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TEORIA PSICANALÍTICA Resumo NP2

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TEORIA PSICANALÍTICA - MÓDULO 1
O nascimento da Psicanálise e a constituição de seu objeto de estudo.
A insuficiência do modelo médico no tratamento da histeria.
Os primórdios da psicanálise – do trauma à fantasia, da hipnose à associação livre e da catarse à elaboração psíquica.
A Psicanálise constitui-se como um método de investigação dos processos inconscientes e foi criada no final do século XIX por Sigmund Freud. A construção, história e percurso desta teoria se mantêm ligada à vida de Freud, já que foi este neurologista austríaco o responsável por sua invenção e desenvolvimento (QUINODOZ, 2007).
Sua origem é decorrente de um momento histórico e social em que as circunstâncias permitiram o surgimento de uma teoria e de uma prática que tentasse abarcar os aspectos especificamente psicológicos de determinados fenômenos, dada a insuficiência de outras tentativas para explicá-los, ou seja, os fenômenos da conversão histérica representavam um desafio à ciência, já que a medicina não conseguia explicar sua origem, sendo de extrema importância compreender e tratar os fenômenos psicopatológicos.  
E, se estamos aqui fazendo uma constante ligação entre fenômenos históricos, sociais, culturais e psicológicos, há que se tomar como ponto pacífico o fato de a histeria, ou mesmo qualquer afecção, não ser considerada como um suposto mau funcionamento de um organismo, tomado isoladamente (é justamente de uma perspectiva organicista que se pretende distanciar-se). As oposições ou divergências entre um mundo interno (objeto de estudo da Psicanálise) e um externo não se restringem a buscar um argumento que justifique e comprove a supremacia de um sobre o outro, como em certas disputas estéreis sobre o que determinaria a vida humana: o dado objetivo ou o subjetivo.
O que se propõe aqui para pensar a questão da constituição de um conhecimento (investigação e tratamento) que tem como objeto o mundo interno será talvez algo mais próximo de uma constante reflexão, dado que no que diz respeito à condição humana o objeto, ao ser apreendido pela percepção, é transformado em realidade vivida subjetivamente e seria necessário elucidar que processos e elementos psíquicos estão em jogo nesta transformação. O que se coloca como ponto de partida para as investigações psicanalíticas é a ausência de uma compreensão dos aspectos especificamente psíquicos que permeiam a relação sujeito/objeto (ROUDINESCO, 2000).
A histeria faz parte de um grupo de acepções que estão diretamente ligadas ao nascimento da Psicanálise, pois a investigação e o tratamento deste tipo de neurose, a partir de uma compreensão dos fatores psíquicos, foi o ponto de partida de Freud na construção de um arcabouço teórico que permitisse escutar as histéricas para além dos sintomas que tanto alarde causavam. Pela escuta das histéricas, Freud criou a psicanálise e desenvolveu a teoria que a sustenta, por meio de uma prática clínica que vai delineando seu método terapêutico e, assim, define sua ética. 
Ao pensar a questão do mundo interno estamos às voltas com o problema da dicotomia sujeito/objeto, que é tema ainda de discussões em diversas disciplinas, desde o século XVI com Descartes. 
A perspectiva científica que pretende colocar seus objetos de estudo como tendo uma realidade em si mesmos, constituídos como objetos da natureza, pensará o sujeito como aquele que é dotado de uma consciência e de uma razão que lhe conferem o poder de dominar e controlar (consciente e racionalmente) a Natureza e seus objetos e inclusive a si mesmo.
No entanto, como explicar quando este sujeito mostra falhas, justamente, nesta capacidade de dominar e controlar a realidade externa e a si mesmo? E mais: o que fazer quando os recursos científicos disponíveis (físico-químicos e anátomo-patológicos) não conseguem nem oferecer uma explicação, nem uma ação condizente com os problemas surgidos da relação de um dado sujeito com o mundo externo?
Será a partir de uma preocupação com os conflitos e sofrimentos que adquiriram uma conotação patológica que surgirá a Psicanálise, enquanto uma terapêutica e uma teorização capazes de oferecer uma nova visão sobre o homem, seu psiquismo e suas relações com o mundo externo.
A Psicanálise se colocará como um campo de conhecimento dedicado exclusivamente aos fenômenos psíquicos (o que não exclui as relações deste com o mundo externo), asseverando sempre a importância de se buscar uma explicação para aquelas manifestações propriamente humanas – comportamentos, afetos e pensamentos – que pareciam contradizer certa noção de homem como ser racional, capaz de dominar a si mesmo e ao mundo única e exclusivamente através da consciência (ROUDINESCO, 2000).
É deste confronto entre uma concepção de homem dono e senhor de si mesmo e o que a experiência clínica com as histéricas mostrava sobre a fragilidade da condição humana, que tem origem o primeiro dos alicerces da teoria psicanalítica: o conceito de inconsciente. 
Com isto, Freud lança uma das primeiras polêmicas que a Psicanálise terá com o mundo científico e filosófico, pois aquilo sobre o que se julgava ter domínio, os próprios pensamentos, idéias e comportamentos e que serviam como instrumento para controlar o incontrolável – os afetos, afinal de contas, estaria determinado pelo inconsciente, por algo fora do controle consciente. 
Assim o psíquico não coincide, para a Psicanálise, com o consciente; a vida mental ou o mundo interno ganham uma nova acepção e uma nova dimensão, que exigiu uma teorização e abordagem dos fenômenos psicológicos específicas.
As idéias de Freud, desenvolvidas entre final do século 19 e início do século 20 marcaram o pensamento contemporâneo. 
EXERCÍCIO
O trecho abaixo foi retirado do livro “Por que a Psicanálise?” de Elisabeth Roudinesco (2000): 
“Os cientistas sempre consideraram a psicanálise uma hermenêutica. Longe de construir um modelo do comportamento humano, a doutrina freudiana seria, a acreditarmos neles, apenas um sistema de interpretação literária dos afetos e dos desejos. Conviria, portanto, quer excluí-la do campo da ciência, junto com as outras disciplinas que não dependem da experimentação, quer repensar a organização de todos esses campos (antropologia, sociologia, história, lingüística, etc.) em função de uma “ciência cognitiva”, a única capaz de fazê-los entrar na categoria de “ciência verdadeira” (ROUDINESCO, 2000; P. 113)
Podemos dizer que a psicanálise:
A. É uma especialidade da medicina, uma vez que surgiu como tratamento alternativo para a cura da histeria.
B. É uma especialidade da psicologia, uma vez que surgiu como uma das técnicas possíveis de psicoterapia na área da psicologia clínica.
C. É uma teoria e uma prática sem caráter científico, uma vez que seus pressupostos não são comprováveis por pesquisas.
É uma teoria e uma prática que só poderá ser confiável quando seus pressupostos forem comprovados por pesquisas que incluam um número significativo de sujeitos.
É uma teoria construída a partir da experiência clínica e, ao mesmo tempo, uma prática de investigação e uma terapêutica, que encontra também um lugar como um saber que pode ser útil na leitura do social. 
A Psicanálise é a primeira teoria sobre o psiquismo que se originou diretamente da prática clínica, fazendo coincidir investigação e tratamento. Foi com a descoberta da linguagem como instrumento primordial para a abordagem dos conflitos psíquicos e seus sintomas que dá à Psicanálise mais este caráter inovador na compreensão dos fenômenos psíquicos: ao oferecer a possibilidade de dar palavras ao afeto e, com isto, propondo que os sintomas poderiam ser substituídos por outras saídas, a Psicanálise propicia o surgimento de um novo objeto e campo de atuação para a Psicologia: o mundo interno e o trato com sofrimento psicológico, a partir de uma perspectiva estritamente psicológica sem intermediação de quaisquer recursos objetivos, contando explicitamente com as interações psíquicas humanas (GAY, 1989).
 Isto ocorre a partir de 1882 quando Freud estimulado pelo trabalhode Breuer interessa-se pela sugestão e hipnose no tratamento da sintomatologia atribuída à histeria. Joseph Breuer teve um papel fundamental no nascimento da psicanálise e forneceu a Freud a técnica que este utilizaria em sua clientela. Contudo, o espírito investigativo de Freud, fez com que logo se afastasse desta técnica, bem como do método catártico, substituindo-as pela técnica de associação livre.
Os “Estudos sobre a histeria” (1895) é o resultado de 10 anos de trabalhos clínicos desenvolvidos de Freud e Breuer; neste trabalho os autores fazem descrição detalhada do tratamento de cinco pacientes. Com esta publicação encerra-se colaboração entre estes autores, em que o fator precipitante para o encerramento da parceria foi a discordância de Breuer em relação a Freud, já que este último insistia na importância de fatores sexuais na etiologia da histeria (QUINODOZ, 2007).  
O que contribuiu, em grande parte para que a Psicanálise pudesse ser compreendida como um instrumento que pode explicar fenômenos psicológicos ditos normais foi o trabalho de análise dos sonhos. É com a “Interpretação dos sonhos”, publicada em 1900, que Freud com a sua Psicanálise pode pensar em chamar a atenção de pessoas interessadas não mais só em tratar neuroses, mas de todos que tivessem algum interesse na alma humana, agora vista sob uma perspectiva dos fenômenos psíquicos enquanto um campo aberto à investigação científica. Nesta obra Freud promove uma grande ruptura na forma de abordar e compreender o homem, pois a ciência apenas se preocupava com o homem em sua dimensão consciente. O próprio Freud refere o conceito de inconsciente e a formulação de que “o homem não é senhor em sua própria morada” equiparando-a às quebras paradigmáticas decorrentes da mudança do teocentrismo ao heliocentrismo e ao choque da teoria evolucionista darwiniana. 
