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Liderança Feminina
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ÍNDICE
A realidade das mulheres no mundo do trabalho .......................................................3
Liderança feminina: seis CEOs apresentam suas ideias sobre o tema ............................7
O sonho grande de ter mais mulheres brasileiras na liderança .................................. 13
O dia a dia de uma engenheira no Exército brasileiro................................................17
A rotina da presidente da Microsoft Brasil ............................................................. 23
O dia a dia da advogada que assessora fusões &aquisições bilionárias ....................... 29
‘Nossas Cidades’: como um projeto da sociedade 
civil pode transformar políticas públicas .............................................................. 34
Do Rio à Amazônia, ela criou uma organização social 
que gera milhares de reais em renda para artesãs brasileiras ................................... 40
Conheça a história da astrofísica brasileira premiada pela Unesco ............................ 45
‘Minha vontade é impactar muita gente’, diz Marcela Trópia, 
que planeja ser a vereadora mais nova de Belo Horizonte ........................................ 49
Do mercado financeiro a uma revolução no terceiro setor ......................................... 53
Na Prática recomenda: livro ‘Faça Acontecer’, de Sheryl Sandberg ............................. 58
L
iderança feminina está em 
pauta. De altas executivas, 
como a diretora do FMI 
Christine Lagarde e a COO 
do Facebook Sheryl Sandberg, a 
profissionais nas mais diversas 
áreas e países, as mulheres 
(e também os homens) estão 
batalhando pela causa no dia a 
dia, discutindo desigualdade de 
gêneros e propondo soluções.
O que está em jogo, no final das 
contas, é simples de explicar: 
igualdade de oportunidades para 
homens e mulheres no mercado 
de trabalho, desde recrutamento e 
seleção até as políticas de promoção 
e crescimento profissional. As formas 
de se atingir esse objetivo, por outro 
lado, não são tão simples assim. 
Mesmo diante desse cenário 
complexo, um número cada vez 
maior de empresas está abrindo 
espaço para discussões sobre 
liderança feminina – e não só 
porque a diversidade é a escolha 
moralmente correta, mas porque 
rende frutos financeiros. Impacta 
no bolso dos acionistas. Segundo 
uma pesquisa de 2015 da 
consultoria McKinsey chamada 
“Diversity Matters”, companhias 
mais diversas em termos de gênero 
têm faturamento até 15% acima da 
média de suas indústrias. 
Ainda há muito pela frente, é 
verdade. Apenas 9% das posições de 
CEOs do mundo são ocupadas por 
mulheres e o gap de gêneros, causado 
por uma série de fatores, ainda é 
significativo em todos os níveis 
hierárquicos. No Brasil, segundo 
o mesmo relatório, as mulheres
representam em média apenas 6% da
equipe de altos executivos.
Conhecer as histórias de mulheres 
que venceram esses desafios é 
uma forma de se inspirar e ganhar 
fôlego para reverter o cenário 
desigual. Este material traz algumas 
dessas histórias, como a trajetória 
da tenente Carolina Reis, primeira 
mulher na Diretoria de Obras de 
Cooperação do Exército brasileiro, 
Paula Bellizia, presidente da 
Microsoft no Brasil que lidera uma 
gigante tecnológica em uma das 
indústrias com menor inclusão 
feminina, e Fernanda Bastos, 
advogada e sócia do escritório 
Souza, Cescon, Barrieu & Flesch, que 
lida no dia a dia com fusões 
e aquisições bilionárias.
“É importante que o líder seja 
um exemplo das atitudes que 
acredita e defende”, resume Paula. 
“Ele precisa manter uma equipe 
diversa, refletindo o mercado no 
qual atuamos para podermos 
entender melhor as demandas dos 
consumidores e clientes e gerar 
criatividade e inovação.” Boa leitura!
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1
Introdução
2
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A realidade das mulheres 
no mundo do trabalho
Em um recente relatório, intitulado “The Future of Jobs”, o Fórum Econômico descreve 
suas previsões sobre como será o 
mercado de trabalho nos próximos 
anos, levando em conta os principais 
componentes sociais, tecnológicos 
e econômicos que atuam sobre 
o mercado global. O documento 
chama atenção para a urgência das 
questões de diversidade e igualdade 
de gênero na força de trabalho, e 
critica o ritmo lento dos avanços 
nessa área.
As chances de uma mulher conseguir uma posição de liderança 
ainda são muito menores que as dos homens (28%) e apenas 9% 
dos CEOs do mundo são do sexo feminino; entenda esses dados 
em um infográfico interativo
33
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A realidade das mulheres 
no mundo do trabalho
“É tempo para uma mudança 
fundamental em relação à questão do 
talento e da diversidade, seja de gênero, 
idade, étnica ou orientação sexual”, 
escrevem os autores. Na última década, 
apenas 3% do gender gap econômico 
global foi fechado. As chances de uma 
mulher conseguir uma posição de 
liderança ainda são muito menores que 
as dos homens (28%) e apenas 9% dos 
CEOs do mundo são do sexo feminino.
Mulheres ainda são minoria em tais 
campos por diversas razões e, se um 
cuidado extra não for aplicado pelas 
empresas na hora de pensar sobre o 
futuro, há um risco de dificultar ainda 
mais o sonho de eliminar o hiato 
profissional entre homens e mulheres. 
No gráfico a seguir, é possível ter 
uma visão mais aprofundada sobre a 
representatividade das mulheres nas 
diversas indústrias e níveis de carreira: 
Clique para abrir gráfico > 
4
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O relatório estima que homens perderão 
cerca de 4 milhões de empregos e 
ganharão outro 1,4 milhão. Quase um 
novo posto para cada três perdidos. No 
caso das mulheres, já subrepresentadas, 
a expectativa é de um novo emprego 
para cada cinco eliminados.
Os autores do documento finalizam 
pedindo atenção especial ao tema 
e sugere uma série de medidas, de 
mecanismos de responsabilidade 
empresarial a programas de 
tratamento e mentoria. E um ponto 
valioso da conclusão é lembrar que 
a responsabilidade não termina 
no escritório. Uma empresa tem a 
oportunidade de impactar sua cadeia 
de valores e tornar-se uma influência 
externa que garanta neutralidade, 
inspira meninas e jovens e desenvolva 
parcerias com a sociedade civil, entre 
outras possibilidades. São ações que 
podem fazer toda a diferença, agora e 
no futuro.
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A realidade das mulheres 
no mundo do trabalho
5
Os homens são o outro sexo, mas não o sexo oposto. 
A paridade de gêneros é uma batalha que nós 
precisamos vencer juntos, porque é uma questão de 
interesse global. 
– Christine Lagarde, diretora do Fundo Monetário
Internacional (FMI)
6
Voltar para o índice
Liderança feminina: seis CEOs 
apresentam suas ideias sobre 
o tema
Em 2014, a Organização das Nações Unidas criou a HeForShe, uma nova 
campanha em prol da igualdade 
de gêneros. O tema é um dos 
Objetivos de Desenvolvimento 
Sustentável, que dão sequência 
aos Objetivos do Milênio.
A atriz Emma Watson, então 
recém-nomeada embaixadora da 
boa vontade da ONU Mulheres, 
foi a escolhida para apresentar a 
campanha, que busca angariar 
o apoio de homens em prol das 
mulheres. Seu delicado discurso em 
Nova York foi muito bem recebido – 
e visto mais de sete milhões de vezes 
no Youtube, na versão original –, 
e o debate ganhou espaço.
Durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, líderes de 
empresas como Twitter, McKinsey e Unilever discutiram o tema 
em um painel mediado por Emma Watson, embaixadora da 
ONU Mulheres
77
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Liderança feminina: seis CEOs 
apresentam suas ideias sobre o tema
Uma das ramificações do HeForShe é 
o projeto IMPACT 10x10x10, em que
10 universidades, 10 chefes de estado
e 10 CEOs de grandes empresas se
comprometem em dar grandes passos
rumo à igualdade de gêneros em seus
respectivos campos até 2020.
Um relatório recente da McKinsey & 
Co., uma das empresas comprometidas, 
diz que a igualdade de gênero pode 
significar um estímulo de até US$ 28 
trilhões na economia mundial até 2025.
No último Fórum Econômico Mundial, 
que aconteceu em janeiro, seis dos dez 
líderes empresariais viajaram a Davos 
para apresentar propostas e avanços 
em um painel moderado por Emma e 
colegas. Confira abaixo os destaques de 
cada um:
McKinsey & Co.
“A igualdade não é apenas um 
tema moral, mas econômico e de 
performance”, disse o CEO Dominic 
Barton. “Nossa missão é atrair, manter 
e desenvolver os melhores talentos e 
também ter um impacto duradouro 
em nossos clientes. E não estamos 
cumprindo essa primeira parte.”
Ele segue dizendo que 41% dos mais 
de 21,000 funcionários da consultoria 
são mulheres, mas elas estão menos 
representadas em cargos de liderança. 
“Não tem como dizer [que está certo] 
enquanto não forem 50%”, disse.
Barton chama de “solavanco” o plano 
que criaram para avançar. “Chegar 
dos 24% atuais aos 40% em cargos de 
liderança sênior, em cinco anos, vai 
exigir muito esforço.”
PricewaterhouseCoopers
“Equipes diversas são equipes mais 
fortes, que fazem decisões melhores, 
e isso está nos dados”, resumiu o 
CEO Dennis Nally. “Quando pessoas 
diferentes lidam com um desafio, a 
solução encontrada é muito mais 
criativa do que seria com apenas 
homens brancos.”
Na PwC, contou, a igualdade de 
gêneros já é uma realidade nos 
cargos de entrada, mas não na 
liderança. “No nível de sócios e 
acima, apenas 20% são mulheres”, 
diz. “É um desafio de negócios: 
não apenas atrair os talentos, mas 
mantê-los.”
8
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Nally aposta na análise de dados 
para descobrir exatamente onde 
devem agir. “Estamos em 157 países 
pelo mundo, e queremos intervir no 
processo de administração das carreiras 
das pessoas”, falou. “Achamos que o 
problema tem a ver com dados e com 
fazer a pergunta na hora certa.”
