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1 CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Curso: Engenharia de Produção / UFF-CEFET/RJ Disciplina: Psicologia e Sociologia do Trabalho Conteudista: Alexandre de Carvalho Castro AULA 1 – O que é Psicologia do Trabalho? META Apresentar o escopo da Psicologia do Trabalho, diferenciando as principais tendências. OBJETIVOS Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: 1. Identificar o escopo de atuação da Psicologia do Trabalho; 2. Analisar o papel do Engenheiro de Produção ao lançar mão de conhecimentos da Psicologia do Trabalho; PRÉ-REQUISITOS Para se ter um bom aproveitamento desta aula, é importante que você tenha um equipamento capaz de fazer o download dos dois artigos sugeridos para leitura comparativa. 1. INTRODUÇÃO: Os dois lados de uma questão 2 Agora, quando vamos dar início ao nosso curso, nesta primeira aula, convido a você para um momento de reflexão. Vamos lá? Observe com atenção essas duas histórias em quadrinhos: A Psicologia do Trabalho I Existem algumas coisas aqui na indústria que não estão me agradando. Mas... O quê? A produtividade Já pensou em estudar Psicologia do Trabalho? Estou com um problema. [Os dois personagens estão de terno e gravata. São executivos, CEOS da empresa.] 3 A Psicologia do Trabalho II Existem algumas coisas aqui na indústria que não estão me agradando. Mas... O quê? As condições de trabalho Já pensou em estudar Psicologia do Trabalho? Pense e reflita: A Psicologia do Trabalho é a mesmo nos dois casos? Qual o escopo da ação que seria a mais adequada, em sua opinião? 2. DESENVOLVIMENTO: Quem tem medo do Lobo Mau? Uma coisa que deve ficar clara para você, desde o início de nosso curso, é que o escopo e a prática da Psicologia do Trabalho, ao contrário do que mostram manuais e handbooks de Estou com um problema. [Os dois personagens estão de capacete. São operários, mas com os rostos iguais ao desenho anterior] 4 viés mais tradicional, está longe de ser uma prática consensualmente apaziguadora e passiva (ou pacífica, em certos casos). Ela se insere em um meio tensionado permanentemente pelos interesses da força de trabalho e do capital. É uma psicologia do “trabalho”, tudo bem. Mas... qual trabalho? O que dignifica o homem, ou aquele que o aliena? O que emancipa, ou o que explora? Ora, a intervenção do psicólogo do trabalho decorre sempre de uma demanda. Assim sendo, é fundamental perceber que pode haver antagonismo entre a demanda da empresa e a demanda do trabalhador. Veja o Box abaixo. O info-gráfico procura mostrar o quão variadas são as abordagens nesse escopo de pesquisas e práticas. Info-gráfico: O escopo da Psicologia do Trabalho Em linhas gerais, a Psicologia do Trabalho se desenvolveu, no Brasil, em três fases. A primeira corresponderia à chamada Psicologia Industrial, havendo posteriores transições para Psicologia Organizacional e Psicologia Social do Trabalho. Para muitos, uma classificação rígida de etapas e momentos acaba sendo arbitrária, mas este quadro pretende apenas indicar tendências. Na primeira fase, que começa em fins dos anos 1920 ainda era chamada de psicotécnica e resumia-se à seleção profissional. Depois, há o momento da Psicologia Organizacional, com uma ampliação do interesse em processos organizacionais. A partir dos anos 1990, o trabalho é visto como construção social, com foco na subjetividade do trabalhador O campo de estudos da Psicologia do Trabalho, portanto, pode ser entendido como sendo voltado para analisar os fatores humanos frente aos contextos do trabalho produtivo, a fim de aplicar o resultado dessas pesquisas através de intervenções no ambiente organizacional. Alguns dos temas mais estudados no Brasil — segundo Wachelke, P. (2005) — são os seguintes: Comportamento nas organizações e trabalho Gestão, liderança e poder Saúde e qualidade de vida 5 Aprendizagem organizacional Cultura e Clima em