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Texto 04 Filosofia (1)

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CAFÉFIL 2017 
Pensando bem, vivendo melhor 
LÓGOS (palavra, discurso, fala, conhecimento) da Filosofia
Para fomentar as nossas investigações sobre o conhecimento filosófico faremos indicações de extratos de dois textos. O primeiro de Walter O. Khoan e Alejandro A. Cerletti�, o segundo é do professor Demerval Saviani.�
A Pergunta Sobre Si Mesma (Walter O. Khoan e Alejandro A. Cerletti)
O caráter profundamente controverso da filosofia vê-se corroborado pela histórica dificuldade em conseguir consenso na comunidade filosófica sobre uma definição ou conceito de filosofia. De fato, um problema clássico da filosofia surge assim que se tenta determinar "o que é filosofia". 
Assim, a polêmica e a controvérsia geradas entre os filósofos sobre o que é filosofia assinalam algo sobre a sua natureza: seu caráter questionador e questionável, controverso e impossível de ser fixado. Por isso, apesar da impossibilidade de ser respondida, esta interrogação não foi abandonada, e cada filosofia implica uma nova tentativa em, mais uma vez, perguntar e responder. 
Fazemos, às vezes, a mesma pergunta, mas de um modo sempre diferente. Neste sentido, o caráter questionador, polêmico e problemático desta pergunta ensina e assinala o caminho da filosofia, um caminho que está mais ligado ao questionamento que à certeza, ao debate que à aceitação, à controvérsia que à unanimidade. Um caminho que assinala um convite para pensar.
(…) a filosofia exige que tudo o que sua própria racionalidade não compreende seja questionado. A pretensão filosófica de não saber nada não passa de um convite a pensar, pensar "em conjunto, pensar uns com os outros. Um "treino filosófico" leva a seguinte inscrição: "Vem, pensa comigo, encontremos juntos a verdade". Heller, Agnes. A Radical Philosophy. Oxford: Basil Blackwell, 1984 (1978), pp. 9-10.
A filosofia — no singular — não existe. Esta palavra significa apenas amor ao saber. Expressa uma atitude, um desejo, um estado de ânimo: o desejo de levar nosso conhecimento até seus últimos limites. Não é, pois, um saber concreto e transmissível, mas uma atitude espiritual: em algumas ocasiões ela pode ser sugerida e mesmo encaminhada, quando preexiste uma disposição espontânea. Adquire-se, assim, o hábito de dar ao pensamento uma determinada direção, de vincular o caso particular a conceitos gerais, de ver no fato mais comum um problema, de empenhar o esforço da mente num debate com o desconhecido, de superar o limite individual, este afã de saber, é o melhor proveito dos estudos filosóficos. 
A tarefa crítica 
A palavra crítica deriva do grego krino, que significa julgar e cujo significado etimológico vem da atividade dos agricultores, ao separar os grãos dos resíduos, apartando, entre outras coisas, a palha do trigo, o alimento do desperdício. A tarefa da filosofia está tradicionalmente ligada a este sentido etimológico da palavra “crítica”. 
Não se deve entender "crítica" num sentido negativo; trata-se, ao contrário, do esforço para revisar e avaliar os valores predominantes, para distinguir e examinar os pressupostos dos fundamentos das afirmações ou o estado das coisas. Também podemos entendê-la a um sentido kantiano quando a crítica se torna reconhecimento de limites e limitações, e assinala as condições de saberes e práticas.
O filósofo precisa de coragem para desenvolver sua tarefa crítica. Seu questionamento tolera o risco de alterar a aprazível estabilidade das crenças predominantes num campo filosófico, numa cultura ou numa sociedade. A crítica, quando se torna profunda e radical, incomoda e provoca, já que, diante da ordem, é subversiva. Por isso, a crítica pressupõe coragem e persistência diante do risco. O caso de Sócrates é, mais uma vez, paradigmático. Ao questionar as bases das crenças e práticas estabelecidas, o crítico as enfraquece, mostra seu caráter contingente e eventual. Torna-se, assim, perigo para a ordem dominante. Gera, então, uma reação que sempre implica um risco no qual a própria existência, real ou simbólica, pode estar no jogo.
O requisito fundamental da atitude crítica é a coragem; seu maior inimigo é a covardia, mesmo quando adquire a forma moderada da preguiça intelectual. O caminho mais fácil é sempre aceitar o que é conhecido. Não apenas economiza esforço, como também coloca responsabilidade em outrem. DEWEY, John. "Construction and Criticism". Carbondale: Southern Illinois University Press. 1985 (1929). Vol. 5, p. 134.