Um conceito central e seu correlato no campo da prática clínica - a transferência - junto com o conceito psicanalítico que articula num só termo o psíquico e o somático - a pulsão - formam as bases do pensamento freudiano que se construiu ao longo de quarenta anos de produção e sempre reconhecendo a necessidade de constantes revisões e ampliações. Podemos dizer que Freud descortinou um horizonte a partir do qual puderam surgir outras teorias psicológicas que, em diferentes graus, procuraram rever, ampliar e mesmo modificar radicalmente (a ponto de não mais poderem ser designadas como psicanálise) os pressupostos teóricos e as técnicas que deles podem surgir. Os oponentes ou dissidentes da Psicanálise podem ser agrupados como aqueles que romperam formalmente com um ou mais dos alicerces da Psicanálise (inconsciente, transferência e pulsão), no entanto buscavam e ainda buscam confirmar a existência de um mundo interno, passível de investigação e intervenção.
Como podemos depreender de nossas afirmações, ao tomarmos o enfoque teórico psicanalítico enveredamos à investigação do fenômeno psicológico em profundidade, indo além das explicações físico-químicas ou anátomo-patológicas para os fenômenos psíquicos, pelo reconhecimento de uma dimensão específica - a de mundo interno – desconhecido do próprio homem e não idêntica a si mesmo, em constante interação com o mundo externo, de forma que sujeito e objeto não mais se constituem isolados, mas suplementares.   
EXERCÍCIO
Anna O. era uma jovem de 21 anos, com altos dotes intelectuais, manifestou no curso de sua doença, que durou mais de dois anos, uma série de perturbações físicas e psíquicas mais ou menos graves, entre eles:- paralisia espástica de ambas as extremidades do lado direito; perturbações dos movimentos oculares e várias alterações da visão; tosse nervosa intensa; repugnância pelos alimentos e impossibilidade de beber durante várias semanas; redução da faculdade de expressão verbal, que chegou a impedi-la de falar ou entender a língua materna; e estados de “absence” (ausência), estados confusionais, delírios e alteração total da personalidade. 
O quadro histérico de Anna O. (Breuer, 1895) abriu caminhos para uma nova compreensão da histeria, pois por meio de seu quadro observou-se que:-  
I. O quadro mórbido encontrado em Anna O. revelava que os órgãos vitais internos (coração, rins etc.) tinham um funcionamento anormal, conseguindo ser detectados em exames objetivos.
II. A sintomatologia apresentada por Anna O. não mantinha correspondência a qualquer anormalidade orgânica, mas relacionava-se aos violentos abalos emocionais que vivera.
III. Breuer observa que depois de relatar certo número de fantasias a paciente experimentara sentimentos de alívio e se reconduzia à vida normal. 
IV. A hipnose e o método catártico impediram Breuer de melhorar sua compreensão a cerca do quadro de Anna O.
V. O saber médico torna-se fundamental na compreensão e estudo das lesões cerebrais orgânicas, mas diante da histeria o médico não sabe o que fazer, pois seu método objetivo, assentado em bases biológicas, carece de recursos para compreender e tratar tais quadros.
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA 
C. São corretas as afirmações II, III e V.
Apesar de sua evolução, a psicanálise tinha em sua construção e desenvolvimento uma tendência transgressora, que comportava em sua natureza uma inevitável e sofrida oposição, já que feria os preconceitos da humanidade civilizada em alguns pontos especificamente sensíveis. (FREUD, 1924)
Em termos geográficos, a Psicanálise expandiu seus domínios e isto não se faz sem que, ao mesmo tempo em que produza modificações na concepção de homem, de relações e de tratamento para males psíquicos nos lugares onde é (ou parece ser) aceita, também “sofre” modificações, pois é um conhecimento dependente das possibilidades que cada cultura oferece em termos de assimilação de uma teoria que toca num dos pontos nevrálgicos da imagem “ilibada” que a humanidade pretende ter de si mesma: a sexualidade. Este ponto de apoio da teoria psicanalítica é tanto mal compreendido quanto rejeitado. 
Mal compreendido porque se toma o termo sexual como sinônimo de genital, dando importância e ênfase ao aspecto puramente biológico, como se para o homem a sexualidade estivesse presa à anatomia, sendo que esta é justamente a subversão fundamental da Psicanálise: o sexual é redefinido como uma disposição psíquica propriamente humana, desligada de seu fundamento biológico ou anatômico. E, para pensar esta nova concepção de sexualidade, e de toda atividade humana a ela ligada, são construídos conceitos e teorias que irão representar esta realidade: a pulsão, a libido, o apoio e a bissexualidade.
Freud não inventou uma terminologia particular para distinguir os dois grandes campos da sexualidade: a determinação anatômica, por um lado, e a representação social ou subjetiva, por outro. Não obstante, por sua nova concepção, ele mostrou que a sexualidade tanto era uma representação ou uma construção mental, quanto o lugar de uma diferença anatômica. Em conseqüência disso, sua doutrina transformou totalmente a visão que a sociedade ocidental tinha da sexualidade e da história da sexualidade em geral. (ROUDINESCO, 1998).
A rejeição tanto produziu movimentos dissidentes dentro da Psicanálise (Adler, Jung), quanto produziu uma infinidade de leituras distorcidas pelos preconceitos que tentavam minimizar a importância do conceito-chave – o inconsciente, supervalorizando o ego em função de seu papel de mediador entre o mundo externo e o interno, em detrimento das outras regiões do psiquismo (id e superego). É uma leitura da teoria psicanalítica que se mantém fiel às necessidades do homem de controle dos próprios conflitos, buscando meios de adaptá-lo à realidade externa. O mais curioso é buscar isto numa teoria que tem como objetivo expresso a confrontação do sujeito (do inconsciente) com seu desejo, com sua falta, com a necessidade imposta a cada um de resolver a interdição do incesto, tema representado na conceituação do complexo de Édipo.
Se, num primeiro momento, o inconsciente surge como uma abertura para as ciências psicológicas, encabeçadapela Psicanálise, a partir das décadas de 30-40 do século XX, com sua expansão geográfica, principalmente para os Estados Unidos, este mesmo conceito passará a ser um divisor de águas entre a Psicanálise e as Psicologias da Consciência. Estas, mobilizadas pela necessidade de fortalecer o “pobre” ego diante das exigências do mundo externo e do mundo interno, colocando como meta do tratamento a busca de uma relação harmônica, não conflituosa com o meio, do qual o terapeuta/analista seria a figura exemplar, criaram um novo campo de conhecimento, com novas teorias sobre o mundo interno, já não mais vinculado à idéia de inconsciente, com novas técnicas, agora mais atentos ao trabalho com os afetos, com a comunicação não-verbal, através de uma prática clínica em que a relação dual, interpessoal (não mais transferencial) entre paciente e terapeuta seria o norte do trabalho, o terapeuta buscando sempre uma aliança com o lado saudável do paciente para ajudá-lo a integrar-se psíquica e socialmente. 
Lembrando que, se para a Psicanálise o psíquico só ganha consistência de mundo interno a partir da noção de inconsciente, que mantém relação com as três instâncias – id, ego e superego – em maior ou menor grau; para as Psicologias da Consciência o importante será como a pessoa, identificada ao seu ego, centro de sua personalidade, já destituído de qualquer conotação inconsciente, enfrentará a luta pelo controle e dissolução de seus conflitos. A Psicanálise também espera que o ego possa ser um aliado na luta contra a neurose, no entanto isto não estaria a serviço de uma adaptação ao contexto social, só porque este coloca a “doença mental” como um desvio que não coincide com seus desígnios. A idéia principal é recolocar a noção de doença mental no âmago da condição humana e não fora dela, buscando responder antes quem é este que sofre e adoece, e esperando que a noção de mundo interno, que não precisa ser psicanalítica, possa oferecer um espaço de liberdade para o homem na sua relação com o mundo externo.
EXERCÍCIO
Freud ao dissertar sobre a História do Movimento Psicanalítico comenta:- 
“Considerava minhas descobertas contribuições normais à ciência e esperava que fossem recebidas com esse mesmo espírito. Mas o silêncio provocado pelas minhas comunicações, o vazio que se formou em torno de mim, as insinuações que me foram dirigidas, pouco a pouco me fizeram compreender que as afirmações sobre o papel da sexualidade na etiologia das neuroses não podem contar com o mesmo tipo de tratamento dado ao comum das comunicações. Compreendi que daquele momento em diante eu passara a fazer parte do grupo daqueles que “perturbaram o sono do mundo”, como diz Hebbel e que não poderia contar com objetividade e tolerância.” (FREUD, 1914; p.31) 
A frase destacada em negrito, representa que: 
 A. O autor ficou isolado por muito tempo, e as reações às suas descobertas estavam permeadas por pré-conceitos.   
B. Os opositores do autor ergueram severas resistências internas ao contato com as ideias apresentadas.  
C. O autor tem consciência da força de suas palavras, leva em consideração a opinião externa, adequando-se ao meio no qual se encontrava.  
D. O autor estaria sendo punido por ousar contradizer aquilo que, até então, era inquestionável.  
E. O autor sempre foi apoiado por ousar contradizer aquilo que, até então, era inquestionável.
A hipnose teve grande importância no início da psicanálise, pois pelo uso da hipnose Breuer favorecia a revivência de algumas cenas que estavam esquecidas pelo paciente, esta revivência provoca a "ab-reação", que consistia numa descarga afetiva emocional (reações com expressão de grande comoção, choro, lágrimas e sentimentos intensos) e desta forma inaugura o método catártico ou catarse. 
