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Teoria dos Custos de Transação

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HUÁSCAR FIALHO PESSALI 
 
 
 
 
 
 
TEORIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO: 
UMA AVALIAÇÃO À LUZ DE DIFERENTES CORRENTES DO 
PENSAMENTO ECONÔMICO 
 
 
 
Dissertação apresentada como requisito 
parcial à obtenção do grau de Mestre. 
Curso de Mestrado em Desenvolvimento 
Econômico, Setor de Ciências Sociais 
Aplicadas da Universidade Federal do 
Paraná. 
Orientador: Professor Doutor Ramón 
Vicente García Fernández. 
 
 
CURITIBA 
1998
HUÁSCAR FIALHO PESSALI 
 
 
 
 
 
 
TEORIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO: 
UMA AVALIAÇÃO À LUZ DE DIFERENTES CORRENTES DO 
PENSAMENTO ECONÔMICO 
 
 
 
 
Dissertação apresentada como requisito 
parcial à obtenção do grau de Mestre. 
Curso de Mestrado em Desenvol-
vimento Econômico, Setor de Ciências 
Sociais Aplicadas da Universidade 
Federal do Paraná. 
Orientador: Professor Doutor Ramón 
Vicente García Fernández. 
 
 
 
CURITIBA 
1998 
 ii
HUÁSCAR FIALHO PESSALI 
 
 
TEORIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO 
UMA AVALIAÇÃO À LUZ DE DIFERENTES CORRENTES DO 
PENSAMENTO ECONÔMICO 
 
 
Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de 
Mestre no Curso de Mestrado em Desenvolvimento Econômico da 
Universidade Federal do Paraná, pela Comissão formada pelos professores: 
 
 
Orientador: _________________________________________________ 
 Prof. Doutor Ramón Vicente García Fernández 
 Setor de Ciências Sociais Aplicadas, UFPR 
 
 
 _________________________________________________ 
 Profa. Doutora Leda Maria Paulani 
 Faculdade de Economia e Administração, USP 
 
 
 _________________________________________________ 
 Prof. Doutor José Gabriel Porcile Meirelles 
 Setor de Ciências Sociais Aplicadas, UFPR 
 
 
 
 
Curitiba, 04 de maio de 1998. 
 iii
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Com amor e admiração, à minha mãe e à 
minha avó, e em memória de meu primo 
Wilton, que fez algo que um grande amigo 
não deveria jamais fazer: partiu. 
 iv
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Hoc opus, hic labor est." 
("Esse é o trabalho, essa é a fadiga.") 
Virgílio, na Eneida. 
 v
AGRADECIMENTOS 
 
 Vejo hoje os últimos dois anos passarem diante dos olhos, acreditando ter 
tentado o melhor para fazê-los proveitosos. E é claro que várias pessoas estiveram (e 
muitas felizmente ainda estão) em velado conluio comigo nessa tentativa. Na parte mais 
lida nas dissertações, quero entregar todos os cúmplices, em ordem cronológica. 
 Como explicou meu (corajoso) orientador, Professor Ramón, em seu tratado 
sobre os Agradecimentos (nos Agradecimentos de sua Tese de Doutoramento), não vou 
fazer aqui o preenchimento de um formulário: na verdade, vou passar por ele 
escrevendo até no verso. Não vou fazer uma relação padrão com nomes e respectivas 
contribuições como se tivesse que ocupar o menor espaço possível e conter sentimentos 
como no texto científico. Afinal de contas, este trabalho não foi fruto apenas de horas 
dedicadas ao estudo, dentro e fora das salas de aula, nos debates, seminários, cursos, 
apresentações, etc. Ele foi fruto de cada uma das 24 horas de cada um dos dias que 
passei no Mestrado. Portanto, muitos devem ser lembrados. 
 Obviamente, tudo começa com o suporte da família: obrigado à Ilka e à Dona 
Lodica. A elas seria preciso reservar várias páginas do formulário para expressar minha 
gratidão. Para poupar o leitor, vou fazê-lo pessoalmente. E se não fosse minha prima 
Ana Teresa, esta página não existiria. Obrigado também à Celinha. 
 Uma vez aprovado para o Mestrado, a possibilidade de me dedicar 
exclusivamente só foi possível com o suporte financeiro do Estado Brasileiro, através 
da CAPES. A eles registro meu respeitoso agradecimento. 
 Cristhiane me encorajou. E as amizades em Curitiba seguraram a barra da 
adaptação: Alessandra Dodl, Êdi Picolli e Sonia Hanemann. E também a Mírian o 
Salério e sua Claudinha. E também o pessoal da turma: Cajú, Sandra, Eduardo, 
Anderson e Léo. E de outras turmas: Guilherme, Ricardo e Hugo. Aos amigos que não 
dão a mínima para o tempo e para a distância, Leonardo e Evandro, agradeço sempre. 
 É sempre difícil saber em quanto e em que nossos professores mais 
contribuíram, e só o tempo pode dizer quanto subestimamos isso. Aos mestres (com 
carinho) Francisco Cipolla, Aldair Rizzi, Merle Faminow e Hugh Schwartz, não posso 
 vi
esconder a gratidão pela contribuição de cada um em minha formação. Aos professores 
Fábio Scatolin, Divonzir Beloto, Igor Leão e Liana Carleial agradeço o impulso 
constante para o empenho acadêmico e para a docência, e também aos professores 
Hermes Higachi e Hugo Boff. Dos cursos para as conversas nos corredores, e delas para 
a amizade, foi esse o caminho mais comum. Do professor José Gabriel Porcile Meirelles 
guardo profunda admiração por seu brilhantismo intelectual, que convive com o mais 
nobre caráter, repleto de bom humor, paciência, encorajamento e respeito pelos que 
estão começando. Ao professor Victor Pelaez devo ainda o desembaraço do novelo 
antes de entrar no labirinto, e agradeço a paciência de conferir e ainda iluminar, no 
seminário interno que precede a defesa, as desventuras de Teseu. Às professoras 
Vanessa Petrelli e Margarida Baptista agradeço pelas atenciosas observações e 
sugestões ao trabalho. "Last, but not least", meu agradecimento ao patrão, professor 
Nilson Maciel de Paula, pelo apoio e atenção intermitentes, pelas sábias recomendações 
ao longo de todo o curso e pela confiança nas ocasiões em que forcei a restrição 
orçamentária do Mestrado. 
 Quando procurei o professor Ramón Vicente García Fernández a fim de solicitar 
oficialmente orientação para a dissertação, pedi apenas que não me poupasse. Agora é 
minha oportunidade de não poupá-lo. Na verdade, acho que deveria também reservar 
algumas páginas só para falar a respeito disso. Em primeiro lugar, agradeço pelos 
valiosos empréstimos de CD's. Depois, pelos empréstimos dos livros e textos que 
sustentaram a pesquisa. A ele devo muito mais que os préstimos pela orientação 
acadêmica, e não vou deter-me a falar quantas e quais foram as vezes em que sua 
genialidade limpou trilhas sinistras em que enveredei. Nem vou referir-me à serenidade 
e à paciência com que sempre me ouviu, aplacando as angústias não poucas. Ainda 
menos falarei de seu literatismo, de seu hábil e tranqüilo manejo de vastas áreas do 
conhecimento, e de seu irrepreensível caráter. Portanto, sem pieguice, nada tenho a 
falar, sequer um elogio a fazer. Apenas obrigado, Ramón. 
 Muitíssimo devo aos amigos Fabiano Dalto e Maurício Costa. E também ao 
Claudenício Ferreira, Maria Cilene e Antônio Zanatta, Ricardo Cifuentes, Pedro Loyola, 
Adriana Sbicca e Fernanda. 
 vii
 Tudo teria sido muito mais complicado se não fosse o trabalho, a alegria, a 
jovialidade, o carinho e a elegância da Rosa. E o que seria se a Ivone não continuasse 
no apoio executivo com toda presteza? E sem a Dirce nas emergências com o 
fliperama? Espero que a conclusão do curso me faça parar de dar (muito) trabalho à 
secretaria e ao CEPEC, e seja essa a mínima e devida recompensa e o meu mais sincero 
agradecimento a elas. 
 Agradeço aos professores Demian Castro e Walter Shima pela disposição para 
um bate-papo, qual fosse o assunto, inclusive economia, e pela paciência e confiança 
num "rookie" para assuntos de trabalho.. 
 Há algumas pessoas que não fazem (farão ou fariam) a menor idéia da minha 
existência, mas ajudaram de forma inestimável a recobrar a tranqüilidade quandoa 
pressão aumentava. Obrigado a Chris Squire, Steve Howe, Jon Anderson, Rick 
Wakeman, Alan White, Bill Bruford, Tony Kaye, Trevor Rabin e Geoff Downes; a 
Beethoven, Lloyd Cole, Cartola, Vinícius, Carlos Drummond de Andrade e ao 
admirável Aldous Leonard Huxley; a Goscinny e Uderzo e ao Simão; a Salvador Dalí; e 
a Ridley Scott e Philip K. Dick. 
 Por fim, como não poderia deixar de ser, agradeço à Adriana pelo amor e pela 
enorme paciência. A ela atribuo a maior contradição deste trabalho: o melhor motivo 
para que às vezes a pesquisa fosse interrompida, e o melhor motivo para que fosse logo 
terminada. 
 