O empresário concluiu dizendo que, 
em uma pesquisa interna recente com 
jovens funcionários, a PwC constatou 
que esta é uma geração focada em 
atingir um equilíbrio. Homens e 
mulheres não diferem em termos de 
flexibilidade, estilo de trabalho ou como 
querem conduzir suas vidas – não há 
diferenças de gênero nesse sentido.
“Então temos que atrair e manter este 
talento e garantir que o terreno seja 
o mesmo para ambos os gêneros”,
resumiu. “Caso contrário, eles vão buscar
essas oportunidades em outro lugar.”
Schneider Electric
Para Jean-Pascal Tricoire, CEO da gigante 
de energia europeia, “seria estúpido nos 
privarmos de 50% do talento do mundo”.
Em um campo onde pensar diferente é 
chave para o crescimento, ele diz que 
a inovação vem da criatividade, e ecoa 
Nally da PwC. “Uma comunidade mais 
inclusiva e equilibrada é fundamental 
para a inovação”, disse. “Uma sala só 
com homens… É triste.”
Dentre os líderes presentes, o desafio 
de Tricoire era substancial. Quando 
assumiu o posto, apenas 3% dos cargos 
de liderança da Schneider Electric 
eram ocupados por mulheres. Hoje, 
são 20%. “É insuficiente, mas um grande 
progresso.”
Unilever
A abordagem da Unilever, uma das 
maiores empresas do mundo, faz jus ao 
seu tamanho. Como o CEO Paul Polman 
explica, é a ideia de agir não apenas 
dentro da companhia, mas também nas 
áreas em que faz negócios.
“O maior impacto acontece na cadeia 
de valores”, disse. Lá, segundo ele, 
estão cinco milhões de mulheres 
que dependem da Unilever para seu 
sustento – e muita gente que pode ser 
pressionada para entrar nos eixos.
Por isso, a empresa se comprometeu 
com olhar todo e cada tema pelo prisma 
das mulheres. Os ângulos são três: 
Liderança feminina: seis CEOs 
apresentam suas ideias sobre o tema
9
Voltar para o índice
direitos das mulheres (como direito à 
propriedade e à segurança), habilidades 
e oportunidades (como usar marcas e 
redes para criar empregos).
“É usar nossa escala e influência pelas 
mulheres”, resumiu. “Em qualquer 
coisa que avaliamos, elas são melhores 
investimentos.”
Tupperware
Do ponto de vista dos negócios, 
as mulheres são um recurso 
subaproveitado. Investir nelas, 
portanto, significa um enorme 
retorno sobre investimento. É o que 
diz o CEO Rick Goings antes de suscitar 
outra discussão.
“Muito dessa conversa sobre igualdade 
de gênero acontece no mundo 
desenvolvido”, disse. “Entendo a 
questão de quebrar o teto de vidro e é 
maravilhosa, mas a conversa precisa 
avançar para esses outros mercados, 
que têm 85% da população feminina.”
Ele acredita que a próxima era de 
trabalho, pós-automação, será uma 
marcada pelo trabalho autônomo, 
em que soft skills como motivação e 
resiliência serão importantes.
“Hoje, focamos nessa trabalhadora 
autônoma ao oferecer acesso à 
microfinanças, kits de venda gratuitos e 
treinamento”, explicou. “No México e na 
Indonésia, vimos essas mulheres saírem 
da classe baixa para classe média, 
aumentarem a autoestima, se sentirem 
como líderes e se conectarem com 
outras mulheres.”
O impacto não se restringe a elas, 
continua Goings. Companheiros e 
filhos também passam a tratá-las 
com mais respeito.
AccorHotels
Um de apenas dois CEOs compro-
metidos com instituir pagamento 
igualitário até 2020, Sebastien Bazin 
diz que a decisão é polêmica mas veio 
naturalmente. “Tentei achar uma única 
razão para não fazer isso, e ninguém 
deu uma boa.”
“Mas é preciso avaliar o gap, que é 
extremamente diferente entre as 
empresas e segmentos”, disse. A Accor 
Hotels está presente em 92 países e 
emprega cerca de 200,000 pessoas. Aqui, 
a chave e delegar para gerentes de hotel 
implementarem a política em cada uma 
das propriedades.
2. Liderança feminina: seis CEOs
apresentam suas ideias sobre o tema
10
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Outro plano para criar lideranças 
igualitárias é inusitado. O empresário 
criou um comitê “sombra”, formado 
por seis homens e seis mulheres. As 
equipes serão trocadas anualmente e 
terão acesso a todos os documentos 
confidenciais que o CEO tem e lidarão 
com os mesmos desafios e decisões, 
ao mesmo tempo que ele. Antes de 
decidir algo, Bazin vai consultar as 
decisões do comitê.
Por fim, Bazin também tocou no 
assunto maternidade.“Após ter um 
filho, você volta uma pessoa diferente, 
suas prioridades sofreram reajustes, 
você pensou sobre a organização e seu 
papel”, falou. “Você é ainda mais valiosa 
agora e eu quero que você volte.”
Twitter
Único representante do Vale do Silício, 
que lida com frequentes discussões 
sobre baixa representatividade 
feminina, o COO Adam Bain garantiu 
que a mudança começa já em 2016.
Os quadros da empresa verão mais 
diversidade em posições tecnológicas 
e de liderança e, para retirar qualquer 
preconceito inconsciente, as ofertas de 
salário são feitas sem que empregadores 
saibam os nomes do possível funcionário. 
“Queremos que as pessoas que formam 
a empresa reflitam a imensa diversidade 
dos usuários”, resumiu.
Além da revisão frequente de métricas, 
o Twitter também investe em conversar 
diretamente com seus funcionários para 
conseguir insights sobre como melhorara empresa. “Um exemplo é que ouvimos 
de mulheres em posição de liderança 
que elas queriam mais mentorias, então 
começamos um programa”, contou.
Outro veio de uma dificuldade 
enfrentada por novas mães, que 
consideram um desafio amamentar seus 
filhos em viagens de negócios. “Então 
agora há um sistema de remessas global 
em que é possível mandar seu leite 
materno para sua família.”
Clube do livro feminista 
Emma Watson também criou 
recentemente um clube do livro 
virtual, “Our Shared Shelf”, dentro do 
site goodreads.com. A primeira obra 
escolhida por ela foi “My Life on the 
Road”, de Gloria Steinem. O grupo conta 
com quase cem mil inscritos.
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Liderança feminina: seis CEOs 
apresentam suas ideias sobre o tema
11
Histórias inspiradoras
12
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O sonho grande de ter mais 
mulheres brasileiras na liderança
Dar um impulso na carreira de mulheres no Brasil todo, nos mais diversos 
setores. Essa é a ideia por trás da 
startup Impulso Beta, fundada pela 
empreendedora Renata Moraes. 
O projeto surgiu em 2014, quando 
Renata estava terminando o MBA 
no Insper e começou a pensar em 
construir algo que pudesse ajudar 
as mulheres a chegar mais longe 
em suas carreiras. “Estava muito 
inspirada em algumas iniciativas 
e empresas fora do Brasil e 
sentia que havia necessidade de 
ferramentas por parte das 
mulheres e das empresas 
preocupadas com diversidade de 
gênero. Vi que naquele momento 
existia uma real oportunidade, eu 
me sentia preparada e queria muito 
me lançar a esse desafio”, conta.
A empreendedora Renata Moraes, do Impulso Beta, compartilha 
dicas para as mulheres que querem impulsionar suas carreiras e 
chegar ao topo nas empresas
1313
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O sonho grande de ter mais 
mulheres brasileiras na liderança
A oportunidade de mercado, como é 
dito no jargão dos empreendedores, 
estava ali. Nunca se falou tanto sobre 
a importância de ter mais mulheres 
na liderança das empresas. Numa 
linha de raciocínio apoiada por nomes 
como Sheryl Sandberg, do Facebook, e 
Christine Lagarde, do FMI, argumenta-
se que a igualdade de gênero é uma 
questão não só de direitos como também 
de economia – em uma pesquisa recente, 
a McKinsey revelou que a igualdade 
feminina no mundo do trabalho somaria 
novos EUA e China ao PIB global.
“O Brasil ainda é um país com 
muitas desigualdades entre homens 
e mulheres no mercado de trabalho. 
Mesmo as mulheres sendo já maioria 
na universidade e tendo participação 
quase igual no mercado de trabalho, 
são minoria absoluta nas posições 
de liderança de todos os setores”, ela 
explica. Já podemos considerar como 
fato: o problema existe, e precisa ser 
resolvido. Se, por um lado, políticas 
públicas e corporativas são parte da 
solução, Renata também acredita no 
protagonismo feminino e mudança 
de atitude como forma de acelerar a 
carreira de mulheres rumo ao topo. É aí 
que entra a Impulso Beta. 
Ao mesmo tempo, não é como se o 
“comichão” do empreendedorismo 
não estivesse começando a falar alto 
a Renata. Filha de empreendedores e 
formada em Jornalismo pela USP, ela 
não havia se encontrado no ambiente 
das redações. Depois te ter começado a 
carreira na revista de maior circulação 
do país, mudou de área e foi trabalhar 
na Fundação Estudar – na época 
uma empresa de cinco pessoas, onde 
ela fez de tudo um pouco. “Foi na 
Estudar que me descobri, de fato, 
empreendedora. Tive a oportunidade 
de criar vários produtos do zero e me 
sentir empreendendo num ambiente 
protegido”, conta. 
Seu próximo passo foi, de fato, rumo 
ao empreendedorismo, criando a 
ImpulsoBeta. “Nossa missão é contribuir 
para que as mulheres atinjam seus 
objetivos profissionais e impulsionar 
negócios por meio do talento feminino. 
Acreditamos que a igualdade de gênero 
no mercado de trabalho é bom para as 
mulheres, as famílias, as empresas e a 
sociedade com um todo”, ela explica. 
