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CRIMES AMBIENTAIS Maria Luiza e outras

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1 
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO 
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE CÁCERES “JANE VANINI” 
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO 
 
 
 
 
CLÁUDIA CONCEIÇÃO COSTA FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS CRIMES AMBIENTAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CÁCERES - MT 
2014 
2 
CLÁUDIA CONCEIÇÃO COSTA FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS CRIMES AMBIENTAIS 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado à 
Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas da 
Universidade do Estado de Mato Grosso como 
requisito parcial à obtenção do grau de 
Bacharel em Direito. 
Orientadora: Profª. Me.Maria Cristina M. de 
F.Bacovis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CÁCERES - MT 
2014 
 
3 
 
CLÁUDIA CONCEIÇÃO COSTA FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS CRIMES AMBIENTAIS 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
 
 
Profª. Me.Maria Cristina M. de F.Bacovis 
Departamento de Ciências Jurídicas/UNEMAT 
Orientadora 
 
 
 
 
 
 
Profª.Rafaela Emília Bortolini 
Departamento de Ciências Jurídicas/UNEMAT 
Membro 
 
 
 
 
 
Prof. Bruno Luiz de Arruda Lindote 
Departamento de Ciências Jurídicas/UNEMAT 
Membro 
 
 
 
Aprovada em: _____ de __________ de 2014. 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus toda honra e toda glória. Agradeço meus pais pela vida, pela educação, pela 
oportunidade de boas escolas, por tudo que fizeram para que hoje eu possa estar aqui 
apresentando meu trabalho. Ao meu esposo João Paulo pela dedicação e paciência. Ao 
menino mais lindo do mundo, meu filho, Henrique, que mesmo sem saber muita coisa, me dá 
coragem para continuar a viver e buscar melhores horizontes. A todos os professores, em 
especial a minha orientadora que me ajudou e compreendeu todos meus problemas sempre 
com muita sensibilidade. Aos professores convidados da minha banca por terem aceitado o 
convite. Aos meus colegas de sala pela amizade. A todos os funcionários da UNEMAT, pela 
manutenção e funcionamento dessa entidade. 
 
 
5 
 RESUMO 
 
Essa monografia objetiva estudar a aplicabilidade do princípio da insignificância nos crimes 
ambientais de acordo com os entendimentos jurisprudenciais e doutrinários. Buscando 
verificar a possibilidade legal, a posição dos doutrinadores e a aplicabilidade através da 
análise da jurisprudência dos tribunais. Na primeira parte analisa-se a tutela penal do meio 
ambiente e atipificação penal ambiental, sob os enfoques: considerações gerais, da 
necessidade da tutela penal ambiental, meio ambiente como bem jurídico penalmente 
relevante, função instrumental da sanção penal, natureza subsidiária do Direito Penal, tipo 
penal ambiental e concepção material da tipicidade penal ambiental; na segunda parte estuda-
se o princípio da insignificância em matéria penal abordando os seguintes pontos: 
origem,conceito, previsão legal, fundamento e finalidade do conteúdo jurídico, natureza do 
principio da insignificância; bem como do princípio da insignificância como principio 
jurídico; e na terceira parte trata-se da aplicação do principio da insignificância aos crimes 
ambientais fazendo uma interação entre a primeira e a segunda parte, enfocando: a aplicação 
do principio da insignificância aos crimes ambientais; as principais leis que cuidam das 
infrações penais ambientais; competência para julgar os crimes ambientais; jurisprudência 
pátria e aplicação do princípio da insignificância na seara ambiental; reconhecimento da lesão 
ambiental penalmente insignificante; princípio da insignificância e crimes ambientais em face 
da Lei n° 9.099/95. Essa monografia fundamenta-se em pesquisa bibliográfica, 
jurisprudencial, livros, periódicos e sítios eletrônicos e utiliza o método dedutivo. Como 
referencial teórico, utilizou-se os autores, Ivan Luiz Silva, Júlio Fabrini Mirabete, Vladimir 
Passos de Freitas, entre outros. 
 
 
Palavras-chaves: Direito ambiental. Princípio da insignificância. Crimes ambientais. 
 
 
6 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 7 
1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O MEIO AMBIENTE ................................................................................................. 9 
1.1 CONCEITOS DE MEIO AMBIENTE .................................................................................................................. 9 
1.2 DA NECESSIDADE DA TUTELA PENAL AMBIENTAL ...................................................................................... 13 
1.2.1 O meio ambiente como bem jurídico penalmente relevante.............................. 15 
1.2.2 A função instrumental da sanção penal ............................................................... 16 
1.2.3 A natureza subsidiária do direito penal .............................................................. 17 
1.3 O TIPO PENAL AMBIENTAL ......................................................................................................................... 18 
1.4 DA CONCEPÇÃO MATERIAL DA TIPICIDADE PENAL AMBIENTAL ................................................................ 20 
2 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ...................................................................................................................21 
2.1 PROCESSOS HISTÓRICOS QUE DERAM ORIGEMAO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ................................ 21 
2.2 DEFINIÇÕES DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ....................................................................................... 22 
2.3 LEGALIDADES DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA .................................................................................... 25 
2.4 DA INSIGNIFICÂNCIA COMO PRINCÍPIO JURÍDICO ...................................................................................... 26 
2.5 FUNDAMENTO E FINALIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ........................................................... 28 
2.6 DO CONTEÚDO JURÍDICO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA .................................................................. 29 
2.7 NATUREZAS JURÍDICA DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ....................................................................... 29 
3 DA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA AOS CRIMES AMBIENTAIS ...........................................30 
3.1 JURISPRUDÊNCIAS PÁTRIA E APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NA SEARA AMBIENTAL ..... 32 
3.2 RECONHECIMENTOS DA LESÃO AMBIENTAL PENALMENTE INSIGNIFICANTE ............................................ 35 
3.3 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E CRIMES AMBIENTAIS EM FACE DA LEI 9.099/95 .................................. 39 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................................. 42 
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 45 
 
 
 
7 
INTRODUÇÃO 
 
 O meio ambiente é de grande importância para a humanidade de modo que foi 
incluído entre os direitos fundamentais do cidadão, sendo instituídas medidas de proteção 
contra as condutas que poderiam lesioná-lo. 
 O legislador para garantir a efetiva proteção do meio ambiente valeu-se do Direito 
Penal em relevância do bem jurídico tutelado 
 A tutela penal ambiental consiste na descrição típica da conduta reprovada e na 
imposição de sanção criminal em caso de prática dessas ações. Contudo, nesse contexto surge 
a problemática da amplitude do tipo penal ambiental, que,em razão da complexidade de sua 
construção, pode alcançar condutas sem potencial ofensivo ao bem ambiental tutelado. 
 Perante essa abrangência, evidencia-se a necessidade de se submeter o tipo penal 
realizado ao crivo do Principio da Insignificância para excluir as lesões ambientais 
penalmente irrelevantes, permanecendo típica somente a conduta detentora de ofensividade 
concreta. 
 A presente monografia foi elaborada utilizando-se da pesquisa bibliográfica (livros, 
periódicos, publicações eletrônicas), analisando-se o principio da insignificância e sua 
aplicação no direito ambiental, segundo a legislação, a doutrina e a jurisprudência. Esse 
trabalho tem como referencial teórico, Ivan Luis da Silva, Júlio Fabrini Mirabete,Vladimir 
Passos de Freitas entre outros. 
 O presente trabalho tem como objetivo geral abarcar a possibilidade de se excluir a 
tipicidade nas infrações ambientais de pequena relevância, independentemente de situação 
econômica do agente ou da vítima, em razão de não atingirem em momento algum o objeto 
jurídico tutelado pelo direito penal ambiental. 
 A escolha do tema funda-se na necessidade de compreensão de que o expressivo 
aumento de números de processos judiciais relacionados ao assunto, somado à sua 
importância e atualidade, justifica, à saciedade, o interesse pelo tema que propõe-se a abordar. 
 O trabalho pretende responder às seguintes indagações levantadas por ocasião da 
execução do projeto de pesquisa: 
1) Quais as críticas e restrições ao Princípio da Insignificância? 
2) Como apontar os crimes ambientais de bagatela? 
3) Qual o posicionamento da jurisprudência pátria a respeito do tema? 
8 
 Aborda-se o tema proposto em três seções, incluindo, também, as outras peças 
obrigatórias. 
 Na primeira seção da monografia estudar-se a tutela penal do meio ambiente e 
atipificação penal ambiental, sob os enfoques: considerações gerais, da necessidade da tutela 
penal ambiental, meio ambiente como bem jurídico penalmente relevante, função 
instrumental da sanção penal, natureza subsidiária do Direito Penal, tipo penal ambiental e 
concepção material da tipicidade penal ambiental. 
 Em seguida, analisa-se o princípio da insignificância em matéria penal abordando os 
seguintes pontos: origem,conceito, previsão legal, fundamento e finalidade do princípio da 
insignificância, da insignificância como principio jurídico, do conteúdo jurídico e da natureza 
do principio da insignificância. 
 Por fim, busca-se uma interação entre a primeira e a segundaseção, enfocando: a 
aplicação do principio da insignificância aos crimes ambientais; as principais leis que cuidam 
das infrações penais ambientais; competência para julgar os crimes ambientais; jurisprudência 
pátria e aplicação do principio da insignificância na seara ambiental; reconhecimento da lesão 
ambiental penalmente insignificante. 
A relação entre o homem e meio ambiente causa reflexos em vários aspectos. Com base 
nesse raciocínio, entende-se que os efeitos que surgem a partir das modificações do meio 
ambiente incidem, conseqüentemente, no homem, que necessita da natureza completa, para a 
sua digna existência. Contudo, tais efeitos podem ser positivos ou negativos, isso tudo 
depende da forma como a natureza é tratada pelas pessoas. 
 
