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INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO Curso Extensão em Direito Constitucional Aplicado à Gestão Pública Instrutor: Prof. Ms. João Marcelo Rego Magalhães Extensão em Direito Constitucional Aplicado à Gestão Pública MÓDULO I 1. Direito Administrativo, Administração Pública e regime jurídico-administrativo 2. Princípios constitucionais do Direito Administrativo brasileiro INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) 1. DIREITO ADMINISTRATIVO, ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO 1.1. Direito Administrativo O Direito Administrativo é, segundo Celso Antônio Bandeira de Mello, o ramo do direito público que disciplina a função administrativa do Estado, bem como os órgãos que a exercem1. Conforme José dos Santos Carvalho Filho, trata-se do conjunto de normas e princípios que, visando sempre ao interesse público, regem as relações jurídicas entre as pessoas e os órgãos do Estado2. Segundo Hely Lopes Meirelles, o Direito Administrativo é o conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado3. De nossa parte, podemos definir o Direito Administrativo como o ramo do Direito Público que contempla um conjunto de princípios e regras jurídicas que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas destinadas a realizar o bem da coletividade. 1.2. Administração Pública na Constituição Federal Segundo o inciso I do art. 37 da Constituição Federal (CF) os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei. Cargo público é um conjunto de competências associadas a um determinado servidor público, que as exerce não por relação contratual, mas por relação institucional ou estatutária, ou seja, definida através de um diploma legal (pode ocorrer - sendo mesmo comum - de uma norma criar o cargo e definir as atribuições, outra criar mais cargos, outra definir novas atribuições ou um novo plano de cargos etc.). Emprego público é todo núcleo de trabalho preenchido por agente contratado em regime trabalhista (com obediência às regras da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT). Aqui o que ocorre é um vínculo puramente contratual, com 1 Celso Antônio Bandeira de Mello. Curso de direito administrativo. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, pág. 37. 2 José dos Santos Carvalho Filho. Manual de direito administrativo. 28 ed. São Paulo: Atlas, 2015, pág. 8/9. 3 Hely Lopes Meirelles. Direito administrativo brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros, 2013, pág. 40. INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) pequenas especificidades em relação aos celetistas das empresas privadas (dentre as quais podemos destacar a contratação por concurso e a possibilidade de serem responsabilizados por improbidade). A Constituição empregou de forma imprecisa o termo “função pública”. De fato, função pública é qualquer atribuição que compõe o conjunto de competências dos agentes públicos, sejam servidores públicos (ocupantes de cargos públicos em regime estatutário) ou empregados públicos (ocupantes de empregos públicos em regime celetista). Assim, a melhor interpretação a ser dada à expressão função pública é aquela que a associa com os cargos em comissão, que são de livre nomeação e exoneração, sem a necessidade de prévia aprovação em concurso público. O inciso II do art. 37 da CF assevera que a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. Investidura é o procedimento administrativo que visa o provimento inicial de um cargo ou emprego público. Os destinatários do princípio constitucional da exigibilidade do concurso público são os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, bem como suas autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista. Será inconstitucional todo o provimento de cargo ou emprego sem concurso público prévio, assim como será também inconstitucional o provimento de cargo diverso daquele para o qual o servidor público prestou concurso, pouco importando se houve transformação ou reclassificação de cargos. Vejamos, a propósito, o teor da Súmula Vinculante nº 43 do Supremo Tribunal Federal (STF): “É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido”. Cabe ressaltar que o STF decidiu um caso de reorganização, aproveitamento e transposição de servidores sem concurso público que é de flagrante inconstitucionalidade. O acórdão deve tornar-se paradigma para casos futuros. “O Tribunal julgou procedente pedido formulado em ação direta ajuizada pelo Procurador-Geral da República para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 14, § 2º; 26, parágrafo único; 27; 28; 29 e 31 da Lei n. 13.778/2006, do Estado do Ceará, bem como dos seus Anexos V, VI e VII, que aprovou o plano de cargos e carreira do Grupo Operacional Tributação, Arrecadação e INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) Fiscalização - TAF, da Secretaria da Fazenda estadual. Entendeu-se que os dispositivos impugnados não observam o princípio do concurso público (...), pois, a pretexto de levar a efeito uma mera reorganização na carreira dos servidores que integram a administração fazendária do Estado, na verdade criam novos cargos, permitindo o seu provimento por simples transposição. Asseverou-se que os referidos preceitos transformam os antigos cargos de Auditor Adjunto do Tesouro Estadual e Técnico do Tesouro Estadual e Fiscal da Receita Estadual, de nível médio, em cargos de Auditor Adjunto da Receita Estadual e Fiscal da Receita Estadual, para os quais se exige graduação em cursos de nível superior, bem como possibilitam o aproveitamento de servidores de qualquer carreira da Administração Direta nos quadros da Secretaria da Fazenda estadual.” (ADIn 3.857, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 18-12-08, Informativo 533) O inciso III do art. 37 prevê que o prazo de validade do concurso público será de até 2 anos, prorrogável uma vez, por igual período. Durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira (inciso IV). No caso de preterição de um candidato por outro em classificação posterior a Jurisprudência desde sempre se firmou no sentido do direito à nomeação (ver Súmula 15 do STF). Entretanto, uma questão que sempre atormentou os candidatos a cargos públicos é a existência ou não de direito adquirido à nomeação dentro do prazo de validade em caso de aprovação dentro do número de vagas. Infelizmente não é incomum que certos administradores públicos deixem correr o prazo de determinado concurso sem qualquer convocação para logo em seguida publicarem novo edital. Os candidatos habilitadosno concurso anterior estariam obrigados a voltar aos estudos e a concorrer novamente para o novo certame. Inicialmente, a Jurisprudência dos Tribunais (e mesmo do STF) caminhou no sentido de que a aprovação dentro do número de vagas gerava para o candidato mera expectativa de direito, sendo a Administração Pública soberana na decisão de convocar ou não os aprovados dentro do prazo de validade, estejam ou não dentro do número de