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A SOCIEDADE ANÔNIMA NO CÓDIGO CIVIL DE 2002 Ana Paula Pinheiro Aluna do 2º ano diurno do Curso de Direito da UNESP (Campus de Franca-SP) SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Histórico, 2.1 A Lei 6.404/76; 3. Características da Sociedade Anônima, 4. O Capital Social e os Órgãos Sociais; 5. Extinção da sociedade; 6. Conclusão; 7. Bibliografia. 1-INTRODUÇÂO O Código Civil, embora tenha regulado os tipos societários do direito brasileiro, evitou normatizar a sociedade por ações, trazendo apenas dois artigos sobre o tema, deixando assim que esta matéria continuasse sendo regida por legislação específica. A sociedade anônima ou por ações, também conhecida por companhia, possui legislação especial (Lei 6.404/76) que regula sua constituição, funcionamento e expressa detalhadamente todas as características e operacionalização deste ripo societário. A Lei das Sociedades Anônimas, como é também conhecida, aborda inclusive as questões contábeis, sobretudo no que se refere aos critérios de classificação e avaliação dos elementos patrimoniais, ativo, passivo e patrimônio líquido, bem como da elaboração das demonstrações contábeis. Pela complexidade da matéria regulada pela Lei 6.404/76, certamente esta foi uma das razões que levou o legislador a não cuidar de suas particularidades dentro do código civil, fazendo referência apenas em dois artigos, reforçando assim o que estabelece a legislação especial. Apenas o artigo 1.088 do código para não deixar de citar a matéria, expressa que na sociedade anônima ou companhia, o capital divide-se em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir. Este texto é praticamente uma cópia do já está disposto no artigo 1º. da Lei 6.404/76. O outro artigo do código que fala da sociedade anônima tão somente reforça o princípio da especialidade, em que a lei especial prevalece sobre a lei geral em matéria específica. Assim, o artigo 1.089 determina que sociedade anônima rege-se por lei especial, aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições deste Código. A legislação especial a que se refere o código é hoje a Lei 6.404/76 com as alterações posteriores. Ressaltamos que a sociedade anônima é tipicamente empresarial, não sendo permitida sua constituição para fins não empresariais. Neste sentido de acordo com o parágrafo único do artigo 982 do código, a exemplo do exposto § 1º do artigo 2º da Lei 6.606/76, as sociedades anônimas, independente do seu objeto, serão sempre consideradas sociedades empresárias. Portanto, em nenhuma hipótese poderá ser constituída uma sociedade simples (não empresária) na modalidade de companhia ou S/A. A forma de constituição da sociedade por ações não é através de contrato e sim de estatuto social, o qual deverá definir o objeto de modo preciso e completo, podendo a companhia ter por objeto participar de outras sociedades. Ainda que não prevista no estatuto, a participação é facultada como meio de realizar o objeto social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais (Lei 6.404/76, artigo 2º. § 2º e § 3º). As empresas constituídas sob a modalidade de sociedade anônima poderão ser de dois tipos: Companhia Aberta, aquela que disponibiliza seus valores mobiliários (ações, etc) para negociação no mercado através de Bolsa de Valores, e Companhia Fechada cujas ações pertencem somente aos acionistas constantes no estatuto social e estas companhias não negociam no mercado de ações. Destacamos que somente os valores mobiliários de emissão de companhia registrada na Comissão de Valores Mobiliários podem ser negociados no mercado de valores mobiliários. Portanto, nenhuma distribuição pública de valores mobiliários será efetivada no mercado sem prévio registro na Comissão de Valores Mobiliários (Lei 6.404/76, artigo § 1º e § 2º). Assim como nos demais tipos societários, a exemplo da sociedade limitada, estabelece o artigo 7º da referida lei que o capital social da companhia poderá ser formado com contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro. A avaliação de bens para efeitos de integralização do capital social não é feita livremente pelo acionista interessado, obedece às regras objetivas estabelecidas em legislação específica (Lei 6.404/76, artigo 