Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CAPÍTULO 3 Anatomia e algumas histórias Anatomia: ciência morta ou do futuro? Anatomia é uma ciência esquecida, até pelas faculdades de medicina. Os alunos de medicina e faculdades afins (enfermagem, educação física, psicologia, terapia ocupacional, odontologia, fisioterapia e outras) andam estudando anatomia por imagens. Aqui me lembro do Michelangelo que vivia discutindo com Leonardo da Vinci se a pintura ou a escultura era mais importante. A pintura e a imagem são bidimensionais, já a escultura e a anatomia no cadáver são tridimensionais. Cada uma tem seu valor, mas não podemos comparar as duas. Neste caso a dissecação do cadáver permite a tridimensionalidade, o que é fundamental para o aprendizado. Hoje não temos homens renascentistas, com investidas em várias áreas do conhecimento, e pagamos um preço alto por isso. Acima citei algumas faculdades que hoje estudam anatomia, mas, por que não estudar anatomia em arquitetura, designer (de moda, joias, interiores, etc), engenharia e outras tantas? Alguém imagina desenhar um anel sem conhecer a anatomia da mão? Ou projetar uma cadeira sem saber as proporções do corpo? Ou um arquiteto sem saber as relações anatômicas de altura da mão, pernas e cabeça? A que altura o arquiteto projeta o chuveiro no vestiário de basquete ou no banheiro de um jóquei? A resposta é sempre a mesma: ANATOMIA. Ou seria ANATOMIAS? Talvez, a falta do conhecimento anatômico seja o motivo de lançarem dezenas de celulares e tablets de tantos tamanhos e formas diferentes. Creio que os engenheiros não conheçam anatomia humana o suficiente para produzirem um produto que seja confortável ao manuseá-lo e adequado às pontas dos dedos. LINHA DO TEMPO DA ANATOMIA 1550 AC 510 AC 460 AC 370 AC Pairo Ebers foi escrito no Egito antigo e está na Universidade de Leipzig – descrição precisa do sistema circulatório. Alcmeão, grego, médico em Crotona, discípulo de Pitágoras, pioneiro na dissecação de cadáver humano, descobriu que os nervos terminavam no cérebro (ou começavam) e criou uma teoria sobre as sensações, onde os sentidos seriam de responsabilidade do cérebro. Hipócrates, grego antigo e considerado o pai de medicina, escreveu setenta textos conhecidos como “corpus hippocraticum” agregando grande avanço para a ciência médica. 300 AC Herófilo e Erasistrato – Alexandria - dissecações humanas de forma regrada. 150 AC 200 DC Proibição da violação de cadáveres pela religião e conceitos éticos. 200 DC Claudius Galeno, estudioso romano mas nascido na Grécia, o maior salto da história da anatomia se dá neste momento e permanecerá absoluto até o renascimento. Foi Galeno quem diferenciou artérias de veias, nervos sensoriais de motores, o rim como produtor da urina, a laringe correlacionada com a voz, o cérebro como centro do corpo humano e - não o coração - e inúmeras outras descobertas. 100 AC Marcos Vitruvio Polião – arquiteto romano – criou o conceito de proporção do corpo humano aplicado à arquitetura. Sendo relido por Leonardo da Vinci no seu desenho clássico “O homem de Vitrúvio”. 1294 DC 1303 DC O Papa Bonifácio VIII bula papal proibindo a violação de cadáveres. Isto durou até o século XV. 1500 DC O Renascimento Italiano: A grande ciência deste período era a anatomia. A medicina avançava basicamente com as descobertas anatômicas. As universidades médicas, como a de Pádua, começam a publicar artigos sobre o corpo humano e a restrição papal acaba ficando em segundo plano e até mesmo o clero passa a facilitar o acesso aos mortos desde que mantido o devido respeito, as dissecações passam a acontecer dentro das próprias igrejas, durante a noite, à luz de vela. Não só os médicos, mas também os artistas estavam enlouquecidos pela anatomia. Somente o conhecimento profundo dos ossos, músculos, articulações permitiriam a reprodução exata da figura humana nas telas e nas esculturas. E não era incomum encontrar escapelo (bisturi) nos ateliês dos artistas como: Leonardo da Vinci, Albrecht Durer, Luca Signorelli, Andrea Verrochio, Rafael Sanzio. Todos dissecavam compulsivamente. 1543 DC Andreas Vesalius, o pai da anatomia moderna - Padua- “De Humani Corporis Fabrica” (A fábrica do corpo humano). Considerado o tratado inicial das ciências ocidentais. De valor inestimável para o conhecimento humano se torna um marco do desprendimento do conhecimento Grego. Agora nós, renascentistas podemos fazer ciência por nós mesmos. E o caminho não trilhado do conhecimento se torna uma aventura necessária em todas as áreas: matemática, literatura, filosofia, astronomia, física (óptica, mecânica). FOTO CLÁSSICA DO LIVRO “DE HUMANI CORPORIS FABRICA” MOSTRANDO UM ESQUELETO ESTUDANDO UM CRÂNIO 1628 DC William Harvey publicou “De Motu Cordis” – Sobre o movimento do coração e do sangue. Livro com 72 páginas que explica a circulação sanguínea. 1858 DC Gray publicou primeira edição – Anatomia – 750 páginas e 363 figuras. A anatomia é uma das mais belas ciências que o homem pode conhecer e possui uma característica única, de ser estática, imutável. Creio que não podemos considerar a evolução com fator de grande mudança para a anatomia num período de tempo tão pequeno. Então se debruçarmos a lâmina fria do bisturi sobre um corpo estaremos fazendo exatamente a mesma coisa que os mestres do passado fizeram. E sobre os seus conhecimentos estaremos espiando um pouco mais além. Só assim saberemos mais sobre nós mesmos. GRAVURA DE ANDREAS VESALIUS CAPA DO LIVRO “DE HUMANI CORPORIS FABRICA” NOTA ANATÔMICA: Curiosidade do sistema circulatório: A medida que as artérias se dividem para formar novas artérias, a somatória dos seus diâmetros aumenta; assim como a medida que as veias se unem para formar novas veias... Porém, há um exemplo no corpo humano onde duas artérias se unem para formar uma nova artéria. São as artérias vertebrais localizadas no pescoço, se unem e formam a artéria basilar dentro do crânio, observe os esquemas abaixo.
Compartilhar