Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR ESCOLA DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTOS CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM SEGURANÇA PÚBLICA Fernando Saraiva Rodrigues, Sd PM, nº 375, Turma 8 Fabio de Almeida Firmino, Sd PM, nº 360, Turma 8 Erivelton Aparecido Germano, Sd PM, nº 352, Turma 8 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: análise das consequências para a vítima Belo Horizonte 2013 Fernando Saraiva Rodrigues, Sd PM, nº 375, Turma 8 Fabio de Almeida Firmino, Sd PM, nº 360, Turma 8 Erivelton Aparecido Germano, Sd PM, nº 352, Turma 8 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: análise das consequências para a vítima Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Academia de Polícia Militar de Minas Gerais (APM) e à Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Sargentos (EFAS), como pré-requisito para aprovação no Curso Superior de Tecnologia em Segurança Pública (CSTSP-2012/2013). Orientador: Cel PM QOR Silas Barnabé de Souza. Belo Horizonte 2013 Rodrigues, Fernando Saraiva R696v Violência doméstica contra a mulher: análise das consequências para a vítima / Fernando Saraiva Rodrigues; Fabio Almeida Firmino; Erivelton Aparecido Germano. Belo Horizonte, 2013. 67f. Orientador: Silas Barnabé de Souza. Trabalho de Conclusão de Curso – Academia de Polícia Militar de Minas Gerais, Curso Superior de Tecnologia em Segurança Pública. Referências: 1. Violência. 2. Vítima - mulher. 3. Consequências para a vítima. I. Firmino, Fabio Almeida. II. Germano, Erivelton Aparecido. III. Souza, Silas Barnabé de. IV. Academia de Polícia Militar de Minas Gerais. V. Título. CDU: 396.2 Fernando Saraiva Rodrigues, Sd PM, nº 375, Turma 8 Fabio de Almeida Firmino, Sd PM, nº 360, Turma 8 Erivelton Aparecido Germano, Sd PM, nº 352, Turma 8 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: análise das consequências para a vítima Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Academia de Polícia Militar de Minas Gerais (APM) e à Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Sargentos (EFAS), como pré-requisito para aprovação no Curso Superior de Tecnologia em Segurança Pública (CSTSP-2012/2013). Orientador: Cel PM QOR Silas Barnabé de Souza. Trabalho de Conclusão de Curso APROVADO com nota: ________. Belo Horizonte, ____, de _____________, de 2013. _____________________________________________ SILAS BARNABÉ DE SOUZA, CEL PM QOR Especialista em Segurança Pública Mestre em Teologia Doutorando em Psicologia Clínica Dedico a minha mãe e a minha filha Isabela Saraiva. Fernando Saraiva Rodrigues. Dedico aos meus pais Francisco e Francisca. Fabio Almeida Firmino Dedico este trabalho a minha esposa Clara e a minha filha Valentina. Erivelton A. Germano Agradecemos ao senhor Deus pelas bênçãos que derramou sobre nós durante toda essa jornada, ao nosso orientador e professor Sr. Cel PM Silas Barnabé de Souza, pois sem sua colaboração este trabalho acadêmico não seria viabilizado. Agradeço a Lidiane Pereira Fernandes de Oliveira que foi primordial em minha inclusão na Polícia Militar, pois na época era minha companheira e motivadora, aos meus irmãos: Rodrigo, Giuliano, Durbens e Pablo, que tiveram a todo tempo me incentivando e me ajudando sempre que precisei, aos meus amigos pelas palavras de apoio e ao meu padrasto, Marcio Guerra, um grande companheiro, a minha mãe. Fernando Saraiva Rodrigues. Agradeço A Deus, Pela força espiritual que me deu ao longo desta jornada. Aos meus pais Francisco e Francisca pelo eterno orgulho de nossa caminhada, pelo apoio, compreensão, ajuda, e, em especial, por todo carinho ao longo deste percurso. Aos Meus irmãos Flávio, Fernando e Felipe, bem como a minha namorada Amanda, pelo carinho, compreensão e pela grande ajuda. Aos meus amigos e colegas de curso pela cumplicidade, ajuda e amizade. Fabio Almeida Firmino. Agradeço aos meus pais Sebastião e Neusa por todo o sacrifício que fizeram para que pudesse desenvolver os meus estudos. Aos meus parentes e amigos que tanto me incentivaram para que pudesse vencer esta jornada. A minha esposa Clara que em uma grande demonstração de bravura cuidou sozinha de nossa filha Valentina para que esse sonho fosse alcançado. A todos os professores que passaram pela minha vida escolar. Erivelton A. Germano. "A farda não é uma veste, que se despe com facilidade e até com indiferença, mas outra pele, que adere à própria alma, irreversível para sempre.” (General Octávio Costa). RESUMO A violência domestica é um tema que esta em evidência no mundo inteiro, neste ano a ONU (Organização das Nações Unidas) faz alerta para uma epidemia mundial de mulheres agredidas. No Brasil mesmo após seis anos de promulgação da Lei Maria da Penha, Lei nº 11.340/2006, que tem por objetivo a proteção das mulheres, continua ocorrendo muitos casos de violência doméstica. Com certeza é uma utopia considerar que tal dispositivo legal seria a panacéia para a violência domestica no Brasil. A escolha do tema deste estudo deu-se a partir das vivências dos militares mineiros componentes desta equipe de estudo. Durante o atendimento de ocorrências sempre notaram que as vitimas de violência doméstica se apresentavam alterações físicas e psíquicas. Quais são as consequências da violência doméstica para a mulher? O objetivo geral deste estudo é realizar uma revisão integrativa sobre as consequências que a mulher sofre após ser vítima de violência doméstica. O especifico é visualizar as principais consequências sofridas pelas mulheres vítimas de violência doméstica. O método de pesquisa utilizado é a revisão integrativa. Quanto aos objetivos a pesquisa será descritiva. O método de abordagem será o hipotético-dedutivo. Os principais autores que embasam este estudo acadêmico são Fonseca (2006) e (Costa 2008). A hipótese foi comprovada através do estudo que demonstrou que as mulheres que são vítimas de violência doméstica apresentam alterações físicas e psicológicas, onde podemos citar no aspecto físico quebraduras, hematomas e cortes na pele e no campo psicológico o surgimento de doenças tais como depressão, estresse e estresse pós- traumático. Palavras-chave: Violência doméstica, Consequências físicas, Consequências psicológicas. R696v Rodrigues, Fernando Saraiva Violência doméstica contra a mulher: análise das consequências para a vítima / Fernando Saraiva Rodrigues. Fabio Almeida Firmino. EriveltonAparecido Germano– Belo Horizonte, 2013. f. Orientador: Silas Barnabé de Souza. Trabalho de Conclusão de Curso – Academia de Polícia Militar de Minas Gerais, Curso Superior de Tecnologia em Segurança Pública, 2013. 1. Formas de violência. 2. Violência doméstica. 3. Consequências para a vitima. I. Título. II. Rodrigues, Fernando Saraiva. CDD: 616.85 822 CDU: 361-63 ABSTRACT Domestic violence is a subject that is in evidence in the world, this year the UN (United Nations) is a worldwide epidemic alert for battered women. In Brazil even after six years of enactment of the Maria da Penha Law 11.340/2006, this aims to protect women, still occurring many cases of domestic violence. It sure is a utopia to think such a device would cool the panacea for domestic violence in Brazil. The theme of this study took place from the experiences of military miners components of this study team. During the service of occurrences always noted that victims of domestic violence is presented physical and psychological changes. What are the consequences of domestic violence for women? The aim of this study is to perform an integrative review of the consequences that a woman undergoes after being the victim of domestic violence. The specific view is the main consequences suffered by women victims of domestic violence. The research method used is integrative review. As to the objectives the research will be descriptive. The method of approach will be the hypothetical-deductive. The main authors that support this academic study are Fonseca (2006) and (Costa 2008). The hypothesis was confirmed by the study that showed that women who are victims of domestic violence have physical and psychological changes, which we mention in the physical, fracture, bruises and cuts on the skin and in the psychological field the emergence of diseases such as depression, stress and post-traumatic stress. Keywords: Domestic violence, physical consequences, psychological consequences. