plano neoliberal caracteriza-se pela contração monetária, elevação das taxas de juros, diminuição dos impostos sobre os rendimentos altos e abolição dos controles sobre os fluxos financeiros. Além disso, teve êxito em reduzir a inflação e melhorar a cotação da Libra esterlina. No entanto, o desemprego triplicou durante o seu governo, o qual também foi marcado por repressão a greves, imposição de uma nova legislação antissindical, cortes dos gastos sociais e um amplo programa de privatização. GOVERNO REAGAN Implementou políticas baseadas na filosofia laissez-faire e a política fiscal de livre mercado, bem como procurou estimular a economia através de grandes cortes de impostos. *Reaganomics (fusão de Reagan + economics): política econômica adotada por Reagan, durante a década de 1980, cujos quatro pilares eram: 1. Redução do gasto público. 2. Diminuição do imposto sobre a renda e sobre os ganhos de capital. 3. Menor regulação da economia. 4. Controle da oferta de moeda para reduzir a inflação. Reagan obteve sucesso com as alíquotas baixas e a desregulação continuada, porém os gastos de seu governo (principalmente para a corrida armamentista com a União Soviética) e os déficits subiram durante sua administração, assim como a disparidade entre ricos e pobres. NEOLIBERALISMO NO BRASIL O Brasil foi apresentado às políticas neoliberais a partir do governo Collor, entretanto, somente a partir da eleição de Fernando Henrique Cardoso e por meio do Plano Real, suas diretrizes foram impostas ao Estado brasileiro. Sua política empenhou-se no combate à inflação através da dolarização da economia e da valorização das moedas nacionais. Tal embate esteve associado a uma ênfase na necessidade de ajuste fiscal e aliou-se a uma reforma do Estado - a qual se dava por meio de privatizações e de modificações administrativas. Outrossim, constava em seu plano a desregulamentação dos mercados e a liberalização comercial e financeira. O governo FHC conseguiu controlar a inflação e promover um maciço ingresso de investimentos externos na área produtiva. Além disso, possibilitou a expansão econômica mesmo após o país ter sofrido os efeitos de várias crises internacionais. Quais as consequências da implementação do Neoliberalismo? Uma das maiores consequências do Neoliberalismo, em seu aspecto geral, é a desigualdade social. Os neoliberais argumentam que a desigualdade é um aspecto positivo, e, acima de tudo, imprescindível, pois promove a "liberdade dos cidadãos" e a "vitalidade da concorrência", nas quais se apoiam as bases da propriedade privada. Tais valores seriam, segundoesses economistas, ameaçados pelo Estado de Bem-Estar Social Keynesiano. Entre as políticas defendidas, está a redução de impostos sobre maiores rendimentos e patrimônios, ou seja, a determinação de impostos indiretos ou regressivos. Em outras palavras, são tributos cujo sacrifício para se pagar é maior a um mero proletário do que a um empresário rico. Logo, são medidas que concentram a renda em uma pequena classe, marcando a desigualdade social. Outra consequência geral é a diminuição do poder de barganha dos sindicatos os quais, segundo Hayek e os demais economistas neoliberais, ameaçam as bases de funcionamento do capitalismo com reivindicações supérfluas, limitam os níveis necessários de lucros das empresas e desencadeiam processos inflacionários que acarretam, por fim, uma crise generalizada das economias de mercado. A precarização do mercado de trabalho, com a "flexibilização" do mesmo, é uma característica do pensamento neoliberal em prática. No caso Thatcher, na Grã-Bretanha, de extrema influência neoliberal, as políticas econômicas implementadas foram: redução da emissão de moeda, elevação da taxa de juros, corte de impostos diretos e gastos sociais e eliminação de controles sobre os fluxos financeiros. Além disso, o governo lançou mão de um programa de privatizações, o qual atingiu habitações públicas e indústrias de base (aço, carvão, energia, entre outros). Resultando, assim, em uma grande quantidade de greves e em um massivo nível de desemprego, que seria, para os neoliberais, a formação de uma taxa "natural" de desemprego. Já no caso Reagan, nos Estados Unidos, além do uso de impostos indiretos em detrimento dos diretos, e da elevação da taxa de juros, o governo investiu pesadamente