 viii
SUMÁRIO 
LISTA DE QUADROS ........................................................................................................ xi 
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................... xi 
LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................................. xi 
RESUMO............................................................................................................................. xii 
ABSTRACT ....................................................................................................................... xiii 
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 1 
2 AS IDÉIAS ORIGINAIS DE COASE ............................................................................. 11 
3 A TEORIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO DE OLIVER E. WILLIAMSON.......... 17 
3.1 A Unidade de Análise.................................................................................................... 19 
3.2 Atributos Humanos e Supostos Comportamentais: Racionalidade Limitada, 
Oportunismo, Busca da Eficiência e o Processo Seletivo .............................................. 24 
3.3 As Dimensões Analíticas das Transações (Especificidade do Ativo, Incerteza e 
Freqüência) e os Arranjos Institucionais Decorrentes .................................................... 32 
4 UMA APRESENTAÇÃO ÀS CRÍTICAS DA TEORIA DOS CUSTOS DE 
TRANSAÇÃO ................................................................................................................ 43 
4.1 Fontes Críticas Evolucionistas ...................................................................................... 44 
4.1.1 Considerações dinâmicas: aprendizado, competências e construção de alternativas 
no processo de competição ............................................................................................. 45 
4.1.2 Conhecimento tácito e social, competências e os custos dinâmicos de transação ..... 49 
4.1.3 Regimes inovativos e eficiência estática versus eficiência dinâmica......................... 55 
4.1.4 No tempo real: aprendizado, cooperação e atributos humanos desenvolvidos ... 60 
4.1.5 Estática comparativa unidimensional e dinâmica co-evolucionária........................... 64 
4.1.6 O insistente convite à perspectiva evolucionista ........................................................ 65 
4.2 Fontes Críticas na Economia Política............................................................................ 67 
4.2.1 Mercados e firmas: estaticamente alternativos ou dinamicamente 
complementares? ............................................................................................................ 69 
4.2.2 Poder ou eficiência? O problema da racionalização ex post ...................................... 73 
4.2.3 Oportunismo: perigo eminente, relevante e ubíquo ou pobre descrição da natureza 
humana? .......................................................................................................................... 82 
4.3 Fontes Críticas Institucionalistas (Old Institutional Economics) .................................. 87 
4.3.1 Herança corrompida? O conceito de transação em Williamson e em Commons....... 88 
4.3.2 Eficiência em socorro à ortodoxia, poder, competição e processo seletivo ............... 92 
4.3.3 Institucionalismo sem feed-back institucional ......................................................... 100 
4.3.4 Oportunismo: simplismo e inconsistências .............................................................. 103 
4.3.5 Racionalidade limitada e maximização: incompatibilidade à espera de resolução.. 107 
 ix
4.4 Fontes Críticas Neoclássicas ....................................................................................... 110 
4.4.1 O nexo de contratos e a superfluidade da autoridade ............................................... 112 
4.4.2 Sugestões de alianças para a TCT ............................................................................ 121 
5 CONCLUSÕES.............................................................................................................. 126 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 132 
 
 
 x
LISTA DE QUADROS 
 
1 Atributos do Processo de Contratação............................................................................ 37 
2 Efeitos da Difusão do Aprendizado Sobre os Limites da Firma .................................... 61 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
1 Respostas Organizacionais à Incerteza........................................................................... 39 
2 Esquema Simples de Contratação .................................................................................. 41 
3 O Caso Paradigmático da Integração Vertical................................................................ 43 
4 Arranjos Contratuais Alternativos................................................................................ 121 
5 Proposta de Joskow para Integração Teórica ............................................................... 129 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
TCT - Teoria dos Custos de Transação 
NEI - Nova Economia Institucional 
OIE - Old Institutional Economics 
MOI - Moderna Organização Industrial 
 xi
RESUMO 
 
A TCT tem sido considerada a "nova ortodoxia" da teoria da firma. Seus 
pilares teóricos são constituídos pelos supostos atribuídos ao "homem 
contratual" de racionalidade limitada, oportunismo e busca da eficiência, que 
interage economicamente através de transações. As transações possuem 
atributos analíticos elementares (especificidade dos ativos envolvidos, 
freqüência de realização e incerteza envolvida) que se apresentam em 
diferentes níveis para diferentes formas de organização das mesmas, 
operacionalizando o estudo dos limites entre firmas, mercados e arranjos 
intermediários ou híbridos. Ocupando posição tão vistosa, a TCT vem 
recebendo críticas tanto do mainstream neoclássico, por afastar-se de seu 
núcleo teórico, quanto de diferentes correntes heterodoxas do pensamento 
econômico, que possuem vários pontos de contato. Tais interseções existem 
em assuntos relacionados principalmente a considerações analíticas de poder, 
a processos seletivos co-determinados e artificiais, e ao uso consistente do 
conceito de racionalidade limitada, com importantes implicações para a 
ênfase exclusiva dada pela TCT na eficiência; há também argumentos em prol 
de uma caracterização mais ampla de importantes atributos humanos que não 
apenas o oportunismo. Essas coincidências sugerem novas direções para uma 
agenda de pesquisa reformulada em tom pluralista da teoria da firma. 
 xii
ABSTRACT 
 
 
TCT has been regarded as the "new orthodoxy" in the theory of firms. Its 
theoretical framework relies mainly on the assumptions of bounded 
rationality, opportunism, and efficiency pursuit as features of the contracting 
man, who operates economic transactions with different degrees of 
elementary attributes (specificity of engaged assets, frequency andunderlying 
uncertainty) regarding each form of its organization, allowing for the 
analysis of the limits between firms, markets and hybrid forms. In such a 
central position, TCT is the target of several criticism from mainstream 
economics, for TCT be departing from the neoclassical theoretical core, as 
much as from different non orthodox streams of economic thought, which 
ideas have several touching points. These intersections relate mainly to the 
relevance of power aspects, artificial or co-evolutionary selection precesses, 
and a more consistent use of the bounded rationality concept, all these with 
paramount consequences over the very emphasis of TCT in efficiency. A 
broader treatment of human attributes in which not only opportunism play a 
central role is also claimed. These coincidences are suggestive of new 
directions towards a new and pluralistic research agenda for the theory of 
the firm. 
 1
1 INTRODUÇÃO 
 
O tema e sua escolha 
Imagine a presença de um visitante de Marte no espaço próximo à Terra, equipado 
com um telescópio capaz de revelar estruturas sócio-econômicas (para ele ainda 
desconhecidas em sua missão exploratória sobre nosso planeta). No foco de seu aparelho, 
firmas aparecem como manchas verdes sólidas, com alguns contornos internos tênues, 
indicando sua divisão em setores ou departamentos. As transações de mercado aparecem 
como linhas vermelhas, ligando as manchas verdes e formando redes entre elas. Dentro das 
firmas, ou mesmo entre elas, o visitante observa linhas azuis pálidas, que indicam os canais 
de autoridade ligando patrões e empregados, e empregados de diferentes níveis 
hierárquicos. Com alguma freqüência, é possível observar manchas verdes que se dividem 
ou que desprendem de si pedaços menores, enquanto outras manchas absorvem ou são 
absorvidas por outras. E este é um panorama ubíquo, quer seja observando os Estados 
Unidos, a China urbana, ou qualquer outro país ou região do planeta, embora a densidade 
das estruturas se apresente diferente entre elas. Tendo observado o suficiente, o visitante 
envia então uma mensagem para casa descrevendo o que viu: grandes manchas verdes 
ligadas por linhas vermelhas - e não um emaranhado de linhas vermelhas ligando pontos 
verdes. Quando, então, toma conhecimento do que significam aqueles elementos, 
surpreende-se: se as manchas verdes são organizações e as linhas vermelhas representam 
as transações de mercado, como pode aquele sistema de estruturas ser apropriadamente 
chamado de "economia de mercado", e não de "economia organizacional"? 
Essa é uma breve apresentação da parábola construída por Herbert SIMON (1991, 
p. 27-8) para propor que na verdade nos deparamos com um rótulo enganoso para um 
sistema essencial de estruturas, o econômico, entrelaçado de forma indesatável numa fase 
particular e rica da história da humanidade - o capitalismo. Diante da parábola de Simon, 
parece um absurdo insistir em dizer que tal sistema é composto por "economias (nacionais, 
quando muito) de mercado". Para o cientista social, e particularmente para o economista, a 
questão não se resume à semântica: o duvidoso jargão impele teorias e estudos empíricos, e 
mesmo discussões diletantes e o senso comum, a tomarem o mercado como ponto de 
 2
partida, parâmetro virtualmente sempre possível, e mesmo estado natural das relações 
econômicas, para sua interpretação do mundo em que vivem. 
A parábola de Simon foi decisiva (senão fulminante) na escolha do tema desta 
dissertação, não só por seu conteúdo instigante, mas também pela forma e o contexto de 
sua apresentação nas não menos incitantes aulas de Microeconomia do Professor Ramón. 
Com ela fui apresentado às idéias básicas da "facção micro" da Nova Economia Institu-
cional (doravante NEI), cujo cerne de pesquisa é, em termos gerais, a construção de uma 
explicação para a parábola. Ronald Coase, economista inglês, escreve na década de 30 um 
artigo intitulado "The Nature of the Firm" (COASE, 1937) que se tornaria seminal ao ser 
reconhecido como o ponto de partida para o novo enfoque econômico das instituições, e 
que 54 anos depois de publicado seria o principal responsável por seu laureamento com um 
Prêmio Nobel. Duas questões impulsionam suas idéias: i) já que o mercado é tradicional-
mente considerado a forma eficiente de alocação dos recursos através do mecanismo de 
preços, qual a razão de existência das firmas, uma vez que se estruturam justamente a 
partir da fuga ou recusa de tal mecanismo?; e ii) se as firmas conseguem reduzir ou 
eliminar custos que o uso do mercado impõe, organizando de modo mais eficiente a 
produção, por que não temos, então, uma única grande firma responsável por toda ela? Ou 
seja, tenta-se explicar a razão de existência das firmas e os determinantes de seus limites. 
A Teoria dos Custos de Transação (TCT) pode ser considerada a linha básica dos trabalhos 
da NEI sobre tais preocupações, embora outras linhas de pesquisa se desenvolvam em 
paralelo ou mesmo com pontos de contato. A TCT reconhecidamente deriva de COASE 
(1937), a partir da recuperação das idéias originais de seu artigo e do desenvolvimento 
teórico deflagrado em meados da década de 70 por Oliver Eaton Williamson, nome com o 
qual, aliás, praticamente funde-se desde então - e por isso resolvemos neste trabalho 
identificar a TCT com os desenvolvimentos teóricos de Williamson. 
No entanto, foi possível perceber a partir de então que os danos do termo 
"economia de mercado" alegados por Simon (considerado um dos inspiradores da NEI) e a 
preocupação com as instituições humanas no seu entrelaçamento com a esfera econômica 
não eram a descoberta da pólvora conclamada pelos partidários dessa nova linha do 
pensamento econômico. De certa forma, vários outros pensadores e economistas tiveram 
tais preocupações, mas não foram chamados de "institucionalistas" porque não as deixaram 
 3
suficientemente explícitas (ou porque o título ainda não existia ou não fora pensado, ou 
não tinha importância), como é possível cogitar a respeito de Karl Marx, Joseph 
Schumpeter e John M. Keynes, por exemplo. Interessante é que, pelo menos 30 anos antes 
do artigo de Coase, outros pensadores foram os responsáveis pelo surgimento do termo 
"institucionalistas", como Thorstein Veblen1 e John Commons, mas eram virulentamente 
opostos ao método e à teoria neoclássica, o que acabou cerceando maiores esperanças de 
projeção no círculo acadêmico e de influência em esferas de política econômica. Não à toa, 
portanto, economistas políticos, evolucionistas neo-schumpeterianos, institucionalistas 
"originais" e pós-keynesianos (estes em menor grau, ao que parece) têm demonstrado 
interesse na NEI e, particularmente, na TCT. 
 