A abertura intelectual é a contrapartida do dogmatismo. A filosofia tem um caráter múltiplo e não-dogmático. Deve garantir a liberdade de revisar e questionar cada resposta e de sempre levar em conta diferentes pontos de vista, com o objetivo de otimizar as análises.
A desconfiança é um atributo substantivo do filosofo crítico, tanto diante das ideias e crenças, como diante de ações e práticas em geral. A desconfiança dos filósofos é tão velha quanto o interrogar socrático, que desconfia do pseudo-saber dos políticos, poetas e artesãos. O filósofo deve desconfiar de todas as crenças e opiniões desenvolvidas, mesmo das próprias, da normalidade dos saberes e das práticas sociais hegemônicas; neste sentido, estende a suspeita ao habitual e ao obvio. Esta atitude o encaminha numa permanente tarefa de busca e explicitação de hipóteses, de exigência de fundamentação e de rigor conceitual.
Nietzsche determinou a tarefa da filosofia quando escreveu: "Os filósofos não devem contentar-se em aceitar os conceitos que lhe são dados, limitando-se a limpá-lo e lustrá-los, mas devem começar a fabricá-los, criá-los, demonstrá-los e convencer os homens de recorrer a eles. Até agora, de forma resumida, cada um confia em seus conceitos como um dom milagroso procedente de algum mundo também milagroso", mas é preciso substituir a confiança pela desconfiança, e do que o filósofo mais deve desconfiar é dos conceitos, enquanto ele mesmo não o tiver criado. DELEUZE. Gilles, Guattaki, Félix. ? Qué es la Filosofía? Madri: Anagrama, 1993 (1991), p. 11)
Recursos metodológicos
A filosofia é uma tarefa racional. Com isso queremos dizer, simplesmente, que mantém sua forma de agir confiando em procedimentos racionais. O primeiro recurso crítico da filosofia é o questionamento. Tem uma importância fundamental: a pergunta é para a filosofia como a bússola para a navegação, ou o cinzel para a escultura, mas também como a maçã para a demolição. Há uma arte de perguntar, e a filosofia se vale de um tipo especial de perguntas. Como os diálogos socráticos, a filosofia é um processo que começa por gerar uma pergunta e se desenvolve numa tentativa de respondê-la, que supõe tornar a perguntá-la, reelaborá-la e gerar novas perguntas. A filosofia não só discute respostas, questiona também as perguntas.
O gênio de um filósofo não reside em dar uma nova resposta para uma velha pergunta, mas em transformar todas as perguntas. Dá ao gênero humano um ar diferente para respirar. RYLE, Gilbert. Hume. Collected Papers. Nova York: Barnes & Noble, 1971 (1956). Vol. 1. P. 160.
Pôr em discussão, questionar, é um recurso cognitivo que o filósofo transforma em instrumento metódico e sistemático. B. Russell refere-se a esta relação da filosofia ao perguntar da seguinte maneira:
A filosofia, se não pode responder a tantas perguntas como gostaríamos, tem pelo menos o poder de fazer perguntas que aumentam o interesse do mundo, e mostra a admiração e o espanto que se escondem mesmo sob a superfície das coisas mais comuns da vida diária. A filosofia deve ser estudada, não para obter respostas definitivas as suas perguntas, porque há uma regra que nenhuma resposta definitiva pode ser comprovada como verdadeira, mas devido a suas próprias perguntas (…) RUSSEL, Bertrand. The problems of philosophy. Oxford: Oxford University Press, 1959(1912), pp. 16 e 161.
A filosofia utiliza, também, o diálogo como recurso. Fazer da filosofia uma prática dialógica é, por um lado, reconhecer o caráter social e dialógico do pensamento e da pessoa; poroutro, servir-se do diálogo para expressar uma multiplicidade de pontos de vista que alimentam o pensar filosófico, para manifestar o caráter problemático e questionador, para oferecer posições que, no confronto, se alimentam mutuamente, para caracterizar-se mais como processo que como produto, finalmente, para mostrar, através do habitual final aberto que o diálogo apresenta, seu caráter inacabado e inconcluso.
Os filósofos dialogam entre si e com o mundo. Quando a filosofia se transforma em diálogo abstrato e exclusivamente técnico, ela se descompromete, se torna surda e cega diante da realidade que lhe deu origem.