Para condução do método catártico Breuer supõe a ideia da ocorrência de um evento de grande força e impacto emocional, não manifesto em ações ou comportamentos verbais, que por fim eclodiria no trauma psíquico, este trauma desencadeia o mal psíquico (sintoma), originando-se da emoção reprimida, presente no inconsciente, sem o conhecimento consciente do sujeito sobre o evento traumático e, para lembrá-lo, conduz-se o paciente à hipnose.
Anna O. a famosa paciente de Breuer denominou este método de trabalho como chimney sweeping ("limpeza de chaminé") ou talking cure ("cura pela fala"). Resumidamente, método catártico ou catarse é o processo em que o paciente em estado hipnótico, fala tudo que lhe vem à mente e obtém grande alívio emocional.
A hipnose desperta o interesse de Freud por meio de um relato de Breuer, mas é com Charcot que busca melhorar seu aprendizado. Sua incredulidade com os métodos científicos o impulsionaram ao emprego da hipnose com suas pacientes histéricas, considerando a hipótese da sedução sexual. Pelo fato de ser um mau hipnotizador resolveu experimentar que a mesma liberdade em associar ideias, obtidas pela hipnose acontecesse com os pacientes despertos.  A paciente Elizabeth Von R. foi a paciente que solicitou a Freud a liberdade para associar livremente, sem pressão, permitindo-lhe compreender que as barreiras contra o recordar provinham de forças mais profundas.
Freud no início da construção da psicanálise concebe a ocorrência do trauma sexual real acontecendo nos primórdios da infância, como uma forma de abuso sexual e que se mantinha reprimido no inconsciente.  Aos poucos o autor vai se convencendo de que havia distorções importantes no relato de suas histéricas, que seriam decorrentes de suas “fantasias inconscientes”. Desta forma, na medida em que a “teoria do trauma” não dava conta de explicar a complexidade do sofrimento neurótico, Freud envereda para a teoria inicial da sedução e da importância das fantasias na produção do adoecimento psíquico.
O questionamento de Freud às dificuldades decorrentes da hipnose e método catártico faz entrar em cena a elaboração psíquica. Elaboração psíquica consiste no trabalho de integração das experiências vividas, independente de sua origem (excitações somáticas, estímulos externos ou informações, aspectos do mundo mental). O trabalho de elaboração possibilita a transformação da energia livre em energia ligada, abrindo caminho para o processo secundário e, consequentemente, o adiamento da descarga da tensão. Se o evento traumático supera a capacidade de assimilação e integração deste à mente, o processo de elaboração possibilita a “compreensão” interna que integra à vida do sujeito, contribuindo para integrar o que antes se mantinha dissociado, fora da consciência.  
MÓDULO 2
 A descoberta do inconsciente: repressão; resistência e formação de sintomas.
A teoria dos sonhos e a psicopatologia da vida cotidiana. 
A primeira tópica freudiana - sistemas: Inconsciente, Pré-Consciente e Consciente.
A descoberta do inconsciente
Na Segunda Lição, Freud explica o porquê de seu distanciamento de Charcot e Janet; enquanto Freud concebia o fator psicológico e processos psíquicos envolvidos na histeria, Charcot rejeitava esta concepção e etiologia e Janet atribuía o fenômeno da histeria ao caráter degenerativo do sistema nervoso nas histéricas. No texto Freud mostra que as divergências com Janet advieram do trabalho prático desenvolvido na clínica, enquanto seu opositor desenvolvia seu trabalho no laboratório. Para Freud e Breuer interessava não só a origem, mas a melhora de seus pacientes, e para isso, apoiaram-se no método catártico propondo que, ao invés de haver degenerescência e falta de capacidade nas histéricas, há sim, uma divisão da consciência. 
Apesar de ser um avanço, Freud identifica limitações nesta técnica, em decorrência da impossibilidade de hipnotizar alguns pacientes, desencantando-se definitivamente após uma experiência de Berheim (este estúdio mostra que pessoas em sonambulismo hipnótico aparentemente perdiam a memória, mas, de fato, não perdiam e se forçando a memória lembrariam o ocorrido durante a hipnose). Passou então a de não mais hipnotizar os pacientes, considerando que seus pacientes não precisavam ser hipnotizadospara lembrar dos eventos traumáticos causadores da histeria, embora esta técnica tenha sido exitosa, também a abandona. 
Apesar de abandonado o método catártico, passa a verificar que seus pacientes esquecem por completo o conteúdo traumático, tais recordações se mantinham em algum lugar. Assim, entende que uma força detinha o conteúdo fora da consciência e mantinha essas lembranças inconscientes. Esta força foi chamada - resistência. 
Com esta nova forma de funcionamento psíquico – resistência - formula o conceito de repressão. Pensa ele que, assim como existe uma força que mantém inconsciente a lembrança, pela força da resistência, deveria haver uma força que retirara esta mesma lembrança da consciência; para esta força inicial que, num primeiro momento, impede um conteúdo ascender à consciência dá o nome de repressão.
O conceito de Inconsciente
O conceito de Inconsciente ganha força com estas descobertas, expandindo aquilo que é psíquico para além da consciência. Os conteúdos de nossa consciência ocupam agora uma dimensão bem menor, com várias lacunas, não comportando mais a ideia de que tudo que acontece na mente deve ser conhecido pela consciência. 
No texto Sobre a psicopatologia da vida cotidiana (1901) Freud descreve o quanto os deslizes e lapsos do nosso dia a dia, sejam de linguagem, escritos, de memória entre outros acontecimentos, são atribuídos ao acaso, mas não têm nada de acaso e, embora os chamemos de acidentes, tais atos psíquicos estão, para sua realização, além de nossa capacidade consciente. Estes atos falhos ou parapraxias são como os sonhos e sintomas, revelam um processo inconsciente, que se desenvolve sem que o percebamos, a partir de conteúdos latentes que escapam ao controle consciente, apresentando-se em contradição à nossa consciência.
Repressão (ou Recalque) 
Repressão e recalque são conceitos utilizados por Freud, mas sua tradução perpetuou no campo psicanalítico divergências de significado e utilização desta terminologia. Mezan (2001) sobre esta questão, comenta que “repressão” (unterdrückung) refere-se ao processo que mantém as pulsões no pré-consciente, enquanto “recalque” (verdrängung) seria aquele que mantém as pulsões no inconsciente. Nesta perspectiva seriam lugares diferentes da constituição da psique, contudo este autor prefere o termo “repressão” já que em português o termo pode ter uma variedade de significados que engloba a violência implícita no conceito freudiano, ao invés de “recalque” que significa pisar os pés, calcar de novo.
A repressão tem como principal finalidade evitar que uma ideia inconcebível, decorrente de desejos proibidos conflite com aspirações morais, se torne consciente. Entretanto este mecanismo não é o bastante para exterminar a ideia, fazê-la desaparecer por completo, pois como ela representa um instinto, permanecerá neste reservatório inconsciente produzindo efeitos e eventualmente tentará contornar a barreira repressiva a fim de atingir a consciência, insistindo para possibilitar a satisfação da pulsão.
.EXERCÍCIO
Ao estabelecer o conceito de repressão/recalque, Freud coloca este processo na gênese das neuroses, e a partir deste conceito central da psicanálise, delimita o funcionamento psíquico, a formação dos sintomas. Sobre a forma como o recalque atua, identifique a alternativa correta: 
A.      O objetivo da repressão/recalque é extinguir do inconsciente as representações perigosas originais.
B.      Um mecanismo que opera no sentido de afastar da consciência uma idéia da ordem do insuportável às aspirações morais.
C.      O recalque está na base dos sintomas neuróticos, que se formam independente da representação recalcada.
D.      O recalque é um mecanismo que só se manifesta nos casos patológicos. 
E.      O objetivo da repressão/recalque é manter no consciente as representações perigosas originais.
 A interpretação dos sonhos 
Em A interpretação dos sonhos (1900), a obra mais importante de Freud com as ideias mais inovadoras de sua obra, desenvolve a explicação do funcionamento do pensamento e linguagem, bem como a concepção geral do funcionamento do psiquismo normal e patológico, estabelecendo os fundamentos clínicos, teóricos e técnicos e conferindo à interpretação dos sonhos um caráter científico. 
Nesta obra, o sonho é remontado à uma atividade psíquica organizada e diferente do que ocorre na vigília, abrindo caminho à uma nova forma de interpretação, que não a previsão do futuro, mostrando que o sonho é uma produção própria de quem sonha, provinda de uma fonte estranha ao próprio homem (QUINODOZ, 2007).
Para Freud, os sonhos são projeções do inconsciente, que expressam a vontade e o desejo humano, remetem, portanto ao desejo, revelando algo do passado e não a uma projeção do futuro. Nele dá-se a satisfação de desejos reprimidos no nosso inconsciente.
Contrariando alguns dos cientistas contemporâneos de sua época, que atribuíam somente uma função biológica, Freud buscava compreender seu significado psicológico, algo que só se tornou possível pelo “método da associação livre”, permitindo-lhe descobrir o sentido que o sonho tem para quem sonha, da mesma forma que os sintomas histéricos, as fobias, as obsessões e os delírios. 
Freud introduz e ideia de conteúdo manifesto e latente, o primeiro refere-se ao sonho tal como é relatado e, por vezes, de sentido obscuro; o conteúdo latente só aparece claramente depois de decifrado nas associações do paciente. Denomina como “trabalho do sonho” o conjunto de operações psíquicas que transformam o conteúdo latente em manifesto a fim de disfarçá-lo e “trabalho de análise” a operação inversa, que busca o sentido oculto a aprtir do conteúdo manifesto. Para Freud “O sonho é a realização (dissimulada) de um desejo (reprimido, recalcado)” (FREUD, 1900, p. 145).