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ONU Organização das Nações Unidas SePOp Secretaria de Pesquisa e Opinião SF Senado Federal PIB Produto Interno Bruto OMS Organização Mundial de Saúde CSTSP Curso Superior de Tecnologia em Segurança Pública PMMG Polícia Militar de Minas Gerais PPVD Patrulha de Prevenção a Violência Doméstica SUS Sistema Único de Saúde SUMÁRIO 1 ENTENDENDO A VIOLÊNCIA............................................................................... 11 2 DISPOSIÇÃO DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA NA ATUALIDADE............ 15 2.1 Violência urbana................................................................................................. 17 2.2 Violência doméstica.......................................................................................... 19 3 O LAR: PARA MUITOS, LOCAL DE INSEGURANÇA?................................ 22 3.1 Formas de violência doméstica..................................................................... 22 3.2 Lei Maria da Penha, instrumento legal contra a violência doméstica.. 24 3.3 A Mulher vítima de violência doméstica..................................................... 27 3.4 Ciclo da violência doméstica.......................................................................... 29 4 DADOS DA SITUAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO BRASIL.......... 31 4.1 Situação da violência doméstica no Brasil através de gráficos............. 31 4.2 A situação da violência doméstica no Brasil visualizada através de tabelas.................................................................................................... 38 5 CONSEQUÊNCIAS PARA A VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA......... 43 5.1 Consequências físicas para a vitima de violência doméstica................ 44 5.2 Consequências psicológicas para a vitima de violência Doméstica.... 46 6 METODOLOGIA................................................................................................... 48 6.1 Métodos de Pesquisa........................................................................................ 48 6.2 Técnicas de Pesquisa........................................................................................ 48 6.2.1 Universo e amostra............................................................................................... 48 6.2.2 Procedimentos de pesquisa................................................................................. 49 6.2.3 Instrumentos de pesquisa.................................................................................... 50 7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA........ 51 7.1 Análise das consequências físicas apresentadas pelas mulheres vitimas da violência doméstica..................................................................................... 52 7.2 Problemas psicológicos apresentados pelas mulheres vitimas da violên- cia doméstica...................................................................................................... 54 8 CONCLUSÕES, SUGESTÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS...................... 59 8.1 Consequências físicas que mulher apresenta após ser vítima de violência doméstica............................................................................................................. 60 8.2 Consequências psicológicas apresentadas pelas mulheres vitimas de violência doméstica........................................................................................... 60 8.3 Sugestões.............................................................................................................. 61 8.4 Considerações finais........................................................................................... 62 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 64 1 ENTENDENDO A VIOLÊNCIA Violência é uma forma de forçar os seres humanos a praticar atos que em circunstâncias normais não fariam, utilizando uma força que ultrapassa os limites normais, tanto no aspecto físico como psíquico e que acompanha a humanidade desde sua existência; o que difere a cada tempo são as formas e as circunstâncias. Para definir violência e necessário levar em conta vários aspectos, tais como, a cultura do povo, momento e condições em que ocorre o fato, que muitas vezes, não será considerado uma forma de violência. Em todas as idades, sejam elas: Antiga1, Média2, Moderna3 e Contemporânea4, ocorreram barbáries de alguma forma, ou seja, a violência é intrínseca ao ser humano, pois o acompanha em todas as épocas, pode-se dizer que a história da humanidade foi escrita concomitante com a violência. Segundo Zenaide Piffer (2013), essa desigualdade social acontece principalmente por causa da má distribuição de renda, onde muitos têm pouco e poucos têm muito. Consequência disso é a miséria, a exploração dos trabalhadores, crianças mendigando, roubando e se prostituindo nas ruas, falta de condições mínimas para uma vida digna como moradia, alimento, saneamento básico, segurança, falta deemprego e de assistência em saúde e educação. Todos esses fatores estão diretamente ligados ao aumento das formas de violência, principalmente, naquelas que ocorrem no âmbito familiar. A violência familiar é um mal que ocorre muitas vezes de forma velada, praticado dentro de casa entre parentes, (homem e mulher, entre filhos, dos filhos para com os pais e vice-versa, contra idosos, dentre outros), este problema se torna cada vez mais evidente, porque as marcas não são apenas sociais, pois geram um problema de saúde pública e cuidados que cada vez mais são percebidos e necessários às vítimas desses tipos de violência, por isso, há um surgimento na sociedade de leis 1 Período da história que compreende desde a invenção da escrita (de 4000 a.C.. a 3500 a.C.) até a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.). 2 Também conhecida como era medieval durou do sec. V ao XV d.C. 3 Considerado desde a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos em 29 de maio de 1453 teve como término Revolução Francesa, em 14 de julho de 1798 4 Iniciado a partir da Revolução Francesa 1789 D.C. e se estende até os dias atuais. 12 especificas para “socorrerem” as vitimas destas formas de violência. Nas sociedades antigas, a mulher tinha pouca expressão, era vista como instrumento de procriação e como um objeto a serviço de seu amo e senhor. Nas civilizações Gregas, a mulher não era tratada como um ser humano. Era menosprezada moral e socialmente, a ela não era assegurado direito algum. Na Alexandria romanizada no séc. I D.C, vários filósofos disseminavam ideologias para a subordinação das mulheres no mundo ocidental, até o filosofo Platão apontava a mulher como tendo a alma inferior e menos racionalidade que a do homem. Cruz (2010, 35 p.) A violência domestica contra a mulher perdura desde os tempos bíblicos e as religiões são as principais responsáveis pela propagação deste tipo de violência no seio familiar, pois o modelo de família patriarcal dominava naquela época. Em toda a história da humanidade as mulheres vêm sofrendo violações em seus direitos e atualmente continuam sendo de certa forma oprimidas por uma sociedade machista. No Brasil o avanço contra a violência familiar contra mulher foi à criação da Lei 11.340/06, conhecida popularmente como Lei Maria da Penha, o citado ordenamento jurídico protege a mulher contra todas as formas de violência e cria medidas de proteção para as mulheres vitimadas pelos seus companheiros. Consequentemente, a violência domestica, além da agressão física que deixa marcas pelo corpo existem as consequências emocionais que desestabilizam tanto a vitima quanto a família. O que se observa, historicamente, é que a mulher sofre abusos e humilhações para resguardar o homem de forma a não lhe trazer inquietação, garantindo-se assim o poder masculino em uma sociedade patriarcal, cujos valores são passados de pai para filho. A humanidade deve buscar formas de se chegar a uma sociedade sem violência, mesmo que essa ausência de violência seja uma utopia, à busca não pode deixar de fazer parte da vida de todos. A desestruturação das famílias influencia diretamente na formação de outros problemas sociais 13 deixando de ser um problema do casal e se tornando um problema de toda a comunidade. Diante do exposto, este estudo acadêmico tem como tema a violência doméstica contra a mulher, cuja hipótese busca responder ao problema sobre quais são as consequências da violência doméstica para a mulher? A hipótese é que as mulheres após serem vitimas da violência doméstica apresentam consequências físicas e psicológicas. O objetivo geral é proceder à revisão integrativa sobre as consequências para à vitima de violência doméstica. Os objetivos específicos são os