O objetivo 
Em decorrência das inquietações apresentadas acima, objetivamos nesta dissertação 
efetuar um balanço crítico da estrutura teóricas da TCT, tentando apontar, ao fim, o que 
poderia ser considerada a base de uma agenda relevante de pesquisa para uma teoria mais 
abrangente da firma.2 Observamos desde já que as críticas à TCT distribuem-se em largo 
escopo, considerando-a, em alguns casos extremos da heterodoxia, absolutamente 
descartável ao ser interpretada como extensão da teoria neoclássica, enquanto a própria 
teoria neoclássica considera impróprias as incursões feitas fora de seu núcleo teórico.3 Não 
obstante, em boa parte delas é reconhecida a validade analítica de alguns de seus 
elementos fundamentais, como a racionalidade limitada, a incerteza e as transações como 
unidade de análise, bem como a legitimidade de sua preocupação com os limites das firmas 
(obviamente, não sem críticas). 
Ao longo da pesquisa tentamos selecionar da maneira mais abrangente possível 
material bibliográficoque se reportasse à TCT, a princípio com critérios mais frouxos de 
 
1 Veblen chegou a ser elogiado como um dos maiores pensadores sociais de seu tempo por 
ninguém menos que seu contemporâneo Albert Einsten (cf. MONASTÉRIO, 1998, p. 30). 
2 Muitas vezes o termo "Teoria dos Custos de Transação" tem também referência na 
literatura como a "Economia dos Custos de Transação". Por exemplo, vide SIFFERT FILHO 
(1995, p. 103) e o próprio WILLIAMSON (1985, cap. 1 e 1989, p. 135). Falaremos sobre a 
natureza da distinção que fazemos um pouco mais à frente. 
3 Não deixa de ser válido comentar que o próprio Williamson, ao longo de seus trabalhos, 
está predominantemente preocupado com as críticas de origem neoclássica. 
 4
seleção. Isso porque víamos a possibilidade de dois enfoques para trabalhar sobre as fontes 
críticas: uma distinção por temas (e.g., uma seção para análise das críticas ao suposto 
comportamental de oportunismo), ou uma distinção por correntes do pensamento 
econômico (e.g., uma seção que reunisse os vários temas críticas oriundos de autores neo-
schumpeterianos) e cada uma das alternativas tinha seus desafios peculiares. Em várias 
ocasiões fomos encorajados a trabalhar com a segunda alternativa e, por isso, enfrentar o 
desafio de qualificar os autores de acordo com suas bases teórica e metodológica, o que na 
maior parte dos casos constituiu tarefa complicada, cujo resultado nem sempre pôde ser 
justo o suficiente para revelar todas as nuances e a amplitude da obra de alguns deles. 
Contando com alguma paciência e tolerância acadêmica para a compreensão de tal 
obstáculo, foi o rumo escolhido, e por conseqüência reservamos um capítulo para a análise 
das críticas que se divide em quatro seções, cada uma reservada para diferentes linhas de 
pensamento: autores evolucionistas (ou neo-schumpeterianos), da economia política, 
institucionalistas norte-americanos ("legítimos", do "velho estilo", ou "originais")4 e 
neoclássicos. 
Vale notar que nosso intuito não é apresentar ou elaborar para cada uma das seções 
a teoria das instituições ou das firmas de cada corrente, como corpos teóricos fechados e 
alternativos à TCT, mas os elementos desta que tais correntes consideram problemáticos e 
que deveriam ser modificados ou abandonados, ou ter seu tratamento aprofundado, e suas 
explicações para tanto. Quando avaliávamos o enfoque de pesquisa por temas, como 
mencionado há pouco, víamos outras oportunidades e dificuldades distintas das que 
acabamos enfrentando, dentre as quais a possibilidade de reunir as correntes não ortodoxas 
por sua afinidade metodológica em torno do não reducionismo. Como sugerido por 
FERNÁNDEZ (1996a, p. 159, nota de rodapé 8), parece haver uma crescente simpatia nos 
diversos programas de pesquisa críticos ao mainstream neoclássico em enfatizar suas 
semelhanças e sobre elas trabalharem, podendo isso resultar - voluntariamente ou não -, 
numa linha única de pensamento (embora provavelmente complexa e eclética, com os 
 
4 Como tratados por Sherry Melecki no informativo da Association for Evolutionary 
Economics - AFEE News, vol. 3, n. 1, de agosto de 1996. A AFEE é a organização que reúne os 
principais pesquisadores desta linha. 
 5
devidos méritos a uma ciência econômica realmente social) alternativa àquele.5 E, neste 
caminho, estaríamos tentados a elaborar algo como uma "síntese não reducionista" da 
teoria da firma, o que seria bastante ousado para uma dissertação de mestrado. Essa 
proposição negativista também afetou a escolha pelo outro caminho, mas não de forma 
desoladora. Pelo contrário, a linha que seguimos permitiu constatar quão variados são os 
pontos de contato entre as correntes não ortodoxas em suas críticas à TCT, fazendo mais 
sólida a idéia da síntese, ou pelo menos da elaboração de agendas de pesquisas cujos focos 
possam em boa parte coincidir. A partir disso, a discussão teórica e os trabalhos empíricos 
decorrentes podem ser mais frutíferos, já que menos dispersos. 
 
Uma pequena digressão sobre a insatisfação para com o mainstream neoclássico 
Podemos nesta altura tornar mais explícito um outro elemento propulsor desta pes-
quisa: uma já conhecida insatisfação com relação à microeconomia tradicional, bastante 
comum entre aqueles com uma formação acadêmica não ortodoxa (onde nos incluímos), 
embora não restrito a eles. O incômodo tem origem na abordagem padronizada que aquela 
aplica às organizações, resumindo-as basicamente a funções de produção bem comporta-
das, considerando procedimentos homogêneos de otimização, adotando um modelo de 
comportamento humano em que os agentes detêm uma racionalidade global ou substantiva 
dentro de um mundo sem incerteza (ou que pode ser resumido a eventos com diferentes 
probabilidades em distribuições conhecidas), e tomam decisões independentes no tempo. 
Tal incômodo vem há muito manifesto na chamada "controvérsia marginalista."6 
Compartilhando a inquietação, acreditamos ser útil avançar em outros níveis de análise, 
como julgamos ser o caso para o nível das transações, como forma de jogar luzes dentro 
(ou tornar menos opacas as paredes) da "caixa-preta" apresentada pela teoria tradicional.7 
 
