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Ferdinand Lassalle Que é uma Constituição

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‘Que é uma Constituição?’(Ferdinand Lassalle) - Resumo do livro
Na busca do conceito de Constituição, Ferdinand Lassalle apresenta o conceito jurídico: “Constituição é a lei fundamental proclamada pelo país, na qual se baseia o Direito Público dessa nação”. Depois o deixa de lado, considerando que dele não se pode extrair se determinada Constituição possui, e porque, boas qualidades. Para tanto, procura primeiro pela essência de uma Constituição, por um método de comparação de uma coisa desconhecida com outra semelhante a ela, porém conhecida. Ao comparar Constituição com lei, verifica que ambas precisam de aprovação legislativa, mas que aquela não é lei comum, porque há um desejo na sociedade de que se reforme o mínimo a Constituição, e isso é demonstrado com o especial quórum adotado para tanto.
Dizer que a Constituição é uma lei fundamental não responde bem a questão, sendo preciso justificar esse adjetivo. Para a Constituição ser fundamento das outras leis, deve reger a lei da necessidade. Daí nasce a pergunta: será que existe n’algum país alguma força ativa que possa influir de tal forma em todas as leis ao mesmo tempo, que a obrigue a ser necessariamente, até certo ponto, o que são e como são, sem poderem ser de outro modo?
Lassalle responde dizendo que a tal incógnita se apóia nos fatores reais do poder que regem uma determinada sociedade, os quais são força ativa e eficaz que informa todas as leis e instituições jurídicas da sociedade. Para explicar isso, supôs que se todas as publicações legislativas do país desaparecessem, sendo necessário decretar novas leis, o legislador, completamente livre, poderia fazer leis ao capricho de acordo com o seu modo de pensar?
Para responder, primeiro, envereda por verificar se seria possível redigir novas leis não reconhecendo a monarquia. Não seria possível, vez que um rei a quem obedecem o exército e os canhões não tolera imposições e prerrogativas em desacordo com sua condição de rei. E fixa que esse poder real é uma parte da Constituição. Depois aplica o mesmo raciocínio em relação à aristocracia. E se a grande massa de cidadãos prussianos, destruídas as leis do passado, dissesse somos todos ‘iguais’ e quisesse se livrar da Câmara Senhorial? Não seria possível, pois os grandes fazendeiros da nobreza, possuindo muita influência junto à Corte, é também parte da Constituição. De seguida, verifica que, se o rei e a nobreza buscassem a organização medieval, com uma Constituição Gremial, isso afetaria os grandes industriais e fabricantes, os operários seriam despedidos, uma multidão sem trabalho sairia à praça pública exigindo pão e trabalho, atrás dela a grande burguesia, encaminhando-se para uma luta, na qual o triunfo não seria das armas. Então os grandes industriais são também uma parte da Constituição. E os banqueiros, a Bolsa, a cultura coletiva e a consciência social do país? Lassalle afirma que a nenhum governo convém se indispor com eles, tendo em vista as necessidades de empréstimos e troca de papel da dívida ativa, e considerando que lei penal afrontando os ânimos da coletividade levantaria protesto, respectivamente. Por isso, os grandes banqueiros, a Bolsa, e, dentro de certos limites, a consciência coletiva e a cultura geral da nação são partes da Constituição. Em sequência, Lassalle observa que a pequena burguesia e a classe operária são partes da Constituição, pois que, se o governo tentasse privá-las das suas liberdades políticas, ele poderia fazê-lo, mas, se também lhes tirasse a liberdade pessoal, transformando o trabalhador em escravo ou servo, não mais teria êxito, porquanto, nesses casos extremos, a pequena burguesia se juntaria ao povo e sua resistência seria invencível. Em casos desesperados, o povo é parte da Constituição. Assim, Lassalle completa a tarefa de mostrar em síntese, em essência, a Constituição de um país: a soma dos fatores reais de poder que o regem.
Em seguida, relaciona esse conceito de Constituição com a Constituição jurídica, para afirmar que se juntassem esses fatores reais do poder e os escrevessem numa folha de papel, deixam de ser simples fatores reais de poder e passam a ser verdadeiro direito, nas instituições jurídicas, e quem atentar contra eles atenta contra a lei.
Noutro degrau, ressalta que não aparece expressão escrita na Constituição que os banqueiros, os industriais, a nobreza, o povo, são fragmentos dela. Isso se faz decretando uma lei, na qual será dividida a nação em 3 grupos eleitorais, de acordo com os impostos por eles pagos, o que obviamente estarão de acordo com as posses de cada eleitor, como ocorre no sistema eleitoral das três classes. Destarte, nesse sistema, nos destinos políticos do país, o capitalista terá uma influência 17 vezes maior que um cidadão sem recursos.
