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A produção de Martin Lutero

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1 
 
slGutenberg, Lutero e a Reforma - 500 anos em leitura 
Palestra na 63ª Feira do Livro de Porto Alegre 
Santander Cultural - 07/11/2017 
A invenção de Gutenberg, por volta de 1450, fez com que imediatamente 
espiões industriais franceses fossem a Mainz. A cultura urbana florescente 
precisava cada vez mais de livros. Não sabemos de onde 
o ourives Johannes Gutenberg tirou a ideia de 
transformar uma prensa de uvas para produzir livros. 
Certamente, sua intenção não era fortalecer o 
individualismo ou sepultar a autoridade da Igreja 
Católica. As consequências trazidas por esta nova 
tecnologia não tinham como ser estimadas. O próprio 
Lutero surpreendeu-se com a ampla e rápida expansão 
de suas obras. 
A Igreja usou a nova tecnologia de pronto para reproduzir cartas de 
indulgência. Depois que o exército turco conquistou Constantinopla, em 1453, 
pondo fim ao milenar Império Romano do Oriente, o Anuário Turco de 1454/55 
(Eyn manung der cristenheit widder die durken” foi divulgado com o uso da 
nova técnica. É o mais antigo trabalho remanescente com mais de uma página 
produzida por Gutenberg. 
A arte de imprimir livros expandiu-se 
espetacularmente. Por volta de 1500, 
havia na Europa 260 localidades com mais 
de 1.120 casas de impressão. Entre 1450 e 
1500 (meio século) foram produzidos 
tantos livros quanto no milênio anterior. A 
maioria em latim. Isso significa que, 
durante os primeiros 50 anos após a invenção da imprensa de tipos móveis, os 
livros, apesar do incremento e da velocidade das edições, permaneceram um 
símbolo de status da minoria ilustrada. Salas de leitura permaneceram, livros 
seguiram sendo escritos a mão. E os impressores, que passaram a usar a nova 
tecnologia, seguiram almejando produzir edições preciosas e sofisticadas. 
2 
 
A inovação tecnológica não foi imediatamente acompanhada por uma 
revolução midiática. A divisa inicial foi: mais do mesmo, porém mais rápido e 
mais barato. Os livros antigos, dos quais existiam apenas poucos exemplares 
copiados a mão, passaram a ser impressos e multiplicados. Principalmente, o 
conhecimento antigo passou a estar mais disponível para aqueles que podiam 
ler latim. Por volta do final do século XV, às vésperas do início da Reforma 
protestante, esse mercado estava se esgotando. 
Marshall McLuhan tem uma frase célebre: “The medium is the message” 
(Understanding Media: the extensions of man, 1964). Com a Reforma 
protestante, no sentido de McLuhan, a nova tecnologia representada pela 
imprensa de tipo móveis finalmente encontrou sua “mensagem”. O 
conhecimento passou a ser divulgado de forma massiva nas línguas vernáculas. 
O conhecimento deixou de ser privilégio das autoridades. Passou a ser 
disponibilizado em folhas de papel de custo mais acessível. Aquilo que as 
autoridades diziam começou a ser comparado com o conhecimento 
disponibilizado no material impresso. A indústria da imprensa estabeleceu-se 
como “freie Kunst” (arte ou ofício livre), desvinculada do controle das 
corporações de ofício. As casas de impressão orientavam-se no mercado 
nascente - daí as edições mais baratas em um só página (Flugblatt/Flugzettel), 
ou na forma de panfleto (Flugschrift), daí as línguas populares ao invés do 
latim. 
Mesmo que os números brutos dos livros impressos nas primeiras décadas da 
história da imprensa sejam impressionantes, a nova forma de divulgação de 
ideias de fato tornou-se popular pelos folhetos (Flugzettel; Flugblatt) com 
textos redigidos nas línguas populares, que eram lidas em voz alta nos lugares 
públicas, e ilustradas com gravuras decifráveis pelos analfabetos. O folheto 
(Flugzettel) da Reforma foi catalisador de uma revolução midiática. 
Entre 1517 e 1530 foram publicados 10.000 panfletos com ca. de 10 milhões de 
exemplares, parte considerável deles nos anos decisivos da fase inicial da 
Reforma, entre 1517 e 1523. O tema principal era a certeza da salvação: como 
faço para alcançar o paraíso? A educação letrada transformou-se aos poucos 
em novo sonho da humanidade, mesmo nos estratos subalternos da 
população. Com os folhetos e panfletos, tornou-se público e notório, em cada 
aldeia, que era possível formar com as letras latinas as palavras que se 
3 
 
