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Depoimentos mae e filho de escola hospitalar

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VIVENDO A ESCOLA NO AMBIENTE HOSPITALAR. Lucíola Valadão Moreno Ribeiro (mãe) e Wesley Ribeiro (aluno hospitalar)
Agradeço a oportunidade de estar aqui para dizer um pouquinho do quanto a escola no hospital ajudou a meu filho e, sem dúvida, ajuda a qualquer criança hospitalizada.
A lembrança mais marcante que tenho em relação à Classe Hospitalar Jesus diz respeito ao contato de meu filho Wesley por poder participar destas atividades já na idade de um ano, mesmo sendo portador de uma colostomia. Lembro-me que a professora dele era sempre muito cuidadosa e carinhosa e havia chegado na enfermaria para buscá-lo para a escolinha. Nesse dia nos não tínhamos gaze e por isso sua colostomia estava com fezes. Então, falei com a professora que achava que ele não poderia participar da escolinha porque não tinha sido possível trocar os curativos. 
Naquele momento, meu filho fez cara feia e ficou muito aborrecido, porque tudo o que mais queria era ir à escola. A professora, então perguntou à enfermeira se haveria problema do menino ir para escola sem a troca da colostomia. A enfermeira, por sua vez, me disse: “mamãe, isso não vai impedi-lo de participar das atividades da escola”. E Wesley, no colo da professora como se estivesse sentado num trono real, seguiu radiante para mais um dia de atividades na classe hospitalar. Eu nunca me esqueci disto, pois numa situação dessas, a maioria das pessoas teria nojo e até evitaria se aproximar de um paciente que estivesse em más condições de higiene.
Houve uma época em que o local onde a escolinha funcionava estava em obras e foi preciso mudar para uma capelinha situada nos fundos do hospital. Quando o Wesley se internou, logo perguntou: “mãe, não tem mais escolinha?”. Mas certamente que havia escola e, apesar das condições precárias, as professoras se esforçavam para continuar proporcionando o melhor para os alunos. E com isso meu filho tinha seu tempo tomado da realidade da tristeza, de dor, de sofrimento que ele sempre passava no período de internação. 
Dessa forma, somos profundamente gratos por tudo. Sou uma defensora da classe hospitalar. E sempre que a escolinha precisar estarei pronta para advogar em favor desse serviço do Hospital Jesus (RJ). Todas as mães precisam muito da escolinha, dessa parceria que contribui para levantar o astral de nossos filhos, fazer com que eles sintam vontade de viver, e saiam mais rápido do hospital.
Quando ele se hospitalizou, após ter concluído a quarta série do ensino fundamental, ficou meio triste e aborrecido porque achava que como a classe hospitalar só atendia até a 4ª. série ele não mais poderia participar das atividades. Então, ele disse que iria participar assim mesmo, mesmo já sabendo dos conteúdos abordados pela professora, pois poderia revisar e ajudar a algum coleguinha que estivesse mais atrasado ou com dificuldades. A classe hospitalar foi tudo na vida dele. Posso afirmar que a possibilidade de participar dessas atividades no Hospital Jesus era o que mais o incentivava para que pudesse cooperar com o tratamento, muitas vezes doloroso.
A professora em sua simplicidade sempre dizia que trabalhava com as crianças tentando proporcionar-lhes o que elas pediam ou necessitavam. Para ela ser assim era mais do que normal, quase uma rotina. Mas para meu filho cada movimento da professora era como o mais lindo dos balés, cada atividade proposta como a mais fantástica mágica, cada palavra da historinha contada a mais pura melodia. Ele vivia um encantamento cada vez que participava das atividades da classe hospitalar. E cada um destes momentos o fazia mais e mais feliz e dava-lhe forças para continuar o tratamento médico.
A classe hospitalar também ajuda na interação entre as crianças da enfermaria. No reloginho das crianças hospitalizadas parece só existir o horário de 13 horas, que é quando a professora chega na enfermaria e parece que o mundo deles muda. E no dia seguinte, tudo isso acontece novamente. Eu acredito que Wesley não teria tanta força de vontade para voltar ao hospital se fosse apenas viver as experiências ligadas às cirurgias e ao tratamento, sem ter a escolinha. A classe hospitalar contribuiu muito para o desenvolvimento dele: psicológico e intelectual. Socialmente, ele também se integrou muito bem no ambiente hospitalar por conta das mediações proporcionadas pela escola.
Ele continua gostando de estudar e diz que quer ser arquiteto. Ele está desenhando muito bem. Vamos ver que vocação ele tem e que profissão vai abraçar no futuro. E a escola o ajudou nisso, pois mesmo que não trouxesse seu material escolar e de desenho, a escola e as professoras sempre davam um jeito e ele conseguia fazer coisas que pareciam não possíveis a quem está doente. 
Com as sucessivas internações de meu filho e seu amor pela escolinha eu também fui me "contaminando". Sempre que chegava ao hospital queria logo me informar se a escolinha estava funcionando, se as professoras estavam lá, queria sempre vê-las e matar as saudades porque, confesso, sou uma mãe muito grata às professorinhas dessa escola e isso sempre me emociona. 
As professoras não viam problemas no trabalho que realizavam. Por mais difícil que fosse a situação, estavam sempre disponíveis e criavam estratégias para que pudessem atender às crianças. Meus outros dois filhos, Érica e Wallace passaram a ter a tia Eneida e a tia Paula como tias de verdade, como pessoas da família, de sangue. E passaram, como o Wesley, a amá-las também. A escolinha do hospital contaminou a minha casa com muita afetividade e isso aproximou ainda mais minha família.
Atualmente estou fazendo parte do Conselho Tutelar de minha comunidade. Não é apenas uma iniciativa de meu coração, uma vocação, mas algo a que tenho me dedicado por conta da convivência com a classe hospitalar. Muito do que sigo e até o incentivo e orientação que dou nesse trabalho, veio da experiência com a escolinha. 
Hoje já não moramos mais no Rio de Janeiro e sim no Espírito Santo. Para nós, é um grande prazer prestar este depoimento que nos emociona e revigora, pois muitas das lembranças são tão felizes que também nos dão forças para continuar, nos asseguram que nesta caminhada de anos pelo tratamento médico de um filho não estávamos sozinhos e pessoas dentro deste ambiente hospitalar - por serem ternas e sensíveis - colaboraram e ainda hoje colaboram para que possamos ver a situação de forma mais amena.
 
