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DIREITO DA MULHER 20180414T160647Z 001

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DIREITO DA MULHER/Uma Analise sobre as mulheres no Presidio.pdf
POBREZA E PRISÃO: CONTEXTUALIZAÇÃO E UMA ANÁLISE SOBRE O 
PERFIL DAS MULHERES DO PRESÍDIO JÚLIA MARANHÃO
COSTA1, Aurenir Marinho
CCHLA/Departamento de Serviço Social/PROEXT 
ELIAS2, Hadassa Nyedja da Silva
CCHLA/Departamento de Serviço Social/PROEXT
SILVA3, Ana Carla França da
CE/Departamento de Pedagogia/PROEXT
Orientador: Gustavo Barbosa de Mesquita Batista4
RESUMO: Este artigo se propõe a discutir a relação existente entre a exclusão social e o contexto prisional. 
Com base nas leituras realizadas, foi possível constatar que a sociedade burguesa gira em torno da exploração 
dos proprietários dos meios de produção sobre os detentores da força de trabalho. No contexto prisional esta 
realidade também é possível de ser constatada, uma vez que as pessoas que se encontram encarceradas são, em 
sua esmagadora maioria, constituída por pobres. Não é nossa intenção afirmar que a criminalidade é restrita à 
determinada classe social, no caso, ao segmento mais empobrecido da sociedade, mas que a prisão é seletiva, 
isso não há como negar. Através de pesquisa bibliográfica e de comparação de dados coletados por meio da 
aplicação de questionários nos meses Julho e Agosto de 2013, com 133 presas do Centro de Reeducação 
Feminina Maria Júlia Maranhão na cidade de João Pessoa-PB, local onde executa-se as atividades do Programa 
PROEXT, foi possível constatar que a lógica capitalista de exclusão e coerção é um dos pilares que sustenta a 
lógica prisional, sobretudo no que se refere ao controle social. A conclusão a que chegamos é que se adentrarmos 
aos muros das prisões constataremos a assertiva de que a pobreza é uma constante no sistema prisional 
brasileiro. 
Palavras-chave: Prisão. Exclusão. Pobreza.
 Introdução
A criminalidade vem durante muito tempo despertando grandes discussões e polêmicas, por se 
tratar de um grave problema que corroí e preocupa a sociedade, de maneira que se incorporou aos 
círculos de debates contemporâneos e deverá permanecer ainda por muito tempo, talvez até 
definitivamente. Os atos criminais estão sendo cometidos tanto por homens quanto por mulheres, sendo 
que o número de mulheres presas é expressivamente menor que o número de homens, mas o fato é que 
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 UFPB - Discente Bolsista - aurenirmarinhocosta@ymail.com
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 UFPB - Discente Bolsista - hadassanyedja@gmail.com
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 UFPB - Discente Bolsista - ana.carlauchira@hotmail.com
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 UFPB – Professor de Direito Penal do CCJ/UFPB, Membro colaborador da Pós-Graduação em 
Direitos Humanos do NCDH, Coordenador FLUEX e do PROEXT 2013: Ressocialização Feminina, 
Direitos Humanos e Cidadania.
a criminalidade feminina vem aumentando e se intensificando. Segundo os dados do Departamento 
Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça (DEPEN/MJ /2009) estima-se que para cada 100 mil 
habitantes no Brasil, 247 estão encarcerados nas prisões públicas. 
Este trabalho justifica-se na medida em que percebemos, a partir da observação e da atuação do 
nosso projeto, a semelhança nos perfis socioeconômicos das presas. Na busca por comprovação ou não 
de tais hipóteses que nos levavam a compreensão de que a maioria das mulheres se encontrava em uma 
vulnerável posição social, decidiu-se aprofundar esta análise e buscar dados comprobatórios. 
Para tanto, a metodologia adotada para esse estudo envolveu uma revisão bibliográfica dos 
autores que se dedicam a estudar a temática, bem como a análise dos resultados da tabulação dos dados 
de um questionário semi-estruturado aplicado no Centro de Reeducação Feminino Maria Júlia 
Maranhão, contendo 45 questões dentre essas, questões voltadas para a análise do perfil 
socioeconômico das presas em regime fechado. O objetivo principal dessa análise é mostrar se e em 
que medida há uma linha tênue entre pobreza e prisão.
Desenvolvimento
Nesta parte do resumo pretendemos discutir acerca dos motivos que deram origem ao 
surgimento da prisão, e apontar alguns conceitos sobre a prisão. Para tanto, nos cercaremos das 
contribuições de alguns teóricos na área e, como já era de se esperar, começaremos por Foucault 
(2007). Para ele a prisão,
Se constituiu fora do aparelho judiciário, quando se elaboraram, por todo o corpo 
social, os processos para repartir os indivíduos, fixá-los e distribui-los espacialmente, 
classificá-los e tirar deles o máximo de tempo, e o máximo de forças, treinar seus 
corpos, codificar seu comportamento contínuo, mantê-los numa visibilidade sem 
lacuna, formar em torno deles um aparelho completo de observação [...]. 
(FOUCAULT, 2007, p. 195).
Ao compararmos a prisão com a questão da exclusão, constaremos uma estreita ligação. Para 
tanto, basta observamos que desde sempre na história da humanidade negros, mulheres, mendigos 
foram alvos de várias formas de exclusão, ou seja, desde o colonialismo sempre existiu os excluídos da 
história, mas foi com o desenvolvimento do capitalismo, economia burguesa de mercado que tem como 
princípio a maximização dos lucros e o trabalho excedente, que aumentou significativamente a massa 
de excluídos, ao surgir uma nova composição nesse quadro de exclusão, ou seja, os excluídos do 
processo de trabalho formando o exército industrial de reserva. Logo, não há como negar de que a 
exclusão social gerada, principalmente, pelo capitalismo contribuiu significativamente para o 
surgimento da prisão como aparelho excludente.
Esta relação entre a prisão e a realidade social de exclusão, aparece muito clara no texto de 
Wacquant (2001), que mostra que quando o Estado perde ou diminui seu poder sobre a sociedade, ele 
se apodera da área penal para continuar exercendo controle sobre os pobres. Esse retrato se enquadra 
naquilo que chamamos da passagem de um Estado social para um Estado penal, dito de outro modo, o 
Estado torna-se mínimo para as questões sociais e máximo para a questão penal.
Nesse sentido, podendo afirmar que passou a existir 
Uma política de criminalização da miséria que é complemento indispensável da 
imposição do trabalho assalariado precário e sub-remunerado como obrigação cívica, 
assim como o desdobramento dos programas sociais num sentido restritivo e punitivo 
que lhe é concomitante. (WACQUANT, 2001, p. 96).
Desta forma, a pobreza passou a ser governada através de um estado punitivo e repressor, 
através da noção de que àqueles que não se adequam aos padrões ou não dão lucratividade ao mercado 
são colocados à margem da sociedade. Aparecem nesta seara, as prisões como forma de “limpeza 
social”, separando os perigosos dos trabalhadores como forma de prevenir possíveis situações de 
violência. 
Trata-se, pois, de neutralizar a ‘periculosidade’ das classes perigosas através de 
técnicas de prevenção de risco, que se articulam principalmente sob as formas de 
vigilância, segregação urbana e contenção carcerária. (GIORGI, 2006. p. 28).
 