Freud aponta os mecanismos que entram em ação na formação do sonho, como segue:
Condensação – é um mecanismo psíquico fundamental que permite a reunião de vários elementos num único elemento: sejam imagens, pensamentos, eventos ou outro, pertencentes a diferentes cadeias associativas. Pode ocultar ou combinar algum acontecimento ou fragmento do sonho latente no manifesto. 
Deslocamento – Mecanismo que permite substituir os conteúdos mais significativos de um sonho por um menos importante, desfocando e dissimulando a realização do desejo.
Representabilidade – Operação que permite transformar os pensamentos dos sonhos em imagens visuais, construções oníricas. 
Elaboração secundária – Permite a apresentação do conteúdo onírico num cenário coerente e inteligível, principalmente em estado de vigília.
Dramatização – Permite a transformação de um pensamento numa dada situação do sonho.
Os sonhos se valem dos restos diurnos, ocorrências de nosso dia a dia e que mantêm alguma relação com o desejo inconsciente que se realiza no sonho. 
Para Freud, as deformações dos sonhos originam-se da censura, que se situa na fronteira entre consciente e inconsciente, permitindo passar somente o que lhe for agradável, retendo o resto sob repressão, constituindo o reprimido. O aprofundamento da análise de um sonho incidirá no conteúdo latente que revelam a realização de desejos eróticos. 
Os sonhos também se valem dos símbolos, pois permite ao sonhador driblar a censura retirando das representações sexuais sua inteligibilidade, desta forma distingue dois tipos de símbolos – universais e individuais.  
Exercício
Mariana (17 anos) acorda muito assustada e culpabilizada com algo que sonhara, sonhou com sua irmã e sente-se envergonhada, levanta-se e vai pedir desculpas à irmã mais velha... Esta reação de Mariana pode ser explicada de acordo com o que aprendemos com a Teoria dos Sonhos em Freud, como:
A.      Os sonhos geram sentimentos de culpa e remorso em Mariana em função de seu conteúdo manifesto. 
B.      A culpa gerada em Mariana está ligada aos seus desejos proibidos associados a figura de sua irmã, como pessoa real que se mostra no sonho. 
C.      Podemos afirmar que, caso Mariana estivesse em análise, o mecanismo psíquicoda resistência interferiria em seus relatos, apesar de algumas de suas lembranças.  
D.      O sonho de Mariana ao ser lembrado sofrerá interferências da elaboração secundária.
E.      A lembrança imediata de Mariana indica que a versão lembrada de seu sonho não está sujeita às distorções da elaboração secndária.  
A primeira tópica freudiana - sistemas: Inconsciente, Pré-Consciente e Consciente.
Para explicar o fenômeno da não consciência, Freud elabora uma concepção do aparelho psíquico, explicando o funcionamento mental, normal e patológico, a partir de suas observações clínicas, seus estudos sobre os sonhos e neuroses. Para isso, utiliza a palavra “aparelho” a partir de um modelo espacial, onde identifica uma organização psíquica, dividida em três sistemas ou instâncias, com funções específicas, interligadas entre si, num dado lugar na mente. 
Este “modelo tópico” designa um modelo de lugares. Esta primeira tópica ficou conhecida como Teoria Topográfica. Nesta primeira tópica Freud divide o aparelho psíquico em três sistemas: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente. 
O consciente ou sistema percepção-consciência representa apenas uma pequena parte da mente, em que se inclui tudo aquilo que conhecemos, isto é, que temos consciência. Enquanto localização o sistema percepção-consciência situa-se na periferia do aparelho psíquico, recebe simultaneamente informações do mundo exterior e do interior, sem, contudo, conservar nenhuma marca duradoura.
O pré-consciente articula-se com o consciente e funciona como uma espécie de barreira seletiva que elege o que pode ou não passar para o consciente. Do ponto de vista tópico, o pré-consciente seria uma parte do inconsciente, que, entretanto, pode recuperar seus conteúdos armazenados pela evocação da memória, ou seja, seus conteúdos tornam-se acessíveis, isto é, conscientes, com maior facilidade podem ser trazidos à consciência. O que caracteriza o pré-consciente é a possibilidade voluntária de se acessar seus conteúdos. 
O sistema inconsciente representa a parte mais arcaica do aparelho psíquico. Nele incluem-se, por herança genética, as pulsões e a energia correspondente a elas, que não são acessíveis à consciência; também todo conteúdo que foi excluído da consciência pelos processos psíquicos de censura e repressão, em que o conteúdo censurado, que não pode ser lembrado, não se perde, mas permanece abrigado no inconsciente. 
Freud refere que a maior parte do aparelho psíquico é inconsciente, onde situam-se os determinantes da personalidade, as fontes da energia psíquica e as pulsões (instintos). 
No inconsciente situam-se as “representações coisa” ou “traços mnêmicos”, que são fragmentos de reproduções de antigas percepções, dispostas e inscritas como se fosse um arquivo sensorial, formando nossos contornos psíquicos. Este conjunto que se refere às vivências, sentimentos, percepções, eventos provenientes de nossos sentidos (auditivo, gustativo, olfativo, tátil e visual) foram vividos num momento em que se prescindia da palavra, formando um arsenal de representações fantasmáticas carregadas de energia pulsional, que continuam habitando nosso universo inconsciente.
EXERCÍCIO
Freud concebeu sua teoria como uma forma específica de acesso a determinados conteúdos. Dentro desta perspectiva, o que podemos acessar em um processo de análise?   
A. As lacunas que faltavam para o preenchimento das falhas de memórias, na medida em que a narrativa baseia-se no modelo: percepção-registro-evocação.
B. Os registros derivados de experiências reais vividas na infância.
C. O passado vivido tal como está narrado.
D. As profundezas do inconsciente que ficou retido e encapsulado na mente, independente de outras internalizações.
E. A forma como o sujeito internalizou suas experiências.
MÓDULO 3
A segunda Tópica freudiana: id, ego e superego. 
Pulsões e sexualidade; pulsão de vida e pulsão de morte.  
A partir de 1920 a conceituação freudiana sofre uma mudança, o psiquismo passa a ser concebido como três lugares (topos = lugar) que definiriam o aparelho psíquico e, consequentemente, o modo como se vai investigar, entender e trabalhar. Embora o nascimento desta nova tópica date do ano supracitado, sua elaboração surge de novas exigências teóricas e práticas; o subsistema defensivo ganha então muita importância nas observações de Freud em seu trabalho clínico pois, sendo o ego o responsável pela efetivação do subsistema defensivo e as defesas produtos inconscientes, torna-se necessário estender a amplitude do ego considerando-o não só equivalente à pré-consciência e consciência, mas também com alguma de suas partes inconscientes. 
Esta nova designação - conhecida como segunda tópica – inclui as instâncias: id, ego e superego e vem substituir a primeira, sem, contudo, eliminá-la, onde figuravam as denominações: inconsciente, pré-consciente e consciente, s. 
A diferença mais importante entre as duas tópicas é a de que, nesta segunda, não encontramos uma separação radical entre os diferentes lugares ora designados, ou seja, os limites entre id, ego e superego estarão na estrita dependência dos movimentos pulsionais, o que implicará uma nova forma de pensar as relações entre elas e do sujeito com a realidade.
Id
Conceito utilizado por Freud (1923), cuja origem é o pronome alemão neutro da terceira pessoa do singular (Es), para designar uma das três instâncias da segunda tópica freudiana, ao lado do ego e do superego. O id é concebido como um conjunto de conteúdos de natureza pulsional e de ordem inconsciente. Assim, o id irá ocupar o lugar  do inconsciente na tópica anterior. Este conceito foi introduzido na teoria psicanalítica pela primeira vez no texto freudiano O ego e o id (1923) considerando absolutamente apropriado para definir o que seria uma vivência passiva do indivíduo, que se veria, assim, confrontado com forças desconhecidas e impossíveis de dominar.
A experiência clínica de Freud foi decisiva para que ele chegasse à conclusão que considerável porção tanto do ego quanto do superego era inconsciente, o que traz consequências importantes para o próprio estatuto e identidade do ego, não mais visto como correlato da vida consciente, assim como a identidade exclusiva entre inconsciente e recalcado seria colocada em xeque. Esta movimentação teórica exigiu uma revisão das relações entre a vida consciente e a dinâmica inconsciente; o id, associado às formações inconscientes será melhor delimitado como um reservatório pulsional desorganizado, sede de um verdadeiro “caos”ou de “paixões indomadas” que, sem a intervenção do ego, seria um joguete de suas aspirações pulsionais e caminharia inelutavelmente para sua perdição.
Com isto, o ego perde sua autonomia pulsional, já que será reservada ao id a designação de sede das pulsões - de vida e de morte. Esta abordagem dinâmica da segunda tópica representa uma fluidez maior nos limites entre as instâncias: os limites do id deixaram de ter a precisão dos que marcavam a separação entre o inconsciente e o sistema consciente-pré-consciente, e o ego deixou de ser estritamente diferenciado do id no qual o superego mergulha suas raízes. 
Ego
Este termo tem suas origens na filosofia e na psicologia para designar o ser humano consciente de si e objeto do pensamento.
Ao retomá-lo na primeira tópica, Freud  também o tomará como sede da consciência, mas será a partir de 1920, com a representação da segunda tópica que o ego mudará de estatuto, tornando-se também, em grande parte, inconsciente, posto que seus limites com as outras instâncias já não será o mesmo. 