vagas previstas no edital. Felizmente as coisas mudaram. Atualmente, tanto o Superior Tribunal de Justiça (STJ) quanto o STF têm jurisprudência firmada no sentido de que o candidato aprovado dentro do número de vagas de um determinado concurso público tem direito líquido e certo a ser nomeado no prazo de validade do concurso (e não mais apenas a mera expectativa de direito). STJ. Informativo nº 379 (1º a 5 de dezembro de 2008). CONCURSO PÚBLICO. APROVAÇÃO Trata-se de mandado de segurança em que a impetrante busca sua nomeação no cargo de fonoaudiólogo de hospital universitário após aprovação no INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) primeiro lugar de concurso público. Primeiramente, para que logre êxito em seu pleito, é necessário que o Ministro da Educação redistribua vagas conforme a Portaria n. 79/2002 do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Assim, a nomeação é ato complexo, pois depende da atuação de dois agentes administrativos, quais sejam, o reitor da Universidade e o Ministro da Educação. Logo, ambos possuem legitimidade para figurar no pólo passivo do mandado de segurança. Quanto ao direito, precedentes deste Superior Tribunal caminham no sentido de que, a partir da veiculação no instrumento convocatório da necessidade de a Administração prover determinado número de vagas, nomeação e posse, que seriam, a princípio, atos discricionários, de acordo com a necessidade do serviço público, tornam-se vinculados, gerando, em contrapartida, direito subjetivo para o candidato aprovado dentro do número de vagas previstas no edital. Assim, ao prosseguir o julgamento, a Seção, por maioria, concedeu a segurança. Precedentes citados: RMS 15.420-PR, DJ 19/5/2008; RMS 15.945-MG, DJ 20/2/2006; RMS 15.034-RS, DJ 29/3/2004, e RMS 20.718-SP, DJ 3/3/2008. MS 10.381-DF, Rel. Min. Nilson Naves, 3ª Seção, julgado em 5/12/2008. No STF, o acórdão até então paradigmático sobre o tema (direito líquido e certo à nomeação do candidato aprovado dentro do número de vagas) foi proferido pela Primeira Turma no julgamento do RE 227.480/RJ, julgado em 16.09.2008. A decisão foi por 3 votos a 2, sendo Relatora a Min. Carmén Lúcia. Cabe mencionar ainda que o STJ já decidiu que a desistência de candidatos dentro do número de vagas faz surgir direito para os respectivos candidatos fora do número de vagas, observado o correspondente número de desistências4. Quanto à possibilidade de o Judiciário declarar nula questão proposta pela banca examinadora, a Jurisprudência atual se firma no sentido que o Judiciário não pode substituir a banca do concurso, e que a nulidade de uma questão se dá apenas em casos excepcionais, na hipótese de afronta direta ao princípio da legalidade (questão que verse sobre tema não previsto no edital do concurso ou grave erro reconhecido pela banca são exemplos5). 4 RMS 53.506-DF, Rel. Min. Regina Helena Costa, por unanimidade, julgado em 26/09/2017, DJe 29/09/2017. Concurso público. Candidato aprovado fora do número de vagas. Desistência de candidatos melhores classificados. Impetrante que passa a figurar no número de vagas previstas no edital. Direito à nomeação. Existência. Segurança concedida. A desistência de candidatos melhores classificados em concurso público convola a mera expectativa em direito líquido e certo, garantindo a nomeação dos candidatos que passarem a constar dentro do número de vagas previstas no edital. (Informativo STJ 612) 5 RMS 49.896-RS, Rel. Min. Og Fernandes, por unanimidade, julgado em 20/4/2017, DJe 2/5/2017. Concurso público. Prova dissertativa. Questão com erro no enunciado. Fato constatado pela banca examinadora e pelo Tribunal de Origem. Existência de ilegalidade. Atuação excepcional do Poder Judiciário no controle de legalidade. Sintonia com a tese firmada pelo STF no RE 632.853-CE. Em prova dissertativa de concurso público, o grave erro no enunciado – reconhecido pela própria banca examinadora – constitui flagrante ilegalidade apta a ensejar a nulidade da questão. De outra parte, a motivação do ato avaliativo do candidato, constante do espelho de prova, deve ser apresentado anteriormente ou concomitante à divulgação do resultado, sob pena de nulidade. (Informativo STJ 603) INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) E QUANTO AOS APROVADOS EM CONCURSO QUE PREVIA APENAS O CADASTRO DE RESERVA? Quando houver surgimento posterior de vaga ou contratação temporária de terceirizado, o aprovado em cadastro de reserva tem direito a nomeação. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Mandado de Segurança nº 17.413, entendeu que existe direito público subjetivo de o concorrente aprovado em cadastro de reserva ser nomeado para cargo público quando ocorrido o surgimento posterior de vagas ou realizada contratação temporária de terceiros, a administração pública deixar de convocá-lo. No âmbito do STF, o tema do direito à nomeação dos candidatos aprovados fora do número de vagas foi decidido em sede de repercussão geral no RE 837.311/PI. Não há no ordenamento jurídico nacional uma lei que discipline de forma geral os concursos públicos, estando os mesmos vinculados única e exclusivamente aos respectivos editais. O inciso IX do art. 37 prevê que a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público. Nestes casos pode haver dispensa do concurso público. Vale frisar que o STF tem sido bastante rigoroso na admissibilidade de contratação sem concurso, exigindo a comprovação da situação excepcional e temporária. O STF já se pronunciou sobre o conceito de atividade jurídica para fins de concurso para Magistratura e Ministério Público (Vide ADIn 3.460). Tanto o STF quanto o STJ também têm decidido acerca da razoabilidade ou não de certas exigências constantes de editais de concurso público. Súmula 266 do STJ O diploma ou habilitação legal para o exercício do cargo deve ser exigido na posse e não na inscrição para o concurso público. STJ. Informativo nº 521 (26 de junho de 2013). DIREITO ADMINISTRATIVO. EFEITOS DE PREVISÃO EDITALÍCIA QUE POSSIBILITE A NOMEAÇÃO DOS APROVADOS, CONFORME DISPONIBILIDADE ORÇAMENTÁRIA, EM NÚMERO INFERIOR OU SUPERIOR ÀS VAGAS DE CERTAME DESTINADO À CONTRATAÇÃO DE SERVIDORES TEMPORÁRIOS. Não tem direito líquido e certo à nomeação o candidato aprovado dentro do número de vagas em processo seletivo especial destinado à contratação de servidores temporários na hipótese em que o edital preveja a possibilidade de nomeação dos aprovados, conforme a disponibilidade orçamentária existente, em número inferior ou superior ao das vagas colocadas em certame. As regras a serem aplicadas no processo seletivo especial destinado à INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) contratação de servidores temporários devem ser as mesmas do concurso público para cargo efetivo. Todavia, conquanto não se olvide o já decidido pelo STJ acerca do direito subjetivo que nasce para o candidato aprovado em concurso público dentro do númerode vagas, deve-se considerar que a situação em análise traz circunstância