quisesse,; que era possível, a partir delas, decifrar um sentido alheio, 
desconhecido até há pouco. Algo até então 
impensável. Pessoas alfabetizadas e pregadores 
espalharam freneticamente suas mensagens e, 
com isso, a “mensagem” no novo meio. 
Lutero formulou suas 95 teses contra o comércio 
de 
indulgências em latim e não 
pretendia discuti-las além do restrito 
âmbito acadêmico. Ele queria 
alcançar exclusivamente o público 
teológico especializado. Sem o seu 
conhecimento as teses foram 
traduzidas e divulgadas pelos 
editores. Lutero reagiu rapidamente 
e já em seu “Sermon von dem Ablass 
vnnd gnade” (1518) usou 
diretamente o recurso da impressão 
na língua vernácula. Isso obrigou seu 
oponente Johann Tetzel a responder 
usando o mesmo recurso. A réplica 
de Tetzel cita o próprio Lutero, a fim de refutá-lo, 
segundo o modelo da disputação oral. 
Motor da inovação foi a experiência revolucionária 
de que o conhecimento, transportado e conservado 
na escrita, pode tornar-se um bem comum a todos, 
aberto a todos e disponível para todos. De repente, 
não havia mais um saber secreto, clerical e restrito 
aos senhores. Com o meio de comunicação 
folheto/panfleto um monge insignificante, Lutero, 
em uma universidade insignificante em uma cidade 
insignificante, galgou os degraus da hierarquia 
4 
 
eclesiástica e disputou publicamente com o próprio papa, quer este quisesse 
ou não. 
Lutero saudou a arte 
da impressão como 
o “último e ao 
mesmo tempo maior 
presente de Deus”. 
Como propagandista 
congenial da nova 
tecnologia, Lutero 
fez da Escritura 
Sagrada impressa o 
único e incondicional 
critério da fé 
“correta”: somente 
pela Escritura (sola scriptura). Isso significava naturalmente a Bíblia impressa, 
aquela que contém a verdade divina, segundo a compreensão protestante. A 
igreja católica reagiu a seu modo clássico, conservadoramente, mas também de 
modo desesperado. Ela determinou que apenas a única, oficial e latina versão 
da Bíblia poderia ser aceita como a verdadeira. 
As prédicas proferidas por Lutero eram impressas e duas ou três semanas 
depois divulgadas em outras cidades. Com isso, multiplicavam “n” vezes o 
público de Wittenberg. Atingiam um público ilimitado e desconhecido. Os 
opositores de Lutero se sentiram obrigados a enfrentá-lo neste mesmo campo 
de batalha da “opinião pública popular”, referendando com isso o papel do 
povo como juiz na disputa. Ainda que, ao mesmo tempo, reclamassem de que 
Lutero abria mão do latim erudito, pois queria agitar o povo ignorante. 
A consequência foi uma revolução cultural na comunicação. O filósofo Platão, 
na antiguidade, tinha criticado a possibilidade de fixar o discurso na escrita. Já a 
imprensa provocou, desde o princípio, uma euforia. As pessoas foram 
assumindo a consciência de que estavam vivendo um novo tempo. Duas 
gerações após a proliferação da imprensa de Gutenberg era difundida a 
inconformidade em relação à cegueira e à falta de conhecimento das gerações 
antecedentes, pessoas que teriam vivido na “Idade Média”. 
5 
 
A ideia do “sacerdócio geral das pessoas crentes” significou tanto quanto uma 
valorização teológica das culturas leigas. Foi uma “message”, foi uma 
mensagem de alto impacto na nova cultura midiática. As pessoas leigas foram 
interpeladas na qualidade de leitores. Passaram a ser consideradas autorizadas 
e capazes de formular 
juízos sobre os temas 
propostos. Panfletos 
contrapunham a figura do 
leigo esperto e bom ao 
clérigo ignorante e 
decadente. A “opinião 
pública” como estrutura 
básica do novo meio, 
passou a promover os 
próprioscontemporâneos. 
Alguns autores - como 
Karl-Heinz Wollscheid e 
Jan Assmann - apontaram 
para uma consequência 
histórico cultural da 
fixação de verdades 
absolutas em um Escrito 
Sagrado. Haveria 
fundamentalistas religiosos acima de tudo nas religiões monoteístas. Religiões 
do Extremo Oriente, como o hinduísmo, budismo e o taoísmo teriam uma 
maior tradição em termos de tolerância religiosa. Isso estaria associado à 
característica de não terem uma Escritura Sagrada com autoridade equivalente 
à da Bíblia ou ao Corão. A partir da grande ruptura promovida pela Reforma 
deixou de existir no cristianismo ocidental a única Escritura Sagrada, protegida 
e interpretada exclusivamente pelo papa. Passaram a existir diferentes 
opiniões sobre a Escritura, incontáveis Escrituras com incontáveis “verdades”. 
 