5 Não obstante possa, ao contrário, resultar numa dispersão infrutífera de esforços, enquanto 
deveriam ser agrupados para a superação definitiva dos postulados neoclássicos, como sugerido por 
Philip Mirowski (citado por FERNÁNDEZ, 1995, p. 4-5). 
6 Para uma apresentação da "controvérsia marginalista", vide A. KOUTSOYIANNIS (1979, 
cap. 11). 
7 Como evidenciam HAMILTON e FEENSTRA (1995, p. 57): "We believe, however, that, 
in the study of economic organization, a transactional level is necessary, because it represents a 
level of analysis in which economic action can be conceptualized in subjectively meaningful 
terms.[...] It is the duality of market and hierarchy, a duality between price and the entrepreneur as 
independent but interrelated modes for organizing market activities, that serves as the basis for 
 6
Mas esse é também o motivo de termos reservado uma seção de críticas à TCT para os 
economistas mais próximos à teoria neoclássica tradicional. 
Como observamos há pouco, a TCT é vista por alguns como pura extensão da 
teoria neoclássica da firma, enquanto outros a vêem com uma base dividida - um pé sobre 
os alicerces tradicionais e o outro sobre alicerces próprios, externos à ortodoxia - como, 
aliás, pode ser ocasionalmente interpretada a posição do próprio Williamson 
(WILLIAMSON, 1989, p. 178; vide também DUGGER, 1994, p. 378, e ainda MILLER, 
1993, p. 1043), em meio à sua freqüente ambigüidade - discutida em várias ocasiões ao 
longo deste trabalho. Interpretar a TCT como um bloco teórico neoclássico que incursiona 
em hipóteses mais realistas ou como um bloco não ortodoxo que procura a aceitação no 
mainstream pode resultar numa discussão interminável, podendo obscurecer os insights 
por ela proporcionados para o estudo das organizações. A despeito da direção em que 
surjam, são justamente as diferenças com relação ao mainstream que despertam as 
principais expectativas de avanço, já que parecem abrir "precedentes" para incursões não 
ortodoxas, mesmo que os braços da teoria neoclássica tentem ainda reter ou tratar os novos 
insights como acréscimos em seu corpo teórico, principalmente através da manutenção de 
seu "núcleo rígido", com maior formalização e em acordo com sua visão positiva e aditiva 
do conhecimento. O próprio Williamson, tendo por base a alegação da complexidade da 
TCT relacionada à, ou mesmo imposta pela, interdisciplinaridade desua abordagem (e, a 
nosso ver, o seu usual comportamento não afrontador), deixa uma lacuna ao mesmo tempo 
coerente - posto que não pretende com a TCT elaborar um compêndio da humanidade -, 
retoricamente protetora, e também convidativa ao afirmar: "transaction cost economics 
should often be used in addition to, rather to the exclusion of, alternative approaches" 
(WILLIAMSON, 1985, p. 18). 
Uma consideração importante a ser feita é que, quer sejam consideradas recentes 
abordagens completamente divergentes da ortodoxia, como em POSSAS (1993a e 1993b), 
ou outras ainda nelas enraizadas, como em NORTH (1993a,b) e BATES (1993), busca-se 
revigorar a interação entre os indivíduos, as firmas e o ambiente institucional em que 
atuam. A despeito das grandes diferenças, é relevante notar a preocupação em dinamizar as 
 
Coase's original conceptualization, and without the duality, the conceptualization is strictly a one-
handed approach to economic analysis". 
 7
relações entre as organizações e considerar os feedbacks da mudança ambiental ou 
institucional. Embora esta não seja a preocupação de Williamson, seu propósito parece 
conter outra incumbência relevante como parte da análise institucional, qual seja, a de 
erigir microfundamentos mais consistentes que os prevalecentes no mainstream 
neoclássico, e conseguir legitimá-los. WILLIAMSON (1985, p. 15) alega que "The 
widespread conception of the modern corporation as a 'black box' is the epitome of the 
noninstitutional (or pre-microanalytic) research tradition". 
 
Sobre a organização e a apresentação da dissertação 
Em particular, este é um trabalho que recorre com freqüência a referências e 
citações, como se poderia esperar pela natureza da pesquisa. Ao longo de sua elaboração, 
duas peculiaridades se fizeram apresentar. A primeira foi encontrar espaço para autores 
que, apesar de terem clara afinidade com uma determinada corrente, não confinam suas 
críticas particulares ao que é plural ou "consensual" dentro dela, muitas vezes abordando 
questões tratadas com maior ênfase e de forma generalizada por outra corrente. Para que 
não fossem por tal motivo tolhidos, o recurso das notas de rodapé não foi poupado, 
cumprindo um pouco mais que seu papel tradicional de indicações e referências 
bibliográficas e colaborando para um insight interessante - a evidência de muitas 
sobreposições críticas nas correntes do pensamento econômico não ortodoxas aqui 
tratadas. Nos rodapés também serão apresentados eventuais comentários de autores ligados 
à TCT, geralmente quando há uma contra argumentação para as críticas. Algumas de 
nossas próprias contribuições para o debate eventualmente estarão nos rodapés, para que as 
seções possam cumprir na maior parte do tempo o papel de mostrar a opinião particular 
dos respectivos responsáveis por suas epígrafes. No entanto, como se pode imaginar, isso 
nem sempre foi possível. Esforçamo-nos para distinguir (sintaticamente) bem nossas 
incursões no debate, e esperamos que a intenção tenha sido útil e minimamente cumprida. 
De volta ao conteúdo, e em síntese, podemos dizer que a TCT tem uma trajetória de 
desenvolvimento marcada por duas obras principais. A primeira delas, reconhecida como a 
obra originária, é o artigo de Ronald Coase na revista Economica, em 1937, intitulado 
"The Nature of the Firm". E a segunda é "Markets and Hierarchies: analysis and antitrust 
 8
implications", livro de Oliver Eaton Williamson, publicado em 1975. Dito isso, vejamos o 
que trata cada um dos quatro capítulos que se seguem a este introdutório. 
O capítulo 2 é dedicado a apresentar uma ambientação do surgimento e primeiros 
passos das idéias referentes aos custos de transação a partir de uma revisão do artigo 
seminal de Ronald Coase (COASE, 1937). Vemos que o próprio COASE (1991) é autor de 
alguns comentários incomodados sobre o reconhecimento da importância de sua obra, no 
discurso de seu laureamento com o Nobel de Economia, em 1991. Segundo ele, sua obra 
passou muito tempo sendo citada em trabalhos das mais variadas áreas, mas nunca de fato 
utilizada para desenvolvimentos da ciência econômica; e também disse sentir-se numa 
experiência estranha, como octogenário, sendo premiado por um trabalho que fez aos seus 
20 anos de idade (cf. SIFFERT FILHO, 1995, p. 108).8 Embora COASE (1937, p. 404) 
argumente que sua teoria (ainda não usando o termo "custos de transação", introduzido três 
décadas depois por Harold DEMSETZ, 1968, p. 33) encaixa-se na abordagem tradicional 
de análise da firma e possa ser operacionalizada pelo instrumental marginalista, os 
desenvolvimentos da microeconomia neoclássica neste longo intervalo de tempo não 
levaram em conta suas idéias, detendo-se ao que chamou de "abordagem da teoria dos 
preços aplicada" (COASE, 1972, citado por WILLIAMSON, 1987a, p. 808). 
O capítulo 3 apresenta o resgate da idéia de Coase e o seu desenvolvimento na 
construção da TCT por Oliver Williamson a partir dos anos 70. Williamson retoma a idéia 
dos custos de transação e sobre ela trabalha com o objetivo de construir uma teoria mais 
elaborada da origem e do movimento dos limites das firmas em relação aos mercados. O 
capítulo concentra-se justamente nos fundamentos básicos da TCT, ou seja, nos 
condicionantes essenciais do modelo. Em 1975, o livro "Markets and Hierarchies...", 
mostra em seus quatro primeiros capítulos as bases do modelo econômico que estava a 
desenvolver (centrado na idéia de que mercados e hierarquias são formas alternativas de 
organizar a produção capitalista), utilizando-as nos capítulos seguintes para explicar 
fenômenos empíricos, como por exemplo a integração vertical e a forma "M" 
 
8 Coase tinha 21 anos quando terminou a primeira versão de "The Nature of the Firm", em 
1931, ainda antes de ser graduado pela London School of Economics, o que aconteceu um ano 
depois. A primeira versão do artigo foi submetida à revista Economica numa viagem de 
intercâmbio acadêmico feita por Coase aos Estados Unidos naquele ano, mas a versão final só foi 
publicada em 1937. Para maiores detalhes, vide CHEUNG (1983, p. 1-2, e 1987a, p. 455). 
 9
(multidivisional) de estrutura das firmas. O tamanho em si da firma é limitado por sua 
capacidade não só de produzir um bem com menores custos que aqueles incorridos na 
produção atomizada no mercado, mas em ter menores custos, somados, de produção e de 
transação - que correspondem aos custos incorridos na transferência de um bem entre 
interfaces tecnologicamente distintas. Seus trabalhos ganham ainda mais fôlego na obra 
"The Economic Institutions of Capitalism", publicada em 1985, muito embora já tenham 
influenciado anteriormente vários outros autores a buscar tanto desenvolvimentos teóricos 
incrementais como meios de operacionalização e testes empíricos. Nessa obra, a TCT 
alcança maiores refinamentos, embora sua estrutura seja semelhante à obra de 1975, 
utilizando mais espaço para explicar o desempenho de diversas instituições capitalistas, e 
em particular o movimento ou evolução dos limites da firma.9 Sua recente obra, intitulada 
"The Mechanisms of Governance", completa a trilogia de seu programa de pesquisas sobre 
integração vertical, iniciado em 1971. 
 Além da óbvia distinção intelectual, um outro fator que acreditamos ter 
impulsionado a TCT foi o espaço de debate conseguido com a Universidade de Chicago. 
Oliver Williamson estava na Universidade da Pensilvânia quando deflagrou seu markets 
and hierarchies research program e hoje está em Berkeley,na Universidade da Califórnia, 
e não tem características estritas dos pesquisadores de Chicago.10 No entanto, sua 
"estratégia" de abordagem e apresentação das idéias costumava incluir algumas 
formalizações em situações de reducionismo "perigoso"11 e constantes referências aos 
economistas natos daquele centro - como o próprio R. Coase, K. Arrow, A. Alchian, H. 
Demsetz, G. Stigler, dentre outros. De qualquer modo, Williamson conseguiu estabelecer 
linhas de diálogo que resultaram em referências constantes ao seu trabalho com a TCT e, 
dessa forma, na divulgação de suas idéias. Mas teve também o cuidado suficiente de 
estabelecer pontes com outras linhas de pesquisa ou grupos teóricos não (tanto) ortodoxos 
 
