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BEM ESTAR ANIMAL NED-ASE CENTRO UNIVERSITÁRIO DE GOIÁS UNI-ANHANGUERA REFLEXÃO "A compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de carácter e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem." Arthur Schopenhauer "A compaixão para com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana." Charles Darwin O que é ETOLOGIA? Segundo Darwin (1850, apud Bowlby, 1982), cada espécie é dotada de seu próprio repertório peculiar de padrões de comportamento, da mesma forma que é dotada de suas próprias peculiaridades anatômicas. Os etólogos estudam esses padrões de comportamento específicos das espécies, fazendo-o preferencialmente no ambiente natural, uma vez que acreditam que detalhes importantes do comportamento só podem ser observados durante o contato estreito e continuado com espécies particulares que se encontram livres no seu ambiente. Para Odum, 1988, o estudo da conduta ou etologia, tornou-se uma importante ciência interdisciplinar que procura interligar a fisiologia, a ecologia e a psicologia. Esta ciência está ligada aos nomes de Konrad Lorenz e Niko Tinbergen, sob influência da Teoria da Evolução, tendo como uma de suas preocupações básicas a evolução do comportamento através do processo de seleção natural. Texto 1 A Etologia utiliza modelos e conceitos teóricos para a interpretação dos fenômenos que caracterizam seu objeto enquanto disciplina científica. Segundo Odum, 1988 (o.c.) o comportamento é um importante componente da compensação dos fatores (limitantes e reguladores) ambientais e do desenvolvimento ecotípico. Os organismos regulam os respectivos ambientes internos e microambientes externos por meios fisiológicos e de conduta. Essa adaptação caracteriza o nicho ecológico de cada espécie, que corresponde não só ao lugar onde vive (habitat) mas também aquilo que faz (como transforma a energia, se comporta, responde ao seu ambiente físico e biótico e o modifica) e da forma como é constrangido por outras espécies. O trabalho dos etólogos Os etólogos caracterizam-se por uma posição metodológica que gira em torno das quatro questões de Nikolaas Tinbergen (1907-1988). Este, em 1963, propôs que em primeiro lugar deve-se observar e descrever o comportamento, caracterizando o repertório comportamental ou etograma; posteriormente, uma análise completa do comportamento deve ser feita com bases nas análises causal, ontogenética, filogenética e funcional. A análise causal é feita através do estabelecimento de uma relação entre um determinado comportamento com uma condição antecedente, sendo estudados os estímulos externos responsáveis pelo comportamento e os mecanismos motivacionais internos; A análise ontogenética envolve uma relação do comportamento com o tempo, estando o interesse voltado para o processo de diferenciação e de integração dos padrões comportamentais no curso do desenvolvimento de um indivíduo jovem; A análise filogenética, por sua vez, estuda a história do comportamento no curso da evolução da espécie; Por último, a análise funcional estabelece uma relação entre um determinado comportamento e mudanças que ocorrem no ambiente circundante ou dentro do próprio indivíduo. Fonte:http://biologo.com.br/bio/comportamento-animal/ Texto 2 Aprendendo Quem é a Sua Mãe O Comportamento do Imprinting Silvia Helena Cardoso, PhD e Renato M.E. Sabbatini, PhD "A verdade em ciência pode ser definida como a hipótese de trabalho melhor adequada para abrir caminho para uma próxima que seja melhor" Konrad Lorens O comportamento animal se desenvolve como resultado da interação de influências genéticas e ambientais. Alguns comportamentos tem determinantes mais genéticos (inatos) do que comportamentais; em outros o oposto é verdadeiro. Inato é uma palavra em latim que significa "nascer com". Por um lado, existem os chamados comportamentos instintivos, os quais são geneticamente programados e geralmente são muito pouco influenciados pela experiência ou aprendizagem. Eles são parte de uma constelação de habilidades que são essenciais para a vida e sobrevivência. O comportamento de chupar o mamilo da mãe nos bebês é um dos vários comportamentos instintivos com os quais nós nascemos. Por outro lado, nós temos comportamentos que são quase inteiramente dependentes da aprendizagem, tais como amarrar o cordão dos sapatos. Existe, entretanto, toda uma gama de diferentes misturas de comportamentos inatos e aprendidos. Por exemplo, muitos padrões comportamentais aprendidos são dependentes de mecanismos inatos. Um gatinho é dotado de mecanismos cerebrais para caçar ratos, mas ele deve aprender a usá-los com a gata mãe. O mesmo acontece com alguns cantos de pássaros: eles precisam ouvir seus colegas adultos cantar, caso contrário seus padrões canoros (aqueles relacionados ao canto) se tornarão adulterados e irreconhecíveis para outros membros da espécie. Um exemplo impressionante e muito curioso de influências genéticas e ambientais em comportamento animal é o chamado Imprinting ("estampagem", em português, mas geralmente é um termo não traduzido). Inicialmente, o fenômeno foi chamado de "stamping in". A razão para o nome é porque Lorenz achou que o objeto sensorial encontrado pela ave é estampado (ou carimbado), imediatamente e irreversivelmente no sistema nervoso. Este é um fenômeno exibido por vários animais jovens principalmente pássaros, tais comos patinhos e pintinhos. Quando saem dos seus ovos, eles seguirão o primeiro objeto em movimento que eles encontrarem no ambiente (o qual pode ser a sua mãe pata ou galinha, mas não necessariamente). Ocorre então uma ligação social entre o filhote e este objeto ou organismo. Os primeiros estudos científicos deste fenômeno foram realizados pelo austríaco naturalista Konrad Lorenz (1903 - 1989), um dos fundadores da etologia (o estudo do comportamento animal). Ele descobriu que, se gansos cinzentos fossem criados por ele desde filhotinhos, eles o seguiriam como se fosse sua mãe. Os gansinhos seguiam Lorenz até mesmo depois de se tornaram adultos e manifestavam uma maior preferência por ele