8º e parágrafos). Esta avaliação deverá ser feita por três peritos ou por empresa especializada, nomeados em assembléia geral dos subscritores, convocada pela imprensa e presidida por um dos fundadores, instalando se em primeira convocação com a presença de subscritores que representem metade, pelo menos, do capital social, e em segunda convocação com qualquer número. Os peritos ou a empresa avaliadora deverão apresentar laudo fundamentado, com a indicação dos critérios de avaliação e dos elementos de comparação adotados e instruído com os documentos relativos aos bens avaliados, e estarão presentes à assembléia que conhecer do laudo, a fim de prestarem as informações que lhes forem solicitadas. Se o subscritor aceitar o valor aprovado pela assembléia, os bens incorporar-se-ão ao patrimônio da companhia, competindo aos primeiros diretores cumprir as formalidades necessárias à respectiva transmissão. Por outro lado, se a assembléia não aprovar a avaliação, ou o subscritor não aceitar a avaliação aprovada, ficará sem efeito o projeto de constituição da companhia. Destacamos que os bens não poderão ser incorporados ao patrimônio da companhia por valor acima do que lhes tiver dado o subscritor. Dada a importância da questão da avaliação dos bens para fins de integralização do capital social, o § 5º do artigo 8º, determina que aplica-se à assembléia referida neste artigo o disposto nos parágrafos 1º e 2º do art. 115. Este artigo trata do abuso do direito de voto e conflito de interesses. Determina o caput do artigo 115 que o acionista deve exercer o direito de voto no interesse da companhia, sendo considerado abusivo o voto exercido com o fim de causar dano à companhia ou a outros acionistas, ou de obter, para si ou para outrem, vantagem a que não faz jus e de que resulte, ou possa resultar, prejuízo para a companhia ou para outros acionistas. Em decorrência do exposto, expressa o § 1º do artigo 115 que o acionista não poderá votar nas deliberações da assembléia geral relativas ao laudo de avaliação de bens com que concorrer para a formação do capital social e à aprovação de suas contas como administrador, nem em quaisquer outras que puderem beneficiá-lo de modo particular, ou em que tiver interesse conflitante com o da companhia. Por outro lado, de acordo com o § 2º do mesmo artigo, se todos os subscritores forem condôminos de bem com que concorreram para a formação do capital social, poderão aprovar o laudo, sem prejuízo da responsabilidade de que trata o § 6º do art. 8º. Esta responsabilidade incide sobre os avaliadores e o subscritor que responderão perante a companhia, os acionistas e terceiros, pelos danos que lhes causarem por culpa ou dolo na avaliação dos bens, sem prejuízo da responsabilidade penal em que tenham incorrido. No caso de bens em condomínio, a responsabilidade dos subscritores é solidária. Destacamos também que de acordo com o artigo 109 da Lei das Sociedades Anônimas, nem o estatuto social nem a assembléia geral poderão privar o acionista dos direitos seus essenciais, quais sejam: I - participar dos lucrossociais; II - participar do acervo da companhia, em caso de liquidação; III - fiscalizar, na forma prevista nesta lei, a gestão dos negócios sociais; IV - preferência para subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição, observado o disposto nos artigos 171 e 172; e V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta lei. Corroborando o direito à fiscalização da gestão dos negócios por parte dos acionistas, o código civil determina em seu artigo 1.020 que os administradores são obrigados a prestar aos sócios contas justificadas de sua administração, e apresentar-lhes o inventário anualmente, bem como o balanço patrimonial e o de resultado econômico. 