peculiar - a existência de previsão no edital referente à possibilidade de nomeação dos aprovados, conforme a disponibilidade orçamentária existente, em número inferior ou superior ao das vagas colocadas em certame -, o que afasta o direito líquido e certo à nomeação dos candidatos aprovados, ainda que dentro do número de vagas previsto no edital. RMS 35.211-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/4/2013. O inciso V do art. 37 da Constituição Federal dispõe que as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento. Os cargos em comissão são de livre nomeação e exoneração, não sendo exigida a prévia aprovação em concurso público. Para que não fique qualquer dúvida sobre a diferença entre as funções de confiança – comumente denominas de funções comissionadas – e os cargos em comissão, que podem surgir pela redação não muito clara do texto constitucional, é preciso deixar bem assentado que estes podem ser exercidos por pessoa que não pertença aos quadros do órgão ou ente público, ou seja, não tenha sido aprovado em concurso público; aquelas, por outro lado, são exclusivas do servidor do quadro, mantenha ele relação estatutária (legal) ou meramente contratual, mas sempre em virtude de concurso público. O cargo em comissão é estrutura destacada dos demais cargos que compõem determinada carreira, enquanto a função de confiança (ou comissionada) é mera atribuição de remuneração a servidor ocupante de cargo que passará a exercer encargo adicional ou especial em relação aos demais. Maiores considerações sobre quadro, cargo e carreira do servidor público serão feitas no capítulo relativo aos agentes públicos. É garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical (inciso VI do art. 37 da CF). Tal direito não foi estendido aos servidores militares. O inciso VII do art. 37, por sua vez, trata do direito de greve dos servidores públicos. Norma de eficácia limitada, nunca chegou a ter tratamento legislativo, o que relegou tal direito a uma tenebrosa incerteza jurídica. Entretanto, ao decidir os Mandados de Injunção 708 e 712, ambos julgados em 25.10.2007, o Supremo Tribunal Federal, por unanimidade de votos de seu Pleno, declarou a omissão legislativa do Congresso Nacional no que se refere à regulamentação do direito de greve do servidor público. Avançando na discussão da matéria, o STF, por maioria de votos, definiu que se aplica ao setor público, no que for compatível, a lei de greve para o setor privado (Lei nº INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) 7.783/1989), passando a adotar uma posição concretista em relação ao Mandado de Injunção. Não é possível deixar de mencionar a decisão tomada pelo STF na Reclamação nº 6.568, que restringiu o direito de greve de diversas carreiras de Estado (atividades voltadas à manutenção da ordem e segurança públicas, à administração da Justiça e de exação tributária) e ligadas à saúde pública: RECLAMAÇÃO. SERVIDOR PÚBLICO. POLICIAIS CIVIS. DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE. SERVIÇOS OU ATIVIDADES PÚBLICAS ESSENCIAIS. COMPETÊNCIA PARA CONHECER E JULGAR O DISSÍDIO. ARTIGO 114, INCISO I, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. DIREITO DE GREVE. ARTIGO 37, INCISO VII, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. LEI N. 7.783/89. INAPLICABILIDADE AOS SERVIDORES PÚBLICOS. DIREITO NÃO ABSOLUTO. RELATIVIZAÇÃO DO DIREITO DE GREVE EM RAZÃO DA ÍNDOLE DE DETERMINADAS ATIVIDADES PÚBLICAS. AMPLITUDE DA DECISÃO PROFERIDA NO JULGAMENTO DO MANDADO DE INJUNÇÃO N. 712. ART. 142, § 3º, INCISO IV, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO. AFRONTA AO DECIDIDO NA ADIN3.395. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA DIRIMIR CONFLITOS ENTRE SERVIDORES PÚBLICOS E ENTES DA ADMINISTRAÇÃO ÀS QUAIS ESTÃO VINCULADOS. RECLAMAÇÃO JULGADA PROCEDENTE. 1. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o MI n. 712, afirmou entendimento no sentido de que a Lei n. 7.783/89, que dispõe sobre o exercício do direito de greve dos trabalhadores em geral, é ato normativo de início inaplicável aos servidores públicos civis, mas ao Poder Judiciário dar concreção ao artigo 37, inciso VII, da Constituição do Brasil, suprindo omissões do Poder Legislativo. 2. Servidores públicos que exercem atividades relacionadas à manutenção da ordem pública e à segurança pública, à administração da Justiça --- aí os integrados nas chamadas carreiras de Estado, que exercem atividades indelegáveis, inclusive as de exação tributária --- e à saúde pública. A conservação do bem comum exige que certas categorias de servidores públicos sejam privadas do exercício do direito de greve. Defesa dessa conservação e efetiva proteção de outros direitos igualmente salvaguardados pela Constituição do Brasil. 3. Doutrina do duplo efeito, segundo Tomás de Aquino, na Suma Teológica (II Seção da II Parte, Questão 64, Artigo 7). Não há dúvida quanto a serem, os servidores públicos, titulares do direito de greve. Porém, tal e qual é lícito matar a outrem em vista do bem comum, não será ilícita a recusa do direito de greve a tais e quais servidores públicos em benefício do bem comum. Não há mesmo dúvida quanto a serem eles titulares do direito de greve. A Constituição é, contudo, uma totalidade. Não um conjunto de enunciados que se possa ler palavra por palavra, em experiência de leitura bem comportada ou esteticamente ordenada. Dela são extraídos, pelo intérprete, sentidos normativos, outras coisas que não somente textos. A força normativa da Constituição é desprendida da totalidade, totalidade normativa, que a Constituição é. Os servidores públicos são, seguramente, titulares do direito de greve. Essa é a regra. Ocorre, contudo, que entre os serviços públicos há alguns que a coesão social impõe sejam prestados plenamente, em sua totalidade. Atividades das quais dependam a manutenção da ordem pública e a segurança pública, a administração da Justiça --- onde as carreiras de Estado, cujos membros exercem atividades indelegáveis, inclusive as de exação tributária --- e a saúde pública não estão inseridos no elenco dos INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) servidores alcançados por esse direito. Serviços públicos desenvolvidos por grupos armados: as atividades desenvolvidas pela polícia civil são análogas, para esse efeito, às dos militares, em relação aos quais a Constituição expressamente proíbe a greve [art. 142, § 3º, IV]. 