do que por outros gansos! Patinhos submetidos ao imprintnig através de objetos inanimados (um balão branco). Em outros experimentos, Lorenz demonstrou que patinhos poderiam receber o imprinting não somente de seres humanos, mas também de objetos inanimados, tais como um balão. Ele descobriu também que existe uma "janela" muito restrita de tempo após o nascimento dos filhotinhos para que o imprinting se realizasse efetivamente. Por este e outros trabalhos, Lorenz ganhou o Prêmio Nobel para Medicina e Fisiologia em 1973. O trabalho de Lorenz forneceu uma evidência muito importante de que existem periodos críticos na vida onde um tipo definido de estimulo é necessário para o desenvolvimento normal. Como é necessária a exposição repetitivaa a um estimulo ambiental (provocando uma associação com ele), podemos dizerr que o imprinting é um tipo de aprendizagem, ainda que contendo um elemento inato muito forte. Induzindo o imprinting Algumas das características do imprinting poderiam ser explicadas pela tendência que o filhote de pássaro tem para procurar e responder seletivamente a padrões de estimulos particulares, tais como o aspecto característico de uma ave adulta. Antes do imprinting se instalar, o cérebro da ave jovem tem a capacidade de reconhecer os tipos de estimulos os quais serão subseqüentemente aprendidos por associação, e este é um dos componentes inatos. O cérebro também comanda um número de ações motoras em cadeia que facilitam o processo de aprendizagem e mantém a proximidade ao objeto de sua ligação. Este é um outro componente inato ou espécie - especifico. A aprendizagem, entretanto, só pode ocorrer com base em estruturas neurais determinadasgeneticamente e emum período biológicamente crítico no ciclo da vida do patinho. Sem dúvida, o imprinting apareceu como resultado da seleção natural, pois tem a importante função de permitir o reconhecimento dos pais do filhote, com a finalidade de favorecer a ligação social e de reprodução sexual com membros de sua própria espécie e não de outras. Suas caracteristícas instintivas são claras, pelo fato de que uma vez que o imprinting é instalado, ele permanece por toda a vida, mesmo se for totalmente anti-natural. A pesquisadora imita a pata mãe fazendo quack, quack, quack em frente de um grupo de patinhos logo após eles terem nascido. Eles aprendem rapidamente a identificar a sua mãe com bases em estimulos visuais, olfatórios e auditivos. Clique aqui para ver os patinhos ampliados Então, os patinhos percebem a pesquisadora como sua mãe (sua protetora) e a seguem. A importância do imprinting na natureza No ambiente natural, o imprinting comportamental atua como um instinto para a sobrevivência em recém nascidos. O filhote deve imediatamente reconhecer seus pais, por causa da probabilidade de ocorrerem eventos ameaçadores pouco depois do nascimento, tais como o ataque por um predador ou por outros adultos que poderiam ocorrer. Dessa forma, o imprinting é muito confiável para induzir a formação de uma forte ligação social entre o filhote e a mãe, mesmo que seja a mãe errada. Esta é a única de muitas formas de imprinting que tem sido estudada, e é chamada de imprinting filial. Outra forma é o imprinting sexual, no qual as aves aprendem as caracteristícas de seus irmãos de ninhada, as quais posteriormente irão influênciar suas preferências sexuais como adultos. Em gansos cinzentos, o imprinting filial e sexual ocorrem quase simultaneamente, mas em outros animais existe um claro intervalo entre os dois processos. Imprinting em mamíferos é um processo mais raro. Primatas são animais altriciais, ou seja, eles nascem em um estado "incompleto", com o cérebro ainda imaturo, e que levará muitos meses para se tornar completamente operacional, alerta e ativo com todos seus sentidos e ações. Assim, a mãe é a suprema protetora. A ligação mãe- filho acontece por outros processos que não o imprinting. Não existe pressa, por assim dizer. Padrões fixos de ação e imprinting Outros pioneiros da etologia, tais como Niko Tinbergen (que ganhou o Prêmio Nobel no mesmo ano que Lorenz), estudou outro importante fenômeno no comportamento animal, que ele denominou de Padrão Fixo de Ação, ou PFA. Esta é uma sequência comportamental de atos motores mais elementares, os quais formam um padrão com uma função clara na vida do animal. O Padrão de Ação Fixa de recuperação do ovo Por exemplo, quando um ovo rola para fora do ninho, a pata mãe o recupera através de uma elaboradasequência de movimentos de sua cabeça e bico. A prova de que é um padrão fixo é que, se o ovo escapa do bico, a pata continua a executar o movimento estereotipadamente até que ele alcance o ninho; somente então começará tudo novamente. Assim, ao descobrir o imprinting, Lorenz na verdade demostrou como a experiência pode direcionar um padrão fixo de ação. Ele acreditava Esta é a única de muitas formas de imprinting que tem sido estudada, e é chamada de imprinting filial. Outra forma é o imprinting sexual, no qual as aves aprendem as caracteristícas de seus irmãos de ninhada, as quais posteriormente irão influênciar suas preferências sexuais como adultos. Em gansos cinzentos, o imprinting filial e sexual ocorrem quase simultaneamente, mas em outros animais existe um claro intervalo entre os dois processos. Imprinting em mamíferos é um processo mais raro. Primatas são animais altriciais, ou seja, eles nascem em um estado "incompleto", com o cérebro ainda imaturo, e que levará muitos meses para se tornar completamente operacional, alerta e ativo com todos seus sentidos e ações. Assim, a mãe é a suprema protetora. A ligação mãe- filho acontece por outros processos que não o imprinting. Não existe pressa, por assim dizer. Padrões fixos de ação e imprinting Outros pioneiros da etologia, tais como Niko Tinbergen (que ganhou o Prêmio Nobel no mesmo ano que Lorenz), estudou outro importante fenômeno no comportamento animal, que ele denominou de Padrão Fixo de Ação, ou PFA. Esta é uma sequência comportamental de atos motores mais elementares, os quais formam um padrão com uma função clara na vida do animal. O