9 Segundo WILLIAMSON (1996a, p. 18), sua recente obra, intitulada "The Mechanisms of 
Governance", completa a trilogia do desafio de seu programa de pesquisas sobre integração 
vertical, iniciado em 1971. 
10 Apesar de sua Tese de Doutoramento centrar-se em conteúdo formal e estudos 
econométricos. 
11 Embora RUTHERFORD (1996, p. 174) considere Williamson um dos defensores da 
abordagem "literária", em oposição a uma abordagem mais formalista dentro da própria NEI. 
 10
- evitando a clausura acadêmica e conquistando espaços de divulgação para um público 
diverso. 
 Isso, entretanto, foi também motivo para que se focalizassem com maior rapidez 
críticas à nova abordagem. Williamson, por exemplo, em vários trabalhos (1985, p. 3; 
1989, p. 137; 1993, p. 109; 1996a, p. 12) reconhece em John R. Commons, economista 
identificado com a Escola Institucionalista norte-americana, as raízes de suas idéias sobre a 
transação como foco de análise, e isso tem sido fonte de formação de um canal bastante 
particular de críticas elaboradas por pensadores contemporâneos daquela tradição. Outras 
vêm de caminhos diversos, comumente relacionadas às pontes neoclássicas mantidas na 
TCT, mas a elas não se resumem. De modo geral, como expressa PITELIS (1993b, p. 12): 
 
Despite the widely acknowledged as revolutionary contribution of the TCMH 
(transaction costs, markets and hierarchies) perspective (or because of that), it has 
also become the subject matter of substantial criticism, from a number of 
perspectives. Such criticism concern either the general framework, or particular 
applications of it, in particular those of Oliver Williamson. 
 
No capítulo 4, então, apresentamos as seções de conteúdo crítico à TCT, sendo esta 
identificada com a estrutura teórica elaborada por Williamson.12 Lembramos que não há a 
intenção de apresentar as teorias alternativas derivadas de cada uma das correntes do 
pensamento econômico analisadas, muito embora seus elementos encontrem-se implícitos 
nas críticas. Não vimos também a necessidade de pormenorizar as características principais 
de cada uma das correntes, já que a distinção feita exprime vertentes há algum tempo já 
consolidadas em seus programas de pesquisa e reconhecidas amplamente no espaço 
acadêmico. Teremos então, respectivamente, as seções que reúnem críticas evolucionistas 
(neo-schumpeterianas), da economia política, do institucionalismo "original", e do 
neoclassicismo. E, por fim, o capítulo 5 é o das conclusões, onde tentaremos destacar as 
interseções das críticas não ortodoxas e as evidências potenciais de uma agenda de 
pesquisa pluralista para a teoria da firma. 
 
12 Por esse motivo preferimos tratar tal estrutura teórica por Teoria dos Custos de Transação, 
e não Economia dos Custos de Transação (como preferem vários autores) para evidenciar nossa 
linha de pesquisa, e também por entender que várias das críticas (e seus respectivos autores) 
direcionam-se exclusivamente à Teoria dos Custos de Transação, sendo porém passíveis de 
incorporação à uma estrutura teórica mais ampla e abrangente - à qual, então, chamaríamos 
Economia dos Custos de Transação. 
 11
2 AS IDÉIAS ORIGINAIS DE COASE 
 
 Embora Coase tenha escrito vários outros artigos após "The Nature..." , em nenhum 
deles voltou a esmiuçar o tema dos custos de transação, ainda que não deixasse de se preo-
cupar com os custos de forma geral e com as diversas formas em que podiam ser 
percebidos, como sugere CHEUNG (1987a, p. 456). Parece que os economistas em seu 
meio estavam mais preocupados com a obra de Pareto e outros assuntos, não tendo 
despertado para os insights de Coase, que se voltou para outros temas, como o setor de 
telecomunicações e os direitos de propriedade. Ou como argumenta Paulo AZEVEDO 
(1996, p. 5) sobre tal desatenção: "Em parte isso se deveu à forte inércia que conduzia o 
pensamento econômico por ocasião da publicação de The Nature of the Firm [...], de tal 
modo que uma idéia radicalmente nova dificilmente reverteria de imediato o curso da 
pesquisa econômica". 
 Já nos Estados Unidos, na Universidade de Virgínia, Coase publica em 1959 o 
artigo The Federal Communications Commission, que é o resultado da linha de estudos 
que acabou tomando, no Journal of Law and Economics, publicação que acabara de ser 
lançada pela Universidade de Chicago, e que acaba por aproximá-lo daquela academia. Os 
debates que resultaram dessa aproximação inspiraram novo artigo, "The Problem of Social 
Cost", publicado em 1960 pela mesma revista. Nele está desenvolvida a idéia em que as 
condições iniciais dos direitos de propriedade - ou seja, quem quer que eles favoreçam - 
não são importantes numa perspectiva de eficiência da alocação de recursos (embora o 
sejam na ótica da distribuição da renda), desde que: i) seja possível negociá-los livremente; 
ii) os custos de trocá-los ou transacioná-los seja nulo; e iii) os mercados sejam 
competitivos. Essa idéia ficou conhecida como o Teorema de Coase (COOTER, 1987, p. 
459). Como se percebe, os custos de transação são abordados parcialmente no artigo, que 
tem ênfase num sistema legal que reforce a liberdade de negociação entre os agentes em 
lugar de, através dele, intervir com modos centralizados de regulação das transações. 
Segundo Cheung, essa preocupação com o sistema legal e os direitos de propriedade são os 
primeiros passos de pesquisas que resultariam na NEI. 
 Voltemos, então, ao artigo de 1937. Nele fica expressa a insatisfação de Coase com 
o descuido da teoria tradicional em tratar rotineiramente o sistema econômico como auto-
 12
regulável pelo sistema de preços, ao mesmo tempo em que pouca atenção devota às firmas. 
Isso porque dentro destas a alocação dos fatores não se dá pelo mecanismo de preços e sim 
por um tipo diferente de coordenação da produção - geralmente por um empresário ou 
alguém por ele delegado, que exerce comando sobre as atividades. E, no entanto, a teoria 
tradicional estava incompleta por não procurar uma definição particular e real das firmas, 
bem como, a partir daí, explicitar as hipóteses de sua natureza e sua lógica de 
funcionamento. 
 Portanto, fora da firma o sistema de preços é o fator de coordenação da alocação 
dos recursos, enquanto dentro dela o papel é exercido por uma autoridade. Coase desse 
modo conclui que mercados e firmas são modos alternativos de dirigir a produção, e em 
decorrência de tal argumento é formulada a chamada "primeira pergunta coaseana" 
(COASE, 1937, p. 388): "Yet, having regard to the fact that if production is regulated by 
price movements, production could be carried on without any organisation at all, well 
might we ask, why is there any organisation?" 
 O principal motivo, diz em sua resposta, é que há custos em utilizar o mecanismo 
de preços. O primeiro deles é justamente o de descobrir quais são os preços relevantes 
(considerações sobre informação incompletanão ficam explícitas), enquanto outros se re-
ferem à negociação e formulação dos contratos que acompanham cada transação. A propó-
sito, Coase não dá uma definição precisa de "transação", mas usa predominantemente o 
termo exchange transaction (1937, p. 388, 391, 393, 395, 396, 402, e 403, por exemplo) 
que dá a entender estar considerando de uma forma geral as trocas de bens e serviços. 
 A origem da firma, desse modo, se deve ao fato de haver custos em negociar nos 
mercados que podem ser evitados ou reduzidos ao se organizar a produção de um determi-
nado bem ou serviço através de relações de autoridade ou sob o comando de um coordena-
dor que direciona a alocação dos recursos. Muito embora os contratos não deixem de 
existir dentro da firma, principalmente os de trabalho, a sua flexibilidade é muito maior - 
pois não incorrem em detalhamentos, geralmente determinando apenas os limites das ações 
de comando e acatamento entre as partes - e sua renegociação deixa de ser feita a cada 
ordem ou serviço cumprido. Dessa forma, é mais provável que a firma surja de relações 
para as quais contratos complexos e de curto prazo sejam insatisfatórios. Isso se intensifica 
principalmente diante das dificuldades dos agentes em prever os acontecimentos futuros, 
 13
quando, pela natureza incompleta dos contratos e pela indiferença do contratado para os 
serviços em agir dentro de um conjunto de tarefas (não pré-determinadas explicitamente no 
contrato mas que lhe são aceitáveis, como foi posteriormente sugerido por SIMON, 1957 e 
1991), o contratante pode direcionar com alguma independência o curso das ações diante 
de novas contingências (COASE, 1937, p. 391-2).13 
 Por outro lado, seguindo a lógica do argumento, se existem custos nas transações 
de mercado, por que ele não foi totalmente superado pela coordenação dentro da firma? 
Essa é a "segunda pergunta Coaseana," apresentada originalmente da seguinte forma 
(COASE, 1937, p. 394): "A pertinent question to ask would appear to be [...] why, if by 
organising one can eliminate certain costs and in fact reduce the cost of production, are 
there any market transactions at all. Why is not all production carried on by one big firm?" 
 Desta vez, a resposta vem em partes: em primeiro lugar, há retornos decrescentes 
na atividade de administração (diminishing returns to management) com a agregação de 
mais transações pela firma.14 Em segundo, empresários ou coordenadores tendem a errar 
mais na alocação dos fatores quando um número crescente de transações é colocado sob 
seu comando; não há, porém, maiores considerações sobre o que mais tarde Herbert Simon 
chamaria de racionalidade limitada, ou ainda mais: segundo BERGERON (1996, p. 139 e 
143), nem mesmo tal argumento permite a Coase fugir da racionalidade substantiva 
 