4. No julgamento da ADIN3.395, o Supremo Tribunal Federal, dando interpretação conforme ao artigo 114, inciso I, da Constituição do Brasil, na redação a ele conferida pela EC 45/04, afastou a competência da Justiça do Trabalho para dirimir os conflitos decorrentes das relações travadas entre servidores públicos e entes da Administração à qual estão vinculados. Pedido julgado procedente. (Rcl 6568, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 21/05/2009, DJe-181 DIVULG 24-09-2009 PUBLIC 25-09-2009) A Constituição Federal, no inciso XI do art. 37 dispõe sobre o teto remuneratório dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos. XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções eempregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; No inciso XIII do art. 37 da Constituição Federal encontra-se regra que proíbe a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público. Aqui se faz necessária uma distinção entre isonomia, paridade, equiparação e vinculação. Segundo José Afonso da Silva6: “Não há confundir isonomia e paridade com equiparação ou vinculação para efeitos de vencimentos. Isonomia é igualdade de espécies remuneratórias entre cargos de atribuições iguais ou assemelhados. Paridade é um tipo especial de isonomia, é igualdade de vencimentos a cargos de atribuições iguais ou assemelhadas pertencentes a quadros de Poderes diferentes. Equiparação é a comparação de cargos com denominação e atribuições diversas, considerando-os iguais para fins de se lhes conferirem os mesmos vencimentos; é igualação jurídico-formal de cargos ontologicamente desiguais, para o efeito de lhes darem vencimentos idênticos, de tal sorte que, ao aumentar-se o padrão do cargo paradigma, automaticamente o outro ficará também majorado na mesma proporção. Na isonomia e na paridade, ao 6 Curso de direito constitucional positivo. 36. ed. São Paulo: Malheiros, 2013, pág. 692. INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) contrário, os cargos são ontologicamente iguais, daí devendo decorrer a igualdade de retribuição; isso está de acordo com o princípio geral da igualdade perante a lei: tratamento igual para situações reputadas iguais, é, em verdade, aplicação do princípio da isonomia material: trabalho igual deve ser igualmente remunerado. A equiparação quer tratamento igual para situações desiguais. Vinculação é relação de comparação vertical, diferente da equiparação, que é relação horizontal. Vincula-se um cargo inferior, isto é, de menores atribuições e menor complexidade, com outro superior, para efeito de retribuição, mantendo-se certa diferença de vencimentos entre um e outro, de sorte que, aumentando-se os vencimentos de um, o outro também fica automaticamente majorado, para guardar a mesma distância preestabelecida.” A Constituição Federal, no inciso XVI do art. 37, estatuiu como regra básica a proibição da acumulação remunerada de cargos. Em nome do princípio da eficiência e da moralidade, o texto constitucional deixa claro que o servidor, via de regra, deve se concentrar em uma única função pública. Mas o próprio texto constitucional prevê casos em que é possível a acumulação remunerada, desde que haja compatibilidade de horários e seja respeitado o teto remuneratório do inciso XI do mesmo art. 37. Os casos permitidos são: a) dois cargos de professor; b) um cargo de professor com outro técnico ou científico; c) dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas. A vedação se estende, conforme o inciso XVII, a empregos e funções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista. O § 10 do art. 37 permite a acumulação de remuneração com proventos de aposentadoria, se tal acumulação fosse possível quando o aposentado era servidor ativo. Não há qualquer vedação à acumulação de um cargo público com um ou mais empregos privados, mas deve ser observada a compatibilidade entre as atividades para que o servidor não seja enquadrado nas hipóteses de improbidade administrativa. É pacífica a possibilidade de acumular cargo público com um ou mais empregos privados de professor. Deve ser observado que a Constituição anterior exigia ainda a correlação de matérias para a acumulação, ou seja, os cargos de professor deveriam ser na mesma área do conhecimento, restrição também aplicável à acumulação do cargo de professor com cargo técnico ou científico, que deveria ter pertinência com o que ministrado em sala de aula. O professor José Afonso da Silva já se manifestou no sentido de que “a Constituição não exige mais a correlação de matérias entre os cargos acumuláveis de professor e outro técnico científico”. Esta não é, contudo, a posição do STJ (MS 13.083, julgado em 13.05.2009) e do TCU (Acórdão nº 1.338/2011-Plenário), que entendem ainda ser necessária a correlação de matérias. INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) Por último deve ser mencionado que a acumulação de cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas, deve se ater à mesma área de atuação, ou seja, 2 cargos privativos de médico, 2 cargos privativos de dentista, 2 cargos privativos de enfermeiro (ainda que seja um de auxiliar de enfermagem e outro de técnico em enfermagem), 2 cargos privativos de psicólogo etc. Esta parece ser a interpretação dada pelo STF quando apreciou o RE 248.248, Relator o Min. Menezes Direito, julgado em 02.09.2008. STJ. Informativo nº 521 (26 de junho de 2013). DIREITO ADMINISTRATIVO. ACUMULAÇÃO DE CARGOS PÚBLICOS INDEPENDENTEMENTE DE CARGA HORÁRIA MÁXIMA CONSIDERADA EM ACÓRDÃO DO TCU. Havendo compatibilidade de horários, é possível a acumulação de dois cargos públicos privativos de profissionais de saúde, ainda que a soma da carga horária referente àqueles cargos ultrapasse o limite máximo de sessenta horas semanais considerado pelo TCU na apreciação de caso análogo. De fato, o art. 37, XVI, da CF e o art. 118, § 2º, da Lei 8.112/1990 somente condicionam a acumulação lícita de cargos à compatibilidade de horários, não havendo qualquer dispositivo que estabeleça limite máximo, diário ou semanal, à carga horária a ser cumprida. Dessa forma, não se pode negar o direito à acumulação com base numa suposta incompatibilidade com decisão proferida pelo TCU (Acórdão 2.133⁄2005), a qual não possui força normativa capaz de se sobrepor à garantia constitucional e legal. Ademais, mostra-se desarrazoado negar o referido direito com fundamento em mera presunção de que a realização de jornada de trabalho superior a sessenta horas semanais comprometeria a qualidade do serviço a ser prestado. Precedentes citados: AgRg no REsp 1.168.979-RJ, Sexta Turma, DJe 14/12/2012; MS 15.663-DF, Primeira Seção, DJe 3/4/2012; e EDcl no REsp 1.195.791-RJ, Segunda Turma, DJe 28/6/2012. AgRg no AREsp 291.919-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 18/4/2013. Conforme o inciso XXI do art. 37 da CF, ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições atodos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. As normas gerais sobre licitação e contratação são editadas pela União (uma exigência do art. 22, XXVII, da CF) e valem para os demais entes federativos. Atualmente as normas gerais são as Leis nº 8.666/1993 e nº 10.520/2002 (que trata especificamente da modalidade pregão). Afirma o inciso XXII do art. 37 da CF que as administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas, terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio. INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) O § 4º do art. 37 da CF dispõe que os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao Erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. A