 
6 
 
A Reforma como evento midiático 
A rápida e ampla divulgação das idéias e do ensino de Lutero foi possibilitada 
pela imprensa. Ele próprio reconheceu em várias ocasiões o significado deste 
grande avanço da técnica (cf. WA TR 1, 1038; 2, 2772; 4, 4697) e creditou a isso 
a possibilidade de fazer tremer em suas bases a Igreja de Roma. Nesse sentido, 
Lutero pode ser visto como o primeiro escritor a conduzir com êxito um 
movimento intelectual mediante o recurso à imprensa. 
O número de impressões de textos de Lutero até sua morte chega a 4000. Com 
isso, ele é responsável por cerca de 1/3 de toda a produção literária em língua 
alemã no período. Vale observar, também, que parte considerável dos 2/3 
restantes são obras voltadas ao assunto “Lutero” ou a questões por ele 
levantadas. Somente de 30 de seus escritos, publicados entre 1517 e 1520 para 
um público maior, conhecemos mais de 370 impressões, representando em seu 
conjunto mais de 250 mil exemplares. O panfleto “À Nobreza Cristã” teve 
somente no ano de seu lançamento (1520) 13 edições. O Catecismo Menor 
teve 78 edições identificadas entre 1529, seu ano de lançamento, e 1546, ano 
da morte de Lutero. Dentre elas, edições em tradução para o dinamarquês, o 
francês e o holandês, as quais logo foram seguidas por traduções em outros 
idiomas europeus. 
Mais numerosas ainda são as edições da Bíblia Alemã, traduzida por Lutero. 
Mais de 420 edições da Bíblia completa ou de porções bíblicas aconteceram até 
o ano de sua morte. Calcula-se cerca de 500 mil exemplares individuais. A 
maioria das edições aconteceram sob o acompanhamento e a autorização de 
Lutero, em Wittenberg, mas ainda em vida ele chegou a se incomodar com a 
publicação de edições clandestinas (cf. WA DB 9/II S. XXIIs). 
O número de exemplares de impressões de escritos de Lutero só pode ser 
calculado de modo aproximado, pois são poucos os dados exatos acerca das 
tiragens. Segundo um informante da época, os panfletos publicados no âmbito 
do movimento da Reforma tinham em geral uma tiragem de 1000-1500 
exemplares. Comparado a isso, a primeira edição de “À Nobreza Cristã…” teve 
uma tiragem incomum: 4000 exemplares. O “Septembertestament” chegou ao 
mercado com uma tiragem de 3000 exemplares. A tiragem de edições de 
outras porções bíblicas, posteriormente, tinham em média de 2000 a 3000 
exemplares. 
7 
 
Sobre a rapidez da venda e o alcance de mercado das obras do escritor Lutero, 
há algumas informações interessantes. A primeira edição de “À Nobreza 
Cristã…” (4000 exemplares) esgotou-se em uma semana. As famosas 95 Teses 
(1517), por uma informação do próprio Lutero (WA 51, 540), em 14 dias já 
estavam disponíveis por toda a extensão do Sacro Império Romano Germânico. 
A primeira edição do Novo Testamento em alemão (setembro de 1522) teve 
uma demanda tal que em 19 de dezembro do mesmo ano uma edição revisada 
e melhorada já estava disponível no mercado. A Bíblia alemã, traduzida por 
Lutero, rapidamente tornou-se a versão preferencial. De 455 panfletos em 
língua alemã publicados entre 1523-25, 287 (ca. 63%) citavam passagens 
bíblicas na versão do reformador. 
A significativa distribuição e venda dos escritos de Lutero precisam ser 
avaliadas levando em conta os preços de livros na época. 
O “Septembertestament” (444 p., 21 xilogravuras de 
página inteira e inúmeras iniciais ilustradas) custava, 
dependendo da encadernação, entre ½ e 2 florins. Isso 
equivalia pelo menos ao salário semanal de um oficial de 
carpinteiro. Em 1534, a primeira edição completa da Bíblia 
alemã, na tradução de Lutero (1816 p. em formato grande, 
com 117 xilogravuras) era vendida sem encadernação por 
2 florins e 8 centavos (Groschen). Era o equivalente a três 
semanas de trabalho de um mestre pedreiro. Levando em 
conta que até a morte de Lutero foram vendidos 500 mil 
exemplares de Bíblias e porções bíblicas, pode-se concluir 
que sua aquisição representou um gasto financeiro tremendo da parte dos 
compradores. 
 
