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Capitulo de Livro-Arroz - Cap. 19 Martins et al 2004

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Prévia do material em texto

FONTE: MARTINS, J.F. da S.; GRÜTZMACHER, A.D.; CUNHA, U.S. Descrição e manejo integrado de 
insetos-praga em arroz irrigado. In: GOMES, A. da S.; MAGALHÃES JUNIOR, A.M. de. Arroz 
Irrigado no Sul do Brasil. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2004. Cap.19, p.635-
675. 
 
 
 
 CAPITULO 19 
 
DESCRIÇÃO E MANEJO INTEGRADO DE INSETOS-PRAGA NA CULTURA 
DO ARROZ IRRIGADO 
 
José Francisco da Silva Martins1
Anderson Dionei Grützmacher2
Uemerson Silva da Cunha3
 
1.1 Introdução 
 
 Os problemas causados por insetos à cultura do arroz irrigado no Brasil não têm 
sido enfocados devidamente como outros fatores redutores da produtividade desse 
agroecossistema. O maior volume de informações disponíveis a respeito é pertinente ao 
Sul do País, onde se concentra aproximadamente 70% da orizicultura irrigada nacional. 
Com o crescente agravamento do problema de insetos na cultura, na região, várias 
instituições implementaram programas de pesquisa. Apesar desse esforço, as perdas 
econômicas e ambientais advindas, respectivamente, da ocorrência de insetos e dos 
diferentes sistemas de 
controle, não estão ainda devidamente definidas. 
A ação de insetos, sem dúvida, é um dos principais fatores que afetam a 
economicidade da orizicultura irrigada, por impedir melhor aproveitamento do potencial 
produtivo das cultivares atualmente disponíveis. Segundo estimativas, além das perdas 
anuais de produção de grãos, que oscilam de 10 a 35%, dependendo do sistema de cultivo 
de arroz, existem os riscos de impacto ambiental, em decorrência do persistente e crescente 
uso irracional de inseticidas químicos. O nível de prejuízo causado por insetos, entretanto, 
é variável, dependendo da região do Brasil considerada. Em regiões tropicais, com clima 
mais quente, como no Brasil Central, onde a orizicultura irrigada encontra-se em expansão, 
os insetos apresentam potencial de dano maior que no Sul do Brasil. 
Mesmo entre as cinco regiões orizícolas do Rio Grande do Sul, existem diferenças 
quanto ao nível de dano causado por insetos. Na Depressão Central, na Campanha e na 
Fronteira Oeste, os danos são mais elevados do que no Litoral Norte e Litoral Sul. Na 
Depressão Central os prejuízos são maiores, principalmente em pequenas lavouras 
submetidas ao cultivo contínuo há vários anos, devido tal prática favorecer a manutenção e 
o desenvolvimento de elevadas densidades populacionais de insetos. Na Campanha e na 
Fronteira Oeste, os maiores índices de infestação estão ligados, principalmente, à 
predominância de lavouras implantadas em terrenos inclinados, conhecidas por lavouras de 
coxilha, as quais requerem maior número de taipas e, conseqüentemente, de leiveiros, que 
são valetas paralelas às taipas. O cultivo de arroz dentro dos leiveiros e sobre as taipas, 
 
1 Eng. Agr., Dr., Pesquisador da Embrapa Clima Temperado 
2 Eng. Agr., Dr., Professor do Departamento de Fitossanidade da FAEM/UFPel 
3 Eng. Agr., Mestrando em Fitossanidade da FAEM/UFPel 
 1
depressões e elevações do terreno, respectivamente, é altamente favorável ao crescimento 
da população de várias espécies de insetos. Além do tipo de relevo da lavoura, o sistema de 
cultivo de arroz, conforme já citado, é outro fator que exerce bastante influência na 
ocorrência de insetos, sendo que as principais diferenças são detectadas entre lavouras 
implantadas em solo seco com posterior inundação (sistema de plantio direto e 
convencional) e lavouras de arroz pré-germinado. 
No Rio Grande do Sul, a importância dos insetos para a cultura do arroz irrigado, 
ainda é erroneamente associada a gastos com inseticidas químicos. Há necessidade de 
melhorar o sistema de transferência das tecnologias disponibilizadas pelas instituições de 
pesquisa (Arroz Irrigado, 1999) de modo a aumentar a disposição dos orizicultores em 
adotá-las. Atualmente é rara a utilização dos critérios indicados para avaliar densidades 
populacionais e seus efeitos na produção de grãos, o que induz ao uso irracional de 
inseticidas. Ultimamente essa situação tem se agravado devido a interesses comerciais do 
mercado de inseticidas. Considerando tal situação, foi estruturado esse texto sobre controle 
de insetos na cultura do arroz irrigado apoiado, principalmente, no conhecimento atual 
sobre a problemática no Rio Grande do Sul, adicionando-se informações sobre 
fundamentos e componentes básicos do Manejo Integrado de Pragas (MIP), disponíveis na 
literatura nacional e internacional. A finalidade é criar uma base para discussão sobre o 
assunto, atualizar informações e fornecer subsídios que permitam a adoção de práticas 
mais condizentes com os princípios do MIP na cultura. O objetivo global é a redução de 
custos de produção e de riscos de impacto ambiental negativo. 
 
1.2 A planta de arroz e o ataque de insetos 
 
Diversas espécies de insetos danificam a cultura do arroz irrigado a partir da 
semeadura à fase de formação de grãos (Grutzmacher, 1994; Martins & Botton, 1996). De 
modo geral, dependendo da época e da parte da planta que atacam, podem ser classificadas 
em: a) insetos da fase pré-perfilhamento, que danificam sementes, raízes e plântulas; b) 
insetos da fase vegetativa, que danificam os colmos em formação e folhas; c) insetos da 
fase reprodutiva, que danificam os colmos após o início do desenvolvimento da panícula e 
os grãos, nas diferentes etapas de formação. As espécies consideradas de importância 
primária, em ordem de surgimento na lavoura, são: a pulga-do-arroz, Chaetocnema sp. 
(Coleoptera: Chrysomelidae); o cascudo-preto, Euetheola humilis (Coleoptera: 
Scarabaeidae); a lagarta-da-folha, Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae); o 
gorgulho-aquático, Oryzophagus oryzae (Coleoptera: Curculionidae); o percevejo-do-
colmo, Tibraca limbativentris (Hemiptera: Pentatomidae) e o percevejo-do-grão, Oebalus 
poecilus (Hemiptera: Pentatomidae). Outras espécies, como o pulgão-da-raiz, 
Rhopalosiphum rufiabdominalis (Homoptera: Aphididae); o percequito, Collaria scenica 
(Hemiptera: Miridae); a broca-do-colmo, Diatraea saccharallis (Lepidoptera: Pyralidae) e 
a lagarta-boiadeira, Nymphula indomitalis (Lepidoptera: Nymphulidae) consideradas de 
importância secundária para a cultura do arroz irrigado, podem em algumas situações 
provocar danos de maior expressão econômica que os próprios insetos de importância 
primária. 
Em programas de manejo de pragas é importante o conhecimento sobre os diferentes 
estádios de desenvolvimento da planta de arroz, pois, o ciclo biológico de muitas espécies 
de insetos está fortemente atrelado a esse aspecto. Ademais, muitas práticas de manejo da 
cultura, que exercem efeitos positivos ou negativos sobre a população de insetos, como por 
exemplo a irrigação por inundação e adubação, somente podem ser adotadas em 
determinadas fases do desenvolvimento das plantas. 
 
 2
1.3 Modelo de ocorrência de insetos 
 
As espécies de insetos que danificam a cultura do arroz irrigado, de acordo com a 
sazonalidade de ocorrência, podem ser divididas em dois grandes grupos (Figura 1.1). 
 
1.3.1 Pragas crônicas - Ocorrem anualmente, reduzindo a produtividade, porém mantendo 
nível populacional moderado e modelo padrão de distribuição, causando danos não muito 
severos. Rotineiramente, são controladas ou toleradas. Ex: gorgulho-aquático. 
 
1.3.2 Pragas agudas - Ocorrem esporadicamente em níveis populacionais elevados. 
Apresentam, entretanto, elevado potencial de dano econômico e, em alguns casos, são de 
difícil controle. Ex: cascudo-preto. Historicamente, os surtos das pragas agudas são 
associados a condições climáticas severas (flutuações extremas de temperatura, seca, 
vendavais, inundações, etc.), as quais afetam a população de seus inimigos naturais. 
 
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Anos
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Praga Aguda
Praga Crônica
NDE
Fig. 1.1. Modelo de ocorrência anual de insetos fitófagos na cultura do arroz irrigado. Adaptado de Reissig et 
al. (1986). 
 
1.4 Mudanças tecnológicas no sistema de produção orizícola e surtos de insetos 
 
Inúmeras mudanças tecnológicas em sistemas de produção orizícola podem interferir 
no equilíbrio do agroecossistema e alterar a relação insetos-pragas/planta de 
arroz/ambiente, condicionando à ocorrência de surtos, de espécies típicas ou alheias à 
cultura. 
 
1.4.1 Expansão da área plantada 
 
Os efeitos da expansão da área orizícola são marcantes em ecossistemas onde a 
cultura não existia ou havia sido pouco praticada. Podem ocorrer via: a) aumento da 
disponibilidade de plantas hospedeiras nutricionalmente mais favoráveis; b) migração de 
espécies de insetos antes isoladas (restritas) em determinados ecossistemas, para novas 
áreas e, c) aumento do número de espécies que se transferem de hospedeiros nativos 
quando esses são destruídos. Como exemplo, pode ser citada a constatação de O. oryzae 
(gorgulho-aquático), em Goiás e Mato Grosso, poucos anos após a introdução e expansão 
da cultura naqueles Estados. Até então, esse inseto predominava na Região Sul e Sudeste 
 3
do Brasil. 
 
1.4.2 Novos sistemas de manejo da irrigação 
 
Mudanças que interferem no manejo da irrigação podem eliminar ou permitir o 
estabelecimento de espécies que somente eram prejudiciais em outros sistemas de cultivo. 
Assim, pragas iniciais da cultura, que danificam sementes e plântulas de arroz no período 
que antecede a inundação de lavouras implantadas através de semeadura em solo seco, 
praticamente inexistem no sistema de cultivo que envolve a distribuição de sementes pré-
germinadas sobre lâmina d` água. Ao contrário, o sistema pré-germinado é mais favorável 
à expansão de gorgulhos-aquáticos (Figura 1.2). 
Também o cultivo de arroz sobre taipas, onde a base das plantas não é atingida pela 
água de irrigação, induz ao desenvolvimento de elevadas populações do percevejo-do-
colmo, cuja biologia é favorecida pelas condições micrometeorológicas ali estabelecidas. 
 