Padrão de Ação Fixa de recuperação do ovo Por exemplo, quando um ovo rola para fora do ninho, a pata mãe o recupera através de uma elaboradasequência de movimentos de sua cabeça e bico. A prova de que é um padrão fixo é que, se o ovo escapa do bico, a pata continua a executar o movimento estereotipadamente até que ele alcance o ninho; somente então começará tudo novamente. Assim, ao descobrir o imprinting, Lorenz na verdade demostrou como a experiência pode direcionar um padrão fixo de ação. Ele acreditava que o imprinting é o resultado da interação entre instinto e aprendizagem. Na sua época havia um debate caloroso entre os etólogos sobre a importância dos dois fatores no comportamento animal. Este debate foi chamado de "Nature x Nurture" (Natureza x Criação). Lorenz forneceu evidências de que este na verdade, era um dilema falso: em quase todos os comportamentos animais existe uma mistura de ambos. Entretanto, Lorenz achava que o imprinting diferia da aprendizagem associativa de várias formas. Primeiro, porque existe um período crítico restrito, ou tempo fixo, para ele acontecer. Com poucas exceções isto não vale para aprendizagem associativa. Segundo, porque o imprinting parece ser irreversível, e novamente, a aprendizagem associativa é altamente volátil, geralmente desaparecendo com o tempo (o processo de "esquecimento"). Terceiro, porque Lorenz propôs que o imprinting não é um processo individual de memória, o qual é restrito somente ao animal que experimenta a aprendizagem, mas que seria um tipo de condicionamento supra-individual, ou seja, "além e acima do indivíduo", ou de um grupo de organismos. Em outras palavras ele é espécie-especifíco, e não um processo geral tal como a aprendizagem associativa. O imprinting hoje Estudos recentes tem mostrado que a visão tradicional do imprinting proposta por Lorenz e seus seguidores pode ser incompleta ou mesmo incorreta. Lorenz estudou os animais principalmente em seus ambientes naturais, uma vez que esta é uma das principais premissas da etologia, entretanto, pesquisadores modernos o imprinting em um contexto de laboratório mais controlado rigorosamente. O objetivo desta abordagem é estudar o papel de formas especiais de aprendizagem, tais como reconhecimento visual de memória que opera no impringting. No laboratório, as situações de criação e testes para todos os sujeitos são mais facilmente estruturadas e controladas, tais como o ambiente onde os ovos são colocados antes que o nascimento aconteça. Por exemplo, a temperatura e iluminação são constantes, as paredes e assoalhos de todos os aparatos são pretas, nenhum alimento ou água é disponível durante o experimento, e o manuseio dos animais é mínimo. Essas investigações tem mostrado que o imprinting não é nem rápido e nem irreversível, e também não é restrito a um período crítico, como foi proclamado por Lorenz e seus seguidores. Foi também descoberto que o imprinting ocorre em outras espécies, e que os componentes do aprendizado são mais importantes do que aqueles previamente pensados (Hoffman, 1996). Existe evidência de que este processo acumulativo está vinculado a liberação de endorfinas no cérebro. Assim, tem sido feita a hipótese por alguns autores que o estimulo de imprinting fornece uma retroalimentação confortadora através da liberação cerebral de endorfinas, agindo assim para fixar a associação com o objeto. Outro importante re-exame das teoriasda era Lorenz é que o periodo crítico pode resultar da não interferência do período em que começa o medo do desconhecido, quatro ou cinco dias depois da ninhada. Desta forma, não existe competição com as respostas de medo, e o estimulo ambiental se torna um alvo para a ligação social. Imprinting no cérebro Existem áreas particulares no cérebro responsáveis pelo imprinting ? Parece que sim. Diversos estudos usando diferentes técnicas neurobiológicas têm implicado a parte intermediária e medial de uma estrutura chamada hiperestriado ventral (IMHV) em ambos os lados do cérebro, como sendo uma das provavéis estruturas para o armazenamento da associação do imprinting (Horn, 1985). A crista ventricular dorsal (do inglês dorsal ventricular ridge, ou DVR) é uma estrutura apresentada unicamente em pássaros e répteis. Em pássaros, a DVR inclui o hiperestriado ventral, e uma outra área chamada wulst. O wulst parece ser parte de um sistema que se assemelha ao substrato da memória em mamífero. Evidência experimental sobre o papel do IMHV foi obtida por Horn e seus colaboradores em uma série de trabalhos científicos. Eles mostraram que pintinhos que tinham seu IMHV removido cirurgicamente em ambos os lados não podiam mais reter e nem reconhecer o imprinting. A contribuição do imprinting para a ciência Em conclusão, o imprinting é um exemplo maravilhoso da interação de comportamento inato espécie-específico, e as propriedades específicas de aprendizagem, as quais tem sido chamadas aprendizagem "perceptual" (Bateson, 1966). Estes estudos afirmam que as espécies animais são geneticamente construidas para capacitá-las a aprender tipos específicos de comportamento que são importantes para a sobrevivência das espécies. Imprinting é uma dessas formas de comportamento. Finalmente, devemos mencionar que os criadores de patos e gansos são bem conscientes da existência do imprinting, e algumas vezes eles tiram vantagem disso. Infelizmente, a prática intensiva de exploração econômica de aves de corte tem levado ao processo de incubação artificial de ovos em ambientes estéreis e não naturais. Isto, em conseqüência, produz milhões de pintinhos, gansinhos e patinhos "órfãos", os quais são privados de seu desenvolvimento comportamental natural. Fonte:http://www.cerebromente.org.br/n14/experimento/lorenz/index- lorenz_p.html A pesquisadora imita a pata mãe fazendo quack, quack, quack em frente de um grupo de patinhos logo após eles terem nascido. Eles aprendem rapidamente a identificar a sua mãe com bases em estimulos visuais, olfatórios e auditivos. Então, os patinhos percebem a pesquisadora como sua mãe (sua protetora) e a seguem. Texto 3 INTRODUÇÃO O