Argumenta que, se o governo quer que um punhado de grandes proprietários da aristocracia reúna tanto poder como os eleitores das três classes reunidas, o legislador o fará expressando na Constituição: ‘os representantes da grande propriedade sobre o solo, que o forem por tradição, e mais alguns outros elementos secundários, formarão a Câmara Senhorial, um Senado, com atribuições para aprovar ou não os acordos feitos pela Câmara dos deputados eleitos pela Nação, que não terão valor legal se os mesmos forem rejeitados pelo Senado’, contrabalançando a vontade de um grupo de velhos proprietários com a vontade nacional e de todas as classes que a compõe, por muito unânime que seja essa vontade. E, na hipótese de se conceder ao rei mais poder político que às três classes de eleitores reunidas, não será necessário mais que reconhecer a atribuição de preencher todos os postos vagos do Exército, o qual ficará à margem da Constituição e fora da sua jurisdição, mas sob sujeição pessoal do rei. Disso resultará que o rei conseguiu reunir um poder muito superior ao que goza a Nação inteira. Assim o seria porque o poder político do rei, o Exército, está organizado, enquanto o poder que advém da Nação está desorganizado e sem canhões.
A partir daí, o autor passa a diferenciar a Constituição real e efetiva da Constituição escrita, lembrando que uma Constituição real e efetiva todos os países a possuem, não sendo uma prerrogativa dos tempos modernos, vez que em todas as nações existiram fatores reais de poder. A diferença nos tempos modernos são as constituições escritas nas folhas de papel.
Mas por que ter um país uma Constituição escrita? Responde o autor que isso só pode ter origem no fato de que nos elementos reais do poder imperantes dentro do país se tenha operado uma transformação. Mas como se deram essas transformações? Para responder, o autor relembra os contextos sociais da Constituição Feudal, da Constituição Absolutista, e da Constituição fruto da Revolução Burguesa, a qual resultou do protesto da burguesia no dia 18 de março de 1848, quando os fatores reais do poder estavam com a população burguesa, que governava por meio do príncipe, que deveria seguir a vontade dela. Explica que a Revolução de 1848 demonstrou a necessidade de criar uma nova Constituição escrita, encarregando-se o próprio rei de convocar a Assembleia nacional para elaborá-la.
Entende que em 1848 ficou demonstrado que o poder da Nação é muito superior ao do Exército, mas que entre aquele poder e esse existe uma diferença enorme, pois que esse, apesar da realidade numérica inferior, pode ser mais eficaz, porque mais organizado e disciplinado e, portanto, em melhores condições de enfrentar qualquer ataque, ainda que o poder da Nação, em momentos históricos de grande emoção possa vencê-lo. Todavia, para a Nação se manter no poder, teria sido necessário fazer com que o exército não voltasse a ser o instrumento de força a serviço do rei contra a si. Entretanto, não se fez, porque os reis têm a seu serviço melhores servidores do que o povo.
Como não se transformou o Exército num instrumento da nação, por causa do protesto da burguesia e da maior parte da população. Demonstraram essas que não tinham a menor ideia do que real e efetivamente era uma Constituição,deixaram o Poder executivo ainda capaz de aparecer como soberano ante a nação, o qual mais tarde fez da Constituição escrita um mero pedaço de papel e subjugou a Assembléia Nacional. E ainda que não a anulasse, nenhuma modificação teria a marcha das coisas, pois que o próprio rei proclamou, em 05 de dezembro de 1848, uma Constituição que correspondia, na maior parte, àquela elaborada pelo colégio de constituintes. Contudo, como era contrária aos fatores reais do poder ao dispor do rei, não passava de uma folha de papel, sendo modificada com a célebre lei eleitoral de 1849, que estabeleceu os três grupos de eleitores já expostos anteriormente, com a Câmara sendo instrumento para as reformas mais urgentes na Constituição, a fim de que o rei pudesse jurá-la em 1850, para continuar a ser modificada nos anos posteriores, justamente porque não refletia os fatores reais e efetivos do poder, não havendo porque ser respeitada, tendo em vista sua caducidade.
Como conclusão prática, Lassalle aponta que os problemas constitucionais não são problemas de direito, mas do poder; que a verdadeira Constituição de um país somente tem por base os fatores reais efetivos do poder que o regem; que as Constituições escritas não têm valor nem são duráveis se não exprimem fielmente os fatores do poder que imperam na realidade social; e que, se se quiser oferecer ao país uma Constituição, não se deve se limitar a redigi-la e a assinar sua folha de papel, há que se transformar as forças reais que mandam no país.

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