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Aspectos que marcam vida e obra de Lutero

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1
Alguns aspectos especiais que 
marcam a vida e a obra de Lutero
Clóvis Jair Prunzel
Introdução
Há uma frase de Arquimedes, filósofo e matemático grego, que diz: “Dê-me 
uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo”. 
Ao destacarmos aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero, 
queremos aprender algumas alavancas que Lutero usou e qual o seu ponto de 
apoio para mover o mundo em seu tempo e grande parte da segunda metade do 
milênio passado. Considerado a terceira personalidade do milênio passado pela 
revista norte-americana Life,1 atrás de Thomas Edison e Cristóvão Colombo, e 
pelo jornal canadense Toronto Globe & Mail como a segunda personalidade do 
milênio passado, atrás de Albert Einstein,2 Lutero usou ferramentas apropriadas 
no seu tempo, como a imprensa, a formação humanística, o ideal renascentista 
e a Escritura Sagrada como ponto de apoio para mover o mundo. 
1 A lista da revista | Life pode ser encontrada no endereço: http://www.life.com/Life/millennium/
people/01.html 
2 A lista pode ser consultada em http://www.adherents.com/people/100_millennium.html |
10 Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
O presente capítulo é dividido em três partes: de 1483 a 1521, em que 
caracterizamos alguns aspectos que conduziram Lutero até a Reforma da Igreja; 
de 1521 a 1532, caracterizados pelos contornos e definição de Reforma propostos 
por Lutero; e de 1532 a 1546, período em que Lutero luta para preservar a 
identidade da Igreja.3 
1.1 1483 a 1521 – A caminho da Reforma
Filho de uma família que ascendeu socialmente, da agricultura para a 
mineração, Lutero cresceu em um ambiente de classe média. Entre os 8 irmãos, 
Lutero foi o segundo. Nascido em Eisleben, cidade com 4 mil habitantes, criado 
até os 14 anos em Mansfeld, cidade com 2 mil habitantes.
Das relações familiares de sua infância, Lutero não guardou boas recordações. 
A rigidez dos pais por causa de sua concepção teológica (o castigo aplicado era 
uma punição pelos “pecados” praticados pelos filhos) ajudou Lutero a reavaliar 
sua relação com sua esposa e seus próprios filhos. Muito do que Lutero irá 
dizer sobre relações familiares é uma resposta à sua própria experiência com 
seus pais.4
A concepção teológica de Lutero da relação pai-filho mudou quando ele 
entendeu o significado do Quarto Mandamento a partir da vocação cristã. 
Quando da entrada no mosteiro, em 1505, a relação com o pai ficou extremada 
porque o pai queria que o filho fosse advogado. Mas Lutero o desobedeceu, 
escolhendo a vida monástica. Lutero reavaliou sua posição em 1521, 
reconhecendo o papel do pai no Quarto Mandamento e o dever do filho de 
obedecê-lo, e esta obediência está acima dos votos monásticos.5 Pessoalmente, 
3 Estas três partes refletem a biografia de Lutero escrita por Martin Brecht, nos seus três |
volumes. 
4 Em uma carta escrita a seu filho Hans durante sua estada em Coburgo, durante a Dieta de |
Augsburgo, Lutero demonstra seu lado paternal: mesmo sendo um pai severo, era ao mesmo 
tempo amigos dos filhos. O pai Lutero acompanhava seus filhos e dedicava tempo a eles. 
Utilizava-se da música para um maior entretenimento dos filhos. Ver LUTERO, Martinho. Pelo 
Evangelho de Cristo (PEC) 335.
5 Durante sua estada no Wartburgo, Lutero publicou em 1521 | O Julgamento de Martinho Lutero sobre 
os votos monásticos, WA 8, 573, dedicando a obra ao seu pai. Repudiou os votos monásticos por 
cinco motivos: não são ordenados por Deus e ir além do que Cristo ordena não é fé, mas pecado; 
os votos monásticos entram em conflito com a fé, pois valorizam as obras, negando o valor do 
sacrifício de Cristo; os votos permanentes e obrigatórios violam a liberdade cristã. A vida no 
11Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
as relações do pai com Lutero voltaram à normalidade após o casamento de 
Lutero em 1525. Agora Lutero poderia lhe dar um neto.
Enquanto que seus pais nunca aprenderam a ler e escrever, Lutero e seus 
irmãos tiveram a melhor educação da época. A ascensão econômica dos pais 
em Mansfeld proporcionou um estudo fundamental apropriado para Lutero. O 
Trivium – gramática, lógica e retórica – e a música foram as principais habilidades 
que Lutero adquiriu na educação primária. Aqui temos a primeira experiência 
de Lutero com o humanismo. Mais tarde, quando Lutero e seus colegas em 
Wittenberg retiraram a formação escolástica da universidade, implantando 
as ferramentas do humanismo na formação teológica, a retórica clássica foi 
adicionada ao grego, hebraico e latim.6 Também, na pedagogia presente nos 
Catecismos, Lutero remonta ao humanismo aprendido nas suas experiências 
educacionais básicas.7 
As condições econômicas da família também levaram Lutero à Universidade 
em Erfurt. O trote dos calouros na Universidade era vesti-los com uma máscara 
de macaco com dentes de porco. Através desta cerimônia de iniciação, os alunos 
saíam do animalismo irracional e entravam para o mundo da racionabilidade, o 
mundo acadêmico. A experiência de quatro anos (1501-1505) no humanismo 
renascentista na Universidade também foi crucial para Lutero, especialmente 
quando teve que tratar o assunto da capacidade do homem em questões 
espirituais no debate com Erasmo.8 
mosteiro pode ser escolhida livremente, mas não é superior à vida de cristãos que trabalham 
no campo ou nas manufaturas; os votos monásticos transgridem o primeiro mandamento, pois 
substituem fé por obras, elevam os fundadores das ordens monásticas acima de Cristo e negam 
a responsabilidade do cristão para com o próximo; os votos vão contra o bom senso, pois, 
quando há motivos que tornam impossível o cumprimento de outros votos, são concedidas 
dispensas. Mas não se faz o mesmo no caso do celibato.
6 JUNGHANS, Helmar. “Luther’s Wittenberg.” In: MCKIM, Donald. | The Cambrigde Companion to 
Martin Luther, p.26. 
