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26 Parte I – Saberes cruzados [...] Depois de longas investigações, convenci-me por fim de que o Sol é uma estrela fixa rodeada de planetas que giram em volta dela e de que ela é o centro e a chama. Que, além dos planetas principais, há outros de segunda ordem que circulam primeiro como satélites em redor dos planetas principais e com estes em redor do Sol. [...] Não duvido de que os matemáticos sejam da minha opinião, se quiserem dar-se ao trabalho de tomar conhecimento, não superficialmente mas duma maneira aprofundada, das demonstrações que darei nesta obra. Se alguns homens ligeiros e ignorantes quiserem cometer contra mim o abuso de invocar alguns passos da Escritura (sagrada), a que torçam o sentido, desprezarei os seus ataques: as verdades matemáticas não devem ser julgadas senão por matemáticos. COPÉRNICO, N. De Revolutionibus orbium caelestium. a) as revoluções industrial e Francesa são marcos importantes para o entendimento das transformações da modernidade. Na análise do autor, de que forma cada uma delas con- tribuiu para essas transformações? b) explique como a industrialização alterou as visões de mundo e as concepções sobre a vida em sociedade. c) o autor afirma que a revolução Francesa contribuiu para a difusão da ideologia do pensa- mento moderno no Velho e no Novo mundos. explique como esse processo alterou as concepções sobre a vida em sociedade. De olho no enem 1. (Enem 1999) Gabarito: (D) A Grã-Bretanha forneceu o modelo para as ferrovias e fábricas, o explosivo econômico que rompeu com as estruturas socioeconômicas tradicionais do mundo não europeu; mas foi a França que fez suas revoluções e a ela deu suas ideias, a ponto de bandeiras tricolores de um tipo ou de outro terem-se tornado o emblema de praticamente todas as nações emergentes, e a política europeia (ou mesmo mundial) entre 1789 e 1917 foi em grande parte a luta a favor e contra os princípios de 1789, ou os ainda mais incendiários de 1793. A França forneceu o vocabulário e os temas da política liberal e radical democrática para a maior parte do mundo. A França deu o primeiro grande exemplo, o conceito e o vocabulário do nacionalismo. A França forneceu os códigos legais, o modelo de organização técnica e científica e o sistema métrico de medidas para a maioria dos países. A ideologia do mundo moderno atingiu as antigas civilizações que tinham até então resistido às ideias europeias inicialmente através da influência francesa. Essa foi a obra da Revolução Francesa. HOBSBaWM, E. J. A Era das Revoluções (1789-1848). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. p. 71-72. monitoranDo a aprenDizagem 1. o que significa dizer que a sociedade feudal era uma sociedade estamental? (consulte na seção Conceitos sociológicos ao final do livro o verbete estratificação.) 2. a partir das Grandes Navegações foi possível a exploração do mar Tenebroso, hoje conhecido como oceano atlântico. com isso, os europeus puderam ter acesso a lugares longínquos e desconhecidos, dando início a um processo considerado por alguns historiadores como a “primeira globalização”. Você concorda com esse significado atribuído às viagens marítimas dos séculos XV e XVi? Por quê? 3. o iluminismo foi um movimento cultural que difundiu a convicção de que a razão e a ciência deveriam ser a base para a compreensão do mundo. explique como a confiança na razão contribuiu para transformações políticas na modernidade. 4. Leia, atentamente, o texto a seguir. Professor, na p. 25 do Manual do Professor (Construindo seus conhecimentos), você encontra sugestões para o desenvolvimento das atividades propostas. Construindo seus conhecimentos? PNLD 2015 - FGV TemPos De socioLoGia 6ª ProVa DÉBora FGS_012_029_Parte_I_Cap01.indd 26 5/29/13 1:38 PM Capítulo 1 – A chegada dos “tempos modernos” 27 Aqueles que se entregam à prática sem ciência são como o navegador que embarca em um navio sem leme nem bússola. Sempre a prática deve fundamentar-se em boa teoria. Antes de fazer de um caso uma regra geral, experimente-o duas ou três vezes e verifique se as experiências produzem os mesmos efeitos. Nenhuma investigação humana pode se considerar verdadeira ciência se não passa por demonstrações matemáticas. VINCI, Leonardo da. Carnets. o aspecto a ser ressaltado em ambos os textos para exemplificar o racionalismo moderno é (A) a fé como guia das descobertas. (B) o senso crítico para se chegar a Deus. (C) a limitação da ciência pelos princípios bíblicos. (D) a importância da experiência e da observação. (E) o princípio da autoridade e da tradição. 