“Agora vemos o ego com sua força e suas fraquezas. Ele é encarregado de funções importantes e, em virtude de sua relação com o sistema perceptivo, estabelece a ordenação temporal dos processos psíquicos e os submete à prova de realidade. Intercalando os processos de pensamento, consegue adiar as descargas motoras e domina os acessos à motilidade. Esta última dominação, entretanto, é mais formal do que efetiva, tendo o ego em sua relação com a ação, porassim dizer, a postura de um monarca constitucional sem cuja sanção nada pode transformar-se em lei, mas que reflete longamente antes de opor seu veto a uma proposta do parlamento. (...) vemos esse mesmo mecanismo como uma pobre criatura que tem que servir a três perigos, por parte do mundo externo, da libido, do id e da severidade do superego” . (FREUD, 1923; p. 67)
O ego assume assim a instância central da personalidade, cuja origem remonta a parte do id que se mantém em contato com o mundo exterior, que além das funções pré-consciente e consciente, acumula também em sua constituição uma grande parte inconsciente com a responsabilidade de ser o centro defensivo da personalidade, e nesta perspectiva dinâmica torna-se o responsável por acionar seus mecanismos de defesa ante à percepção de um afeto desagradável. 
Além disso, o ego atua na conciliação das reivindicações do id, imperativos do superego e exigências da realidade. Enquanto fator econômico surge como um elemento de ligação dos processos psíquicos, atuando como uma organização que tende à unidade, permitindo a estabilidade e identidade ao sujeito.
EXERCÍCIO
Na segunda tópica freudiana as funções do ego no aparelho psíquico são apresentadas com algumas diferenças quando comparadas à primeira tópica. Identifique abaixo qual das afirmativas representa as funções do ego... 
A.      A resistência - processo resistencial na clínica - é uma das evidências que Freud observa, conduzindo-o e orientando-o aos processos defensivos inconscientes do ego contra a emergência dos conteúdos inconscientes que ameaçam a estabilidade psíquica.
B.      Os acontecimentos externos, quando excessivamente intensos, são evitados pelo ego, produzindo modificações convenientes ao mundo externo, sem, contudo, obter benefícios ao próprio ego.
C.      Quanto aos estímulos internos, o Ego controla absolutamente as exigências dos instintos, decidindo se podem ou não ser satisfeitas, adiando eventuais satisfações e suprimindo completamente suas excitações, inclusive aquelas posteriores.
D.      A busca do ego é pela manutenção do desprazer, já que é função do superego manter a “ordem” e reprimir o Id e suas influências na busca do prazer.
E.      O ego em sua origem não mantém relação com o id, mas sim do suprerego.
Superego
É terceira instância da segunda tópica que exercerá as funções de juiz e censor em relação ao ego. Este conceito servirá para designar uma instância que age de maneira implacável: num primeiro tempo de sua instauração ele é representado pela autoridade parental que dá ritmo à evolução infantil, alternando as provas de amor com as punições, geradoras de angústia; num segundo tempo, quando a criança renuncia à satisfação edipiana, as proibições externas são internalizadas e esse é o momento em que o superego vem substituir a instância parental por intermédio de uma identificação. O que pode se destacar aqui é o fato de que esta instância, a despeito de sua ligação intrínseca com os modelos oferecidos pelos genitores, ele - o superego - constrói-se fundamentalmente pela identificação do superego dos pais, ou seja, pela transmissão dos valores e das tradições que perpetua-se, dessa maneira, por intermédio dos superegos, de uma geração para outra e, não, uma simples interiorização dos pais. O superego é particularmente importante no exercício das funções educativas. 
A nova instância passou a ser a sede da auto-observação, o depositário da consciência moral; tornando-se a instância que resguarda em si os aspectos mais desejados do “ego ideal”, que assumidos por herança pelo “ideal do ego”, torna-se o guardião destes ideais, com os quais o ego se compara, aspira e se esforça para atender/cumprir as demandas de aperfeiçoamento do movimento identificatório. 
Compõe-se quase que totalmente de elementos inconscientes, guiado por objetos internos, tendo como principal efeito a culpa, com subsequentes de angústias e medo. É a instância modelo, o pólo psicossocial da personalidade e de fundamental importância para compreensão da conduta e da psicopatologia do indivíduo. 
EXERCÍCIO
De acordo com Freud, ao id cabe desejar (independente de qualquer aspecto), ao ego cabe mediar desejos e proibições entre as instâncias, enquanto ao superego cabe...
I.                    Desejar, mas proibir, visto que sua dimensão considera os valores éticos implícitos na cultura que se propagam pelo superego dos pais.
II.                  A formação de ideais almejados pelo id.
III.                Substituir a instância parental e suas interdições por meio da identificação.
IV.                Acordos complacentes para com o ego.
V.                  Desejar, independente, dos valores éticos implícitos na cultura. 
      ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA 
C.      São corretas as afirmações I, II e III.
Pulsão
Se até aqui falamos da nova maneira de conceituar o aparelho psíquico a partir das três instâncias - id, ego e superego - não é menos importante aquilo que diz respeito à teoria pulsional de Freud, já que esta se insere na compreensão do funcionamento psíquico do ponto de vista dinâmico.
Freud afirma que o aparelho psíquico está à mercê, sob impacto e pressionado por estímulos externos e interno, dos quais o aparelho psíquico pode, mediante atividade muscular afastar-se dos estímulos externos, sem contudo exercer qualquer afastamento dos internos. Estas excitações internas denominam-se como pulsões ou instintos; o autor prefere o termo pulsão (trieb) por exprimir a ideia subjacente de urgência para descarregar, situando-se mais adequada ao psicológico, enquanto instinto (instinkt) restringir-se-ia a comportamentos hereditários, fixos de cada espécie. 
Pulsão será definida, já em 1905, como: 
“... a representação psíquica de uma fonte endossomática de estimulações que fluem continuamente, em contraste com a estimulação produzida por excitações esporádicas e externas. A pulsão, portanto, é um dos conceitos da demarcação entre o psíquico e o somático” (FREUD, 1905; p. 159).
Assim, pulsão difere radicalmente de instinto e não se reduz às simples atividades sexuais que costumam ter bem delimitado tanto seus objetivos, quanto seus objetos; é um impulso, e a libido constitui-se em sua energia. 
Além desta diferença em relação ao instinto, a pulsão é formada, em seu caráter sexual, como um conjunto de pulsões parciais, cuja soma constitui a base da sexualidade infantil. Encontra inicialmente apoio em atividades somáticas, ligadas a determinadas zonas do corpo, as quais, dessa maneira, adquirem o estatuto de zonas erógenas. Este início da constituição pulsional  é o que significa seu caráter limítrofe - seu limite está entre psíquico e  o somático, sendo, assim, a pulsão é o representante psíquico das excitações provenientes do corpo e que chegam ao psiquismo. 
São quatro as características da pulsão: a fonte, a força, o alvo e o objeto.
         Fonte – A fonte das pulsões é o processo somático, localizado numa parte do corpo ou num órgão, cuja excitação é representada no psiquismo pela pulsão.
         Força – Força ou pressão constitui a própria essência da pulsão e a situa como o motor da atividade psíquica. 
         Alvo – Alvo ou satisfação, pressupõe a eliminação da excitação que se encontra na origem da pulsão; esse processo pode comportar alvos intermediários ou até fracassos, ilustrados pelas pulsões - chamadas de pulsões “inibidas quanto ao alvo” - que se desviam parcialmente de sua trajetória e, por último, o objeto da pulsão é o meio de ela atingir seu alvo, e nem sempre lhe está originalmente ligado, o que significa dizer que em termos de pulsão, o  objeto é contingente. 
         Objeto - As pulsões sexuais podem ter quatro destinos: a inversão, a reversão para a própria pessoa, o recalque e a sublimação.
No início de sua obra Freud define dois grupos de pulsões – as sexuais e as de autoconservação – considerando que elas não se opõem, mas colaboram entre si, sendo que as pulsões sexuais se apóiam nas funções de autoconservação para descargae extravasamento. Um exemplo é aquele em que o pequeno bebê depois de saciar sua fome (que enquanto pulsão de autoconservação refere-se à uma necessidade, que após satisfeita por um objeto específico – o leite/alimento - torna-se saciada) demonstra existir um excedente de energia, que continua existindo, mas não se sacia com o leite – objeto específico – por isso continua sugando, garantindo o extravasamento da excitação oral, e simultaneamente “sexualiza” ou “erotiza”, isto é “subverte” a função associada a esta. 
Pulsão de vida e pulsão de morte
No texto Além do princípio de prazer (1920), Freud delimitou um novo dualismo pulsional, opondo as pulsões de vida às pulsões de morte.
Seguindo Freud, trata-se justamente de um processo inconsciente no qual o sujeito se sente compelido a repetir atos, idéias, pensamentos e sonhos que, na sua origem, foram geradores de sofrimento e ao serem repetidos não perdem esta conotação, mas também não é possível abandoná-los por força da vontade.
E é particularmente no texto de 1914, Recordar, repetir e elaborar que podemos ver explicitada uma trama que liga repetição e transferência, na medida em que coloca que a repetição é a forma de o paciente recordar, ainda que sob o signo da resistência, daquilo que lhe é mais difícil, dado que está ligado às conotações sexuais que não passam pelo crivo da censura e, portanto, não podem ser rememoradas. E, assim, será o manejo da transferência que permitirá que se transforme a compulsão à repetição num motivo para recordar; é a partir da observação desta compulsão à repetição que Freud teorizou aquilo a que chamou pulsão de morte.  
Este processo, no entanto, não pode ser observado em estado puro, já que não é possível eliminar o vestígio que carrega de satisfação libidinal, mas, ao mesmo tempo, não é mais possível explicar tais ocorrências pelo simples princípio de prazer. 
Assim, a dualidade pulsional se manifestará como uma briga renhida entre uma força que puxaria para um estado de não-vida, buscaria um retorno do que está vivo ao estado inorgânico - definida, assim, grosso-modo como pulsão de morte; e as pulsões que antes estavam sob a denominação de pulsões sexuais e pulsões do ego, agora sob a égide de Eros – pulsão de vida. Uma “luta de titãs” que estará na origem de todas as manifestações humanas, tirando-as de certo maniqueísmo de vida ou morte.