tema bem-estar animal vem recebendo crescente atenção nos meios técnicos, científicos e acadêmicos. Juntamente com as questões ambientais e segurança alimentar, o bem-estar animal tem sido considerado entre os três maiores desafios confrontando a agricultura nos últimos anos, (Rollin, 1995). O processo de produção precisa ser ambientalmente benéfico, eticamente defensável, socialmente aceitável e relevante aos objetivos, necessidades e recursos da comunidade para o qual foi elaborado para servir, (Fraser, 1999). Sendo assim, o bem-estar animal, pode ser considerado uma demanda para que um sistema seja defensável eticamente e aceitável socialmente e, segundo Warriss (2000), as pessoas desejam comer carne com “qualidade ética”, isto é, carne oriunda de animais que foram criados, tratados e abatidos em sistemas que promovam o seu bem- estar, e que sejam sustentáveis e ambientalmente corretos. Com a industrialização da agricultura, os métodos de produção mudaram radicalmente, relevando uma preocupação quase que exclusiva com o desempenho quantitativo dos animais. O confinamento foi o caminho para reduzir trabalho, perda genética dos animais e ganhar espaço, colocando os animais sob fácil controle. Agravaram-se, então, os problemas de comportamento e bem-estar dos animais. Exigências atuais de bem-estar animal e sua relação com a qualidade da carne Patrícia de Sousa Novos tipos de sofrimento resultaram do confinamento intensivo dos animais como o aumento de doenças, produção sem atenção individualizada dos animais. O sofrimento também resulta de privação física ou psicológica dos animais confinados, tais como, ausência de espaço, isolamento social, impossibilidade de se movimentar, monotonia e outros. Em vários países a questão do bem- estar animal tem se tornado uma preocupação constante, onde a sociedade tem demandado um grande aumento nas regulamentações que melhorem a qualidade de vida dos animais. 2 - DEFINIÇÃO DE BEM-ESTAR Hurnik (1992), definiu bem-estar animal com sendo “o estado de harmonia entre o animal e seu ambiente, caracterizado por condições física e fisiológica ótimas e alta qualidade de vida dos animais”. O sofrimento normalmente está relacionado com o bem-estar, mas falta de bem-estar não é, necessariamente, sinônimo de sofrimento. Os animais mostram sinais inequívocos que refletem dor, angústia, medo, frustração, raiva, e outras emoções que indicam sofrimento. O conforto mental é um estado, que sem dúvida está relacionado com a condição física do animal, mas não apenas. É difícil saber o grau de satisfação do animal com seu ambiente. Entretanto, a manifestação de certos comportamentos se constitui em evidência do desconforto. A privação de estímulos ambientais (ambiente monótono, falta de substratos, palha, ramos, terra) leva à frustração que pode se refletir em comportamentos anômalos ou estereótipos. O animal pode estar em ótimas condições físicas e estar saudável e bem nutrido, mas sofrendo mentalmente. Alta produtividade não necessariamente implica em bem- estar. Pelo contrário, animais selecionados geneticamente para alta especialização e colocados em ambientes pressionados para alta produtividade podem trazer grande sofrimento. 3 - ESTRESSE O estresse tem sido o principal mecanismo de medida ou de avaliação do bem estar animal. Estímulos externos e internos são canalizados via sistema nervoso até o hipotálamo, onde é liberado o hormônio liberador da corticotropina (CRH). O CRH é transportado até a hipófise, estimulando a síntese e a liberação de adrenocorticotropina (ACTH), que por sua vez estimula a liberação de cortisol pelas glândulas adrenais. É o chamado eixo hipotálamohipófise-adrenal (HPA). O CRH também estimula o sistema nervoso simpático–adrenal e a secreção de hormônios catecolaminas, adrenalina e noradrenalina (epinefrina e norepinefrina), responsáveis pela resposta em curto prazo, uma rápida resposta de “alarme”, conhecida como Síndrome de Emergência, que prepara o organismo para a “luta ou fuga”, com sinais como aumento da freqüência respiratória e cardíaca. Outra resposta do estresse ocorre após o alarme e durante um período mais longo, permitindo ao animal recompor-se da situação de alarme ou adaptar-se à nova situação. Este componente da resposta do organismo ao estresse envolve mudanças significativas no sistema endócrino e autônomo, via eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) e é conhecida como a Síndrome Geral da Adaptação. A liberação do cortisol estimulada pela liberação de ACTH atua sobre o metabolismo orgânico, aumentando o catabolismo protéico, a gliconeogênese no fígado, inibe a absorção e a oxidação da glicose, além de estimular o catabolismo de triglicerídeos no tecido adiposo. A importância disso está no fato de que os estressores crônicos mobilizam energia contentemente, desviando-a da produção, (Zulkifli e Siegel, 1995). O estresse é uma reação do organismo a uma reação do ambiente, numa tentativa de manter a homeostase. Mas o estresse crônico, entretanto, leva a uma outra reação, conhecida como “desistência aprendida”. O animal “aprende” que sua reação ao meio desfavorável não resulta em adaptação e,portanto, deixa de reagir. Essa condição tem inúmeras conseqüências para o organismo animal como, maior fragilidade do sistema imunológico, aumentando a suscetibilidade a doenças; redução da produtividade em alguns casos; ocorrência de comportamento anômalo. Comportamento anômalo é o redirecionamento de um comportamento que o animal tem alta motivação para realizar, mas cujo desencadeamento está impedido pelo ambiente. Há duas grandes vertentes de conduta para melhorar o bem-estar animal. Uma delas é o chamado “enriquecimento ambiental”, que consiste em introduzir melhorias no próprio confinamento, com o objetivo de tornar o ambiente mais adequado às necessidades comportamentais dos animais. Exemplos: 1)colocação de objetos, como correntes e “brinquedos” para quebrar a monotonia do ambiente físico. Isto reduziria a incidência de canibalismo; 2) palha no piso, sobre o cimento, evitando piso ripado: 3) área mínima por