Wesley Moreno Ribeiro (ex-aluno de classe hospitalar)
As lembranças que tenho da Classe Hospitalar Jesus são muito boas. Sempre que eu me internava eu precisava muito da escola que me ajudava nas tarefas de estudo, principalmente antes de concluir a 4a série. As professoras daqui me ajudaram a não esquecer as matérias e por isso eu não fiquei reprovado nessas séries.
Antes da escolaridade formal eu aprendia muito com as atividades da educação infantil. Embora fosse ainda muito pequeno, me lembro das músicas, das brincadeiras e das muitas atividades cheias de criatividade que as professoras inventavam. 
O apoio da escolinha quando eu estava no hospital foi muito importante para minha escolaridade quando deixava o hospital. Se eu não tivesse tido a classe hospitalar, teria sido muito difícil ter motivação e acompanhar as coisas de escola. 
Estar no hospital não era só aquela enjoação de ficar na enfermaria olhando os médicos toda hora para lá e para cá e tomar remédios. Eu sabia que ia ter algo legal para fazer: ir à escola após o almoço, que era o horário em que ela começava a funcionar. Lembro que em uma época de Páscoa me vesti de coelhinho e saí pelos corredores distribuindo máscaras para as outras crianças.
Muitos têm pavor de hospital. Mas quando você está em um que tem a escola é diferente, é um sentimento que marca mesmo. Você pode estar chateado, mas quando chega essa hora você pensa: “Ah. ... eu vou lá, vou escrever, vou desenhar, vou brincar, vou aprender e vou sarar”. E sentir todas estas coisas é muito bom.
Quando eu estava em casa sempre lembrava da escolado hospital e comentava com meus irmãos e eles achavam legal, eles queriam estar lá. Meu irmão uma vez disse que queria quebrar a perna para ir para o Hospital Jesus e até falou: “me leva pra lá, que eu quero operar e ir na escolinha”.
Eu já fiquei em hospital que não tinha a escola e faz uma diferença muito grande quando chega o horário em que a gente deveria estar na escola e não tem essa oportunidade. Aí a gente lembra que deveria estar estudando, se divertindo com os colegas. Se há uma classe hospitalar, tudo muda e a gente se sente sem doença nenhuma. Eu acho que quem nunca experimentou isso deve pensar ser muito chato estar num hospital.
A escola consegue distrair do problema que a gente tem e faz com que usemos nossas energias em coisas que vão nos fazer melhorar. É muito bom ter uma escola no hospital: é bom demais! Se eu tivesse a oportunidade de estudar naquela escola quando não estava hospitalizado, teria sido superlegal. 
A professora do hospital para mim era alguém que poderia ajudar nas minhas dúvidas da escola, assim eu nunca esqueci das matérias, e aqui revia o que lá não aprendia ou parecia difícil de entender. A professora do hospital "pegava no pé", ensinava mesmo, fazia atividades diferentes e assim eu nunca esqueci os conteúdos, mesmo não estando junto com os meus colegas da escola. 
O espaço da escola também é importante porque podemos trocar ideias com os colegas de turma. É bom a gente falar sobre o que estava passando. Um dando apoio ao outro, para superar as dificuldades. Eu acho que a cabeça que eu tenho é uma soma das experiências de minha vida, do apoio da minha família e das vivências com a escola no hospital e as crianças com as quais convivi, tanto na sala de aula quanto na enfermaria. Eu acho que tudo isso fez com que eu tivesse um pensamento assim mais maduro e ao mesmo tempo brincalhão, uma mistura que ajuda a superar as operações.
Hoje moro no Espírito Santo, mas quando me internei pela primeira vez morava em Volta Redonda. Fiz umas 40 cirurgias. Eu nasci em julho de 1983 e já me internei em agosto desse mesmo ano pela 1ª. vez. Eu nem tinha ainda um mês de idade e já estava internado. Atualmente, participo de um conjunto musical com colegas da minha escola, mas me concentro muito nos estudos também. Acho que este meu interesse por música tem a ver com a escola do hospital. Lembro da bandinha e como era divertido mexer nos instrumentos e cantar. Eu também adoro desenhar! Gostaria de agradecer a quem pôs a escola no hospital, pois é um ensino divertido e ótimo para todas as crianças.

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