Lutero e a relação entre teologia e literatura 
“Nam melius est ruere literas quam religionem, si literae nolent servire” (WA Br 
2123, Lutero a Nicolau von Amsdorf em Magdeburgo, 28/06/1534 – Pois é 
melhor que se arruíne a literatura do que a religião, se a literatura não quiser 
colocar-se a serviço da religião). Essa manifestação ilustra exemplarmente a 
visão de Lutero acerca da relação entre literatura e religião. Simultaneamente 
revela a proeminência que a religião e a igreja atribuem a si mesmas em 
8 
 
relação à literatura. A própria produção publicística e literária de Lutero, 
apoiada pela imprensa, que possibilitou o estabelecimento da Reforma, pode 
ser vista como confirmação para sua concepção, de que a literatura tem sua 
existência legitimada tão só pelo suporte dado à religião. A comparação com a 
postura do movimento humanista em relação à mesma questão deixa isso 
evidente. 
Para o humanismo renascentista, a formação básica nas artes liberales e o 
estudo da Antigüidade clássica colocavam-se no centro da concepção de 
educação formal, sendo a poesia (Poesie) a base de todas as ciências (p. ex., 
Conrado Celtis). A erudição adquirida a partir daí possuía, por si mesma, seu 
valor. A teologia, contudo, não teve como deixar de incorporar os métodos 
filológicos humanistas. Recorreu às edições de textos originais, elaboradas com 
base nestes novos critérios científicos (p. ex., a edição grega do N. Testamento, 
de Erasmo de Roterdã, cuja primeira edição foi do ano 1516). Incorporou 
também as explicações gramáticas e históricas, com as quais procurava-se 
alcançar um amplo e aprofundado exame dos textos, mais efetivo e qualificado 
do que o possibilitado pelo método escolástico em relação a passagens e 
conceitos individuais. A incorporação por Lutero de alguns princípios da 
exegese textual humanista pode ser observada em suas preleções Dictata 
super Psalterium e Operationes in Psalmos. No decorrer delas, ele foi migrando 
da exegese que buscava o sentido quádruplo do texto e, ao lado disso, 
rejeitando a alegoria como meio preferencial de interpretação, para enfatizar – 
especialmente contra Roma - o sentido literal ou gramático, considerado não 
ambivalente. Com isso enfatiza ser o texto bíblico inequívoco, mas ao mesmo 
tempo destaca a diferenciação entre Antigo e Novo Testamento, bem como o 
condicionamento histórico de cada livro do Antigo Testamento. Por fim, 
procura fundamentar a exegese com o princípio escriturístico do sola scriptura, 
que contrapõe à tradição magisterial da Igreja Romana a autoridade a 
compreensão e interpretação da Escritura Sagrada. Isso porque esta “per sese 
certissima, facillima, apertissima sui ipsius interpres” (WA 7, 97, 23 – por si é a 
certíssima, facílima, acessibilíssima intérprete de si mesma). 
A filologia humanista disponibilizou a armadura para que Lutero empreendesse 
o caminho ad fontem, aquela única fonte sobre a qual a teologia e a igreja 
deveriam basear-se. Por outro lado, limites precisos são colocados em relação 
9 
 
àarte de interpretação humanista, pois uma compreensão do conteúdo da 
Bíblia baseada exclusivamente no intelecto e na erudição é errônea. Isso 
porque Lutero vincula a compreensão à experiência viva da fé. É partir desta 
base que a interpretação gramática e histórica podem contribuir no sentido de 
uma clara compreensão. 
Se a nova teologia devia ser acompanhada por pessoas leigas interessadas, se 
sua fundamentação devia ser testada e comparada com as doutrinas da igreja 
antiga, então a Bíblia precisaria estar acessível a elas, ou seja, deveria ser 
traduzida ao Alemão. Em 1522, com o chamado “Septembertestament”, Lutero 
disponibilizou sua primeira tradução do Novo Testamento. Os resultados do 
esforço criativo e lingüístico de Lutero podem aqui ser apresentados somente 
de forma resumida, em rápidos traços. Com grande freqüência, ele toma 
palavras e atribui a elas novos significados. Ou, então, inúmeras palavras 
assumem uma forma escrita pela primeira vez com ele. Termos-chave da 
linguagem teológica, tais como “Glaube”, “Gnade”, “Busse”, têm seu conteúdo 
fortemente modificado em relação ao convencionado até então, isso como 
decorrência de concepções teológicas de Lutero. Agrega-se a isso a criação de 
múltiplas palavras e conceitos, tais como “Feuereifer”, “friedfertig”, 
“Herzenslust”, “Menschenfischer”, “Schädelstätte”, “wetterwendisch”. 
Lutero recorre ao acervo de ditados e sentenças, modifica-os parcialmente, ou 
então formula expressões e sentenças que posteriormente assumem o caráter 
de ditados. A influência vai muito além do âmbito religioso protestante. A 
tradução da Bíblia de Lutero circula pelo meio católico-romano, é usada e 
plagiada por seus opositores. Com isso impediu-se não só uma divisão 
confessional, mas também deu-se à língua superior e literária de todo um povo 
sua marca mais decisiva. Até a época do iluminismo os gramáticos alemães de 
maior expressão elaboram suas tendo na tradução da Bíblia por Lutero sua 
principal referência. Esta “obra mestra da prosa alemã”, conforme Friedrich 
Nietzsche (Jenseits v. Gut u. Böse. Zur Genealogie der Moral), representou até 
o séc. XIX, juntamente com o Catecismo Menor e o Hinário e principal livro-
texto não só no âmbito do ensino confirmatório e religioso, mas também nas 
aulas de língua alemã. 
Com sua linguagem, com as narrativas de histórias e sobre personagens, acima 
de tudo com a narrativa da vida, paixão e morte de Jesus, constituiu-se todo 
10 
 