13 Para LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 11, grifo original), "Coase's explanation for the 
emergence of the firm is ultimately a coordination one: the firm is an institution that lowers the 
costs of qualitative coordination in a world of uncertainty." Coase, no entanto, faz uma 
contraposição a Knight em sua explicação da origem da firma principalmente (mas não 
unicamente) em função da incerteza radical. Por isso, HODGSON (1988, p. 205) argumenta que a 
interpretação de Langlois, embora saudável por incluir o conceito de incerteza radical como 
necessário para a explicação da existência das firmas, apóia a tese que Coase contrariava. Isso, 
entretanto, não invalida os esforços de Coase e, principalmente, de Williamson: "Transaction costs 
may or may not remain an intermediate category in the argument. But it is clear [...] that 
transactions costs are not sustainable without some concept of radical uncertainty, and this, either 
directly or indirectly, seems to be necessary to explain the existence of the firm" (HODGSON, 
1988, p. 205). 
14 Tal argumento não parece encontrar sustentação segundo PENROSE (1987, p. 562): "as a 
firm [grow] there [is] no evidence that its administrative capacity could not grow accordingly." 
GROSSMAN e HART (1986, p. 692, nr. 1) dizem ser o argumento nada convincente "[...] since the 
owner [of the firm] could always hire another manager." AOKI (1986, p. 974) também refuta o 
argumento de Coase, alegando que o mesmo "is unconvincing [...] because organizational 
innovation such as the multidivisional form may overcome this limit." A forma "M" é o principal 
exemplo de evidências que apontam para uma grande capacidade inovativa nos métodos de 
administração de grandes firmas, como defendem WILLIAMSON (1975) e CHANDLER (1962). 
 14
(normativa) já que mesmo diante de tais dificuldades o empresário consegue delimitar as 
atividades da firma onde seus custos marginais se igualam aos de usar o mercado. E em 
terceiro lugar, alguns fatores de produção têm seu preço de oferta elevados em função do 
próprio crescimento da firma (um argumento não facilmente comprovável e que não mais 
tomaria a atenção de Coase em seus trabalhos posteriores, cf. CHEUNG, 1987a, p. 456). 
 A característica distintiva da firma é, em suma, assumir a supressão do mecanismo 
de preços para coordenar a produção, estando, entretanto, a ele sempre ligada por 
atividades secundárias a seus propósitos ou através de custos e preços relativos ligados à 
diversidade de transações das quais se incumbe. Isso implica considerar que na economia 
real as transações não são homogêneas e o grau de integração entre diferentes indústrias e 
mesmo firmas pode ser bastante diferenciado, e também que é sempre possível reverter 
operações internalizadas para a utilização do sistema de preços à medida em que os custos 
internos de uma dada transação se tornem mais elevados que os do mercado. 
 Desse contexto surge a preocupação com os determinantes do tamanho ou dos 
limites da firma, sendo estes vistos como a quantidade de transações que efetua 
internamente.15 COASE (1937, p. 397) observa que os custos da organização interna estão 
ligados diretamente aos seguintes casos: 
 
1) aumento da dispersão espacial das transações organizadas pela firma; 
2) aumento da diversidade entre as transações incorporadas; 
3) aumento da probabilidade de mudanças nos preços relevantes às atividades incorpo-
radas. 
 
Além desses fatores, os diferenciais de custos entre organização interna e recurso ao 
mercado, que levam à maior ou menor integração, estão sujeitos também aos efeitos 
desiguais das mudanças tecnológicas sobre cada uma das formas alternativas (Coase utiliza 
o termo inventions, ao que mais apropriadamente poderia ser tratado pelo conceito 
schumpeteriano de "inovação" em seu sentido de aproveitamento econômico), e também 
ao tratamento diferenciado que governos ou autoridades de poder podem dar a firmas ou 
 
15 Para KHALIL (1996, p. 292), esta é a única preocupação com a qual o artigo de Coase 
pode se deter: "Coase's 'The Nature of The Firm' ironically does not provide a theory of the nature 
of the firm. [...]. [It] is about what makes certain transactions become incorporated within the firm 
rather than purchased. So Coase's approach is about the theory of the boundary of the firm rather 
than the theory of the nature of the firm, or the theory of intrafirm power." 
 15
mercados em transações da mesma natureza, através, por exemplo, de impostos em cascata 
ou controles de preços ou de cotas. 
 Sendo possível à firma absorver ou desmembrar transações, diz Coase, não é 
possível que seus limites estejam determinados pela elevação do custo marginal à igual-
dade com a receita marginal da produção de um bem. Isso porque ela pode tornar-se 
multiprodutora (ou produtora de bens que podem ser separáveis poruma transação de 
mercado), ou seja, a qualquer tempo pode ser mais barato organizar a produção de um bem 
diferente ou novo que continuar arcando com a produção de um mesmo bem, mesmo que o 
ponto de igualdade não tenha sido ainda atingido para ele.16 Dessa forma, os limites de 
expansão da firma estão determinados pelo ponto em que os custos internos de organização 
da produção de um bem (custos de produção mais custos de administração das transações 
necessárias a esta) atinjam os custos de comprá-lo no mercado ou de outra firma (custos de 
produção mais custos de transações necessárias à compra), prevalecendo entre estes 
últimos o que for menor.17 É interessante notar que GRANOVETTER (1995, p. 94) 
estende a noção de firma multiprodutora (como saída para os "limites tecnológicos" 
tradicionais) para a "firma multifirma", ao fazer uma analogia das perguntas coaseanas.18 
Ao pesquisar a origem e o processo de mudanças das redes de cooperação entre firmas (por 
ele chamadas de business groups), Granovetter modifica as unidades originais de análise: 
 
16 KAY (1987, p. 55) sugere que a TCT estruturada por Williamson continua explicando a 
firma multiprodutora: "Williamson (1975) discusses the evolution of hierarchy to cope with the 
problems of the multiproduct firm; however he does not utilise transaction cost analysis in a 
general approach to multiproduct combination despite the fact that his framework is ideally suited 
for this purpose." Alguns anos mais tarde, em 1992, Kay publica um artigo no Journal of Economic 
Behaviour and Organisation (JEBO), com críticas à TCT, e o JEBO publica na mesma edição uma 
réplica de Williamson, já na ocasião editor-associado da revista. Kay, convidado a preparar a 
tréplica, o faz, mas a mesma não é publicada. Um ano depois, Kay aproveita para republicar o 
artigo (KAY, 1993), com incrementos da tréplica não publicada, e acaba comentando o seguinte (p. 
252 - nosso grifo): "If Williamson's theory is applicable, then its dependence on asset specificity 
suggests that it can only be with respect to the special case of the single product firm [...]." 
17 Considerando que distintos empresários organizam de forma também distinta a produção, 
implicando em custos diferentes entre as firmas (COASE, 1937, p. 403). 
18 GRANOVETTER (1995, p. 94) pergunta: "why is it that in every known capitalist 
economy, firms do not conduct business as isolated units, but rather form cooperative relations with 
other firms [?]" Essa é a questão que, por analogia à "primeira pergunta coaseana," Granovetter 
chama de "segunda pergunta coaseana" - ou seja, uma pergunta que Coase na realidade não fez. 
Embora não tenhamos a pretensão de desenvolver nenhuma inovação terminológica, alguns 
parágrafos antes neste capítulo qualificamos a "segunda pergunta coaseana" como aquela que 
Coase realmente fez em complemento à primeira. 
 16
"I imply that 'business group' is to firm as firm is to individual economic agent." Segundo 
ele, essa é uma dimensão intermediária (meso) de análise dos limites da firma que os 
cientistas sociais não têm conseguido enxergar, principalmente em função dos "vícios" 
teóricos relativos à separação macro/micro das relações e conceitos empregados - e suas 
decorrentes implicações na geração de dados e no direcionamento de políticas e controles 
legais. 
 Embora a abordagem tradicional da firma não esteja preocupada com os problemas 
da existência, dos limites e da estrutura interna da firma, a nova proposta de Coase induz a 
tais preocupações ao mesmo tempo em que se encontra à disposição das ferramentas 
marginalistas (1937, p. 404).19 Segundo ele, o monitoramento das variáveis de limite pelos 
empresários permite que se estabeleça na prática uma posição de equilíbrio estático para o 
tamanho da firma. Acompanhando os fatores de mudança dos custos internos, citados 
acima, bem como os fatores (considerados, ao que parece) exógenos de mudança 
(imposições legais ou novas tecnologias), é possível traçar uma trajetória de equilíbrio 
móvel para a firma, observando seus movimentos de expansão e contração ao longo do 
tempo.20 
 