animal, reduzindo a agressão e os animais separam área de excreção da área de descanso; 4)Gaiolas com espaço suficiente para o animal virar-se e com palhas para contrição de ninhos. E a outra vertente seria repensar o sistema de produção como um todo, ou propor sistemas de produção alternativos. Exemplos: produção extensiva (suínos, ovinos, bovinos), com animais ao ar livre, sistemas orgânicos (aves: frango verde, criação colonial), produção de gado à pasto, etc. O fator humano também é importante na produção e bem-estar dos animais. O manuseio diário dos animais, ou a maneira como o tratador se relaciona com o animal, voz, contato físico, interação geral, pode influenciar o comportamento e a produtividade do animal. Em termos de personalidade e atitude, um “bom tratador” é normalmente introvertido, confiante, consistente, disciplinado, perseverante e imaginativo. Tem uma atitude de respeito com o animal, “conversando” com voz firme e tocando gentilmente durante o manuseio.Gritos, agressões e violência devem ser sempre evitadas, assim como cães no interior das instalações. Os animais gostam de rotina e reconhecem as pessoas pela imagem, odor, voz, caminhar. Os tratadores devem ser sempre os mesmos, usar uniformes e utilizar a mesma rotina. Treinamento e satisfação com o trabalho também afetam a relação que os humanos têm com os animais, e pode se refletir no comportamento e produtividade dos animais, (Hemsworth e Coleman, 1998) 4 - QUALIDADE DA CARNE Ausência de bem-estar pode levar à produção de uma carne de qualidade inferior, o que resulta em perda de produção e perda de vendas, ou venda de produto de baixa qualidade. Warriss et al., (1994) analisaram animais abatidos em abatedores subjetivamente avaliados como tendo um manejo pré abate inadequado. Os animais tiveram um nível aparente de estresse mais alto, bem como níveis mais elevados de lactato e creatina kinose no sangue coletado ao sangramento, do que os níveis encontrados em animais abatidos em sistemas melhor conduzidos. O estresse pré abate pode ter conseqüências negativas na qualidade da carne, aumentando, inclusive, o risco de incidência de PSE (pale, soft, exudative – pálida, mole, exudativa) e DFD (dark, firm, dry – escura, dura, seca) nas carcaças, (Gregory, 1998). 5 - MANEJO PRÉ ABATE O manejo pré abate em animais envolve atividade muscular, assim como o estresse causado por fatores físicos e emocionais. O efeito do exercício no metabolismo de energia e produção de metabólitos varia de acordo com a intensidade e duração dos exercícios. Durante o carregamento, demanda menos de 60% do consumo máximo de oxigênio, 50% a 80% dos substratos oxidados derivam da gordura (60% ou menos derivam do sangue) e a maioria da glicose utilizada deriva da redução do glicogênio. Nessas condições, a proporção de fontes de energia extramuscular utilizada, aumenta com a intensidade dos exercícios. Quando o carregamento corresponde 60 a 90% do consumo máximo de oxigênio, 50% a 80% das calorias que são queimadas derivam dos carboidratos, o qual 80% derivam da reserva de glicogênio no músculo. Exercitando, a proporção das fontes extramusculares dos carboidratos utilizados aumenta. O lactato é produzido continuamente durante o período de exercício, com mais de 90% de oxigênio máximo obtido, substratos de energia são quase exclusivamente carboidratos, e quase todos derivados de reservas locais. Portanto, o ponto de exaustão aparece muito rápido, quando a reserva de glicogênio nos músculos ainda é alta. Diferente estressores associados ao aumento da atividade muscular durante o período pré abate pode causar diferentes efeitos nas reservas de energia presente nos músculos. Exemplificando, o exercício pode reduzir o fosfato de creatina e ATP, enquanto a liberação de epinefrina pode causar primariamente a degradação de glicogênio, produzindo efeitos distintos no padrão, e declínio no pH pós abate (Henckel et al., 2002). A intensidade, o período, tipo e duração de estressores antes do abate possui um efeito variável no uso e reabastecimento das reservas de energia nos músculos; entretanto, eles também têm efeito variável no metabolismo pré e pós abate, declínio do pH e qualidade da carne. Isto é evidenciado pela associação entre indicadores de estresse e da ocorrência de carnes DFD em suínos (Warriss, et al., 1998). Exercícios antes do abate podem reduzir o nível de glicogênio e, consequentemente, aumentar o pH final dos músculos de animais com dieta normal, assim como, dieta com alto teor de carboidrato. Suínos recebendo uma dieta com baixo carboidrato e alta gordura, submetidos ao exercício, a redução do glicogênio no músculo foi associado ao aumento do pH final e a redução das perdas por gotejamento. Portanto, exercício imediatamente antes do abate pode também ser responsável por um aumento na ocorrência de carne PSE, devido ao aumento da temperatura do músculo e aumento na taxa metabólica. Estudos demonstram que a qualidade da carcaça e da carne, que é o produto final, é influenciada pelo tipo de manejo que os animais recebem durante o período imediatamente antes do abate. A privação de alimento por 48 horas antes do abate tem mostrado muitos benefícios, tais como, economia de alimento por animal, redução de mortalidade no transporte, melhora no sangramento e redução da quantidade de resíduos nas vísceras no abate, (Beattie, et al., 2002). A privação de alimento pode também minimizar o efeito de patógenos trazidos no alimento. Se o trato gastrointestinal do animal for perfurado durante o processo de evisceração no abatedor, as carcaças podem ser contaminadas com bactérias do trato gastrointestinal. O risco de contaminado de carcaça é reduzido se o estômago do animal estiver vazio na hora do abate. O manejo pré abate possui ainda uma outra grande vantagem, o jejum antes do abate reduz a incidência de carnes PSE. No entanto, tais ganhos em economia e produto de qualidade devido a privação do alimento pode ser negativo com relação a diminuição no rendimento de carcaças, mais lesões nas carcaças causadas por brigas, incidência de DFD devido ao prolongado estresse pré abate e redução no bem-estar do animal, (Warriss, 1998). Beattie, et al., 2002, concluíram que a privação de alimento por 12 horas pré abate não afeta a performance, peso da carcaça, qualidade da carne e o bem-estar dos animais. 