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5
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Dias após a implantação da cultura
N
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Pré-Germinado Convencional
 
Fig. 1.2. Flutuação da população larval de Oryzophagus oryzae, nos sistemas de cultivo de arroz pré-
germinado e convencional. 
 
 
1.4.3 Desenvolvimento de novas cultivares 
 
Sempre que programas de melhoramento genético liberarem cultivares melhoradas 
para substituição de cultivares tradicionais, que geralmente são mais rústicas e resistentes a 
estresses ambientais bióticos e abióticos, haverá o risco de expansão de uma determinada 
espécie de inseto fitófago. Exemplo clássico foi a expansão populacional da broca-do-
colmo, no Suriname após o lançamento de uma cultivar suscetível. Tal fato não teria 
ocorrido se o aspecto resistência genética ao inseto tivesse sido incorporado durante o seu 
desenvolvimento. 
Novas cultivares, com tipo moderno de plantas, mais perfilhadoras, ao ofertarem 
maior quantidade de alimento (raízes, perfilhos, folhas), também são favoráveis ao 
aumento da população de pragas. 
O desenvolvimento de cultivares de ciclo curto, associado à inexistência de 
problemas climáticos (frio, principalmente) poderá permitir cultivos contínuos de arroz na 
mesma safra ou, até mesmo, explorar o potencial produtivo da soca (resteva). Tal prática, 
ao promover a disponibilidade contínua de plantas hospedeiras no campo, favorece o 
crescimento populacional de insetos-pragas. 
 4
Em decorrência do lançamento de novas cultivares, com maior potencial produtivo, 
alguns produtores preferem perder parte da colheita a gastar com o controle de insetos, 
cuja população sazonalmente pode aumentar e atingir níveis de danos econômicos. 
1.4.4 Aumento do uso de fertilizantes 
 
Cultivares modernas com melhor resposta ao uso de fertilizantes podem promover 
aumentos da abundância de pragas, se táticas corretas de manejo não forem adotadas. A 
exemplo, o nitrogênio (N) é um dos elementos que mais interfere na relação planta de 
arroz/insetos-pragas. Plantas com maior teor de N são mais atrativas e danificadas por 
brocas-do-colmo. O consumo de folhas de arroz por adultos do gorgulho-aquático 
americano Lissorhoptrus oryzophilus Kuschel (Coleoptera: Curculionidae), intensifica-se 
com o incremento de N total nas plantas e sua população larval cresce proporcionalmente 
ao aumento de dosagens do nutriente, aplicado antes da irrigação. Ao contrário, o uso de 
fertilizantes pode constituir-se num importante componente do MIP. A aplicação de 
silicatos ao solo reduz os danos causados às plantas de arroz pela broca-do-colmo asiática 
Chilo suppressalis (Walker) (Lepidoptera: Pyralidae), devido a provocar desgaste de suas 
mandíbulas. 
 
1.4.5 Expansão do uso de inseticidas químicos 
 
Em resposta à expansão de insetos-pragas, mesmo quando já existem formas 
adequadas de usar inseticidas, ocorre: a) deficiência na regulagem de equipamentos e 
aplicação em horários impróprios; b) aplicações preventivas, sem aferição da população de 
insetos, como tem ocorrido no controle da lagarta-da-folha com inseticidas piretróides, em 
mistura de tanque com herbicidas; c) escolha de inseticidas não registrados oficialmente 
para controle de determinadas espécies fitófagas, como é o caso de monocrotofós muito 
usado para controlar pentatomídeos do arroz; d) uso de sub-dosagens não recomendadas. 
No conjunto desses aspectos, no mínimo três princípios básicos do MIP são 
desrespeitados: a economicidade (relação custo/benefício), a eficiência técnica de controle 
de insetos exercida pelos inseticidas e a seletividade para inimigos naturais. Atualmente, há 
informação que possibilita reduzir até 67% a dosagem mínima registrada (750 g de i.a./ha) 
do inseticida carbofuran para controle da bicheira-da-raiz, sendo esta medida de grande 
importância, principalmente por minimizar custos com controle e riscos de impacto 
ambiental negativo (Martins et al., 2000). 
O uso de inseticidas, cuja eficiência de controle para uma espécie fitófaga e a 
seletividade para inimigos naturais é desconhecida, consiste num dos principais fatores 
indutores de ressurgência da espécie na lavoura. Subdosagens podem provocar 
ressurgimento de populações resistentes aos inseticidas. Produtos não seletivos podem 
ainda alterar o “status” da espécie de inseto, tornando-a de importância secundária em 
primária. 
 
 
1.5 Manejo Integrado de Pragas 
 
 
1.5.1 Definição 
 
O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é um conjunto de táticas a ser adotado para 
manter as populações de organismos prejudiciais abaixo de níveis de dano econômico. A 
estratégia considerada adequada é aquela capaz de preservar o equilíbrio do 
 5
agroecossistema em que o arroz irrigado estiver incluído. No manejo de insetos-praga são 
considerados os fatores de mortalidade natural dos mesmos e envolvidas todas as medidas 
de controle disponíveis, em diferentes graus, inclusive inseticidas químicos, quando o 
acompanhamento sistemático das populações e dos danos causados às plantas indicar tal 
necessidade. Em síntese, o MIP depende de uma estratégia ecológica multidisciplinar, 
considerando o efeito de cada tática, como parte do ecossistema, produzindo o mínimo de 
distúrbio e perdas de produção. 
 
1.5.2 Objetivos 
 
Os principais objetivos do MIP são: a) aumento de eficiência no controle de insetos, 
envolvendo modificações cuidadosas no balanço biológico natural; b) maior 
economicidade, reduzindo custos de produção, minimizando o uso de insumos, 
principalmente de defensivos químicos e, c) redução de riscos de dano ao ambiente, 
limitando o uso de produtos químicos potencialmentepoluentes. 
 
1.5.3 Estratégias básicas para implementação 
 
Para implementar um sistema de MIP, há necessidade de adotar os seguintes 
procedimentos básicos: 
 
1.5.3.1 Análise do problema de pragas 
 
a) Compreender o controle natural que consiste na redução da população de um 
inseto fitófago através da ação de fatores abióticos (chuva, temperatura, vento, etc.) e 
bióticos (plantas nativas e cultivadas, inimigos naturais, etc.). Nesse contexto, é prioritário 
desenvolver estudos taxonômicos sobre espécies fitófagas e seus inimigos naturais 
[entomófagos (predadores, parasitóides) e entomopatógenos (vírus, bactérias, fungos, 
nematóides, etc.)], quantificando os efeitos desses últimos sobre seus hospedeiros. Tal 
estratégia visa, principalmente, maior conhecimento sobre a ação de inimigos naturais 
específicos (parasitóides) e embasamento para a avaliação da seletividade de inseticidas 
sobre os mesmos; 
b) Conhecer a dinâmica populacional dos insetos fitófagos no agroecossistema, 
envolvendo distribuição espacial e avaliação dos danos às plantas hospedeiras cultivadas. 
Tal conhecimento permite saber em que fase da cultura e em que parte da lavoura 
determinada espécie de inseto ocorre em níveis populacionais mais prejudiciais. 
 
1.5.3.2 Procedimentos mais importantes do MIP 
 
a) Preservação ou multiplicação de organismos benéficos, nesse último caso, visando 
a liberação dos mesmos em lavouras comerciais (controle biológico artificial); 
b) Desenvolvimento de cultivares resistentes a insetos. Uma cultivar de arroz é 
considerada resistente a uma determinada espécie de inseto quando for menos danificada 
ou suportar mais dano de tal espécie do que outra cultivar de arroz, sob idênticas condições 
ambientais, sendo essa característica hereditária. Cultivares resistentes mantêm as 
populações de insetos fitófagos por mais tempo abaixo dos níveis populacionais 
causadores de danos econômicos, aumentam a efetividade de inimigos naturais e a 
suscetibilidade dos insetos a inseticidas. O uso de cultivares resistentes, além, de não 
onerar o custo de produção, é compatível com outros métodos de controle, principalmente 
com a estratégia de controle biológico natural; 
 6
c) Direcionamento e adaptação de práticas culturais, típicas de um sistema de 
produção, à solução de problemas específicos com insetos fitófagos como, por exemplo, 
adequação do manejo de água de irrigação e da adubação; 
d) Uso racional de inseticidas apoiado em estudos de laboratório [tempo (TL) e dose 
letal (DL), etc.] e avaliações a campo (eficiência sobre insetos fitófagos, seletividade para 
inimigos naturais, etc.). 
Além dos procedimentos acima citados, a estratégia coerente de MIP em arroz 
irrigado depende do conhecimento dos seguintes aspectos: 
a) Sítios de diapausa dos insetos fitófagos, considerando onde e em que fase do ciclo 
biológico permanecem no campo durante o período de ausência de plantas hospedeiras 
(plantas cultivadas). Tal conhecimento pode permitir o controle do inseto ainda antes da 
migração para o arrozal, ajudando na definição do método a ser adotado. Exemplos: 
limpeza de canais de irrigação para eliminação de gorgulhos-aquáticos; destruição de 
bromeliáceas, às margens das lavouras, para eliminação do percevejo-do-colmo; 
b) Fase da cultura e tipo de distribuição espacial do inseto. Entre as espécies de 
insetos que atacam o arroz irrigado, existem aquelas que ocorrem em fase única do ciclo de 
desenvolvimento da cultura ou em mais de uma fase distribuindo-se, principalmente, de 
forma agregada (mais comum) e ao acaso. O conhecimento da fase da cultura e do tipo de 
distribuição espacial de determinada espécie de inseto permite melhor definição da época e 
dos locais de aplicação de métodos de controle. Ex.: O percevejo-do-colmo ocorre nos 
arrozais na fase vegetativa e reprodutiva da cultura, com distribuição ao acaso e agregada, 
respectivamente; 
c) Comportamento do inseto, principalmente ritmos circadianos. Esse aspecto é 
importante, principalmente na definição do período diário mais apropriado à aferição da 
população de insetos na lavoura ou até mesmo da aplicação de medidas de controle. Ex.: O 
percevejo-do-colmo e o gorgulho-aquático mantém-se no topo das plantas (são mais 
visíveis e de mais fácil captura), em períodos com maior intensidade luminosa; 
d) Relação entre níveis populacionais de insetos (ou de seus danos às plantas) e 
níveis de perda de produtividade. Essa relação é básica para determinar os níveis de 
controle (NCE) e de dano (NDE) econômico de insetos (Figura 1.3). NDE corresponde ao 
nível populacional de uma determinada espécie de inseto, que provoca uma perda de 
produção cujo valor econômico é maior que o custo do controle, enquanto, o NCE equivale 
ao nível populacional em que o controle deve ser iniciado para evitar que NDE seja 
atingido. No caso do uso de inseticidas químicos ou de outro método de controle, cujo 
efeito sobre os insetos é rápido, o NCE deve ser o mais próximo possível do NDE (Nakano 
et al., 1981). 
O princípio de NCE, entretanto, nem sempre pode ser praticado, conforme a 
orientação anterior, principalmente, se adotado o controle biológico artificial, que envolve 
a liberação de inimigos naturais no agroecossistema. Estes, pelo fato de exercerem ação 
mais lenta que os inseticidas químicos, sobre os insetos visados, devem ser liberados com 
maior antecedência, de modo que haja tempo suficiente para que atuem eficientemente e 
evitem que o NDE seja atingido. O enfoque do NCE também deve ser alterado, no caso de 
insetos (ex. cigarrinhas) transmissores de agentes fitopatogênicos, pois estes, mesmo em 
populações reduzidas são potencialmente perigosos e justificam aplicações de inseticidas 
químicos, nesse caso, em caracter preventivo; 
 