abaixo elencados: a) visualizar as principais consequências sofridas pelas mulheres vítimas de violência domestica; b) enumerar as consequências físicas e psicológicas das mulheres agredidas; c) verificar se há relação de mudanças de comportamento perante a comunidade das mulheres vitimas de violência domestica; d) entender as causas da violência para estudar suas consequências; e) mensurar quais consequências, físicas ou psicológicas, são mais danosas para as vitimas; f) relacionar o problema da depressão com a violência sofrida pelas mulheres; g) verificar até que ponto os fatores sociais interferem nos efeitos causados pela violência doméstica na vítima. A primeira seção busca entender o conceito de violência a partir de uma síntese histórica. A segunda desdobra o conceito referente à violência no âmbito geral, e após foca na violência urbana e a violência doméstica, este capitulo tem como objetivo embasar o leitor sobre a violência em si, mostrar todas as suas peculiaridades. Ainda nesta seção são elencados os conceitos sucintos de violência contra a criança e ao idoso no âmbito familiar. A terceira seção aborda a violência doméstica contra a mulher. O objetivo é entender e conhecer o fenômeno da violência contra a mulher através das formas 14 de violência, esta seção também mostra os mecanismos de proteção que a vitima dispõe, trás o ciclo da violência doméstica. No quarta serão apresentados dados da violência domestica no Brasil. Os dados ora expostos neste estudo foram obtidos através de um pesquisa realizado pelo instituo de pesquisas do senado federal DataSenado. Os referidos dados estatísticos estão dispostos em forma de tabelas e gráficos. A quinta seção nos trará as consequências para a mulher vitima de violência doméstica. Para ficar mais fácil de ser compreendido o estudo foi dividida em duas subseções a primeira são consequências físicas e o segundo as psicológicas. A sexta seção vem demonstrar a metodologia utilizada neste estudo acadêmico. Cabe ressaltar que esta tese de conclusão curso é uma revisão integrativa de obras literárias já publicadas que discorrem sobre o tema do presente estudo acadêmicos. A Sétima seção faz a apresentação e analise dos resultados obtidos através da pesquisa realizada. Ela vem para referendar a hipótese idealizada pelos autores desta obra de que a mulher após ser vitima de ações de violência doméstica apresenta sequelas físicas e/ou psicológicas. Após a comprovação das hipóteses a oitava seção trás a conclusão do trabalho, onde é apresentada uma avaliação do trabalho todo. Também pode se verificar a existência de sugestões para melhorar o atendimento a mulher vitima de violência domestica. 2 DISPOSIÇÃO DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA NA ATUALIDADE A violência é forma de imposição na qual se utiliza de força para subjulgar a vontade do outro. Há formas de violência que constituem crimes e são punidas por lei, em todo caso, deve-se ter em mente que o conceito do que pode ser entendido por violência varia de acordo com a cultura e com a época. Em algumas sociedades determinadas condutas não serão consideradas uma forma de violência, como por exemplo, a mulher que é obrigada a casar-se com o homem, pois foi prometida ou vendida, na cultura de certo povo a conduta não configura crime e é aceita até mesmo pelas supostas vítimas, porém, para povos ocidentais, pode constituir uma forma de violência contra o sexo feminino. A violência acompanha a humanidade desde a sua existência corrobora com essa dissertação Souza: A violência existe desde os tempos primordiais e assumiu novas formas à medida que o homem construiu as sociedades. Inicialmente foi entendidacomo agressividade instintiva, gerada pelo esforço do homem para sobreviver na natureza. A organização das primeiras comunidades e, principalmente, a organização de um modo de pensar coerente, que deu origem às culturas, gerou também a tentativa de um processo de controle da agressividade natural do homem.(2013) 5 Os homens vivem solitário, em guarda, pronto a defender-se ou a atacar; quando desejam algo que não possuem, ao mesmo tempo, os homens se tornam inimigos e lutam entre si em defesa de seus interesses pessoais. Para o ser humano, convalidou-se o ditado popular de que a melhor defesa é o ataque. Nesse contexto pode-se dizer que o homem escreveu sua história com violência e pode até mesmo na atualidade, com todos os recursos tecnológicos encontrar-se em guerras por motivos diversos, interesses políticos, dogmas religiosos. Apoia esse entendimento Almeida: Todos somos potencialmente violentos. A maneira de administrar essa agressividade é que nos diferencia uns dos outros. Alguns encontram formas construtivas para canalizar a própria destrutividade. Mas há os que – influenciados por fatores endógenos e exógenos – costumam descarregar- nos outros a sua violência. (2010, p.13) 5 Documento não paginado. 16 A violência pode se apresentar de várias formas, sem que se possa mensurar qual delas é mais agressiva ou danosa, depende da subjetividade de cada pessoa. Muitas vezes, a violência psíquica não terá tanta importância quanto à violência física, cada indivíduo tem uma forma de lidar com as agressões do mundo exterior. São formas de violência, a violência física que se caracteriza por causar danos à integridade física do indivíduo, através do uso da força, deixando ou não marcas pelo corpo, que pode ser voluntária ou não e varia de acordo com aspectos de peculariedade da situação A violência psicológica ou agressão emocional segundo Iembo (2010) é caracterizada pela rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito e punições exageradas. Existem várias formas de violência psicológica, como a mobilização emocional da vítima para satisfazer a necessidade de atenção, carinho e de importância, ou a agressão dissimulada, em que o agressor tenta fazer com que a vítima se sinta inferior, dependente e culpada. A atitude de oposição e aversão também é um caso de violência psicológica, em que o agressor toma certas atitudes com o intuito de provocar ou menosprezar a vítima. As ameaças de mortes também são um caso de violência psicológica. Iembo (2010) tambem ralata que a violência verbal é uma forma de violência psicológica. Normalmente é utilizada para importunar e incomodar os indivíduos pode ser realizada através do silêncio, que pode ser mais violento do que os meios propriamente verbais, como as ofensas morais, depreciações e humilhações que podem vir a constituir crimes contra a honra e outros afins. Violência sexual é aquela em que o agressor abusa da vítima, utilizando de formas de poder para controlá-la, com o fim de obter gratificação sexual ou libidinosa, sem o seu consentimento, sendo induzida ou obrigada a práticas sexuais com ou sem violência física. A violência sexual acaba por englobar o medo, a vergonha e a culpa. A violência deve ser repudiada, apesar de que, historicamente, o homem conquista seus objetivos atrávez de metodos violentos. Não se pode aceitar que a violência faça parte da natureza íntima do ser humano. Essa crença inviabilizaria as relações interpessoais entre as pessoas que são essenciais para a evolução da humanidade. 17 2.1 Violência urbana Observando a violência por uma ótica sociológica, pode-se dizer que esta é um fenômeno social que esclarece certos aspectos do mundo social, porque denota as características da sociedade. Segundo Gullo: “Violência, considerada como um fenômeno social, é analisada como um filtro que permite esclarecer certos aspectos do mundo social porque denota as características do grupo social e revela o seu significado no contexto das relações sociais. Nas sociedades primitivas, promove os mais aptos para se tornarem os defensores do grupo. Nas sociedades contemporâneas, consolida estruturas de poder, particularmente as fora da lei sob o controle de grupos organizados.” (2010, p. 105) Ainda de acordo com Gullo (2010), a violência é um fenômeno social inerente a qualquer tipo de sociedade. A forma sob a qual se manifesta reflete o tipo de sociedade em que esta inserida e demonstra o seu significado nessa sociedade, a violência dependeria, portanto, de estímulos provenientes da própria sociedade. A violência urbana abrange toda e qualquer ação que atinja as leis, a ordem pública e as pessoas que habitam os centros urbanos. Existem diversas circunstâncias que podem causar este tipo de violação, sendo difícil identificar a principal dentre elas, porém pode-se perceber que na atualidade, o crescente aparecimento de drogas potencialmente destrutíveis como