na corrida armamentista, - aspecto característico dos anos 1970 - o que resultou no maior déficit público de um presidente até o momento. Também observou-se grande desemprego. O Neoliberalismo tem uma grande iniciativa deflacionista e, em relação a isso, foi bem sucedido. Nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a taxa de inflação caiu, em média, de 8,8% para 5,2% entre as décadas de 1970 e 1980. Enquanto isso, a taxa média de lucro das empresas desses países aumentou em 4,7% nos anos 1980. Porém, não se pode afirmar um aumento do investimento, pois devido à grande desregulação do mercado financeiro, os montantes invertidos eram em volume mais especulativos do que produtivos. ORDOLIBERALISMO O que é? Ordo do latim significa ordem, logo o Ordoliberalismo seria uma espécie de liberalismo regido com uma ordem interna. Foi batizado assim em 1948 por um jornal acadêmico na cidade de Friburgo na Alemanha, contudo, as ideias vinham sendo defendidas desde o início dos anos 30. As primeiras publicações sobre o tema foram com o economista Walter Eucken e os juristas Franz Böhm e Hans Grossmann-Doerth sob o título Ordnung der Wirtschaft (Ordenamento da Economia). Sendo Eucken o principal defensor e formulador dessa teoria. A principal questão que o Ordoliberalismo procura abordar é qual a moldura constitucional que melhor garante a existência de uma economia livre – e, por consequência, de uma sociedade livre. Ou seja, qual o melhor governo que garante a possibilidade de todos competirem no mercado. Dessa forma, a corrente de pensamento, que se dá entre 1948 e 1960 de forma mais atuante, mostra-se liberal no seu princípio, porém faz uma crítica ao aspecto do laissez faire, laissez passer liberal econômico. Afirmando assim, que a competição e mercados livres foram formados historicamente de modo artificial com a ajuda, articulação e acumulação de poder em pequenos grupos das esferas pública e privada, distorcendo as economias de troca, por serem construídas de maneira parcial. Por conta disso, para o mercado ser viável ao longo dos anos, é necessário que o Estado imponha regras e intervenha na economia. Sintetizando, ele prega que os monopólios e as formações de cartéis existem porque houve uma influência do Estado na sua construção. E, dessa forma, o único jeito de se ter uma economia mais livre é se o próprio Estado impuser leis e regras para uma economia saudável. Como afirma Whilhelm Röpke: “Uma economia de mercado e o nosso programa econômico pressupõem o seguinte tipo de Estado: um Estado que sabe exatamente onde traçar a linha entre o que faz e o que não lhe diz respeito, o que prevalece na esfera que lhe é atribuído, com toda a força de sua autoridade, mas abstém-se de toda interferência externa de sua esfera - um árbitro energético cuja tarefa não é nem de tomar parte no jogo, nem para prescrever os seus movimentos para os jogadores, que é melhor totalmente imparcial e incorruptível e cuida para que as regras de o jogo e de desporto sejam estritamente cumpridas. Esse é o estado sem a qual uma verdadeira e real economia de mercado não pode existir.” Essa teoria argumenta que o mercado tem de ser controlado, e não totalmente livre como previsto pelo liberalismo clássico. Logo, o Estado deveria atuar de forma a garantir a possibilidade de concorrência e a estabilidade monetária. Sendo assim, o Ordoliberalismo também pode ser chamado de Economia Social de Mercado, pois combina pontos do liberalismo clássico e da economia planejada no estilo soviético, uma vez que foi criado durante o período de polarização do mundo entre os modelos soviético e capitalista. Dentre as políticas do Ordoliberalismo, estão: Uma política monetária independente; O controle de cartéis e monopólios; O abandono do protecionismo; Uma política econômica estável e previsível; Uma imposição redistributiva; A correção das reações anormais dos mercados por parte do Estado, de forma que o mesmo venha a intervir, responsabilizando-se por suavizar as flutuações conjunturais e facilitar as adaptações estruturais da economia de mercado; O Estado não deve planificar ou dirigir o processo econômico, tal como na economia soviética, nem abdicar totalmente da interação Estado-economia, como propõe o liberalismo clássico; Como surgiu? Eucken viria a ser considerado o intelectual