Lei da Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992) sujeita às suas sanções, independentemente das sanções penais cabíveis, toda conduta considerada como improbidade administrativa praticada por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (e também contra empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o Erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual). Segundo o STF, os agentes políticos respondem pelas condutas que praticam segundo o regime dos crimes de responsabilidade, não sendo submetidos ao regime da improbidade administrativa. Informativo nº 471 Improbidade Administrativa e Competência - 7 Rcl 2138 Quanto ao mérito, o Tribunal, por maioria, julgou procedente a reclamação para assentar a competência do STF para julgar o feito e declarar extinto o processo em curso no juízo reclamado. Após fazer distinção entre os regimes de responsabilidade político-administrativa previstos na CF, quais sejam, o do art. 37, § 4º, regulado pela Lei 8.429/92, e o regime de crime de responsabilidade fixado no art. 102, I, c, da CF e disciplinado pela Lei 1.079/50, entendeu-se que os agentes políticos, por estarem regidos por normas especiais de responsabilidade, não respondem por improbidade administrativa com base na Lei 8.429/92, mas apenas por crime de responsabilidade em ação que somente pode ser proposta perante o STF nos termos do art. 102, I, c, da CF. Vencidos, quanto ao mérito, por julgarem improcedente a reclamação, os Ministros Carlos Velloso, Marco Aurélio, Celso de Mello, estes acompanhando o primeiro, Sepúlveda Pertence, que se reportava ao voto que proferira na ADIN2797/DF (DJU de 19.12.2006), e Joaquim Barbosa. O Min. Carlos Velloso, tecendo considerações sobre a necessidade de preservar-se a observância do princípio da moralidade, e afirmando que os agentes políticos respondem pelos crimes de responsabilidade tipificados nas respectivas leis especiais (CF, art. 85, parágrafo único), mas, em relação ao que não estivesse tipificado como crime de responsabilidade, e estivesse definido como ato de improbidade, deveriam responder na forma da lei própria, isto é, a Lei 8.429/92, aplicável a qualquer agente público, concluía que, na hipótese dos autos, as tipificações da Lei 8.429/92, invocadas na ação civil pública, não se enquadravam como crime de responsabilidade definido na Lei 1.079/50 e que a competência para julgar a ação seria do juízo federal de 1º grau. Rcl 2138/DF, rel. orig. Min. Nelson Jobim, rel. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 13.6.2007. (Rcl- 2138) Entretanto, segundo entendimento consolidado no âmbito do STJ, os prefeitos, mesmo sendo agentes políticos, respondem por improbidade administrativa nos termos da Lei nº 8.429/1992, sem possuir ainda foro por prerrogativa de função, ou INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) seja, é o juízo de 1º grau o competente para conhecer da ação de improbidade contra prefeitos. PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. HOMOLOGAÇÃO DE LICITAÇÃO FRAUDULENTA. VIOLAÇÃO DOS DEVERES DE MORALIDADE JURÍDICA. DANO IN RE IPSA AO PATRIMÔNIO PÚBLICO INCORPÓREO. ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. ART. 129, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. PREFEITO. INEXISTÊNCIA. LEI 10.628/2002 DECLARADA INCONSTITUCIONAL PELO STF (ADIN2.797/DF) COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE 1º GRAU. PROVA. INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO. VALIDADE. ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA PREJUDICADA. OITIVA DA TESTEMUNHA ARROLADA. INEXISTÊNCIA DE CONDUTA ILÍCITA. MATÉRIA DE PROVA. SÚMULA 7/STJ. 1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público do Estado de Rondônia contra os ora recorrentes, em decorrência de ato de improbidade administrativa consistente em fraude no processo de licitação. 2. O STJ entende ser perfeitamente cabível Ação Civil Pública (Lei 7.347/1985), bem como legitimado o Ministério Público para pedir reparação de danos causados ao Erário por atos de improbidade administrativa, tipificados na Lei 8.429/1992. 3. Outrossim, o simples fato de a conduta do agente não ocasionar dano ou prejuízo financeiro direto ao Erário não significa que seja imune a reprimendas, nos termos dos arts. 11, caput, e 12, III, da Lei 8.429/92. Precedentes do STJ. 4. Declarada pelo Supremo Tribunal Federal a inconstitucionalidade da Lei 10.628/2002, que acrescentou os §§ 1º e 2º ao art. 84 do CPP, não há falar em foro privilegiado por prerrogativa de função nas Ações de Improbidade Administrativa ajuizadas contra prefeitos. 5. Inexiste ilegalidade na propositura da Ação de Improbidade com base nas apurações feitas em Inquérito Civil público, mormente quando as provas colimadas são constituídas por documentos emitidos pelo Poder Público e os depoimentos das testemunhas foram novamente colhidos na esfera judicial. Precedentes do STJ. 6. A Lei da Improbidade Administrativa exige que a petição inicial seja instruída com, alternativamente, "documentos" ou "justificação" que "contenham indícios suficientes do ato de improbidade" (art. 17, § 6°). Trata- se, como o próprio dispositivo legal expressamente afirma, de prova indiciária, isto é, indicação pelo autor de elementos genéricos de vinculação do réu aos fatos tidos por caracterizadores de improbidade. 7. O objetivo do contraditório prévio (art. 17, § 7º) é tão-só evitar o trâmite de ações clara e inequivocamente temerárias, não se prestando para, em definitivo, resolver - no preâmbulo do processo e sem observância do princípio in dubio pro societate - tudo o que haveria de ser apurado na instrução. Precedentes do STJ. 8. In casu, o Tribunal de origem concluiu, no juízo de improbidade e com base na prova dos autos, que ocorreu infração à LIA, consistente em fraude no procedimento licitatório, cujo resultado era previsível e acertado entre os recorrentes, com a aquiescência doprefeito municipal. A alteração desse entendimento esbarra no óbice da Súmula 7/STJ. 9. Recursos Especiais não providos. (REsp 401.472/RO, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, segunda turma, julgado em 15/06/2010, DJe 27/04/2011) INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) A improbidade administrativa, segundo o tratamento dado pela Lei nº 8.429/1992, engloba todas as condutas do administrador público que importem: a) enriquecimento ilícito (art. 9º); b) prejuízo ao Erário (art. 10); c) desrespeito aos princípios da Administração Pública (art. 11). O STJ tem reiteradamente decidido que é necessário dolo no caso de enriquecimento ilícito e desrespeito aos princípios da Administração Pública, sendo possível a conduta culposa no caso de prejuízo ao Erário. A jurisprudência dos demais tribunais tem seguido exatamente nesta linha, ou seja, apenas no caso do art. 10 da Lei nº 8.429/1992 pode haver responsabilização por culpa, sendo exigido dolo nos casos dos arts. 9º e 11. STJ. Informativo nº 395 (18 a 22 de maio de 2009). AÇÃO CIVIL. IMPROBIDADE. CULPA. Na