um mundo – o mundo da 
linguagem e das imagens de 
determinadas figuras 
primais e modelos (Ur- und 
Vorbilder) – que 
disponibilizou parâmetros 
de orientação e 
simultaneamente 
possibilidades de 
identificação. 
A partir deste centro, 
representado pela Bíblia, é 
que se deve considerar o 
esforço literário de Lutero, 
bem como sua relação com 
a literatura. A necessidade 
de divulgar a nova doutrina 
determinou a escolha das 
formas literárias. De igual 
modo, foi isso que 
determinou a decisão pelo 
Latim para escritos destinados a intelectuais e pelo Alemão para escritos 
destinados a pessoas leigas. 
Autores contemporâneos de Lutero, como Sebastian Brant, Ulrich von Hutten e 
Thomas Murner, difundiram formas literárias como a prosa rimada (Reimrede), 
o poema instrucional (Lehrgedicht) e a sátira, que não foram utilizados por 
Lutero. Ao invés disso, o reformador preferiu adaptar a seu interesse formas 
tradicionais como o tratado, o sermão, a polêmica e o prefácio (ou prólogo; cf. 
especialmente os prefácios individuais aos livros bíblicos). É possível falar de 
uma renovação dessas formas literárias por Lutero. Isso vale especialmente 
para seus hinos religiosos. Mesmo que conscientemente vinculados a modelos 
mais antigos, a repercussão dos hinos de Lutero foi tal que se pode falar em 
sua contribuição para moldar essa forma da poesia alemã. De igual modo deve 
 
11 
 
ser visto seu aporte para literatura devocional (meditação e oração) e para a 
forma epistolar. 
O objetivo de divulgar a nova doutrina não determinou apenas as opções 
literárias de Lutero. Pode-se dizer tranquilamente que o conjunto da literatura 
em língua alemã da época da Reforma pode ser caracterizado com o lema “A 
palavra como arma”. Tratava-se de uma literatura voltada precipuamente à 
confissão de fé, à propaganda e ao convencimento das consciências. As duas 
tarefas principais eram promover o conhecimento da nova doutrina e, de modo 
satírico e polêmico, fazer agitação contra os opositores. 
Com base nessa aplicação da arte literária, como instrumento de formação e 
convencimento de adeptos e de ataque e defesa contra os inimigos, foram 
escolhidas as categorias mais apropriadas: o libelo, ou panfleto (Flugschrift), a 
prosa em forma de diálogo, o drama/teatro quaresmal (Fastnachtsspiel) e o 
drama/teatro escolar. De maneira especial o drama alcançou grande 
significado, pois era uma forma de levar conteúdos bíblicos e doutrinários a 
serem encenados no palco, ampliando-se assim sua divulgação. Também a 
Contrarreforma adotou de modo exemplar essa categoria literária, com 
destaque para o drama jesuítico (especialmente entre 1560 e 1660), que foi 
marcante na divulgação da literatura de edificação espiritual em contextos 
urbanos de então. 
A literatura não precisou ser desmantelada. Pelo contrário, a Reforma 
justamente foi introduzida porque os reformadores e seus adeptos fizeram uso 
de meios e categorias literárias. Surgiu uma nova comunidade comunicativa, 
onde seus integrantes puderam dar expressão ao conjunto de seu contexto de 
vida mediante formas literárias, especialmente alemãs. A Reforma religiosa e 
teológica abriu-se em um movimento político, social, pedagógico e cultural. 
Por causa dessas tarefas é que se justificou a existência e a permanência da 
literatura. Por isso também, a literatura não precisou prestar contas de suas 
bases teóricas. O fato dela ter sido vista com naturalidade por Lutero como um 
meio de divulgação está vinculado a sua posição em relação às artes. Estas 
integravam, no seu entender, o conjunto dos adiáfora (elementos acessórios, 
secundários). Tal posição não se limitava à literatura alemã, as também à 
poesia neolatina de humanistas, que em poemas, dramas e diálogos apoiaram 
12 
 