Essa forma de limpeza social se torna clara também com a Lei dos Pobres de 1601, criada pelo 
parlamento Inglês. Lei essa que tinha como função o controle e segregação dos miseráveis, formados 
por grande parcela de trabalhadores rurais que migraram para a área urbana e não foram absolvidos 
pelo processo de trabalho, uma vez que não correspondia a economia então vigente, ou seja, a 
economia de mercado. 
A relação entre trabalho e prisão também ganha força, se tomarmos como exemplo a ideologia 
Calvinista que supervalorizou
o trabalho, sendo esta a ferramenta que elevaria o homem à salvação.
Além de tirar a liberdade das pessoas, a prisão às moldam à ideologia capitalista de 
subserviência ao detentor de poder. Acerca dessa questão Giorgi (2006) assevera que a prisão, “Revela-
se, assim, o paradoxo de um mecanismo que, de um lado, produz privação, falta, carência, e, de outro, 
impõe as próprias engrenagens disciplinares como remédio para esta condição”. (p.46).
Apropriando-se das informações acima expostas podemos concluir que a prisão é um espaço de 
disciplinamento, confinamento e repressão dos pobres. Nessa direção, o Estado ocupa um papel de 
destaque, uma vez que se utiliza das penas como forma de controlar a sociedade, principalmente, as 
classes pobres justificando-se pela lógica neoliberal que direta ou indiretamente elege o Estado como 
regulador da pobreza. 
Metodologia
Nos meses Julho e Agosto de 2013, o grupo de Educação do Projeto Ressocialização Feminina, 
Direitos Humanos e Cidadania – PROEXT 2013, aplicou junto a 133 presas um questionário que 
buscava analisar o perfil social, econômico, cultural, escolar e jurídico das reeducandas do Centro de 
Reeducação Feminino Maria Júlia Maranhão. A partir de agora confrontaremos os resultados da 
pesquisa de campo com a revisão bibliográfica. É importante destacar que os dados apresentados se 
referem apenas ao universo prisional feminino, tendo em vista que as entrevistas foram feitas em uma 
prisão feminina. 
Em relação à cor constatou-se que 45% das mulheres entrevistadas se declararam pardas, 
embora em alguns casos, trata-se de mulheres negras, de origem étnica negra, mas que preferem se 
declarar pardas. De qualquer modo, se somarmos o percentual de mulheres pardas com aquelas que se 
declaram negras, iremos obter um percentual de 65%, constatando a máxima de que as mulheres que 
ocupam os presídios femininos podem ser definidas apenas pela letra P, “pobre”, “preta” e “puta”. Mas, 
também nos chamou atenção o percentual de mulheres que se declararam brancas (29%), mostrando 
que uma mudança étnica, pode estar se anunciando.
Se forem analisadas as informações sobre o recebimento de auxílio reclusão, os dados revelam 
que a maioria dos familiares das presas (83%), não recebe o auxílio reclusão. Vale salientar, que este 
tipo de auxílio é um benefício previdenciário contributivo que dá direito aos familiares das presas 
receberem enquanto estas estiverem em regime fechado e semi-aberto. Sendo um auxílio contributivo é 
de direito apenas daquelas famílias de mulheres que contribuíram com o INSS. Desta feita, é possível 
tirar uma conclusão acerca dessa questão, isto é, de que o trabalho dessas mulheres ocorria de forma 
precarizada e com a remuneração de baixos salários justificados pela informalidade dos serviços, não 
sendo possível, portanto, a contribuição previdenciária.
Outro assunto que nos chama atenção é em relação à média salarial informada pelas próprias 
presas. A pesquisa mostrou que 43% recebiam entre meio e um salário mínimo, podendo ser resgatados 
aqui às informações sobre a precarização do trabalho e a necessidade de subsistência sua e de suas 
famílias. Isto é, a maior parte das atividades de trabalho era desenvolvida no âmbito informal do 
mercado, consequentemente sua renda também seria precarizada. Esta realidade apenas atesta a 
criminalização da pobreza, visto que apenas 5% das presas recebiam entre dois e três salários mínimos. 
Por outro lado, esses dados nos remete a seguinte questão: se a grande maioria dessas mulheres está 
presa pelo crime de tráfico por que a remuneração declarada por elas é tão baixa, não condizendo com 
a realidade do lucro obtido com o negócio do tráfico? Talvez, a resposta a essa indagação esteja na 
função desempenhada por elas, “de buchas ou mulas” do tráfico, ou seja, funções secundárias na 
estrutura hierárquica do tráfico. 
Conclusão
O que marca nosso trabalho é a clareza de como a teoria se revela significativamente nos dados. 
Podemos perceber que a prisão é uma forma de enquadrar a pobreza nos moldes que o sistema 
capitalista neoliberal construiu e como o Estado legitima esta repressão se transformando em um 
Estado Penal. As presas entrevistadas mostram um perfil de pobreza, baixo nível de escolaridade, pois 
podemos constatar que a maioria não adentrou ao Ensino Médio.
Contudo, outro dado revelado na pesquisa é a prevalência de mulheres, negras no presídio 
pesquisado, porém não sendo novidade visto que esta realidade é comum nos presídios brasileiros, 
tanto femininos como masculinos, uma vez que a população negra desde a escravatura sempre foi 
marginalizada. Outro aspecto que nos chamou atenção diz respeito do baixo recebimento do auxílio 
reclusão mostrando que o perfil socioeconômico as torna por um lado, reféns do trabalho precário, 
incerto; por outro, reféns do crime e, consequentemente, da prisão.
Por essa razão, estamos convencidas de que os estudos realizados no âmbito das prisões 
femininas, ainda que insuficientes na realidade brasileira, têm sido um alerta para que as autoridades 
desse campo de atuação reconheçam a necessidade de uma urgente mudança. Aqui deve ser feita a 
discussão de que em virtude de uma lógica que privilegia os problemas relativos ao encarceramento de 
homens, estatisticamente mais expressivo, as questões referentes às mulheres que se encontram nas 
mesmas condições têm sido relegadas a um segundo plano, mais uma vez está posta a desigualdade 
social como marca das prisões.
A análise dos dados da pesquisa realizada do Júlia Maranhão nos leva a concluir que a realidade 
encontrada naquele presídio não é uma característica local, mas faz parte do cenário nacional. De 
maneira que, se levarmos em consideração os delitos cometidos, perfil social, racial e econômico das 
presas observaremos um padrão nacional praticamente idêntico e que exatamente por isso, se torna 
assustador, sobretudo, quando analisado de forma crítica. 
Referências 
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: o nascimento da prisão; tradução de Raquel Ramalhete. 34 ed. 
Petrópolis, RJ, Vozes, 2007.
GIORGI, Alessandro De. A miséria governada através do sistema penal. Rio de Janeiro, Instituto 
Carioca de Criminologia, 2006. (Pensamento Criminológico v. 12).
WACQUANT, Loic. As prisões da miséria. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001.
DIREITO DA MULHER/O Impacto da Lei Maria da Penha.pdf
 