EXERCÍCIO
No início de seu trabalho (1895-1906), Freud concebia o conjunto da vida mental como constituída pela dualidade entre as pulsões sexuais e autoconservação. Posteriormente, englobou-as como pertencendo ao mesmo grupo, em oposição à pulsão de morte, este grupo foi denominado de: 
A. Pulsões sexuais, uma vez que estas visam a preservação da espécie.
B. Pulsões de autoconservação, visto que tendem a preservação do indivíduo.
C. Pulsões de vida, que visam a integração e a união.
D. Pulsões de morte, que visam o retorno ao estado anorgânico.
E. Pulsões eróticas, que visam a satisfação da pulsão sexual.
Chegamos neste percurso a uma redefinição da sexualidade, proposta por Freud que teria a tarefa de traduzir, nomear ou até construir aquilo que os cientistas do final do século XIX já afirmavam sobre a determinação sexual da atividade humana. Através de sua teoria pulsional, Freud efetuou uma verdadeira ruptura teórica (ou epistemológica) com a sexologia, estendendo a noção de sexualidade a uma disposição psíquica universal e extirpando-a de seu fundamento biológico, anatômico e genital, para fazer dela a própria essência da atividade humana. Portanto, é menos a sexualidade em si mesma que importa na doutrina freudiana do que o conjunto conceitual que permite representá-la: a pulsão, a libido, o apoio e a bissexualidade.
MÓDULO 4
A teoria da sexualidade.
A evolução da libido.
As zonas erógenas e as pulsões.
Sexualidade
Foi com a introdução da palavra libido que S. Freud construiu sua teoria da sexualidade,  percurso teórico iniciado em 1905 com a publicação dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905). É preciso enfatizar que este ponto de partida de sua teoria sobre a sexualidade sofreu várias modificações ao longo do tempo, seja a partir da reformulação teórica advinda em 1914 a partir da conceituação sobre o narcisismo, seja à luz da teoria sobre o dualismo pulsional e da instauração da segunda tópica, em 1920, no texto Além do princípio de prazer, e, por último, em torno do texto Psicologia de grupo e análise do ego (1921). Isto quer dizer que a teoria sobre a sexualidade e o conceito que lhe é correlato - a libido - são construções realizadas ao longo do tempo, marcadas ou ritmadas pelas mudanças que a experiência clínica e o debate teórico impuseram ao pensamento freudiano.   
O termo libido designa a manifestação da pulsão sexual na vida psíquica e, por extensão, definindo a sexualidade humana em geral e a infantil em particular, entendida como causalidade psíquica (neurose), disposição polimorfa (perversão), amor próprio (narcisismo) e sublimação.
Esta reordenação das coisas, jogando luz sobre a vida psíquica (e não sobre a anatomia) faz da libido o componente básico e essencial da sexualidade, fonte do conflito psíquico. Isto permite que, ao longo do tempo, como dito anteriormente, seja possível integrar  libido e pulsão, libido e objeto (na medida em que a energia é direcionada a e fixa-se em diferentes objetos) e, por fim, pode encontrar uma identidade narcísica (a libido do eu). A libido, identificada com a pulsão sexual tornou-se a pulsão de vida (Eros), em oposição à pulsão de morte (Thanatos) e com isto, a libido torna-se o principal determinante da psique humana.
Exercício
A primeira e a segunda tópica são assuntos que compõem a chamada metapsicologia freudiana. Correspondem a tentativas de sistematizar o aparelho psíquico, sugerindo a idéia de uma certa organização, onde cada sistema tem sua função. Tendo como base a primeira e a segunda tópica freudiana, julgue os itens abaixo:
 I. Com referência aos estímulos internos, o Ego ante as exigências das pulsões é inoperante na satisfação ou adiamento das exigências provenientes destas excitações.
II. Entre o inconsciente e o pré-consciente não existe barreira que impeça os conteúdos inconscientes ascender ao caminho para a consciência.
 III. O superego tem a função de juiz para o ego, apesar desta função específica, não podemos atribuir ao mesmo qualquer participação no  surgimento do sentimento de culpa.
IV. Na primeira tópica; Freud divide o aparelho psíquico em inconsciente, pré–consciente e consciente. Estes três sistemas corresponderão respectivamente ao Id, Ego e Superego, propostos na segunda tópica.
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA 
B- É correto o que se afirma em IV.
Libido 
No início de sua teorização, Freud deu a esta libido um sentido psíquico, tornando-se, após o abandono da teoria da sedução, no motor do conflito psíquico que estaria na origem das neuroses: o histérico sofria de reminiscências e, depois, de fantasias e sonhos, cujo conteúdo seria explorado pela psicanálise, através do retorno à infância e, portanto, às primeiras experiências sexuais do sujeito. Com a publicação dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905) este conceito tornou-se o eixo da sexualidade humana.
Primeiro a libido é uma “energia”, uma manifestação dinâmica, na vida psíquica, do impulso (ou pulsão) sexual e, se o que pesava, a partir de então, era a dimensão psíquica, redefine-se o estatuto da libido: não mais constituía uma atividade somática, mas era um desejo sexual que procurava satisfazer-se, fixando-se em objetos. É também neste tempo de sua teorização que se institui a noção de monismo sexual: a libido seria de natureza masculina, quer sua manifestação seja no homem ou na mulher. 
Esta libido - dimensão fundamental da pulsão - fixa-se em objetos e pode se deslocar em seus investimentos, mudando de objeto e de objetivo. É então sublimada, ou seja, derivada para objetivos não sexuais, investe em objetos socialmente valorizados: a arte, a literatura, atividadesintelectuais, etc.
Esta maleabilidade libidinal, sua capacidade intrínseca de mudar tanto de objetos quanto de objetivos, permite igualmente um outro tipo de trânsito: também pode diversificar-se quanto à fonte de excitação. Há uma diversificação das zonas erógenas, que se distribuem por quatro regiões do corpo: oral, anal, uretro-genital e mamária. Dessa descrição da libido capaz de se diversificar em zonas erógenas decorreu um desdobramento teórico - a teoria dos estádios ou fases, tão central na reformulação freudiana quanto na relação objetal. Cada idade ou, cada fase, tem um tipo de relação de objeto que serão definidas em quatro: a fase oral, a fase anal, a fase fálica e a fase genital.
Fase Oral
É o momento em que o prazer sexual se dá, predominantemente, pela excitação da zona bucal e lábios, estando associado à alimentação. Neste momento precoce do desenvolvimento o bebê só espera a satisfação de suas necessidades, que asseguram a sobrevivência, assim quando tem fome ou sede busca a satisfação e à medida que esta necessidade é satisfeita, a pulsão a ela associada acaba por ser reduzida, com isto vivencia e sente prazer, o que restitui ao organismo o retorno ao seu estado de equilíbrio. 
O objeto da fase oral é o seio ou seu substituto, não só enquanto alimentação, nem como elemento anatômico, mas como objeto que permitirá as várias vivências e sensações de aconchego que envolve o acalento do colo materno. 
Nesta fase se dá a formação do ego, a princípio o bebê não percebe nem sente-se como separado do exterior, a não satisfação imediata da necessidade, conjugada à espera pelo alimento, a faz sentir-se como separado do ambiente e, neste espaço se dá o início da formação do ego, que ocorrerá durante o primeiro ano de vida.
Fase Anal
Por volta dos 12 meses de vida inicia-se a fase anal, que durará até os 36 e, apesar desta região anal estar em funcionamento desde o início da vida, será somente mediante o amadurecimento neurofisiológico aliado às demandas do ambiente, que incidirão para que musculatura voluntária torne-se o centro dos investimentos libidinais.
Assim, as crianças começam a desenvolver o controle muscular ligado aos esfíncteres – anal/defecação e uretral/controle urinário, em complementaridade às preocupações dos pais acerca do estabelecimento dos hábitos de higiene. Nesta fase, retenção ou expulsão tornam-se fontes de prazer, já que região anal é a zona erógena. O aprendizado da higiene e a consequente necessidade de controle esfincteriano são possíveis, pois o ego está caminhando à sua formação, permitindo à criança ser capaz de adiar a satisfação das pulsões. O objeto desta fase ainda é a mãe, contudo numa perspectiva de objeto total.
 Fase Fálica 
É o momento em que o prazer sexual se dá pela curiosidade e manipulação dos genitais. A obtenção de prazer se dá pela manipulação, masturbação infantil.  
Embora a criança tenha este interesse pelos genitais, ainda não se trata da verdadeira genitalidade, seu sentido é ambíguo, pois a criança ainda não sabe discriminar sobre a diferença sexual anatômica e considera que todos os seres são dotados de pênis – homens e mulheres. Após o período de negação das diferenças entre os sexos, meninos e meninas terão que conviver com o produto deste reconhecimento, cada um a sua maneira. 
A sexualidade, até aqui, é auto-erótica, mas começa a ser investida nos pais, porquanto o desejo libidinoso dos filhos é dirigido para o genitor do sexo oposto, resultando numa verdadeira batalha que estruturará o psiquismo do ser humano. 
Período de Latência 
Depois da turbulência decorrente da renúncia produto do complexo de Édipo e com um superego já formado, a criança entra num período de acalmamento e diminuição da atividade sexual. Esta etapa inicia-se por volta dos 5/6 anos e estende-se até à puberdade. 
Pela impossibilidade de efetivar se intento da satisfação das pulsões sexuais, a criança renuncia ao seu desejo incestuoso e volta-se para objetos não  pertencentes à sua estrutura familiar primária. Há uma repressão das pulsões sexuais e sua energia é canalizada para atividades e interesses sociais.