a causa da Reforma. Isso é significativo, especialmente se considerarmos que a 
Reforma calvinista posteriormente viu a questão de forma diferente, 
considerando a literatura parte das coisas inúteis, que desviam da doutrina 
pura. E no caso de partes das obras literárias que não se colocavam 
diretamente a serviço da Reforma? Johann Sturm (1507-1589, humanista e 
pedagogo em Estrasburgo) lança luz sobre a questão com sua fórmula “sapiens 
et eloquens pietas”, que daria os parâmetros para a autolimitação de pastores, 
mestres e professores formados nos autores clássicos a Antiguidade. Por causa 
de sua dependência profissional precisam justificar sua atividade poética não 
só diante da religião, mas também – acima de tudo em obras sobre temas 
seculares – cultivar o decoro exigido. 
_________________________________________ 
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Neuzeit. In: Wischer, Erika (Hrsg.). Propyläen Geschichte der Literatur: Literatur und Gesellschaft der 
westlichen Welt. Bd. 3: Renaissance und Barock 1400-1700. Frankfurt a.M.; Berlin: Propyläen, 1988, p. 68-97. 
Schilling, Johannes. Latinistische Hilfsmittel zum Lutherstudium. Lutherjahrbuch, v. 55, p. 83-101, Göttingen: 
Vandenhoeck & Ruprecht, 1979, p. 120-135. 
Schwerte, Hans. Luther: Sprache, Literatur. In: Markert, Ludwig; Stahl, Karl Heinz (Hrsg.). Die Reformation geht 
weiter: Ertrag eines Jahres. Erlangen: Verlag der Ev.-Luth. Mission, 1984, p. 55-73. 
Stolt, Birgit. Germanistische Hilfsmittel zum Lutherstudium. Lutherjahrbuch, v. 46, Göttingen: Vandenhoeck & 
Ruprecht, 1979, p. 120-135. 
13 
 
Stolt, Birgit. Luthers Übersetzungstheorie und Übersetzungspraxis. In: Junghans, Helmar (Hrsg.). Leben und 
Werk Martin Luthers von 1526 bis 1546. Festgabe zu seinem 500. Geburtstag. 2. Aufl., 2 Bde., Berlin: 
Evangelische Verlagsanstalt, 1985, p. 241-252, 797-800. 
Theodor, Erwin. A literatura alemã. São Paulo: T. A. Queiroz; Ed. USP, 1980, 189 p. 
Tornquist, Ingrid Margareta. Ethosaufbau und Verteidigung in Luthers Sendbrief vom Dolmetschen. Fotocópia 
de texto não-publicado. Arquivo pessoal do autor. 
Villwock, Jörg. Rhetorik und Poetik: theoretische Grundlagen der Literatur. In: Wischer, Erika (Hrsg.). Propyläen 
Geschichte der Literatur: Literatur und Gesellschaft der westlichen Welt. Bd. 3: Renaissance und Barock 1400-
1700. Frankfurt a.M.; Berlin: Propyläen, 1988, p. 98-120. 
Wolf, Herbert. Martin Luther: eine Einführung in germanistische Luther-Studien. Berlin: Evangelische 
Verlagsanstalt, 1983. 
Zumthor, Paul. A letra e a voz: a “literatura” medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, 324 p. 
14 
 
Martinho Lutero. Obras selecionadas 
 
A presença de Martinho Lutero no Brasil através de seus escritos acompanhou a vinda 
de imigrantes alemães evangélicos a partir de 1824. Por mais de um século, o idioma de 
acesso aos escritos do reformador foi o alemão, língua exclusiva de culto, ensino escolar e 
atividades comunitárias de distintas gerações de imigrantes e seus descendentes. Os hinos, 
as orações e o Catecismo Menor foram os textos mais difundidos. A partir de meados do 
século XX, acelerou-se o processo de „nacionalização“ dos evangélicos vinculados à Reforma 
Luterana. Foram justamente estes textos, relacionados à vida litúrgica e à instrução cristã, os 
primeiros a serem traduzidos ao idioma oficial brasileiro, o português. Curiosamente, 
membros de outros grupos confessionais, como o metodismo e o catolicismo, promoveram 
traduções de Lutero antes mesmo do que os luteranos o fizessem sistematicamente. 
Dentre os 
escritos traduzidos e publicados em português isoladamente até os anos 1970, podemos 
citar: as 95 Teses, o Catecismo Maior, os Artigos de Esmalcalde, Da Liberdade Cristã, Da 
Autoridade Secular, Do Cativeiro Babilônico da Igreja e o Magnificat. Também foram 
publicadas duas coletâneas com trechos de obras do reformador. (Fischer) Os jubileus 
relativos à Confissão de Augsburgo (1977), ao Livro de Concórdia (1980) e ao nascimento de 
Lutero (1983) estimularam as editoras da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil 
(IECLB) e da Igreja Evangélica Luterana do Brasil a promover projetos de tradução de escritos 
da Reforma, em especial de Lutero. Formadas a partir do mesmo povo de imigrantes e 
descendentes, mas instituídas e lideradas por pastores de diferentes vertentes do 
luteranismo europeu e norteamericano, as duas igrejas mantinham relações distantes até 
15 
 