 
 7
0
1,5
3
4,5
6
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Ciclo da Cultura
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CT= Custo do Tratamento VP= Valor da Produção
Produção= 100 sc/ha
Saco= R$ 10,00
VP= R$ 1000,00
CT= R$ 15,00 (a); R$ 45,00 (b)
NCE= 1,5% (a); 4,5 % (b)
População do inseto
NDE (a)
NDE (b)
NCE (a)
NCE (b)
 NDE > NCE
 b a
NCE = (CT/VP)x100
 
Fig. 1.3. Níveis populacionais de controle (NCE) e de dano econômico (NDE) de uma espécie de inseto-
praga do arroz irrigado passível de ser controlada através de dois métodos de aplicação (a, b) de 
inseticidas químicos. Modelo hipotético. 
 
e) Medidas de controle mais apropriadas a cada espécie de inseto em diferentes 
situações. A exemplo, o cascudo-preto que danifica partes subterrâneas das plantas de 
arroz e a lagarta-da-folha que corta as plantas rente ao solo na fase inicial da cultura, 
prioritariamente devem ser controlados através da submersão antecipada do solo. Não 
sendo tal prática possível, devido a pouca disponibilidade de água para inundar as áreas 
infestadas, a opção passa a ser a pulverização de inseticidas químicos, apenas no caso da 
lagarta-da-folha. O cascudo-preto somente seria atingido por inseticidas aplicados no 
tratamento de sementes. Atualmente, o conceito de erradicação foi substituído pelo de 
MIP, onde a prioridade é reduzir a população de insetos fitófagos, a níveis que não 
justifiquem o uso de inseticidas. 
 
1.5.4 Componentes do MIP 
 
Dentre as alternativas de controle de insetos-pragas na cultura do arroz irrigado, 
destacam-se como importantes o controle cultural, o controle biológico, a resistência 
varietal e o controle químico, embora outros métodos, por exemplo, mecânicos e físicos, 
possam ser empregados em alguns casos. 
 
1.5.4.1 Controle cultural 
 
Consiste em se empregar certas práticas culturais para controle (Ferreira, 1987), 
baseando-se em conhecimentos ecológicose biológicos das pragas. Dentre as medidas 
mais comumente empregadas destacam-se: 
a) inundação da lavoura, consiste em uma alternativa eficiente no controle de certas 
espécies de insetos que atacam a cultura em condições de sequeiro, como o cascudo-preto 
e a lagarta-da-folha, porém, a empregabilidade desta técnica depende principalmente da 
disponibilidade de água. A drenagem da área, desfavorece o desenvolvimento de insetos 
que atacam a cultura no período pós-inundação, tais como a lagarta-boiadeira, porém, a 
praticidade desta medida de controle depende do manejo adotado no controle de plantas 
daninhas; b) eliminação de restos culturais, pode ser eficiente, principalmente em lavouras 
que foram infestadas anteriormente pelo percevejo-do-colmo e a broca-do-colmo, os quais, 
por terem seus hospedeiros alternativos eliminados tornar-se-ão em menor número por 
 8
ocasião da época de infestarem o arrozal; c) manejo da cultura, o qual, consiste em criar 
condições favoráveis à concentração das pragas em determinadas partes da lavoura através 
de adubação nitrogenada mais elevada, manutenção de áreas infestadas com plantas 
daninhas e a utilização de cultivares mais precoces e, d) a catação manual, possibilitada 
pela colocação de abrigos ou esconderijos em locais estratégicos da lavoura, pode ser 
empregada no controle do percevejo-do-colmo. Entretanto, esta prática apenas pode ser 
viável em áreas menores como as localizadas no Alto do Vale Itajaí (SC), estando, ainda, 
dependente da disponibilidade de mão-de-obra. 
 
1.5.4.2 Controle Biológico 
 
Esta tática de controle consiste no emprego de inimigos naturais, os quais podem ser 
parasitóides, predadores e patógenos, com a finalidade de promover a regulação da 
população dos principais insetos-pragas a níveis não prejudiciais aos cultivos agrícolas. O 
controle biológico é natural quando a relação inseto fitófago/inimigo natural é regulada por 
fatores ecológicos, sem a interferência do homem ou, no máximo, quando este interfere 
ecologicamente para favorecer ou preservar os inimigos naturais. Quando o controle 
biológico ocorre com a interferência do homem, através de ações visando aumentar as 
populações ou os efeitos benéficos dos inimigos naturais em uma dada área, além da 
adoção de medidas premeditadas para proteger e manter esses insetos na área considerada, 
denomina-se controle biológico por incremento e conservação, podendo também ser 
denominado de artificial, visto envolver criação controlada de insetos entomófagos em 
telados, laboratórios, etc., para posterior liberação no campo. 
O controle biológico de insetos orizívoros no Brasil apresenta potencial para ser 
componente importante em sistemas de controle integrado, principalmente em 
determinadas regiões climáticas do País, como o Médio Norte de Goiás e Norte, no Pará, 
onde predomina o clima tropical e equatorial, respectivamente, e o arroz é cultivado 
continuamente. Devido ao clima dessas regiões os insetos mantêm-se em atividade durante 
todo o ano, não entrando em diapausa, ao contrário do que ocorre no Sul do Brasil onde a 
temperatura baixa consideravelmente, principalmente durante o inverno, e, com a presença 
de plantas de arroz no campo, há também, constante disponibilidade de presas (insetos 
fitófagos) para os parasitóides e predadores. (Martins & Magalhães, 1987). 
Embora, não exista na prática, até o momento, grande aplicabilidade do controle 
biológico, há alguns trabalhos que foram desenvolvidos visando à utilização dos fungos 
entomopatogênicos, Metarhizium anisopliae (Martins et al., 1986a) e, M. anisopliae e 
Beauveria bassiana (Martins et al., 1986b; Martins et al.,1997b) no controle do percevejo-
do-colmo. Atualmente, há algumas limitações quanto à extensão deste conhecimento para 
emprego no campo. Contudo, a utilização deste método de controle apresenta potencial 
para ser empregado em locais onde há maior concentração do inseto, como nos sítios de 
hibernação. Larvas predadoras pertencentes a família Dysticidae, foram identificadas 
predando larvas de primeiro ínstar de O. oryzae, as quais, se deslocavam através da lâmina 
de água do local da postura (bainha) para a superfície do solo (Prando, 1999). A utilização 
de fungos entomopatogênicos no controle de gorgulhos-aquáticos é considerada 
promissora. Em Cuba, são recomendadas duas aplicações de M. anisopliae para a redução 
da população do gorgulho-aquático Lissorhoptrus brevirostris (Meneses Carbonell et al., 
1996). Nos Estados Unidos da América, cerca de 50 isolados do fungo B. bassiana, de 
elevada bioatividade sobre adultos de L. oryzophilus foram obtidos (Irwin, 1996). No 
Japão, embora não sejam conhecidos inimigos naturais de L. oryzophilus, o fungo B. 
bassiana poderá ser usado no controle do inseto, visto a patogenicidade que vem 
demostrando à espécie (Matsui, 1987 & Nagata, 1990). No Brasil, a aplicação a campo de 
 9
B. bassiana associado a óleo de soja resultou satisfatoriamente no controle de gorgulhos-
aquáticos atingindo praticamente 100% de mortalidade (Leite et al., 1992). Prando & Sosa-
Gomez (1998), avaliando a eficiência dos fungos M. anisopliae e B. bassiana aplicados 
tanto isolados quanto associados com o inseticida fipronil no controle de larvas de O. 
oryzae, concluíram que ambos os fungos em mistura com o inseticida (50% da dosagem) 
foram eficientes na redução da população de larvas do inseto no cultivo de arroz pré-
germinado. 
Existem evidências de que os insetos parasitóides promovem significante controle 
natural de insetos orizívoros no Brasil, principalmente de lagartas e percevejos. Entre os 
predadores estão incluídos insetos de várias ordens, que atuam basicamente sobre lagartas. 
Na cultura do arroz, principalmente em cultivos irrigados e em várzea úmida, ocorrem 
outros predadores, como pássaros, aranhas e rãs, importantes para o controle biológico 
natural. Existem também evidências de que microorganismos possam ser usados como 
agentes de controle biológico de insetos orizívoros no Brasil. Nesse sentido, torna-se 
importante viabilizar o uso do controle biólogico associado a outras táticas de manejo, 
assim como a adoção de medidas visando maximizar o controle biológico natural existente. 
Segundo Reissig et al. (1986), para favorecer o controle biológico natural em arroz no 
Brasil, algumas medidas podem ser adotadas com os seguintes objetivos: a) preservar 
parasitóides e predadores nativos, criando condições favoráveis para que suas populações 
possam aumentar; b) reduzir o efeito prejudicial de produtos químicos sobre os 
parasitóides e predadores. Os inseticidas, particularmente, podem matar muitos inimigos 
naturais. Para amenizar tal situação podem ser aplicados inseticidas seletivos menos 
tóxicos aos parasitóides e predadores ou aplicar dosagens mínimas de um inseticida que 
seja tóxico para determinado inseto fitófago e menos tóxico para os inimigos naturais. A 
identificação de ingredientes ativos que apresentem essas características e que possam 
servir de alternativas ao produtor em substituição a outros mais tóxicos, é de fundamental 
importância; c) aplicar inseticida somente quando necessário, isto é, quando a população 
de determinado inseto atingir o nível de controle (NCE). Isto pode permitir que algum 
inseto hospedeiro permaneça disponível a ponto de favorecer o aumento da população dos 
inimigos naturais e, d) usar formulações e métodos de aplicação seletivos. 
 