Nesta fase são erigidos sentimentos contentores da sexualidade, entre eles a vergonha, o pudor, o nojo, a repugnância. 
Fase Genital 
Para Freud, na adolescência, é reativada toda sexualidade adormecida durante o período de latência; o reaparecimento dos impulsos sexuais reprimidos os dirige para o sexo oposto, numa perspectiva de sexualidade adulta e madura. Neste estágio o adolescente reativa seu Édipo e desencadeia-se uma maior independência e autonomia dos adolescentes em relação aos pais idealizados da infância, redundando em escolhas sexuais fora do mundo familiar e num processo de adaptação às exigências socioculturais. 
Este modo de conceber a sexualidade e a vida psíquica amplia a noção de sexualidade, até então vista pelos sexólogos, reduzida ao sentido genital. A libido, ligada que está à pulsão sexual, inscreve-se como componente central de um Eros enfim reencontrado, simultaneamente desejo, sublimação e sexualidade em todas as suas formas humanas. 
Em 1920, com Mais-além do princípio de prazer, o dualismo pulsional se realinha em torno de Eros (pulsão de vida) e Thânatos (pulsão de morte) e a libido foi, assim,  assimilada a Eros: “A libido de nossas pulsões sexuais coincide com o Eros dos poetas de filósofos, que mantém a coesão de tudo aquilo que vive” (1920). E, no Esboço de psicanálise, os dois termos se fundiram: “toda energia de Eros, que doravante denominaremos de libido”.
“Freud fez da libido o móbil de um escândalo, que apareceria, a partir de 1910, nas múltiplas resistências à psicanálise em todos os países, sendo ela sempre e por toda parte qualificada de doutrina pansexualista: “germânica” demais aos olhos franceses, “latina” demais para os escandinavos, “judaica” demais para os nazistas e “burguesa” demais, enfim, para o comunismo, ou seja, sempre “sexual” em demasia” (Roudinesco, 1998).
EXERCÍCIO
Cada uma das fases descritas por Freud tem uma importância à constituição do sujeito psíquico, mas uma delas é marcada pela reativação da sexualidade, de forma organizada para a realização da sexualidade genital plena (adulta). Que momento é este e no que implica sua consecução? 
A. Fase fálica, que implica no reconhecimento anatômico do órgão sexual e aceitação das diferenças entre os sexos.
B. Fase oral, anal e fálica que pressupõem uma organização pré-genital.
C. Fase genital, que é um equivalente da fase fálica em seus desdobramentos mais específicos. 
D. Período de latência, que é o grande preparador à genitalidade adulta.
E. Fase genital, que implica na renúncia do desejo incestuoso, na plenitude fisiológica, na escolha sexual fora do mundo familiar, na assunção do sujeito autônomo. .   
MÓDULO 5
O complexo de Édipo e a sua dissolução
Complexo de Édipo
O complexo de Édipo (ou Édipo simplesmente, para abreviar) designa o complexo definido por Freud, assim como é um mito fundador, pois a partir deste conceito a teoria psiacanalítica procura elucidar as relações do ser humano com suas origens e sua genealogia familiar e histórica.
O Édipo responde a duas questões: 
Como se forma a identidade sexual de um homem e uma mulher;
Como uma pessoa torna-se neurótica. 
Serve-nos, assim, para compreender como um prazer (de ordem sexual) toma conta de  uma criança - na idade entre 3 e 5 anos - e se transforma em um sofrimento neurótico que atormentará o sujeito na vida adulta.
Foi na escuta de seus pacientes neuróticos, adultos, que Freud, inicialmente, criou a teoria da sedução que, em seguida, foi substituída pela teoria da fantasia e no escopo desta movimentação teórica surge a invenção do complexo de Édipo (o mito de Édipo surge na teoria psicanalítica no exato momento do nascimento da psicanálise, consecutivo ao abandono da teoria da sedução). O que é relevante, apesar da mudança - da teoria da sedução para a da fantasia - é que o acontecimento,  real ou fantasiado, é que tenha sido recalcado. A histeriaé principalmente uma doença do esquecimento, já que não se quer lembrar do que foi doloroso. 
No entanto, a posição do sujeito é diferente no acontecimento real e no fantasiado: no primeiro, a criança da cena de sedução é vítima; no segundo, a criança da cena edipiana/fantasiada é atormentada entre o desejo de ser seduzida e o medo de sê-lo, entre o medo de sentir prazer e o medo de experimentá-lo. 
A identidade sexual de todo homem ou mulher tem como ponto de partida o complexo de Édipo e é por isto que o que se encontra na clínica, sob esta ótica, são pessoas adultas sofrendo, não raras vezes, pelas vicissitudes de um complexo não liquidado e que retorna à consciência, de forma compulsiva e repetitiva, delineando-se, assim, um sofrimento neurótico.
O Édipo é um esquema teórico que permite ao psicanalista esclarecer e compreender uma gama infindável de conflitos e sofrimentos psíquicos; é, do ponto de vista clínico,  uma fantasia que atua desde o âmago de ser e o toma por inteiro. Quanto ao mito, sua força na cultura se explica porque através de uma fábula que traz à cena personagens familiares, o faz de tal forma que estes personagens verdadeiramente encarnam as forças do desejo humano e os seus interditos, suas proibições necessárias. 
Fantasia ou mito, o complexo edipiano é um conceito central, nuclear (acha-se presente em toda obra freudiana, desde 1897 até 1938), indispensável à consistência da teoria e à eficácia da prática psicanalítica. 
EXERCÍCIO
Uma das grandes contribuições de Freud em relação ao desenvolvimento do ser humano se refere à sexualidade, tomada aí numa dimensão muito mais do que a dimensão reprodutiva. Assinale a alternativa que corresponde aos achados de Freud sobre este tema. 
A. A vida sexual dos seres humanos começa na puberdade, o que ocorre logo após ao nascimento deve ser entendida numa perspectiva desenvolvimentista sem associação à sexualidade.
B.  Após o nascimento a única manifestação de sexualidade se refere ao ato de sugar o seio da mãe, portanto esta ação liga-se não a sexualidade, mas a alimentação como ação voltada a sobrevivência.
C.  A vida sexual inclui a noção de que diferentes partes do corpo são reconhecidas como zonas erógenas, capazes de produzir prazer.
D. O conceito de sexual é um conceito amplo que inclui atividades têm que ver com os órgãos genitais.
E. O primeiro órgão a surgir como zona erógena e a fazer exigências libidinais à mente é, da época do nascimento em diante, os genitais.
Dissolução do Complexo de Édipo
O complexo de Édipo é a representação inconsciente pela qual se exprime o desejo sexual ou amoroso da criança pelo genitor do sexo oposto e sua hostilidade para com o genitor do mesmo sexo. Essa representação pode se inverter e exprimir o amor pelo genitor do mesmo sexo e o ódio pelo do sexo oposto.
O complexo de Édipo está ligado à fase fálica da sexualidade infantil e surge quando o menino (por volta dos 2 ou 3 anos) começa a sentir sensações prazerosas e, apaixonado pela mãe, quer possuí-la, colocando-se como rival do pai, antes admirado. Uma posição inversa é adotada: ternura em relação ao pai e hostilidade em relação à mãe. Há, ao mesmo tempo, o complexo de Édipo e um complexo de Édipo invertido; estas duas posições - positiva e negativa - no contato com os pais são complementares e constituem o Édipo completo.
Será, por volta dos cinco anos, com o complexo de castração que, no menino, o complexo desaparecerá: o menino reconhece a partir de então na figura paterna o obstáculo à realização de seus desejos, abandona o investimento na mãe e passa para uma identificação com o pai, que lhe permitirá, na vida adulta, uma outra escolha de objeto e novas identificações: ele se desliga da mãe (desaparecimento do complexo de Édipo) para escolher seu próprio objeto de amor. Seu declínio marca a entrada num período chamado de latência, e sua resolução após a puberdade concretiza-se num novo tipo de escolha de objeto. 
A tese da tese da libido única, de essência masculina, está ligada ao complexo de Édipo. O menino sai do Édipo através da angústia de castração, por seu lado, a menina ingressa nele pela descoberta da castração e pela inveja do pênis e, nela, o complexo se manifesta pelo desejo de ter um filho do pai. A dessimetria se apresenta no tocante ao fato de a menina desligar-se de um objeto do mesmo sexo (a mãe) por outro de sexo diferente (o pai). Não há um paralelismo exato entre o Édipo masculino e seu homólogo feminino, mas encontramos uma simetria: nos dois sexos a mãe é o primeiro objeto de amor, o elemento comum e primeiro.
EXERCÍCIO
Sobre o Complexo de Édipo na teoria de Freud, pode-se dizer que:  
I. A ameaça de castração é o principal fator que leva a dissolução do Complexo de Édipo e encontra-se na base do processo civilizatório.
II. O Complexo de Édipo é considerado um processo universal, que desempenha um papel estruturante no desenvolvimento do indivíduo.
III. A elaboração do Complexo de Édipo inclui o abandono dos aspectos mais passionais em relação aos pais e a consequente identificação com os progenitores.
IV. A ameaça de castração é uma teoria sexual infantil para explicar a diferença anatômica entre os sexos e só ocorre em casos extremos de confusão de identidade.
V. O Complexo de Édipo nunca se dissolve, e é predominante nos meninos.
Identifique qual das alternativas está correta:
C. É correto o que se afirma em I, II e III.
O complexo de Édipo liga-se desde o começo à dupla questão do desejo incestuoso e de sua proibição necessária, a fim de que nunca se transgrida o encadeamento das gerações.
Mantém uma ligação estreita com o complexo de castração e com a existência da diferença sexual e das gerações. 