então. A obra de tradução do legado literário da Reforma, em especial de Lutero, porém, 
desencadeou um processo de superação, ao menos parcial, desta situação. 
Uma função chave na publicação de Obras Selecionadas cumpre a Comissão 
Interluterana de Literatura (CIL), desde 1966, instituída pelas duas igrejas. (Remeter ao site). 
Além de publicar anualmente o devocionário „Castelo Forte“, a CIL tem estado à frente dos 
projetos de tradução dos escritos de Lutero, delegando sua execução à Comissão Editorial 
Obras de Lutero (CEOL). A Editora Sinodal (São Leopoldo, RS), ligada à IECLB, e a Editora 
Concórdia (Porto Alegre, RS), ligada à IELB, tiveram desde o princípio um papel importante 
na edição. A elas somou-se posteriormente a Editora da Universidade Luterana do Brasil 
(ULBRA; Canoas, RS). Ambas as igrejas luteranas brasileiras têm subsidiado diretamente o 
projeto, ou então intermediado o apoio financeiro por igrejas e fundações dos EUA e 
Alemanha. 
Obras Selecionadas tem um editor geral que supervisiona todas as etapas da 
publicação de um volume. Luís Marcos Sander foi o primeiro a ocupar a função, sendo 
sucedido por Ilson Kayser, Darci Drehmer e, atualmente, por Yedo Brandenburg. O editor 
trabalha estreitamente vinculado à CEOL, um grupo de especialistas responsável por definir 
um conceito temático para cada volume, selecionar os escritos, supervisionar sua tradução, 
redigir introduções históricas para cada texto, auxiliar o editor geral na elaboração de notas 
de rodapé. Hoje, a CEOL é integrada por Claus Schwambach, Clóvis Jair Prunzel, Mário 
Francisco Tessmann, Paulo Wille Buss, Wilhelm Wachholz e Ricardo Willy Rieth, seu atual 
presidente. Já integraram a CEOL Joachim Fischer, Donaldo Schüler, Martim Warth, Nestor 
Beck, Mário Rehfeldt, Martin Dreher, Albérico Baeske, Osmar Witt, Silfredo Dalferth, Paulo 
Nerbas (conferir se falta algum nome). 
Um marco na estruturação do projeto de OSel foi o lançamento de uma coletânea em 
um só volume de textos básicos de Lutero por ocasião da celebração dos 500 anos de 
nascimento do reformador. Intitulado „Pelo Evangelho de Cristo: obras selecionadas de 
momentos decisivos da Reforma“ (1984), com tradução de Walter O. Schlupp e introdução 
geral de Nestor Beck o volume representou um ensaio do ponto de vista de sua proposta 
editorial, das lideranças e equipes técnicas envolvidas do que seria empreendido 
posteriormente. No prefácio, Leopoldo Heimann menciona os poucos escritos até então 
disponíveis em português e antecipa a constituição de um projeto voltado ao „lançamento 
de mais dez a doze volumes das obras selecionadas de Lutero.“ (p. 7). 
16 
 