espécie, foi imputada ao procurador do Estado a prática de ato de improbidade administrativa previsto no art. 11, II, da Lei n. 8.429/1992. Mas a Turma deu provimento ao recurso, por entender que a configuração de qualquer ato de improbidade administrativa exige a presença do elemento subjetivo na conduta do agente público, pois não é admitida a responsabilidade objetiva em face do atual sistema jurídico brasileiro, principalmente considerando a gravidade das sanções contidas na Lei de Improbidade Administrativa (LIA). Assim, é indispensável a presença de conduta dolosa ou culposa do agente público ao praticar tal ato, especialmente pelo tipo previsto no art. 11 da Lei n. 8.429/1992, especificamente por lesão aos princípios da Administração Pública, que admite manifesta amplitude em sua aplicação. Por outro lado, é importante ressaltar que a forma culposa somente é admitida no ato de improbidade administrativa relacionado à lesão do erário (art. 10 da LIA), não sendo aplicável aos demais tipos (arts. 9º e 11 da LIA). No caso concreto, o Tribunal de origem qualificou equivocadamente a conduta do agente público, pois a desídia e a negligência, expressamente reconhecidas, no caso, não configuram dolo, tampouco dolo eventual, mas modalidade de culpa. Tal consideração afasta a configuração de ato de improbidade administrativa por violação de princípios da administração pública. Precedentes citados: REsp 734.984-SP, DJe 16/6/2008; REsp 658.415-RS, DJ 3/8/2006; REsp 604.151- RS, DJ 8/6/2006, e REsp 626.034-RS, DJ 5/6/2006. REsp 875.163-RS, Rel. Min. Denise Arruda, julgado em 19/5/2009. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações (art. 12 da Lei nº 8.429/1992): 1. Na hipótese de enriquecimento ilícito : perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos; INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) 2. Na hipótese de prejuízo ao Erário : ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos; 3. Na hipótese de desrespeito aos princípios da Administração Pública : ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos. O juiz não precisa aplicar todas as sanções. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só ocorrem com o trânsito em julgado da ação de improbidade. A prescrição é definida no art. 23 da Lei nº 8.429/1992. A ação de improbidade administrativa será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, sendo vedada transação, acordo ou conciliação. A aplicação das sanções previstas na Lei nº 8.429/1992 independe da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público e da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas. 1.3. Regime jurídico-administrativo O regime jurídico-administrativo baseia-se em 3 premissas interpretativas e em 3 princípios fundamentais. As 3 premissas que norteiam a interpretação de todo o regime jurídico-administrativo são7: a) a desigualdade jurídica entre a Administração e os administrados; b) a presunção de legitimidade dos atos da Administração; c) a necessidade de poderes discricionários para a Administração atender ao interesse público. Por sua vez, são princípios basilares regentes do regime jurídico- administrativo: a) a supremacia do interesse público (Administração x particular); b) a indisponibilidade do interesse público (Administração x administrador); c) o princípio da legalidade. 7 Hely Lopes Meirelles. Direito administrativo brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros, 2013, pág. 50. INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) São manifestações do primeiro princípio o poder de polícia, as cláusulas exorbitantes em contratos administrativos e a desapropriação; do segundo princípio decorre a exigência de concurso público e de licitação; por fim, da legalidade sobrevém, por exemplo, a necessidade de controle e motivação dos atos administrativos. De fato, e a bem da verdade, a supremacia e a indisponibilidade do interesse público são princípios regentes de todos os ramos do direito público, mas com especial pertinência e importância no âmbito do Direito Administrativo. INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) 2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO 2.1. Legalidade A lei, a partir da condição de legitimidade de quem a produz, tendo por propósito final a realização da justiça e como motivos imediatos a defesa dos direitos fundamentais (concepção individualista) e a realização do interesse público (concepção coletiva), possui 3 aplicações principais: a) delimitar o quadro geral de direitos e liberdades do particular; b) definir as condutas que devem ser obrigatoriamente seguidas pelo cidadão, em nome do interesse público (lei de ordem pública); c) limitar, no âmbito infraconstitucional, a atuação do detentor de podere dos agentes públicos em geral, visando a defesa dos direitos individuais. Como importante decorrência das 2 últimas aplicações, podemos afirmar que a lei deverá ainda, sempre com o objetivo de garantir o interesse público e os direitos individuais, definir a forma de atuação da administração pública. De fato, o princípio da legalidade é o instrumento maior de realização do interesse público. O princípio da legalidade é, pois, a diretriz básica da conduta dos agentes da Administração. Significa tal afirmação que toda e qualquer atividade administrativa deve ser autorizada por lei. Não o sendo, a atividade é ilícita. Tal postulado, consagrado após séculos de evolução política, tem por origem mais próxima a criação do Estado de Direito, ou seja, o Estado que deve respeitar as próprias leis que edita. A bem da verdade, desde a noção primordial de Estado de Direito até sua concepção evolutiva contemporânea, o Estado Democrático de Direito, os detentores do poder, legitimamente consagrado pelo povo ou não, têm como diretrizes fundamentais a garantia dos direitos e, de outra parte, a repressão ao abuso destes mesmos direitos, de onde se extrai a capital relevância do princípio da legalidade. Este princípio implica subordinação completa do administrador à lei. Todos os agentes públicos, desde a maior das autoridades até o mero executor de trâmites administrativos devem estrita obediência ao conjunto de textos normativos que os condicionam. Na consagrada e sempre repetida expressão de Hely Lopes Meirelles, enquanto os indivíduos em suas relações privadas podem fazer tudo o que a lei não proíbe, o administrador público só pode fazer o que a lei autoriza8. 