organizações Relações de trabalho Subjetividade Percepção Motivação Observe atentamente a relação de temas estudados e pense: Por que há tanta variedade? Quais temas lhe chamam mais a atenção? Quais despertam mais interesse? No campo de estudos do mundo do trabalho — e isso deve ficar bem claro — ações como uma pesquisa de campo, um workshop de treinamento, um diagnóstico organizacional, ou uma investigação de condições de trabalho, não ocorrem movidas unicamente pela vontade do pesquisador ou do engenheiro envolvido no processo, mas fundamentalmente em função de uma demanda. Daí as tensões do cabo de guerra entre os interesses, por exemplo, da produtividade e da saúde organizacional. Precisamos de mais produtividade Queremos melhores condições de trabalho Aiiiiiiiiiiiiiiiii Bem que minha mãe disse para eu não ser psicólogo do trabalho! 6 Uma questão fundamental para o Engenheiro de Produção frente a Psicologia do Trabalho é problematizar os vínculos dessa prática no ambiente produtivo — conforme pode ser visto na bibliografia sugerida — A quem a Psicologia do Trabalho serve? Na opção vista nos quadrinhos como sendo a perspectiva do trabalhador, a ênfase se dirige a um saber comprometido com a saúde do trabalhador, afinal de contas, mesmo no mundo coorporativo, a psicologia é uma das ciências da saúde. Entretanto, apesar do compromisso, eminentemente ético, com a saúde do trabalhador, é inegável que a Psicologia do Trabalho tem procedimentos formais, ou até profissionais com vínculos empregatícios, voltados a atender os interesses da empresa ou organização produtiva. E aí: A quem a Psicologia do Trabalho deve servir? Essa questão começou a ser debatida mais seriamente no Brasil nos anos 1980, época em que a sociedade brasileira passava por uma série de transformações. Nessa ocasião, pesquisadores ligados à ABRAPSO (Associação Brasileira de Psicologia Social), lançaram um livro, republicado posteriormente, que se tornou um clássico: “Psicologia social: o homem em movimento”. Esse livro rompia com a tradição norte-ameicana de Psicologia Social e adotava perspectivas então vistas como polêmicas e controversas. Num texto particularmente voltado para a Psicologia do Trabalho, Wanderley Codo afirmou que o psicólogo do trabalho tendia ser visto como o Lobo Mau da psicologia porque supostamente era contratado pelo patrão para fazer frente ao interesse do operário. O valor da contribuição de Codo, contudo, foi mostrar que a coisa não precisava ser necessariamente assim. Ou seja, o psicólogo, nas dinâmicas das relações de trabalho, não precisava vestir dada fantasia — ou dada metáfora — e fazer a performance do elemento perverso: o Lobo Mau. De fato, na medida em que as reivindicações dos operários da indústria se tornavam mais importantes no cenário brasileiro, com muitas greves apesar da ditadura militar, foi ganhando mais densidade a crítica de que as atividades da Psicologia do Trabalho eram “intrinsecamente reacionárias” (Codo, 1984, p.196). Nesse contexto, Codo se preocupou em fazer a crítica da crítica, e assinalou que trabalhadores viam a possibilidade de contrapor, à desvalorização a que a organização os submetia, uma revalorização de si mesmos, através de processos deauto-valorização: elogios à própria inteligência, 7 perspicácia, além de realização de cursos de aperfeiçoamento, etc. Ou seja, há exploração por parte de muitos patrões, mas a verdade é que as oportunidades emancipatórias também existem, e a Psicologia do Trabalho fica no meio de tal redemoinho. Nesse sentido, há de se ressaltar que a Psicologia do Trabalho pode (e deve) contribuir para a conscientização do trabalhador frente às questões do processo produtivo. Principalmente porque as exigências da produção industrial demandam crescente nível de especialização, e essa melhor qualificação implica maior empoderamento (empowerment) ao próprio trabalhador. Essa questão é muito debatida no meio da pesquisa em Psicologia do Trabalho. E alguns autores frequentemente aludem ao termo “Lobo Mau”, mantendo a ironia do texto seminal de Wanderley Codo. Veja dois desses textos que analisam o sentido da Psicologia do Trabalho (atenção diagramador, indicar o hipertexto, esses textos são indexados, scielo, clicar no doi) : A metáfora do "Lobo-Mau" tem sido usada para descrever ou ironizar a tendência, em Psicologia do Trabalho, que desenvolve ações contra os trabalhadores. TOMANIK, Eduardo A.. Para onde andará o “lobo mau”da psicologia?. Psicol. estud.