2-HISTÓRICO Reconhece-se que a primeira organização que se manifestou composta dos elementos caracterizadores da sociedade anônima foi o Banco de São Jorge, fundado em 1407 na cidade de Gênova, pelos credores da república Gevonesa, ao transformarem seus títulos de renda em ações nominativas do banco estatal negociadas livremente o mercado. Com a política colonialista e o capitalismo mercantil, em meados do século XVII, que ambicionavam o domínio da América, Índia e África, surgiram grandes capitais em meio ao concurso de Estado e de particulares, o que acarretou a formação de potentes sociedades, embriões das Sociedades Anônimas. Essas organizações precursoras eram as denominadas companhias de colonização, constituídas para viabilizar os empreendimentos de conquista e manutenção de colônias, assim como o comércio ultramarino. Exemplo conhecido é a “Companhia das Índias Orientais”, organizada pela Holanda. As sociedades por ações, então, por estarem desde seu início envolvidas com empreendimentos de considerável peso econômico, exigiam uma certa exclusividade frente aos seus negócios para que, detentora desse monopólio que era outorgado pelo Estado, pudesse garantir o retorno do investimento e com isso promover uma importante seguridade econômica. Tendo o capitalismo evoluído, a outorga deixou de garantir o monopólio e passou a controlar a capitação pública de recursos. Em linhas gerais, o decorrer histórico das sociedades anônimas compõe-se de três períodos distintos: outorga, autorização e regulamentação, como especifica Fábio Ulhoa Coelho: “No primeiro, a personalização e a limitação da responsabilidade dos acionistas eram privilégios concedidos pelo monarca e, em geral, ligavam-se a monopólios colonialistas. No segundo período, elas decorriam de autorização governamental. No último, bastavam o registro, no órgão próprio, e a observância do regime legal específico”. 2.1- A Lei 6.404/76 A Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, antecedida da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, via de regra regula as sociedades anônimas e as sociedades em comanditas por ações. Contudo, pode vir a coordenar outros tipos societários, e isso pode ocorrer declaradamente, tal como nas sociedades de economia mista, ou então, através de alguns de seus institutos: transformação, fusão, incorporação, cisão, consórcios e grupos ou, ainda, por meio de normas específicas como é o caso das que responsabilizam o controlador. Ainda que seja intitulada lei das sociedades anônimas, corresponde na verdade à lei das sociedades por ações em geral, e surge suprindo várias faltas e inovando em vários aspectos a legislação anterior, o Decreto-lei nº 2.627/1940. Ilustrando essa importante e benéfica alteração, são citadas algumas dessas inovações: alteração do número mínimo de acionistas, criação de ações sem valor nominal, adoção do voto múltiplo, a representação do acionista por não-acionista, a instituição do dividendo obrigatório, regulamentação dos consórcios, a regulamentação do bônus de subscrição, etc. 3-CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE ANÔNIMA A sociedade anônima é a sociedade cujo capital é dividido em ações que podem ser: • Ordinárias (nominativas ou a portador): os sócios possuem esse tipo de ação têm direito a voto; • Preferenciais (nominativas ou ao portador): os sócios que possuem esse tipo de ação não tem direito a voto. A responsabilidade dos acionistas é limitada até a integralização das ações por cada um subscritas. A denominação dessa sociedade deverá indicar o objeto de suas atividades e ser seguida ou precedida da expressão Sociedade Anônima, ou, abreviadamente, S.A. Pode também ser precedida da palavra Companhia, ou, abreviadamente, Cia. Para melhor entendermos a constituição de uma S.A., verifica-se o artigo 80 da Lei n.º 6. 404.De acordo com essa nova Lei das S.A., duas pessoas já são suficientes para constituir uma companhia. A lei anterior estabelecia um mínimo de sete pessoas. Reza o artigo 4º da Lei das Sociedades por Ações que há duas espécies distintas de sociedade anônima. Classificou-as em sociedade anônima de capital aberto e sociedade anônima de capital fechado. A primeira delas diz respeito às sociedades que tem seus valores mobiliários negociados nas bolsas de valores ou mercados de balcão, e segundo o parágrafo único do mesmo artigo, essa negociação só é possível àquela companhia que possui registro na Comissão de Valores Mobiliários; e para que se efetue o registro são exigidos alguns requisitos e a atenção a certas formalidades. O controle governamental que incide sobre as sociedades anônimas tem o intuito de oferecer ao mercado acionário uma certa segurança, já que essa área de investimento em ações, sem dúvida, é de