de maior destaque do Ordoliberalismo. O nome "Economia Social de Mercado" surgiu no ano de 1947, quando Alfred Müller- Armack publicou o livro "Direção Econômica e Economia de Mercado". No entanto, quem se encarregou de pôr as ideias de Eucken em ação, foi o economista Ludwig Erhard, o qual foi eleito, em 1948, administrador econômico da zona alemã ocupada por britânicos e americanos, encarregando-se de trazer a ordem idealizada por Eucken à realidade na economia da Alemanha. Após a guerra, a Alemanha passava por uma situação difícil: muitas vidas haviam sido perdidas, inúmeras construções e pelo menos 20% do parque industrial do país encontravam-se destruídos e os alemães estavam submetidos a um rígido controle de preços e racionamentos. No auge da crise alemã, em 1948, Erhard, seguindo as ideias de Eucken, propôs um plano para restaurar a economia, que combinava uma radical reforma monetária em conjunto com uma abolição dos controles econômicos. Nesse particular momento, afligia sobre os alemães o congelamento de preços e salários, imposto inicialmente pelo governo nazista e, posteriormente, continuado pelos vencedores da guerra. Essa era uma tentativa de estancar a inflação ocasionada pelo excesso monetário, o qual evidenciou-se entre 1936 e 1947, período no qual, a quantidade de moeda na economia havia aumentado seis vezes (de cerca de 50 bilhões para cerca de 300 bilhões).O reichsmark, que vinha sendo utilizado desde 1924, era, portanto, uma moeda extremamente desvalorizada. A Alemanha vivia uma época de escassez e de transações por meio do escambo, pois poucos vendedores queriam trocar suas mercadorias, dado que os preços não refletiam seus reais valores. Em 1948, Erhard declara: “Como as coisas estão hoje, o Estado deve providenciar a economia com os princípios e linhas gerais de uma política e com objetivos desenhados para guiar e regular o seu funcionamento. A este respeito, o Estado tem e deve ter a iniciativa. Mas ir mais além e reduzir o homem de negócios independente ao estado de uma mera marioneta ou servente da vontade da autoridade seria destruir todos os valores derivados da personalidade e roubar a economia da sua mais valiosa fonte de inspiração e força. Agora, se nunca, é a altura de compreender que a economia não é oposta ao progresso social mas, pelo contrário, trata-o como uma régua. Todos os passos capazes de contribuir para uma honesta distribuição do produto nacional, e com isso do rendimento nacional, merecem a nossa consideração cuidadosa." Baseando-se na obra de Eucken, Erhard usou suas prerrogativas para pôr fim àquelas restrições; ele lançou uma nova moeda – o marco alemão. O reichsmark foi substituido pelo deutschemark na proporção de 10 para 1, para que houvesse uma redução em 90% de moeda na economia. Ocorreu também o descongelamento de preços, mas não o de salários. As consequências vieram rapidamente: o desabastecimento terminou, os mercados negros foram desmontados e as fábricas voltaram a produzir. Em apenas seis meses, a produção industrial nas zonas administradas por Erhard cresceu em 50%. Esta foi a situação relatada pelos franceses Jacques Rueff e Andre Piettre: "O mercado negro de repente desapareceu. As vitrines das lojas amanheceram cheias de bens, as chaminés das fábricas voltaram a soltar fumaça intensamente, e as ruas fervilhavam de caminhões de carga. Por todos os cantos, o barulho das construções substituiu o silêncio sombrio dos escombros. Se a recuperação foi uma surpresa grande, sua rapidez foi uma surpresa ainda maior. (...) As lojas se encheram de bens da noite para o dia; as fábricas voltaram a trabalhar a toda. Na véspera da reforma monetária, os alemães perambulavam sem rumo pelas cidades à procura de alguns itens comestíveis adicionais. Um dia depois, eles não pensavam em mais nada a não ser em produzi- los. Num dia, a apatia era nítida em suas faces; no outro, toda a nação olhava esperançosa para o futuro." Erhard defendeu, entretanto, o controle dos preços em alguns setores: o do carvão e do aço, os quais inclusive estavam sobre o controle dos Aliados; o de transportes públicos; e o de moradias. Contudo, o crescimento econômico da Alemanha teve alguns empecilhos. Johannes Semler, antecessor de Erhard no cargo, defendia uma política de descongelamento de preços gradual e de longo