1.5.4.3 Resistência Varietal 
 
O desenvolvimento de cultivares resistentes é uma das principais estratégias adotadas 
por algumas instituições brasileiras de pesquisa, visando à obtenção de melhorias do MIP, 
minimizando, por conseguinte, os prejuízos provocados por insetos a orizicultura, tanto no 
sistema de produção em terras altas como no irrigado por inundação em várzeas. Cultivares 
resistentes são consideradas componentes chave do MIP, devidoao baixo incremento que 
seu uso exerce sobre o custo de produção, compatibilidade com a maioria dos demais 
métodos de controle. Usando cultivares resistentes há menor necessidade de conhecimento 
sobre níveis populacionais de controle econômico (NCE) de insetos, manutenção das 
populações por maior tempo abaixo do NCE, evitando ou retardando a adoção do controle 
químico e conseqüentemente de riscos de contaminação ambiental. Ocorre aumento da 
eficácia de inimigos naturais e da suscetibilidade dos insetos a inseticidas químicos 
(Heinrichs et al., 1985). 
O princípio da resistência de plantas, decorre do fato de que no ecossistema natural, 
há milhões de anos, insetos fitófagos e plantas convivem entre si, formando uma complexa 
inter-relação, em constante co-evolução, cada qual procurando superar as barreiras 
impostas à sobrevivência. Os estudos sobre resistência de plantas, portanto, são 
fundamentados no conhecimento das relações entre espécies de insetos e espécies vegetais, 
 10
em diferentes condições ambientais. Neste contexto, a resistência de arroz a insetos vem 
sendo largamente estudada, apoiada na ampla diversidade genética de Oryza disponível a 
nível mundial (Heinrichs, 1994). Os principais avanços têm sido obtidos na Ásia, 
principalmente sobre resistência a cigarrinhas vetoras de doenças viróticas como 
Nilaparvata lugens e brocas-do-colmo como Chilo suppressalis (Panda & Khush, 1995). 
Na América Latina, destacam-se os estudos com a cigarrinha Tagosodes orizicolus, 
transmissora da virose conhecida por “hoja blanca” (Pardey et al., 1996), já tendo sido 
possível identificar cultivares resistentes tanto ao dano mecânico do inseto como à doença 
(Jennings & Pineda, 1970). Na América do Norte, os esforços estão sendo concentrados na 
busca de cultivares resistentes ao gorgulho-aquático L. oryzophilus. Assim, já foi 
desenvolvida cultivar comercial resistente ao inseto, bem como foram identificadas fontes 
de resistência (N’Guessan et al., 1994). 
No Brasil, os primórdios da resistência de arroz a insetos, constituíram-se de estudos 
isolados, geralmente desconectados de programas de melhoramento genético. Basicamente 
era avaliada a reação de um conjunto de genótipos ao ataque de uma determinada espécie 
de inseto, de importância econômica à cultura. Trabalho pioneiro envolveu a resistência de 
variedades de arroz aos gorgulhos Sitophilus oryzae e Sitophilus zeamais, e à traça-dos-
cereais Sitotroga cerealella (Link et al., 1971), importantes pragas do produto armazenado. 
Posteriormente, desenvolveram-se estudos sobre resistência a espécies que ocorrem na 
lavoura, como à broca-do-colo Elasmopalpus lignosellus, broca-do-colmo Diatraea 
saccharalis e percevejo-do-colmo Tibraca limbativentris (Martins, 1987). Apesar dos 
trabalhos, na época, terem tido fraco vínculo com programas de melhoramento genético, 
sementes de materiais identificados como resistentes foram armazenadas no Banco Ativo 
de Germoplasma da Embrapa Arroz e Feijão. Gradativamente, a resistência de arroz a 
insetos foi aumentando de importância no contexto dos programas de melhoramento 
genético, tanto de arroz irrigado (Martins, 1994) como de terras altas (Ferreira, 1994). 
No sistema de cultivo de arroz irrigado, realizado principalmente na região Sul do 
Brasil, um dos principais insetos-pragas é o gorgulho-aquático Oryzophagus oryzae, cujas 
larvas causam perdas anuais de produção estimadas em 10 a 30% (Martins, 1990; Prando 
& Pegoraro, 1993; Botton et al., 1996). Nesse sentido, várias táticas de controle são 
recomendadas visando a minimização dos danos causados pelo inseto, entretanto, na busca 
da sustentabilidade do sistema produtivo, visando principalmente a redução dos custos 
operacionais e riscos de contaminação do agroecossistema, o uso de cultivares resistentes a 
O. oryzae, é considerada alternativa promissora para a redução de danos à cultura do arroz 
irrigado (Martins et al., 1993; Botton, 1994; Carbonari 1996; Martins et al., 1997a; Martins 
et al., 1998; Cunha et al., 1999). A resistência de arroz a gorgulhos aquáticos pertence aos 
tipos antixenose, antibiose e tolerância (Bowling, 1980; Martins & Terres, 1989), de 
acordo com Maxwell & Jennings (1980), a antixenose e antibiose estariam associadas a 
fatores morfológicos e químicos da planta de arroz, os quais reduziriam a oviposição do 
gorgulho e provocariam a morte de larvas na fase inicial de crescimento. A tolerância 
manifesta-se pela recuperação do sistema radicular após o corte provocado pelas larvas. 
A resistência de plantas de arroz a O. oryzae do tipo tolerância, em hipótese, é mais 
fácil de ser encontrado em genótipos de ciclo médio e longo, devido a maior duração da 
fase vegetativa, pois estes diferem na capacidade de recuperação do sistema radicular 
danificado pelas larvas (Martins & Terres, 1989; Martins et al., 1993; Carbonari, 1996; 
Carbonari, 1997). Neste sentido, as cultivares BR-IRGA 410 e Dawn, consideradas de 
ciclo médio apresentaram maior capacidade de recuperação do sistema radicular danificado 
e menores perdas de produção de grãos, em relação às de ciclo curto BR-IRGA 414 e 
Bluebelle, devido ao maior período de perfilhamento após o pico populacional de O. 
oryzae, que ocorreu similarmente independente do ciclo fenológico das plantas (Carbonari, 
 11
1996). 
Através do índice de infestação larval de O. oryzae, genótipos de arroz são 
selecionados quanto à resistência do tipo antixenose e antibiose, e posteriormente avaliados 
quanto ao tipo tolerância. Principalmente genótipos com ciclo fenológico altamente 
precoces, que apresentam reduzidos índices de infestação larval, de relevante interesse para 
programas de melhoramento genético da cultura, são utilizados em hibridações, visando 
incorporar características de resistência ao inseto, nas cultivares em desenvolvimento 
(Martins et. al., 1998). 
Atualmente, é empreendido esforço para acompanhar os avanços da resistência de 
arroz a insetos no mundo. A atualização do conhecimento, principalmente, sobre: a) 
disponibilidade no exterior de fontes de resistência a espécies de insetos relacionadas às 
que ocorrem no Brasil e, b) inovações metodológicas em melhoramento vegetal são vistas 
como importantes para estreitar as relações entre especialistas nacionais, principalmente, 
entomologistas e geneticistas, os quais tem a maior responsabilidade em intensificar ações 
visando desenvolver cultivares resistentes. Através do acompanhamento de trabalhos 
realizados em outros países, visando a identificação de genótipos resistentes às principais 
pragas que atacam a cultura do arroz irrigado, pode-se fazer comparações entre a situação 
atual em que se encontram esses trabalhos no exterior e no Brasil (Tabela 1.1). Com base 
nesta tabela, nota-se que, no Brasil, apenas para O. oryzae (gorgulho-aquático) tem-se 
cultivares de arroz resistentes disponíveis, até porque, maiores esforços são dispensados 
em virtude da importância econômica que esta praga exerce para a orizicultura do País. As 
cultivares de arroz irrigado resistentes a O. oryzae e atualmente disponíveis, são: BR-
IRGA 410; BR-IRGA 413; BRS Atalanta; Dawn; Farroupilha. Para outros insetos de 
importância, como E. lignosselus (broca-do-colo) e D. saccharalis (broca-do-colmo) já se 
encontram disponíveis fontes de resistência, bastando apenas implementar estudos visando 
a obtenção de cultivares com característica de resistência. Apesar do grande número de 
trabalhos envolvendo resistência de arroz a insetos (Tabela 1.1), ainda não foi identificado 
qualquer gene associado à tal caracteristica das plantas, tanto no Brasil como no exterior, 
demonstrando a necessidade de intensificação de estudos sobre o assunto. 
 
 
Tabela 1.1. Situação da resistência de arroz a insetos de maior importância econômica, no Brasil e no 
exterior, envolvendo espécies relacionadas1. 
 
Insetosestudados no Brasil Insetos estudados no exterior 
Nome comum Nome científico Situação2 Nome científico Situação2
Broca-do-colo Elasmopalpus lignosellus ABC - - 
Gorgulho- aquático Oryzophagus oryzae ABCE Lissorhoptrus 
oryzophilus 
ABCDE 
Broca-do-colmo Diatraea saccharalis ABC Chilo suppressalis ABCDE 
Percevejo-do-colmo Tibraca limbativentris AB Scotinophora coarctata ABC 
Percevejo-do-grão Oebalus poecilus AB Oebalus pugnax ABC 
 
1Espécies da mesma ordem e família, com hábito alimentar idêntico na planta de arroz. 
2Métodos de seleção desenvolvidos (A), cultivares ou linhagens com diferencial de menor nível de dano, 
porém, sem confirmação da resistência (B), fontes de resistência identificadas (C), linhagens melhoradas 
(avançadas) visando prioritariamente resistência a insetos (D), cultivares resistentes disponíveis (E). 
 