reconhecido risco. E essa segurança em parceria com a conseqüente liquidez (facilidade de se ter disponível o dinheiro investido), motivam o investimento, fazendo as companhias vitoriosas quanto à pretensão de captarem recursos. A constituição da sociedade de tipo aberto se dá por subscrição pública em que são necessários o registro na CVM, a colocação das ações e a assembléia de fundação. A sociedade anônima fechada não tem suas ações disponíveis no mercado para negociação. Essa restrição advém dos sócios escolherem seus companheiros, não impedindo o ingresso no grupo formado, haja vista a presença laços familiares ou de confiança mútua. Disso decorre o inferior grau de liquidez do investimento nesse tipo de sociedade, que é constituída por subscrição particular. Os direitos assegurados aos acionistas da sociedade anônima são: • Direito de participar dos lucros sociais; • Direito de participar do patrimônio social, no caso de liquidação da sociedade; • Direito de fiscalização dos negócios; • Direito de preferência para a subscrição de novas ações, no caso de aumento de capital; • direito de retirar-se da sociedade, com o reembolso do valor das ações pela própria sociedade, ou pela transferência das ações a outros acionistas ou a terceiros. A sociedade anônima será regida por estatutos, que, em relação à diretoria, deverão determinar o seguinte: • Modo de investidura e substituição dos diretores, número e maneira pela qual serão remunerados; • Prazo de gestão, que não poderá ser superior a três anos, podendo ser reeleitos; • Atribuições de cada diretor. Os diretores, que podem ou não ser acionistas, não serão responsáveis pessoalmente pelas obrigações que contraírem em nome de sociedade, em virtude de atos regulares de gestão, executando-se os atos que violarem a lei ou os estatutos e os praticados com dolo ou culpa. Os atos dolosos são aqueles em que a pessoa teve participação direta, agindo de má fé, e os culposos são os que sua negligencia ou imprudência criou oportunidade para outros os praticassem. Segundo as regras estatutárias, o supremo de uma sociedade anônima é exercidopor sua Assembléia Geral, que é constituída por todos os seus acionistas. As assembléias de acionistas podem realizar-se ordinariamente, na forma dos estatutos e das leis em vigor, ou então extraordinariamente. Elas têm autoridade também para deliberar sobre qualquer assunto que diz respeito à sociedade, quando nelas estiverem presentes o número de acionistas fixado em lei ou nos estatutos. Esse número é denominado quorum. Além da assembléia e da diretoria, pode haver também um Conselho Fiscal, com as funções de fiscalizar os negócios sociais e dar parecer sobre certos assuntos a serem submetidos à aprovação da assembléia de acionistas. 4-O CAPITAL SOCIAL E OS ÓRGÃOS SOCIAIS Art. 1º A companhia ou sociedade Anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. O capital social é abordado nos artigos 1º e 5º a 10º, e das modificações nos artigos 116 a 174 da Lei n 6.404 de 1976, sendo ele a soma da contribuição dos sócios para a sociedade anônima, e acaba por fazer referência a força econômica da mesma. Esse capital determina na esfera interna a posição do sócio, a medida de sua responsabilidade, enquanto que atua externamente não só no início da atividade econômica em que há a necessidade de recursos, mas também na proteção aos direitos dos credores, apesar dessa função, estar, praticamente, a encargo só do patrimônio. Portanto, não deve haver confusão entre capital social e patrimônio, já que este vem a ser o conjunto de bens, direitos e obrigações (bruto) ou se excluídas as obrigações – líquido – e varia de acordo com a dinâmica da vida empresarial, e por isso, nem sempre será equivalente ao capital social. É válido ressaltar que, a partir de reservas e recursos advindos de lucro, o capital social é passível de ser aumentado, passando não só a representar a contribuição dos sócios, mas também o fruto do desenvolvimento da empresa. O aumento ocorrerá, também, por meio de emissão de novas ações, pela conversão de debêntures ou partes beneficiárias que proporcionam a geração de recursos para manutenção e desenvolvimento da sociedade anônima. O funcionamento da companhia pressupõe uma certa organização e essa