 
O IMPACTO DA LEI MARIA DA PENHA NO DIREITO DE FAMÍLIA 
 
1. INTRODUÇÃO 
A luta e garra da mulher brasileira, Maria, Maria, cantada por Ellis Regina, 
foi traduzida em lei com a força e persistência da também Maria, Maria da Penha. Vítima de 
violência doméstica, Maria da Penha levou a República Federativa do Brasil a receber da 
Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA a recomendação para que fosse 
realizada uma profunda reforma legislativa que coibisse, de forma efetiva, a violência contra a 
mulher. Eis que nos trouxe a Lei n. 11.340/2007. 
Foram criadas normas cogentes de combate à violência doméstica contra a 
mulher, inclusive um juizado especial sobre o tema, que deve contar com equipe 
interdisciplinar que auxilie as vítimas das agressões noticiadas. 
Dos seus muitos artigos, focados principalmente na esfera penal e 
combativa, normatizou-se o entendimento já sufragado na doutrina sobre o conceito moderno 
de família, dispondo em seu art. 5°, inc. II, ser a família “a comunidade formada por 
indivíduos
que são ou se considerem aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade 
ou por vontade expressa”. 
Quebrou-se a antiga distinção entre núcleo familiar pelo casamento, para se 
ampliar os laços familiares legais por afinidade ou mesmo por vontade expressa, 
modernamente sabido que as instituições familiares formadas por laços afetivos possuem 
destaque ímpar na constituição, que prevê a união estável como entidade familiar (art. 226, 
§3°, da CF). 
Inovando nesta seara, vem a Lei 11.340/2007 tirar a expressa restrição de 
diferença sexual para formação da família entre o homem e a mulher, mesma ressalta feita 
pela Lei 9.278/1996, possibilitando, portanto, o reconhecimento de união homoafetivas ou 
interparentais como família, com as seguranças e proteções daí advindas. 
 