Atualmente, a empresa aposta em 
cursos e workshops presenciais e online 
voltados para mulheres que querem 
acelerar suas carreiras, além de uma 
14
Voltar para o índice
plataforma online de liderança feminina 
lançada em 8 de março.
A seguir, Renata compartilha com 
exclusividade dicas para as mulheres 
que querem impulsionar suas carreiras 
rumo à liderança. Confira:
1. Rompa crenças limitantes de que 
realização pessoal e profissional só 
podem andar juntas se reduzirem 
suas ambições de carreira. 
2. Escolha bons parceiros para a vida: 
se for se casar, certifique-se que 
a pessoa torce pelo seu sucesso e 
valoriza tanto sua carreira quando a 
sua própria.
3. Escolha uma empresa que acredita 
em mulheres: as mudanças no 
mercado ainda são lentas, mas 
há empresas comprometidas em 
encontrar soluções para incluir 
mulheres e outras que estão 
satisfeitas com o status quo. Para 
as empreendedoras, isso pode ser 
aplicado em relação aos clientes.
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O sonho grande de ter mais 
mulheres brasileiras na liderança
4. Não espere que seu trabalho fale por 
você. Sim, você tem que trabalhar 
duro. Mas tem que saber promover 
suas realizações, buscar visibilidade 
e construir relacionamentos que 
abram oportunidades. Ninguém fará 
isso por você.
15
Nós chamamos meninas de ‘mandonas’, mas 
não fazemos o mesmo com meninos porque já é 
esperado que eles liderem. O que acontece então 
é que quando as mulheres fazem coisas que as 
tornam líderes, não gostamos delas e portanto 
não as promovemos.
– Sheryl Sandberg, COO do Facebook
16
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O dia a dia de uma engenheira 
no Exército brasileiro
Carolina Reis sempre gostou de visitar obras. Quando era pequena, ia acompanhada 
pelo pai, engenheiro militar que 
adorava lhe ensinar matemática. 
Hoje tenente moderna – que, 
no linguajar militar, quer dizer 
recente – na Diretoria de Obras de 
Cooperação do Exército e também 
engenheira, segue a tradição.
A opção pela carreira veio cedo. 
Na oitava série, incentivada pela 
família, Carolina prestou concurso 
para o Colégio Militar do Rio de 
Janeiro. Passou em quarto lugar e 
decidiu ali, em meio às formaturas 
cerimoniais, que queria ser militar 
também. “O companheirismo do 
Exército é diferente. O oficial tira algo 
da própria farda para colocar na sua, 
por exemplo”, diz.
“Qualquer posto pode ser alcançado por qualquer mulher que 
achar que pode”, diz a tenente moderna Carolina Reis. Ela é a 
primeira mulher a chegar na Diretoria de Obras de Cooperação, 
que superintende a execução de obras e serviços de engenharia 
por órgãos militares
1717
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O dia a dia de uma engenheira 
no Exército brasileiro
Estudiosa, também gostava do currículo 
aprofundado. Decidiu estende-lo 
ao estudar no Instituto Militar de 
Engenharia (IME), onde entrou em 
2008. A instituição, que fica na capital 
carioca, é a mesma que formou seu 
pai, que possui seu nome gravado no 
salão nobre do lugar. “O IME permite 
que uma mulher tenha uma carreira 
militar completa, até alcançar o posto 
de general”, resume ela, que é a primeira 
mulher engenheira a chegar na Diretoria 
de Obras de Cooperação.
Representadas 
A história é resultado de uma série 
de conquistas recentes na luta pela 
igualdade de gêneros. As brasileiras do 
Exército, que somam mais de 22 mil, 
representam cerca de 6% da força total. É 
um número baixo, mas crescente desde 
2012, quandoa então presidente Dilma 
Rousseff sancionou uma lei permitindo 
que vagas em áreas combatentes fossem 
abertas também para elas.
A primeira mulher a integrar o Exército 
só foi oficialmente reconhecida pela 
organização mais de um século depois. 
Maria Quitéria de Jesus Medeiros, ou 
soldado Medeiros, pertencia ao Batalhão 
de Voluntários do Imperador e lutou pela 
Independência do Brasil em 1822.
Famosa entre os pares, foi condecorada 
por Dom Pedro I como Cavaleiro da 
Imperial Ordem do Cruzeiro depois da 
guerra – e aproveitou para pedir que ele 
escrevesse uma carta para seu pai, a 
quem havia desobedecido ao se alistar. 
Em 1996, ela ganhou o título de Patrono 
do Quadro Complementar de Oficiais 
e hoje tem seu retrato em todos os 
quarteis do país.
As primeiras integrantes oficiais mesmo 
vieram em 1943, na Segunda Guerra 
Mundial. Eram enfermeiras e voluntárias. 
Meio século depois, em 1992, a Escola 
de Administração do Exército, na Bahia, 
teve sua primeira turma feminina 
matriculada – até então, as poucas 
mulheres presentes atuavam em 
cargos majoritariamente administrativos 
e de saúde.
Ainda nos anos 1990, seguiram-se 
outras opções de serviço na área de 
saúde, como médicas e dentistas, e na 
área técnica, que inclui profissionais 
diversas como advogadas, psicólogas, 
professoras e jornalistas. A Aeronáutica, 
que tem a maior parte das militares 
ativas e 36 aviadoras, abriu suas portas 
em 1995, assim como a Marinha. O 
18
Voltar para o índice
próprio IME passou a admitir mulheres 
(e, consequentemente, engenheiras 
militares) apenas em 1997.
Finalmente, no início de 2016, a Força 
Terrestre divulgou seu primeiro edital para 
ingressantes do sexo feminino na área 
bélica – leia-se: combatentes. As primeiras 
quarenta oficiais vão passar pela 
tradicional Academia Militar das Agulhas 
Negras (AMAN), entre outros espaços, e 
devem concluir seus estudos em 2021.
Como a carreira militar é longeva 
e baseada em tempo de serviço, se 
alguma delas for se tornar a primeira 
comandante brasileira, só ganhará o 
título em idos de 2060.
Igualdade 
Carolina diz que o fato de ser pioneira – 
e precoce, já que a carreira militar 
começa com o título de tenente – não 
lhe afetou na prática. “Sempre ouvi que, 
intelectualmente, homens e mulheres 
são iguais. Ponto. Parágrafo. E no serviço 
público você tem a vantagem de prestar 
concurso. Após chegar no posto, ninguém 
pode te tirar.” Inclusive, quando chegou à 
Diretoria de Obras de Cooperação (DOC), 
não sabia que era a primeira mulher a 
ocupar um posto no órgão. 
O dia a dia de uma engenheira 
no Exército brasileiro
A boa recepção dos colegas, baseada 
também nas condições de igualdade e 
mérito reforçadas pela própria estrutura 
do Exército, fortalece sua ideia de que 
não tolher as ambições femininas é 
fundamental. “Qualquer posto pode 
ser alcançado por qualquer mulher 
que achar que pode”, diz. “A grande 
responsabilidade das mulheres é fazer 
jus ao posto quando chegar nele.”
Ela destaca que os mesmos valores do 
Exército que a atraíram desde a escola – 
contribuir para o desenvolvimento do 
Brasil, crescimento meritocrático e 
vontade de fazer grande – também a 
fizeram se identificar com a Fundação 
Estudar, da qual é bolsista.
Da rotina de universitária militar, 
que envolve tirar serviço armado e 
treinamento físico, ela também tirou 
lições que mantém. “Lá, você precisa se 
superar e descobre que é muito mais 
capaz do que imaginava. Não ando por aí 
escalando paredes, mas sei que posso”, 
diz. “Foi muito mais que apenas uma 
excelente formação em engenharia.”
Pelo Brasil 
Hoje em Brasília, ela ajuda a controlar 
as obras (cerca de 20) dos batalhões 
19
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de Engenharia de Construção (são 
11). Participa do controle de gestão e 
acompanha planejamentos e controles 
financeiros destes empreendimentos – 
que diferem das empresas tradicionais, 
por exemplo, no fato de que não se cobra 
mão de obra e não se lucra.
Carolina se formou-se em engenharia 
de fortificação e construção em 2012. Para 
quem nunca ouviu o termo, ela explica: 
“É basicamente engenharia civil, que 
ganhou esse nome quando começou a 
ser ensinada também aos não-militares”. 
O IME possui um dos melhores (e mais 
concorridos) cursos do país na área e lá, 
além do currículo básico, os engenheiros 
estudam também temas específicos do 
universo militar, como paióis e explosivos.
Durante a graduação, Carolina também 
participou da empresa junior e desenvolveu 
projetos de pesquisa. Para ela, a própria 
natureza de sua engenharia é coletiva, já 
que envolve liderar equipes expressivas em 
obras de grande escala, e ensinou muito 
sobre trabalho em time e relacionamento 
com pessoas – habilidades que ela aplica 
diariamente no trabalho em campo.
Já diplomada, mudou-se para Santa 
Catarina, onde fica o 10º Batalhão de 
Engenharia de Construção. Lá, trabalhou 
na rodovia Caminhos da Neve, obra 
que, quando concluída, ajudaria no 
escoamento da produção de maçãs 
local, a maior do país. “Cerca de trinta 
por cento das maçãs eram perdidas pelo 
chacoalhar dos caminhões e só aquela 
obra evitaria a perda de alimentos, 
de produção de trabalho”, diz. O 
sentimento de que está construindo algo 
duradouro para o país está por trás de 
sua motivação. “Gosto muito de saber 
que o que estou executando se reflete 
diretamente para a nação.”
A vida de transferências pelo território 
nacional a levou também à Amazônia, 
local de enormes obstáculos (e 
aprendizados) logísticos. “A Amazônia 
é um lugar que todo brasileiro deveria 
conhecer”, diz. Em muitos rincões 
brasileiros, especialmente no Norte, 
onde ficam quatro dos 11 batalhões, a 
presença do Exército é muito mais 
forte. “É importante saber dessa 
realidade do Brasil.”