7 VEITH JR., Gene Edward. | A Place to Stand. The Word of God in the Life of Martin Luther, p.109, 
caracteriza o método de Lutero a partir das técnicas da educação clássica, o trivium: primeiro, 
aprendendo o básico de coração (gramática), segundo, entendendo o seu significado através 
da dialética, respondendo à pergunta: “O que significa isto?” (lógica) e, terceiro, assumindo 
e confessando diante da Igreja (retórica). O sucesso do Catecismo deveu-se a esta estrutura 
simples, sucinta, eloquente e profunda. Ver também VEITH JR., Gene Edward. “Catequese, 
Pregação e Vocação.” In: BOICE, James (editor). A Reforma Hoje. Uma convocação feita pelos 
Evangélicos Confessionais, p.75-93.
8 A resposta de Lutero a Erasmo quanto a suas proposições reformatórias estão no | De Servo 
Arbitrio de 1525. Para uma análise deste confronto, ver PRUNZEL, Clóvis Jair. “Lutero e Erasmo: 
o contato e a Divergência.” In: Igreja Luterana, 1994/2, p.159-178, e PRUNZEL, Clóvis Jair. “A 
12 Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
Seis meses após concluir seu mestrado em artes, Lutero entrou no Mosteiro 
Agostiniano em Erfurt, o mais conservador da cidade. Treinado na teologia 
escolástica, que refletia a ética aristotélica, Lutero viu nesta atitude uma forma 
de minimizar seus problemas com Deus.9 Através dos votos monásticos 
da castidade, pobreza e obediência, Lutero tentou resolver seus problemas. 
Posteriormente, com consciência, Lutero iria afirmar que era o medo do juízo 
de Deus Todo-Poderoso, o pantocrator, o medo da prestação de contas no dia 
do Juízo Final. Era mais a alma do que o corpo que preocupava Lutero.
Desde a entrada no mosteiro até a descoberta no texto bíblico da salvação 
pela graça em Cristo Jesus, Lutero teve a oportunidade de se aprofundar no 
escolasticismo teológico, através da leitura de textos que explicavam a Bíblia. 
Uma viagem a Roma também foi marcante para Lutero. A teologia medieval, do 
pagamento dos pecados através dasobras/sacrifícios humanas, ficou acentuada 
nesta visita. 
Após seu doutorado em Teologia, em 1512, Lutero se sentiu pressionado em 
relação à prática teológica corrente. Com ferramentas apropriadas aprendidas no 
humanismo e com responsabilidade de ser professor de Bíblia, Lutero começou 
a questionar práticas da Igreja. 
Suas aulas iniciais na recém-fundada Universidade de Wittenberg (1502) 
foram as leituras nos Salmos (1513/14), Romanos (1515/16), Gálatas (1516/17) 
e Hebreus (1517/18). Foi durante suas leituras nos Salmos que ele teve a 
“experiência na torre”, na qual percebeu o significado da “justiça de Deus através 
da fé em Cristo” do texto de Paulo. E esta descoberta levou Lutero à conclusão 
de que a fonte do estudo teológico não é a teologia escolástica e sim a Escritura 
Sagrada. A partir de 1516, com o surgimento do texto grego de Erasmo, Lutero 
começou a apontar problemas na tradução latina, a Vulgata. Também, apontou 
relação entre Lutero e Erasmo na área da educação.” In: HEIMANN, Leopoldo (org.). Lutero, 
o Educador. Fórum ULBRA de Teologia – volume 2, p.29-36. As consequências deste escrito 
levaram a uma separação do humanismo teológico do humanismo secular. A capacidade do 
homem em questões espirituais defendidas por Erasmo foi rechaçada por Lutero. O número de 
alunos na Universidade Wittenberg caiu drasticamente após este embate; muitos perceberam 
que o interesse de Lutero era teológico e não humanista.
9 ELERT, Werner. | The Structure of Lutheranism. Saint Louis: Concordia, 2000, dedica o primeiro 
capítulo de sua obra para descrever esta situação de Lutero até chegar ao consolo do Evangelho. 
Quando razão e culpa não fazem mais efeito, entra aí o evangelho, com sua doce Boa Nova.
13Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
problemas na própria edição grega de Erasmo, especialmente no texto de 
Romanos 3.
Este princípio hermenêutico que Lutero estava usando trouxe à tona o seu 
primeiro escrito importante: Debate sobre a Teologia Escolástica.10 Nele propõe 
desbancar a teologia baseada em Aristóteles e na razão humana e colocar Cristo 
como o centro da mesma. 
O passo seguinte foi atacar as indulgências como fonte de recursos 
financeiros. O que estava em jogo nas assim chamadas 95 teses11 não era o poder 
e a autoridade do papa, mas sim a salvação gratuita encontrada em Cristo. 
A produção de Lutero nesta época caracteriza-se por demonstrar como 
uma teologia centrada na Bíblia pode ser feita e praticada. Se observarmos 
atentamente os escritos de 1520,12 vamos perceber que Lutero tinha uma intenção 
bem pastoral e, por causa desta praticidade teológica, o alcance de seus escritos 
foi além dos muros eclesiásticos e universitários; atingiu a sociedade em todos 
os seus setores: economia, política, educação, etc. 
Com toda esta produção, sobrou para Lutero. Em meados de 1521, Lutero foi 
considerado herege pela Igreja13 e fora da lei pelo Estado.14 Foi diante do Imperador 
em Worms que Lutero pronunciou as palavras: “Como Vossa Majestade e Vossas 
Altezas exigem de mim uma resposta simples, quero dar uma tal sem chifres e 
dentes. Caso não for convencido por testemunhos da Escritura e por motivos 
racionais evidentes – pois não creio nem no papa nem nos Concílios, pois é 
evidente que erraram muitas vezes e se contradisseram –, estou convencido, pelas 
passagens da Sagrada Escritura que mencionei, e minha consciência está presa à 
Palavra de Deus e não posso nem quero revogar qualquer coisa, pois não é sem 
perigo nem salutar agir contra a consciência. De outra maneira não posso, aqui 
estou, que Deus me ajude, amém”.15
10 | Ver Obras Selecionadas I, 13ss.
11 | “Debate para o Esclarecimento do Valor das Indulgências.” In: Obras Selecionadas I, 21ss.