2. DA AMPLIAÇÃO DO GRUPO FAMILIAR 
O reconhecimento da família deverá ser procedido pela análise do elemento 
afetivo (affectio familiae), deixando-se de lado a intelecção arcaica de marido e mulher. Foge-
 
 
se, hoje, do esteriótipo biológico para se adentrar na função cultural e social da célula mater 
da sociedade. 
Nesse sentido histórico, embora o casamento aparecesse como fundamento 
na sociedade romana, MARIA HELENA DINIZ
I
, citando Pinto Ferreira, nos leciona que “a 
sociedade conjugal, embora contida no matrimônio, é um instituto jurídico menor do que o 
casamento, regendo, apenas, o regime matrimonial de bens dos cônjuges, os frutos civis do 
trabalho ou indústria de ambos os consortes ou de cada um deles. Daí não se poder confundir 
o vínculo matrimonial com a sociedade conjugal”. 
Partindo dessa evolução já registrada na doutrina evolucionista no antigo 
código civil, o ordenamento jurídico hoje prevê a possibilidade de união familiar sem a 
necessária convolação de núpcias, imperando há muito a união estável e a sociedade de fato 
como formas de reconhecimento de unidade nuclear familiar. 
Podemos dizer que a entrada em vigor da Lei Maria da Penha nos trouxe a 
precípua inovação no direito de família ao prever como unidade familiar a comunião de 
pessoas por afinidade subjetiva, não importando mais a taxatividade de sexo oposto ou laço 
consangüíneo. 
No campo das ações, podemos palmilhar algumas conclusões advindas 
dessa nova modalidade de unidade familiar sobre as principais causas envolvendo direito de 
família trazidas pela Lei n. 11.340/2007. 
 
3. REFLEXÕES SOBRE AS CAUSAS AFETAS AO DIREITO DE FAMÍLIA 
a) nulidade e anulação de casamento 
Partindo-se do princípio de que o casamento como ato civil não pode ainda 
ser celebrado por pessoas do mesmo sexo, socorrem-se os casais homossexuais ao 
reconhecimento da sociedade de fato. Declarada a ocorrência de dependência econômica, 
afetiva e moral entre os convivas, podem pleitear igualmente a dissolução da relação e a 
partilha dos bens adquiridos na constância da união. 
Não podem, pois, os adeptos da união estável ou de outra modalidade de 
convivência familiar, buscar a nulidade ou anulação do casamento, eis que este, como ato 
solene, não pode ser praticado por tais agentes. 
 
 
Encontra-se privativo aos cônjuges e ao Ministério Público pleitear ação de 
nulidade e anulação de casamento. 
 
b) investigatória e negatória da paternidade e da maternidade 
Nada foi alterado ou modificado sobre o tema, permanecendo as mesmas 
condições e pressupostos até então vigentes. 
 
c) alimentos provisionais, provisórios e definitivos 
Há expressa determinação na Lei n. 11.340/2007 sobre a possibilidade de o 
juiz da causa adotar medidas protetivas de urgência, arbitrando alimentos provisórios ou 
provisionais em prol da mulher vítima de violência doméstica (art. 22, inc. V). 
 Essa é a única alteração existente na Lei Maria da Penha na seara dos 
processos afetos ao direito de família. As demais inovações no campo familiar decorre da 
interpretação do exegeta sobre os termos e função social da lei, harmonizando-a aos institutos 
existentes e à Carta Política. 
Assim, constatada a violência doméstica contra a mulher, cabe ao juiz da 
causa decidir sobre as medidas a serem adotadas em relação ao agressor, podendo ser 
arbitrado alimentos provisórios ou provisionais, cumulados ou não com outros procedimentos 
existentes e em defesa da vítima. 
Há, segundo se sustenta, diferença de regramento jurídico: os alimentos 
provisórios permaneceriam até o trânsito em julgado da sentença; os provisionais podem ser 
modificados ou revogados. 
Já o mestre ARAKEN DE ASSIS
II
 nos esclarece que “a nota fundamental da 
distinção reside em que a concessão de alimentos provisórios depende de prova pré-
constituída do parentesco ou da obrigação alimentar (art. 2º da Lei 5.478/68), o que poderá ser 
estipulado no ‘contrato de bem viver’, mencionado, indiretamente, no art. 5º, § 2º, da Lei 
9.278/96”. 
Os alimentos definitivos, advindos da obrigação civil de alimentar, contudo, 
não se insere na competência das causas de defesa da mulher, devendo ser pleiteados junto ao 
juízo de família. Não há, pois, relação entre as causas, ainda que firmados os provisórios ou 
provisionais em procedimento da Lei n. 11.340/2007. 
 
 
Ressalte-se, ademais, que das ações sob enfoque, os alimentos provisórios e 
os provisionais são os únicos que poderão ser requeridos ao juízo especial da vara de defesa 
da mulher, correndo as demais nas dependências da vara de família, como dito alhures. 
 
d) execução de alimentos 
A regra traduz que o título executivo judicial será cumprido perante o juízo 
prolator. Assim, sendo a questão de alimentos provisionais ou provisórios decididos como 
medida que obriga o agressor, correrá sua execução perante o juízo especial de defesa da 
mulher. Noutros casos, se procederá à execução em uma das varas de família do foro, 
segundo as leis de organização judiciária do Estado. 
 
e) revisional e exoneratória de alimentos 
Tratando-se de ação de conhecimento, terá início perante o juízo natural da 
causa, descabendo tratar da matéria perante os juizado especial de defesa da mulher. 
 