necessidade faz com que a pessoa jurídica se desdobre em órgãos. Esses não têm personalidade jurídica, nem patrimônio, nem são responsabilizáveis, não podem demandar nem serem demandados em juízo. A sociedade é sempre a única responsável. A Assembléia geral, o Conselho de administração, a Diretoria e o Conselho Fiscal são órgãos que têm a composição e a competência fundamentadas na lei. A Assembléia geral é a reunião dos acionistas que forma o órgão deliberativo máximo, podendo tratar de qualquer assunto de interesse da sociedade. Todavia, sua soberania está limitada pelas normas da lei e do estatuto e pelas arestas do objeto social. São duas as espécies de assembléia: assembléia geral ordinária (AGO) e assembléia geral extraordinária (AGE). A primeira atua com relação aos assuntos previstos no art. 132 da Lei das S.A., tais como tomar as contas dos administradores, examinar, discutir e votar as demonstrações financeiras; eleger os administradores e os membros do Conselho fiscal, etc. A AGO é realizada uma vez por ano, nos 4 seguintes ao término do exercício social. No entanto, a Assembléia geral extraordinária acontece a qualquer tempo e seu campo de atuação compreende todos os demais casos: é dotada de competência irrestrita. Como regra geral, é função do Conselho fiscal convocar a assembléia ou, em sua falta, cabe à Diretoria, e essa convocação se dá mediante publicação de anuncio. Para que exista e tenha validade, a Assembléia geral deve contar com a presença de um mínimo de acionistas com direito de voto (quorum de instalação) e ainda, para que sua deliberação seja eficaz, faz-se necessário o apoio de um número mínimo de votos (quorum de deliberação). O Conselho de administração é eleito pela Assembléia geral que também pode vir a destituí-lo. Define-se como sendo um órgão composto por acionistas, no mínimo três, que tem competência deliberativa e fiscalizadora sobre todos os assuntos, exceto os de competência privativa da Assembléia geral. Não é um órgão obrigatório para maioria das sociedades, sendo somente para as companhias abertas, as com capital autorizado e as de economia mista. Na sociedade anônima fechada geralmente, é inexistente, o que se justifica pelo pequeno número de acionistas (em via de regra), bastando a Assembléia geral. A função primordial do Conselho consiste em agilizar a tomada de decisões no âmbito da organização empresarial. Compõem o Conselho de administração os eleitos majoritária ou proporcionalmente, sendo que o mandato deve ser estabelecido, sendo a previsão máxima três anos de duração. O Conselho deve ter um presidente eleito pelos seus membros, e suas reuniões devem obedecer às leis do estatuto e lavrar atas, assim como nas Assembléias. A Diretoria é órgão executivo da sociedade e a representação desta pertence aos diretores, que devem ser no mínimo dois, eleitos pelo Conselho de administração ou Assembléia geral, não sendo necessária a condição de acionista. Além da função representativa, no plano interno sua função é de gerência, enquanto que no externo, a Diretoria de vê ser a manifestação viva da vontade companhia. Cabe ao estatuto estabelecer o número de diretores, a duração do mandato, a substituição e a competência de cada um. O Conselho fiscal exerce função de assessoria à assembléia geral quanto à apreciação das contas dos administradores e na votação das demonstrações financeiras da sociedade anônima, ou seja, ele fiscaliza a gestão da companhia. É composto por no mínimo três e no máximo cinco membros, não necessitando serem acionistas, mas devem ter formação superior ou experiência empresarial. Não podem ser elegíveis diretores e integrantes do Conselho de administração e nem seus parentes. A existência do Conselho fiscal é obrigatória, mas seu funcionamento é facultativo (depende da vontade dos acionistas). O Conselho fiscal é composto através de três eleições em separado. 