 
19 A respeito deste ponto, MACHLUP (1967, p. 11) propõe que a firma neoclássica não 
precisa ser mais do que uma profit-maximizing reactor, e ainda com base em KRUPP (1963, apud 
MACHLUP, ibid.) afirma: "In economic analysis, the business firm is a postulate in a web of 
logical connections." Ou seja, não é necessário buscar definições realistas ou precisas. A questão é 
simplificada por LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 9-10): "using this sort of price theory [the 
theory of the firm with which Coase was confronted in the 1930s] to explain the existence, 
boundaries, or internal structure of the firm [...] can never be satisfactory; the theory simply isn't 
designed to deal with those issues." Note-se que a visão neoclássica de Machlup continua com 
defensores entusiastas, como HIRSHLEIFER (1988, apud MÉNARD, 1990, p. 7): "la firme est une 
unité artificielle." 
20 Issso parece deixar dúvidas sobre a afirmação feita por CHEUNG (1987a, p. 456) de que 
Coase antipatizava com a idéia de "equilíbrio." 
 17
3 A TEORIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO 
 DE OLIVER WILLIAMSON 
 
 De acordo com o próprio WILLIAMSON (1985, p. 16), há na década de 60 um 
ressurgimento do interesse pelas instituições na teoria econômica através dos novos 
trabalhos de Coase, Kenneth Arrow, Armen Alchian e Alfred Chandler. Claramente essa é 
uma opinião de quem esteve em estreito contato com a Universidade de Chicago, e que os 
Institucionalistas da velha guarda ouviriam com algum desdém. Seguindo, porém, o 
argumento, surgiram na década de 70 os primeiros trabalhos mais analíticos ou operativos 
sobre o assunto, dentre os quais se apresenta Williamson com a Teoria dos Custos de 
Transação, através do livro "Markets and Hierarchies." 
 Embora essa seja a primeira obra a descrever a idéia, muitos outros textos que 
vieram a seguir trouxeram sumários da TCT, sempre seguidos de refinamentos. Em "The 
Economic Institutions of Capitalism," os custos de transação estão apresentados de ma-
neira mais abrangente, dentro do que se pretende em uma teoria da evolução e 
funcionamento das instituições econômicas. Mais ainda, em seu artigo "Comparative 
Economic Organization..." (de 1991) Williamson absorve a concepção de formas 
"híbridas" de organização (já sugeridas em WILLIAMSON, 1987a) situadas entre 
mercados e hierarquias. Além disso, talvez como forma de difundir ainda mais sua teoria, 
Williamson apresenta em vários de seus artigos (1989, 1993 e 1995a, por exemplo) uma 
introdução aos principais conceitos e relações da TCT.21 Em "The Mechanisms of 
Governance" (de 1996), Williamson reúne 14 de seus artigos publicados na década que se 
seguiu a "The Economic Institutions of Capitalism,"22 considerando consolidado seu 
programa de pesquisas, deixando de apresentar a estrutura básica da TCT e aprofundando 
o estudo combinado de economia, direito e organizações (WILLIAMSON, 1996a, p. 19). 
Segundo Williamson, as raízes de tal interdisciplinaridade voltam às primeiras 
décadas do século. Especificamente no campo da economia, Williamson realça seu 
 
21 É interessante também notar que a TCT já encontra lugar em livros-texto de organização 
industrial para estudantes de graduação, como é o caso de CARLTON e PERLOFF (1994). 
22 Com apenas uma exceção, que é nossa referência WILLIAMSON (1983), correspondente 
ao capítulo 5 de "The Mechanisms of Governance." 
 18
interesse pela discussão de Frank KNIGHT (1921) e Ronald COASE (1937) sobre a 
origem das firmas23Em relação ao direito, confessa ter desejado tornar-se advogado, e não 
economista, desde a high-school;24 embora ele tenha se graduado em administração 
industrial (uma combinação de administração e engenharia), feito um MBA em Stanford, e 
finalmente seu PhD. no Carnegie Institute of Technology, com pitadas interdisciplinares de 
economia e administração, ainda assim, não relegou o antigo interesse: Williamson explica 
ter sido profundamente influenciado pela leitura de Karl LLEWELLYN (1931), professor 
de Direito da Universidade de Columbia, que discorre sobre a importância dos contratos na 
sociedade moderna e sua capacidade de constituir uma estrutura básica para a interpretação 
das relações entre indivíduos (entre si) e grupos (entre si e com indivíduos).25 Llewellyn 
pode ser visto como responsável pela ponte feita por Williamson entre o direito e a 
economia quando desenvolve a interpolação do "mundo dos contratos" (inspirado em 
Llewellyn) com a visão de John COMMONS (1934), economista norte-americano (tido 
como um dos pais do Institucionalismo), para quem as transações deveriam ser tomadas 
como unidade básica de análise da organização econômica - por serem a instância em que 
se faz plausível a tentativa de harmonizar interesses divergentes ou conflitantes de partes 
que se relacionam. Ainda dentro do amplo espectro da economia, e a despeito da influência 
de Knight e Coase, Williamson diz ter se concentrado no estudo das organizações 
principalmente em função do contato com o livro "The Functions of the Executive", de 
1938, de Chester Bernard - um executivo norte-americano que se dedicou a escrever sobre 
o que fazia (e o que via fazerem) em sua função.26 A obra de Barnard, segundo 
Williamson, parecia cobrir um vácuo deixado pela economia no que se refere à 
importância das organizações, formais ou informais. Ou seja, a forma de organização dos 
agentes produtivos é de extrema importância para o entendimento das atividades 
econômicas, e o estudo das características peculiares de diferentes formas deve trazer 
explicação para o sucesso ou falha das mesmas nos processos de ajustamento exigidos pelo 
ambiente econômico. 
 
23 WILLIAMSON (1985, p. 2-4). 
24 WILLIAMSON (1996a, p. 350). 
25 WILLIAMSON (1985, p. 4-5, e 1995b, p. 181). 
26 WILLIAMSON (1985, p. 5-7). WILLIAMSON (1995c) é mais uma forma de vincular seu 
envolvimento com o campo das organizações ao pensamento de Chester Barnard. 
 19
 
3.1 A Unidade de Análise 
 
 A partir da ambientação feita acima, podemos então passar a apresentar as bases 
teóricas da TCT e iniciamos com a proposta de WILLIAMSON (1985, p. 17) sobre os 
limites de análise de sua formulação teórica: pare ele, qualquer relação que possa ser 
formulada como um problema de contratação, e aí estão incluídas as relações de troca que 
caracterizam o capitalismo - às quais costuma referir-se de maneira mais particular como 
transações - é passível de exame pela TCT. A transação é a passagem de um bem ou 
serviço em elaboração entre interfaces tecnologicamente separáveis e Williamson propõe 
que ela seja a unidade básica de análise de uma teoria da firma. Desse modo, o conjunto de 
características das transações passa a ser visto como principal determinante da forma de 
organização da produção do bem ou serviço envolvido. 
 Os custos de transação são análogos à fricção (ou ao atrito) em sistemas estudados 
pela Física - ou por Williamson em suas aulas de termodinâmica (WILLIAMSON, 1996a, 
p. 350). Como Coase já havia se referido, eles são os custos nos quais há de se incorrer 
quando se recorre ao mercado, ou como sugerido por ARROW (1969, citado por 
WILLIAMSON, 1985, p. 18), são "the costs of running the economic system."27 
AZEVEDO (1996, p. 24, com base em CHEUNG, 1990) define os custos de transação 
como aqueles incorridos na: "a) elaboração e negociação dos contratos, b) mensuração e 
fiscalização de direitos de propriedade, c) monitoramento do desempenho e d) organização 
de atividades."28 De forma mais direta, NIEHANS (1987) exemplifica os custos de 
transação ao identificá-los com aqueles incorridos em localizar um outro agente disposto à 
 