f) separação de corpos, separação judicial e divórcio direto contencioso 
O art. 22, inc. II, da Lei n. 11.340/2007 também prevê o afastamento do lar, 
domicílio ou local de convivência do agressor com a ofendida, podendo tal separação ser 
estendida aos familiares, testemunha e mesmo a determinados lugares que causem embaraço 
ou ameça, ainda que psicológica, à vítima (inc.III). 
Não se confunde o instituto protetivo acima disposto com o processo 
cautelar previsto no art. 888 do CPC, que trata do afastamento temporário de um dos cônjuges 
da morada do casal. Neste, o procedimento é cautelar, preparatório ou incidental, para as 
ações de nulidade ou anulação do casamento, de separação judicial, de divórcio direto ou de 
dissolução de união estável, correndo, portanto, em juízo de família. Naquele, a obrigação 
criada ao agressor visa a incolumidade da vítima de violência doméstica, protegendo-a de 
novas investidas do agressor, sendo competente o juízo especial de defesa da mulher. 
As dissoluções do vínculo civil entre agressor e vítima não podem ser 
decididas no juízo especial de defesa da mulher, sendo competente a vara de família do foro 
da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a conversão desta em 
divórcio, e para a anulação de casamento (CPC, art. 100, I). 
 
 
 
5. CONCLUSÃO 
As modificações trazidas pela Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2007)
ainda encontram resistência no seio jurídico, tendo várias de suas disposições atacadas como 
inconstitucionais por criar diferenças entre os sexos, medidas imediatas sem contraditório e 
outros argumentos de índole principiológica. 
Sua aplicação, dada sua concepção para a criação de mecanismos de 
proteção e defesa da mulher vítima de violência doméstica, encontra-se focada 
primordialmente na seara penal e assistencial, com dispositivos mais enérgicos para o 
combate de agressões e a penalização dos agressores, bem como em instrumentos de 
tratamento e recolocação social das vítimas. 
No campo do direito de família, nos trouxe a positivação sobre o instituto 
mor da sociedade, embora conflitue, ainda, com outros dispositivos legais em vigor, como 
visto nos tópicos iniciais. 
Os processos civis, sobre as relações de família, pouco mudaram ou foram 
atingidos pela nova regra legal, devendo somente ser adaptados em seus princípios reflexos 
sobre a causa de pedir que versem sobre a unidade familiar. 
A evolução inexorável da sociedade, com o surgimento de novas formas de 
convívio e convivência, foi acompanhada por este marco legal, podendo se dizer que a 
segurança social se encontra mais albergada e protegida com o novo instituto, que deu ao 
julgador de ações cujo teor lhe seja afeto, a possibilidade de reconhecer a família não só como 
a tradicionalmente desenhada nas páginas amarelas da história, do pai com uma pasta, a mãe 
com um avental e os filhos crianças. 
Hoje podemos conceber uma família em dois irmãos, em um tio e seus 
sobrinhos, em um avô e seus netos, ultrapassando a fronteira limitada da visão para 
contemplar o sentimento que os une. 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
i Curso de Direito Civil Brasileiro - Direito de Família, 15.ed. São Paulo: Saraiva, 2000, 5º v. 
ii Manual da Execução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 681. 
DIREITO DA MULHER/O Voto de Saias.pdf
O VOTO DE SAIAS: A CONSTITUINTE DE 1934 E A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA POLÍTICA
ESTUDOS AVANÇADOS 17 (49), 2003 133
M 26 JANEIRO de 1933, o Diario de Pernambuco iniciou a publicação de
uma enquete, realizada junto a “ilustres senhoras e senhorinhas da socie-
dade pernambucana”1 . Dezenove mulheres colaboraram com o jornal, res-
pondendo à indagação “A quem deverá caber a representação da mulher pernam-
bucana na futura constituinte?”, sendo o resultado da última consulta publicado
em 4 de abril daquele mesmo ano. A pesquisa, inicialmente pensada para restrin-
gir-se às pernambucanas, acabou alcançando os Estados vizinhos da Paraíba e de
Alagoas. Foram incorporadas à amostra duas associações de mulheres: a Federa-
ção Pernambucana para o Progresso Feminino e a Liga Eleitoral Católica, que
funcionavam no Recife, perfazendo o total de vinte e duas matérias jornalísticas
dedicadas ao assunto.
A idéia de realizar a pesquisa ouvindo exclusivamente mulheres, bem como
sua temática, execução e publicação eram, em si mesmas, uma inovação – e não
apenas no âmbito da imprensa jornalística. Ela era expressão, ao mesmo tempo
que concretude, de algo mais convulsivo e de maior alcance econômico, social,
cultural e político, que transcorria no seio da sociedade brasileira de então. Fato,
aliás, que não passou desapercebido de ao menos uma das inquiridas, a doutora
Albertina Correia de Lima, advogada, formada na Faculdade de Direito do Reci-
fe e residente na capital paraibana. O Diario apresentou-a como “figura de mar-
cado relevo nos círculos intelectuais da Paraíba” e “descendente de uma família
de homens ilustres”, a exemplo do irmão João da Mota, também advogado e
líder popular. Partidária da emancipação política das mulheres, cujas conquistas
dizia acompanhar com vivo interesse, nutria igual simpatia pela enquete realiza-
da pelo Diario, sinalizando perceber a iniciativa como mais uma manifestação da
luta das mulheres pela ampliação de seus direitos civis e políticos e pela conquista
de novos espaços na sociedade.
O presente artigo, que podemos situar no campo da chamada microhistória,
pretende analisar os dados da referida enquete, publicados no Diario de Pernam-