Na atualidade, com o avanço da ciência na área da biotecnologia, criam-se novas 
alternativas que possibilitarão maior rapidez na obtenção de cultivares de arroz resistentes 
a pragas, preservando as demais características agronômicas desejáveis. Dentre essas 
alternativas destacam-se as técnicas de cultura de anteras e tecidos, sendo que estas, podem 
ser usadas para adicionar novas características agronômicas em cultivares de arroz. A 
cultivar BR-IRGA 413, por exemplo, apesar de resistente a O. oryzae, não possui alguns 
 12
atributos desejáveis. Esse tipo de genótipo se manipulado através de cultura de tecidos, em 
busca de variabilidade somaclonal, poderá ser regenerado e produzir plantas com melhores 
características agronômicas, que mantenham a resistência ao inseto. Por outro lado, cultivares 
como a BRS Firmesa, com várias características agronômicas desejáveis, porém, suscetível a 
O. oryzae, atraves da variação somaclonal poderão produzir plantas que acumulem a 
resistência ao inseto. Cultivares transgênicas resistentes a insetos, devidamente 
regulamentadas, podem consistir da principal alternativa para redução drástica do uso de 
inseticidas químicos, que aumenta os custos de produção e os riscos de impacto ambiental 
negativo em agroecossistemas orizícolas. Sobre isso, nos Estados Unidos da América, 
como nenhuma cultivar de arroz exerce efeitos marcantes de antibiose no gorgulho-aquático 
L. oryzophilus, estão sendo estudados genes de Bacillus thuringiensis (Bt), tentando encontrar 
algum que seja ativo contra o inseto para posteriormente, através de engenharia genética, 
incorporá-los em genótipos suscetíveis (produzindo plantas transgênicas), maximizando o 
aproveitamento no programa de melhoramento da cultura. Essa mesma linha de pesquisa é 
factível de ser implementada em relação a espécie O. oryzae no Brasil. 
 
1.5.4.4 Controle Químico 
 
Este método de controle baseia-se, fundamentalmente, no uso de inseticidas visando 
o controle de insetos orizívoros, sendo importante componente do MIP. Para que este 
método de controle seja realizado de forma racional, alguns aspectos devem ser 
observados, tais como: a) empregar inseticidas com base no nível de controle econômico 
(NCE) dos insetos-praga, sendo básico, portanto, a realização de monitoramento 
populacional dos mesmos. A adoção do princípio de controle econômico (NCE) para 
algumas das principais espécies de insetos mais prejudiciais ao arroz irrigado, é possível, 
devido aos resultados de pesquisa obtidos nos últimos anos, na região Sul do Brasil ou 
informações adaptadas de outras regiões. Para isso, é preciso comparar o custo atual de 
controle (CT) de determinado inseto (custo de inseticidas, equipamentos, mão-de-obra, 
etc.) com valores estimados de perdas de produção de grãos, possíveis de serem calculados 
com base nos procedimentos descritos para cada espécie considerada; b) apenas utilizar 
inseticidas registrados, com base na publicação Arroz Irrigado: Recomendações Técnicas 
da Pesquisa para o Sul do Brasil. Se este último aspecto não for considerado, pelo menos, 
dois pontos básicos do MIP deixarão de ser atendidos: a eficiência de controle e a 
seletividade para inimigos naturais. 
Na cultura do arroz irrigado emprega-se considerável volume de inseticidas visando 
o controle de insetos que anualmente acarretam grandes prejuízos à produção, 
principalmente a lagarta-da-folha e a bicheira-da-raiz. O emprego de inseticidas aplicados 
às sementes é uma das alternativas promissoras e que devem ser implementadas no 
controle de insetos na cultura do arroz irrigado (Grutzmacher et al., 2000). Este método, 
além de apresentar um custo relativamente baixo, permite minimizar problemas de 
contaminação ambiental, auxilia na preservação do controle biológico natural e 
proporciona o controle de várias espécies de insetos-praga de importância econômica para 
a cultura, tais como: o pulgão-da-raiz, a pulga-do-arroz, lagartas-das-folhas e, a bicheira-
da-raiz. Quando da opção pelo controle de insetos como a lagarta-da-folha e a bicheira-da-
raiz, através de inseticidas aplicados via pulverização foliar, preferência deve ser dada à 
inseticidas de ação fisiológica (Grutzmacher et al., 1999), pois estes, permitem maior 
seletividade aos inimigos naturais e, conseqüentemente uma maximização do controle 
biológico natural evitando muitas vezes a ressurgência de pragas importantes na cultura. 
1.6 Biologia, descrição, danos, estimativas de perdas de produção e medidas de controle de 
insetos prejudiciais ao arroz irrigado 
 13
 
Neste item, serão discutidas as principais características dos insetos-pragas que 
atacam a cultura do arroz irrigado, destacando-se, aspectos referentes à biologia, 
comportamento, danos, metodologia para a estimativa de perda de produção, além, dos 
principais métodos recomendados para controle. Uma síntese das principais alternativas de 
controle dos insetos consta na Tabela 1.2. 
 
1.6.1 Importância primária 
 
1.6.1.1 Pulga-do-arroz (Chaectocnema sp.) 
 
Biologia e descrição: espécie polífaga. No período mais frio do ano (entressafra), o 
inseto permanece inativo na forma adulta, abrigado em vegetais próximos às lavouras. Na 
primavera torna-se ativo e ataca várias espécies vegetais como o arroz, especialmente em 
períodos pouco chuvosos. Os ovos são colocados no solo, na base das plantas hospedeiras. 
As larvas são brancas, filiformes, alimentam-se de raiz e atingem cerca de 5 mm de 
comprimento. A fase de pupa (brancas) ocorre no solo. Os adultos (Figura 1.4), com 
aproximadamente 2 mm de comprimento, são besouros arredondados, pretos, brilhantes, 
com os fêmures posteriores dilatados, adaptados para saltos, élitros lisos, porém levemente 
marcados linearmente, sem pêlos ou escamas. 
Danos: os adultos prejudicam as plantas, desde a emergência até o início do 
perfilhamento. Em arroz, os adultos alimentam-se na superfície da epiderme, em ambos os 
lados, mais freqüentemente próximo à extremidade das folhas, resultando em bandas 
esbranquiçadas raspadas (Figura 1.5). A ponta da folha pode ficar esfiapada e uma 
coloração marrom ser notada em plantas que não foram drasticamente atacadas. 
Populações elevadas podem atrasar o crescimento ou até mesmo provocar a morte das 
plantas, induzindo muitas vezes a necessidade de replantio de áreas extensas de lavoura. 
Há também registros do ataque da pulga-do-arroz a panículas de arroz. 
Situação como praga: a pulga-do-arroz, de ocorrência esporádica, é um inseto em 
expansão, principalmente, na região Sul da Planície Costeira do Rio Grande do Sul. Níveis 
de danos, bioecologia e medidas de controle do inseto, para a cultura do arroz irrigado no 
Rio Grande do Sul ainda não forma estudados. As informações ora fornecidas são de 
caráter empírico ou adaptadas de outros países. 
Controle: a) eliminação constante de plantas hospedeiras nativas preferenciais, 
durante a entressafra, tanto do interior como às margens das áreas reservadas ao cultivo do 
arroz; b) em áreascom histórico de danos, semear em épocas favoráveis ao rápido 
crescimento das plantas, tornando-as menos sensíveis ao ataque do inseto; c) inundação 
das áreas infestadas, se houver disponibilidade de água; d) no Brasil, não existem ainda 
inseticidas registrados para o controle da pulga-do-arroz. Sua população, entretanto, é 
bastante afetada por inseticidas usados no controle da lagarta-da-folha, quando ocorrem 
simultaneamente nos arrozais. 
 
 
 14
 
 
Fig. 1.4. Adulto de Chaectocnema sp. (pulga-do-arroz). 
 
 
Fig. 1.5. Plantas de arroz atacadas por Chaectocnema sp., com sinais de alimentação do inseto nas folhas. 
 
1.6.1.2 Cascudo-preto (Euetheola humilis) 
 
Biologia e descrição: espécie polífaga. Os adultos (Figura 1.6-A), de coloração 
marrom-escura à preta, com 15 mm, geralmente surgem após as primeiras chuvas. Na 
lavoura, a oviposição é feita no solo e as larvas logo após a eclosão medem 3 mm de 
comprimento.Na entressafra, o inseto encontra-se no solo, na fase larval, em campos 
nativos ou áreas em pousio (principalmente em taipas não desmanchadas). As larvas 
(Figura 1.6-B), quando completamente crescidas, são brancas recurvadas (tipo 
escarabeiforme), com cabeça marron-clara e a extremidade do abdômen escura, podendo 
atingir até 50 mm de comprimento. A fase larval pode durar até 20 meses. A transformação 
em pupas ocorre em câmaras construídas no solo. 
Danos: ocorrem no período que antecede a entrada de água na lavoura. As larvas 
conhecidas por bicho-bolo ou pão-de-galinha, alimentam-se de matéria orgânica e raízes, 
podendo provocar definhamento (com amarelecimento) ou até mesmo a morte das plantas, 
ocasionando falhas no arrozal (Figura 1.7). Os adultos destroem a base das plantas, 
também no período pré-inundação. Excepcionalmente, causam o mesmo tipo de dano no 
final do ciclo da cultura, após a retirada da água da lavoura para colheita, podendo 
provocar o acamamento das plantas e dificultar a colheita mecanizada. 
Situação como praga: o cascudo-preto, considerado praga aguda, tem assumido 
 15
maior importância econômica na região do Planalto da Campanha do Rio Grande do Sul, 
como também no Estado de Tocantins, na região Central do Brasil. É um inseto de difícil 
controle, após estabelecido no arrozal. 
Controle: a) destruição de restos culturais e de plantas nativas hospedeiras; b) 
tratamento de sementes com inseticidas; c) instalação de armadilhas luminosas, dentro de 
canais de irrigação ou açudes, podendo ser utilizadas quaisquer fontes luminosas como 
chama de lampião e, principalmente, lâmpadas fluorescentes tipo luz do dia (DL); d) 
inundação das áreas infestadas. É importante considerar que aplicações de inseticidas, 
granulados ou líquidos, para controlar o inseto após o ataque na lavoura são ineficientes 
(King & Saunders, 1984). 
 