o crack, explica o aumento de determinados delitos urbanos. Muitos delitos praticados contra o patrimônio estão diretamente relacionados com o problema do consumo de substâncias entorpecentes. Uma política ineficiente de distribuição de renda pode ser considerada também como causa preponderante para o surgimento de problemas sociais e consequentemente da violência. Segundo Cabral: Muitas são as causas da violência, como: adolescentes desregrados e ilimitados pelos pais, crise familiar, reprovação escolar, desemprego, tráfico 18 em geral, confronto entre gangs rivais, falta de influência política, machismo, discriminação em geral e tantos outros. (2013)6 As causas da violência e as desigualdades sociais devem ser analisadas de forma integrada, pois elas se correlacionam. A má distribuição de renda ocasiona a pobreza, que influência a educação e as condições de moradia, que por sua vez, tornam as pessoas mais propícias a se envolverem com as desordens e as drogas, com isso, ocorrendo aumento nos delitos. Neste contexto, a solução do problema da violência urbana não se resume ao aumento da quantidade de policiais nas ruas ou ao acréscimo de equipamentos de segurança, a busca pela solução, deve se conectar a uma reestruturação da política de governo em longo prazo com mudanças significativas nos setores de educação, emprego, saúde, moradia, e outros que dão sustentação as condições mínimas de qualidade de vida. Neste sentido Cabral relata que: Existem autoridades que acreditam na solução da violência por meio de reforço policial, equipamentos de segurança e na invasão de regiões onde o tráfico se localiza, porém tais situações somente geram maiores problemas, pois nessas situações pessoas inocentes que são vítimas dessa situação acabam sendo “confundidas” e condenadas a pagar por algo que não cometeu. (2013)7 Estudiosos da visão sociológica do crime declaram que não existe sociedade sem crime, existe, pois uma mudança das características dos crimes de acordo com a sociedade. A ocorrência de homicídios nos aglomerados urbanos são, em tese, maiores que nos bairros onde a população possui maior poder aquisitivo. Conforme Freitas (2013), no Brasil a violência urbana esta diretamente relacionada com o crescimento desordenado. Em razão do acelerado processo de êxodo rural, as grandes cidades brasileiras tiveram um aumento da quantidade de habitantes que não foi acompanhado pela infraestrutura urbana, fato esse que ocasionou uma série de problemas sociais.6 Documento não paginado. 7 Documento não paginado. 19 Ainda segundo Freitas: “A criminalidade não é um “privilégio” exclusivo dos grandes centros urbanos do país, entretanto o seu crescimento é largamente maior do que em cidades menores. É nas grandes cidades brasileiras que se concentram os principais problemas sociais, como desemprego, desprovimento de serviços públicos assistenciais (postos de saúde, hospitais, escolas etc.), além da ineficiência da segurança pública. Tais problemas são determinantes para o estabelecimento e proliferação da marginalidade e, consequentemente, da criminalidade que vem acompanhada pela violência.” (2013)8 A sociedade, juntamente, com os órgãos responsáveis pela segurança pública, unidos em prol do bem comum, não acabarão com a violência, porém, este é o caminho na busca da excelência no serviço de segurança pública para que se possa diminuir os índices da criminalidade urbana. 2.2 Violência doméstica A violência doméstica não atinge só a mulheres, atingem também crianças, pessoas idosas, deficientes, dependentes, e não parte só do marido ou companheiro, as mulheres assumem, por vezes, o papel de agressoras, porém a violência contra a mulher encontra-se em evidência por ser a mais frequente (FIG. 1). FIGURA 1 Sátira questionando a masculinidade Fonte: www.arionaurocartunes.com.br 8 Documento não paginado. 20 A violência praticada entre pessoas que possuem de alguma forma um vínculo familiar e afetivo, torna este tipo de agressão muito mais grave, pois desestrutura a família por inteiro e em contrapartida a sociedade. Desde crianças aprendemos a amar e confiar em nossos entes familiares, contudo geralmente a violência parte daqueles que deveriam proteger. De acordo com Souza: Já na fase da infância aprendemos que devemos amar e respeitar nossos familiares, amigos e a pátria. Temos o livre arbítrio para avaliar e decidir sob nossas escolhas, desde que não transgridamos as leis, neste caso nos tornaram passíveis de punição. (2008, p.53). Muitas são as causas da violência doméstica, historicamente, o modelo de família patriarcal, faz com que as mulheres tenham sido vitimadas pelos seus maridos no decorrer das épocas, as crianças também sofreram com o modelo de família que adotavam os castigos como forma de aprendizado. Todas as formas de violência tem a característica de ser covarde, porém, a que mais comove a população são as praticadas contra crianças, este tipo de violência tem sua origem no Brasil desde seu descobrimento, corrobora com esse entendimento Souza: A violência no Brasil cometida contra crianças e adolescente inicia-se a partir do descobrimento do país no ano 1500, através dos jesuítas na forma de castigos e ameaças. Os índios reagiram com indignação e muitas vezes fugiam das escolas jesuítas abandonando os ensinamentos. Souza (2008, p.20) Outra forma de violência que comove e revolta as pessoas são as que ocorrem contra idosos, até mesmo pela debilidade que estas pessoas muitas vezes possuem devido à própria idade. Este tipo de violência não ocorre apenas por parentes, mas também por pessoas que tem o dever de cuidar como, por exemplo, os cuidadores dos asilos e locais destinados a moradia de idosos. Para combater este tipo de violência existe o Estatuto do Idoso que é uma lei especial que visa proteger as pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade pela idade. As causas da violência são estudadas até mesmo para entender como preveni-las, porém, por ser a violência doméstica uma forma de abuso que ocorre, muitas vezes de forma velada, fica difícil de erradica-la. Houve no 21 decorrer da história, várias tentativas de eliminar este tipo de agressão, contudo os resultados não foram os esperados. Algumas das principais causas da violência doméstica são citadas por Alves: “Tendências para a violência baseadas nas crenças e atitudes; situações de stress (desemprego; problemas financeiros; gravidez; mudanças de papel – tais como início da frequência de um curso ou novo emprego do outro); frustração; alcoolismo ou toxicodependência; vivências infantis de agressão ou de violência parental; personalidade sádica; perturbações mentais ou físicas;” (2005, p.3). Alves (2005) relata que o discurso sobre as causas da violência doméstica, divide-se em um grupo que olha para os fatores internos da família; e outro que olha para os fatores externos à família e para o seu enquadramento social, cultural e ideológico. Para a formação de um indivíduo é necessário que este tenha uma estrutura que lhe dê um desenvolvimento psíquico adequado, para isso é de suma importância à unidade familiar, a comunidade e uma sociedade sadia. 3 O LAR: PARA MUITOS, LOCAL DE INSEGURANÇA? O lar, que é considerado um lugar agradável e relaxante passa a ser, infelizmente, nesses casos, um local perigoso. Por isso, de todos os tipos de violência doméstica, a praticada no âmbito familiar é sem dúvida uma das mais severas. Caracteriza-se pelas relações habituais de pessoas interligadas, seja de modo consanguíneo, por matrimônio ou por relações afetivas que habitam em um mesmo lugar. A violência doméstica é considerada uma das espécies de violação dos direitos humanos. A violência doméstica é considerada um problema social que atinge, sem distinção mulheres, crianças, adolescentes e idosos. É qualquer ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de qualquer membro da família. Corroborando com esse entendimento afirma Fonseca e Lucas: Considera-se violência doméstica “qualquer ato, conduta ou omissão que sirva para infligir, reiteradamente e com intensidade, sofrimentos físicos, sexuais, mentais ou econômicos, de modo direto ou indireto (por meio de ameaças, enganos, coação ou qualquer outro meio) a qualquer pessoa que habite no mesmo agregado doméstico privado (pessoas – crianças, jovens, mulheres adultas, homens adultos ou idosos – a viver em alojamento comum) ou que, não habitando no mesmo agregado doméstico privado que o agente da violência seja cônjuge ou companheiro marital ou ex-cônjuge ou ex-companheiro marital. (2006, 20 p.) No Brasil a violência doméstica constitui um sério problema de saúde pública por ser uma das principais causas de morbidade e mortalidade feminina. É resultado da desigualdade entre homens e mulheres, como afirma Silva (2008, 64 p.): “A violência doméstica decorre, na maioria dos casos, da desigualdade entre homens e mulheres, bem como da discriminação de gênero ainda presente tanto na sociedade como na família.” 