buco, os quais permaneceram desconhecidos para as gerações que se seguiram
àquela e inexplorados como objeto de estudos até o presente. Tratando-se de
uma reflexão inicial sobre o tema da mulher e das mudanças em torno do lugar
que ocupava ou deveria ocupar na sociedade brasileira, nos anos de 1930, a aná-
lise busca identificar social e culturalmente o perfil das entrevistadas, bem como
O voto de saias:
a Constituinte de 1934
e a participação das mulheres na política
RITA DE CÁSSIA BARBOSA DE ARAÚJO
E
R I TA D E CÁ S S I A BA R B O S A D E AR A Ú J O
ESTUDOS AVANÇADOS 17 (49), 2003134
pontuar os interesses e o universo de valores por onde gravitavam as idéias dessas
mulheres, suas percepções em relação à situação da mulher na sociedade e aos
movimentos feministas, no país e no mundo, assim como suas expectativas quan-
to ao futuro próximo da nação.
Conforme expunha claramente o jornal, a consulta dirigia-se a “senhoras e
senhorinhas ilustres da sociedade”, àquelas de “mais relevo no seio de nossa
sociedade”, às “figuras de mais realce em nossos círculos sociais”. Tais predicados
não deixavam dúvidas quanto ao alcance social da pesquisa: foram ouvidas ape-
nas mulheres da elite social urbana do Recife, de João Pessoa e uma única senho-
ra de Maceió. Ainda que se restringisse ao espaço urbano, onde o questionamento
sobre a “moderna função da mulher” na sociedade realmente ganhava corpo e
sentido, ficavam excluídas as mulheres das camadas sociais urbanas economica-
mente desfavorecidas, como as operárias das fábricas, as empregadas no comér-
cio, as funcionárias públicas dos escalões inferiores, as donas de casa pobres, as
integrantes dos movimentos sindicais e as dos partidos operários.
Mas, além deste primeiro e significativo recorte, que tomava por base a classe
social a que pertenciam as entrevistadas, a enquete particularizava ainda mais a
amostra, levando em conta a formação escolar da inquirida, sua vida sociopro-
fissional e penetração no mundo social e nos círculos femininos. Os depoimentos
registravam, assim, o pensamento de pintoras, pianistas, escritoras, poetisas, pro-
fessoras, principalmente das Escolas Normais, formadoras de opinião que costu-
mavam publicar artigos em jornais locais, médicas, acadêmicas, bacharéis em
Direito, advogadas algumas delas, funcionárias públicas, integrantes de associa-
ções civis e católicas que lutavam pelos interesses da mulher. Opiniões, enfim, de
mulheres escolarizadas, letradas e cultas, que possuíam uma vida social ativa,
atuando na esfera pública, muitas das quais inseridas no mercado de trabalho
formal, desenvolvendo atividades remuneradas fora da esfera doméstica. Agiam
deste modo não por necessidade econômica, de garantir a sua sobrevivência e a
dos seus; mas por razões de outra ordem, que poderíamos situar como social,
cultural, política, estética, psíquica, comportamental e até mesmo por modismo.
Recorrendo aos escritos de Edwiges de Sá Pereira, líder do movimento
feminista em Pernambuco, segundo seu estudo Pela mulher, para a mulher, de
1931, as informantes do Diario enquadravam-se na primeira, dentre as três cate-
gorias de mulher identificadas no Brasil de então2. Mulheres brancas, oriundas
das antigas classes senhorais, que viveram o ócio proporcionado pela sociedade
escravocrata; hierarquicamente superiores às demais, haja vista o critério de ren-
da e riqueza em que se baseavam os valores norteadores da pirâmide social.
Mulheres que foram tocadas, entretanto, pelo afã da campanha abolicionista,
que as despertou de sua indolência e passividade, impelindo-as para novas lutas e
conquistas, lançando-as para além do limitado
espaço doméstico e familiar a que
praticamente limitavam suas existências. Integradas à esfera da vida pública,
partícipes das lutas políticas mais gerais de seu tempo, desenvolveram maior espí-
O VOTO DE SAIAS: A CONSTITUINTE DE 1934 E A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA POLÍTICA
ESTUDOS AVANÇADOS 17 (49), 2003 135
rito de sociabilidade e sentiram necessidade de ampliar seus conhecimentos e
cultura3 .
Poderíamos especular sobre o porquê de o jornal assim proceder: seria por
julgá-las as únicas capazes de emitir parecer abalizado sobre o problema? Ou
queria o Diario reforçar o componente de classe social que a questão encerrava,
divulgando valores e ideologias ligados aos movimentos femininos e feministas,
presentes no seio das camadas sociais urbanas mais elevadas, cultas e letradas?
Fosse ou não esta última intenção consciente, o fato é que, ao difundi-los, os
editores do jornal reforçavam o ponto de vista e os interesses dessas camadas,
concorrendo para delimitar o alcance cultural e político da questão e para definir
os sujeitos sociais a quem, legitimamente, segundo pensavam, cabia discutir so-
bre assunto tão palpitante, atuar na sociedade em defesa dos interesses da mulher
e contribuir para a redefinição do Estado nacional.
A enquete fora desenvolvida nos meses que antecederam imediatamente as
eleições de 3 de maio de 1933, em que deveriam ser escolhidos os representantes
dos vários segmentos da sociedade para compor a Assembléia Nacional Consti-
tuinte de 1934. Originária da Revolução de outubro de 1930, embora não se
tenha realizado como uma sua conseqüência imediata, a Constituinte de 1934
trazia como traço singular o fato de ser fruto de pressões de setores que, mesmo
havendo participado do movimento revolucionário, encontravam-se à margem do
aparelho de Estado. Figurando como exigência da contra-revolução, em um pri-