O primeiro volume foi publicado em 1987, trazendo uma coletânea de escritos dosanos 1517-1519 intitulada „Os primórdios“. Na introdução geral, Joachim Fischer, que foi o 
primeiro coordenador da CEOL, descreve o desafio do projeto iniciado da seguinte forma: „A 
produção literária de Lutero é vastíssima: prédicas, interpretações bíblicas (sua ‚profissão‘ 
era professor para a interpretação da Sagrada Escritura!), escritos teológicos eruditos, 
polêmicos e pastorais, a tradução da Bíblia para a língua de seu povo, o alemão, pareceres 
sobre as mais diversas questões, cartas e muito mais. A edição completa de suas obras 
abrange mais de 100 volumes. Porém apenas um número reduzidíssimo de seus escritos foi 
traduzido para a língua portuguesa. O registro dessas traduções (até o ano de 1982) não 
ocupa nem sequer duas páginas. Nos países de fala portuguesa era praticamente impossível 
tomar conhecimento do pensamento profundo e rico deste ‚evangelista de Jesus Cristo‘. (p. 
9) 
A abrangência da coleção e sua estruturação temática também são descritas por 
Fischer na mesma introdução: „A CIL e a COL, no entanto, estavam cientes, desde o início, de 
que um volume só não é suficiente para um aprofundamento mais abrangente no 
pensamento de Lutero. Decidiu-se preparar uma edição em vários volumes. O projeto 
elaborado pela COL prevê, no decorrer dos próximos anos, a publicação de 12 a 14 volumes. 
Os dois primeiros apresentam escritos de Lutero dos anos anteriores a 1520 (vol. 1) e do ano 
de 1520 (vol. 2) em ordem cronológica. Quer-se mostrar, desta maneira, como Lutero 
chegou a se tornar o reformador da Igreja cristã. Os demais volumes serão temáticos, 
abrangendo obras de teologia erudita, escritos relacionados com congregação e culto 
cristãos, obras polêmicas, obras sobre ética cristã (família, economia, Estado, educação, 
etc.), interpretação da Sagrada Escritura, além de sermões e cartas e um índice geral de toda 
a coleção.“ (p. 9s) 
Volumes já publicados: 
Volume 1 (1987): Os primórdios – escritos de 1517 a 1519 
Volume 2 (1988): O programa da Reforma – escritos de 1520 
Volume 3 (1991): Debates e controvérsias I 
Volume 4 (1993): Debates e controvérsias II 
Volume 5 (1995):Ética: Fundamentos - Oração - Sexualidade - Educação – Economia 
Volume 6 (1996): Ética: Fundamentação da Ética Política: Governo - Guerra dos 
Camponeses - Guerra contra os Turcos - Paz Social 
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Volume 7 (2000): Vida em comunidade: Comunidade - Ministério - Culto - Sacramentos 
- Visitação - Catecismos – 
Hinos 
Volume 8 (2003): 
Interpretação bíblica – 
Princípios 
Volume 9 (2005): 
Interpretação do Novo 
Testamento: Mt 5-7; 1 Co 15; 
1 Tm 
Volume 10 (2008): 
Interpretação do Novo 
Testamento: Gl; Tt 
Volume 11 (2010): 
Interpretação do Novo 
Testamento: Jo 14-1; 1 Jo 
Volume 12 (2014): 
Interpretação do Antigo 
Testamento: Gn 
Volumes a serem 
publicados: 
Volume 13: Interpretação do Antigo Testamento: Dt; Profetas (2017) 
Volume 14: Cartas 
Volume 15: Sermões 
Volume 16: Tischreden; Índices 
 
http://www.lutero.com.br/novo/obras_de_lutero.php 
 
Se você quer conhecer os textos de Lutero já disponíveis em português, você pode 
acessar uma chave multilíngue das obras de Lutero no endereço 
http://www.lutero.com.br/novo/chave_multilingue.php 
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Além da opção impressa, você também pode adquirir Lutero em formato eletrônico. 
Alguns dos volumes já estão neste formato. 
Que critérios podem ser identificados para a seleção de escritos empreendida em 
Martinho Lutero, Obras Selecionadas? Naturalmente, os escritos relacionados a momentos 
chave na trajetória de vida e na carreira literária de Lutero, em especial aqueles relacionados 
aos inícios do movimento reformatório. Cartas, Tischreden e sermões inserem-se de igual 
modo aqui. Igualmente, os documentos relacionados às controvérsias, que obrigaram o 
reformador a decrever os limites teológicos em relação ao exterior do movimento 
reformatório e às divisões internas que se produziram. 
Nesse caso, a tarefa ficou facilitada pela análise de edições em outros idiomas de obras 
selecionadas, às quais têm abrangência mais ou menos equivalente à dos 16 volumes 
previstos para a edição brasileira. Também levou-se em consideração que Lutero, como 
teólogo, teve sua trajetória literária direcionada principalmente à interpretação bíblica. Seis 
volumes foram reservados para tal. Felizmente,foipossível incluir na íntegra o grande 
comentário à Epístola de São Paulo aos Gálatas (1530). Já para as preleções sobre a Epístola 
de São Paulo aos Romanos (1515-1516) e Gênesis (1535-1545) foi preciso assumir o desafio 
de selecionar trechos. Para tal, buscaram-se critérios e seleções em edições que 
enfrentaram o mesmo desafio e investigou-se também junto ao público especializado, em 
especial docentes de exegese vetero e neotestamentária, acerca de quais seriam as partes 
mais relevantes do ponto de vista da interpretação bíblica atual nos contextos de fala 
portuguesa. 
A característica fortemente comunitária do luteranismo brasileiro desde suas origens 
levou a que escritos com foco em culto, liturgia, ministério e educação cristã recebessem um 
volume exclusivo. Por fim, aspectos que marcaram o contexto latino-americando mais 
recente, a exemplo do intenso debate em torno às teologias da libertação, nas últimas três 
décadas do século passado, bem como o interesse pelo impacto social, político, econômico, 
cultural e educacional da Reforma como movimento religioso fez com que os escritos sobre 
temas de ética recebessem dois volumes. 
 
 
	Referências bibliográficas

Outros materiais