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Como a cocaína influenciou o trabalho de Sigmund Freud
A história de como uma substância estimulante e ainda não proibida ajudou a fundar as bases da psicanálise.
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Scott Oliver
jun 26 2017, 4:28pm
Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK.
A psicanálise deve muito de seu surgimento às extensas experimentações de Freud com o pó, que na época estava disponível em todo lugar e custava o mesmo que qualquer xarope na farmácia. E não só a cocaína influenciou a psicanálise (da descoberta da "estrada real do inconsciente" nos sonhos à terapia baseada nisso, até a disciplina intelectual em si), mas Freud também influenciou várias narinas por onde a cocaína entraria. Na verdade, segundo Dominic Streatfeild, autor deCocaine: An Unauthorized Biography, "se tem uma pessoa que podemos responsabilizar pela popularização da cocaína como fármaco recreativo é Freud".
 Freud descobriu a nova droga por meio de um jornal chamado Therapeutic Gazette, de propriedade de Parke-Davis, uma subsidiária da Pfizer, que acabou patrocinando o Freud de então 28 anos com US$ 24 [cerca de R$ 72] para endossar seus produtos. A Merck também mandou amostras para o ambicioso assistente de pesquisa de neuropatologia da Universidade de Viena. Freud se tornou um entusiasta do produto.
Nessa fase, Freud ainda farejava o grande avanço que faria seu nome. Ele recebeu seu primeiro lote em abril de 1884, e começou a experimentar em si mesmo imediatamente. 
Tantos os efeitos físicos como mentais foram instantaneamente atraentes, e em correspondências Freud descreveu como ele tinha começado a usar o pó "contra depressão e indigestão, e com o maior sucesso”. No final daquele ano, ele publicou um trabalho, "Über Coca", no qual descrevia "a mais linda excitação" na primeira vez que ingeriu o medicamento, uma "exaltação e euforia duradouras", além de notar a supressão da fadiga e da fome.
No entanto, Freud foi menos óbvio em se tratando das propriedades viciantes e efeitos colaterais da cocaína, escrevendo: "Me parece digno de nota — e descobri isso em mim mesmo e em outros observadores capazes de julgar coisas assim — que uma primeira dose ou mesmo doses repetidas de coca não produzem desejo compulsivo de usar mais do estimulante; pelo contrário, a pessoa sente uma certa aversão desestimulada com a substância".
Freud logo estava mandando amostras do remédio para amigos da profissão, citando suas aplicações em potencial como estimulante mental, um tratamento para asma e transtornos alimentares, e afrodisíaco, e, de maneira alarmante, como uma cura para o vício em morfina e álcool. Ele introduziu o produto a Ernest von Fleischl-Marxow, um amigo psicólogo que tomava morfina para a dor crônica que sofria depois de ferir o dedão dissecando um cadáver. Em vez de neutralizar seu vício, isso apenas acrescentou outro ao caldeirão. Fleischl-Marxow logo estava gastando seis mil marcos por mês com o novo hábito, e morreu sete anos depois, com 45.
Uma aplicação médica de maior sucesso foi encontrada por um amigo oftalmologista, Karl Koller, o primeiro a descobrir que os efeitos amortecedores da cocaína poderiam ser úteis como anestésico local em operações do olho. Mas Koller não adquiriu o mesmo gosto pessoal que Freud pela droga.
Os colegas de Freud estavam experimentando em si mesmo a panaceia em pó, as curas milagrosas se mostravam um pouco exageradas. Por exemplo, o Dr. Wilhelm Fleiss — um otorrinolaringologista alemão — publicou um trabalho intitulado "A Relação Entre o Nariz e os Órgãos Sexuais Femininos", no qual especulava que o nariz era um microcosmo do corpo, e que qualquer doença poderia ser tratada achando a localização correspondente na napa e aplicando a cocaína ali, uma teoria que Freud apreciou de tal maneira, que acabou precisando de cirurgias para desobstruir o nariz, assim como Fleiss.
Encontro mais assustador de Freud com a droga ocorreu em 1895 depois que ele e um colega chamado Wilhelm Fleiss quase matou um paciente chamado Emma Eckstein com uma operação mal feita e cocaína demais. Várias noites depois, ele teve um sonho perturbador sobre uma festa onde Eckstein Freud culpou por sua negligência médica grosseira.
Hoje, Eckstein é mais conhecida como "Irma", o pseudônimo que Freud deu-lhe em sua obra-prima, "A Interpretação dos Sonhos". Ao escrever sobre seu sonho, Freud encoberta sua negligência óbvia, um ato que hoje teria resultado em desgraça, perda de licença médica, processos judiciais e até mesmo prisão.
Em vez disso, Freud explicou o sonho significava que ele era um médico que estava cuidando e era excessivamente preocupado com seu paciente, "Irma".
Supõe-se que suas experiências clínicas com Eckstein ensinou-lhe que a cocaína era muito perigosa para qualquer aplicação terapêutica. 
Freud começou a elaborar as teorias que formariam a base da psicanálise — conceitos como o id, ego e superego; libido como uma energia sexual que flutua livremente; o Complexo de Édipo — enquanto distribuía enormes quantidades de cocaína para os vienenses neuróticos de classe média que vinham conversar, interminavelmente, com ele sobre seus problemas que sempre, achava Freud, acabavam sendo seus pais ou sua má adaptação às normas burguesas.
Então foi assim que a crítica de Gilles Deleuze e Félix Guattari da psicanálise, O Anti-Édipo, retratou nas três fases da carreira de Freud: "o elemento exploratório, pioneiro e revolucionário" onde o desejo de forma livre da libido foi descoberto; o classista que então impôs o mito edipiano naquela fábrica latejante do inconsciente, prendendo o desejo à família; e finalmente o terapeuta que criou a "interminável cura pela fala". 
Apesar da popularidade duradora entre aqueles com grana pra torrar em papos solipsistas, muitos consideram a psicanálise uma disciplina desacreditada, que só serve para piadas internas em Frasier. Seus críticos já a consideraram uma pseudociência (o próprio Freud esperava que suas construções teóricas barrocas mais tarde fossem provadas por neurocientistas), antes mesmo que o hábito — que alguns classificariam mais como abuso de substância que vício — de seu fundador fosse descoberto. Céticos apontam a influência da cocaína em sua maior obra, A Interpretação dos Sonhos, no qual o modelo, parece, foi um devaneio de livre associação febril induzido pelo pó. "Me vejo como um boneco de neve, uma cenoura como nariz, parado num vasto campo de neve pristina, que de repente derrete, como eu, meu nariz caindo e me deixando com um sentimento de profundo vazio..." "Isso é sobre ansiedade de fertilidade: a cenoura é seu pênis..."
Os galanteios de Freud acabaram abruptamente no outono de 1896, no dia do funeral de seu pai, depois de 12 anos como escravo da senhora branca, afirmando ter colocado “seu vício em cocaína” de lado. 
@reverse_sweeper
Tradução: Marina Schnoor
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TAGGED:
COCAINA
BIOGRAFIA
https://www.vice.com/pt_br/article/9k5e9v/cocaina-sigmund-freud

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