prazo, pois não havia matérias-primas suficientes para suprir as indústrias, o que causaria inflação por excesso de demanda. Isso se confirmou quando Erhard implantou tal medida. O que se seguiu foi a necessidade da importação de matérias-primas, causando déficit na balança de pagamentos; além disso, as empresas viram-se obrigadas a usar seus próprios lucros para manterem a produção, o que significou um problema ainda maior para as que tinham seus preços controlados. Enquanto não fosse permitido tomar empréstimos de longo prazo em bancos, os recursos do Plano Marshall foram utilizados em primeira instância, até o novo Bank Deutscher Länder (Banco dos Estados Alemães) estabilizar- se. Van Hook: "A oposição argumentou que a economia não seria capaz de suprir doze anos de demanda reprimida. No curto prazo, obviamente, a crítica estava correta. Mas no início de 1949 a produtividade da Alemanha Ocidental consegue acompanhar a oferta monetária." A conjuntura da Alemanha teve grande melhora em 1952, quando foi aprovada a iniciativa de empresários industriais para desenvolver a indústria pesada, fornecedora de matérias-primas. Eles se reúnem no denominado Comitê Conjunto da Indústria Alemã, e se comprometem a acumular a quantia de 1,2 bilhões de deutschemarks (marcos alemães), a fim de financiar investimentos para as indústrias de carvão, aço, ferro e energia. Na administração desses recursos foi utilizado um banco semiprivado. Deste momento segue-se o Milagre Econômico, ou Wirtschaftswunder, até por volta de 1960. Nesses anos, observou-se taxas de crescimento do PIB da ordem de 10,5% e média de 8% anuais. Portanto, fica evidente que o surgimento do Ordoliberalismo está ligado à retomada de crescimento econômico na Alemanha Ocidental no pós-guerra. Autores e obras: O ideal Ordoliberal foi criado por economistas e juristas alemães como Walter Eucken, Wilhelm Röpke, Alfred Müller-Armack e Alexander Rüstow juntamente com a Escola de Friburgo, entre 1930 e 1950. A Escola de Friburgo criou a noção de Neoliberalismo pretendendo ligar a concepção de política econômica do Ordoliberalismo e da Economia de Mercado Social. Walter Eucken: Nasceu em 1892, em Iena, filho do Filósofo e Prêmio Nobel Rudolf Eucken. Formado em Economia, foi professor na Escola de Friburgo de 1927 até 1950. Preocupou-se em retomar o trabalho teórico na economia e a estruturação da ordem econômica, tarefas por ele consideradas essenciais para resolver o problema da liberdade individual numa economia industrializada. Suas obras “Bases da Economia Nacional” (1940) e “Fundamentos da Economia Política” (1952) foram consideradas, não só obras de teoria econômica, como também uma manifestação da oposição liberal ao Estado nacional-socialista na Alemanha. A teoria das ordens econômicas, desenvolvidas no primeiro livro, trata de saber como se pode criar, de maneira sistemática, quadros institucionais de uma economia de mercado com níveis moderados de poder econômico, onde exista a maior liberdade possível para todos e, ao mesmo tempo, uma direção racional da economia. Em contraste com a economia neoclássica, que encara a economia como um universo fechado, Eucken analisa as relações de dependência mútua entre ordem econômica, ordem jurídica e sistema político. Para ele, a ordem econômica só pode ser entendida enquanto componente da ordem social global. Eucken critica tanto o marxismo, quanto a economia liberal a qual, segundo ele, não saiu “vitoriosa”, pois enfrenta uma crise essencial, ocasionada pela pobreza a nível mundial e pela destruição das bases ecológicas da vida na Terra. Contudo, o fracasso da economia liberal perante a realidade não radica os fundamentos da mesma. Procura-se então, novos pontos de partida, tais como a teoria das ordens econômicas. Wilhelm Röpke: Nascido em 1899 e falecido em 1966, foi um dos intelectuais da economia de mercado alemã. Orgulhava-se de ser internacionalmente conhecido como um “grande economista austríaco” na tradição de Ludwig von Mises. Defendia uma ordem econômica regulada por mercados e preços livres. Essa, para ele, era a única ordem econômica compatível com a liberdade humana. Foi analista de crises econômicas e político visionário. Além de ser perito em comércio, criou uma teoria dos ciclos na tradição das teorias monetárias e de capital de