6 - TRANSPORTE Para o transporte, deve-se utilizar um caminhão com no máximo, dois pisos. Ao chegar na propriedade para carregar os animais, o caminhão deve ter sido previamente higienizado e desinfetado, evitando assim a exposição dos mesmos a eventuais agentes contaminantes. Os animais devem ser alojados no caminhão na razão máxima de 2,5 suínos de 100kg/m2, ou seja, proporcionar área mínima de 0,40m2/100kg animal. O transporte deve ser efetuado com calma, de preferência durante a noite, sempre aproveitando as horas mais frescas ou de menor temperatura. O cuidado no transporte deveser redobrado quando esse for feito em estradas não pavimentadas ou irregulares. Quando o transporte exceder a duração de 3 horas, devem ser adotados cuidados especiais. O transporte em longas distâncias, a mistura com animais desconhecidos, espaço inadequado, carrocerias mal desenhadas, frio, calor, podem resultar em estresse e sofrimento animal. Além das condições eticamente indesejáveis, esses fatores têm influência direta na qualidade da carcaça, lesões nos músculos, hematomas. Um maior nível de indicadores de estresse no sangue, tais como, o lactato e cortisol, e mais baixa qualidade da carne foi observada nos suínos abatidos quando transportados num curto período de tempo (15mim), provavelmente porque os suínos transportados a longas distâncias (3 horas), adaptaram as condições de transporte, (Perez et al., 2002). Animais submetidos a um rápido transporte precisará de um maior tempo de repouso antes do abate. Estudos mostram uma alta mortalidade dos animais durante o transporte, sendo um indicador de falta de bem-estar durante o deslocamento. Outros fatores além do tempo de transporte podem influenciar o bem- estar do animal durante a viagem e subsequente qualidade da carne. Estes fatores são: carregamento e descarregamento dos animais, densidade, condições do tempo (temperatura, velocidade do vento e umidade), características do veículo, privação de alimento e água e mistura de animais de diferentes grupos, (Warriss, 1998). A interação entre estes fatores com o manejo utilizado e tempo de espera entre o descarregamento e o abate, torna-se difícil de interpretar o real efeito do tempo de transporte no bem-estar e qualidade da carne dos animais. Gispert, et al., (2000), constataram que a genética pode também influenciar na susceptibilidade ao estresse, mortalidade no transporte e qualidade da carne. Animais com susceptibilidade ao estresse possuem uma anormalidade no metabolismo de seus músculos, o qual, faz o músculo super reativo aos estímulos estressores como as altas temperaturas. O músculo é propenso ao metabolismo excessivo e em suínos desenvolve a hipertermia e níveis letais de potássio no sangue, (Gregory, 1998). No frigorífico os animais são descarregados e alojados em baias até o abate. Após o abate a carne é destinada aos cortes in natura e ao processamento dos subprodutos e industrialização. A coordenação e liderança da cadeia são exercidas pelo segmento da agroindústria. A produção na indústria sofre um intenso processo de diversificação em produtos e mercados. A estratégia de agregar valor dificulta a popularização do consumo de carne suína. 7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Os sistemas de produção animal podem ser melhorados, adequando-os aos objetivos específicos e melhorando as condições de bem-estar e qualidade de carne, sendo estes, não analisados isoladamente, necessitando estudos multidisciplinares. A produção animal brasileira tem evoluído muito nos últimos anos, mas mesmo assim deve-se buscar a interação dos diferentes seguimentos da cadeia produtiva, visando melhorar os ajustes entre o setor produtivo, indústria e consumidores. Fonte:https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/exigencias_atu ais_de_bem_estar_animal_e_sua_relacao_com_qualidade_da_carne_00 0fz75urw702wx5ok0cpoo6agbfbiwd.pdf Introdução Animais estão presentes na vida cotidiana do homem há 12.000 anos, quando começaram a ser domesticados, fornecendo alimentos, agasalho, trabalho, proteção e companhia. O cão tem se associado com o homem há mais tempo que qualquer outro animal doméstico e seu processo de domesticação foi um fator importante no desenvolvimento da sociedade humana. Principalmente a partir do século XX, os cães são usados para preencher mais necessidades humanas que qualquer outra espécie doméstica e, por isso, é crescente a preocupação da sociedade em oferecer um bem-estar de grau bom pleno para essa espécie. O conceito de bem-estar refere-se ao estado de um indivíduo em uma escala, variando de muito bom a muito ruim. e qualquer avaliação nesse sentido deve ser independente de considerações éticas. Para Molento , a definição mais aceita de bem-estar animal é a de um completo estado de saúde física e mental, em que o animal se encontra em harmonia com seu meio ambiente. Em 1993, na Inglaterra, o Comitê de bem-estar de Animais de Produção definiu as cinco liberdades para a avaliação do bem-estar animal. Elas são: Liberdade nutricional, Liberdade sanitária, Liberdade comportamental, Liberdade psicológica e Liberdade ambiental. A implementação das cinco liberdades vem ao encontro da ideologia de uma grande parte dos médicos veterinários brasileiros. O médico veterinário deve conhecer as principais linhas de pensamento Bem-estar de cães e gatos Renata Maria Albergaria Amara - CRMV-MG: 8332 Médica Veterinária acerca da relação homem-animal, reconhecendo a diferença entre promoção de bem-estar animal e a filosofia dos direitos dos animais comum para os veterinários ver os animais apresentando problemas comportamentais. Em parte, isso reflete a mudança no papel do cachorro na sociedade, de um habitante do quintal para um membro da família. Os proprietários podem não saber qual é o comportamento animal normal ou podem ter expectativas