12 | O conjunto das obras que compõem o programa da reforma de Lutero está no volume 2 das 
Obras Selecionadas em português. 
13 | O papa Leão X excomungou Lutero através da bula Decent Romanum Pontificem de 3 de janeiro 
de 1521. 
14 | Lutero compareceu perante o Imperador Carlos V na Dieta de Worms, em abril de 1521. No dia 
18 de abril foi considerado um fora da lei. 
15 | Conforme DREHER, Martin. “Lutero e a Dieta de Worms de 1521.” In: DREHER, Martin (org.). 
Reflexões em Torno de Lutero II, p.87.
14 Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
1.2 1521 a 1532 – Contornos e definição 
de Reforma
Contando com o apoio do príncipe eleitor da Saxônia, Lutero saiu de 
circulação por algum tempo. O objetivo principal do tempo que permaneceu 
no Wartburgo foi de providenciar mais conteúdo ao programa de reforma. Sem 
dúvida, foi o período que Lutero mais produziu. 
Do período no Wartburgo se destacam a Tradução do Novo Testamento, 
as Apostilhas para a Igreja, o Magnificat, a Refutação do Parecer de Látomo, o 
Tratado sobre os Votos Monásticos. 
Com todo o conhecimento linguístico e com ferramentas apropriadas, Lutero 
traduziu o Novo Testamento para a língua do povo alemão. A versão circulou 
em setembro de 1522. Como prática, Lutero não cobrou pelos direitos autorais 
da produção do texto bíblico, prática esta que manteve até o final de sua vida. 
Ele sabia o custo de uma Bíblia para o povo comum.16 A primeira Bíblia que ele 
encontrou foi na Biblioteca da Universidade em Erfurt e ela estava acorrentada 
por causa de seu valor: equivalia a um ano de trabalho de um trabalhador 
comum. O Antigo Testamento foi impresso em partes, a partir da metade de 
1523, sendo concluído em 1532. A edição completa do texto bíblico foi publicada 
em 1534. Nesse meio tempo, Lutero editou 85 versões do Novo Testamento. 
Antes de morrer, Lutero publicou mais uma vez o texto bíblico completo, em 
1545. Calcula-se que foram vendidas mais de 100.000 Bíblias em 15 anos só na 
cidade de Wittenberg. Também havia as edições clandestinas da Bíblia. Muitas 
gráficas enriqueceram com a publicação das Bíblias de Lutero.
Para esta tarefa árdua, Lutero contou com a ajuda de um Colégio Bíblico que 
se reunia em sua casa em Wittenberg para auxiliá-lo na tradução. Comenta 
16 | Segundo JUNGHANS, Helmar. “Catarina Lutero à luz e sombra da Reforma.” In: JUNGHANS, 
Helmar. Temas da Teologia de Lutero, p.180, “Lutero é o escritor de maior êxito do século XVI. 
Ele poderia receber uma considerável quantia de florins por isso. Mas não quer: ‘Eu quero pregar 
e escrever de graça por desprezo do mundo, para que o mundo veja que é possível alguém fazer 
algo de bom sem soberba, e sim simplesmente por ser cristão’ (WA TR 2, 24, 20-21). Quando 
os tipógrafos de Wittenberg lhe ofereceram 400 florins por ano – isto é o mesmo que o seu 
salário anual – ele não aceita vender a graça de Deus, isto é, o que recebeu de Deus. Catarina, 
que precisa se preocupar com as finanças do crescente orçamento doméstico, vê isso de outra 
forma, mas aceita a posição de Lutero”. A edição crítica de Weimar (aqui citada como WA) é 
composta de 127 volumes, totalizando 75 mil páginas de texto. 
15Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
Lutero que muitas vezes precisaram investir até um mês na tradução de uma 
simples palavra.17 
Justificando o uso do termo solum na passagem de Romanos 3.28, que não 
consta no original, Lutero afirma: “aqui em Romanos 3.28, eu sabia muito bem 
que no texto latino e grego não consta a palavra solum. Isso os papistas não 
precisavam me ensinar. É verdade, estas quatro letras sola não constam ali, 
letras essas que os burros enxergam como uma vaca enxerga uma porteira nova, 
mas não veem que, mesmo assim, elas contêm o sentido do texto, e quando 
se quer traduzir com clareza e contundência, é preciso incluí-las, pois eu quis 
falar alemão, e não latim nem grego, uma vez que me propusera traduzir para o 
alemão. E esse é o estilo do nosso idioma alemão: quando se fala de duas coisas, 
das quais uma é afirmada, a outra negada,utiliza-se a palavra solum (allein, além 
da palavra nicht ou kein), como quando se diz: ‘colono traz somente grãos, e 
nenhum dinheiro’; ‘não, agora não tenho dinheiro mesmo, mas somente grão’; 
‘eu somente comi, ainda não bebi’; ‘você somente escreveu e não leu?’”.18
Outro exemplo do trabalho na tradução é a explicação para a expressão “Salve, 
Maria, cheia de graça, o Senhor seja contigo” (Lc 1.28), texto da Vulgata. Comenta 
Lutero: “Pois bem, assim é que se traduziu até agora, simplesmente seguindo 
a letra latina. Mas diga-me: isso é bom alemão? Quando o alemão fala assim: 
‘estás cheia de graça’? Qual o patrício que vai entender o que significa ‘cheia de 
graça’? Ele vai pensar num barril cheio de cerveja, ou num saco cheio de dinheiro; 
por isso eu traduzi: ‘graciosa’ (holdselige), de modo que um alemão conseguirá 
associar melhor com o sentido pretendido pelo anjo em sua saudação. Mas aí os 
papistas ficam doidos comigo, por ter adulterado a saudação angelical. Isso que 
ainda não consegui acertar a melhor formulação alemã. E se eu tivesse tomado 
a melhor formulação vernácula, traduzindo da seguinte maneira a saudação: 
‘Deus te abençoe, querida Maria’ (Gott grusse dich, liebe Maria) (pois isso é o 
que o anjo quer dizer, e assim teria falado, se quisesse saudar em nossa língua), 
acredito que eles se teriam arrancado os cabelos, devido à sua grande devoção 
para com a querida Maria, por eu ter arrasado de tal maneira a saudação”.19
17 | Ver “Carta Aberta do Dr. Martinho Lutero a respeito da Tradução e Intercessão dos Santos.” In: 
Obras Selecionadas 8, 210. 