2. (Enem 2012) Gabarito: (E) TexTo 1 Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez. DESCaRTES, R. Meditações metafísicas. São Paulo: abril Cultural, 1979. TexTo 2 Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita. HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado). Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. a comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume (A) defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo. (B) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosó- fica e crítica. (C) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento. (D) concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos. (E) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento. 3. (Enem 2011) Gabarito: (B) Acompanhando a intenção da burguesia renascentista de ampliar seu domínio sobre a natureza e sobre o espaço geográfico, através da pesquisa científica e da invenção tecnológica, os cientistas também iriam se atirar nessa aventura, tentando conquistar a forma, o movimento, o espaço, a luz, a cor e mesmo a expressão e o sentimento. SEVCENKO, N. O Renascimento. Campinas: Unicamp, 1984. o texto apresenta um espírito de época que afetou também a produção artística, marcada pela constante relação entre (A) fé e misticismo. (B) ciência e arte. PNLD 2015 - FGV TemPos De socioLoGia 6ª ProVa DÉBora FGS_012_029_Parte_I_Cap01.indd 27 5/29/13 1:38 PM 28 Parte I – Saberes cruzados Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendi- mento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os liberou de uma condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida. KaNT, I. Resposta à pergunta: O que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado). Kant destaca no texto o conceito de esclarecimento, fundamental para a compreensão do contexto filosófico da modernidade. esclarecimento, no sentido empregado por Kant, re- presenta (A) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade. (B) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas. (C) a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma heterônoma. (D) a compreensão de verdades religiosas quelibertam o homem da falta de entendimento. (E) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão. assimilanDo conceitos 1. Leia, atentamente o quadrinho a seguir. Ni ls on a) Quem são os personagens investidos de poder retratados no primeiro quadro? a que tipo de sociedade eles estão associados? b) De acordo com seu conhecimento histórico, os “reprimidos” no terceiro quadro representam quais segmentos sociais? c) cite e explique alguns fatores que contribuíram para que o “logo desisto” do último quadro se transformasse em “logo resisto” a partir do século XViii. (C) cultura e comércio. (D) política e economia. (E) astronomia e religião. 4. (Enem 2012) Gabarito: (A) PNLD 2015 - FGV TemPos De socioLoGia 6ª ProVa DÉBora FGS_012_029_Parte_I_Cap01.indd 28 5/29/13 1:38 PM Capítulo 1 – A chegada dos “tempos modernos” 29 olhares soBre a socieDaDe Leia atentamente o texto a seguir. escreva uma redação argumentativa discutindo o texto acima, na qual, além de seu ponto de vista sobre as ideias defendidas pelo autor, estejam explícitos os seguintes aspectos: • em que consiste a meritocracia? • por que o autor considera a meritocracia uma “ilusão”? • de que maneira a meritocracia se manifesta na realidade brasileira? o que é um moDerno? A modernidade possui tantos sentidos quantos forem os pensadores ou jornalistas. Ainda assim, todas as definições apontam, de uma for- ma ou de outra, para a passagem do tempo. Através de um adjetivo moderno, assinalamos um novo regime, uma aceleração, uma ruptura, uma revolução do tempo. Quando as palavras “moderno”, “modernização” e “modernidade” aparecem, definimos, por contraste, um pas- sado arcaico e estável. Além disso, a palavra encontra-se sempre colocada em meio a uma polêmica, em uma briga onde há ganhadores e perdedores, os Antigos e os Modernos. “Moderno”, portanto, é duas vezes assimétrico: assinala uma ruptura na passagem regular do tempo; assinala um combate no qual há vencedores e vencidos. Se há hoje tantos contemporâneos que hesitam em empregar este adjeti- vo, se o qualificamos através de preposições, é porque nos sentimos menos seguros ao manter esta dupla assimetria: não podemos mais assinalar a flecha irreversível do tempo, nem atribuir um prêmio aos vencedores. Nas inúmeras discussões entre os Antigos e os Modernos, ambos têm hoje igual número de vitórias, e nada mais nos permite dizer se as revoluções dão cabo dos antigos regimes ou os aperfeiçoam. LaTOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. São Paulo: Editora 34, 1994. p. 15. No mundo moderno, cuja legitimidade é baseada na liberdade e igualdade de seus membros, o poder não se manifesta abertamente como no passado. No passado, o pertencimento à família certa e à classe social certa dava a garantia, aceita como tal pelos dominados, de que os privilégios eram “justos” porque espelhavam a “superioridade natural” dos bem-nascidos [...]. A ideologia principal do mundo moderno é a “meritocracia”, ou seja, a ilusão, ainda que seja uma ilusão bem fundamentada na propaganda e na indústria cultural, de que os privilégios modernos são “justos” [...]. O ponto principal para que essa ideologia funcione é conseguir separar indivíduo da sociedade [...]. O “esquecimento” do social no individual é o que permite a celebração do mérito individual, que em última análise justifica e legitima todo tipo de privilégio em condições modernas. Jessé Souza. A Ralé Brasileira: quem é e como vive. Belo Horizonte: Ed. UFMg, 2009, p. 43. ao longo do curso de sociologia você terá oportunidade de conhecer diferentes visões sobre os tempos modernos. esperamos que reflita e desenvolva uma opinião própria a respeito do que vem a ser “modernidade” e suas diversas interpretações. 1. Para começar esse empreendimento, faça o que se pede. a) De acordo com o texto, “o que é um moderno?” trata-se de um tipo de pessoa, de um povo, um tempo, um espaço...? e para você, o que significa “moderno” e “modernidade”? b) Quais aspectos o autor destaca em sua reflexão sobre “moderno” e “modernidade”? c) o filósofo e antropólogo francês Bruno Latour diz que é difícil definir vencedores e der- rotados no embate entre “antigos” e “modernos”. considerando a contemporaneidade e os processos abordados neste capítulo, você concorda com a afirmação do autor? explique. eXercitanDo a imaginaÇÃo sociolÓgica tema De reDaÇÃo proposto pelo VestiBular FgV – aDministraÇÃo 2010 PNLD 2015 - FGV TemPos De socioLoGia 6ª ProVa DÉBora FGS_012_029_Parte_I_Cap01.indd 29 5/29/13 1:38 PM Manual do Professor 23 um tipo de conhecimento seja superior ao outro, mas que, ao aprendermos a olhar o mundo social do ponto de vista da Sociologia, podemos ver, sob uma nova perspec- tiva, os fatos a que estamos acostumados e, com isso, aprender coisas novas sobre o mundo que nos cerca. Construindo seus conhecimentos De olho no Enem A questão proposta tem como texto-base uma can- ção em que o personagem fala das lembranças dos luga- res onde viveu, dando-nos a entender que se trata de uma pessoa que migra de região para região. A canção data do início da década de 1950, quando começou a se intensificar a urbanização no Brasil – ou, dito de outro modo, o êxodo rural. A experiência social recebeu trata- mento poético pelo compositor, que com ela mostra sua sensibilidade para interpretar os acontecimentos que ocorriam no país e na vida de muitos indivíduos naquele momento – afinal, migrar não é apenas deixar um lugar e ir para outro, mas também construir e reconstruir a identidade e a memória. A ligação entre a experiência dos indivíduos e as estruturas sociais caracteriza a habi- lidade que C. W. Mills chamou de imaginação sociológica. No caso do compositor, essa sensibilidade para aprender