Atenção constante 
O dia a dia de uma engenheira militar 
é diferente da colega civil em uma área 
crucial: militares estão constantemente 
em treinamento. “Por que quem é 
O dia a dia de uma engenheira 
no Exército brasileiro
20
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combatente faz simulações de guerra e 
quem é engenheiro precisa estar sempre 
adestrado?”, pergunta ela. “Porque se 
algum dia enfrentarmos uma guerra e 
uma ponte for destruída, por exemplo, 
precisamos ser capazes de reconstruí-
la. As obras são importantes para nos 
mantermos atualizados.”
Pode parecer uma possibilidade 
distante (felizmente), mas é real no 
quartel e envolve conhecer a fundo as 
particularidade do país. Quais são as 
dificuldades e facilidades envolvidas na 
construção de uma rodovia em época de 
chuvas no Norte, por exemplo? Ou como 
lidar com as baixas temperaturas no Sul, 
capazes de fazer uma máquina congelar? 
Carolina precisa saber.
Como uma situação pode surgir a 
qualquer momento, a tenente, que quer 
ascender na carreira, está sempre a 
postos. “Isso influencia todos os aspectos 
das nossas vidas ao exigir uma postura 
coerente e capacidade de dar exemplo 
para exercer a liderança de fato”, diz. “Se 
alguém me ligar, preciso colocar a farda e 
ir trabalhar.”
O dia a dia de uma engenheira 
no Exército brasileiro
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21
Se você investir em uma menina ou mulher, está 
investindo em todas as outras pessoas porque 
ela frequentemente é o centro da família. Se 
não fizermos isso, não liberamos esse potencial 
do que é possível fazer para toda uma família, 
comunidade ou sociedade.
– Melinda Gates, co-presidenteda Fundação Bill 
e Melinda Gates
22
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A rotina da presidente 
da Microsoft Brasil
Quando coloco meu iPhone e meu Windows Phone na mesa, a reunião para”, 
brinca Paula Bellizia, 
presidente da Microsoft Brasil há 
um ano. É também uma mensagem 
sobre “a nova Microsoft”, que hoje 
se vê como um meio e não como 
um fim. 
Ela explica: não se trata mais de 
colocar um PC em cada mesa e 
democratizar a tecnologia – a 
primeira intenção da empresa, 
quando ainda crescia dentro de 
uma garagem –, mas de empoderar 
pessoas e organizações a fazer mais 
com a tecnologia.
Uma das poucas mulheres no topo da indústria tecnológica, a 
executiva Paula Bellizia fala sobre carreira, diversidade e as 
prioridades da empresa no país; “Programação é habilidade 
básica para fazer parte da força de trabalho do século 21”
“
2323
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A rotina da presidente 
da Microsoft Brasil
Ter um leque muito mais amplo que 
nos dias de startup ajuda. Além de 
software e hardware (que hoje incluem 
tablets e celulares), a Microsoft hoje 
oferece videogames, soluções para 
negócios, servidores, ferramentas de 
desenvolvimento e serviços de nuvem, 
entre outros. Em 2015, faturou cerca de 
US$ 93,5 bilhões.
Essa nova missão corporativa, que vem 
tomando forma nos últimos anos, foi 
parte do que fez Paula aceitar o cargo. “A 
empresa está abrindo sua plataforma e 
era o momento de viver a transição”, diz, 
destacando o uso crescente de open source.
Formada em Computação e Ciência da 
Computação na Unesp, Paula fez pós-
graduação em Marketing na ESPM e 
MBA na FIA/USP. Começou trabalhando 
na área de Marketing da Whirlpool, 
onde ficou por sete anos. Em seguida, 
foi gerente de grupo de produtos na 
Telefônica por dois anos antes de se 
juntar à Microsoft.
Ocupou os postos de gerente de vendas 
para pequenas e médias empresas e 
diretora de marketing e operações, e 
saiu com uma década de casa. Após um 
breve período no Facebook, assumiu a 
presidência da Apple no Brasil e ocupou 
a cadeira por outros dois anos.
Planejava um período sabático quando 
recebeu o convite da Microsoft, com 
quem sempre manteve uma política 
de portas abertas. “Um dia, recebi uma 
ligação e me disseram: ‘Vem ser a líder 
no Brasil’. Não dormi!”, ri.
Juventude 
Dentro do campo de responsabilidade 
social, os principais focos de Paula no 
Brasil são os setores de educação e 
empreendedorismo, que têm grande 
potencial de impacto e podem melhorar 
cenários em grande escala.
De projetos de apoio à qualidade do ensino 
e acesso facilitado a tecnologias nas escolas 
públicas às incubadoras e competições de 
startups como a Imagine Cup, a ideia da 
Microsoft é ajudar a juventude brasileira a 
se desenvolver usando as plataformas da 
empresa – e assim se consolidar cada vez 
mais no mercado.
Ela também aponta que a maior parte 
dos empreendedores do país é jovem 
e que cerca de 60% dos universitários 
brasileiros querem ter seus próprios 
negócios no futuro.
24
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Ou seja, não vão faltar clientes em busca 
das ferramentas tecnológicas corretas no 
futuro próximo.
Em código 
Num mundo cada vez mais tecnológico, 
faz todo sentido propagar a importância 
da programação. Mais que importante, 
ela se torna na verdade fundamental. De 
acordo com empregadores como Paula, 
programar já é uma habilidade básica da 
força de trabalho atual.
A presidente conta que sua filha, de 8 
anos, já demonstrou entusiasmo pela 
linguagem. Faz bem. “As instituições 
de ensino estão à frente de um grande 
desafio, que é formar jovens com 
competências específicas para o século 
21”, diz. “E aprender a programar permite 
que os usuários se tornem criadores e 
desenvolvedores de tecnologia, além 
de acelerar o desenvolvimento de suas 
carreiras. É uma grande oportunidade 
para os jovens.”
Fazer uso inteligente de tecnologia em 
salas de aula, como incluir programação 
na grade curricular, também pode 
preencher lacunas educacionais e 
potencializar cada vez mais os alunos.
“A linguagem de programação, por 
exemplo, contribui para desenvolver em 
crianças e jovens o raciocínio lógico e a 
habilidade para resolver problemas, uma 
vez que exercita capacidades cognitivas 
básicas para enfrentar a realidade 
complexa que os rodeia.”
Liderança 
Para Paula, a capacidade de solucionar 
problemas lógicos é característica 
essencial de um bom líder, assim como 
criatividade, boa comunicação, abertura, 
foco no resultado e pensamento crítico.
E como é impossível acertar o 
tempo todo, aprender com os erros 
é fundamental. “Na Microsoft, nossa 
cultura é fundamentada na mentalidade 
de crescimento, que é a crença de que 
você pode aprender sempre”, resume. 
“Para isso, é necessário assumir riscos e 
mover rapidamente quando cometemos 
erros, reconhecendo que as falhas 
acontecem na jornada para a excelência.”
Ela garante que não faltaram erros 
e deslizes em sua própria trajetória. 
“Aprendi que as chances de dar certo 
com só um número, uma meta ou um 
jeito de engajar as pessoas são muito 
A rotina da presidente 
da Microsoft Brasil
25
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pequenas, porque as pessoas pensam: 
‘ah, a meta é só dela’”, exemplifica. O que 
muda é como se encara, e o que se tira, 
de cada situação.
No dia a dia, Paula opta por uma 
rotina intensa e estima que passa 
cerca de 70% de seu tempo fora 
do escritório. Também é adepta do 
home office e da flexibilidade, que lhe 
permitem passar tempo com os filhos – 
e incentiva sua equipe a fazer o mesmo, 
desde que estejam online no Skype às 
17h. “Acho que temos que rasgar os 
modelos tradicionais e estou tentando 
fazer isso, de colocar as cadeiras em 
círculos a analisar, caso a caso, os 
trajes de trabalho.”
A mentalidade aberta às mudanças se 
estende para todas as áreas. Para se 
manter à frente de uma indústria tão 
competitiva e disruptiva, é essencial 
buscar novas maneiras de pensar e 
produzir. A ideia principal, esclarece, é 
quem não faz gol leva um.
“As mudanças não só técnicas, mas 
conceituais, estão cada vez mais 
dinâmicas, e quem se prende a uma 
forma de pensar e trabalhar perde 
oportunidades”, explica. “Estar aberto 
para crescer e aprender constantemente 
é, para mim, a forma de se adaptar a esta 
nova realidade.”
Diversidade 
Ter uma presidente mulher significa, 
na maior parte do tempo, colocar o 
tema da diversidade em pauta. Num 
mercado mundial onde as mulheres 
ainda ocupam apenas 9% das posições 
de liderança, há uma pressão crescente 
para aprimorar esse quadro.
“É importante que o líder seja um 
exemplo das atitudes que acredita e 
defende”, diz Paula. “Um líder precisa 
manter uma equipe diversa, e me refiro 
a experiência, gênero, perfil e idade, 
refletindo o mercado no qual atuamos 
para podermos entender melhor as 
demandas dos consumidores e clientes e 
gerar criatividade e inovação.”
Em um país em que 50% das pessoas 
são mulheres e 53% se identificam 
como pardos ou negros, ela quer ver 
este espelhamento dentro da 
corporação. “Se você não tem essas 
pessoas representadas, não vai atendê-
las bem”, fala. Para garantir que o 
quadro mude, já instituiu políticas 
novas no processo de recrutamento, 
A rotina da presidente 
da Microsoft Brasil
26
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como exigir que haja um homem e 
uma mulher entre dois finalistas.
Além disso, a Microsoft gerencia 
programas voltados especificamente paramulheres. Uma campanha de março, 
#MeninasPodemProgramar, buscou 
ensinar o básico da linguagem a jovens 
brasileiras com idades entre 13 e 29 anos.
É uma das maneiras que Paula e sua 
equipe encontram para tentar engajá-
las com a profissão e assim incentivar 
o crescimento da presença feminina
na chamada família STEM, que inclui
ciência, tecnologia, engenharia e
matemática e onde o gap entre os dois
sexos é grande.