5-EXTINÇÃO DAS SOCIEDADES O procedimento de dissolução é basicamente o mesmo para todas as empresas, o que diferencia a sociedade anônima das demais é a natureza do vínculo societário desfeito. A Lei das S.A. regula tal procedimento a partir de seu art. 206, disciplinando o assunto nas empresas institucionais. A dissolução pode ser entendida como o procedimento, ou então como ato judicial ou extrajudicial que desencadeia o procedimento de extinção. Em se tratando do primeiro caso, o procedimento de extinção da personalidade jurídica é composto por três fases que são a dissolução, correspondendo ao ato desencadeante, a liquidação que é a solução das pendências obrigacionais, e por fim a partilha, ou seja, a repartição feita entre os sócios. Se ao encerrar a atividade empresária os sócios não cumprirem o regulamento, deixando de dar a devida atenção aos terceiros credores, respondem por essas obrigações pessoal e ilimitadamente. O ato de dissolução pode ser de pleno direito quando, por exemplo, há a falta de pluralidade de sócios por mais de 180 dias, pode ser amigável, por acordo de sócios, mas não necessariamente dispensando a declaração judicial, ou então pó controvérsia decidida pelo juiz. Podem ser várias as causas de dissolução de uma sociedade. Dentre elas estão a vontade dos sócios, precisando somente que metade dos que possuem direito a voto concordem ou que certa situação firmada no estatuto, pressuponha extinção caso ocorra. O decurso do prazo de duração é outracausa, pois a sociedade foi formada com tempo determinado para exercer suas atividades, assim como é causa a irrealizabilidade do objeto social, que se dá, por exemplo, quando não há mercado suficiente para o produto ou serviço da empresa. A falência também é uma causa de dissolução, já que sem recursos para quitar suas obrigações, a sociedade não pode continuar. A extinção da autorização para funcionamento também acarreta dissolução. Em vias de dissolução, deve haver o arquivamento dos atos dissolutórios na Junta Comercial depois de serem canceladas as inscrições cadastrais da sociedade junto aos órgãos fiscalizadores e arrecadadores de tributos. Estando sido dissolvida a sociedade ela ainda é detentora de personalidade jurídica para que possa liquidar as obrigações que ficaram pendentes. No entanto, não pode mais titularizar direitos e nem contrair obrigações. Quando a sociedade se encontra nessa fase de liquidação, são necessários os registro do ato dissolutório na Junta Comercial, o acréscimo do termo “em liquidação” ao nome da empresa, e que a representação legal seja exercida pelo liquidante e não mais o gerente. Esses são requisitos essenciais porque por meio deles é possível proteger o interesse dos terceiros de boa-fé. Em relação a liquidante, sua escolha nas sociedades anônimas é feita pela Assembléia geral ou pelo Conselho de administração; é comum acontecer da pessoa do liquidante ser a mesma que administrava. Todavia, as atribuições de administrador e liquidante são bem diferentes, pois o primeiro pode vinculara a empresa por quaisquer atos, enquanto que o segundo somente a obriga no que concerne à liquidação. Cabe ao liquidante alienar, a preço de mercado, bens móveis e imóveis componentes do patrimônio, contratar advogado para a realização de cobrança, renegociar dívidas, rescindir contratos de trabalho, etc. A liquidação destina-se à realização do ativo e à satisfação do passivo. Vender os bens da sociedade que está sendo liquidada e cobrar seus devedores condiz com a realização do ativo; já o passivo é satisfeito quando ocorre o pagamento dos credores da sociedade. O patrimônio restante à utilização do ativo e à satisfação do passivo é partilhado entre os sócios, de acordo com a participação de cada um no capital social. Contudo, os sócios não são obrigados a atuar dessa maneira, tendo liberdade para negociarem de outras formas se assim preferirem. Não há problema em, ao invés de se vender uma parte dos bens, atribuí-la a um dos sócios em vista de crédito a haver na partilha, contanto que não prejudique o cumprimento das obrigações e nem os direitos dos demais sócios. Pode acontecer dos bens que compõem o patrimônio social não serem suficientes para sanar todas as dívidas contraídas pela sociedade. Nesse caso, o liquidante pode agir de duas maneiras: ou ele pede a falência da sociedade, disciplinada no art. 210 da Lei das S.A., ou executa os pagamentos possíveis e confessa a falência da sociedade após o encerramento dos recursos. 