9 
1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O MEIO AMBIENTE 
 
A relação entre o homem e meio ambiente causa reflexos em vários aspectos. Com 
base nesse raciocínio, entende-se que os efeitos que surgem a partir das modificações do meio 
ambiente incidem, conseqüentemente, no homem, que necessita da natureza completa, para a 
sua digna existência. Contudo, tais efeitos podem ser positivos ou negativos, isso tudo 
depende da forma como a natureza é tratada pelas pessoas. 
 
1.1 CONCEITOS DE MEIO AMBIENTE 
 
A expressão meio ambiente (milieu ambiance) foi utilizada pela primeira vez pelo 
naturalista francês Geoffrey de Saint-Hilaireem sua obra Études progressives d’um 
naturaliste, de 1835, onde milieu significa o lugar onde está ou se movimenta um ser vivo, e 
ambiance designa o que rodeia esse ser.1 
Ressalta-se, por oportuno, que a preocupação com as questões ambientais, como os 
animais, com os vegetais, existiu, entretanto, muito antes do século XX. A título de exemplo, 
citam-se as chamadas Ordenações Afonsinas (cuja elaboração foi concluída em 1446) já 
possuíam normas visando incentivar o cultivo de terras, tendo em vista a escassez de 
alimentos.2 
Sobre a conceituação de meio ambiente, diga-se que esta não é unívoca. Muitos 
autores tentaram construir um conceito adequado para o termo. 
Nessa senda, Dotti leciona que meio ambiente: 
 
[...] é o conjunto de relações entre o mundo natural e o homem, que influem 
sobremodo em sua vida e comportamento.3 
 
Para Sirvinskas, meio ambiente é: 
 
1SILVA, Thomas de Carvalho. O meio ambiente na constituição federal de 1988. Disponível em 
<https://mail-
attachment.googleusercontent.com/attachment/?ui=2&ik=90944a3fb0&view=att&th=136f067da7d404d4&atti
d=0.3&disp=inline&realattid=f_hlia7aqr33&safe=1&zw&saduie=AG9B_P9bnaWIPm8CbdyqhMvpHetq&sad
et=1335473466981&sads=sqGGndGr00SUIAAMAn_mQeTXYGk> . Acesso em 26 de fevereiro de 2014. 
2SILVA,,Ivan Luiz da, , op.cit.. 
3DOTTI, René Ariel apud MILARÉ. Édis; COSTA JÚNIOR, Paulo José da. Direito penal ambiental: 
comentários à Lei n° 9.605/98. Campinas: Millennium, 2002, p. 2. 
10 
 
[...] o lugar onde habitam os seres vivos. É o hábitat dos seres vivos. Esse 
hábitat (meio físico) interage com os seres vivos (meio biótico), formando 
um conjunto harmonioso de condições essenciais para a existência da vida 
como um todo.4 
 
Dessa forma podemos entender o meio ambiente como conjunto de fatores exteriores 
que agem de forma permanente sobre os seres vivos, aos quais os organismos devem se 
adaptar e com os quais têm de interagir para sobreviver. 
Por outro lado, devemos ter em mente que o conceito legal de meio ambiente está 
sufragado no art.3, inciso I, da Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio 
ambiente. Senão vejamos: 
 
Art. 3° Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I – meio ambiente, o 
conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química 
e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. 
 
Ademais, não se poderia olvidar que, de acordo com Luiz Ricardo Guimarães, divide-
se o meio ambiente em aspectos segundo sua composição, buscando facilitar a identificação 
da atividade degradante e do bem agredido. Com isso encontram-se pelo menos quatro 
significativos aspectos ambientais: meio ambiente natural, meio ambiente artificial, meio 
ambiente cultural e meio ambiente do trabalho.5 
O meio ambiente natural é formado pelo solo, água, ar atmosférico, flora e fauna. O 
meio ambiente natural é mediatamente tutelado pelo caput do artigo 225 da Constituição 
Federal de 1988 e imediatamente pelo §1°, I e VII desse mesmo artigo. 
 
Art. 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, 
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao poder público e á coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para 
as presentes e futuras gerações. 
§ 1° Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: 
I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o 
manejo ecológico das espécies e ecossistemas; 
 [...] 
VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que 
coloquem m risco sua função ecológica, provoque a extinção de espécies ou 
submetam os animais a crueldade. 
 
4SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direitoambiental. 9. ed., rev., atual. e ampl.. São Paulo: Saraiva, 2011. 
p. 90. 
5GUIMARÃES, Luiz Ricardo apud SILVA, Ivan Luiz da, op. cit.. 
 
11 
 
Já o meio ambiente artificial é constituído pelo espaço urbano construído, consistente 
no conjunto de edificações (conhecido como espaço urbano fechado), e pelos equipamentos 
públicos (espaço urbano aberto). O meio ambiente artificial aufere regulamentação 
constitucional em várias situações, podendo ser encontrado no art. 225; no art. 182, ao iniciar 
o capítulo referente à política urbana e no inciso XX do art. 21, que prevê a competência 
material da União Federal de instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive 
habitação, saneamento básico e transportes urbanos; e, ainda no inciso XXIII do art. 5° todos 
da Constituição Federal de 1988 
 
Art. 182: A política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder 
público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por 
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e 
garantir o bem-estar de seus habitantes. 
Art. 21: Compete à União. 
XX – instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, 
Saneamento básico e transporte urbanos; 
Art. 5°[...] 
XXIII – a propriedade atenderá a sua função social; 
 
Por outro lado, segundo José Afonso da Silva, “o meio ambiente cultural éintegrado 
pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que embora artificial, 
em regra, como obra do homem, difere pelo sentido de valor especial”6. O bem que compõe o 
chamado patrimônio cultural traduz a história de um povo, a sua formação, cultura e, 
portanto, os próprios elementos identificadores de sua cidadania. 
O conceito de meio ambiente cultural vem previsto na Constituição Federal de 1988, 
no art. 216 e seus incisos, que constitui princípio fundamental norteador da República 
Federativa do Brasil. 
 
Art. 216: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza 
matérias eI material, tomados individualmente ou em conjunto, portadores 
de referência àI dentidade, à ação, à memória dos diferentes grupos 
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: 
I – as formas de expressão; 
II – os modos de criar, fazer e viver; 
 
6SILVA, José Afonso, apud SIQUEIRA, Flávio Augusto Maretti. Direito ambiental penal: aspectos relevantes 
da lei 9605/98.Disponível.em 
Attachment.googleusercontent.com/attachment/?ui=2&ik=9094a3fb0&view=att&th=136f067da7d404d4&attid=
0.2&disp=inline&realattid=f_hlia7aqq2&safe=1&zw&saduie=AG9B_P9bnaWIPm8CdbyqhMvpHetq&sadet=
1335473463333&sads=2EJsqaBKfaPsmJEkHBXNvVt3ueU>. Acesso em 26 de janeiro de 2014. 
12 
II – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; 
IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados 
à manifestações artístico-culturais; 
V – os conjuntos urbanos e sítios de valor históricos, artístico. 
Arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. 
 
Por fim, o meio ambiente do trabalho integra a proteção do homem em seu local de 
trabalho, com observância às normas de segurança. Envolve saúde, prevenção de acidentes, 
dignidade da pessoa humana, salubridade e condições de exercício saudável do trabalho.7 
O meio ambiente do trabalho recebe tutela imediata pela constituição Federal de 1988, 
no inciso VIII, do art. 200 estabelece: 
 
Art.200: Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos 
termos da lei: VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele 
compreendido o do trabalho. 
 
Expõe-se, em tempo, que o amparo ao direito do trabalho é distinto daquele 
assegurado ao meio ambiente do trabalho. Esse último visa salvaguarda a saúde e a segurança 
do trabalhador no ambiente onde desenvolve suas atividades, já o direito do trabalho é o 
conjunto de normas jurídicas que disciplina as relações jurídicas entre empregado e 
empregador. 
No mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal adotou esta classificação: 
 
A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses 
Empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente 
econômica, Ainda mais se tiver presente que a atividade econômica, 
considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre 
outros princípios gerais, àquele que privilegia a “defesa do meio ambiente” 
(CF, art.170, IV), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de 
meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente 
artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os 
instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam 
viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as 
propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria 
inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-
estar da população, além de causar graves danos ecológicos ao patrimônio 
ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural.8(grifei) 
 
 
7THOMÉ; Romeu; GARCIA, Leonardo de Medeiro. Direito ambiental. Bahia: Juspodivum, 2011. 
8BRASIL. Supremo Tribunal Federal.Ação direta de inconstitucionalidade n. 3540. Relator. Ministro Celso de 
Mello. Decisão 03/02/06. Disponível em 
<http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=3540&processo=3540> 
Acesso em 26 de abril de 2014. 
13 
Há conceitos legais nas diversas esferas da federação, vejamos o conceito de meio 
ambiente que está entabulado na legislação federal (no inciso I, do art.3° da Lei n° 6.938, de 
31 de agosto de 1981, que trata da Política Nacional de Meio Ambiente) in verbis: 
 
Art. 3°: Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I – meio ambiente, o 
conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química 
e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. 
 