meiro momento, a proposta de convocar uma assembléia constituinte foi encam-
pada pelo Governo Provisório, que tinha por chefe Getúlio Vargas, que lhe atri-
buiu novo significado, apresentando-a como intenção legítima de toda a nação4 .
O Governo Provisório autodefinia-se como um poder passageiro na vida
política do país, havendo de ser substituído pelos legítimos representantes da
nação – segundo determinasse a Assembléia Nacional Constituinte. A revisão da
legislação eleitoral e a elaboração de um novo código eleitoral, compromisso
assumido por Getúlio Vargas, constituíram um dos atos políticos mais importan-
tes do Governo Provisório. O Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932,
regulamentava o alistamento e o processo eleitoral no país, nos âmbitos federal,
estadual e municipal, trazendo uma série de inovações, dentre as quais se desta-
cava o estabelecimento do sufrágio universal e secreto. Mais ainda, o novo códi-
go ampliava o corpo político da nação, concedendo o direito de voto a todos os
brasileiros maiores de vinte e um anos, alfabetizados e sem distinção de sexo. As
mulheres brasileiras adquiriam assim, pela primeira vez e após árdua luta, cidada-
nia política, contribuindo para o aumento significativo do número de votantes
no país5 .
Eis porque o Diario de Pernambuco concedia-lhes espaço para manifesta-
rem suas opiniões a respeito da vida política do país, estimuladas pela pergunta
de a quem deveria caber a representação da mulher pernambucana, da paraibana
e da alagoana, na futura Constituinte. A maioria das respostas, porém, ia muito
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ESTUDOS AVANÇADOS 17 (49), 2003136
além do que estava sendo efetivamente inquirido; expressão, talvez, de uma ânsia
em expor sentimentos e reflexões há muito abafados e pouco prestigiados em
uma sociedade até então dominada pelo elemento masculino6. A pretexto de
divulgar o nome das candidatas de suas preferências ou de expor os atributos que
consideravam fundamentais em uma representante mulher na Constituinte, as
senhoras e senhorinhas dissertavam sobre assuntos vários, ampliando o campo
do debate público sobre a mulher, correlacionando o tema a questões econômicas,
sociais, culturais, direitos civis e políticos, dentre outras.
Algumas demonstravam clareza na percepção do momento político vivido
pela sociedade brasileira pós-revolucionária. A senhorinha Nair de Andrade, a
quem o jornal distinguia pelo pertencimento à família ilustre, pela aprimorada
educação, pela fina sensibilidade de mulher aliada a uma rara distinção intelectual
e vivacidade de espírito, dizia sobre o Brasil:
O Brasil ainda convulsionado, por um longo período revolucionário, volta uma
folha, oferecendo página em branco para um novo capítulo de sua história polí-
tico-social.
Os responsáveis pela Ditadura acenam de longe [...] prometendo [...] garantin-
do [...] próxima constituinte.
E os partidos se movimentam, arregimentam forças, numa precipitação, e numa
tal dispersão de ordem, que não deixam ver claro, as bases, os princípios talvez
ainda [...] inexistentes.
Confundem-se quase... velhas e novas correntes tal a pressa com que pretendem
alcançar o mesmo ponto... um labirinto verdadeiro7.
O momento político era de indefinições. Getúlio Vargas buscava manter o
controle sobre o processo de constitucionalização em curso no país. Segmentos
e grupos sociais mobilizavam-se, procuravam organizar-se política e partidaria-
mente, em função de interesses mais gerais ou específicos de classes, frações de
classes, grupos ou categorias. Discutia-se o destino do país, projeção que, inevi-
tavelmente, assentava-se sobre uma revisão crítica do passado, representado pela
República Velha. Dos debates políticos públicos, participava agora, e por direito,
a mulher. Porém, ainda que reconhecido o direito de a mulher ingressar na vida
política do país, através do livre exercício do voto ou como candidata às eleições,
sua participação ensejava inúmeras reações negativas, que iam da pura e simples
contestação ao questionamento sobre sua capacidade intelectual para bem cum-
prir tal desiderato.
As ações das feministas, voltadas para conquistas de direitos políticos para a
mulher, intensificaram-se em torno de 1918, quando Berta Lutz e um grupo de
colaboradoras criaram, no Rio de Janeiro, uma organização chamada Liga para
Emancipação Intelectual da Mulher, que, posteriormente, passou a denominar-se
Liga pelo Progresso Feminino. Em 1919, o senador Justo Chermont apresentou
projeto de lei estendendo o direito de voto às mulheres, não conseguindo, po-
rém, sua aprovação. Em 1922, devido a novas estratégias de luta, a Federação das
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ESTUDOS AVANÇADOS 17 (49), 2003 137
Ligas pelo Progresso Feminino converteu-se na Federação Brasileira para o Pro-
gresso Feminino, que, neste mesmo ano, organizou o I Congresso Internacional
Feminista, no Rio de Janeiro. Coube às mulheres do Rio Grande do Norte, o
pioneirismo na conquista do direito de voto, ainda em 1927, havendo, porém,
um retrocesso nas conquistas eleitorais femininas no ano seguinte. Apenas em
1932, com o Decreto nº 21.076, as mulheres tornaram-se eleitoras efetivas no
Brasil8. Conquista que, para Lili Lages, médica alagoana, representava um des-
dobramento mais que justo e coerente com os ideários da Revolução de 1930:
De que serviriam as revoluções, promessas de Brasil, anseios de liberdade, se a
metade da população permanecesse soterrada em incongruentes preconceitos e
inexplicáveis injustiças, que lhes fazem perder a noção de personalidade própria,