18 | Obra citada, 211.
19 | Obra citada, 212, 213.
16 Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
Deste período na vida e na obra de Lutero, outro destaque são os debates e 
controvérsias nas quais Lutero teve que se envolver. Do já citado embate com 
Erasmo e do escrito contra Látomo, as principais controvérsias e os debates na 
década de 1520 foram com outros reformadores. 
O primeiro momento crucial foi o apagar do fogo em Wittenberg provocado 
pelos Entusiastas, liderados por Karlstadt, colega de Lutero. Para acalmar o ânimo 
da população e mostrar que tipo de reforma Lutero estava propondo, retorna de 
Wartburgo no início de 1522 e pronuncia uma série de sermões, os chamados 
Sermões de Invocavit.20 São oito sermões pregados e no segundo sermão há 
uma célebre frase de Lutero que bem caracteriza a reforma por ele proposta: 
“Eu preguei, falei, escrevi mas a ninguém forcei; porque a fé é voluntária. 
Tomem-me como exemplo. Eu me levantei contra o papa, as indulgências e 
todos os papistas, mas sem violência ou coação. Somente anunciei a Palavra 
de Deus, nada mais. E enquanto eu estava dormindo, ou bebendo cerveja com 
Melachthon e Amsdorf, a Palavra de Deus agiu nos príncipes e no imperador. 
Nada fiz, mas a Palavra fez tudo. Se tivesse apelado à força, toda a Alemanha 
estaria ensanguentada. [...] Fiquei quieto e deixei que a Palavra tomasse livre 
curso através do mundo. Você sabe o que o Diabo pensa quando vê homens que 
usam a violência para propagar o evangelho? Ele, sentando no fogo do inferno 
com suas armas, e diz com um olhar maligno: “ah, como estes homens fazem 
o meu jogo; e eu adoro isso”. Quando somente a Palavra é anunciada, é ela que 
faz o campo de batalha estremecer e abalar de medo. Só a poderosa Palavra de 
Deus pode mover os corações”.21
Estas sábias palavras não foram suficientes. Três anos mais tarde, em 1525, 
Karlstadt e Müntzer conduziram os camponeses numa revolta contra os príncipes. 
Estima-se que até 100 mil pessoas morreram durante a revolta.22 Aqui cabe um 
dado interessante. Na noite de núpcias de Lutero com Catarina, no dia 27 de 
junho de 1525, quem bate à porta do casal nubente? Karlstadt, como fugitivo 
20 | PRUNZEL, Clóvis Jair. “Análise retórica do sermão de Invocavit de Lutero.” In: Igreja Luterana, 
2004, 1, p.85-95.
21 | Traduzido a partir de VEITH JR., Edward Gene. A Place to Stand. The Word of God in the Life of 
Martin Luther, p.84,85.
22 | Este número pode ser exagerado.
17Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
de guerra. Lutero fez um acordo com Karlstadt, que nunca mais poderia pregar, 
escrever e ensinar. O casal manteve Karlstadt em sua casa por oito semanas.23
Outro momento decisivo para Lutero e seus colaboradores foram as disputas 
teológicas com os sacramentários. O auge desta disputa foi o Colóquio de 
Marburgo, em 1529. A partir daí, nitidamente a reforma protestante se dividiu 
em dois grupos, os reformados e os evangélicos ou luteranos. De certa forma, 
os assuntos sobre a Palavra de Deus e sua interpretação, relacionada com os 
sacramentos, foi o grande divisor de águas.24 
Fora os problemas teológicos com Roma e os Sacramentários/Reformados, 
Lutero se apaixonou pela prática pastoral e pela organização de uma sociedade 
ética a partir da vocação cristã. A sua doutrina dos dois reinos, separando Igreja 
e Estado, se mostrou apropriada para trabalhar o que Deus oferece gratuitamente 
em Cristo e a responsabilidade cristã no dia a dia. 
A vida na Igreja já foi preocupação para Lutero desde sua chegada em 
Wittenberg em 1512.25 Além de professor universitário, fora chamado para ser 
pregador (em 1514 assume o posto de pregador). Além das apostilas para uso 
na igreja preparadas enquanto esteve no Wartburgo, do Catecismo em 1529 e 
da Bíblia, Lutero foi um intenso pregador. Chegou a pregar 121 vezes em um 
ano.26 Escreveu 37 hinos a partir de 1523. Só no ano de 1524 foram 21 hinos. 
Os dois últimos, em 1543, dois anos antes de sua morte.27
O ministério pastoral foi clarificado por Lutero. O papel dos ministros 
evangélicos e seu contínuo estudo teológico foram notabilizados nas palavras de 
Lutero registradas no Prefácio ao Catecismo Maior: “[...] Peço a todos os cristãos, 
especialmente aos pastores e pregadores, que não queiram ser doutores muito 
cedo e não imaginem que sabem tudo. Presunção e tecido novo encolhem muito. 
Antes, exercitem-se bem nesses estudos diariamente e sempre os inculquem. 
23 | VEITH JR., Gene Edward. A Place to Stand. The Word of God in the Life of Martin Luther, 
p.106.
24 | SASSE, Hermann. Isto é o meu corpo retrata a luta de Lutero em defesa da presença real de 
Cristo no Sacramento do Altar. 
25 | O volume 8 das Obras Selecionadas reproduz obras essenciais para entendermos como Lutero 
queria uma comunidade evangélica. 
26 | VEITH JR., Gene Edward. A Place to Stand. The Word of God in the Life of Martin Luther, 
p.89.
27 | VEITH JR., Gene Edward. A Place to Stand. The Word of God in the Life of Martin Luther, 
p.112.
18 Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
Acautelem-se, além disso, com todo cuidado e diligência, contra o venenoso 
material contagiante daquela segurança ou presunção. Perseverem em ler, 
ensinar, aprender, meditar e refletir, e não desistam até fazerem a experiência e 
adquirirem a certeza de que matariam o diabo de tanto lecionar e se tornaram 
mais sábios que o próprio Deus e todos os santos. Se aplicarem tal diligência, 
prometo-lhes – e eles hão de percebê-lo – que alcançarão grande fruto e que Deus 
fará deles pessoas excelentes. Com o passar do tempo, eles mesmos bem hão de 
confessar que, quanto mais estudam o Catecismo, tanto menos dele conhecem e 
tanto mais têm de aprender. E só então, como a famintos e sedentos, lhes há de 
saber bem o que agora, por grande plenitude e saciedade, não podem cheirar. 