Registre-se, no entanto, que o conceito de meio ambiente disposto no inciso I, deve ser 
interpretado conforme explicita Romeu Thomé e Leonardo Medeiros Garcia: 
 
De forma abrangente, em consonância com a Constituição de 1988, no 
sentido de Inserir os aspectos sociais culturais e econômicos, além dos 
aspectos de ordem Física, química e biológica expressamente mencionados. 
O entendimento de “meio ambiente” deve ser amplo, aglutinador, 
envolvendo e interconectado os Aspectos biológicos, físicos, econômicos, 
sociais, culturais, enfim, os aspectos que Conjuntamente formam o 
“ambiente”. A Resolução CONAMA 306/2002, por Exemplo, 
expressamente conceitua “meio ambiente” como sendo o “conjunto de 
Condições, leis, influências e interações de ordem física, química, biológica, 
social, Cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas suas 
formas.9 
 
 Nesse sentido, pode-se entender meio ambiente como o conjunto de tudo que tem vida 
e tudo que foi criado para tornar a vida melhor, a integração de todos os seres que vivem na 
biosfera. E dessa forma é dever de todos a fiscalização e preservação. Pois um único evento 
que cause dano ao meio ambiente, pode gerar efeitos negativos em escala global. 
 
1.2DA NECESSIDADE DA TUTELA PENAL AMBIENTAL 
 
A Constituição Federal de 1988 trouxe acentuada alteração ao ordenamento jurídico 
brasileiro ao dispor que o meio ambiente e sua proteção é direito fundamental do cidadão. 
Para tanto, veja-se o que dispõe o já citado artigo 225 da Constituição Federal de 
1988: 
 
9THOMÉ, Romeu; GARCIA, Leonardo Medeiros. Da política nacional do meio ambiente. Disponível em 
<https://mail-
attachment.googleusercontent.com/attchment/?ui=2&ik=90944a3fb0&view=att&th=136f067da7d404d4&attid=0.1&disp=inline&realattid=f_hlia7aqo1&safe=1&zw&saduie=AG9B_P9bnaWIPm8CbdyqhMvpHtq&sadet=
1335473725126&sads=0uUoG3BCgi_SolZObHtFGBeauAY>. Acesso em 26 de abril de 2014. 
14 
 
Art.225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, 
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para 
as presentes e futuras gerações. 
 
Do mesmo modo, no artigo 5°, inciso LXXIII, da Constituição Federal de 1988, 
previu-se a ‘ação popular’ como remédio constitucional apto a anular qualquer ato lesivo ao 
meio ambiente, dentre outros interesses. 
Assim, a inserção do meio ambiente no rol dos bens jurídicos de suprema importância 
para a ordem constitucional teve como conseqüência lógica sua proteção sob o pálio do 
Direito Penal, que possui atribuição de tutelar os valores fundamentais para a sociedade. 
Corroborando tal assertiva colaciona-se o teor do artigo 225, § 3°, da Constituição Federal de 
1988 que assim dispõe: “as condutas e atividade consideradas lesivas ao meio ambiente 
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais.” 
Em resposta a este mandamento constitucional o legislador penal editou a Lei n° 
9.605/98, consolidando os tipos penais e objetivando reprimir e sancionar as infrações 
ambientais. 
 
Segundo Ivan Luiz da Silva: 
 
Essa opção legislador constituinte em utilizar a sanção para preservar o Meio 
ambiente justifica-se na necessidade de o Estado proteger os valores 
Fundamentais da sociedade. A doutrina assim tem entendido: “o que justifica 
Intervenção penal é o fato de estar em casa a proteção de um bem jurídico – 
Ambiente – digno de tutela, que, além do mais, deve ser necessária. 
Dignidade Penal e necessidade de tutela penal são categorias que intervêm a 
legitimar a Intervenção penal, e não se vê razão para que não intervenham 
aqui.10 
 
Por sua vez, Costa Neto pondera que: 
 
Ao lado da relevância do bem jurídico meio ambiente pode-se, ainda, 
acrescentar, Como justificação, o grau de destruição causado à natureza [...] 
tal opção (a tutela Penal) está intimamente atrelada à relevância do bem 
jurídico em tela bem como Ao delicado estágio de destruição da natureza 
que o homem deflagrou e que, Agora, como imensa dificuldade, procura 
conter.11 
 
10SILVA, Ivan Luiz da.op. cit.,p. 62. 
11COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro apud SILVA, Ivan Luiz da,op. cit.,p. 63. 
15 
 
Outro aspecto importante na utilização da sanção criminal para a proteção ambiental é 
seu maior poder dissuasório em relação ás medidas não penais, sendo considerada mais eficaz 
na prevenção de agressões ambientais, uma vez que “o estigma de um processo penal gera 
efeitos que as demais formas de repressão não alcançam.”12 
Resumindo, dentre as teses justificadoras da tutela penal ambiental, três se 
sobressaem: I) o meio ambiente como bem jurídico penalmente relevante; II) a função 
instrumental da sanção penal; e III) a natureza subsidiária do Direito Penal. 
 
1.2.1 O meio ambiente como bem jurídico penalmente relevante 
 
De acordo com o valor que a sociedade atribui a terminado bem, o legislador atua 
visando protegê-lo. Logo, a sanção será mais grave quanto maior for à relevância social do 
bem jurídico protegido. Deste modo, torna-se base legitimadora da sanção a relevância social 
do bem jurídico. 
Entende-se por bem jurídico toda coisa real ou ideal resguardada juridicamente em 
razão de seu significado precioso. Neste senda, ensina Francisco de Assis Toledo: 
 
‘situação social valiosa’, ou melhor, valores ético-sociais, como o que 
teríamos a seguinte definição: bens jurídicos são valores éticos-sociais que o 
direito seleciona, como o objetivo de assegurar a paz social, e coloca sob sua 
proteção para que não sejam expostos a perigo de ataque ou a lesões 
efetivas.13 
 
No tocante ao liame entre Constituição e bem jurídico, leva-se em conta os dizeres de 
Regis Prado ao aduzir que: 
 
[...] o legislador ordinário deve sempre ter em conta as diretrizes contidas na 
Constituição e os valores nela consagrados para definir os bens jurídicos, em 
razão do caráter limitativo da tutela penal.14 
 
Vislumbra-se, portanto, que é a norma constitucional que elenca os bens jurídicos 
socialmente relevantes, ou seja, merecedores de proteção penal. 
 
12FREITAS, Vladimir Passos; FREITAS, Gilberto Passos apud SILVA, Ivan Luiz da, op. cit.,p.63. 
13TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5. ed.. São Paulo: Saraiva 2000. p. 16. 
14PRADO, Regis apud Ivan Luiz da, op. cit., p. 65. 
16 
Por isso que a Constituição, em seu artigo 225 caput, dispõe que o meio ambiente é 
valor fundamental da sociedade brasileira, colocando-o na categoria de bem comum do povo 
e seu equilíbrio ecológico e de interesse meta-individual, exigindo, ainda, da coletividade e do 
poder público o dever de preservá-lo. 
Frisa-se que os direitos ou interesses meta-individuais são aqueles que, em razão da 
indivisibilidade de seu objeto, pertencem a uma série indeterminada de sujeitos sendo que sua 
lesão configura uma lesão a toda a coletividade. 
Nesse sentido, Maurício Libster ensina que: 
 
O bem jurídico ambiente pertence à categoria dos bens jurídicos coletivos, já 
que afeta à comunidade como tal, seja de forma direito ou indireta, mediata 
ou imediata. É um bem jurídico de todos e está estreitamente vinculo às 
necessidades existenciais dos sujeitos, como a vida, a saúde, a segurança e 
ainda a recreação.15 
 
A tutela penal com meio de prevenir e reprimir as condutas lesivas ao meio ambiente 
vem estabelecida no artigo 225, § 3°, da Constituição Federal de 1988. Logo, temos nesse 
dispositivo citado, o fundamento constitucional da proteção do meio ambiente e do injusto 
penal. 
Registre, por oportuno, que no XV Congresso da Associação Internacional de Direito 
Penal, foi estabelecido que o termo ‘ambiente’ abarca todos os componentes do planeta, 
incluindo o ar e as camadas de atmosfera, a água, a terra, bem como o solo e os recursos 
minerais, a flora, a fauna e todas as inter-relações ecológicas entre esses componentes.16 
Entende-se, pois, que devido a necessidade de um meio ambiente sadio e 
ecologicamente equilibrado para a sobrevivência e existência dos seres vivos, advém o grau 
de importância da legitimidade da tutela penal ambiental. 
 