 
 
Fig. 1.6. Inseto adulto (A) e larvas (B) escarabeiformes de Euetheola humilis (cascudo-preto). 
 
 
 
Fig 1.7. Falhas em lavoura de arroz ocasionadas pelo cascudo-preto, Euetheola humilis. 
 
1.6.1.3 Lagarta-da-folha (Spodoptera frugiperda) 
 
Biologia e descrição: espécie polífaga. No período mais frio do ano (entressafra), 
mantém-se na fase de pupa (marrom, com 18 a 20 mm de comprimento), em casulos ou 
células, ao solo. Na primavera, com o aumento da temperatura, surgem os adultos com 35 
a 38 mm de envergadura. Apresentam dicromismo sexual nas asas anteriores. As fêmeas 
possuem coloração marrom-acinzentada uniforme com manchas orbicular e reniforme 
pouco nítidas. Nos machos, a coloração marrom-acinzentada é mais escura, existindo uma 
mancha apical branca (Figura 1.8-A). A linha submarginal é bem nítida e entre as manchas 
reniforme e orbicular, há uma mancha branca. Em ambos os sexos, as asas posteriores são 
branco-acinzentadas. Os ovos são colocados em camadas, em ambos os lados da superfície 
foliar, cobertos com escamas cinzas que se desprendem do abdômen das fêmeas (Figura 
1.8-B). A dispersão das lagartas, logo após a eclosão, ocorre com auxílio do vento, 
podendo mais de uma estabelecer-se na mesma planta. A partir do terceiro ínstar, 
entretanto, tornam-se canibais. Passam por 5 ou 6 ínstares, dependendo da temperatura e 
do tipo de alimento a que são submetidas, atingindo 40 mm quando completamente 
 16
crescidas. Sua coloração pode ser verde-claro, marron-escuro ou quase preta, possuindo 
três linhas branco-amareladas ao longo do dorso. Nas laterais, possui uma linha escura 
mais larga que é seguida por outra linha amarela irregular marcada de vermelho (Figura 
1.8-C). 
Danos: destruição ou enfraquecimento de plantas novas, corte de colmos ao nível do 
solo, desfolhamento de plantas mais desenvolvidas, danos a flores e panículas. No Rio 
Grande do Sul, principalmente, em áreas planas, o período crítico de ataque está 
compreendido entre a emergência das plantas e a inundação da lavoura, quando o inseto 
corta os colmos rente ao solo. Nesse período, em determinados anos, atinge níveis 
popu1acionais elevados, podendo destruir rapidamente partes ou totalmente os arrozais. 
Em áreas inclinadas (lavouras de coxilha) o ataque pode se estender a plantas sobre as 
taipas, até a fase de emissão das panículas. 
Situação como praga: a lagarta-da-folha, considerada praga aguda, tem assumido 
maior importância econômica nas regiões do planalto da campanha e depressão central, 
ambas no Estado do Rio Grande do Sul, Estado de Tocantins e, região Central do Brasil. A 
maior parte dos inseticidas usados sem critérios de MIP, no Rio Grande do Sul, visa o 
controle da lagarta-da-folha. Há evidências de que o inseto tem sido mais prejudicial em 
lavouras infestadas com capim-arroz (Echinochloa spp.), atacando plantas de arroz após a 
eliminação da planta daninha por herbicidas. 
Estimativa de perda de produção: a partir da emergência das plantas, durante o 
período pré-inundação, em intervalos semanais, vistoriar o maior número possível de 
pontos do arrozal (0,5 x 0,5m), ao longo de linhas transversais imaginárias. A cada lagarta 
de 3º ínstar (± 1cm de comprimento) encontrada em média/m2 (Grutzmacher, 1998), o que 
corresponde a 1 lagarta/4 pontos de 0,5 x 0,5m observados, é esperada uma redução de 1% 
na produção de grãos. Atenção especial deve ser dispensada a áreas infestadas com capim-
arroz, onde a incidência do inseto é maior. 
Controle: a) maiores cuidados devem ser tomados quando o arrozal estiver próximo 
a áreas que foram ou estão sendo cultivadas com milho e sorgo; b) destruição de restos 
culturais de plantas nativas hospedeiras; c) estabelecer níveis adequados de fertilidade do 
solo que possibilitem um rápido crescimento das plantas, visando reduzir o período de 
maior suscetibilidade ao ataque do inseto e criando maiores condições de recuperação dos 
danos causados; d) inundar as áreas infestadas; e) maximizar o controle biológico natural, 
preservando o complexo de parasitóides e predadores que atuam sobre a lagarta-da-folha, 
no agroecossistema orizícola, somente aplicando inseticidas químicos registrados quando o 
NCE for atingido. 
 
 
 
 
Fig. 1.8. Inseto adulto (A), postura (B) e lagarta (C) eruciforme de Spodoptera frugiperda (lagarta-da-folha). 
 
1.6.1.4 Gorgulho-aquático (Oryzophagus oryzae) 
 17
 
Biologia e descrição: espécie oligófaga. No período mais frio do ano (entressafra) o 
inseto mantém-se na fase de adulto (gorgulho-aquático) (Figura 1.9-A), sob restos culturais 
e na base de plantas nativas. Mede 2,6 a 3,5 mm de comprimento, é acinzentado e possui 
manchas brancas dorsais. Os machos são menores do que as fêmeas. Os adultos surgem 
nos arrozais, quando ocorre acúmulo de água oriunda das chuvas ou da própria irrigação 
por inundação. Alimentam-se do parênquima das folhas ocasionado lesões longitudinais 
típicas (Figura 1.9-A), acasalam e ovipositam em partes submersas das plantas. Os ovos 
são brancos,cilíndricos, com as extremidades arredondadas. Cerca de uma semana após a 
oviposição surgem as larvas (bicheira-da-raiz), que se alimentam das raízes. As larvas 
(Figura 1.9-B) são brancas, ápodas, possuem seis pares de puas dorsais (austórios) através 
das quais extrai oxigênio dos tecidos das raízes, cabeça pequena amarelada e pilosidade 
escassa sobre o corpo. Cerca de 25 dias após a eclosão, as larvas completamente 
desenvolvidas (com 8,5 mm de comprimento) permanecem fixadas as raízes, constroem 
casulos de barro, em cujo interior se transformam em pupas (Figura 1.9-C), fase essa com 
duração aproximada de dez dias. 
Danos: o inseto adulto raramente causa perdas econômicas em lavouras implantadas 
em solo seco. No sistema de cultivo de arroz pré-germinado, entretanto, os adultos causam 
elevados índices de mortalidade de plântulas podendo afetar economicamente a cultura. Os 
principais prejuízos são causados pelas larvas, as quais danificam as raízes das plantas 
(Figura 1.10-A) após a irrigação dos arrozais, reduzindo a capacidade de absorção de 
nutrientes. As lavouras instaladas mais cedo, mesmo no período normal de semeadura do 
arroz, tendem a ser mais prejudicadas pelo inseto. 
Situação como praga: a espécie O. oryzae, considerada como crônica, causa cerca 
de 10% de redução na produtividade das lavouras infestadas. Seus danos (Figura 1.10-B) 
muitas vezes são atribuídos erroneamente a deficiência de nitrogênio, toxidez por ferro e 
salinidade. Nos últimos anos, a incidência do inseto vem aumentando no Rio Grande do 
Sul. O caráter típico de distribuição agregada se modificou. O inseto tem sido encontrado 
em quase toda a extensão dos arrozais, mesmo naqueles em que o solo foi submetido à 
sistematização. A principal alternativa de controle do inseto tem sido o uso do inseticida 
carbofuran granulado, aplicado em cobertura na água de irrigação, visando atingir as 
larvas. Apesar da elevada eficiência de controle do método existem restrições ao seu uso 
devido, principalmente, ao receio de poluição ambiental, custo relativamente elevado e 
dificuldades de distribuição uniforme dos grânulos através de avião, em grandes áreas de 
lavoura. Nesse sentido, vários métodos de controle químico do inseto vêm sendo estudados 
nos últimos anos (Botton et al., 1999), destacando-se, o tratamento de sementes, aplicação 
na água de irrigação de inseticidas granulados alternativos ao carbofuran, para o controle 
de larvas e a pulverização foliar com piretróides e reguladores de crescimento, para o 
controle de adultos (Martins et al., 1997b). 
Estimativa de perda de produção: a partir de dez dias após a inundação, no sistema 
de cultivo convencional (semeadura em solo seco) ou, da emergência das plantas, no 
sistema de arroz pré-germinado, avaliar a presença de larvas, no mínimo em dez locais 
escolhidos ao acaso na lavoura. É importante considerar que, inicialmente, há maior 
concentração de larvas ao longo das margens ou nas primeiras partes inundadas da lavoura. 
Segundo técnica adaptada de Tugwell & Stephen (1981), em cada local, retirar quatro 
amostras de solo e raízes, usando uma secção de cano de PVC (Figura 1.11-A) com 10 cm 
de diâmetro e 20 cm de altura, aprofundando-a 8 cm no solo. Agitar as amostras sob água, 
em uma peneira apropriada, para liberação e contagem das larvas (Figura 1.11-B). A cada 
larva, em média/amostra (Figura 1.11-A), é esperada uma redução de 1,1 e 1,5% na 
produção de grãos de cultivares de ciclo médio e precoce, respectivamente (Martins et al., 
 18
1995). Atualmente, com os métodos de controle empregados, o NCE é cerca de 5 larvas 
em média por amostra, devendo, portanto, ser estabelecido sempre com base no custo do 
tratamento (custo com a aplicação mais inseticida) associado à estimativa do valor de 
produção por hectare. Após a fase inicial de diferenciação de panículas (IDP) não há 
resposta positiva em produtividade de arroz, ao controle de larvas. 
A aplicação de inseticidas em pulverização foliar, também visando o controle de 
adultos de O. oryzae, tem sido estudada no Rio Grande do Sul. A decisão sobre aplicação 
seria baseada em sinais de alimentação do inseto nas folhas de arroz. Assim, cerca de 3 
dias após a inundação, no sistema de cultivo convencional ou da emergência das plantas no 
sistema de arroz pré-germinado a presença de adultos seria avaliada, no mínimo, em dez 
locais ao acaso na lavoura. Em cada local, seria observada a folha mais nova de 20 plantas, 
quanto à presença ou ausência de sinais de alimentação de adultos. Se mais de 50% das 
plantas contivessem sinais, o controle poderia ser feito através de pulverização foliar. Ao 
contrário, o controle seria adiado até que aferições da população larval indicassem que o 
NCE foi atingido. 
Controle: a) práticas culturais intrínsecas do manejo da cultura do arroz irrigado 
(limpeza de canais de irrigação, destruição de restos culturais, aplainamento do solo); b) 
adubação nitrogenada suplementar, no máximo até a fase inicial de diferenciação das 
panículas (IDP), visando recuperar o sistema radicular danificado pelas larvas; c) em áreas 
com histórico de danos, evitar o uso de cultivares de ciclo curto (precoces), que tendem a 
ser menos tolerantes ao ataque do inseto; d) tratamento de sementes com inseticidas; e) em 
áreas com histórico de ataque da praga aplicação de inseticidas em pulverização foliar 
visando o controle de insetos adultos, principalmente de inseticidas fisiológicos, entre 3 e 5 
dias após inundação da lavoura; f) aplicação curativa de inseticidas, com base em NCE; 
 