Que Deus conceda sua graça para isso. Amém”.28
A ordem na Comunidade também seria estabelecida com a não aceitação de 
ministros intrusos e clandestinos. Contra estes, Lutero defende um ministério 
a partir da ordenação e vocação, que tem a autoridade e a responsabilidade de 
pregar e ensinar a pura pregação e doutrina.29
Outro aspecto importante destacado por Lutero na administraçãoeclesiástica 
foi o caixa comunitário. No princípio da liberdade para servir, Lutero estimulou 
a organização de fundos para ajudar as pessoas necessitadas que circulavam nas 
cidades e para a manutenção do trabalho dos pregadores e diáconos. Enquanto 
estava no mosteiro em Erfurt, Lutero perceberá o papel da Igreja na época: um 
banco. As transações financeiras organizadas pela Igreja de Roma e reproduzidas 
nos mosteiros foram atacadas em outros momentos. A ganância e a falta de 
justiça e equidade precisavam ser atacadas e nada melhor do que a postura da 
Igreja evangélica para fazê-lo. A organização da Igreja seria um modelo para a 
organização social.30 
O reconhecimento social de Lutero em nossos dias, como uma personalidade 
do milênio passado, sem dúvida tem suas razões. Lutero mexeu nas feridas da 
sociedade de sua época. A partir de sua antropologia teológica, desenvolveu 
uma ética mais instrumental e vocacional. Se diante de Deus estou nu, diante 
28 | “Catecismo Maior”, in Obras Selecionadas 8, p.329.
29 | No escrito “Carta do Dr. Martinho Lutero sobre os Intrusos e Pregadores Clandestinos”, in Obras 
Selecionadas 8, p.114, Lutero veementemente ataca os pregadores intrusos e clandestinos. 
30 | Para ampliar a visão de Lutero sobre a organização da Igreja quando a aspectos econômicos, 
ver PRUNZEL, Clóvis Jair. “Economia e Manutenção do Trabalho da Igreja a partir de Lutero e 
das Confissões Luteranas”, in Igreja Luterana, 2005, 2, p.51-63.
19Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
do próximo tenho o que fazer. Governantes, políticos, banqueiros, professores 
foram avaliados e receberam de Lutero um estímulo a cumprirem seus papéis 
de forma apropriada. “A ética de Lutero afirma que a fé não apenas se apega a 
Cristo para a salvação, mas também discerne um sentido mais profundo nas 
estruturas normais ou ordinárias da vida. [...] somos obrigados a uma família 
específica e uma ocupação específica com todos os papéis prescritos que são 
exigidos pelos lugares de responsabilidade. [...] Enquanto comprometidos com 
suas responsabilidades individuais, os cristãos não apenas correspondem às 
exigências que o mundo estabelece para essas vocações; eles vão além. Esta é a 
ação dinâmica do amor.”31
A compreensão das duas maneiras que Deus tem de governar não pode 
ser separada em termos espaciais ou existenciais; para Lutero, elas interagem 
de maneira criativa. Na medida em que fé, amor e esperança são acessos no 
coração dos cristãos, pelo Espírito, eles vão praticar essas virtudes dentro e 
através das vocações seculares que lhe foram dadas. Essas virtudes impulsionadas 
pelo Espírito afetarão os papéis de responsabilidade que os cristãos têm como 
membros de família, trabalhadores, cidadãos e membros da Igreja. Eles farão 
dessas responsabilidades seculares verdadeiras vocações cristãs. O amor criativo 
de Deus entra no mundo através do exercício da vocação cristã.32 
Dentro desta dinâmica, Lutero se sentiu à vontade para solicitar que 
pastores pregassem contra a usura33 e que governantes ajudassem na difusão 
do trabalho da Igreja.34 Lutero aqui aplicou o princípio da equidade, quando 
emergencialmente um regimento poderia intervir no outro. 
31 | Para aprofundar a visão ética de Lutero, consultar os volumes 5 e 6 das Obras Selecionadas. 
Ver também PRUNZEL, Clóvis Jair. “A arte de viver da fé – a ética luterana em perspectiva.” 
In: WACHHOLZ, Wilhelm. Identidade Evangélico-Luterana e Ética. Anais do III Simpósio sobre 
Identidade Evangélico-Luterana, p.27-44.
32 | WINGREN, Gustaf. A Vocação segundo Lutero é uma boa leitura para ampliarmos esta visão de 
Lutero.
33 | Por exemplo, “Aos pastores, para que preguem contra a Usura”, in Obras Selecionadas 5, 
p.446.
34 | As visitações feitas entre os anos de 1526 e 1528 foram bancadas pelos governantes. 
20 Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
1.3 1532 a 1546 – Preservando a identidade 
da Reforma
A década de 1530 iniciou com a convocação dos Evangélicos/Luteranos 
para comparecerem na Dieta de Augsburgo. A tentativa política por parte do 
Imperador em unir o Império contra os turcos, que estavam em Viena, acabou 
se tornando um grande debate teológico para os Luteranos. Lutero, zangado, 
não pôde comparecer. Ficou em Coburgo. Os resultados teológicos não foram 
agradáveis aos Luteranos. 
Os últimos 14 anos de Lutero foram concentrados em definir a verdadeira 
Igreja. Dos escritos que tratam desta identidade citamos Os Artigos de 
Esmalcalde,35 de 1537, Dos Concílios e da Igreja,36 de 1539, e Contra Hans Worst,37 
de 1541. 
Quando, em 1521, após Worms e o problema com os entusiastas, Lutero 
simplesmente quis ser identificado como um pastor da Igreja universal. 
Afirmou: “[...] peço que meu nome seja calado e que ninguém se chame de 
luterano, senão de cristão. Que é Lutero? Pois a doutrina não é minha. [...] 