as relações entre indivíduos e processos sociais é artísti- ca, ao passo que os cientistas sociais usam o método científico para compreender essas mesmas relações. Olhares sobre a sociedade 1. a) O contexto é a Guerra do Vietnã, ocorrida no Sudeste Asiático entre 1955 e 1975, que colocou em confronto os interesses da República do Vietnã (Vietnã do Sul) e os Estados Unidos, com participação secundária de outros países. Ou- tra forma de abordar o contexto é situá-lo no âmbito da Guerra Fria. A violência e a longa du- ração do conflito impactaram profundamente as sociedades envolvidas. Para os norte-ameri- canos, a guerra representou a maior confronta- ção armada em que o país havia se envolvido até então, com repercussões na cultura e na política exterior do país. b) É possível supor que o narrador observa os acon- tecimentos em um contexto social diferente do “garoto” da canção, uma vez que o evento teve grande cobertura da imprensa na época. O “ga- roto” representa a juventude que apreciava o rock e a cultura pop, com padrões de comportamento considerados novos para a época. Esse e outros “garotos”, tomados pelas circunstâncias da guer- ra, tiveram a trajetória de vida completamente modificada em decorrência de algo que escapa- va das suas escolhas pessoais. c) A expressão “imaginação sociológica”, de W. Mills, descreve uma habilidade que as Ciências Sociais procuram desenvolver nas pessoas que se apro- ximam desse conhecimento. Trata-se da capaci- dade de articular a biografia com a história, ou, dito de outro modo, agência e estrutura. Essa habilidade não surgiu com o advento das Ciências Sociais, pois essa articulação é feita desde muito tempo por literatos e artistas, teólogos, pessoas comuns, políticos etc. Contudo, no campo das Ciên cias Sociais, essa habilidade desenvolve-se com base na argumentação e no método cientí- fico, respaldada em teoriase conceitos sociais. Capítulo 1: A chegada dos “tempos modernos” Orientações gerais Objetivos Ao longo das aulas, os alunos deverão: • compreender as transformações sociais na transição do feudalismo para o capitalismo e construir uma visão geral da consolidação das sociedades modernas; • compreender os fundamentos da ciência mo- derna e o sentido cultural da ruptura entre ciência e religião (dogma); • relacionar os contextos político, cultural e econômico entre si, que propiciaram o nasci- mento das ciências da sociedade: Sociologia, Antropologia e Ciência Política. Recursos e questões motivadoras Esse capítulo apresenta o contexto histórico que favoreceu a constituição das ciências sociais. O con- teúdo pode ser trabalhado como uma unidade dentro do programa da série ou o texto didático pode ser usa- do como fonte de consulta no desenvolvimento dos capítulos 2, 3 e 4, que tratam do surgimento e do de- senvolvimento da Sociologia, da Antropologia e da Ciên cia Política. FGS_MP_022_039_PARTE_1.indd 23 6/3/13 4:33 PM pedagogiafaetec@hotmail.com Highlight 24 Os processos destacados no texto serão aprofun- dados nas aulas de História. Nosso objetivo é apresentar em linhas gerais a formação do mundo moderno e abordar as questões sociais que contribuíram para o desenvolvimento das teorias sociais clássicas. “Modernidade” e “tempos modernos” são termos centrais na construção deste curso de Sociologia. A percepção de que se vivia em uma época diferente das anteriores começou a germinar no século XV, com o Renascimento, mas a compreensão de que ha- via uma “sociedade moderna” nasceu com o Iluminis- mo no século XVIII. Essas duas “revoluções culturais” são exploradas para que os alunos compreendam as inquietações dos pensadores sociais que antecede- ram a institucionalização das ciências sociais no final do século XIX. O surgimento dessas disciplinas se deu no contexto da desagregação do mundo feudal e da consolidação da sociedade capitalista. Recursos complementares para o professor Leitura BRESCIANI, Maria Stella M. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção Tudo é História). EHLERT, João Marcelo; PEREIRA, Luiz Fernando A. Pen- sando com a Sociologia. Rio de Janeiro: FGV, 2009. EISENSTADT, S. N. Modernidades múltiplas. Sociologia: Problemas e Práticas, Oeiras, Mundos Sociais, n. 35, p. 139- 163, abr. 2001. Disponível em: <http://sociologiapp.iscte. pt/fichaartigo.jsp?pkid=57>. Acesso em: jan. 2013. HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções: 1789-1848. 25. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009. ROSSI, Paolo. O nascimento da ciência moderna na Europa. Bauru; São Paulo: Edusc, 2001. Filmes O nome da rosa. Alemanha/França, 1986, 130 min. Di- reção de Jean Jacques Annaud. Descartes (Cartesius). França/Itália, 1973, 162 min. Di- reção de Roberto Rosselini. Giordano Bruno. Itália, 1973, 140 min. Direção de Carol Reed. Danton, o processo da Revolução. França, 1982, 136 min. Direção de Andrej Wajda. Casanova e a Revolução. França/Itália, 1982, 126 min. Direção de Ettore Scola. Práticas inter e multidisciplinares no ensino Exposição: Os grandes nomes da ciência moderna Organize grupos de trabalho com o objetivo de montar uma galeria de imagens e uma pequena biografia dos “pais fundadores da ciência moderna”. Cada grupo escolherá um campo de saber para desenvolver a pesqui- sa (Matemática, Física, Química, Biologia, Sociologia, His- tória, Psicologia, Medicina etc.). Os resultados do trabalho poderão ser apresentados em uma exposição visual nos corredores da escola. Essa tarefa será mais interessante se for desenvolvida em conjunto com as demais discipli- nas: os professores de Arte podem contribuir na monta- gem da exposição; os professores das disciplinas relacio- nadas com a tarefa poderão discutir com os alunos o desenvolvimento de determinados campos de saber e apresentar alguns nomes centrais para o desenvolvimen- to da disciplina. É importante que eles percebam que a organização do saber escolar que conhecem hoje tam- bém se relaciona com a chegada dos tempos modernos. Comentários e gabaritos Leitura complementar A Declaração dos Direitos do Homem e do Cida- dão de 1789 é um documento histórico que comporta os ideais da Modernidade: a ruptura com uma sociedade de privilégios e a constituição de uma sociedade centra- da no indivíduo, em seus direitos e deveres, no mérito, na liberdade e responsabilidade, enfim na cidadania. Esses ideais passaram a orientar a conduta das pessoas e sociedades – apesar de as contradições entre princí- pios e realidade serem constatadas nas práticas sociais. Sugerimos que você discuta os processos históricos abordados nesse capítulo buscando relacioná-los aos artigos da Declaração. Esse documento também poderá ser retomado em outros momentos do curso. Sessão de cinema O mercador de Veneza 1492. A conquista do Paraíso Os dois longas-metragens indicados abordam o período de transição para os tempos modernos. Com base na peça homônima de William Shakespeare, O mercador de Veneza mostra a importância das atividades comerciais e a condenação moral da usura (cobrança de juros). A conquista do Paraíso é um filme baseado em fa- tos históricos que põe em discussão o velho conceito de FGS_MP_022_039_PARTE_1.indd 24 6/3/13 4:33 PM Manual do Professor 25 “descobrimento”, definindo o processo como conquista do Novo Mundo pelos europeus. Os diálogos exploram com riqueza as transformações da época. Como recurso didático, você pode exibir cenas dos dois filmes ao apre- sentar o conteúdo do capítulo ou, com a exibição inte- gral de um deles, desenvolver uma atividade junto com o professor de História. Construindo seus conhecimentos Monitorando a aprendizagem 1. Significa que nela as pessoas tinham uma posi- ção social estabelecida antes mesmo do nascimento. Havia poucas chances de haver mobilidade social: em geral, quem nascia servo seria servo por toda a vida, quem nascia nobre seria nobre etc. 2. A Expansão Marítima contribuiu para a am- pliação do mundo, com a descoberta de novas socie- dades e culturas. Ao mesmo tempo, houve um encur- tamento das distâncias com o desenvolvimento dos transportes marítimos, possibilitando viagens in- tercontinentais mais frequentes. Esses aspectos propiciam pensar que, de fato, a comunicação e o co- mércio global ganharam sentidos completamente no- vos naquele momento. Mas não se deve relacionar o processo à atual ideia de globalização. Mesmo numa época de “revoluções” científicas e tecnológicas, as via- gens eram penosas e havia muita insegurança – fosse por razões naturais ou por causa da pirataria, estimu- lada pela competição mercantilista internacional. 