 
 
 
 
 
Fig. 1.9. Inseto adulto de Oryzophagus oryzae (gorgulho-aquático) e lesões longitudinais nas folhas (A); 
Larvas (bicheira-da-raiz) de último ínstar, do tipo curculioniforme (B); Pupas (O. oryzae) no 
sistema radicular (C). 
 
 
 19
 
 
Fig. 1.10. Raízes de plantas de arroz irrigado danificadas (esquerda) por larvas de O. oryzae e normais 
(direita) (A); Lavoura de arroz irrigado infestada por larvas (bicheira-da-raiz) de O. oryzae (B). 
 
 
 
Fig. 1.11. Amostrador do tipo secção de cano de PVC (A) e larvas (bicheira-da-raiz) já liberadas da amostra 
de solo e raízes (B). 
 
1.6.1.5 Percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris) 
 
Biologia e descrição: espécie oligófaga. No período mais frio do ano (entressafra), o 
inseto permanece na fase de adulto, abrigado em restos culturais e na base de plantas 
nativas, circundantes ao arrozal. Mede cerca de 13 mm de comprimento e 7 mm de largura, 
sendo de coloração marrom clara no dorso e marrom escura na face ventral (Figura 1.12-
A). Os machos são menores que as fêmeas. Os adultos surgem na lavoura quando as 
plantas de arroz atingem um nível de crescimento capaz de suportar o ataque (cerca de três 
semanas após a emergência). Localizam-se na base dos colmos (Figura 1.12-B), próximos 
ao colo das plantas, onde acorre a reprodução. O potencial de fecundidade é superior a 900 
ovos/fêmea. Os ovos, verdes, cilíndricos, com 0,8 mm de diâmetro, são colocados 
preferencialmente em folhas e colmos de arroz, mas também folhas de diversas plantas 
daninhas. As ninfas eclodem cerca de uma semana após a oviposição. Possuem coloração 
variável nos diferentes instares, sendo no geral escuras no quinto ínstar. No primeiro ínstar, 
as ninfas não se alimentam. A partir do segundo, deslocam-se para os colmos, em lugares 
próximos ao solo, iniciando a alimentação. A duração da fase ninfal é de aproximadamente 
um mês. Adultos e ninfas de quarto e quinto ínstar são mais facilmente observados nas 
lavouras (nas partes superiores das plantas) nos horários em que a temperatura é mais 
elevada. Condições de umidade e de temperatura elevada na superfície do solo, como as 
que se estabelecem entre os colmos de arroz, são altamente favoráveis ao desenvolvimento 
populacional do percevejo-do-colmo. 
 20
Danos: o percevejo-do-colmo,ao perfurar colmos em formação (na fase vegetativa 
das plantas), provoca o aparecimento do sintoma conhecido por coração morto (Figura 
1.13-A). A perfuração de colmos já desenvolvidos (na fase reprodutiva das plantas) origina 
o sintoma conhecido por panícula branca (Figura 1.13-A). Num período de 12 a 24 horas 
de alimentação, o inseto é capaz de causar os dois tipos de sintomas. No ponto da bainha 
da folha, onde introduziu o estilete, é possível observar uma pequena mancha de coloração 
marrom (Figura 1.13-B), a qual coincide internamente com o estrangulamento do colmo 
(Figura 1.13-C). O inseto se instala principalmente em partes do arrozal não atingidas pela 
lâmina da água de irrigação, sendo os prejuízos maiores quando o ataque ocorre entre a 
fase de pré-floração (emborrachamento) e a de formação de grãos. Os resultados são 
reduções quantitativas e qualitativas na produção de grãos (Costa & Link, 1992). As perdas 
em qualidade são devidas à maior percentagem de grãos manchados, em hipótese, 
conseqüência de fungos oportunistas que se estabelecem mais facilmente nas plantas 
debilitadas por toxinas injetadas pelo inseto. 
Situação como praga: o percevejo-do-colmo assume maior importância no Planalto 
da Campanha, sendo de ocorrência crônica nessa região, onde há grande concentração de 
lavouras implantadas em terrenos inclinados (lavouras de coxilha), com grande quantidade 
de plantas crescendo sobre as taipas, condição altamente favorável ao crescimento 
populacional do inseto. O uso de inseticidas químicos para seu controle tem sido feito de 
forma indiscriminada, sem exercício do princípio de controle econômico. 
Estimativa de perda de produção: a partir do início do perfilhamento das plantas, em 
intervalos semanais, até a fase de floração, coletar insetos preferencialmente em plantas 
localizadas sobre as taipas, após o meio-dia, usando rede de varredura (aro de 30 cm de 
diâmetro). A cada inseto adulto, em média/m2, é esperada uma redução de 1,2% na 
produção de grãos (Veronez, 1998). 
Controle: a) evitar, quando possível, plantio escalonado de arroz em áreas com 
histórico de danos; b) destruição de restos culturais e hospedeiros nativos; c) cultura 
armadilha, criando condições favoráveis à concentração do inseto, em determinados locais 
às margens dos arrozais (através da adubação nitrogenada mais elevada, manutenção de 
plantas daninhas hospedeiras e plantio de cultivares precoces), visando ao controle 
localizado; d) catação manual, em pequenas lavouras, possibilitada pela colocação de 
abrigos ou esconderijos (pedaços de tábuas), em taipas e estradas internas, com coletas 
periódicas dos insetos sob as tábuas; e) maximizar o controle biológico natural, 
preservando o complexo de parasitóides e predadores que atuam sobre o inseto; f) uso de 
inseticidas químicos, com base no NCE. 
 
 
 
Fig. 1.12. Adulto de Tibraca limbativentris (percevejo-do-colmo) (A) entre colmos de arroz irrigado (B). 
 
 21
 
 
Fig. 1.13. Sintoma de coração morto (esquerda) e panícula-branca (A); ponto escuro na bainha da folha 
resultado da introdução do estilete de Tibraca limbativentris (B) e, estrangulamento do colmo de 
arroz, sob a bainha da folha, devido a saliva tóxica do inseto (C). Fonte: Ferreira (1998). 
 
1.6.1.6 Percevejo-do-grão (Oebalus poecilus) 
 
Biologia e descrição: espécie oligófaga. Atravessa o período mais frio do ano 
(entressafra), na fase de adulto (Figura 1.14), abrigado em gramíneas silvestres 
(Albuquerque, 1989). Mede, cerca de 7 a 8 mm de comprimento, por 4 mm de largura. A 
cabeça é castanha, possuindo no pronoto duas manchas amarelas, curvas, em sentido 
paralelo à margem externa, duas manchas amarelas reniformes no escutelo e três pontos 
amarelos nos hemiélitros. O ponto central coincide com o vértice do escudo e os outros 
dois estão dispostos um de cada lado do mesmo. O inseto migra para os arrozais, 
geralmente quando aparecem os primeiros grãos leitosos. É mais ativo em horários 
nublados do dia, pois, quando a temperatura é mais elevada, abrigam-se nas partes 
inferiores das plantas, junto ao solo. A postura é feita nas folhas, podendo ocorrer nos 
colmos e panículas, quando a população é muito elevada. Os ovos, cilíndricos, brancos 
amarelados, com cerca de 0,7 mm de comprimento e 0,5 mm de largura, são depositados 
em fileiras, sendo as primeiras posturas quase sempre feitas em panículas de capim-arroz. 
No arroz, as posturas podem ser agrupadas em plantas, as quais representam verdadeiros 
focos de desova. O número de ovos pode atingir mais de 100.000 por postura de enxame. 
As ninfas inicialmente são escuras, posteriormente ficando com o tórax escuro e abdômen 
amarelado com manchas pretas. 
Danos: o percevejo-do-grão afeta a quantidade e qualidade do produto (grão). A 
natureza e extensão do dano dependem do estágio de desenvolvimento dos grãos. 
Espiguetas com endosperma leitoso podem ficar totalmente vazias ou então originam grãos 
atrofiados, com diminutas manchas escuras nas glumas, nos pontos de introdução do 
estilete (Figura 1.15-A). A alimentação na fase de endosperma pastoso, origina grãos com 
manchas escuras na casca, gessados, estruturalmente enfraquecidos nas regiões 
danificadas, os quais facilmente quebram durante o beneficiamento, diminuindo ainda mais 
o rendimento de engenho (Figura 1.15-B). 
Situação como praga: o percevejo-do-grão, esta distribuído em todas as regiões 
orizícolas do Rio Grande do Sul, nos últimos anos, tem ocorrido como praga aguda. A 
introdução e expansão no Estado de cultivares de grãos finos e longos, com ciclo 
diferenciado daqueles tradicionais ocasionou mudança no comportamento do inseto e 
induziu à antecipação da época de ocorrência nos arrozais. O controle é feito 
exclusivamente através de inseticidas químicos, sem considerar o princípio de controle 
econômico. O percevejo-do-grão tem sido bastante prejudicial à cultura do arroz irrigado 
no Brasil Central. 
Estimativa de perda de produção: a partir da polinização do arroz, até o início do 
 22
amadurecimento das panículas, em horários com temperaturas mais amenas, aferir a 
população em locais da lavoura com maior densidade e vigor de plantas de arroz ou 
infestados com capim-arroz, usando rede de varredura, com aro de 30 cm de diâmetro. A 
cada inseto adulto em média/m2 é esperada uma redução de 1% na produção de grãos, sem 
considerar ainda as possíveis perdas qualitativas. 
Controle: a) evitar plantio escalonado de arroz; b) destruição dos restos culturais e 
hospedeiros nativos; c) controle localizado em cultura armadilha (focos premeditados de 
capim-arroz ou de plantas de arroz adubadas com altas doses de nitrogênio); d) em áreas 
com histórico de danos severos, se possível, utilizar cultivares de ciclo mais curto; e) em 
pequenas lavouras, catação manual de massas de ovos nos focos de desova; f) maximizar o 
controle biológico natural, preservando o complexo de parasitóides e predadores que atuam 
sobre o inseto; g) aplicar inseticidas, com base no NCE. 
 