Como poderia eu, pobre e fedorento saco de vermes, fazer com que os filhos 
de Cristo fossem chamados por meu nome desprovido de qualquer valor? Não 
assim, caros amigos, eliminemos os nomes partidários e chamemo-nos de 
cristãos de acordo com a doutrina que temos... Não sou nem quero ser mestre 
de ninguém. Tenho junto com a comunidade a única doutrina de Cristo, o qual 
só ele é nosso mestre”.38
Se por um lado a Verdade não está atrelada ao nome de Lutero, ela o está 
ao nome de Cristo. Escreve Lutero nos Artigos de Esmalcalde: “Graças a Deus, 
uma criancinha de sete anos sabe o que é a Igreja, a saber os santos crentes e os 
cordeirinhos que ouvem a voz de seu pastor. Pois assim rezam as crianças: ‘creio 
uma Santa Igreja Cristã.’ Esta santidade não consiste em sobrepelizes, tonsuras, 
alvas e outras cerimônias deles, inventadas para além das Sagradas Escrituras, 
porém consiste na Palavra de Deus e na fé verdadeira”.39 E, “[...] a Igreja nunca 
35 | Texto em português, in Livro de Concórdia, p.305.
36 | Obras Selecionadas 3, p.300.
37 | WA 51, 469-572.
38 | Conforme Altmann, Walter. Lutero e Libertação, p.126.
39 | “Artigos de Esmalcalde”, in Livro de Concórdia, p.320.
21Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
pode ser melhor governada e conservada do que quando todos vivemos sob 
uma só cabeça, e os bispos, todos iguais quanto ao ofício, diligentemente se 
mantêm juntos em unidade de doutrina, na fé, nos sacramentos, nas orações, 
nas obras de amor”.40
Se internamente o cristão depende exclusivamente do Espírito Santo para 
criar a fé, externamente a Igreja é reconhecida nas assim chamadas notae ecclesiae 
destacadas por Lutero já nos Artigos de Esmalcalde, mas ampliadas nos outros 
dois escritos. No Dos Concílios e da Igreja Lutero aponta para sete marcas: a 
Palavra de Deus, o Batismo, o Sacramento do Altar, o Ofício das Chaves, o 
Ministério conforme instituição de Cristo, o Agradecimento e o Louvor Públicos 
e a Santa Cruz.41 
No escrito Contra Hans Worst, Lutero enfatiza dez marcos da Igreja universal: 
Batismo, Sacramento do Altar, Chaves, Ministério da Pregação, Credo, Pai-Nosso, 
Honrar o Governo Secular, Matrimônio como Ordenação de Deus, Perseguição 
e Nada de Vingança e sim Intercessão Pública pelos Perseguidores.42
Os últimos anos de Lutero também foram marcados por algumas polêmicas. 
Destacamos a posição de Lutero a respeito dos judeus. Na tentativa de orientar 
cristãos a respeito dos judeus, em 1543 Lutero escreve Sobre os Judeus e suas 
Mentiras, provavelmente o maior texto escrito por Lutero. Estimulando as 
autoridades cristãs e os pregadores a advertirem os cristãos contra os judeus, 
Lutero se pronuncia com os seguintes conselhos (para nós estes conselhos podem 
ser chocantes, mas retratam um momento histórico complexo): incendeiem-
se suas sinagogas e escolas; destruam-se as casas; confisquem todos os seus 
livros de oração e escritos talmúdicos, nos quaisse ensinam idolatria, mentiras, 
maldições e blasfêmias; sob ameaça de pena de morte, proíba-se aos rabinos de 
continuarem ensinando; não se lhes concedam mais escoltas; proíba-se-lhes a 
usura e confisque-se e guarde-se todo o seu dinheiro, suas joias em prata e outro, 
para subvencionar judeus que aceitem o batismo; judeus e judias jovens fortes 
devem executar trabalhos braçais e ganhar seu pão no suor do seu rosto; por 
40 | “Artigos de Esmalcalde”, in Livro de Concórdia, p.338.
41 | A terceira parte do escrito “Dos Concílios e da Igreja”, in Obras Selecionadas, p.404-432 descreve 
estas marcas.
42 | Conforme BRANDT, Hermann. “Identidade Luterana: ética, missão, diálogo das religiões”. 
In: WACHHOLZ, Wilhelm. Identidade Evangélico-Luterana e Ética. Anais do III Simpósio sobre 
Identidade Evangélico-Luterana, p.45-67.
22 Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
fim, aconselha os caros príncipes e senhores a seguirem o exemplo da França, 
Espanha e Boêmia e a expulsarem os judeus de seus territórios.43
A vida particular de Lutero é marcada por um casamento estável e pelas 
doenças.
Numa conversa à mesa, de 1532, Lutero chama a sua Catarina de “Kete von 
Born, a estrela-d’alva de Wittenberg”.44 Esta metáfora pode ser interpretada de 
diversas formas, mas em todo o caso ela realmente foi uma grande luz na vida 
de Lutero. 
Se olharmos teologicamente para o casamento de Lutero, percebemos que 
a intenção de Lutero era dar nos dedos de Satanás. Se Roma estava tentando 
arranjar uma situação para que Lutero deixasse de protestar (alguns historiados 
sugerem que Roma estava se preparando para dar o título de cardeal para Lutero), 
com o casamento seria impossível.
Inicialmente, pouca gente apoiou o casamento de Lutero, especialmente com 
Catarina, uma freira provavelmente muito feia. Alguns diziam: “Não ela, mas 
sim uma outra”. Um jurista de Wittenberg comenta: “Se este monge se casar, o 
mundo inteiro e o diabo rirão dele e ele próprio vai aniquilar toda a sua obra”.45 
Birgit Stolt, germanista sueca que analisou as cartas de Lutero com Catarina, 
conclui: “Dos textos se depreende claramente que esse casamento entre duas 
pessoas maduras transformou-se em uma relação calorosa e harmônica, um 
casamento por amor, cuja intimidade não diminui com os anos, mas, pelo 
contrário, se aprofundou”.46 
Realmente, Lutero aprendeu a amar Catarina, porque do casamento arranjado 
surgiu um grande amor. Os filhos foram seis. Duas experiências dramáticas com 
dois deles: Elizabete, com menos de um ano falece, e Madalena, que falece com 
13 anos e que profundamente marca o final da vida de Lutero. 
43 | O texto “Lutero e os Judeus”, de Helmar Junghans, é um bom começo para entendermos um 
pouco mais esta situação complexa nos tempos de Lutero. JUNGHANS, Helmar. Temas da Teologia 
de Lutero, p.97-120.
44 | WA TR 2, 649, 14.