 
 
1.2.2 A função instrumental da sanção penal 
 
 
15LIBSTER, Maurício apud FREITAS, Vladimir Passos de. A constituição federal e a efetividade das normas 
ambientais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 37. 
16SILVEIRA, Renato de Mello Jorge apud SILVA, Ivan Luiz da, op. cit.. 
17 
Conforme preleciona Francisco de Assis Toledo, a principal finalidade da tutela penal 
é a prevenção, uma vez que pretende evitar lesões aos bens jurídicos tutelados por meio de 
instrumentos que lhes são inerentes: a cominação de sanção e a execução da pena aplicada. 
Antes de punir, quer evitar o crime.17 
Tal função é alcançada por meio da prevenção geral e da prevenção especial; A 
primeira é realizada através da cominação de pena ao infrator, instituindo-se, deste modo, um 
sentimento de intimidação a fim de que se evite a conduta proibida. Se porventura, a 
prevenção geral falhar, a cominação abstrata transforma-se em sentença criminal que será 
executada sobre a pessoa do condenado, para ressocializar ou neutralizá-lo, configurando, 
assim, a prevenção especial. 
Vladimir Freitas Ensina que: 
 
A tutela penal ambiental também exerce essa função instrumental deprevenção suas duas modalidades. No que tange à prevenção geral, a Lei dos 
Crimes Ambientais n° 9.605/98 tipifica as condutas proibidas e comina 
penas prevista aos infratores. Com isso, fica estabelecida uma intimidação 
formal no sentido de que todos se abstenham de praticar as condutas 
proibidas, sob pena de sofrerem uma sanção criminal.18 
 
No que tange a prevenção especial na seara ambiental, visa-se a restauração do bem 
ofendido e a reeducação do infrator, haja vista que a maioria das penas aplicadas é a restritiva 
de direito em razão do previsto no artigo 7°, da lei n° 9.605/98 que impõe a substituição da 
pena privativa de liberdade inferior a 4 anos pela pena restritiva de direito. 
 
1.2.3 A natureza subsidiária do direito penal 
 
O Direito pena é a ultima ratio. É dizer, o Direito Penal somente será aplicado quando 
os outros meios de proteção (civil e administrativo) forem ineficazes na proteção de bens 
tutelados. 
Sobre este aspecto Francisco de Assis Toledo Leciona: 
 
Onde a proteção de outros ramos do direito possa estar ausente, falhar ou 
revelar-se insuficiente, se a lesão ou a exposição a perigo do bem jurídico 
 
17TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5. ed., São Paulo: Saraiva 2000. p. 131 
18FREITAS, Vladimir Passos de. A constituição federal e a efetividade das normas ambientais. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2000. p. 40. 
18 
tutelado apresentar certa gravidade, até ai deve estender-se o manto da 
proteção, penal, como ultima Ratio regum.19 
 
Assim sendo, o direito penal só deve ser aplicado quando estritamente necessário, 
mantendo-se subsidiário e fragmentário. Vindo a intervir abstratamente quando os demais 
ramos do direito forem ineficazes e, concretamente, quando houver relevante e intolerável 
lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. 
Aponte-se que, consoante ressalta Renato de Mello Jorge Silveira: 
 
Esse caráter subsidiário do Direito Penal na defesa do meio ambiente e bem 
apontado na Resolução (77) 28, do Conselho da Europa, adotada por seu 
Comitê de Ministros, em 1978, a qual dispõe que “depois de considerar a 
necessidade de proteger a saúde dos seres humanos, animais e plantas... a 
necessidade de recorrer ao Direito penal como ultima ratio quando outras 
medidas não se aplicam, são ineficazes ou inadequadas, o Comitê se vê 
obrigado a efetuar as seguintes recomendações a seus Estados-Membros: 1. 
Os estados-Membros devem submeter à consideração o possível uso de 
sanções penais quando se produzam danos ao meio ambiente”. Essa 
Resolução e suas considerações fundamentam e legitimam a tutela penal do 
meio ambiente.20 
 
Justifica-se a tutela penal ambiental, portanto, devido à ineficiência da tutela cível-
administrativa, a qual não tem obtido êxito em prevenir nem reprimir exemplarmente as 
ofensivas ao meio ambiente. 
 
1.3 O TIPO PENAL AMBIENTAL 
 
Registre-se que a tutela penal de determinado bem jurídico se dá por meio da 
elaboração de tipos penais, que descrevem abstratamente as condutas não permitidas cuja 
inobservância acarretará ao infrator a aplicação de sanção penal. 
Francisco de Assis Toledo define ensina que: 
 
Tipo penal é um modelo abstrato de comportamento proibido. É, em outras 
palavras descrição esquemática de uma classe de condutas que possuam 
características Danosas ou ético-socialmente reprovadas, a ponto de serem 
reputadas intoleráveis pela ordem jurídica.21 
 
19TOLEDO,op. cit., p. 14. 
20SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. apud SILVA, Ivan Luiz da, op. cit., p. 69. 
21TOLEDO,op. cit., p. 127. 
19 
 
No mesmo sentido, temos a lição de Paulo Queiroz: 
 
É, portanto, conforme a síntese de Sauer, a reunião típica dos elementos 
desvalorizados juridicamente relevantes e socialmente prejudiciais. Como 
tipo abstrato (legal), generaliza o tipo concreto, o tipo da vida, a situação de 
fato. Por isso que análise da tipicidade – juízo de adequação do fato concreto 
à previsão legal - de uma certa conduta não é, por conseguinte, nem pode 
ser, um mero juízo lógico - formal de subsunção do fato concreto ao tipo 
abstratamente previsto. É algo mais: é já sintoma da criminalidade objetiva, 
da danosidade e da perigosidade sociais de um atuar.22 
 
Porém, em razão da dificuldade de se individualizar o bem a ser tutelado na seara 
penal-ambiental, levanta-se grande polêmica. 
Ivan Luiz da Silva, oportunamente, diz: 
 
A complexidade na individualização e na tipificação da conduta proibida 
tem muitas vezes levado o legislador a elaborar tipos penais em discordância 
com os princípios fundamentais do direito penal, mormente ao princípio da 
taxatividade. Exemplo dessa discordância é apontado na Lei n°9.065/98 – 
Lei de Crimes Ambientais – que me emprega conceitos amplos e 
indeterminados na tipificação das condutas reprovadas (vide arts. 40,68 e 54, 
caput, desse texto legal).23 
 
Assim, ocorre que, em face dessa dificuldade legiferante na elaboração do tipo penal 
ambiental, o legislador adotou como técnica legislativa a construção de tipos penais abertos e 
o emprego de norma penal em branco. 
Entende-se por tipo penal aberto (exemplo, crimes culposos e os comissivos por 
omissão) aquele que apresenta a descrição incompleta, devendo sua complementação ser 
realizada por juízo valorativo do julgador. Nesse sentido é a lição de Ricco Harbich: 
 
Tipos abertos são aqueles nos quais, pela semelhança externa entre atos 
ilícitos e atos proibidos, a tarefa de definir o injusto penal somente de 
maneira incompleta é cumprida pelo tipo. Há necessidade de ampliação do 
tipo ou sua complementação Por juízo de valor, por parte do magistrado.24 
 
 
22QUEIROZ, Paulo de Souza. Do caráter subsidiário do direito penal: lineamentos para um direito penal 
mínimo. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 121. 
23SILVA, Ivan Luiz da.op. cit.,p. 74. 
24HARBICH, Ricco.apud SILVA, Ivan Luiz d, op. cit.,. p. 75. 
20 
Por outro lado, as normas penais em branco são aquelas em que a conduta descrita 
precisa de complementação normativa. Sendo que tal complementação é feita por disposição 
contida em outra lei ou por disposição emanada de outro poder, isso é por ato administrativo. 
Consigne-se, portanto, que a utilização das normas penais em branco e dos tipos 
penais abertos debilita a proteção penal ambiental, já que reduz a determinabilidade e certeza 
do tipo penal ambiental, sendo algo de forte crítica doutrinária. No entanto, o risco é 
inevitável, vez que a natureza multiforme do bem jurídico ambiental não possibilita a 
tipificação fechada. Além disso, o tipo penal precisa de constante complementação por parte 
de outros ramos do Direito a fim de que possa determinar as condutas lesivas ao meio 
ambiente. 
 
1.4 DA CONCEPÇÃO MATERIAL DA TIPICIDADE PENAL AMBIENTAL 
 
Em razão da falta de precisão do tipo penal ambiental, a conduta criminosa adquire 
uma amplitude maior que a necessária para a proteção do bem ambiental protegido, pois, pode 
alcançar condutas sem significação para o Direito Penal. 
É justamente para limitar tal amplitude do tipo penal ambiental que se atribui ao 
mesmo um conteúdo material; com o fito de se afastar as condutas penalmente insignificantes 
da repressão criminal. É dizer, passa-se a exigir que a conduta típica seja concretamente lesiva 
ao bom jurídico tutelado. 
Nesse sentido é o ensinamento de Assis Toledo: 
 
A conduta para ser crime, precisa ajustar-se formalmente a um tipo legal de 
delito (nullum crimensine lege). Não obstante, não se pode falar ainda em 
tipicidade, sem que a conduta seja, a um só tempo, materialmentelesiva a 
bens jurídicos, ou ética e socialmente reprovável.25 
 
Acerca desse assunto, pondera Paulo Queiroz: 
 
Qualquer lesão jurídica admite, em tese, que se afaste a tipicidade – para 
cuja compreensão não há de se exigir, assim, um mero juízo lógico-formal 
de adequação do fato à normal penal abstrata – pela aplicação do que se vem 
chamando de princípio de insignificância, posto que pode esse bem jurídico 
fundamental, protegido pela norma, não ser atingido (o perigo de lesão é 
 
25TOLEDO, Francisco de Assis apud SILVA, Ivan Luiz da, op. cit., p. 76. 
21 
mera abstração) ou ser atingido perifericamente apenas, em mínima 
intensidade, grau e extensão. E é de tal sorte diminuto o dano efetivamente 
produzido, isto é, tal o desvalor do resultado que não assuma efetica 
significação penal, que seja ipso facto, desnecessário, que não se justifique, 
também porque desproporcionado, o extremado castigo, visto que se mantém 
inatingido, ileso, por assim dizer, o núcleo do bem jurídico tutelado.26 
 
Assim, é nesse contexto que se situa o princípio da insignificância penal para afastar a 
incidência da lei criminal sobre as lesões ambientais penalmente insignificantes, pois atuam 
como mecanismo exegético para corrigir incongruência entre o fato criminal e o tipo penal. 
Na próxima seção, aborda-se a questão da aplicação do princípio da insignificância 
nas infrações penais ambientais. 
 