27 HODGSON (1993b, p. 81) localiza a origem do termo "custos de transação" nesse artigo 
de Arrow. Como já comentado, um ano antes DEMSETZ (1968) já o havia empregado. 
28 AZEVEDO (1996, p. 24-5) também sugere que tal definição ainda deixa de fora um 
importante componente, embora Chester Barnard e Friedrich Hayek (dois autores bastante 
considerados por Williamson) o tivessem evidenciado, qual seja, os custos derivados da maior ou 
menor (ou ausência de) capacidade de adaptação às mudanças no ambiente econômico. Nas 
palavras de AZEVEDO (idem, p. 25): "Uma definição completa de custos de transação necessita 
incluir [...] os custos de adaptações ineficientes às mudanças do sistema econômico." Autores 
ligados à Escola Austríaca, como Richard Langlois, Nicolai Foss e Paul Robertson, têm uma 
definição semelhante deste componente citado por Azevedo, chamando-o de "custos dinâmicos de 
 20
transação, em comunicarem-se e trocarem informações que não se resumem aos preços, e 
muitas vezes faz-se necessário que os bens em questão devam ser descritos com maior 
minúcia, inspecionados, pesados e medidos. Outras vezes os custos de transação se 
derivam da necessidade de recorrer a um contrato escrito sob a proteção do ordenamento 
jurídico (ou mesmo o privado), já que há gastos em sua elaboração para que haja troca de 
documentos, assistência de advogados, manutenção de registros ou mesmo de instituições 
de reforço e acompanhamento da execução do que foi pactuado.29 
 A desconsideração dos custos de transação deixou com que a economia construísse 
concepções limitadas das organizações não convencionais, quais sejam, firmas que se 
afastavam cada vez mais das trocas no mercado ao se integrarem verticalmente. O 
principal foco de tal visão míope estava nos economistas que consideram o fenômeno 
unicamente motivado por predisposições monopólicas - acabando por implicar na 
generalização de políticas anti-monopólicas -, bem como na interpretação daqueles que o 
vêem exclusivamente por determinantes tecnológicos. 
 A TCT alega que as mudanças na organização industrial ocorrem primordialmente 
por motivos de eficiência. O caminho lógico desse argumento começa com a herança 
coaseana em que firmas e mercados são tidos como formas alternativas de organizar a 
produção. Consideremos que as transações econômicas possam ocorrer de duas maneiras: 
impessoalmente, através do mercado, ou através de contratos entre determinados agentes. 
Se o mecanismo de preços do mercado apresenta custos para ser utilizado, pode ser que, 
através de acordo ou contrato, dois (ou mais) agentes encontrem um meio de evitá-los ou 
reduzi-los - isso porque estabelecer contratos também tem custos, tanto ex ante quanto ex 
post -, tornando a mesma transação mais barata. 
 Esse argumento dá margem a vários desdobramentos dos supostos da TCT. Dele 
retiramos, em primeiro lugar, que o principal (embora não o único) objetivo das 
instituições econômicas (firmas, mercados e contratos) é justamente economizar os custos 
 
transação". No entanto, usam-no para criticar a TCT (principalmente Williamson) por não adotá-lo 
de forma categórica em seu corpo teórico (essa discussão será feita em nossa seção 4.1). 
29 Apesar de tais esforços, HODGSON (1988, p. 200) ainda sinaliza para a falta de precisão 
na definição doconceito: "Notably, in a large number of publications in the area of ‘transaction 
cost economics’ since the mid-1970s, Williamson has failed to provide an adequate definition of 
transaction costs themselves". E ainda mais (idem): "The failure to provide a definition of such a 
crucial term is symptomatic of the lack of precision in much of Williamson’s work." 
 21
de transação (ou, analogamente, reduzir o atrito entre as interfaces tecnologicamente 
distintas). As transações não são homogêneas; pelo contrário, poucas delas podem ser 
reduzidas a características idênticas (das quais falaremos adiante), e, por isso, diferentes 
transações são atribuídas a diferentes formas de organização, devendo ser cada uma destas 
capaz de reduzir os custos necessários à sua execução. Na verdade, o que se busca é a 
redução da soma de custos de produção e de transação.30 O próprio WILLIAMSON (1985, 
p. 17) diz tratar-se de um estratagema a ênfase tão forte na economização dos custos de 
transação e na escolha da forma de organização da produção capaz de realizá-la de modo 
mais eficiente, que intenciona desviar atenção das preocupações extremas com os impulsos 
tecnológicos e monopólicos prevalecentes no estudo da organização industrial. 
 Outro desdobramento de análise do mundo contratual, e assim da TCT, se relaciona 
aos custos de estabelecer e cumprir contratos. Os custos ex ante são mais nitidamente 
visíveis e estão presentes no próprio processo de negociação das cláusulas (estudos e 
cálculos para avaliação de procedimentos possíveis e/ou desejáveis, o próprio tempo 
decorrido, a assistência jurídica ou burocrática, a formalização em si, dentre outros). Na 
caracterização feita por Williamson das principais vertentes de análise da organização 
industrial (1985, p. 23-9), podemos encontrar dois grupos de estudiosos que se concentram 
justamente nessa etapa ex ante do processo de contratação "não usual" na perspectiva da 
busca da eficiência. Em comum, ambos fundamentam-se no suposto do alinhamento de 
incentivos, por considerá-lo a principal forma de garantia da eficácia do contrato. Um dos 
grupos, com eminência para Coase, Alchian e Demsetz, dá ênfase aos direitos de 
propriedade, ou seja, preocupam-se em saber se estão antecipadamente definidos: i) o 
direito de usar o ativo; ii) o direito de apropriação dos seus rendimentos; e iii) o direito de 
mudar sua forma, substância ou emprego; se a resposta é positiva, então não deverá haver 
má distribuição, conflito ou mau uso dos recursos disponíveis. O outro grupo inclui autores 
como Leonid Hurwicz, Michael Spence, Richard Zeckhauser, Stephen Ross, Michael 
Jensen, William Meckling e James Mirrlees, considerados os "pais" do enfoque da agência. 
Nesse enfoque, argumenta-se que partes envolvidas em contratos têm conhecimento de que 
 
30 A despeito do tratamento "semântico" dado por NORTH (1993a) e AZEVEDO (1996) aos 
termos, fazendo uma diferenciação entre custos de transformação e custos de transação, que 
somados resultariam nos custos de produção, continuaremos utilizando a dicotomia entre custos de 
 22
a execução dos mesmos ficará a cargo de agentes empregados, e isso implica numa queda 
dos incentivos para o cumprimento das tarefas assumidas, devendo a análise focalizar os 
problemas da contratação manifestados principalmente pelo risco moral e pela seleção 
adversa. Tais problemas podem ser superados se houver um alinhamento ou uma definição 
ex ante dos benefícios cabíveis a cada parte envolvida, tornando conhecidos os níveis de 
dedicação à execução das tarefas estabelecidas, e as penalidades e recompensas pelo 
comportamento desviante.31 Esses grupos também têm em comum a idéia de que o 
ordenamento judicial é a forma eficaz de resolução de conflitos que possam surgir. 
 Para Williamson, porém, não se pode garantir a partir das características ex ante da 
contratação todos os eventos recorrentes ao longo da execução das transações. Isso se deve 
tanto aos atributos comportamentais do homem (racionalidade limitada e oportunismo - 
dos quais falaremos um pouco mais à frente) quanto aos atributos complexos das próprias 
transações (especialmente a especificidade dos ativos), bem como à relação de tais fatores 
com o ambiente em que operam (incerteza). Há, portanto, custos ex post na contratação, e 
eles assumem diversas formas, tais quais: i) custos de má adaptação ao contrato estabe-
lecido; ii) custos de renegociação do contrato, em decorrência da má adaptação; iii) custos 
de estabelecer e administrar uma estrutura de acompanhamento do contrato, bem como um 
foro de resolução de disputas; e iv) custos de assegurar os compromissos assumidos. 
 Diferente dos grupos anteriores que enfatizam o alinhamento ex ante de incentivos 
e tratam residualmente dos conflitos ex post, deixando-os sob auspícios de uma ordem 
judicial central supostamente eficiente, Williamson argumenta que o ordenamento privado 
existe e é largamente usado, o que supõe uma capacidade de resolução satisfatória das 
disputas.32 O ordenamento privado e as instituições que ele cria (e sob que forma de 
organização) são importantes para o apoio ao contrato ex post e, portanto, na redução dos 
seus custos ex post. A resolução de tais conflitos pode ser bastante complexa em função de 
 
produção e custos de transação, que serão sempre evidenciados quando somados como os custos 
conjuntos das duas distintas tarefas. 
31 Para uma visão diferente, vide Kirsten FOSS (1996, p. 537): a princípio, tais enfoques 
reúnem-se na linha do nexo de contratos ou do measurement cost approach, que representam uma 
tradição estática; por outro lado, Williamson e também Oliver Hart e Richard Langlois 
representariam enfoques mais dinâmicos na literatura dos custos de transação. 
32 Argumento que encontra reforço em NOORDERHAVEN (1992, p. 234), onde também se 
critica a Teoria da Agência por sobrestimar a importância do sistema judicial. 
 23
interesses divergentes e comportamentos estratégicos, e além disso deve muitas vezes 
envolver as características específicas (técnicas e organizacionais) de cada transação. Essa 
grande diversidade de situações e preferências torna muito difícil que a justiça formal seja 
o foro mais apropriado à solução dos problemas surgidos na vigência dos contratos.33 
Apesar disso, a preocupação de Williamson parece ser crescente com questões de 
incentivos em detrimento dos aspectos de coordenação (das transações e da produção), 
como sugerem LANGLOIS e FOSS, N. (1997, p. 12) e também KHALIL (1996, p. 293). 
Esse é inclusive um dos motivos para Nicolai Foss, em outra ocasião (FOSS, N., 1996c), 
qualificar e tratar a TCT dentro de um mesmo grupo teórico ao qual se refere como 
contractual approach. (Alguns detalhes dessa abordagem são apresentados mais à frente e 
em nossa nota de rodapé 108.) 
 Dessa argumentação segue que custos ex ante e ex post devem ser considerados 
simultaneamente na realização dos contratos e somente diante de sua definição é que a 
escolha da forma de organizar as transações, e por conseguinte a produção, se dará. A TCT 
portanto envolve a ciência do contrato, que se preocupa com a busca não só da resolução 
do conflito presente ou em marcha, mas também com o reconhecimento do conflito 
potencial e assim tratar das instituições ou estruturas de gestão que o impeçam ou atenuem. 
Williamson diz, porém, que a avaliação ou mensuração simultânea de custos ex ante e ex 
post é tarefa praticamente impossível. Entretanto, não é preciso que sejam calculados seus 
valores

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