6-CONCLUSÃO É notório o crescente desuso da sociedade em comandita por ações, o que vai dando margem à classificação do velho modelo abandonado, assim como é evidente a importância atribuída à sociedade anônima, que se solidifica, tipificando o modelo ideal de sociedade empresária. As realidades econômicas resultantes das transformações que ocorreram no mundo a partir da Primeira Guerra Mundial, da revolução tecnológica, proporcionaram alterações profundas no modelo jurídico original das sociedades anônimas. Por meio dessas mudanças, elas tornaram-se aptas a construir e manter a macroempresa. Em vista de sua abertura à captação de recursos, as companhias interferem nas economias populares com uma gama imensa de capitais acumulados, gerando um mercado ativo de dimensões extraordinárias. Daí o tremendo poder que essas sociedades detêm e que faz com que atuem além dos limites nacionais e da esfera econômica, influindo até mesmo no campo político. As multinacionais, por exemplo, são reflexo dessa forte estrutura dinâmica. Um dos grandes problemas que afligem a sociedade anônima moderna é o abuso da personalidade jurídica, que gera a teoria do superamento da personalidade jurídica. Busca-se através de um típico sistema de freios e contrapesos equilibrar a vida societária, concedendo-se direitos aos acionistas considerados individualmente ou em grupos, para que haja oposição ao poder da maioria e à aplicação institiva do poder majoritário, tal como se celebra nas teorias do abuso do direito e desvio do poder. Em dias atuais, é inquestionável o fato da sociedade anônima existir na quase totalidade das legislações, e com grande semelhança. Ora, sendo acolhidas em praticamente todos os países e tendo a maioria dos aspectos em comum, os poucos resquícios de divergência que se apresentam decorrem das diferenças quanto à estrutura econômica do país (desenvolvidos ou não), ou do seu sistema de direito. Fortificadas, essas sociedades anônimas constituem verdadeiros impérios, que muitas vezes acabam comprometendo a própria estabilidade e autoridade do Estado. Essa problemática é objeto de constantes preocupações de moralistas, juristas, sociólogos e políticos. Afinal, não se restringe aos interesses individuais apenas, mas abrange os interesses de toda coletividade. Estando o poder econômico concentrado nas mãos de poucas pessoas, dirigentes de empresas gigantescas, toda esa força pode prejudicar ou beneficiar um grande número de indivíduos, afetar regiões inteiras, alterar o andamento dos negócios. A sociedade anônima hoje, ao se aproximar do final do ciclo de sua evolução histórica, curiosamente, está voltando a ser uma entidade representativa de interesses nacionais e sociais, como foi em sua origem. Na verdade, ocorreu no Brasil um desvirtuamento da finalidade das sociedades anônimas, que o poder público busca corrigir levando-as a democratização de seu capital. Durante muito tempo, as companhias serviram de instrumento para evasão e sonegação fiscal, através de ações ao portador que instituíam o anonimato. Atualmente, tanto as ações ao portador como as por endosso estão excluídas da Lei 6.404 de 1976, Lei das S.A., exemplo de várias outras alterações que se deram nessa Lei tão importante, que regula não só as sociedades por ações, mas várias outras em se tratando de assuntos não regulados pelo Código Civil. O despontar da Lei 6.404 de 1976 surgiu da urgente necessidade de se impor uma reforma ao Decreto-Lei 2.627 de 1940, já que essa lei, apesar de ter sido qualificada como sendo uma das melhores leis do mundo em matéria de sociedade anônima , não correspondia à realidade do país e, com efeito, o oferecimento de mecanismos jurídicos pelo direito à prática societária deve ter certa coerência com a realidade. Logo, a Lei das sociedades anônimas deve sofrer tantas modificações quanto necessário, dependendo de sua viabilidade prática. BIBLIOGRAFIA: COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 1. 6. ed. Ver. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2002. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 2. 7.ed. ver. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2004. REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial, volume 2. 20. ed. – São Paulo: Saraiva, 1995. Lei das S.A. nº 6.4040 de 15 de dezembro de 1976. 7.ed. – São Paulo: Atlas, 2000.
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