irreais do seu animal, pois não observam os aspectos universais dos comportamentos dos cães e gatos. Agressividade e Bem-Estar Animal A agressividade é definida como um comportamento ao qual todos os mamíferos estão vulneráveis, sendo um conflito onde a causa principal é o meio social em que o animal vive. O comportamento agressivo, em alguns casos,é normal e faz parte do repertório comportamental do animal, necessário para sua sobrevivência. Mensurações do comportamento têm grande valor na avaliação de bem- -estar. No animal, alguns sinais de bem-estar pobre são evidenciados por mensurações fisiológicas, como aumento de frequência cardíaca, atividade adrenal e resposta imunológica reduzida. A agressão em animais de companhia tem profundas implicações com o bem-estar animal, e mudanças comportamentais podem indicar que o bem-estar não está satisfatório.Comportamentos anormais, como estereotipias,automutilação e comportamentos agressivos podem indicar que o indivíduo encontra-se em condições de bem-estar ruim. São considerados posturas ou sinais de agressividade ou ataque iminente em cães e gatos: pilo-ereção, mostrar os dentes, vocalizar, encarar de frente, abanar apenas a ponta da cauda, orelhas eretas, achatadas ou para frente, cauda elevada e contato visual prolongado Cães Agressivos Para Beaver , não existem raças agressivas. Existem raças que criaram má fama devido a acidentes, como Pit Bull, Rottweiler, Fila Brasileiro, Pastor Alemão, Doberman ou Mastim Napolitano. Na verdade, qualquer raça pode tornar--se agressiva. Essa característica depende de vários fatores, como o entorno social, vínculo com pessoas, estado sanitário, comportamento aprendido e bem-estar animal. As raças mais conhecidas pela característica de guarda possuem maior potencialidade para possessividade, territoriedade e dominância. Tais características combinadas com o tamanho e a força do cão podem se tornar um grande risco para as pessoas se esses animais não forem socializados e tratados adequadamente desde filhotes. A mídia tem enfatizado a ideia de que certas raças de cães são de natureza violenta e representam perigo para as pessoas. Essa descrição exagerada coloca cães como os da raça Pit Bull como monstros e refletem na hostilidade de alguns membros da sociedade sobre esses animais. Para esses autores, leis que proíbam posse particularmente baseadas em raças que desempenham algum tipo de comportamento não são adequadas, pois generalizam e prejudicam muitos animais que não apresentam nenhum vício ou perigo à população. Para os autores não deveria ser permitido“criminalizar” raças inteiras por causa de exceções ou má conduta de proprietários. Eles acreditam que, no futuro, a classe médica veterinária irá se organizar para extinguir políticas discriminatórias e auxiliar os legisladores a elaborar leis mais adequadas ao comportamento animal. É importante enfatizar que cães mordem um número significativo de pessoas todos os anos e enquanto pessoas e cães existirem, esse problema persistirá. Tipos de Agressividade De acordo com a origem no sistema nervoso central, existem dois tipos de agressão. A agressão predatória não está associada aos sinais de agressão e é aquela disparada por presas em movimento. Esse tipo de agressividade é instintivo e não está associado com os sinais de agressividade, tem origem hipotalâmica, utilizando a acetilcolina como neurotransmissor. A agressão afetiva normalmente tem uma ativação autônoma, envolvendo o córtex frontal, podendo utilizar sistemas neurotransmissores colinérgicos, catecolaminérgicos, GABA ou serotoninérgicos. Esse tipo de agressividade apresenta uma linguagem corporal identificável associada com alteração acentuada de humor e com os sinais de agressão. Existem várias situações que podem estimular o animal a exibir um comportamento agressivo afetivo. Dentre elas, a situação que mais atua de forma negativa para o bem- estar animal é a agressividade por medo. A agressividade por medo ou defesa acomete com maior frequência cães que não foram sociabilizados corretamente, podendo aparecer também em cães ou gatos que desenvolvem medo perante situações que desconhecem. No intuito de disfarçar seus receios, o animal toma uma postura agressiva, podendo apresentar uma postura ambivalente, como se estivesse se defendendo de alguma coisa. O medo é uma sensação de desconforto ou constrangimento causada pela proximidade de um objeto ou indivíduo. Assim, nessas condições, o animal apresenta um bem-estar pobre. Antropomorfismo Antropomorfismo significa a aplicação de algum domínio da realidade social, biológica, física, da linguagem ou conceitos próprios do homem, inclusive seu comportamento, ao animal. Um animal doméstico sofre todas as influências do ser humano e essa situação pode afetar não só a saúde, mas também o seu comportamento, em que passa a ser um total dependente do homem, interferindo nos relacionamentos familiares e pessoais. A domesticação de cães e gatos remonta a mais de 10 mil anos, quando esses animais passaram a consumir dietas similares às de seus proprietários, alimentando-se de suas sobras. Esse tipo de alimentação fez surgir nesses animais problemas de saúde similares aos dos humanos, como doenças cardíacas, obesidade, diabete, doenças hepáticas, doenças renais e câncer, que na natureza não eram observadas anteriormente. Os animais domésticos têm necessidades nutricionais e preferências alimentares diferentes das do homem. Não há dúvidas de que o antropomorfismo alimentar interfere na saúde do animal, mas esses problemas de inadequação nutricional só são percebidos no longo prazo. A inadequação nutricional normalmente se apresenta na forma de dermatites alérgicas,obesidade, pressão arterial alterada, entre outras enfermidades. Outro tipo de antropomorfismo que virou mania entre os proprietários é o antropomorfismo social. Para Vidal , esse antropomorfismo “beira a casa do ridículo”. Para o autor, não se deve confundir cuidados sanitários, clínicos, nutricionais, alimentares, cirúrgicos e que promovam o bem-estar pleno do animal, que se fazem