“Só quero que a gente traga 
oportunidades iguais”, resume.
Carreiras 
Hoje com seu nome na porta mais 
importante do prédio, Paula diz que 
sonhou com o cargo pela primeira vez 
há muitos anos – e que não poderia 
ter chegado lá sem a ajuda de outros 
líderes, como a diretora que a promoveu 
quando ela estava grávida de sete meses. 
“Você encontra muita gente que pode 
transformar sua vida”, diz. Compartilhe esse material com seus amigos
A rotina da presidente 
da Microsoft Brasil
A diversidade de experiências, seja 
dentro de uma própria empresa ou em 
várias, é para ela, fonte importante de 
crescimento. “Não existem duas culturas 
iguais, mas há aprendizados em todas”, 
fala. “Isso contribuiu muito para minha 
visão de mundo e amadurecimento 
profissional. No mundo da tecnologia, 
a inovação é palavra de ordem e ela é 
impulsionada pela diversidade.”
Aos jovens, ela aconselha: assuma riscos 
e mergulhe de cabeça nas experiências, 
seja numa empresa, órgão público, ONG 
ou em seu próprio negócio. Se você 
mantiver a cabeça aberta, o aprendizado 
é uma consequência natural. E tome suas 
próprias decisões. “Sua carreira é 100% 
sua. Não diga depois que não cresceu 
porque a empresa não deixou”, resume.
Seja comentando sobre novas 
iniciativas educacionais, Big Data ou 
reconhecimento de íris, Paula sabe 
que ocupa um lugar privilegiado na 
revolução tecnológica.
Entusiasmada, ela sintetiza: “O futuro 
é demais”.
27
As mulheres realizam dois terços do trabalho 
mundial, mas ganham somente 10% da renda. 
Elas precisam de oportunidades, treinamento 
e suporte para tirarem o máximo dessas 
oportunidades. E quando uma mulher tem a 
possibilidade de alcançar seus sonhos, tudo 
é possível.
– Beatriz Perez, CSO da Coca-Cola Company
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O dia a dia da advogada 
que assessora fusões & 
aquisições bilionárias
As vezes, operações bilionárias não podem esperar. “Se o cliente precisar 
de mim no fim de semana, eu vou. 
É como se fosse segunda e terça”, 
explica a advogada Fernanda Bastos, 
sócia do escritório Souza, Cescon, 
Barrieu & Flesch. Há mais de vinte 
anos em Fusões & Aquisições, ela 
estima ter atuado em 150 operações 
e resume o perfil profissional da área 
em poucas palavras: “Tem que ter 
muita garra”. 
Com 20 anos de experiência, Fernanda Bastos comanda as 
operações do escritório Souza Cescon e está constantemente 
se atualizando; “Não se trata apenas de aplicar o direito, 
mas aplicá-lo dentro de um pensamento econômico”, diz
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O dia a dia da advogada que assessora 
fusões & aquisições bilionárias
O ritmo pesado, noites longas, prazos 
urgentes e grandes valores envolvidos 
diariamente fazem parte da rotina – e 
Fernanda adora. “Quando escolhi o 
Direito, eu queria ser juíza”, lembra ela, 
que é bolsista da Fundação Estudar e 
graduou-se na Universidade Estadual do 
Rio de Janeiro (UERJ). “Só que no quinto 
período estagiei em direito societário e 
não quis mais saber de concurso.”
A área de Fusões & Aquisições, também 
conhecida como M&A, de Mergers 
& Acquisitions, faz parte do guarda-
chuva de direito societário. De maneira 
resumida, uma fusão é uma operação 
societária em que duas ou mais 
sociedades comerciais se unem em uma 
só, enquanto uma aquisição é a compra 
de um negócio ou empresa por outra 
empresa ou entidade comercial.
Ambas são muito frequentes no Brasil 
e seguem uma série de regras. “Pode ser 
mineração, telecomunicações, óleo e 
gás… É preciso entender um pouco de 
cada um desses negócios para poder 
formatar uma operação perante os 
órgãos de controle”, explica ela, que 
trabalha com o setor energético na 
maior parte do tempo. “Sempre temos a 
assistência de advogados especialistas, 
mas é bom ter uma noção.”
A variedade de temas é uma das coisas 
que mais lhe atrai e garante um dia a 
dia dinâmico. Na semana da entrevista, 
Fernanda tinha recém-concluído 
uma operação com uma empresa 
farmacêutica e já estava preparando um 
outro processo que seria regulado pelo 
Banco Central.
O trabalho começa muito antes dos 
contratos, explica Fernanda sobre o 
dia a dia no escritório Souza Cescon – 
que inclusive estará recrutando jovens 
advogados na conferência de carreiras 
Ene Jurídica, promovida pelo Na Prática. 
“Há auditoria da empresa, falamos dos 
problemas que ela tem, quais são suas 
restrições operacionais – às vezes é 
algo regulatório, como um estrangeiro 
que queira adquirir controle de uma 
empresa de aviação brasileira”, diz. 
Depois de conhecer a estrutura, ela passa 
a acomodar as restrições em acordo com 
ambas as partes.
Às vezes leva tempo. O processo mais 
longo que Fernanda comandou, a 
aquisição da Niely Cosméticos pela 
L’oréal, durou três anos. “Quando 
chegamos na empresa, era um negócio 
familiar: sem contas auditadas, sem 
organização jurídica de documentos, 
sem avaliação profissional”, lembra. 
30
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“Precisamos preparar a empresa e 
guiá-la por todo o processo.” Depois de 
assinados os contratos, o escritório 
ainda passou seis meses cumprindo 
as condições de transferência.
Mercado internacional 
A advogada estima que 80% de suas 
operações envolvam alguma parte 
internacional. Interessada em saber 
mais, decidiu fazer um mestrado na 
Columbia University, em Nova York, 
em 2006. Era seu segundo diploma do 
tipo. (O primeiro, em Direito Societário, 
foi obtido no IBMEC.)
“Quando escolhi Columbia, um LLM 
[mestrado específico da área] ainda 
representava um grande diferencial”, 
lembra. Além de ser mais bem vista 
pelos clientes, que encaravam o diploma 
como um selo de aprovação, Fernanda 
foi tão visada pelos grandes escritórios 
brasileiros que desistiu de passar um 
tempo nos EUA. Voltou como advogada 
sênior e tornou-se sócia em 2011.
“Também aprendi como funciona a 
lei americana, então quando trabalho 
com estrangeiros consigo traçar 
paralelos entre as leis e mostrar quais 
são as diferenças”, exemplifica. “É uma 
comparação que os ajuda muito a 
entender as coisas no Brasil.”
O aspecto mais business da área de 
Fusões & Aquisições é outra coisa que 
ela destaca. “Não se trata apenas de 
aplicar o direito, mas aplicá-lo dentro de 
um pensamento econômico”, diz. Não 
raro seus clientes pedem que ela comece 
se envolvendo bem antes dos contratos 
finais, ainda no começo das negociações.
“Em geral a dupla de empresas já vem 
formada, mas há alguns processos, como 
processos competitivos para venda, 
em que a empresa nos contrata para 
analisar as diversas propostas de compra 
oferecidas e ajudá-la a ver o impacto das 
condições em relação aos preços que ela 
quer”, diz.
A avaliação feita por Fernanda e sua 
equipe de nove pessoas inclui análise das 
cláusulas e dos riscos envolvidos. “Preciso 
entender bem as atividades para ver se o 
contrato está adequado para o dia a dia 
da empresa”, diz. “A indenização cobre 
isso ou aquilo, por exemplo? As cláusulas 
são formatadas para complementar a 
avaliação econômica que o cliente deu.”
O dia a dia da advogadaque assessora 
fusões & aquisições bilionárias
31
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Equilíbrio Como sócia, Fernanda tem 
uma série de outras responsabilidades 
administrativas, como controle de 
faturamento e de metas. Também tem 
obrigações de gestão. “A parte mais 
difícil de se tornar um advogado sênior 
é gerir pessoas”, diz. “Conseguimos ser 
treinados juridicamente, mas é um 
negócio de pessoas e tenho que 
deixá-las motivas, interessadas, 
disciplinadas. É fundamental.”
Para quem se interessa por uma carreira 
em Fusões & Aquisições, diz ela, é preciso 
ter qualidade jurídica – mas não só 
isso. Persistência perante os obstáculos, 
capacidade de comunicar-se claramente 
e lidar com partes diferentes também 
são importantes, além de muita energia.
Mãe de gêmeas pequenas, Fernanda 
precisou mudar um pouco sua rotina 
para cuidar delas. Ao invés de trabalhar 
quatorze horas por dia do escritório, 
conta, sai às 19h e encara o home 
office noite adentro quando as crianças 
dormem. “Não tem uma jornada porque 
o trabalho só acaba quando termina”, ri.
O dia a dia da advogada que assessora 
fusões & aquisições bilionárias
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32
Acredito que nunca houve uma compreensão 
tão ampla de que as mulheres devem ser 
participantes igualitárias nos nossos lares, nas 
nossas sociedades, em nossos governos e em 
todos outros lugares, e sabemos que o mundo está 
sendo refreado em todos os sentidos porque elas 
ainda não o são. 
– Emma Watson, atriz e embaixadora da ONU Mulheres
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‘Nossas Cidades’: como um 
projeto da sociedade civil pode 
transformar políticas públicas
Em 2007, o Rio de Janeiro oficializou sua candidatura para ser sede dos Jogos 
Olímpicos e Paraolímpicos de 
2016. O projeto enviado ao Comitê 
Olímpico Internacional – os pré-
requisitos do COI são famosos 
pela minúcia e preenchem 
milhares de páginas – previa 
obras de transporte público e 
infraestrutura em quatro regiões, 
que seriam um legado para a 
população após o evento.
A beleza natural, o bom momento 
econômico brasileiro e o fato de 
que a cidade seria a primeira 
anfitriã da América do Sul foram 
alguns dos motivos que levaram 
o Rio a ganhar de gigantes como
Chicago, Madri e Tóquio.