3.1 Formas de violência doméstica A violência doméstica envolve diversas formas de violência, as principais são a violência física, psíquicas e sexuais. 23 A Lei Maria da Penha, Lei n. 11.340/2006 traz de maneira minudenciada cinco tipos de violência Brasil (2006): a) física: qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; b) psicológica: qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularizarão, exploração e limitação dodireito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; c) sexual: conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; d) patrimonial: qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; e) moral: qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. A violência doméstica também pode apresentar-se de diversas outras formas, tais como: a) coação e ameaça: o agressor coage a vítima a cometer condutas contrárias à lei, ameaça lesionar ou abandoná-la; b) intimidação: o agressor aterroriza a vítima através de olhares com semblante fechado, exibição de armas de fogo, quebra de pertences e objetos pessoais do outro e, até comete maus-tratos aos animais de companhia; 24 c) violência emocional: o agressor consegue fazer com que a se sinta mentalmente diminuída, desmoralizada e, até culpada. d) isolação da vítima: o agressor controla toda a vida íntima da vítima, desde com que ela falta, até aonde ela vá, usando o ciúme como justificativa; e) minimização, negação, condenação: o agressor minimiza a violência causada, afirma que as agressões nunca fizeram parte do convívio ou diz que a culpa para do comportamento violento é da própria vítima; f) uso dos filhos: ameaçar tirar os filhos da casa, utilizar os filhos para transmitir mensagens ou fazer o outro se sentir culpado em relação aos filhos; 3.2 Lei Maria da Penha, instrumento legal contra a violência doméstica O instrumento legal mais atual contra a violência doméstica é a lei 11.340/06 de 07 de agosto de 2006 que é conhecida como Lei Maria da Penha, Maria da Penha (FIG. 2) foi um importante símbolo da luta contra a violência doméstica em nosso país. Foi casada com Marco Antonio Herredia Viveros que em 1983 tentou assassina-la de forma covarde, pois enquanto ela dormia deu um tiro nas costas dela. O agressor foi encontrado na cozinha, gritando por socorro, alegando que tinham sido atacados por assaltantes. Desta primeira tentativa, Maria da Penha saiu paraplégica A segunda tentativa de homicídio aconteceu meses depois, quando Viveros empurrou Maria da Penha da cadeira de rodas e tentou eletrocuta-la no chuveiro. 25 FIGURA 2 Maria da Penha foto de passaporte Fonte: http://www.mp.ce.gov.br/nespeciais/promulher/mariadapenha.asp No ano de 2001, ou seja, decorridos 18 anos da pratica do crime, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos entendeu que o Estado brasileiro era culpado pelo fato de ter se negligenciado e se omitido em relação ao fato e orientou ao país que tomasse várias medidas em relação ao caso concreto de Maria da Penha e em relação às políticas públicas do Estado para o enfrentamento da violência doméstica contra as mulheres brasileiras. Em decorrência dessa pressão, em 2002 o processo no âmbito nacional foi encerrado e em 2003 o ex-marido de Penha foi preso. A lei criou maneiras de coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher apresentou como se dará a criação dos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher, e ainda, estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Esse instrumento legal trouxe diversas inovações sendo elas: - Tipifica e define a violência doméstica e familiar contra a mulher; - Estabelece as formas da violência doméstica contra a mulher como física, psicológica, sexual, patrimonial e moral; 26 - Determina que a violência doméstica contra a mulher independe de sua orientação sexual; - Ficam proibidas as penas pecuniárias (pagamento de multas ou cestas básicas); - É vedada a entrega da intimação pela mulher ao agressor; - A mulher deverá estar acompanhada de seu advogado(a) ou defensor(a) em todos os atos processuais; - Retira dos juizados especiais criminais a competência para julgar os crimes de violência doméstica contra a mulher; - Caso a violência doméstica seja cometida contra mulher com deficiência, a pena será aumentada em 1/3; - O juiz poderá conceder, no prazo de 48 horas, medidas protetivas de urgência (suspensão do porte de armas do agressor, afastamento do agressor do lar, distanciamento da vítima, dentre outras), dependendo da situação, a requerimento do Ministério Público ou da ofendida; - Modifica a ação penal no crime de lesão corporal leve, que passa a ser pública incondicionada; - Permite a autoridade policial prender o agressor em flagrante sempre que houver qualquer das formas de violência contra a mulher; - Proíbe a aplicação da lei dos juizados especiais criminais (Lei 9.099/1995) aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher. (PARADONI e GAMA, 2008, 274 p.) Podemos destacar como umas das principais inovações, as medidas protetivas de urgência que podem ser solicitadas pela vítima já no primeiro contato com o delegado de polícia. Tais medidas nasceram para defender as mulheres vítimas de violência doméstica contra possíveis atos abusivos ou criminosos por parte de seu agressor (SOUZA e KUMPEL 2008). Algumas medidas protetivas referentes à ofendida (mulher) estão previstas nos Artigos 23 e 24 da lei 11.343/06, que seguem, in verbis: Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas: I – encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento; II – determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor; III – determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos; IV – determinar a separação de corpos. Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras: I – restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida; II – proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial; III – suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor; IV – prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida. 27 Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo. (Brasil, 2006) 9 As medidas protetivas são extremamente importantes, pois a vítima não terá a necessidade de se deslocar até uma vara de família para solicitar pensão alimentícia ou quaisquer outros direitos de natureza cível que permitam que ela e seus filhos não precisem de ajuda enquanto o processo criminal contra o agressor esteja em andamento. Poderá fazê-lo no próprio processo criminal, que tem início com o registrodo Boletim de ocorrências. Martelli (2008) Afirma que a Lei Maria da Penha é uma resposta à sociedade, a pressão dos órgãos internacionais de Direitos Humanos com a finalidade principal preserva a mulher de atos violentos, para que ela tenha uma vida digna. 3.3 A Mulher vítima de violência doméstica O Conselho Nacional das Nações Unidas afirma que a violência contra a mulher é qualquer ato baseado na diferença de gênero, que resulte em sofrimento e danos físicos, sexuais e psicológicos na mulher (PARADONI e GAMA, 2008). Corroborando com esse entendimento, a Lei n. 11.343/06, apresentou o significado de violência, no âmbito familiar e doméstico contra a mulher, in verbis: Art. 5 o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. (Brasil,2006) 10 Pesquisa realizada pelo DataSenado (2007) concluiu que, no Brasil, de cada 100 mulheres 15 sofreram algum tipo de violência doméstica, destas, 58,5% das foram agredidas fisicamente, e ainda concluiu que 74,8% das agressões foram feitas pelo marido. Nos estudos realizado por COSTA apud SCHRAIBER et al. 9 Documento não paginado. 10 Documento não paginado. 