2 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
 
O princípio da insignificância precisa ser entendido como um método de interpretação 
restritiva do tipo penal, pois exige um elemento material, isto é, a lesividade da ação, para que 
haja a tipicidade penal de conduta formalmente típica. É relevante salientar que o princípio da 
insignificância tem a ver com a graduação qualitativa e quantitativa do injusto, permitindo 
que o fato insignificante seja excluído da tipicidade penal. 
2.1 PROCESSOS HISTÓRICOS QUE DERAM ORIGEMAO PRINCÍPIO DA 
INSIGNIFICÂNCIA 
 
Esta é uma questão controvertida. Alguns defendem que a origem do princípio da 
insignificância (Bagatelle delikte, delitos de bagatela como querem os doutrinadores alemães) 
está intimamente ligada às crises sociais que marcaram a Europa nos pós-guerra, a partir do 
século XX. Em tal contexto, o desemprego era uma realidade e, com isso, aumentou a 
incidência de pequenos furtos subtrações de mínima relevância, que foram chamados de 
criminalidade de bagatela. 
É verdade que os fatos, que deram origem a tal princípio, detêm natureza patrimonial 
em seu fim. É dizer, a ocorrência deu dano patrimonial de mínima monta, não configurando 
 
26QUEIROZ, Paulo apud SILVA, Ivan Luiz da,op. cit., p 77. 
22 
um prejuízo considerável a outra pessoa. Por isso, é tida como uma bagatela, e, deste modo, 
dispensa a força punitiva do direito criminal. 
Por outro lado, Ackel Filho defende que o princípio da insignificância tem sua origem 
histórica no direito romano: 
 
No tocante à origem, não se pode negar que o princípio já vigorava no 
Direito Romano, onde o pretor não cuidava, de modo geral, de causas ou 
delitos de consoante a máxima contida no brocardo de mínima non curat 
praetor27 
 
Diferente é o entendimento de Maurício Antônio Ribeiro Lopes, o qual tece crítica 
mais acertada a respeito da origem histórica do princípio da insignificância. Lopes pondera 
que a despeito de os romanos possuírem um direito civil evoluído, estes não detinham 
compreensão adequada do princípio da legalidade penal. Logo, a existência daquele dito 
romano minimis non curat praetor era apenas uma brocardo. Não representando, deste modo, 
uma questionamento mais incisivo.28 
Isto posto, é muito apressado dizer que o princípio da insignificância teve sua origem 
penal com os romanos. Com certeza, é mais plausível acolher a origem fática do mesmo, que 
se deu na Alemanha no século XX, por ocasião das guerras mundiais. 
Registre-se, ademais, que o princípio da insignificância teve sua origem e evolução ao 
longo dos tempos vinculada ao princípio da legalidade, em matéria penal, nullum crimen nulla 
poena sine lege, sofrendo alterações que foram reestruturando sua essência, de modo a se 
limitar à seara penal. 
Nesta senda, vislumbra-se que a origem e construção do princípio da insignificância 
estiveram vinculadas ao princípio da legalidade. Entretanto, apenas ganhou máxima 
relevância jurídica em meados do século anterior. 
 
2.2 DEFINIÇÕES DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
 
 
27ACKEL FILHO, Diomar. O princípio da insignificância no Direito Penal. In: Revista jurisprudência do 
tribunal de alçada criminal de São Paulo.abr./jun.1988. São Paulo:Revan, p.73. 
28LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Princípio da insignificância no direito penal: análise à luz da Lei n. 
9.099/95. Juizados especiais criminais e da jurisprudência atual.2 ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2000. 
23 
Uma das principais trincheiras de resistência ao reconhecimento do princípio da 
insignificância e seus efeitos é o déficit conceitual que este apresenta, uma vez que, 
argumenta-se, a indeterminação dos termos pode por um risco a segurança jurídica. Tal 
argumentação aduz que os critérios de fixação e determinação das condutas insignificantes 
para incidência do princípio são determinados pelo senso pessoal de justiça do operador 
jurídico, ficando condicionado a uma conceituação particular e empírica do que seja crime de 
bagatela. 29 
Pontue-se que a despeito de o delito de bagatela não estar singularmente entabulado na 
legislação pátria, a doutrina e a jurisprudência tem permitido a fixação das condutas tidas 
como insignificantes. Isto, mediante norteamento em um direito penal mínimo, fragmentário e 
subsidiário. 
Francisco de Assis Toledo leciona no sentido de que o princípio da insignificância tem 
a ver com a gradação qualitativa e quantitativa do injusto, permitindo que o fato insignificante 
seja excluído da tipicidade penal.30 
Verifica-se que o jurista não apresenta um conceito, em sentido estrito. Isto pois, 
fornece apenas os elementos essenciais para se chegar a uma conceituação do princípio em 
tela, vejamos, então: I) o caráter de instrumento para aferição qualitativa e quantitativa do 
grau de lesividade da conduta típica; e II) o efeito jurídico produzido pelo princípio (exclusão 
da tipicidade da conduta insignificante). 
A partir do conceito fornecido pelo doutrinador supramencionado, infere-se que o 
princípio da insignificância é o princípio penal que norteia a comparação entre o desvalor 
consagrado no tipo penal e o desvalor social da conduta do agente, medindo, deste modo, 
qualitativa e quantitativamente a lesividade desse fato para se constatar a presença do grau 
mínimo necessário à concreção do tipo penal. 
E por isso, se nesse cotejo axiológico verificar-se que o desvalor do ato ou do 
resultado é insignificante em relação ao desvalor exigido pelo tipo penal, tal fato deverá ser 
excluído da incidência penal, vez que é desprovido de reprovabilidade jurídica. 
O delito, decorrente da existência de um dano mínimo, que não impõe um prejuízo 
importante a outrem, é classificado como delito de bagatela, e, como tal, não exige a 
inclemência do direito penal. 
Diomar Ackel Filho pondera que: 
 
29SILVA, Ivan Luiz da,op. cit.. 
30TOLEDO, op. cit.. 
24 
 
O princípio da insignificância pode ser conceituado como aquele que 
permite infirmar a tipicidade de fatos que, por sua inexpressividade 
constituem ações de bagatela, despidas de reprovabilidade, de modo a não 
mereceremvaloração da norma penal, exsurgindo, pois como irrelevantes. A 
tais ações, falta o juízo de censura penal’’.31 
 
Por este conceito, o princípio em questão é utilizado como método de interpretação 
restritiva do tipo penal, já que exige um elemento material, a lesividade da ação, para que 
reste configurada a tipicidade penal de uma conduta formalmente típica. 
Na mesma linha entendimento a jurisprudência pátria tem contribuído para a 
formulação de um conceito objetivo de princípio da insignificância em matéria penal. 
O supremo Tribunal Federal estabeleceu em seus julgados que: 
 
O princípio da insignificância é um preceito que reúne quatro condições 
essenciais para ser aplicado: a mínima ofensividade da conduta, a 
inexistência de periculosidade social do ato, o reduzido grau de 
reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão provocada. 
Em resumo, o conceito do princípio da insignificância é o de que a conduta 
praticada pelo agente atinge de forma tão ínfima o valor tutelado pela norma 
que não se justifica a repressão. Juridicamente, isso significa que não houve 
crime algum. Em maio de 2009, isso foi ressaltado em julgamento realizado 
pela Segunda Turma Do Supremo. Os ministros aplicaram o princípio da 
insignificância aumatentativa De furto de cinco barras de chocolate em um 
supermercado. Nesse caso, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) limitou-se a 
extinguir a Punibilidade do acusado. Mas a Turma, seguindo voto do relator 
do processo, Ministro Celso de Mello. Reformou a decisão para absolver o 
réu e extinguir a ação Penal porque, segundo ele, a conduta sequer poderia 
ser considerada crime. É que a extinção da punibilidade por si não exclui os 
efeitos processuais. Ou seja, A tentativa de furto ficaria registrada e poderia 
pesar contra o acusado no futuro, na Qualidade de maus antecedentes. Ao ser 
absolvido, o acusado é considerado primário caso se torne réu em outra 
ação.32(grifei). 
 
Vislumbra-se, deste modo, “o princípio da insignificância como uma orientação que 
não desconhece a antijuridicidade do fato, mas deixa de considerar a necessidade de 
intervenção punitiva”.33 
 
31ACKEL FILHO, Diomar apud SILVA, Ivan Luiz da,op. cit., p.8 
32SUPREMO TIBUNAL FEDERAL. Noticias. Disponível em 
<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=173584> . Acesso em 3 de maio de 
2014. 
33 GUIMARÃES, Issac Sabbá. Dogmática penal e poder punitivo:novos rumos e definições. Curitiba: Juruá, 
2000. p.71. 
25 
Por derradeiro, registre-se que, visando amenizar os excessos da imperfeição da 
técnica legislativa, que acaba, na prática, por permitir que o direito penal incida sobre 
condutas socialmente insignificantes, que se impõe a aplicação desse princípio. Assim, diz-se 
que o princípio da insignificância é aquele que interpreta restritivamente o tipo penal, aferindo 
qualitativa e quantitativa o grau de lesividade da conduta, para excluir da incidência penal os 
fatos de poder ofensivo insignificante aos bens jurídicos penalmente protegidos. 
 