O ‘Meu Rio’ nasceu há oito anos, quando a capital foi 
anunciada como sede das atuais Olimpíadas; cofundadora 
do projeto, Alessandra Orofino acredita no poder das 
demandas cidadãs para mudar a gestão pública
3434
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‘Nossas Cidades’: como um projeto da sociedade 
civil pode transformar políticas públicas
Em 2008, empolgada com a chance de 
melhorar sua terra natal, Alessandra 
Orofino cofundou a Meu Rio com um 
amigo, Miguel Lago. Ela estava na cidade 
em um ano sabático, enquanto se 
preparava para estudar na Universidade 
Columbia, em Nova York.
“Vimos que o Rio mudaria muito rápido 
e havia uma era de ouro começando, 
com investimentos federais e estaduais”, 
lembra. “Mas como acontece com todo 
processo de mudança urbana, não se 
tem necessariamente o cidadão no 
centro do processo. Se ele não tiver 
oportunidade de entrar na disputa, os 
resultados acabam orientados por outros 
interesses mais bem articulados.”
A ideia tornou-se levar o cidadão 
para a arena de decisões de políticas 
públicas, e os jovens decidiram criar 
uma plataforma que ajudasse a 
fortalecer a cidadania e a expressão 
da vontade popular.
Ao criar uma rede em que pessoas 
pudessem se juntar e que oferecesse 
instrumentos de ação e compreensão 
sobre o processo político, os cidadãos 
poderiam se mobilizar de maneira mais 
eficaz. Era algo novo, numa época em 
que redes sociais e petições online ainda 
não eram tão difundidas.
A dupla ficou quase um ano trabalhando 
sem investimentos. Após o período 
de testes, com uma visão mais clara 
e um modelo sustentável e alinhado, 
começaram a buscar capital.
“Quando começamos, mapeamos os 
contatos na nossa rede e fomos passando 
o chapéu”, ri ela. “A primeira rodada
foi menor. Nós mostramos resultados
e a segunda rodada melhorou. Nunca
usamos editais ou pedimos nada para
os governos.”
As sugestões de temas, que podem 
ser enviadas por qualquer membro 
da comunidade, são revistas por uma 
equipe de cinco pessoas. Entre os 
critérios utilizados estão alinhamento 
com a visão de cidade da organização 
(democrática, justa, aberta) e urgência 
(é um projeto sendo votado naquela 
semana, por exemplo?).
Em seguida, as demandas são levadas 
aos “supervoluntários” e membros mais 
ativos da comunidade, quando possível 
dentro de suas áreas de preferência e 
expertise, como saúde ou transporte. 
35
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Aprovadas, passam a ser alavancadas 
internamente e voltam à rede como 
campanhas de mobilização.
O projeto cresceu – há 200 mil membros 
cadastrados só no Rio – e deu tão certo 
que se espalhou. Em 2011, surgiu a rede 
Nossas Cidades, que inclui também 
Minha Blumenau, Minha Campinas, 
Minha Curitiba, Minha Ouro Preto, Meu 
Recife, Minha Sampa, Minha Garopaba 
e Minha Porto Alegre. Versões em Belém, 
João Pessoa e Oiapoque estão em vias de 
aprovação.
História 
O interesse de Alessandra por gestão 
pública começou no Canadá, quando ela 
tinha 13 anos. Sua mãe foi convidada 
para dar aulas na Universidade McGill, 
em Montreal.
Alessandra aprendeu francês lá, na parte 
francófona do país, e quis continuar 
estudando no idioma. De volta ao Rio, 
matriculou-se numa escola francesa. 
Ao se formar, conta, estudar na França 
pareceu algo natural.
“Eu queria muito estudar ciências 
políticas, porque tinha visto muitas 
diferenças na provisão de serviços 
públicos entre os países”, fala. “Eu queria 
saber por que a nossa é tão deficitária e 
como podemos melhorar.”
Com bolsa do governo francês, começou 
os estudos no famoso instituto Sciences 
Po, em Paris. O currículo, no entanto, 
era muito voltado para a gestão pública 
francesa e desanimou a brasileira. 
Terminou o primeiro ano e voltou ao 
Brasil nas férias de verão, indecisa.
No meio tempo, adquirir experiência 
lhe pareceu a melhor decisão. Estagiou 
no Instituto Promundo, atuando em 
campanhas contra a violência contra a 
mulher e contra a criança, e viajou para a 
Índia, onde trabalhou numa ONG parceira 
pelo fim da desigualdade de gênero.
Foi em Nova Déli que a ideia de estudar 
em Columbia, também muito forte em 
ciências políticas, tomou forma. “Eu 
estava conversando com uma professora 
minha de Paris, que na verdade dava 
aula em Nova York, e ela disse que 
eu deveria aplicar”, lembra. “Como a 
relação institucional é forte entre as 
duas instituições e eu tinha boas notas, 
poderia pedir equivalência.”
‘Nossas Cidades’: como um projeto da sociedade 
civil pode transformar políticas públicas
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Na Índia mesmo, Alessandra se 
preparou para as provas específicas para 
aprovação em universidades americanas, 
como os SATs e o teste de inglês TOEFL. 
Fez todas na embaixada americana da 
cidade e enviou sua application. Passou.
Com a aprovação, vieram outros 
problemas. Além dos custos de vida 
serem bastante altos na cidade, ainda 
havia o preço da universidade, cerca 
de US$ 60 mil por ano. (Na França, a 
Sciences Po era gratuita.)
Para dar um jeito, a carioca adiou a 
matrícula em um ano e voltou ao Rio 
para trabalhar. “Juntei cada centavo”, 
diz. Atuou numa consultoria e traduziu 
de tudo, fosse português, inglês, francês, 
espanhol ou italiano.Ao mesmo tempo 
em que colocava a Meu Rio de pé, 
tornou-se bolsista da Fundação Estudar, 
que pagou parte dos custos.
Crescimento 
Uma vez em Nova York, Alessandra ainda 
tinha uma conta para fechar. Acabou 
conquistando um trabalho tipo dois-em-
um, que lhe ajudou nos custos de ensino 
e lhe ensinou como funcionava uma 
ONG ao mesmo tempo.
‘Nossas Cidades’: como um projeto da sociedade 
civil pode transformar políticas públicas
“Cheguei lá com seis meses de dinheiro 
e corri atrás de um estágio autorizado 
que, ao invés de me pagar um salário, 
pagaria parte da minha tuition”, explica. 
Encontrou a pequena Purpose, onde foi a 
quarta contratada.
A ONG, uma consultoria estratégica que 
tem hoje mais de 100 funcionários, atua 
como incubadora de movimentos sociais 
voltados para a mobilização de pessoas – 
justamente como a Meu Rio.
Em quatro anos de casa, Alessandra 
foi de estagiária à mais jovem 
diretora de estratégia. No dia a 
dia, avaliava o impacto que uma 
iniciativa queria ter e desenhava as 
possibilidades. Que tipos de políticas 
públicas ajudariam a alcançar aquele 
objetivo? Em que lugares? Qual seria 
a melhor abordagem?
Foi uma escola. “A Purpose acabou 
surgindo”, explica. “Às vezes só temos 
que estar abertos e abraçar o que vem.”
De casa 
Formada, voltou ao Rio em 2014 e 
dedica-se ao Nossas Cidades, que tem 33 
funcionários, como diretora executiva.
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“Vivemos de doações, que vem 
basicamente dos membros que 
participam e veem valor nessa proposta”, 
diz ela sobre o modelo de negócios, que 
inclui desenvolvimento de plataformas 
e gastos com a equipe que pesquisa os 
temas e mobiliza a rede. “Já tivemos duas 
mil pessoas doando pequenas quantias.”
Alessandra é a responsável pelo 
relacionamento com grandes doadores e 
representa a organização em palestras e 
eventos. Também está constantemente 
identificando metodologias de mobilização 
e aprimorando as ferramentas da 
organização – e ainda supervisiona a parte 
de operações da instituição, que inclui a 
gestão de pessoas e financeira.
A rotina é puxada, mas ela não liga. 
“A ideia inicial fez jus ao que nós 
imaginávamos”, diz. “Diziam que o jovem 
só quer ir pra praia, mas não é verdade! 
Somos dessa geração e sabemos que o 
jovem quer mudar a cidade. Em 2013, 
uma chave virou e demonstrou que 
estávamos certos: as pessoas querem, 
sim, falar de política.”
Munidos de informação e desenvolvendo 
demandas específicas – ao pensar numa 
clínica de família no bairro e não só na 
saúde como um todo, por exemplo –, 
os brasileiros são capazes de criar 
mobilizações fortes e organizadas, 
que trazem resultados. “É um 
ecossistema amplo, que superou 
as expectativas de todos.”
Realidade
Oito anos depois, as Olimpíadas enfim 
chegaram ao Rio de Janeiro. Pragmáticos, 
os cariocas já pensam num legado 
diferente, que envolva a mitigação de 
problemas e prestação de contas. É a 
chamada ressaca olímpica.
“As pessoas removidas já foram 
removidas, mas para onde? Como 
mudamos as injustiças que surgiram 
pelo caminho?”, exemplifica Alessandra. 
“Vamos manter as mudanças positivas 
e encarar as negativas, sem negar a 
cidadania a ninguém.”
Mesmo com o evento ainda em 
curso, as demandas já se solidificam. 
“A atuação da Meu Rio é contínua”, 
resume Rodrigo Arnaiz, diretor da 
organização. “E algumas pautas 
centrais, como mobilidade urbana, 
sustentabilidade, educação e segurança 
pública, acabam tendo mais destaque 
durante os grandes eventos.”
‘Nossas Cidades’: como um projeto da sociedade 
civil pode transformar políticas públicas
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Entre as atuais campanhas da Meu Rio 
estão a convocação de agentes de apoio 
à educação especial, trazida por mães 
de alunos com deficiência – o concurso 
público da prefeitura foi feito, mas os 
novos agentes nunca foram chamados 
– e a mudança de nome da estação São
Conrado de metrô.