28 (2005)11, a violência contra a mulher tem como características principais atos que correspondem a agressões físicas ou sua ameaça, a maus tratos psicológicos e a abusos ou assédios sexuais. Constitui um problema de saúde pública devido à comprovação de que a violência de gênero está associada a um maior risco para diversos agravos à saúde física e mental, além de trauma físico direto, e também a uma procura mais frequente dos serviços de saúde. Também a violência sexual acarreta uma série de agravos à saúde física e emocional de mulheres. As mulheres têm medo de sofrer represálias, temem um escândalo com abalo de sua reputação no meio social, ou não sabem a quem recorrer. Insegurança, medo, indiferença das autoridades públicas e da sociedade, impunidade, dentre outros fatores, contribuem para que não haja a denúncia. A mulher ainda vive, nos dias atuais, num clima de opressão e submissão, sendo violentadas das mais variadas formas. Ainda está longe a alegada igualdade de direitos entre homens e mulheres. Até mesmo em países considerados de primeiro mundo, onde o progresso intelectual e econômico é notório, a discriminação é uma realidade. Desigualdade de salários no Japão, pensões inferiores na Inglaterra, violência física na Suécia e exploração nos trabalhos domésticos na Alemanha, especialmente das mulheres estrangeiras. Os governos mundiais vêm buscando evoluir suas legislações nacionais para que a violência doméstica seja coibida, contudo observa-se que não é somente com a legislação mais severa que iremos extinguir esta forma de violência. Corroborando com a afirmação supracitada a revista Isto é do mês de março ed. 2259 nos diz que a ONU (Organização das Nações Unidas) faz alerta para uma epidemia mundial de mulheres agredidas. Eis aqui alguns números dessa epidemia: a) sete em cada 10 mulheres no mundo passarão por algum episodio de violência física ou sexual ao longo da vida; b) nos Estado Unidos, a violência domestica custa US$ 5,8 bilhões por ano aos cofres públicos; 11 SCHRAIBER, Lula Blima et aI. Violência dói e não é direito: a violência contra a mulher, a saúde e os direitos humanos. São Paulo: Editora UNESP, 2005. 29 c) entre 1980 e 2010, 92 mil mulheres foram assassinadas no Brasil, 43,7 mil somente na última década; d) o Brasil ocupa a 7ª posição no ranking de países com maiores índices de homicídios femininos no mundo; e) o disque 180 da Secretaria de Politicas para as Mulheres recebeu 389 mil ligações em 2012 – um numero 32% maior que o registrado em 2011; f) 47 mil vítimas de violência física foram atendidas no sistema publico de saúde em 2011; g) 13 mil foram vítimas de estupro. O homem traz para si o dever de cuidado com a sua prole, entendida como a segurança alimentar e de proteção da família. A maneira que o homem encontrou para manter a autoridade foi o uso da força e, envolvido por esse manto de poder, tende diminuir o impacto de seus atos enquanto as mulheres tendem a se calar, pois a violência é vista como exercício de autoridade e do direito de posse e controle do homem sobre a mulher e os filhos. 3.4 Ciclo da violência doméstica Nesse contexto, o homem desenvolve o seu domínio sobre os entes familiares que dele, em tese, precisam para sobreviver, logo, aproveita dessa facilidade para impor sua autoridade, sendo a mulher o seu principal alvo. Angelim (2009) ilustra os ciclos de violência observados em casais, conforme a teoria de diversos especialistas na área. Os psicólogos observados pelo o autor mencionado, afirmam que a violência doméstica pode ser estruturada em três etapas, sendo a primeira caracterizada pelo começo das tensões, seguida da fase em que elas se tornam aguda e, por última a reconciliação. A vítima acredita que os gritos, empurrões, agressões verbais, ameaças e destruição de objetos são acontecimentos passageiros e acompanhados de descontrole emocional. No próximo estágio, a vítima passa a entender que está inserida em uma situação de violência, pois visualiza a crise na relação. O terceiro e último estágio (reconciliação), apresenta da necessidade de resgatar o padrão de relacionamento, nesse caso o homem agressor demonstra afeto e cortesia para com 30 a esposa, diminuindo o episódio de agressão e justificando as agressões por seu ciúme, um desequilíbrio emocional, estresse e/ou alcoolismo. (ANGELIM, 2009, p.126). O ciclo da violência doméstica contra a mulher está ilustrado na (FIG. 3). FIGURA 3 Ciclo da violência doméstica Fonte: http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs/psicologia/11_violencia_domestica_d.htm 4 DADOS DA SITUAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO BRASIL Os dados apresentados nesta seção são parte da pesquisa desenvolvida pelo instituto de pesquisas DataSenado. O instituto está ligado à SePOp, unidade da Secretaria Especial de Comunicação Social que faz parte da estrutura de comunicação do Senado Federal. Foi criado no ano 2005, pelo ato da comissão diretora nº 8. O objetivo do instituto é mostrar aos senadores qual é a opinião da população do país sobre os assuntos e projetos de lei que estão sendo debatidos no Senado e podem se transformar em novas leis. Após sete anos da sanção da Lei 11.340 de 2006, denominada Lei Maria da Penha o instituto de pesquisas do SF brasileiro DataSenado realizou pesquisa com o tema violência contra a mulher. Tal estudo constatou que 99% das mulheres já ouviram falar no referido ordenamento jurídico. A pesquisa é realizada a cada dois anos via telefone, a população considerada é a de mulherescom 16 anos ou mais residentes no Brasil e com acesso a rede de telefonia fixa. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais para mais ou para menos. 4.1 Situação da violência doméstica no Brasil através de gráficos No (GRAF. 1) foi indagado às mulheres se elas achavam que a legislação brasileira dispõe de mecanismos para protegê-las. O gráfico ora analisado nos demonstra que na serie histórica do período de 2005 a 2013 pouco menos de 25% das mulheres entrevistadas achavam que estavam protegidas. As mulheres que não acreditam estar protegidas pelos ordenamentos jurídicos em 2005 eram aproximadamente 45% e com o passar dos anos foi diminuindo chegando a menos de 30% em 2013. E as que acreditam estar protegidas apenas em parte cresceram cerca de 20% desde 2005 até 2013. 32 GRÁFICO 1 Você acha que as leis brasileiras protegem as mulheres contra a violência doméstica? Brasil – 2005 - 2013 Fonte: Brasil 2013 DataSenado O (GRAF. 2) fez a seguinte pergunta às mulheres: para você, nos últimos anos a violência domestica e familiar contra a mulher aumento, diminuiu ou continuou igual? Observa-se que o ano de 2011 foi quando as mulheres acharam que a violência domestica contra as mulheres aumentou, no acumulado o percentual das mulheres que acreditam que a violência continua igual permaneceu praticamente o mesmo. 33 GRÁFICO 2 Para você, nos últimos anos a violência doméstica e familiar contra a mulher Brasil - 2009 - 2013 Fonte: Brasil 2013 DataSenado Você já foi vítima de algum tipo de violência doméstica? Essa foi à pergunta que originou o (GRAF. 3) onde se obteve como resposta que cerca de 80% das mulheres não foram vitimas de atos de violência domestica. E 20% relataram já terem passado por situações de violência no âmbito familiar. 34 GRÁFICO 3 Você já foi vítima de algum tipo de violência doméstica Brasil – 2005 - 2013 Fonte: Brasil 2013 DataSenado Em complemento a pergunta anterior foi feita a seguinte indagação as mulheres: quem foi o agressor? As respostas para tal questionamento estão no (GRAF. 4) que nos relata que 65% e realizada pelos maridos/companheiros, 13% por ex-maridos/ex-namorados/ex-companheiros, 11% por outros familiares exceto padrasto que é a porcentagem é de 2%. 35 GRÁFICO 4 Quem foi o agressor? Brasil - 2013 Fonte: Brasil 2013 DataSenado No (GRAF. 5) as mulheres entrevistas foram convidadas a responder qual foi a sua atitude em relação à última agressão? Nesta pergunta de serie histórica temos que em 2013 14% denunciaram na delegacia de proteção da mulher em 2009 tínhamos 13% apenas, aproximadamente 19% denunciaram em delegacias comuns, contra 15% em 2009. Em 2013 5% procuraram ajuda junto aos amigos. 16% se apoiaram em seus membros familiares e as que não faziam nada abaixou de 23% em 2009 para 14% em 2013. 36 GRÁFICO 5 Qual foi sua atitude em relação à última agressão Brasil - 2009-2013 Fonte: Brasil 2013 DataSenado O que leva a mulher não denunciar a agressão? Esta questão foi respondida pelas participantes da pesquisa no (GRAF. 6). A maior incidência é o medo do agressor com 74%, dependência do autor 34%, preocupação com a criação dos filhos 34%, vergonha da agressão 26%, não existir punição 23%, acreditar que seria a última vez 22%, não conhecer seus direitos 19%, outros motivos 2%. 