 
 
 
 
 
Fig. 1.14. Inseto adulto do percevejo-do-grão (Oebalus poecilus). Fonte: Ferreira (1998). 
 
 
 
Fig. 1.15. Espiguetas estéreis (à esquerda) e atrofiadas (no centro), devido à alimentação de Oebalus 
poecilus, e normais (à direita) (A); grãos polidos apresentando manchas nos pontos atingidos pelas 
picadas do inseto (B). Ferreira (1998). 
 
1.6.2 Importância secundária 
 
1.6.2.1 Pulgão-da-raiz (Rhopalosiphum rufiabdominalis) 
 
 Biologia e descrição: espécie oligófaga. Em períodos de entressafra, antes de infestar 
as plantas de arroz, os insetos permanecem em espécies de plantas daninhas, 
principalmente gramíneas, as quais, servem para alimentação e reprodução. São insetos de 
corpo pouco esclerotizado (mole), ápteros (Figura 1.16-A) ou alados (Figura 1.16-B), de 
aproximadamente 2 mm de comprimento e coloraçãoverde escura (meio avermelhado) no 
abdômen. A metamorfose é do tipo paurometabolia, ocorrendo em geral quatro estágios 
ninfais. 
 
 23
 Danos: os insetos formam colônias (próximo ao nível do solo), passando a atacar o 
sistema radicular (Figura 1.17) de plantas de arroz em período que antecede a inundação, 
sugando a seiva e causando, por conseguinte, sintomas de amarelecimento, secamento e, 
em casos de infestações mais severas, a morte das plantas. Neste caso, há drástica redução 
da população de plantas, o que acaba comprometendo o estabelecimento da cultura. 
 Situação como praga: o pulgão-da-raiz, tem sido mais freqüente em lavouras de 
arroz localizadas na região da Fronteira Oeste do Estado do Rio Grande do Sul, onde, os 
índices de infestação têm aumentado consideravelmente, principalmente nos últimos seis 
anos. Há aproximadamente dois anos foram constatados surtos populacionais do inseto em 
lavouras implantadas na localidade de Ponche Verde, município de Dom Pedrito, o que 
serve de indicativo de que a praga encontra-se em processo de expansão no Rio Grande do 
Sul. 
 Controle: embora, não se tenha disponível inseticidas químicos registrados para o 
controle do inseto, outras práticas de suma importância devem ser consideradas, tais como: 
a) realizar a semeadura o mais tarde possível, já que existem evidências de que maiores 
infestações do inseto estão associadas com a ocorrência de temperaturas mais amenas 
(cerca de 18 ºC); b) inundação da lavoura em casos de verificação (3 a 5 dias após a 
emergência) de aumento populacional do inseto e redução da população de plantas; c) dar 
preferência a aplicação de inseticidas sistêmicos em tratamento de sementes em lavouras 
com histórico de ocorrência da bicheira-da-raiz, pois, os mesmos poderão controlar os 
pulgões. 
 
 
 
Fig. 1.16. Fêmea adulta áptera (A) e alada (B) do pulgão-da-raiz (Rhopalosiphum rufiabdominale). Fonte: 
Ferreira (1998). 
 
 
 
 
Fig. 1.17. Sistema radicular de plantas de arroz, atacado pelo pulgão-da-raiz (Rhopalosiphum 
rufiabdominale). 
 
1.6.2.2 Percequito ou percevejo-da-folha (Collaria scenica) 
 
 Biologia e descrição: é um percevejo delgado, assemelhando-se a um mosquito, 
 24
medindo de 5 a 7 mm de comprimento e de coloração escura (Figura 1.18). Até o momento 
não existem dados disponíveis em relação a biologia da praga. 
 Danos: são provocados por ninfas e adultos, os quais, sugam folhas da planta em 
toda a sua extensão, provocando um elevado número de estrias (branco longitudinalmente) 
ao longo das nervuras (Figura 1.19). As folhas inferiores são as mais atacadas, 
apresentando uma coloração amarelada forte ou alaranjada e, em muitos casos com as 
pontas secas. 
 Situação como praga: ocorre em focos na lavoura, principalmente no período de 
perfilhamento e de preferência onde as plantas encontram-se mais desenvolvidas. Lavouras 
que apresentam maiores infestações de plantas daninhas hospedeiras do inseto, tais como: 
capim-arroz (Echinocloa spp.) e papuã (Bracchiaria), tornam-se mais sujeitas a infestações 
do inseto. 
 Controle: algumas medidas de controle podem ser adotadas, visando diminuir a 
população do inseto a níveis não prejudiciais a cultura, tais como: a) eliminação de restos 
culturais e plantas daninhas que possam servir como hospedeiras do inseto. A colocação de 
animais na resteva é uma prática empregada por alguns orizicultores; b) aplicação de 
adubação nitrogenada após a irrigação favorece na recuperação das plantas atacadas, 
porém, esta prática exige cuidados, pois, em dosagens elevadas poderá favorecer o 
desenvolvimento de patógenos (bruzone); c) com relação ao controle químico, ainda não 
há produtos registrados para o controle do inseto. 
 
 
 
Fig. 1.18. Adulto do percequito (Collaria scenica). 
 
 
 
 Fig. 1.19. Plantas de arroz irrigado altamente infestadas por Collaria scenica, apresentando folhas com 
estrias (esbranquiçado) longitudinalmente, devido ao seu ataque. 
 
1.6.2.3 Broca-do-colmo (Diatraea saccharallis) 
 
 Biologia e descrição: os adultos, medem cerca de 25 mm de envergadura, com 
palpos labiais bem desenvolvidos e asas anteriores de coloração amarelada com duas 
estrias transversais (uma escura e outra mais clara), no terço apical. As asas posteriores 
 25
são esbranquiçadas. As mariposas ovipositam nas folhas, geralmente na face dorsal, 
formando massas amareladas de ovos que se assemelham a segmentos de couro de cobra 
ou escamas de peixe. As lagartas recém eclodidas, alimentam-se do parênquima das folhas, 
mas principalmente no tecido interno da bainha, onde podem provocar manchas 
amareladas transparentes. Após o primeiro ínstar, as lagartas (Figura 1.20) abandonam as 
bainhas das folhas e penetram nos colmos. Ao atingirem o desenvolvimento máximo, as 
lagartas medem de 22 a 25 mm de comprimento, possuem cabeça marron e corpo marron-
claro, com manchas marrons em cada segmento. A transformação em pupa ocorre no 
interior dos colmos. Antes disso, as lagartas constroem um orifício, que é fechado por fios 
de seda e detritos, o qual servirá para saída dos novos adultos. 
 Danos: a penetração das lagartas nos colmos, durante a fase vegetativa das plantas, 
ocasiona o secamento de folhas novas da parte central da planta, sendo este sintoma 
conhecido por “coração morto” (Figura 1.21-A). O ataque pode ocorrer também em plantas 
mais desenvolvidas, durante a época de formação e emissão das panículas (fase 
reprodutiva), provocando o sintoma conhecido por “panícula branca” (Figura 1.21-B). 
Pode ocorrer também um secamento parcial das panículas, provocado pela penetração de 
lagartas ainda pequenas no internódio superior, durante a sua emissão. 
 Situação como praga: pode ocorrer durante praticamente todo o ciclo da cultura. O 
ataque da broca-do-colmo é mais intenso em arrozais formados com cultivares pouco 
perfilhadoras, de porte alto, colmos grossos, folhas lisas e também em arrozais próximos a 
lavouras cultivadas com milho e sorgo. 
 Controle: embora, até o momento não se tenha inseticidas registrados para controle 
da broca-do-colmo na cultura do arroz irrigado, algumas medidas podem ser empregadas 
visando minimizar as infestações do inseto, tais como: a) eliminação de restos culturais, o 
que pode ser implementado através de pastoreio, destruição de taipas e, fundamentalmente, 
pelo preparo de verão; b) manejo da cultura, o que consiste na criação de condições 
favoráveis à concentração do inseto em determinadas partes da lavoura através de 
adubação nitrogenada mais elevada, manutenção de áreas com plantas daninhas e a 
utilização de cultivares precoces; c) emprego de cultivares que manifestem características 
de resistência ao inseto, ou, evitando utilizar aquelas conhecidamente suscetíveis (Martins, 
1983). 
 
 
 
Fig. 1.20. Lagarta da broca-da-cana (Diatraea saccharalis) no interior de colmo de arroz. Fonte: Ferreira 
(1998). 
 
 26
 
 
Fig. 1.21. Sintoma de coração morto (A) e de panícula branca (B), ocasionados por Diatraea saccharalis. 
 
1.6.2.4 Lagarta-boiadeira (Nymphula indomitalis) 
 
 Biologia e descrição: os adultos são pequenas mariposas que medem de 14 a 16 mm 
de envergadura. Possuem coloração branca com manhas escuras (Figura 1.22-A). Os ovos 
são colocados nas folhas. As lagartas recém eclodidas localizam-se nas extremidades das 
folhas, de cabeça para baixo, e começam a seccioná-las por uma das margens. A 
progressão dos cortes faz com que porções dos limbos se enrolem em volta das lagartas, 
formando abrigos tubulares que, uma vez destacados do restante das folhas, caem e ficam 
flutuando na superfície da água. As lagartas (Figura 1.22-B), depois de completamente 
desenvolvidas, medem 15 mm de comprimento, são de coloração branca, têm muitos 
filamentos traqueais externos, que servem para respiração aquática. Transformam-se em 
pupas no interior

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