A mobilização é demanda dos moradores 
da Rocinha, que querem que o ponto, 
construído para os Jogos e vizinho à 
comunidade, se chame São Conrado-
Rocinha. “É uma questão de afirmação e 
orgulho territorial”, diz Rodrigo.
Há também a campanha de apoio à CPI 
Olímpica, para investigar contratos entre 
empreiteiras e prefeitura. Após pressão 
popular e uma avalanche de emails 
lideradas pelo Meu Rio, que começou em 
março, cidadãos conseguiram o número 
mínimo de assinaturas de vereadores 
para instalar a CPI.
Quando o presidente da Câmara 
municipal resolveu segurar o pedido, 
a rede pressionou novamente com 
um “telefonaço” para seu gabinete e 
intervenções urbanas, que atraíram 
a mídia. Após duas sessões – na 
segunda, os membros da Meu Rio foram 
impedidos de entrar pelo presidente da 
CPI –, um vereador contrário ao inquérito 
conseguiu uma liminar para impedi-lo. O 
processo está parado desde maio, mas a 
mobilização continua.
“Percebemos que todas as ações feitas 
para impedir a CPI motivaram mais as 
pessoas, que perceberam que existem 
interesses duvidosos por trás desse 
esforço de abafar as investigações”, diz 
Rodrigo. “E é importante lembrar que 
essa é apenas a segunda CPI que vai 
contra os interesses do prefeito e da base 
governista na Câmara que consegue ser 
instalada desde 2012.”
Para Alessandra, o processo inteiro é um 
ciclo virtuoso: cada campanha fortalece 
sua crença de que este é o caminho 
certo. “Nem parei para pensar se fazia 
essa escolha profissional. Tivemos a ideia 
e, quando vimos, estávamos fazendo”, 
fala. “É apaixonante fazer o que você 
ama e ver que milhares de outras 
pessoas também se interessam.”
‘Nossas Cidades’: como um projeto da sociedade 
civil pode transformar políticas públicas
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Do Rio à Amazônia, ela criou 
uma organização social que gera 
milhares de reais em renda para 
artesãs brasileiras
Quando tinha 15 anos, Alice Freitas ficou um ano na Tailândia aprendendo o 
idioma local. 
Questionada sobre a escolha de 
um destino tão fora da caixa, 
ainda mais nos anos 1990, ela se 
surpreende. Não tinha pensado 
nisso antes. “Fui criada numa 
família muito livre, que me deixou 
desenhar minhas próprias ideias, e 
talvez isso tenha me encorajado a 
nunca ter medo do diferente”, diz. 
Um traço que veio a calhar quando 
decidiu tornar-se empreendedora 
social por profissão. “Meu apetite 
para risco é muito alto e para 
empreender você precisa disso.”
Alice Freitas conta o que aprendeu sobre negócios sociais e 
empreendedorismo ao longo de dez anos à frente da Rede Asta 
e com suas viagens pelo mundo; “Não dá para pensar dentro 
da caixa”
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Do Rio à Amazônia, ela criou uma organização 
social que gera milhares de reais em renda para 
artesãs brasileiras
Ao voltar da viagem, interessou-se 
pela carreira diplomática. Dona de 
boas notas, estudou Direito na UFRJ 
e chegou perto de concluir o curso de 
Relações Internacionais na Universidade 
Estácio de Sá. Mudou de rumo quando 
trabalhava em uma multinacional e 
uma amiga lhe propôs uma viagem de 
três meses pela Ásia, com o propósito de 
pesquisar iniciativas sociais.
As duas venderam todas as roupas 
de executiva para bancar as passagens. 
“Visitei uma favela pela primeira vez 
na vida quando fomos fazer o projeto 
da viagem e foi assim que descobri 
o mundo social – não fazia o menor 
sentido eu ter estudado tanto para 
promover bem só para mim mesma”, 
lembra.Uma vez fora do país, passaram 
por Índia, Bangladesh, Tailândia e 
Vietnã. “Fiquei apaixonada por geração 
de renda e decidi que era aquilo que 
queria fazer.”
De volta ao Rio, explorou as 
possibilidades do terceiro setor e passou 
dois anos no grupo cultural Afroreggae. 
No meio tempo, outra amiga, Rachel 
Schettino, teve uma ideia: criar uma 
maneira de vender produtos feitos à mão 
e gerar renda para os produtores.
Investindo dinheiro do próprio bolso, 
começaram a validar o modelo. 
Treinaram e viveram com 30 artesãs 
que confeccionavam artesanato com 
jornal em uma cooperativa de catadores, 
eventualmente conquistando a confiança 
da comunidade.
Depois foram abordadas por outros 
grupos, também interessados nas 
possibilidades d e venda. Para atendê-los, 
acabaram montando a primeira rede de 
venda direta de produtos artesanais do 
Brasil, que batizaram de Rede Asta.
“Depois disso, nunca mais paramos”, 
resume Alice, que ocupa o cargo de 
diretora executiva. Citada como exemplo 
de negócio inclusivo pela ONU, a Rede 
Asta emprega mais 900 artesãs em 
10 estados brasileiros e faturou R$ 2,2 
milhões em 2015 – mais de R$ 900 mil 
em renda gerada para os produtores – 
vendendo roupas e peças de decoração.
Break even 
O caminho não foi uniforme. Nos primeiros 
dias, em 2005, Rachel enchia uma sacola, 
saltava do ônibus em Copacabana e batia 
de porta em porta oferecendo os produtos 
em lojas de decoração. “Começamos 
sacoleiras”, brinca Alice.
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Com um pouco mais de tempo, 
montaram um quiosque no Shopping 
Tijuca. Não tiveram retorno financeiro 
por dois anos. Rachel vendeu o carro 
e as duas faziam pequenos trabalhos, 
ainda acreditando que daria certo. “Era 
muita tentativa e erro mas, para cada 
cinquenta nãos, ganhávamos dois sims 
que superavam tudo em questão de 
alegria”, lembra.
Quando conseguiram investimento, 
contrataram uma consultoria para 
investigar o setor de venda direta, então 
algo novo no país. Muitos dos cenários 
analisados, no entanto, falharam na 
prática. “No papel todo mundo queria ser 
sócio do negócio mas, durante um ano, 
nada daquilo funcionou.”
Foi com Rosane Rosa, a terceira sócia, 
que a organização começou a entrar nos 
eixos em termos de business. Especialista 
em canais de venda e com experiência 
em empresas do varejo, como Ponto Frio 
e Casa e Vídeo, ela se apaixonou pela 
ideia e trouxe sua expertise.
Crescimento 
Hoje o modelo de negócios funciona em 
breakeven e tem receita diversificada, já 
que só a venda dos produtos – 
via e-commerce ou nos dois pontos 
físicos no Rio – não consegue bancar 
todos os projetos.
Além de oferecer para varejo e para 
atacado, que é seu maior foco, a Asta 
ainda capta recursos e vende serviços 
de capacitação para empresas. A Coca-
Cola, por exemplo, pagou para que 
a organização treinasse um grupo a 
utilizar garrafas pet e latinhas na criação 
de artesanato na Amazônia.
“Negócios sociais, no Brasil e no mundo, 
ainda são experimentais, não dá para 
pensar dentro da caixa”, explica Alice, 
lembrando que não há ainda uma 
legislação nacional específica para esse 
tipo de empreitada.
Para que a Asta cresça mais, ela diz 
que um novo modelo de negócios será 
implementado em 2017. A prioridade 
será o público B2B: atualmente, seus 800 
clientes corporativos correspondem a 
56% do faturamento.
“Um empreendedor não faz nada 
sozinho e precisa reunir as pessoas 
certas na hora certa”, resume. “Precisa ter 
Do Rio à Amazônia, ela criou uma organização 
social que gera milhares de reais em renda para 
artesãs brasileiras
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visão de gestão e uma noção de impacto 
social, especialmente em relação à base 
da pirâmide.”
Foi uma lição que ela sentiu na pele, 
lidando com a desconfiança das 
primeiras artesãs no começo da 
história. Ter boas habilidades de 
comunicação também ajuda nessa 
hora. “Quanto maior for sua capacidade 
de contagiar as pessoas, maiores serão 
suas chances.”
Feminismo 
Todos os meses, um grupo produtivo 
diferente faz uma visita às lojas 
físicas, em Ipanema e Laranjeiras, para 
acompanhar o movimento e a recepção 
aos produtos. “A gente se realiza demais, 
porque é muito bom ver que seu trabalho 
impacta não só a sua vida mas também 
as vidas de outras pessoas”, diz.
Construir um negócio social, para ela, 
serve como um legado para a sociedade 
ao realizar pequenas revoluções. Nessa 
linha funciona um dos focos da Rede 
Asta: o empoderamento feminino. 
Mulheres compõe a grande maioria dos 
grupos produtivos do negócio e 90% da 
renda da mulher é investida na família, 
explica Alice.
O efeito cascata de uma iniciativa 
positiva como a geração de renda é 
sentido pelos filhos, pela vizinha e, de 
certa forma, por toda a comunidade.
“O avanço que vejo em relação ao 
feminismo e ao empoderamento da 
mulher é que se começou a falar muito 
sobre isso, algo que não acontecia há 
dez anos”, lembra. “O assunto se tornou 
público e isso é positivo porque faz com 
que a gente consiga fazer o resultado 
acontecer mais rápido.”
Escolhas 
Como um negócio social visa reinvestir 
os lucros em si mesmo, pode ser uma 
escolha profissional inicialmente difícil de 
explicar para pessoas sem familiaridade 
com o tema. “Quando resolvi não ser 
diplomata, minha família não entendeu 
nada e ninguém sabia dizer o que eu 
fazia. ‘Você podia estar em Nova York 
mas está fazendo fuxico de tampinha nas 
favelas!’, me disse minha madrinha”, ri 
Alice, hoje motivo de orgulho da família.