A filosofia recupera-se a si mesma quando deixa de ser um dispositivo para tratar dos problemas dos filósofos e se torna um método, cultivado pelos filósofos, para tratar dos problemas dos seres humanos. DEWEY. John. "The Need for a Recorvery of Philosophy". Cambridge: Hackett, 1993 (1917), p. 9.
Porém, a filosofia pressupõe também pôr em prática uma série de aptidões do pensamento. Partilha essas aptidões com outras disciplinas, mas, ao contrário delas, não só aborda temas próprios, mas também, transforma suas aptidões de pensamento em objetos de sua reflexão. Neste sentido, a filosofia é pensar crítico aplicado também ao próprio pensar.
Noção de Reflexão – (Demerval Saviani)
E o que significa reflexão? A palavra nos vem do verbo latino “Yeflectere" que significa "voltar atrás". É, pois, um re-pensar, ou seja, um pensamento em segundo grau. Poderíamos, pois, dizer: se toda reflexão é pensamento, nem todo pensamento é reflexão. Esta é um pensamento consciente de si mesmo, capaz de se avaliar, de verificar o grau de adequação que mantém com os dados objetivos, de medir-se com o real. Pode aplicar-se às impressões e opiniões, aos conhecimentos científicos e técnicos, interrogando-se sobre o seu significado. Refletir é o ato de retomar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, vasculhar numa busca constante de significado. E examinar detidamente, prestar atenção, analisar com cuidado. E é isto o filosofar.
Até aqui a atitude filosófica parece bastante simples, pois uma vez que ela é uma reflexão sobre os problemas e uma vez que todos e cada homem tem problemas inevitavelmente, segue-se que cada homem é naturalmente levado a refletir, portanto, a filosofar. Aqui, porém, a coisa começa a se complicar.
As Exigências da Reflexão Filosófica
Com efeito, se a filosofia é realmente uma reflexão sobre os problemas que a realidade apresenta, entretanto ela não é qualquer tipo de reflexão. Para que uma reflexão possa ser adjetivada de filosófica é preciso que se satisfaça uma série de exigências que vou resumir em apenas três requisitos: a radicalidade, o rigor e a globalidade. Quero dizer, em suma, que a reflexão filosófica, para ser tal, deve ser radical, rigorosa e de conjunto.
Radical: Em primeiro lugar, exige-se que o problema seja colocado em termos radicais, entendida a palavra radical no seu sentido mais próprio e imediato. Quer dizer, é preciso que se vá até as raízes da questão, até seus fundamentos. Em outras palavras, exige-se que se opere uma reflexão em profundidade.
Rigorosa: Em segundo lugar e como que para garantir à primeira exigência, deve-se proceder com rigor, ou seja, sistematicamente, segundo métodos determinados, colocando-se em questão as conclusões da sabedoria popular e as generalizações apressadas que a ciência pode ensejar.
De conjunto: Em terceiro lugar, o problema não pode ser examinado de modo parcial, mas numa perspectiva de conjunto, relacionando-se o aspecto em questão com os demais aspectos do contexto em que está inserido. É neste ponto que a filosofia se distingue da Ciência de um modo mais marcante. Com efeito, ao contrário da Ciência, a filosofia não tem objeto determinado; ela dirige-se a qualquer aspecto da realidade, desde que seja problemático; seu campo de ação é o problema, esteja onde estiver. Melhor dizendo, seu campo de ação é o problema enquanto não se sabe ainda onde ele está; por isso se diz que a filosofia é busca. E é nesse sentido também que se pode dizer que a filosofia abre caminho para a Ciência; através da reflexão, ela localiza o problema tornando possível a sua delimitação na área de tal ou qual Ciência que pode então analisa-lo e, quiçá, solucioná-lo. Além disso, enquanto a ciência isola o seu aspecto do contexto e o analisa separadamente, a filosofia, embora dirigindo-se ás vezes apenas a uma parcela da realidade, insere-a no contexto e a examina em função do conjunto.
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� CERLETTI, Alejandro A. e KOHAN, Walter O. A filosofia no ensino Médio. Brasília: editora Universidade de Brasília. 1999. In: O que é filosofia? p. 71-94
� SAVIANI. Dermeval. Educação: Do Senso Comum à Consciência Filosófica. São Paulo: Autores Associados. 1996. In: A Filosofia na Formação do Educador. p. 08-24
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