[online]. 2003, vol.8, n.2 [cited 2015- 09-18], pp. 157-159 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 73722003000200018&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1807-0329. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722003000200018. MERHY-SILVA, Fabiana Nunes. "Lobo mau": analisador da transversalidade entre organização do trabalho & saúde mental?. Fractal, Rev. Psicol. [online]. 2008, vol.20, n.1 [cited 2015-09-18], pp. 41-64 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984- 02922008000100009&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1984-0292. http://dx.doi.org/10.1590/S1984-02922008000100009. 3. ATIVIDADES Você leu com atenção os dois textos indicados? Então, que tal participar de um debate? Como se sabe, os fóruns de discussão são atividades muito apreciadas em cursos como o nosso, de educação a distância, justamente pelo estímulo à troca de opiniões entre os alunos participantes, fator esse indispensável para a aprendizagem colaborativa no cyberspace. 8 A questão norteadora desse fórum é a seguinte: Qual deve ser o papel do Engenheiro de Produção ao lançar mão de conhecimentos da Psicologia do Trabalho? (indique uma das três opções e apresente uma justificativa, concordando ou discordando das opiniões dos outros alunos. Se não for possível discutir isso em grupos de WhatsApp faça seu trabalho mesmo sozinho) o Otimizar desempenhos e lucros das empresas; o Minorar sofrimentos e maximizar o bem-estar coletivo dos trabalhadores; o Atuar em prol da conciliação entre os interesses do capital e os dos trabalhadores. Vamos lá? Quem será o primeiro? 5. CONCLUSÃO Após essa apresentação do escopo da disciplina aqui abordada, queremos chamar a sua atenção para alguns elementos fundamentais. Como vimos, os conhecimentos no campo da psicologia se inserem em um meio tensionado permanentemente pelos interesses da força de trabalho e do capital. Assim sendo, frente à pergunta acerca do papel e validade da Psicologia do Trabalho, haverá sempre a possibilidade de surgirem respostas antagônicas. A resposta certa para uns, será inadequada para outros, e vice-versa. Justamente por isso, é necessário ressaltar o papel do Engenheiro de Produção ao lançar mão desses conhecimentos, pois serão os seus compromissos éticos que darão o tom de sua apropriação do saber psicológico. RESUMO A Psicologia do Trabalho se estabelece nas dinâmicas e disputas entre o capital e a força de trabalho. Em função disso, pode ser caracterizada em seus objetivos e meios de forma diametralmente oposta, por grupos com interesses diferentes. 9 LEITURAS RECOMENDADAS BASTOS, Edu Álvaro Manso. O que fazemos quando fazemos psicologia do trabalho?. Psicol inf. [online]., vol.13, n.13, p. 99-125, 2009. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Codo, W. [1984]. O papel do psicólogo na organização industrial : notas sobre o “lobo mau” em psicologia. In: S. T. M. Lane, & W. Codo (Orgs.). Psicologia social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1999. p. 195-202. WACHELKE, João F. R. et al. Conceitos e práticas adotados por pesquisadores em psicologia organizacional e do trabalho. Aletheia [online]. 2005, n.21 [citado 2015-09-19], pp. 7-19 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 03942005000100002&lng=pt&nrm=iso>.
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