Mises, Böhm-Bawerk e Hayek. Röpke lutou contra o nacional-socialismo e contra qualquer tipo de coletivismo. Devido à sua oposição determinada aos nazistas, teve de abandonar a Alemanha em 1933. Adepto do livre comércio, Röpke estava convencido de que a liberdade, a paz e a riqueza se sustentammelhor através da competição em mercados abertos, da lei, da propriedade privada e da estabilidade financeira, ou seja, em um sistema social de liberdade e autorresponsabilidade, tal como o da Suíça. Alfred Müller-Armack: Nasceu em 1901 e faleceu em 1978. Foi economista, sociólogo, político e professor na Universidade de Münster e na Universidade de Colônia. Além de co-fundador é autor do conceito da Economia Social de Mercado. Depois de 1952, trabalhou como ministro da economia no governo de Ludwig Erhard. Defendia que a economia devia servir à humanidade, ademais, definiu a Economia Social de Mercado como uma combinação entre a liberdade no mercado e a igualdade social. Buscava um equilíbrio social e econômico preservando os princípios que regem a sociedade com base no bom senso, justiça, liberdade e igualdade. Alexander Rüstow: Nascido em 1885 e falecido em 1963, foi sociólogo e economista alemão. Outrossim, criou o termo “Neoliberalismo” e foi considerado um dos pais da Economia Social de Mercado. Também forneceu obras fundamentais para o estabelecimento do Ordoliberalismo. Governos que utilizaram/utilizam: O Ordoliberalismo fora concebido na Alemanha no contexto pré-Segunda Guerra Mundial, mais precisamente em 1938. As ideias foram postas em prática nesse mesmo país no período pós-guerra, quando a economia estava devastada e não apresentava estimativa de melhora através do sistema vigente. O objetivo do Ordoliberalismo é estruturar o Estado, o qual está em uma situação instável, de modo que auxilie a economia a prosperar livremente. No caso da Alemanha, isso deveria ser feito cuidadosamente, pois os países Aliados pretendiam enfraquecer a instituição governamental, que no anterior governo hitlerista era marcada por uma forte unidade - dividindo-a em República Federal da Alemanha e República Democrática da Alemanha. O Ordoliberalismo é um termo praticamente atrelado à variação alemã do neoliberalismo, porém as premissas da sua Economia Social de Mercado são encontradas em diversos países. A noção de um Estado que atua sobre as falhas de mercado, mantendo um estado de Bem-Estar social é amplamente aceita nos países da Europa continental - como a Áustria, a Suíça, entre outros. O Ordoliberalismo ainda influencia os governos alemães atuais. Ganhando força especialmente a partir de 2010, quando despontou a crise na Zona do Euro. Em 23 de fevereiro de 2011, a chanceler alemã Angela Merkel declarou: “Infelizmente não existem Euckens em todos os países do mundo”. E ainda: “A principal tarefa do estado é criar uma moldura legal para garantir a competição livre, em benefício de todos os cidadãos.” Na ocasião, Merkel defende o pacote de austeridade, indicando que as políticas ordoliberais seriam a melhor alternativa para a prevenção contra o estado atual dos países em crise, entre eles a Grécia, a Espanha e Portugal. “Um euro estável não depende apenas de níveis de endividamento, mas de níveis de competitividade (...). Não podemos reduzir a voltagem da crise ao preço de nos tornarmos todos medíocres.” REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1419 http://www.historialivre.com/revistahistoriador/cinco/8caroline.pdf http://veja.abril.com.br/economia/o-segredo-da-alemanha-sao-os-ordoliberais/ https://f5dahistoria.wordpress.com/2010/12/01/o-Neoliberalismo-o-que-e-e-qual-foi- sua-influencia-no-mundo-contemporaneo/ https://rachacuca.com.br/educacao/historia/Neoliberalismo/ http://www.portalmodulo.com.br/userfiles/BALAN%C3%87O%20DO%20NEOLIBE RALISMO.pdf http://www.angelfire.com/planet/anpuhes/ensaio11.htm http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/124324/000830047.pdf?sequence=1 &isAllowed=y https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Erhard http://verbiariovolatil.blogspot.com.br/2012/11/ordoliberalismo-politica-economica- sem.html ANDERSON, Perry. Balanço do Neoliberalismo. In: SADER, Emir & GENTILI, Pablo (orgs.) Pós-Neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. 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