8 Hely Lopes Meirelles. Direito administrativo brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros, 2013, pág. 91. INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) É extremamente importante o efeito do princípio da legalidade no que diz respeito aos direitos dos indivíduos. Na verdade, o princípio se reflete na consequência de que a própria garantia desses direitos depende de sua existência, autorizando-se então os indivíduos à verificação do confronto entre a atividade administrativa e a lei. Uma conclusão se faz clara: havendo conflito entre a conduta administrativa e a lei, deverá aquela ser corrigida para eliminar-se a ilicitude. Na teoria do Estado moderno, cabe ressaltar, existe a função de criar a lei (legislação), a função de aplicar a lei ao caso concreto (jurisdição) e a função de executar propriamente a lei, tendo como alvo a coletividade (administração); as 2 últimas pressupõem o exercício da primeira, de modo que só se podem conceber as atividades administrativa e jurisdicional diante dos parâmetros já instituídos pela atividade legislativa. Por isso a Doutrina cita que a função de administrar (e a de julgar) é função subjacente à de legislar. O princípio da legalidade denota exatamente a relação acima citada: só é legítima a atividade do administrador público se estiver condizente com o disposto na lei. A mais moderna doutrina tem defendido a tese de que o princípio da legalidade sofreu uma evolução no sentido de que a conduta do agente público deve respeitar também os demais princípios regentes do Direito Administrativo, devendo agora ser referenciado como princípio da juridicidade. 2.2. Impessoalidade O princípio da impessoalidade objetiva a igualdade de tratamento que a Administração deve dispensar aos administrados que se encontrem em idêntica situação jurídica. Sob tal enfoque, representa uma faceta do princípio geral da isonomia ou da igualdade. Por outro lado, para que haja verdadeira impessoalidade, deve a Administração voltar-se exclusivamente para o interesse público, e não para o privado, vedando-se, em consequência, sejam favorecidos alguns indivíduos em detrimento de outros e prejudicados alguns para favorecimento de outros. Aqui reflete a aplicação do princípio da finalidade, segundo o qual, o alvo a ser alcançado pela Administração é somente o interesse público, e não se alcança o interesse público se for perseguido o interesse particular, porquanto haverá nesse caso sempre uma atuação discriminatória. Não se pode deixar de fora a relação que a finalidade da conduta administrativa tem com a lei. Como a lei em si mesma deve respeitar a isonomia, porque a isso a Constituição a obriga (art. 5º, caput e inciso I), a função administrativa nela baseada também deverá fazê-lo, sob pena de cometer-se desvio de finalidade, que ocorre quando o administrador se afasta do escopo que lhe deve nortear o comportamento: o interesse público. INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) Embora sob a expressão “desvio de finalidade”, o princípio da impessoalidade tem proteção no direito positivo: o art. 2º, alínea “e”, da Lei nº 4.717/1965, que regula a ação popular, comina com a sanção de invalidade o desvio de finalidade. Assim, portanto, deve ser encarado o princípio da impessoalidade: a Administração há de ser impessoal, sem ter em mira este ou aquele indivíduo de forma especial. Não custa mencionar que importantes autores apontam outra faceta do princípio da impessoalidade, qual seja, o fato de os atos administrativos serem titularizados pela Administração Pública como gestora dos interesses da coletividade, não podendo haver atribuição à pessoa deste ou daquele administrador. Como exemplo daquele entendimento cabe destacar as lições de Hely Lopes Meirelles, quando afirma que este princípio “também deve ser entendido para excluir a promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos sobre suas realizações administrativas” 9. Portanto, o princípio da impessoalidade pode ser considerado tanto sob o aspecto objetivo ou orgânico, quando se relaciona com os princípios da isonomia e da finalidade, como forma de alcançar o interesse público, quanto sob o aspecto subjetivo ou funcional, quando passa a significar vedação à promoção pessoal do agente público por seus atos administrativos. 2.3. Moralidade O princípio da moralidade impõe que o administrador público não dispense os preceitos éticos que devam estar presentes em sua conduta. Deve não só averiguar os critérios de conveniência, oportunidade e justiça em suas ações, mas também distinguir o que é honesto do que é desonesto. Acrescentamos que tal forma de conduta deve existir não somente nas relações entre a Administração e os administrados em geral, como também internamente, ou seja, na relação entre a Administração e os agentes públicos que a integram. O art. 37 da Constituição também a ele se referiu expressamente, e pode se dizer, sem receio de errar, que foi bem aceito no seio da coletividade, já sufocada pela obrigação de ter assistido aos desmandos de maus administradores, frequentemente na busca de seus próprios interesses ou de interesses inconfessáveis, relegando para último plano os preceitos morais de que não deveriam se afastar. 9 Hely Lopes Meirelles. Direito administrativo brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros, 2013, pág. 95. INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) O que pretendeu o constituinte foi exatamente coibir essa imoralidade no âmbito da Administração. Pensamos, todavia, que somente quando os administradores estiverem realmente imbuídos de espírito público é que o princípio será efetivamente observado. A Constituição referiu-se expressamente ao princípio da moralidade no art. 37, caput. Embora oconteúdo da moralidade seja diverso do da legalidade, o fato é que aquele está normalmente associado a este. Em algumas ocasiões a imoralidade consistirá na ofensa direta à lei e assim violará, ipso facto, o princípio da legalidade. Em outras situações, a imoralidade residirá no tratamento discriminatório, positivo ou negativo, dispensado ao administrado; nesse caso, vulnerado estará também o princípio da impessoalidade, requisito, em última análise, da legalidade da conduta administrativa. A imoralidade administrativa pode ser combatida através da ação de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/1992), da ação popular (Lei nº 4.717/1965) e da ação civil pública (Lei nº 7.347/1985). Com base no princípio da moralidade e também no princípio da eficiência, o Supremo Tribunal Federal editou, em 29 de agosto de 2008, a Súmula Vinculante nº 13, que veda a prática do nepotismo na Administração Pública. Súmula Vinculante STF nº 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos poderes da união, dos estados, do distrito federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal. "1. A jurisprudência do STF preconiza que, ressalvada situação de fraude à lei, a nomeação de parentes para cargos públicos de natureza política não desrespeita o conteúdo normativo do enunciado da Súmula Vinculante 13." (RE 825682 AgR, Relator Ministro Teori Zavascki, Segunda Turma, julgamento em 10.2.2015, DJe de 2.3.2015) "Reclamação - Constitucional e administrativo - Nepotismo - Súmula vinculante nº 13 - Distinção entre cargos políticos e administrativos - Procedência. 1. Os cargos políticos são caracterizados não apenas por serem de livre nomeação ou exoneração, fundadas na fidúcia, mas também por seus titulares serem detentores de um munus governamental decorrente da Constituição Federal, não estando os seus ocupantes enquadrados na classificação de agentes administrativos. 