2.3 LEGALIDADES DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
 
É recorrente, quando se fala em princípio da insignificância penal, a crítica contra a 
sua aceitação no sistema penal pátrio sob o argumento de que não fora incorporado ao sistema 
jurídico brasileiro, já que ainda não legislado. 
Todavia, tal objeção não procede, visto que é uníssono que o texto escrito não exaure 
todo o Direito, cabendo aos juristas apresentar as normas subjacentes na ordem jurídica. 
Abel Cornejo leciona que: 
 
Carece de fundamento sustentar que não existe uma norma expressa que 
consagre o princípio da insignificância, porquanto é costume inveterado, que 
a lei escrita não pode abarcar todas as possibilidade ou eventos que na vida 
se apresentam. 34 
 
No mesmo sentido é o entendimento de Vico Mañas: 
 
A norma escrita, como é sabido, não contém todo o direito. Por esse motivo, 
no campo penal, a construção teórica de princípio como o da insignificância 
não fere o mandamento constitucional da legalidade ou reserva legal.35 
 
Na atual Constituição (art. 5°, § 2°), a existência desses princípios implícitos é 
expressamente reconhecida na cláusula constitucional de reserva. 
 
§ 2° - Os direitos é garantias expressos nesta Constituição não excluem 
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos 
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. 
 
 
34CORNEJO, Abel, apud SILVA, Ivan Luiz da. Princípio da Insignificância e os Crimes Ambientais. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2008. p 7. 
35MAÑAS, Carlos Vico.apud SILVA, Ivan Luiz da,op. cit., p 8. 
26 
Apesar de não haver previsão legal expressa acerca do princípio da insignificância, 
este foi reconhecido do ordenamento jurídico brasileiro (doutrina e jurisprudência). Isto é 
claro, ressaltando-se que há disparidade de entendimentos no que diz respeito à sua 
interpretação e à efetivação. 
Consigne-se, por oportuno, que, segundo Paulo de Souza Queiroz: 
 
O princípio da insignificância encontra-se positivado no Código Penal da 
antiga República Soviética da Rússia, no Código Penal da Tchecoslováquia, 
no Código Penal Português, no Código Penal Austríaco, no Código Penal 
Cubano, no Código Penal da República da China e no Código Penal Alemão 
(art. 3° - não subsiste o Crime, se, não obstante conformidade da conduta à 
descrição legal de um tipo, as consequências do fato sobre direitos e os 
interesses dos cidadãos e da sociedade e a culpabilidade do réu são 
insignificantes). Ademais, prevêem também disposições semelhantes: o 
Código Penal Polonês, o Código Penal da Bulgária e o Código Penal Da 
Romênia.36 
 
Queiroz, a título de exemplo, cita passagens que demonstram a invocação de tal 
princípio na legislação brasileira: 
 
Quando distingue o crime tentando do crime consumado, que do ponto de 
vista do desvalor da ação, não se extremam, já que, sob essa perspectiva, por 
exemplo, a intensidade do dolo de quem mata e de quem tenta contra a vida 
doutrem coincidem quando prevê a figura do furto privilegiado (CP, art. 155, 
§2°), dispondo que ‘ se o criminoso é primário’ , e ‘de pequeno valor a coisa 
furtada’, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-
la de um a dois terços ou aplicar somente a pena de multa. Dispositivo cuja 
aplicação se estende aos delitos previstos no Capítulo V, que define as várias 
formas de apropriação indébita (CP, art. 170), o mesmo o ocorrendo quanto 
estelionato (CP, art. 171 §1°) e a receptação dolosa (CP, Art, 180, §3°, 
final).37 
 
Ao se admitir o privilégio, por conseguinte, deduz-se que o princípio da 
insignificância encontra-se contemplado no ordenamento jurídico brasileiro, podendo 
consequentemente ser aplicado a todos os tipos penais. 
 
2.4 DA INSIGNIFICÂNCIA COMO PRINCÍPIO JURÍDICO 
 
 
36QUEIROZ,op. cit.,p. 126. 
37SILVA, Ivan Luiz da, op. cit.,p. 10 
27 
É inafastável o entendimento doutrinário e jurisprudencial acerca da natureza 
principiológica da insignificância (princípio jurídico do Direito Penal). Porém, como observa 
Ivan Luiz da Silva, a contrario sensu, a doutrina européia não a classifica diretamente como 
princípio jurídico, preferindo relacioná-la ao princípio da “oportunidade no processo penal”.38 
Trata-se de um autêntico princípio jurídico decorrente da concepção utilitarista do 
moderno Direito Penal, que exige a concreta ofensa ao bem jurídico atacado como 
justificação para fazer incidir a pena criminal sobre o agente da conduta típica.39 
Além disso, registre-se que Maurício Antônio Ribeiro Lopes ressalta a naturezaprincipiológica da insignificância nos seguintes termos: 
 
O princípio da insignificância é princípio também porque determina 
inspirado nos valores maiores do Estado Democrático – proteção da vida e 
da liberdade humana- a validade da lei penal diante de seus métodos 
extraordinários de aplicação ordinários, como que exigindo uma 
extraordinariedade fática para a incidência de lei penal em sentido concreto, 
qual seja, um significado juridicamente relevante para legitimá-la. 
Conquanto muitos se oponham ao reconhecimento da insignificância e à 
produção de seus efeitos no Direito Penal, no campo principiológico, ao 
menos, o apego à construção de um sistema penal fundado nas concepções 
de um Estado Democrático de Direito Material, assentado na tríplice 
condição de sua validade, faz considera-la como autêntico princípio.40 
 
Registre-se, neste sentido, a lição de Ivan Luiz da Silva: 
 
Para a identificação de um princípio jurídico – espécie de norma jurídica ao 
lado das Regras jurídicas – há uma grande variedade de critérios; todavia, 
entendemos que o melhor critério de identificação é o de Robert Alexy, que 
utiliza a colisão de princípios como meio para identificar-los. A colisão de 
princípios ocorre quando dois princípios apresentam soluções conflitantes 
diante de um caso concreto. Nessa circunstâncias um dos princípios deverá 
ceder, sem que isso signifique sua exclusão do ordenamento jurídico. Há 
assim, a precedência do princípio de maior peso sobre o outro, que apenas 
será afastado da solução do caso. A solução da colisão será encontrada pela 
ponderação dos interesses opostos envolvidos, sendo aplicado o princípio 
que tutela o bem jurídico mais relevante no caso concreto. Esse 
procedimento é denominado “relação de precedência condicionada”. A 
relação de precedência é representada pela fórmula (P1PP2)C, onde: P1 e P2 
são Os princípios contrapostos, que conduzem a juízos concretos de dever-se 
reciprocamente contraditórios. P é o símbolo da relação de precedência, e C 
representa as condições sob as quais um princípio precede ao outro. Assim, 
na frequente colisão entre o Princípio da Insignificância (P1) e o Princípio da 
 
38SILVA, Ivan Luiz da, op. cit.,p. 10 
39DALBORA, Guzmán apud SILVA, Ivan Luiz da, op. cit., p. 07. 
40 LOPES, Maurício Antônio Ribeiro apud SILVA, Ivan Luiz da, op. cit., p 11. 
28 
Legalidade (P2), quando as condições fáticas demonstrarem a ausência de 
lesão ao bem jurídico atacado, a relação de precedência apresentará a 
seguinte solução: (P1PP2)C. Caso haja grave lesão ao bem tutelado, a 
solução será inversa.41 
 
2.5FUNDAMENTO E FINALIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
 
A razão de todo ordenamento jurídico é a resolução das lides sociais visando o 
estabelecimento da paz social, restabelecendo a segurança e harmonia no seio social. 
Nesta senda, vislumbra-se que o princípio da insignificância está intimamente ligado 
ao princípio da proporcionalidade. Outro fundamento do princípio da insignificância residente 
na ideia da proporcionalidade que a pena deve guarda em relação à gravidade do bem. Nos 
casos de ínfima afetação ao bem jurídico, o conteúdo de injusto é tão pequeno que não 
subsiste qualquer razão peara a imposição da reprimenda. Ainda a mínima pena aplicada seria 
desproporcional à significação social do fato. 
 
Com a mesma orientação, Mirabete, assim ensina: 
 
Sendo o crime uma ofensa a um interesse dirigido a uma bem jurídico 
relevante, preocupa-se a doutrina em estabelecer um princípio para excluir 
do direito penal certas lesões insignificantes. ClausRoxin propôs o chamado 
princípio da insignificância, que permite na maioria dos tipos excluir, em 
princípio, os danos de pouca importância. Não há crime de dano ou de furto 
quando a coisa alheia não tem qualquer significação para o proprietário, não 
existe contrabando na posse de pequena quantidade de produto estrangeiro, 
de valor reduzido, que não cause uma lesão de certa expressão para o fisco; 
não já peculato quando o servidor se apropria na ninharias do Estado; não há 
crime contra a honra quando não se afeta significativamente a dignidade, a 
reputação a honra de outrem; não á lesão corporal em pequenos danos à 
integridade física.42 
 
O princípio da insignificância, portanto, no direito penal, tem como fundamento a 
intervenção mínima e como finalidade estabelecer uma adequada proporcionalidade entre o 
delito e a pena, o que se pode deduzir da parte final do art. 59 do Código Penal “[...] conforme 
seja necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime”. 
 