45 | Citado em JUNGHANS, Helmar. “Catarina Lutero à luz e sombra da Reforma.” In: JUNGHANS, 
Helmar. Temas da Teologia de Lutero, p.169-188. É uma boa fonte para entendermos o papel de 
Catarina na vida de Lutero e sua influência na Reforma.
46 | Citado em JUNGHANS, Helmar, “Catarina Lutero à luz e sombra da Reforma”, p.175.
23Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
A morte de Lutero ocorreu em 18 de fevereiro de 1546. Mas lembrar da 
morte de Lutero é “trazer à memória o poder de Deus, que torna a pessoa de fé 
forte para enfrentar tantos fardos sem desanimar”, conclui Helmar Junghans.47
O primeiro momento em que a morte parece próxima de Lutero foi em 1527, 
quando um forte zunido no ouvido esquerdo, que soa como ondas do mar, leva-o 
a deitar-se. Aqui Lutero já se despediu de sua esposa e de seu filho João. Mas as 
forças voltam. Mais tarde Lutero brinca dizendo que esse zunido na cabeça é 
Satanás tomando banho. Diz ele: “[...] para que eu não me ensoberbeça com a 
elevada revelação, foi-me posta uma estaca na carne, a saber, o anjo de Satanás, 
que deve golpear-me com os punhos para que eu não me ensoberbeça”.48 Lutero 
se sente em meio à luta entre Satanás, que quer impedi-lo, até através dos males 
físicos, de lutar pelo Reino de Deus. Esses zunidos vão acompanhar Lutero até 
o final da vida e seguidamente o incapacitam a fazer o seu trabalho. 
Lutero também foi acometido de cálculos, tanto no rim como na bexiga. 
Problemas de circulação sanguínea dificultam o caminhar. Em 1543, é necessário 
aplicar um dreno na perna para que fluidos malignos sejam expelidos. Toda esta 
situação leva Lutero a ficar acamado praticamente o tempo todo. Suas atividades 
são interrompidas: não escreve mais, não prega e nem leciona. 
O máximo que a medicina pôde fazer por Lutero na sua época foi o dreno 
na perna. As infecções diminuíram, voltou a caminhar, lecionar e a pregar, por 
quase três anos, no final da vida. Numa carta à princesa da Saxônia, escreve: 
“Conosco as coisas, graças a Deus, andam bem e melhor do que merecíamos 
da parte de Deus”.49
Preparando-se para morrer, Lutero escreve a um chanceler: “Orai às vezes 
também por mim, para que eu tenha uma boa horinha. Trabalhei e vivi até a 
exaustão, a cabeça para nada mais serve, anseio por graça e misericórdia. Já as 
tenho e delas haverei de receber mais ainda. Amém”.50
Quando sua filha Madalena faleceu, em 23 de setembro de 1542, Lutero 
escreveu ao amigo Justo Jonas: “Creio que ficaste sabendo que minha querida 
filha Madalena renasceu para o Reino eterno de Cristo. Eu e minha esposa nada 
47 | Em “Os últimos anos de Lutero”. JUNGHANS, Helmar. Temas da Teologia de Lutero, p.96.
48 | WA BR 10, 228. 
49 | A carta é datada de 30 de março de 1544. WA BR 10, 548.
50 | Carta de 6 de janeiro de 1543. WA BR 10, 238, 34-37.
24 Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
mais deveríamos fazer senão agradecer com alegria por um passamento tão feliz 
e um final tão bem-aventurado, através do qual ela escapou do poder da carne, 
do mundo, dos turcos e do diabo. Mesmo assim, o poder do amor natural é tão 
grande que nós não o podemos fazer sem soluçar e gemer o coração, sim, nem 
mesmo sem grande mortificação. Pois os olhares, palavras e gestos da filha 
obediente e respeitosa ao extremo, quando viveu e quando morreu, se prendem 
ao fundo de nossos corações, de maneira que nem mesmo a morte de Cristo pode 
retirar esse pesar como deveria. E o que é a morte de todos em comparação com 
a de Cristo? Por isso, agradeça a Deus em nosso lugar. Pois ele realmente fez uma 
grande obra em nós e glorificou sobremaneira nosso corpo. Ela tinha – como 
sabes – um caráter suave e amável, sendo querida para com todos. Louvado seja 
o Senhor Jesus Cristo, que a chamou, escolheu e glorificou. Tomara que eu, todos 
os meus e todos os nossos tenhamos por sorte uma morte assim. É o único que 
peço a Deus, ao Pai de todo o consolo e de toda a misericórdia”.51
Com estas palavras, podemos perceber como Lutero estava preparado para 
sua própria morte. Na noite que antecede a sua morte, Lutero, mesmo debilitado, 
participando das tentativas de acordo entre os condes de Mansfeld e Eisleben, 
participa do jantar em que se discute se as pessoas irão se reconhecer nos céus, 
e Lutero está convencido de que isto irá acontecer. Na madrugada de sua morte, 
rodeado de dois filhos, Martinho e Paulo, e de amigos, sua última palavra é um 
“sim” a favor de sua doutrina e pregação.52
Conclusão
Quem é Lutero? Se formos considerá-lo como um grande líder da 
humanidade, podemos destacar algumas características. Simplesmente, um 
homem de palavra porque tinha a Palavra. Um grande pecador; nada tinha a dizer 
de bom de si mesmo. Mas ao mesmo tempo era um santo, pois fora chamado 
por Deus através da graça em Cristo Jesus. Soube carregar a sua cruz, porque 
tinha sua vida sob o controle de Deus. Era uma pessoa agradável; as conversas à 
mesa demonstram isso,pois com muita propriedade as pessoas ouviam Lutero. 
O senso de perspectiva de Lutero era impressionante; diante da imensidão do 
51 | WA BR 10, 149, 20-34. 
52 | WA 54, 492, 9-12. 20-23.
25Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
amor de Deus, Lutero se viu pequeno. Um homem paciencioso, percebeu isso 
enquanto esteve no Wartburgo. O grande erro de sua vida aconteceu quando 
ele usou do pragmatismo para orientar Filipe de Hesse na sua bigamia. Por 
isso, Lutero pode ser considerado não pragmático porque sempre esperou que 
a vontade de Deus se fizesse presente em sua vida, já que Deus é que controla o 
passado, o presente e o futuro. Foi um homem solitário diante de Deus e diante 
dos homens. Muitos o seguiram e o tentaram imitar. Mas, ele era ele mesmo. 