2. Em hipóteses que atinjam ocupantes de cargos políticos, a configuração do nepotismo deve ser analisado caso a caso, a fim de se verificar eventual 'troca de favores' ou fraude a lei. 3. Decisão judicial que anula ato de nomeação para cargo político apenas com fundamento na relação de parentesco estabelecida entre o nomeado e o chefe do Poder Executivo, em todas as esferas da federação, diverge do entendimento da Suprema Corte consubstanciado na Súmula Vinculante nº 13." (Rcl 7590, Relator Ministro Dias Toffoli, Primeira Turma, julgamento em 30.9.2014, DJe de 14.11.2014) "Com efeito, a doutrina, de um modo geral, repele o enquadramento dos Conselheiros dos Tribunais de Contas na categoria de agentes políticos, os quais, como regra, estão fora do alcance da Súmula Vinculante nº 13, salvo nas exceções acima assinaladas, quais sejam, as hipóteses de nepotismo cruzado ou de fraude à lei." (Rcl 6702 MC-AgR, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgamento em 4.3.2009, DJe de 30.4.2009). INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) 2.4. Publicidade Outro princípio mencionado na Constituição é o da publicidade. Indica que os atos da administração devem merecer a mais ampla divulgação possível entre os administrados, e isso porque constitui fundamento do princípio propiciar-lhes a possibilidade de controlar a legalidade/legitimidade da conduta dos agentes administrativos. Só com a transparência dessa conduta é que poderão os indivíduos aquilatar a legalidade/legitimidade ou não dos atos e o grau de eficiência de que se revestem. É para observar esse princípio que os atos administrativos são publicados em órgãos de imprensa ou afixados em determinados locais das repartições administrativas. O que importa, com efeito, é dar a eles a maior publicidade, porque somente em raríssimas hipóteses se admite o sigilo nos atos da Administração. O princípio da publicidade pode ser reclamado através de 2 instrumentos básicos: a) o direito de petição (CF, art. 5º, XXXIV, “a”); b) as certidões emitidas pelos órgãos da Administração (CF, art. 5º, XXXIV, “b”). Negado o exercício de tais direitos, ou ainda não veiculada a informação, ou veiculada incorretamente, terá o prejudicado os instrumentos para garantir a restauração da legalidade: o mandado de segurança (CF, art. 5º, LXIX) e o habeas data (CF, art. 5º, LXXII). Por fim, é importante que não se deixe de lado o registro de que ao princípio da publicidade devem submeter-se todas as pessoas administrativas, quer as que constituem as próprias pessoas estatais, quer aquelas outras que, mesmo sendo de direito privado, integram o quadro da Administração Pública, como é o caso das empresas públicas e sociedades de economia mista, prestadoras de serviço público ou exploradoras de atividade econômica, e ainda as fundações que adotem o regime de direito privado. 2.5. Eficiência A Emenda Constitucional nº 19/1998, que guindou ao plano constitucional as regras relativas ao projeto de reforma do Estado, acrescentou, ao caput do art. 37, outro princípio: o da eficiência. Com a inclusão, pretendeu o governo conferir direitos aos usuários dos diversos serviços prestados pela Administração ou por seus delegados e estabelecer obrigações efetivas aos prestadores. Não é difícil perceber que a inserção desse princípio revela o descontentamento da sociedade diante de uma antiga impotência para lutar contra a deficiente prestação de tantos serviços públicos, que incontáveis prejuízos INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) já causou aos usuários. De fato, sendo tais serviços prestados pelo Estado ou por delegados seus, sempre ficaram inacessíveis para os usuários os meios efetivos para assegurar seus direitos. Os poucos meios existentes se revelaram insuficientes ou inócuos para sanar as irregularidades cometidas pelo Poder Público na execução desses serviços. Incluído em mandamento constitucional, o princípio pelo menos prevê para o futuro maior oportunidade para os indivíduos exercerem sua real cidadania contra tantas falhas e omissões do Estado. Trata-se, na verdade, de dever constitucional da Administração, que não poderá desrespeitá-lo, sob pena de serem responsabilizados os agentes que derem causa à violação. Diga-se, entretanto, que de nada adiantará a menção a tal princípio se não houver uma disciplina precisa e definida sobre os meios de assegurar os direitos dos usuários, a qual, diga-se por oportuno, já há muito deveria ter sido constituída se tivesse sido regulamentado o art. 37, § 3º, da Constituição Federal, que, mesmo antes da alteração introduzida pela Emenda Constitucional nº 19/1998, previa expressamente a edição de lei para regulamentar as reclamações relativas à prestação de serviços públicos. Fora daí, o princípio, tanto quanto tem sido esse último mandamento, tornar-se-á letra morta. Vale a pena observar, entretanto, que o princípio da eficiência não alcança apenas os serviços públicos prestados diretamente à coletividade. Ao contrário, deve ser observado também em relação aos serviços administrativos internos das pessoas federativas e das pessoas a elas vinculadas. Significa que a Administraçãodeve recorrer à moderna tecnologia e aos métodos hoje adotados para obter a qualidade total da execução das atividades a seu cargo, criando, inclusive, novo organograma em que se destaquem as funções gerenciais e a competência dos agentes que devem exercê-las. Tais objetivos é que ensejaram as recentes ideias a respeito da administração gerencial nos Estados modernos, segundo a qual, se faz necessário identificar uma gerência pública compatível com as necessidades comuns da Administração, sem prejuízo para o interesse público, que impele toda a atividade administrativa. A Emenda Constitucional nº 45/2004 (referida pela doutrina como “Reforma do Judiciário”), acrescentou o inciso LXXVIII ao art. 5º da Constituição, estabelecendo que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. O novo mandamento, cuja feição é a de direito fundamental, tem por conteúdo o princípio da eficiência no que se refere ao acesso à Justiça e estampa inegável reação contra a insatisfação da sociedade pela excessiva demora dos processos, que praticamente torna inócuo o princípio do acesso à Justiça para enfrentar lesões ou ameaças a direito (CF, art. 5º, XXXV). Note-se que a nova regra constitucional não se cinge apenas aos processos judiciais, mas também àqueles que tramitam no âmbito administrativo, muitos destes, da mesma forma, objeto de irritante lentidão. Não basta, porém, a inclusão do novo INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte) mandamento; urge que outras medidas sejam adotadas, em leis e regulamentos, para que a disposição possa vir a ter densa efetividade. INSTITUTO ESCOLA SUPERIOR DE CONTAS E GESTÃO PÚBLICA MINISTRO PLÁCIDO CASTELO (Proibida a reprodução total ou parcial sem citar a fonte)
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