41 SILVA, Ivan Luiz da, op. cit., p 06. 
42MIRABETE, Júlio Fabrini, Manual de direito penal. v I, 16.ed., rev. e atual.. São Paulo: Atlas, 2008, p. 118. 
29 
2.6 DO CONTEÚDO JURÍDICO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
 
Com referência ao princípio da insignificância, Ribeiro Lopes enxerga tal princípio 
como instrumento de orientação do processo de seleção de fatos que ingressarão ou serão 
excluídos do sistema penal. 
 
Sobre o âmbito do princípio da insignificância, registro, desde já, que ele se 
apresenta sob dois enfoque básicos e reciprocamente complementares. Pelo 
primeiro deles se realiza o princípio excluindo do sistema tudo quanto, 
interior a ele, por suposto, tenha perdido relevância de molde a tornar-se 
injustificável sua mantença. Pelo segundo, impede-se que algo de diminuta 
repercussão jurídica ou social venha a ingressar no sistema legal. O primeiro 
adquire um sentido ou um caráter excluído da falta de relevância jurídica das 
ações causadoras do delito, enquanto o segundo ganha notoriedade inibitória 
do ingresso dessas ações na jurídica. Há um processo de seleção interno e 
outro externo ao sistema penal positivo da importância dos atos para 
composição de crime.43 
 
Foi Claus Roxin quem, pela primeira vez, estabeleceu uma sistematização 
principiológica da insignificância em matéria penal. Deste modo, para Roxin, o princípio em 
análise se constitui num autêntico princípio de Direito Penal, defendendo, também, a tese de 
que este permite, na grande maioria dos delitos, fazer a exclusão dos danos de ínfima 
importância.44 
Desse modo, constata-se que não pode o legislador prever todas as mutações das 
condições materiais e dos valores ético-sociais, a criação de novas causas de exclusão da 
ilicitude, ainda não traduzidas em lei (caso do princípio da insignificância), torna-se 
necessária para a correta e justa aplicação da lei penal. 
 
2.7 NATUREZAS JURÍDICA DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
 
Existe uma enorme divergência doutrinária e jurisprudencial quanto à localização da 
incidência do princípio da insignificância na teoria do crime e sua natureza jurídico-penal. 
Basicamente, existem três correntes distintas entre si, que o tem como: a) excludente de 
antijuridicidade; b) excludente de antijuridicidade e c) excludente de culpabilidade. 
 
43LOPES, Maurício Antônio Ribeiro.apudSILVA, Ivan Luiz. Da, op. cit., p. 15 
44ROXIN, Clausapud SILVA, Ivan Luiz. da, op. cit.. 
30 
Os defensores da primeira corrente (excludente de tipicidade) estão em maior número, 
logo, é majoritária. Dentre os defensores cite-se: Assis Toledo, Carlos Vico Mañas, Diomar 
Ackel, Eugênio Raul Zaffaroni e OdoneSanguiné. Por tal corrente temos que não atípicas 
aquelas condutas que importam numa afetação insignificante do bem jurídico tutelado. 
De outra banda, a segunda corrente (excludente de antijuridicidade) é defendia por 
Alberto Silva Franco, Carlos Alberto Pereira, Guzmán Dalbora, Juarez Tavarez, Abel cornejo 
e a jurisprudência minoritária do Brasil. 
Por esta corrente, a insignificância notipo indiciário se manifesta como visto de regra 
da antijuridicidade material, pois é esta que contém o bem jurídico e exige a sua lesão e acima 
de tudo, que seja significante, sem o que não se poderá conceber a existência de crime.45 
Já a terceira corrente situa o princípio da insignificância no campo da culpabilidade e 
considera como uma eximente de pena. 
O doutrinador Abel Cornejo pondera que este critério de aplicação é mais plausível 
que o anterior, vez que se erige como um limite à ingerência do Estado e uma justificação 
ética de pena, sendo sua aplicação atribuída ao Estado-juiz, que, no caso concreto, deverá 
determinar se encontra diante de uma conduta penalmente insignificante ou não.46 
Logo se entende que deverá levar em consideração a relevância do bem jurídico 
atingido no caso concreto. Já que o princípio da insignificância reduz o alcance do Direito 
Penal, quando aceita ser materialmente atípicas condutas que causam insignificantes ofensas, 
ao bem jurídico tutelado, apesar de ser formalmente típicas. 
3 DA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA AOS CRIMES 
AMBIENTAIS 
 
Antes de tratarmos da aplicabilidade do principio da insignificância em crimes 
ambientais, é de grande importância citar que a legislação básica sobre as infrações penais de 
natureza ambiental está disposta na Lei n° 9.605, de 12-02-1998. 
Segundo esta lei, as infrações penais ambientais se dividem em: 
1 - Dos crimes contra a fauna, do art. 29 ao art.37; 
2 – Dos crimes contra a flora, do art.38 ao art. 53; 
3 – Da poluição e outros crimes ambientais, do art. 54 ao art. 61; 
 
45PEREIRA, Carlos Frederico de apud SILVA, Ivan Luiz. Da, op. cit.. 
46CORNEJO, Abel apud SILVA, Ivan Luiz. Da, op. cit.. 
 
31 
4 – Dos crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural, dos art. 62 ao 65; 
5 – Dos crimes contra a administração ambiental, do art. 66 ao art. 69. 
Além desta lei, outras também apresentam tipos penais ambientais específicos, como a 
Lei n°4.771, de 15-09-1965 (Código Florestal); a Lei n°5.197, de 03-01-1967, que dispõe 
sobre à fauna; a Lei n°7.679 de 23-11-1988, dispõe sobre a proibição da pesca de espécies em 
período de reprodução (Piracema); dentre outras. 
Cabe mencionar, ainda que, no tocante a competência para julgar tais delitos a lei 
manteve-se em silencio, prevalecendo o ordenamento constitucional, no inciso IV do art. 109, 
segundo o qual se pode extrair que sendo bens ou interesses ambientais federais, a 
competência para processar e julgar é da Justiça Federal, caso contrário à competência será da 
Justiça Estadual. 
Dito isso, passemos a analisar os principais aspectos da aplicabilidade do principio da 
insignificância nos crimes ambientais. 
A tutela penal ambiental visa proteger bem jurídico de relevante valor social. Frise-se, 
porém, que tal tutela deve estar antenada com os princípios elencados na Constituição 
Federal, os quais sintoniza o Direito Penal em detrimento dos direitos e garantias 
fundamentais do cidadão. 
Costa Neto ensina que: 
 
Sob a perspectiva de um Direito Penal de intervenção mínima, recomenda-se 
verificar o fato penalmente tipificado não constitui bagatela, em face da 
diminuta repercussão da conduta sobre o bem jurídico protegido.47 
 
Ao comentar o artigo 324, do Código Penal alemão, Klaus Tiedemann defende a 
aplicação do principio da insignificância aos crimes ambientais: 
 
[...] muito mais segura é a base interpretativa da nova legislação penal alemã 
sobre o meio ambiente no que se refere a excluir a punibilidade por condutas 
de ‘bagatela’. 
[...] Posto que o artigo mencionado equipara a contaminação das águas e a 
alteração prejudicial de suas qualidades próprias, devem considerar-se 
atípicas tanto as turbulências insignificantes – por exemplo, de areia ou barro 
- como a forte contaminação de uma só parte mínima das águas.48 
 
 
47 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro apud SILVA, Ivan Luiz da, op. cit.,p. 80. 
48 TIEDEMANN, Klaus apud SILVA, Ivan Luiz da,op. cit.,p. 80. 
32 
No mesmo sentido temos o entendimento de Nicolao Costa Neto, o qual requer cautela 
e excepcionalidade na aplicação do principio da insignificância: 
 
[...] em verdade, a aplicação do principio da insignificância no tocante aos 
conflitos impõe o máximo de cautela e prudência, a fim de não inviabilizar 
na pratica a proteção penaldo meio ambiente. Pretende-se, apenas, 
coerentemente com os atuais postulados que informam o direito punitivo, 
reservar, para o campo da repressão apenas as condutas que efetivamente 
impliquem ofensa a valores fundamentais do meio social.49 
 
 Nessa senda, Vladimir Passos Freitas e Gilberto Passos Freitas defendem que: 
 
O reconhecimento do principio da insignificância deverá ser reservado para 
hipóteses excepcionais, principalmente pelo fato de que as penas previstas na 
Lei n° 9.605/98 são leves.50 
 
 Vislumbra-se, portanto, que a doutrina entende ser aplicável o referido principio penal 
para afastar da sanção penal nas condutas de ínfima lesividade ao bem ambiental atacado. 
Consigne-se, por oportuno, que existe entendimento contrário ao defendido neste 
trabalho, no sentindo da não aplicabilidade do principio da insignificância em crime 
ambiental, uma vez que qualquer dano ao meio ambiente desequilibra direta ou indiretamente 
o ecossistema, não podendo falar-se, assim, em conduta ambiental insignificante. 
Porém, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de 
Justiça é no sentido da possibilidade de aplicação do referido princípio, desde que presentes 
os pressupostos que o mesmo exige, conforme será abordado no tópico a seguir. 
 
3.1 JURISPRUDÊNCIAS PÁTRIA E APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA 
INSIGNIFICÂNCIA NA SEARA AMBIENTAL 
 
O Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça tem aplicado o principio 
em questão desde que presente os critérios: a) da mínima ofensividade da conduta; b) 
nenhuma periculosidade social da ação; c) reduzido grau de reprovabilidade do 
comportamento; d) inexpressividade da lesão jurídica provocada. 
 