Foi ousado, nada tinha a temer, nem sua própria vida diante do Imperador em 
Worms. Um homem aberto, não escondia o que pensava. Quando escondeu sua 
opinião sobre a bigamia de Felipe de Hesse se deu mal. Um homem de oração. 
Sempre orou. Um homem que meditou na Palavra de Deus. Um homem que foi 
tentado. Lutero ignorou o seu próprio interesse, sempre viveu para os outros. Tinha 
aversão ao caos. Ordem e decência é o que Lutero pregava tanto para indivíduos 
como para a Igreja e a sociedade. Mas era um homem medroso. Mesmo que 
tenha pregado contra o medo, assumiu sua própria dificuldade em lidar com 
ele. A generosidade fez parte de sua vida. O incidente com Karlstadt na noite 
de núpcias é uma marca da generosidade de Lutero. Homem do povo. Com sua 
máxima de que o cristão está livre sobre todos, mas ao mesmo é servo de todos, 
Lutero conquistou as pessoas. Com isso, pôde chamar a atenção de pessoas 
mostrando a elas o seu próprio chamado e responsabilidade. Percebemos isso 
quando Lutero estimulou seguidamente Melachthon, seu secretário teológico, 
a se tornar um pregador. Melachthon aceitou o convite no enterro de Lutero. 
Lutero lidava tranquilamente com o paradoxo: somos ao mesmo tempo livres 
e escravos, o homem é justo e pecador, Cristo é verdadeiro Deus e Homem. 
Lutero lutou com Satanás. Talvez hoje possamos afirmar que isso só acontece 
nas igrejas pentecostais, mas aconteceu com Lutero. Certa vez, Lutero afirmou: 
“Se você ri, você tem fé”. Lutero fez uso do humor. Lutero era imóvel, não mudou 
de opinião. Talvez seja esta mais uma atitude que lhe causou problemas. Basta 
lembrarmos do incidente com Zwínglio em Marburgo. A liberdade do cristão 
da imposição da lei. Contra os entusiastas, Lutero lutou contra o seu legalismo. 
Confiou na Palavra de Deus. Enquanto posso errar, a Palavra de Deus não 
erra. Agarrou-se a Cristo. Em todo o seu sofrimento, tentação, dúvida e alegria, 
Lutero defendeu a Cristologia das Escrituras. E morreu na fé. A última oração 
de Lutero: “Ó, meu Pai Celeste, Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. A ti, 
Deus, de todo consolo, agradeço por teres me revelado teu amado Filho Jesus 
Cristo, em quem creio, a quem preguei e confessei, a quem amei e louvei, a 
26 Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
quem o repugnante papa e todo os ímpios ridicularizam, perseguem e caluniam. 
Peço-te, meu Senhor Jesus Cristo, coloca minha alminha sob tuas ordens. Pai 
celeste, se já agora eu tiver que abandonar esse corpo e ser arrebatado desta vida, 
então sei com certeza que posso permanecer eternamente contigo e ninguém 
me arranca de tuas mãos”.53
Questões
1. Enumere as colunas considerando a biografia de Lutero.
(a) Ano do casamento de Lutero. ( ) 1505
(b) Entra no mosteiro. ( ) 1520
(c) Ano em que escreve os livros básicos de sua teologia. ( ) 1521
(d) Conclui seu doutorado em Teologia. ( ) 1525
(e) Ano em que foi expulso da Igreja e do Império. ( ) 1512
Respostas: b; c; e; a; d
2. Caracterize o conceito de Deus que Lutero desenvolveu na sua infância 
e durante o período em que estava no mosteiro.
3. Em que aspectos o humanismo se mostra uma ferramenta útil para a 
teologia de Lutero?
4. Além dos problemas com a teologia romana, Lutero enfrentou 
problemas com seus próprios colegas e outros “protestantes”. 
Pesquise mais sobre esses problemas, resumindo-os, especialmente 
na fundamentação teológica desses grupos.
5. A partir da definição de igreja que Lutero estabelece nos Artigos de 
Esmalcalde, sistematize a estrutura eclesiástica proposta por Lutero.
53 | WA 54, 491, 21-30.
27Alguns aspectos especiais que marcam a vida e a obra de Lutero
Referências
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BOICE, James (ed.). A Reforma Hoje. Uma convocação feita pelos Evangélicos 
Confessionais. São Paulo: Cultura Cristã, 1999.
BRECHT, Martin. Martin Luther. 3 volumes. Minneapolis: Fortress Press, 
1990.
DREHER, Martin (org.). Reflexões em Torno de Lutero II. São Leopoldo: 
Sinodal, 1984.
ELERT, Werner. The Structure of Lutheranism. Saint Louis: Concordia, 
2000.
HEIMANN, Leopoldo (org.). Lutero, o Educador. Fórum ULBRA de Teologia 
– volume 2. Canoas: Editora da ULBRA, 2005.
JUNGHANS, Helmar. Temas da Teologia de Lutero. São Leopoldo: Sinodal, 
2001.
LIVRO de Concórdia. São Leopoldo/Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 
2006.
LUTERO, Martinho. Pelo Evangelho de Cristo. São Leopoldo/Porto Alegre: 
Sinodal/Concórdia, 1984.
______. Obras Selecionadas. Volumes 1 a 11. São Leopoldo/Porto Alegre: 
Sinodal/Concórdia, 1987 a 2010.
MCKIM, Donald. The Cambrigde Companion to Martin Luther. Cambrigde 
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PRUNZEL, Clóvis Jair. “Lutero e Erasmo: o contato e a Divergência.” In: Igreja 
Luterana, 1994/2, p.159-178.
SASSE, Hermann. Isto é o meu corpo. Porto Alegre: Concórdia, 2004.
VEITH JR., Gene Edward. A Place to Stand. The Word of God in the Life of 
Martin Luther. Nashville: Cumberland House, 2005.
WACHHOLZ, Wilhelm. Identidade Evangélico-luterana e Ética. Anais do III 
Simpósio sobre Identidade Evangélico-Luterana. São Leopoldo: EST, 2005.
WINGREN, Gustaf. A Vocação segundo Lutero. Canoas: Editora da ULBRA, 
2006.

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