37 GRÁFICO 6 O que leva a mulher não denunciar a agressão? Brasil – 2013 Fonte: Brasil 2013 DataSenado 38 4.2 A situação da violência doméstica no Brasil visualizada através de tabelas Nesta subseção temos a apresentação das cinco tabelas do instituto de pesquisas DataSenado mais relevantes para este estudo acadêmico. A (TAB. 1) nos trás dados referentes ao questionamento se a mulher acha que é tratada com respeito no Brasil. Somente 9,5% das mulheres entrevistadas acreditam que sim, 35% não acham que são respeitadas e às vezes 54,4%. Observando-se a faixa etária que acredita ser menos respeitada são as mulheres que tem 60 anos ou mais com 48,5%. TABELA 1 De forma geral, você acha que a mulher é tratada com respeito no Brasil? Brasil – 2013 Vítimas de violência Idade Total Sim Não NS/NR 16 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 ou mais Sim 9,5% 3,9% 10,8% 0,0% 4,7% 10,2% 8,95 7,2% 12,7% 10,3% Ás vezes 54,4% 45,7% 56,5% 0,0% 73,4% 65,1% 57,1% 50,7% 44,4% 38,8% Não 35,5% 50,4% 32,0% 100% 21,9% 24,3% 33,7% 42,1% 42,3% 48,5% NS/NR 0,6% 0,0% 0,7% 0,0% 0,0% 0,3% 0,3% 0,0% 0,5% 2,4% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Nº de respondentes 1248 232 1015 1 64 304 303 221 189 165 Escolaridade Renda Ens. Fund. Ens. Fund. Ens. Méd. Total Sem renda Até 2 S.M. Mais de 5 S.M. NS/NR Sim 9,5% 8,0% 11,9% 9,5% 12,2% 7,9% 11,8% 7,8% Ás vezes 41,8% 60,3% 55,7% 54,4% 50,7% 55,6% 52,7% 57,8% Não 47,7% 31,4% 31,8% 35,5% 35,6% 36,3% 35,5% 32,2% NS/NR 1,0% 0,3% 0,6% 0,6% 1,5% 0,2% 0,0% 2,2% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Nº de respondentes 304 622 318 1248 205 251 110 90 Ocupação Do lar Emp. Domestica Autônoma Ser. Púb. Func. Emp. Privada Est. Apos. Desemp. Sociedade 10,3% 11,3% 7,7% 10,8% 9,2% 8,2% 7,4% 12,9% Família 46,8% 47,5% 53,8% 56,1% 60,6% 65,3% 43,65 54,8% Trabalho 42,1% 41,3% 37,3% 33,1% 30,3% 26,5 46,8% 29,0% NS/NR 0,9% 0,0% 1,2% 0,0% 0,0% 0,0% 2,1% 3,2% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Nº de respondentes 233 80 169 139 436 49 94 31 Fonte: Brasil (2013) DataSenado 39 Após saber se a mulher se acha respeitada ou não, faz-se necessário tomar conhecimento do lugar onde ela é menos respeitada. Dessa forma deve-se observar a (TAB.2) a qual nos informa que a sociedade é o local onde a mulher se acha mais desrespeitada com 44,7%, a família obteve 31,3%, o trabalho 21,6% e outros locais 0,7%. TABELA 2 Onde você acha que a mulher é menos respeitada? Brasil – 2013 Vítimas de violência Idade Total Sim Não NS/NR 16 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 ou mais Sociedade 44,7% 40,1% 45,8% 0,0% 56,3% 53,6% 46,2% 44,8% 37,0% 30,3% Família 31,3% 41,4% 29,0% 100% 15,6% 24,0% 31,4% 33,9% 33,9% 44,8% Trabalho 21,6% 17,2% 22,6% 0,0% 28,1% 20,4% 22,1% 25,9% 25,9% 16,4% Outro local 0,7% 0,4% 0,8% 0,0% 0,0% 0,7% 0,0% 0,5% 0,5% 3,0% NS/NR 1,7% 0,9% 1,9 0,0% 0,0% 1,3% 0,3% 2,6% 2,6% 5,5% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Nº de respondentes 1248 232 1015 1 64 304 303 221 189 165 Escolaridade Renda Ens. Fund. Ens. Méd.. Ens. Sup. Total Sem renda Até 2 S.M.Mais de 5 S.M. NS/NR Sociedade 37,2% 47,3% 47,2% 44,7% 39,5% 46,8% 45,5% 45,6% Família 38,8% 30,4% 25,8% 31,3% 32,3% 32,3% 26,4% 32,2% Trabalho 19,4% 20,6% 25,5% 21,6% 18,2% 18,2% 26,4% 15,6 Outro local 1,6% 0,3% 0,6% 0,7% 0,8% 0,8% 0,05 2,2% NS/NR 3,0% 1,4% 0,9% 1,7% 1,9% 1,9% 1,8% 4,4% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Nº de respondentes 304 622 318 1248 205 592 110 90 Ocupação Do lar Emp. Domestica Autônoma Ser. Púb. Func. Emp. Privada Est. Apos. Desemp. Sociedade 36,1% 41,3% 37,9% 43,3% 53,9% 46,9% 36,2% 48,4% Família 40,3% 37,5% 37,9% 30,2% 24,8% 14,3% 38,3% 19,4% Trabalho 19,7% 16,3% 21,3% 25,9% 20,4% 38,8% 19,1% 32,3% Outro local 0,9% 0,0% 0,6% 0,0% 0,5% 0,0% 4,3% 0,0% NS/NR 3,0% 5,0% 2,4% 0,7% 0,5% 0,0% 2,1% 0,0% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Nº de respondentes 233 80 169 139 436 49 94 21 Fonte: Brasil (2013) DataSenado Para saber se a mulher já foi vitima violência doméstica foi feita a seguinte questionamento: você já foi vítima ou sofreu algum tipo de violência doméstica provocada por um homem?(TAB. 3) sim 18,8% e não 81,3%. A faixa etária onde se encontram o maior número de mulheres que já foram vitimadas é de 40 40 a 49 anos 25,8% e as que menos foram vitimadas foram as que se encontram entre 16 a 19 anos 7,8%. TABELA 3 Você já foi vítima ou sofreu algum tipo de violência doméstica provocada por um homem? Brasil - 2013 Vítimas de violência Idade Total Sim Não NS/NR 16 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 ou mais Sim 18,8% 100% 0,0% 0,0% 7,8% 14,1% 21,1% 25,8% 20,1% 15,2% Não 81,3% 0,0% 100% 0,0% 92,2% 85,9% 78,9% 74,2% 79,4% 84,8% NS/NR 0,1% 0,0% 0,0% 100% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,5% 0,0% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Nº de respondentes 1248 232 1015 1 64 304 303 221 189 165 Escolaridade Renda Ens. Fund. Ens. Méd. Ens. Sup. Total Sem renda Até 2 S.M. Mais de 5 S.M. NS/NR Sim 23,7% 18,6% 13,5% 18,6% 14,1% 21,6% 10,9% 14,4% Não 76,0% 81,4% 86,5% 81,3% 85,9% 78,4 89,1% 84,4% NS/NR 0,3% 0,0% 0,0% 0,1% 0,0% 0,0% 0,0% 1,1% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Nº de respondentes 304 622 318 1248 205 592 110 90 Ocupação Do lar Emp. Domestica Autônoma Ser. Púb. Func. Emp. Privada Est. Apos. Desemp. Sim 19.7% 25,0% 22,5% 17,2% 17,2% 6,1% 16,0% 19,4% Não 80,3% 75,05 76,9% 82,7% 82,8% 93,9% 84,0% 80,6% NS/NR 0,05 0,0% 0,6% 0,0% 0,0% 0,05 0,05 0,0% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Nº de respondentes 223 80 169 139 436 49 94 31 Fonte: Brasil (2013) DataSenado No quarto questionamento verifica-se qual foi a motivação da agressão, os motivos foram dispostos na (TAB. 4) que segue abaixo. Onde se pode visualizar que os ciúmes é o campeão dos motivos com 28% seguido de uso de álcool 25,4%, traição 6,5%, separação 6,0%, o uso de drogas 2,6%, falta de dinheiro 0,9%, influência das amizades 0,9%, influência dos familiares 0,9%, vícios em jogos 0,4% e outros motivos 41,8%. 41 TABELA 4 O que motivou essa violência? Brasil – 2013 Vítimas de violência Idade Total Sim Não NS/NR 16 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 ou mais Ciúmes 28,0% 28,0% 0,0% 0,0% 20,0% 39,5% 31,3% 28,1% 18,4 16,0% Uso de álcool 25,4% 25,4% 0,0% 0,0% 40,0% 16,3% 18,8% 24,6% 36,8% 40% Traição 6,5% 6,5% 0,0% 0,0% 0,0% 7,0% 6,3% 3,5% 7,9% 12,0% Separação 6,0% 6,0% 0,0% 0,0% 0,0% 7,0% 10,9% 3,5% 5,3% 0,0% Uso de Drogas 2,6% 2,6% 0,0% 0,0% 0.0% 2,3% 1,6% 1,8% 5,3% 4,0% Falta de dinheiro 0,9% 0,9% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 1,6% 1,8% 0,0% 0,0% Influência das amizades 0,9% 0,9% 0,0% 0,0% 0,0% 2,3% 0,0% 1,8% 0,0% 0,0% Influência dos familiares 0,9% 0,9% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 1,6% 0,0% 2,6% 0,0% Vícios em jogo 0,4% 0,4% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0 2,6% 0,0% Outros motivos 41,8% 41,8% 0,0% 0,0% 20,0% 48,8% 40,6% 40,4% 39,5% 33,3% Escolaridade Renda Ens. Fund. Ens. Méd. Ens. Sup. Total Sem renda Até 2 S.M. Mais de 5 S.M. NS/NR Ciúmes 30,6% 31,0% 14,0% 28,0% 34,5% 31,3% 16,7% 7,7% Uso de álcool 29,2% 25,9% 18,6% 25,4% 17,2% 29,7% 33,3% 30,8% Traição 8,3% 6,0% 4,7% 6,5% 17,2% 7,0% 0,0% 0,0% Separação 2,8% 7,8% 7,0% 6,0% 3,4% 7,0% 8,3% 0,0% Uso de Drogas 0,0% 3,4% 4,7% 2,6% 3,4% 1,6% 0,0% 0,0% Falta de dinheiro 2,8% 0,0% 0,0% 0,9% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Influência das amizades 1,4% 0,0% 2,3% 0,9% 0,0% 0,8% 0,0% 0,0% Influência dos familiares 0,0% 0,0% 4,7% 0,9% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Vícios em jogo 1,4% 0,0% 0,0% 0,4% 0,0% 0,8% 0,0% 0,0% Outros motivos 33,3% 44,0% 51,2% 41,8% 41,8% 34,4% 50,0% 0,0% Ocupação Do lar Emp. Domestica Autônoma Ser. Púb. Func. Emp. Privada Est. Apos. Desemp. Ciúmes 26,1% 35,0% 42,1% 20,8% 29,3% 0,0% 6,7% 16,7% Uso de álcool 26,1% 30,0% 18,4% 25,0% 24% 66,7% 33,3% 33,3% Traição 13,05 0,0% 5,3% 0,0% 5,3% 0,0% 20,0% 0,0% Separação 2,2% 0,0% 5,3% 8,3% 12,0% 0,0% 0,0% 0,0% Uso de Drogas 4,3% 0,0% 0,0% 8,3% 2,7% 0,0% 0,0% 0,0% Falta de dinheiro 2,2% 0,0% 0,0% 0,0% 1,3% 0,0% 0,0% 0,0% Influência das amizades 2,2% 0,0% 0,0% 0,0% 1,3% 0,0% 0,0% 0,0% Influência dos familiares 2,2% 0,0% 0,0% 0,0% 1,3% 0,0% 0,0% 0,0% Vícios em jogo 0,0% 5,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Outros motivos 38,1% 40,0% 42,1 50,0% 41,3% 33,3% 40,0% 16,7% Fonte: Brasil (2013) DataSenado 42 E por ultimo é necessário verificar se a vitima ainda convive com o seu agressor após o ato de violência, esses dados estão descritos na (TAB. 5), onde temos que 31% ainda convivem com seu algoz e 69,0% das mulheres pesquisadas não convivem. TABELA 5 Você ainda convive com ele? Brasil – 2013 Vítimas de violência Idade Total Sim Não NS/NR 16 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 ou mais Sim 31,0% 31,0% 0,0% 0,0% 40,0% 31,6% 33,3% 24,6% 38,2% 26,3% Não 69,0% 69,0% 0,0% 0,0% 60,0% 