Freud viu a tragédia Édipo rei (Sófocles) a revelação ou, em outras palavras, a simbolização, do universal do inconsciente que vinha disfarçado em destino, a lenda grega apoderou-se de uma compulsão que todos sentiram, por isto reconhecem-se, inconscientemente, na dramatização e se assombram diante da realização do sonho transposto para a realidade. 
Assim também ocorre com o drama de Hamlet (Shakespeare) que era, para Freud, o drama do recalcamento, através da história de uma  subjetividade culpada.
Esta aproximação de ficções pode ser relacionada ao afã de Freud por entender as questões relativas ao destino, àquilo que a vida reserva e que se ignora. a isto podemos correlacionar o próprio conceito de inconsciente, ninguém o conhece e, igualmente, dele não pode se desvencilhar. O complexo de Édipo é, como foi dito inicialmente, a representação psíquica do desejo inconsciente e, como consequência, traz em seu bojo a iniciação em uma experiência de perda e de luto, referente aos pais como parceiros sexuais.
EXERCÍCIO
Um dos efeitos do complexo de Édipo na criança por volta dos 5 (cinco) ou 6 (seis) anos está relacionado com atitudes morais e regras que devem ser seguidas e  que estão sujeitas a punição, além de suscitar arrependimento que vem de dentro de si própria e não de outra pessoa, exigindo comportamento de obediência. Com base nestas afirmações identifique de que fase do desenvolvimento psicossexual trata-se este momento descrito e escolha a alternativa correta: 
A. O período descrito é o de latência e demonstra a formação do superego. 
B. A fase descrita é a anal e demonstra o contato do ego com o ambiente.
C. A fase descrita é a oral e os primórdios do princípio de prazer.
D. A fase descrita é a fálica e mostra a estruturação do superego, pela dissolução do Édipo.
E. A fase descrita é a fálica e mostra o início do complexo de Édipo. 
MÓDULO 6
A psicanálise na clínica
O surgimento da transferência
A descoberta do narcisismo.
A Psicanálise na clínica e a transferência
Quando Freud (1915[1914]) diz que só o analista pode tratar a neurose que, do contrário, sem o tratamento adequado (psicanalítico) está fadada a se repetir em seus sintomas ‘ad infinitum’, afirma que o psicanalista deve saber fazer algo que nenhum outro profissional ou pessoa terá condições de fazer.Este algo a ser feito depende de quem o faz, precisa ser feito no enfrentamento da neurose, e para isto é preciso que seja um psicanalista e refere-se diretamente à sua formação. E este deve estar capacitado a suportar o peso da repetição. E, o faz, através do manejo da transferência. 
A associação livre abre caminho para a investigação e para o tratamento psicanalíticos e coloca para o analista um novo horizonte a partir do qual poderá trabalhar e que diz respeito ao manejo da transferência. Para Freud, em seu texto Recordar, repetir e elaborar (1914), há uma relação estreita entre a compulsão à repetição e a transferência, afirmando uma estreita proximidade entre as duas: a transferência seria um fragmento da repetição e esta é uma transferência do passado, seja para o analista seja para diferentes aspectos da vida atual do paciente. 
Mas o que se repete? Seguindo Freud nos textos citados trata-se justamente de um processo inconsciente no qual o sujeito se sente compelido a repetir atos, ideias, pensamentos e sonhos que, na sua origem, foram geradores de sofrimento e ao serem repetidos não perdem esta conotação, mas também não é possível abandoná-los por força da vontade. E, como analistas, o que nos convoca a pensar, desde Freud, é justamente o caráter enigmático (ou sinistro) desta necessidade de repetição ao ser confrontada com o princípio de prazer. E é particularmente no texto de 1914, Recordar, repetir e elaborar que podemos ver explicitada uma trama que liga repetição e transferência, na medida em que coloca que a repetição é a forma de o paciente recordar, ainda que sob o signo da resistência, daquilo que lhe é mais difícil, dado que está ligado às conotações sexuais que não passam pelo crivo da censura e, portanto, não podem ser rememoradas. E, assim, será o manejo da transferência que permitirá que se transforme a compulsão à repetição num motivo para recordar: A transferência cria, assim, uma região intermediária entre a doença e a vida real, através da qual a transição de uma para outra é efetuada (Freud, 1914, p.201). 
EXERCÍCIO
O processo transferencial ocorrido durante a análise pode ser concebido como uma reatualização de experiências significativas da vida do paciente. Com base nas observações de Freud acerca da transferência, escolha a alternativa correta, assinalando-a. 
A. A transferência é a forma mais clara em análise da superação da resistência, pois viabiliza uma transmissão consciente de conteúdos reprimidos de um sujeito para o analista.
B. A resistência transferencial cria a possibilidade de uma manifestação menos crítica do sujeito durante a análise, especialmente pelo fato de que a relação com o terapeuta tem sempre referência do real.
C. A transferência torna-se recurso fundamental da análise, pois torna manifesto os impulsos eróticos esquecidos pelo paciente.
D. A transferência é um fenômeno que prejudica o desenvolvimento favorável na análise, pois apresenta significativa resistência, impedido clareza da dinâmica psíquica por parte do analista.
E. Sentimentos amistosos como confiança e amizade podem caracterizar uma forma de transferência positiva, que são sempre vistos como muito positivos. 
No entanto, transferência e repetição não são uma e mesma coisa, ainda que se refiram exatamente àquilo que está na visada principal do analista, a saber, o inconsciente. A primeira como uma técnica que serve de contrapeso ao que é próprio das formações inconscientes, a compulsão à repetição. E também está na visada do analista e da direção da análise trabalhar como isso pode ser “acolhido” na situação analítica de tal forma que, ao propiciar uma experiência abrandada de seus efeitos, aquilo que era um movimento repetitivo dê lugar a algo, se não radicalmente novo, pelo menos uma criação própria do sujeito na sua relação com seu inconsciente.
Transferência não é repetição e esta não aparece de um só jeito. Mas na transferência o lugar ocupado pelo analista revigora o status ficcional da transferência na medida em que, ao encarnar uma abertura, o analista remete o sujeito à sua própria errância, à suas infindáveis tentativas de criar algo a partir do nada, ou melhor, da falta – falta de sentido, falta de norte ou de rumo, que não se cansa de se repetir. A técnica que serve de contrapeso a esta exigência pulsional de repetição não exclui este movimento, mas permite que algo se produza, se crie nas movimentações possíveis a cada momento, para cada um e chega-se a um pouco de verdade.
A descoberta do narcisismo
As primeiras considerações de Freud sobre o narcisismo surgem por volta de 1909, época da segunda edição dos Três Ensaios..., em cartas (junho de 1913) e no artigo sobreLeonardo da Vinci (1910). Mas é somente com o texto de 1914 que a discussão sobre as relações entre o eu e os objetos externos culmina numa diferenciação entre duas formas distintas de investimento libidinal: uma voltada para o próprio eu e outra voltada para os objetos. São desta mesma época também as indagações de Freud sobre a escolha da neurose e será em 1914 que afirmará o narcisismo como um conceito à parte, capaz de esclarecer uma forma de investimento libidinal que não diz respeito somente ao que podemos ver nas perversões, estendendo-se à totalidade do curso regular do desenvolvimento sexual humano, ou seja, passa a ser considerado como um estágio necessário entre o auto-erotismo e o amor objetal. Então, podemos situar o narcisismo como um conceito que auxilia tanto na compreensão da etiologia das neuroses, das psicoses e das perversões quanto na reformulação das noções anteriores sobre o curso dos investimentos libidinais.
Os dois narcisismos: primário e secundário
É certo que, num primeiro momento das investigações psicanalíticas, o narcisismo surge associado às disposições patológicas, porém ao longo do tempo e dos progressos teóricos, o narcisismo encontrado nas disposições patológicas seria mais adequadamente explicado como um fenômeno posterior a um ‘narcisismo primário’, este sim etapa necessária no desenvolvimento da vida psíquica. A partir disto pode-se falar numa relação diferente entre esta nova acepção de narcisismo e a constituição do psiquismo, pois com o texto de 1914, há um primeiro abalo nas construções psicanalíticas no que diz respeito à clássica oposição entre pulsões sexuais e pulsões do eu.
Antes de formular esta sua teoria sobre o narcisismo, acreditava-se que os investimentos no eu eram tão somente relacionados às necessidades de auto-conservação, ficando reservada a libido para as relações objetais. Porém as investigações posteriores demonstraram que esta ‘libido do eu’ estava sendo ocultada por esta pressuposição. A importância destas formulações acerca do narcisismo concentra-se no fato de estar diretamente vinculado à própria constituição do eu, pois num primeiro momento – anterior ao descobrimento do narcisismo como etapa necessária na formação da vida psíquica – acreditava-se que as pulsões do eu eram exclusivamente não-sexuais e que o auto-erotismo, enquanto estágio inicial da sexualidade, não teria nenhuma finalidade de sobrevivência, assim como seria anterior à formação do eu como uma unidade. Reconhecer que há um investimento libidinal no eu leva à ideia de que estão presentes na constituição deste diferentes energias psíquicas e que a passagem do estado do auto-erotismo para o narcisismo se dá quando se acrescenta ao auto-erotismo o eu, ou seja, quando este último passa a ser o objeto de amor. Assim é que o narcisismo ganha o estatuto de primário, perde sua conotação patológica e passa a ser um elemento fundamental na constituição da vida psíquica.
Porém esta libido dirigida ao eu é a mesma energia que se dirige para os objetos, trata-se nos dois casos da manifestação da mesma pulsão sexual, só que agora compreendida como capaz de investir em diferentes objetos: o próprio eu e os objetos externos. O eu seria então constituído por esta energia, estaria investido, desde o princípio da sua constituição, de pulsões de auto-conservação e de pulsões

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