3. O Iluminismo propunha a emancipação dos in- divíduos do estado de tutela ao qual estavam condena- dos (pensar conforme os dogmas da Igreja), a fim de que se tornassem responsáveis por seus atos e pensamentos (ideia de razão). A consequência dessa maneira de pen- sar foi apostar na capacidade de mudar aquilo que os próprios indivíduos haviam criado. Essa ideia inspirou as duas grandes revoluções políticas do fim do século XVIII: a Revolução Americana, de 1776, e a Revolução France- sa, de 1789. Dessas revoluções, saíram dois documentos importantes que fortaleceram a ideia de liberdade e res- ponsabilidade dos homens: a Constituição Americana e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. 4. (a; b; c) Comentários gerais. A expressão Revolução Industrial foi aplicada a várias inovações técnicas que ampliaramos meios de sobrevivência dos homens e das cidades, possibilitando uma nova forma de sociabilidade. Esse acontecimento não tem uma localização precisa no tempo – é um pro- cesso longo, cujo fundamento é a ideia de que a mudança é a norma. A validade desse princípio pode ser facilmente percebida até hoje: inventa-se algo e, em pouco tempo, uma nova técnica ou um novo instrumen- to mais eficiente torna o anterior obsoleto. Além de alte- rar a forma de lidar com a técnica, a Revolução Indus- trial produziu outras mudanças. A fábrica tornou-se um importante local de trabalho; os capitalistas transfor- maram-se em detentores dos meios de produção (terra, equipamentos, máquinas); e o trabalhador, contratado livremente, passou a receber salário, podendo mudar de um emprego para outro. A Revolução Industrial alterou profundamente os meios de produção, estimulou e pro- vocou a competição por mercados internos e externos. As mudanças foram acompanhadas da ideia de liberda- de de pensamento e do apoio político para a produção de novos e mais sofisticados instrumentos. A Revolução Francesa garantiu as bases políticas para que as transformações decorrentes da Revolução Industrial fossem alicerçadas – uma sociedade com a possibilidade de mobilidade social, meritocrática, po- liticamente livre, fundamentada em normas constitu- cionais e na soberania do povo. Nesse sentido, as trans- formações políticas e o fortalecimento dos Estados Na ci onais foram cruciais para o desenvolvimento do liberalismo político e econômico. Os ideais da Revolu- ção Francesa foram centrais nas lutas de emancipação das colônias europeias nas Américas e, ao longo do século XIX, toda a Europa foi “varrida” por revoluções liberais, como as Revoluções de 1848 e a Unificação de Alemanha e Itália. De olho no Enem As três primeiras questões abordam aspectos que estavam em discussão no alvorecer da ciência moder- na: a experimentação e a observação, o papel dos senti- dos na construção do conhecimento e o embate entre ciência e religião. Essas atividades possibilitam explorar as bases do conhecimento científico – fundamentação primordial, pois nos capítulos seguintes serão aborda- das as três disciplinas que integram as Ciências Sociais. Compreender as bases do conhecimento científico é importante para perceber as especificidades das Ciên- cias Humanas em relação às Ciências da Natureza e à Matemática, além de conferir o estatuto de ciência a todas elas. A questão 4 tem uma linha de continuidade com as três primeiras, pois aborda a transformação na mentalidade e cultura por meio do movimento ilumi- nista, no qual razão, ciência e conhecimento foram for- temente associados. FGS_MP_022_039_PARTE_1.indd 25 6/3/13 4:33 PM pedagogiafaetec@hotmail.com Highlight pedagogiafaetec@hotmail.com Highlight 26 Assimilando conceitos No primeiro quadro estão retratados o clero (pri- meiro estado), a nobreza e a monarquia (segundo esta- do) – representantes de dois dos três estados (ordens ou estamentos) do Antigo Regime (nome dado pelos revo- lucionários de 1789 à sociedade aristocrática que