68,4% 66,7% 75,4% 61,8% 73,7% NS/NR 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Total 100% 100% 0,0% 0,0% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Nº de respondentes 210 210 0 0 5 38 57 57 34 19 Escolaridade Renda Ens. Fund. Ens. Méd. Ens. Sup. Total Sem renda Até 2 S.M. Mais de 5 S.M. NS/NR Sim 30,3% 31,7% 25,0% 31,0% 40,7% 30,2% 36,45 11,1% Não 69,7% 67,3% 75,0% 69,0% 59,3% 69,8% 63,6% 88,9% NS/NR 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Nº de respondentes 66 107 36 210 27 116 11 9 Ocupação Do lar Emp. Domestica Autônoma Ser. Púb. Func. Emp. Privada Est. Apos. Desemp. Sim 41,5% 27,8% 35,1% 28,5% 23,2% 50,0% 25,0% 33,3% Não 58,5% 72,2% 64,9% 71,4% 76,8% 50,0% 75,0% 66,7% NS/NR 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Nº de respondentes 41 18 37 21 69 2 12 6 Fonte: Brasil (2013) DataSenado 5 CONSEQUÊNCIAS PARA A VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Toda forma de violência trás consigo consequências para a vítima, isto é, ocasiona problemas em sua saúde física, mental e social12. Os pesquisadores somente puderam chegar a esta conclusão devido à mudança na forma de tratamento para com a vítima. Por muito tempo a preocupação foi somente em punir o autor, mas graças ao surgimento da vitimologia13 a atenção passou a ser compartilhada entre o autor do delito e a vitima quem o sofreu.Observa-se no gráfico abaixo os dados referentes ao tipo de violência sofrida pelas mulheres vítimas de violência doméstica. GRÁFICO 7 Tipos de violência sofrida dentre as mulheres que declaram ter sido agredidas Brasil - 2009 - 2013 Fonte: DataSenado (2013) Segundo Fonseca (2012) a violência doméstica diminui drasticamente a qualidade de vida das mulheres, atingindo desta forma negativamente sua saúde física, psicológica e principalmente a social. Desta forma faz com que as vítimas se isolarem cada vez mais, e perderem gradativamente sua rede de apoio, tornando-se 12 Saúde Social é capacidade de interagir com outras pessoas e prosperar em ambientes sociais. 13 Vitimologia é ciência que estuda vítimas – não somente vítimas de crime, mas vítimas em geral; os direitos humanos darão uma visão de vítimas antes ignorada. Para a vitimologia atual, promover direitos das vítimas depende de promover direitos humanos em geral. 44 vulneráveis e com poucas estratégias de enfrentamento, sendo cada vez mais difícil quebrar o ciclo da violência doméstica. De acordo com Fonseca e Lucas (2012) A mulher vitima de violência domestica sofre de distúrbios em vários campos de sua vida, tais como: no Trabalho, nas relações sociais e na saúde (física e psicológica). Ribeiro & Coutinho (2011)14 apud Fonseca (2012) nos demonstra dados do Banco do Mundial, eis aqui alguns deles: a) um em cada cinco dias de falta ao trabalho é causado pela violência sofrida pelas mulheres dentro de suas casas; b) a cada cinco anos, a mulher perde um ano de vida saudável se ela sofre violência doméstica; c) na América Latina, a violência doméstica atinge entre 25% a 50% das mulheres; d) uma mulher que sofre violência doméstica geralmente ganha menos do que aquela que não vive em situação de violência; e) estima-se que o custo da violência doméstica oscila entre 1,6% e 2% do PIB de um país, fatos esses que demonstram que a violência contra a mulher sai do âmbito familiar e atinge a sociedade como um todo, configurando-se em fator que desestrutura o tecido social. 5.1 Consequências físicas para a vitima de violência doméstica De acordo com Garbin (2006) a lesão corporal pode ser consequências de agressões físicas, tais como socos, chutes, tapas, violência sexual ou agressões com qualquer tipo de objeto que possa machucar ou prejudicar a saúde da pessoa. Os instrumentos mais utilizados para causar danos físicos na vitimas são os contundentes15. A lesão corporal pode ser de natureza leve, grave ou gravíssima conforme prevê o art. 129 do CP (Código Penal)16. 14 Ribeiro, C. G. & Coutinho, M. L. L. (2011). Representações sociais de mulheres vítimas de violência doméstica na cidade de João Pessoa-PB. Psicologia e Saúde, 3(1), 52-59. 15 Contundente segundo o dicionário digital Aulete é o objeto capaz de causar contusão. 16 BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei nº. 2.848, de 07 de dezembro de 1940. 45 Lesões leves serão as lesões não tidas como grave ou gravíssima. Os resultados são equimoses17, escoriações e feridas contusas. Lesão grave assim será considerada se causar: Incapacidade para as ocupações habituais normais durante 30 dias, ou debilidade permanente de membros, sentido ou funções. Segundo Almeida a definição de incapacidade é: A debilidade é a perda de força ou enfraquecimento, resultado de um dano anatômico ou funcional, portanto, as funções passíveis de debilitação são as atividades de órgão ou aparelhos do corpo humano. (rins, coração, olhos, ouvidos e mastigação). (2011) 18 Nucci (2011) doutrina que a incapacidade deve compreender toda e qualquer atividade e não somente as remuneradas, enquadrando-se neste conceito o simples lazer. Para tanto a incapacidade cessa quando a vitima esta apta o realizar as suas atividades rotineiras. Também é considerada como lesão grave a aceleração do parto, que de acordo com Almeida (2011)19 é a expulsão do feto não respeitando o devido processo de maturação, tal lesão tem caráter físico e psíquico, visto que causa grande impacto psicológico na vitima. As lesões gravíssimas são as que expõem a vitima a um elevado grau de risco de vida. Almeida define as lesões gravíssimas desta forma: “feridas penetrantes do abdômen e do tórax; hemorragias abundantes; estados de choque; queimaduras generalizadas; fraturas de crânio e da coluna vertebral.” (Almeida, 2001)20 . Debilidade permanente de membro, sentido ou função consoante Almeida é: Ocorre quando há perda de força, o enfraquecimento, resultante de um dano anatômico ou funcional. Inclui-se ainda nesta categoria a perda de um ou dois dedos, os membros, braços e pernas, são os apêndices do corpo, podendo ficar debilitados permanentemente em consequência de lesões. Os Sentidos são visão, audição, tato, olfato e paladar, mecanismos sensoriais responsáveis pelo relacionamento do indivíduo com o mundo, podem ser afetados causado por traumas direto sobre um desses órgãos, ou no crânio, embora, os órgãos como, rins, coração, olhos, ouvidos, 17 Mancha na pele, depois de contusão ou impacto, motivada por sangramento interno. 18 Documento não paginado. 19 Documento não paginado. 20 Documento não paginado. 46 mastigação, também ficam passiveis de parcial debilitação. A Incapacidade pode ser permanente para o trabalho, sendo definitiva, porem a Lei trata de qualquer atividade, não apenas ao trabalho específico da vítima. A enfermidade Incurável é qualquer estado mórbido de lenta evolução, que venha a resultar na morte da vítima ou que, mesmo tendo cura, está se dê em longo prazo. Perda ou Inutilização: de membros, sentido ou função: decorre da mutilação ou inutilização permanente de membro, sentido ou função. Mesmo que continue existindo o apêndice físico sua inoperância, ou perdas de funcionamento caracteriza o tipo penal. Deformidade Permanente: os danos aparentes, estéticos, que afetem a subjetividade da vítima, aborrecendo ou causando-lhes incômodo; podendo inclusive afetar sua autoestima. Aborto: a situação aqui descrita faz referência ao aborto preterintencional, quando o agente quer apenas lesionar a vítima, más acaba provocando o aborto. (Almeida, 2011) 21 . 5.2 Consequências psicológicas para a vitima de violência Doméstica As consequências psicológicas podem ter resultado das agressões como também podem aparecer de forma isolada na vitima. Para tanto Fonseca (2012) nos traz um rol exemplificativo de algumas enfermidades psicológicas, dentre as quais são elencadas o estresse pós-traumático, depressão, ansiedade, fobias. Estresse pós-traumático é a enfermidade adquirida após o paciente ser vitima de situações tais como ameaça à vida ou à integridade física de si própria ou de pessoas a ele afetivamente ligadas. Câmara Filho (2001) nos diz que são exemplos dessas situações, assaltos; sequestro; estupros; entre outros. É característica deste tipo de problema psicológico o fato traumático ser lembrado recorrentemente através de flashback22. Depressão configura-se como uma doença que afeta o sistema nervoso central, causando alterações nos campos da emoção, percepção, pensamento e comportamento do indivíduo, causando grande sofrimento emocional. Ela faz com que o paciente tenha sentimento de culpa e tristeza profunda. Segundo
Compartilhar