49 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro apud SILVA, Ivan Luiz da, op. cit.,p. 81. 
50 FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. apud SILVA, Ivan Luiz da, op. cit., p.81. 
33 
Destacam-se, a seguir, alguns trechos de decisões do Superior Tribunal de Justiça que 
corroboram a aplicação do princípio da insignificância: 
 
[...] a conduta dos acusados não tem poder lesivo suficiente para atingir o 
bem jurídico tutelado pela Lei n.º 5.197/67. A pena porventura aplicada seria 
mais grave do que o dano provocado pelo ato delituoso.51 
 
Nesse caso, a conduta dos acusados não foi suficientemente lesiva ao meio ambiente a 
ponto de desestabilizar o ecossistema e dessa maneira ser merecedora de pena mais severa. 
A seguir, caso em que a conduta dos agentes subsume-se no tipo penal, porém quando 
não houve dano algum ao meio ambiente, sendo assim, indevida a aplicação de qualquer pena 
 
[...] Embora a conduta dos pacientes se amolde à tipicidade formal e 
subjetiva, ausente no caso a tipicidade material, que consiste na relevância 
penal da conduta e do resultado típicos em face da significância da lesão 
produzida no bem jurídico tutelado pelo Estado.52 
 
Abaixo, decisão em habeas corpus referente à apreensão de aves, que poderiam ser 
criadas caso houvesse autorização administrativa para tanto, denotando a aplicação do 
princípio da insignificância, ainda que de forma implícita. 
 
[...] 3. A Lei 9.605/98 objetiva concretizar o direito dos cidadãos ao meio 
ambiente ecologicamente equilibradoe preservado para as futuras gerações, 
referido no art. 225, caput da Constituição Federal, que, em seu § 1o., inciso 
VII, dispõe ser dever do Poder Público, para assegurar a efetividade desse 
direito, proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da Lei, as práticas que 
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies 
ou submetam os animais a crueldade.4Dessa forma, para incidir a norma 
penal incriminadora, é indispensável que a guarda, a manutenção em 
cativeiro ou em depósito de animais silvestres, possa, efetivamente, causar 
risco às espécies ou ao ecossistema, o que não se verifica no caso concreto, 
razão pela qual é plenamente aplicável, à hipótese, o princípio da 
insignificância penal.5. A própria lei relativiza a conduta do paciente, 
quando, no § 2o. do art. 29, estabelece o chamado perdão judicial, 
conferindo ao Juiz o poder de não aplicar a pena no caso de guarda 
doméstica de espécie silvestre não ameaçada de extinção, como no caso, 
restando evidente, por conseguinte, a ausência de justa causa para o 
prosseguimento do Inquérito Policial, pela desnecessidade de movimentar a 
 
51BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Informativo n. 25.1999. Precedentes citados: RESP 182.847 – RSS, 
DJ 5/4/1999 e RHC 6.918 – SP, DJ 9/12/1997 (CC n° 20.312 – MG, rel. Min. Fernando Gonçalves, j. 
1//7/1999). Disponível em :<http://www.stj.jus.br/docs_internet/informativos/RTF/Inf0025.rtf> Acesso em 24 
de junho de 2014. 
52BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas-Corpus n. 14328. Ministro Jorge Mussi, em 25 de maio de 
2010. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14467451/habeas-corpus-hc-143208-sc-2009-
0144855-4> Acesso em: 24 de junho de 2014. 
34 
máquina estatal, com todas as implicações conhecidas, para apurar conduta 
desimportante para o Direito Penal, por não representar ofensa a qualquer 
bem jurídico tutelado pela Lei Ambiental.6. Ordem concedida, para trancar o 
Inquérito Policial 2006.83.00.002928-4 instaurado contra o paciente, mas 
abrangendo única e exclusivamente à apreensão das aves, não se aplicando a 
quaisquer outros inquéritos ou ações de que o paciente seja participante, em 
que pese o parecer ministerial em sentido contrário.53 
 
Tendo em vista os entendimentos jurisprudenciais acima expostos, percebe-se que 
para que se possa movimentar a máquina estatal é necessário que a conduta do agente tenha 
relevância penal e que tal conduta venha produzir uma significante lesão ao bem jurídico 
ambiental tutelado, caso contrário trata-se de condutas desimportantes para o Direito Penal, 
vez que não representa ofensa ao bem tutelado, havendo a necessidade da aplicação do 
princípio da insignificância, observando no caso concreto também a possível aplicação do 
princípio da proporcionalidade. 
No mesmo sentindo as Turmas do Supremo tribunal vêm se pronunciando 
favoravelmente à possibilidade de não se desprezar a realidade fática, de forma a fazer incidir 
referido princípio em matéria ambiental: 
 
STF absolve deputado Clodovil Hernandes da acusação de dano ao meio 
ambiente 
Por unanimidade, o deputado Clodovil Hernandes (PR-SP) foi absolvido, 
nesta quinta-feira (12), pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), da 
acusação de ocasionar danos ao meio ambiente. A acusação foi formulada 
pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, em outubro de 2003, com 
base no artigo40da Lei 9.605/98, que dispõe sobre as sanções penais e 
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. 
A decisão foi tomada no julgamento da Ação Penal (AP) 439. O fato 
denunciado teria ocorrido nos dias 9 e 10 de agosto de 2002. Uma vez 
recebida a denúncia pelo juízo de primeiro grau, este decretou a revelia do 
réu, alegando que, embora devidamente citado, este não compareceu para a 
realização do interrogatório. Posteriormente, no entanto, em razão da 
investidura de Clodovil no cargo de deputado federal, o processo foi 
transferido para o STF. 
Dano de abrangência mínima 
Da acusação constava que Clodovil teria causado danos à Unidade de 
Conservação do Parque Estadual da Serra do Mar, em Sertãozinho do Leo, 
no município de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Ele teria suprimido 
vegetação capoeira em estágio inicial e aterrado o local, a fim de construir 
uma rua, em área de 0,652 hectare pertencente a Vitor Godinho da Silva, no 
interior do parque. 
 
53BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas-Corpus n. 72234. Paciente: Marinaldo Rosendo de 
Albuquerque. Impetrado: Tribunal Regional da 5ª Região. Relator: Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, em 
09 de outubro de 2007. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8854004/habeas-corpus-hc-
72234-pe-2006-0272965-2>. Acesso em: 24 de junho de 2014. 
35 
Conforme relatório da Polícia Florestal, teria sido encontrada, no local, uma 
construção com moirões de concreto e alambrado de arame galvanizado, 
tendo sido aberta uma estrada calçada com pequenos blocos e plantas 
exóticas para ornamentação. 
A defesa alegou, entre outros, falta de justa causa para a ação penal, ante o 
princípio da insignificância, na medida em que o suposto dano teria 
alcançado uma área equivalente a 652 metros quadrados, com custo de 
recuperação no valor de R$ 130,00; inépcia da denúncia, por falta de prova 
da materialidade do delito, sob o argumento de que o laudo pericial teria sido 
produzido somente por um perito oficial, e precariedade das provas 
produzidas. 
O Ministério Público Federal requereu a absolvição do réu, "dada a 
aplicação do princípio da insignificância". O MPF observou que, "muito 
embora tenham sido comprovadas a autoria e a materialidade do delito, a 
pequena extensão da área desmatada não justifica a imposição de uma 
sentença penal condenatória, uma vez que a atividade não afetou 
significativamente o meio ambiente. 
Todos os demais ministros acompanharam o voto do relator, ministro Março 
Aurélio. Trata-se de prática cuja significação jurídica é de menor 
importância, afirmou o ministro. Ele disse que o próprio perito do Instituto 
Florestal da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo que fez o 
levantamento estimou abrangência mínima para o dano. O fato apurado não 
constitui tipicidade suficiente para ensejar condenação penal. Voto pela 
absolvição, concluiu o ministro Março Aurélio.54(grifei) 
 
Verifica-se, que houve o delito ambiental, no entanto a área degradada é de ínfima 
notoriedade, causando dano mínimo ao meio ambiente. 
Portanto, a doutrina como a jurisprudência pátria reconhece a aplicação do princípio 
da insignificância aos crimes ambientais quando esses não alcançarem materialmente o bem 
ambiental juridicamente protegido. 
Assim, a aplicabilidade criteriosa do principio da insignificância ajuda a prevenir que 
a atuação estatal vá além dos limites do razoável no atendimento do interesse público. 
 
3.2 RECONHECIMENTOS DA LESÃO AMBIENTAL PENALMENTE INSIGNIFICANTE 
 
A despeito de o reconhecimento e aplicação do principio da insignificância ser 
predominantemente nos tribunais brasileiros, há juristas, conforme citado alhures, que não 
aceitam tal principio alegando que o mesmo conflitaria com o princípio da segurança jurídica. 
 
54BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Notícias. Disponível em <http://stf.jusbrasil.com.br/noticias/23441/stf-
absolve-deputado-clodovil-hernandes-da-acusacao-de-dano-ao-meio-ambiente>. Acesso em 24 de junho de 
2014. 
36 
Alegando que não existem elementos precisos para a individualização da conduta penalmente 
insignificante dentre aquelas legalmente previstas. 
Registre-se que, conforme pondera Abel Cornejo, para se aplicar o princípio da 
insignificância

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