necessários aos animais domésticos, com os excessos, como unhas postiças, óculos e calçados, que alguns proprietários insistem em fazer os animais usarem. Os animais domésticos se comunicam através do corpo e de vocalizações, expressando dessa maneira seu comportamento. Quando o cão é inserido no ambiente familiar, ele se vê como parte de uma matilha. Entretanto, com o antropomorfismo, pessoas associam atitudes animais com posturas humanas. Assim, comportamentos normais podem resultar em problemas como maus--tratos, abandono e bem-estar animal ruim. As visões culturais sobre os cães e os gatos variam por todo o mundo. Existem lugares em que cães são altamente considerados, recebem nomes de seres humanos, dormem na cama com seus donos e comem a mesma comida que eles. Na outra extremidade, há pessoas que não respeitam os animais. Entre esses dois extremos, estão culturas indiferentes ao bem-estar dos animais. Mutilações Estéticas Instituições de controle de cinofilia,organizações de criação de cães de raça pura, na tentativa de padronizar certas raças, exigiam que o animal passasse por cirurgias mutilantes para ser registrado. Essas cirurgias incluíam o corte da cauda (caudectomia), corte das orelhas (conchectomia) e a amputação do dedo ergot. Além disso, alguns profissionais, na tentativa de adaptar o animal ao meio urbano, difundiram práticas como o corte das cordas vocais de cães (cordotomia) e a retirada da unha de gatos (oniectomia e tendectomia). Atualmente, as instituições de registro de raça não aceitam mais animais que já passaram por essas cirurgias para registro. Salientam que nas principais competições de raça também não admitem animais que passaram por tais procedimentos cirúrgicos. Com a crescente preocupação sobre questões relacionadas com o bem- estar animal, começaram a existir questionamentos sobre a real necessidade da realização dessas cirurgias. No sentido de orientar os profissionais médicos veterinários, o Conselho Federal de Medicina Veterinária e Zootecnia , na Resolução 877, de 15 de fevereiro de 2008, dispôs que essas cirurgias não deveriam mais ser realizadas, pois o animal passa por sofrimento desnecessário, dor, medo, estresse e incapacidade de exercer o comportamento da espécie. Todos esses fatores levam o animal a um bem- -estar ruim pobre, principalmente no pós-cirúrgico imediato. Posse Responsável Embora o cachorro e o gato tenham se tornado uma parte importante da sociedade, estima-se que somente 38% dos proprietários de cães mantêm seus animais de estimação em longo prazo. Todo ano, milhões de cães são descartados, sendo enviados para novos lares, abandonados em abrigos de animais ou soltos para se tornarem vadios. Animais de estimação requerem cuidados especiais para que se evite a propagação de doenças. É de responsabilidade do proprietário prevenir e cuidar de seu animal nesse sentido. A posse responsável é o conjunto de várias atitudes, envolvendo proprietários de animais, médicos veterinários, sociedade civil e poder público, objetivando o bem-estar animal e uma melhor relação entre ser humano e esses animais. Para os proprietários, a posse responsável implica basicamente: responsabilizar-se pela limpeza dos dejetos do animal, evitar procriação inconsequente, levar o animal regularmente ao médico veterinário, manter o animal dentro de espaço doméstico, fornecer boas condições ambientais (espaço adequado, higiene, cuidados para evitar a superpopulação), vacinar regularmente o animal, proporcionar atividades físicas e momentos de interação do animal com as pessoas. Para a escolha do animal de estimação, deve-se observar: o espaço disponível, o objetivo da criação, o custo de manutenção do animal, cuidados específicos da espécie e raça, o tempo disponível do proprietário, as pessoas que irão conviver com o animal e o tempo médio de vida da espécie animal a ser criada. Animais abandonados ou domiciliados de forma incorreta estão sujeitos a acidentes de trânsito,proliferação de doenças, fome e maus-tratos. Algumas Organizações Não Governamentais (ONG) sustentam abrigos para animais visando retirar esses animais da rua. Em longo prazo,essas medidas não são eficazes, já que os abrigos normalmente ficam superlotados, impossibilitando muitas vezes que os animais exerçam as cinco liberdades.Assim, esses animais tendem a apresentar um bem-estar ruim. Além disso, a taxa de sucesso dos abrigos é muito baixa. Aproximadamente 19% dos cães que deixam os abrigos são introduzidos em novo lar, 15% são reclamados pelo proprietário original e 66% são sacrificados. A observação desses fatores e a escolha correta do animal de estimação são muito importantes por favorecerem uma relação homem e animal mais saudável e induzir a uma melhor interação entre as duas partes. Dessa forma, a posse responsável, além de proporcionar uma melhor qualidade de vida para cães e gatos, aumenta o grau de bem-estar pleno desses animais Controle Populacional A superpopulação canina é uma preocupação em saúde pública, pois existem várias doenças que podem ser transmitidas dos animais para o homem. Segundo Bussolotti, as zoonoses que mais preocupavam o Centro de Controle de Zoonoses de Belo Horizonte (CCZ-BH) em 2006 eram leishmaniose, raiva, leptospirose e toxoplasmose. Os cães tornam-se vadios devido a um tratamento irresponsável por parte dos proprietários. O vadio é definido como um cão doméstico errante que recebeu liberdade não supervisionada para vagar em uma base regular ou intermitente. Evidências indicam que a maioria dos cães errantes tem dono. . Existem cerca de 400 milhões de cães de rua em todo o mundo. Esse elevado número indica uma grave crise de bem-estar animal: milhões de cães com fome e potencialmente doentes perambulam pelas ruas, comprometendo a saúde de outros animais e de seres humanos. Os cães vadios respondem por 20% das mordeduras nos seres humanos. Eles podem ser perigosos para o tráfego e podem ser predadores de animais de produção e populações de animais silvestres, inclusive ofendendo o equilíbrio ecológico.
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