eles contestavam). Os “reprimidos” são os representantes do terceiro estado – a burguesia e os camponeses (maior parte da população). Não é possível apontar um único fato como “cau- sa” dos processos revolucionários do final do sécu- lo XVIII, pois há um conjunto de variáveis em jogo: a difusão de ideias liberais por meio do movimento ilumi- nista, o crescimento do poder econômico da burguesia, as insatisfações populares com os dois estados não en- volvidos nos processos produtivos e que viviam de im- postos e dízimos, o enfraquecimento do absolutismo e do poder eclesiástico, entre outros fatores. Todos esses aspectos mostram o cruzamento das mudanças cultu- rais, políticas e econômicas que deram origem a uma nova ordem social. O conceito de revolução (absoluta- mente moderno) pode ser explorado e relacionado à ideia de agência, ação e movimento social. Olhares sobre a sociedade Para o melhor aproveitamento dessa atividade, sugerimos que o texto seja lido junto com os alunos e suas ideias centrais sejam esclarecidas. Recomenda- mos que as perguntas sejam debatidas e respondidas coletivamente. O objetivo da atividade é provocar a reflexão so- bre uma palavra corriqueira – moderno – mas que ga- nha sentido novo quando usada pelos cientistas so- ciais, historiadores e filósofos. “Moderno” e “modernidade” remetem à noção de tempo e à ideia de estágio de desenvolvimento – daí oporem-se a “antigo” e “atrasado”. Elas comportam imagens que as socieda- des ocidentais elaboraram a respeito de si, especial- mente a partir do século XVIII com o movimento ilu- minista. Os não modernos seriam os “outros”. Além de termos que servem de contraste, eles expressam o “projeto” dessas sociedades alicerçado no progresso, ciência, democracia e desenvolvimento social. É com base nesse “projeto” que Latour questiona se é possível falar em vencedores – em outras palavras, ele se per- gunta se nossas sociedades alcançaram esse objetivo. Esse questionamento vem sendo feito desde o final do século XIX pela primeira geração de cientistas sociais, e é por essa razão que se diz que essas disciplinas nas- ceram na modernidade com o objetivo de interpretá- -la, compreendê-la, desvendá-la. Exercitando a imaginação sociológica O texto proposto para a reflexão mostra a ruptura social e cultural que houve na modernidade. Do ponto de vista social, a sociedade passou a ser orientada pela ideia de mobilidade em oposição à noção de privilégio de nascimento. Do ponto de vista cultural, emergiu a cultura in- dividualista, que toma o indivíduo como valor. O “‘es- quecimento’ do social no individual” torna-se a condi- ção para a consolidação da ideologia meritocrática porque os indivíduos precisam acreditar que tudo de- pende exclusivamente de suas escolhas e de seu méri- to (vontade e força de vontade), e com isso a ordem social é justificada. Antes de encaminhar os alunos para a disserta- ção, explore os conceitos individualismo, mobilidade social, estratificação social e ideologia (ver seção Conceitos sociológicos). Ao discutir as diretrizes da redação com os alunos, levante questões que possibilitem problematizar a ideo- logia meritocrática, como: Em uma sociedade desigual como a brasileira, a pobreza decorre da falta de empe- nho dos pobres que não trabalham o suficiente? Em quais aspectos da vida do estudante a lógica do desem- penho está presente e como ela é percebida? Quais são as oportunidades abertas para a mobilidade social na sociedade brasileira? Capítulo 2: Saber sobre o que está perto Orientações gerais Objetivos Ao longo das aulas, os alunos deverão: • diferenciar conhecimentos sobre o mundo so- cial baseados em opiniões, tradições, costumes e religião daqueles disponibilizados pela So- ciologia – disciplina científica; • entender que Sociologia é um campo de conhe- cimento que depende da liberdade de pensa- mento, do exercício da razão, da controvérsia FGS_MP_022_039_PARTE_1.indd 26 6/3/13 4:33 PM pedagogiafaetec@hotmail.com Highlight pedagogiafaetec@hotmail.com Highlight pedagogiafaetec@hotmail.com Text Box FIM DO GABARITO - RESPOSTAS excercicioscomgabarito-A-CHEGADA-DOS-TEMPOS-MODERNOS.pdf GABARITOCAP1.pdf