É também uma escolha por um estilo 
de vida. “Não faz sentido ganhar setenta 
vezes mais que aquela pessoa que você 
apoia ganha”, resume. “Optamos por uma 
vida simples e por viver com o suficiente.”
Do Rio à Amazônia, ela criou uma organização 
social que gera milhares de reais em renda para 
artesãs brasileiras
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Do Rio à Amazônia, ela criou uma organização 
social que gera milhares de reais em renda para 
artesãs brasileiras
É algo que ela já passa para a próxima 
geração. Ao ler um livro para o filho de 
três anos, ele apontou uma discrepância: 
as joias preciosas no braço da 
personagem não eram de lixo reciclável. 
“Ele dizia: ‘mamãe, é lixo!’, porque eu 
sempre uso colares de vidro de shampoo 
ou borracha de bicicleta”, diverte-se.
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Conheça a história da astrofísica 
brasileira premiada pela Unesco
Uma descoberta científica vem sempre acompanhada de ansiedade, que deve 
ser domada a todo custo. É preciso 
guardar o grito dentro do si, às 
vezes por meses, até que tudo 
tenha sido checado e rechecado. 
É um mundo de exatidões, que 
não mistura empolgação com 
dados. Basta lembrar dos neutrinos 
recordistas que, no fim, não eram 
mais rápidos que a luz coisa 
nenhuma – um cabo é que estava 
mal conectado.
Ciência é uma carreira para mulheres? “Todas as mulheres têm 
condições de serem boas cientistas”, defende Thaisa Bergmann, 
premiada astrofísica brasileira que atualmente se dedica ao 
estudos de buracos negros
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Conheça a história da astrofísica 
brasileira premiada pela Unesco
A astrofísica Thaisa Bergmann 
experimentou essa mistura de emoções 
em 1991. Ela observava uma galáxia 
quando notou um sinal estranho 
nos dados: gás girando em altíssima 
velocidade. Era a assinatura de um 
buraco negro supermassivo, com a 
massa de bilhões de sois. Seu orientadorpediu que ela refizesse tudo. Estava certa.
Conseguir observar um buraco negro no 
ato da captura de matéria é difícil, e a 
brasileira Thaisa foi a primeira pessoa a 
observar um supermassivo em atividade 
em uma galáxia considerada inativa. A 
descoberta foi recebida mundialmente 
como um avanço. “Quando me dei conta 
do que era, fiquei dias emocionada”, 
conta. “Descobri um evento que acontece 
há cada 10 mil anos numa escala 
humana de tempo.”
Em 2015, para coroar uma carreira 
renomada, vieram louros também de 
fora das ciências. Thaisa ganhou um dos 
cinco prêmios anuais L’Oréal-UNESCO 
For Women in Science, que conta com 
cerimônia na Université Paris-Sorbonne, 
pôsteres espalhados pela avenida 
Champs Elysées e bolsa de US$ 100 mil. 
“Por onde passávamos, enxergávamos 
nossas caras”, ri.
A importância do prêmio, para ela, foi 
além da visibilidade. “Ficamos muito 
felizes em sermos reconhecidas também 
pela população e pelas famílias, que às 
vezes não entendem o que toma tanto 
nosso tempo”, conta. “Essa parte foi bem 
importante para mim, porque eles viram 
que o que eu fazia era importante.”
Raízes do interesse Thaisa sempre 
gostou de ciências, mas chegou a 
cursar um semestre de arquitetura 
antes de se dar conta que não era 
aquilo. Logo estava nas aulas de Física 
da Universidade Federal do Rio Grande 
do Sul (UFRS), onde trabalha e dá aulas 
até hoje, no comando do Grupo de 
Pesquisas em Astrofísica.
A paixão pela astrofísica em particular 
veio pouco depois, em uma iniciação 
científica. “Meu professor me deu 
leituras, começamos a fazer um pequeno 
trabalho na área de astronomia e fui 
gostando cada vez mais”, lembra.
O empurrão final veio da orientadora 
Miriani Griselda Pastoriza, famosa 
astrônoma brasileira. “Ela amava galáxias 
com núcleos ativos, que têm alguma 
característica peculiar no centro”, diz. 
“Fiquei fascinada pelo tópico.”
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Observando discos Atualmente, uma 
galáxia é classificada como ativa quando 
o buraco negro supermassivo em seu
centro está captando matéria – e as
publicações de Thaisa ajudaram a criar
essa definição. Tal captura gera o que
físicos chamam de efeitos de feedback,
que permitem as observações. (Um
buraco negro em si, vale lembrar, nunca
foi visto.)
A forte radiação que parece sair do 
centro dele na verdade vem da 
estrutura que o envolve, chamada de 
disco de acreção. Antes de cair lá dentro, 
o que acontece aos poucos, a matéria
gira de maneira similiar à água escoando
pelo ralo.
É aqui que Thaisa realmente se 
especializou. “Do próprio disco saem 
jatos de partículas, devido ao intenso 
campo magnético”, explica. “Mesmo nas 
partes mais externas há ventos, como os 
ventos solares, e um gás muito quente 
que se levanta e evapora – tudo isso 
empurra o gás e acabamos enxergando 
essa atividade.”
Hoje, com cerca de 5 mil menções, ela 
integra o grupo dos cientistas brasileiros 
mais citados do mundo, mas diz nem 
ter notado a ascensão. “Foi uma grata 
surpresa”, resume.
Liderança feminina A cada seis meses, 
a professora e seus alunos elaboram 
projetos e entregam propostas de 
observação à universidade. Se forem 
aceitas, ganham alguns meses para 
observar as estrelas – mas não do jeito 
que se imagina.
“No começo da minha carreira, eu ia 
até o observatório, deixavam o 
telescópio na minha mão e eu passava 
a noite lá”, lembra ela, que trazia os 
dados em fitas magnéticas. “Agora, a 
gente baixa os dados da internet. As 
coisas vão mudando.”
E se hoje é raro que ela olhe pela ocular 
para o céu, a sofisticação tecnológica 
compensa o romantismo decrescente. 
“Num telescópio como o Gemini, com 
seis horas eu já tenho uma resposta 
científica”, diz.
Além do Gemini, Thaisa tem acesso ao 
Hubble, ao Chandra e ao Spitzer, todos 
da NASA e que oferecem tipos de dados 
diversos. “São instrumentos que usamos 
Conheça a história da astrofísica 
brasileira premiada pela Unesco
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para medir as coisas, como a luz que se 
dispersa em diferentes comprimentos 
de onda e então estudamos cada 
cor”, exemplifica.
Questionada sobre a representatividade 
feminina na ciência – de acordo com a 
Unesco, apenas 30% dos pesquisadores 
do mundo são mulheres –, ela é direta: 
todas as mulheres têm condições de 
serem boas cientistas.
“Mulheres enxergam assuntos de 
uma maneira um pouco diferente 
dos homens e isso adiciona”, conclui. 
“Ter um conhecimento amplo de tudo 
deveria ser o objetivo de todas as áreas 
de conhecimento.”
Conheça a história da astrofísica 
brasileira premiada pela Unesco
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‘Minha vontade é impactar mui-
ta gente’, diz Marcela Trópia, 
que planeja ser a vereadora mais 
nova de Belo Horizonte
Em 2016, aos 21 anos, Marcela Trópia planeja ser eleita a vereadora mais jovem 
da capital mineira. Para ela, no 
entanto, a idade é secundária: seu 
interesse pela gestão pública já é 
antigo. “Sempre gostei de projetos e 
de criar novas oportunidades para 
os alunos”, diz, lembrando-se dos 
tempos de grêmio escolar.
Para ela, idade não será um problema; estudante da Fundação 
João Pinheiro, Marcela Trópia é bolsista da Fundação Estudar 
e, aos 21, quer trazer para pauta temas como empoderamento 
feminino e novas formas de fazer política
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‘Minha vontade é impactar muita gente’, diz 
Marcela Trópia, que planeja ser a vereadora 
mais nova de Belo Horizonte
Atualmente cursa o último ano de 
Administração Pública na Fundação João 
Pinheiro, uma escola técnica de governo 
voltada para a formação de profissionais 
da área. Com renome internacional, 
a escola figura como melhor curso 
de Administração Pública do país em 
diversos rankings. Com um processo 
seletivo bastante concorrido, também 
possui uma característica única no 
ensino superior brasileiro: seus alunos, 
após concluírem o curso, são nomeados 
para uma posição inicial de carreira no 
Poder Executivo de Minas Gerais. 
Marcela, que é bolsista da Fundação 
Estudar, está nos estágios iniciais do 
que será sua primeira campanha 
política. Não é novata no assunto, visto 
que ajudou outros candidatos no ciclo 
passado, mas está se acostumando aos 
desafios únicos da área.
“É difícil motivar as pessoas, que 
são voluntárias porque não temos 
dinheiro nesse momento, e ter ideias 
que caibam dentro desses esforços”, 
conta a pré-candidata. “E também há 
a gestão de tempo, é uma correria 
danada.” (Vale lembrar que muito do 
que é uma campanha eleitoral, 
 incluindo arrecadação e movimentação 
financeira, só pode começar de fato no 
segundo semestre.)
A mensagem em si ela garante que já tem 
bem desenhada. Envolve a importância 
da política local, do empoderamento 
feminino – dos 41 vereadores em Belo 
Horizonte, apenas uma é mulher – e de 
maneiras diferentes de fazer política, 
como criar um aplicativo para monitorar 
a atuação de um representante e 
acompanhar seus votos.
“Minha vontade de impactar muita 
gente é muito grande, então estou me 
colocando à disposição para fazer política 
de um jeito diferente”, explica. “Quando 
me perguntam quais são minhas 
bandeiras, eu pergunto: Quais são as 
suas? Eu estou aqui pra ser demandada e 
não para impor, então vamos conversar.”
Experiências profissionais 
Além de cuidar da pré-campanha, 
Marcela atualmente estagia na Secretaria 
de Estado de Planejamento e Gestão de 
Minas Gerais.

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