o direito de viver como parte ativa do complexo organismo social?9
Conquanto se verificasse o crescimento do movimento feminista em todo
mundo civilizado ocidental, como também no Brasil, onde as associações para o
progresso feminino multiplicavam-se a cada dia10, a senhorinha Ana Campos,
catedrática da Escola Normal, via-se compelida a perguntar:
“Reconhecida a igual-
dade de direitos do homem e da mulher, por que traçar-lhes diferenças, por que
negar à mulher o direito do voto, o direito de legislar?” Indagação a que ela
própria respondia: “A cooperação da mulher na concepção das leis, é uma neces-
sidade que se impõe para defesa de seus direitos e participação nas questões de
interesse gerais”11.
O depoimento da senhora Edna Leite Gueiros, esposa de “ilustre” advoga-
do pernambucano e colaborada de importante jornal local, trazia elementos que
ajudam a compor o quadro de referências e valores culturais em que se pautavam
as discussões sobre as novas conquistas femininas. A situação da mulher na paisa-
gem social brasileira era fruto de preconceitos ainda predominantes no meio
sociocultural, em que lhe era negado “o direito de contribuir de qualquer modo
para o bem da pátria comum”. Cabia à mulher “provar ao Brasil e como aos seus
filhos ranzinzas que a mulher não trouxe consigo apenas, ao aparecer no mundo,
a função de procriar. Que ela trouxe um cérebro pensador e um espírito que
vibra, eis a verdade”12.
A procriação, função biológica da mulher, colocava-a em posição de inferio-
ridade em relação ao homem. O útero, órgão da histeria e da gravidez, seria res-
ponsável por esta condição, condenando-a aos ciclos menstruais, ao parto e à
menopausa. Cabia aos defensores da igualdade de direitos entre os sexos e favo-
ráveis ao despertar de uma nova mulher, formular argumentos que rebatessem
pontos de vistas que tinham por intento o contrário: provar e manter as desigual-
dades entre homens e mulheres. Argumentos produzidos nos círculos científicos
ou não, que incorporavam outros saberes e repercutiam nas demais esferas da
vida sociocultural, alcançando as integrantes dos movimentos femininos e os que
simpatizam com a causa das mulheres. Assim procedia, por exemplo, a paraibana
e educadora Alice Alfredo Monteiro:
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DECRETO Nº 21.076 – DE 24 DE FEVEREIRO DE 1932
O Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos
do Brasil
Decreta o seguinte:
CÓDIGO ELEITORAL
PARTE PRIMEIRA
Introdução
Art. 1º Este Código regula em todo o país o alistamento eleitoral e as
eleições federais, estaduais e municipais.
Art. 2º É eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo,
alistado na forma deste Código.
Art. 3º As condições de cidadania e os casos em que se suspendem ou
perdem os direitos de cidadão, regulam-se pelas leis atualmente em
vigor, nos termos do decreto nº 19.398, de 11 de novembro de 1930,
art. 4º, entendendo-se, porem, que:
a) o preceito firmado no art. 69, nº 5, da Constituição de 1891, rege
igualmente a nacionalidade da mulher estrangeira casada com brasileiro;
b) a mulher brasileira não perde sua cidadania pelo casamento com
estrangeiro;
c) o motivo de convicção filosófica ou política é equiparado ao de crença
religiosa, para os efeitos do art. 72, § 29, da mencionada Constituição;
d) a parte final do art. 72, § 29, desta, somente abrange condecorações
ou títulos que envolvam foros de nobreza, privilégios ou obrigações
incompativeis com o serviço da República.
– A mulher adquiriu com o correr dos tempos a cultura, que antes era proprie-
dade exclusiva do homem.
Desde que à mulher é permitido fazer os mesmos cursos, estudando nas mesmas
escolas que o homem, não se poderia admitir que lhe fosse eternamente vedado
exercer os direitos correspondentes à cultura conquistada13.
Para muitas das que responderam à enquete, as mudanças acerca do lugar
e da função da mulher na sociedade brasileira, em fase de crescente urbanização
e industrialização, especialmente da mulher da elite social, bem como no seu pa-
drão de comportamento, eram explicadas, sobretudo, como uma questão de
aquisição de cultura, entendida como saber, ilustração, um corpo de conhecimen-
to formal:
O VOTO DE SAIAS: A CONSTITUINTE DE 1934 E A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA POLÍTICA
ESTUDOS AVANÇADOS 17 (49), 2003 139
A mulher brasileira deve votar porque deixou de ser a mulher da época da colônia,
da qual apenas se exigia graça e beleza. A mulher brasileira de hoje, pensa, estu-
da. Mulher de espírito forte conservando [...] os sentimentos da honra e do
dever14.
A insistência dada ao aspecto cultural da questão encontrava sua razão de
ser em um viés do pensamento dominante da época, por muito tempo corrobo-
rado pelos cânones científicos, segundo o qual o cérebro da mulher seria inferior
ao do homem. O psiquiatra Miguel Bombarda foi um dos que teorizou sobre o
assunto, afirmando a inferioridade da mulher com base nas teorias evolucionistas.
Dizia ser o cérebro feminino mais leve e com menos circunvoluções, o que gera-
va a suposta fragilidade feminina, tese cientificamente contestada, porém, pela
anarquista mineira Maria Lacerda de Moura e pela médica Alzira Reis15.
Tal como acontecia em relação a outros fenômenos sociais, também conver-
tidos em objetos de investigação científica da etnologia e da sociologia, como a ques-
tão racial, por exemplo, as desigualdades e diferenças percebidas no modo de pen-
sar entre homens e mulheres passavam a ser vistas fundamentalmente como um proble-
ma de herança cultural e modo de vida, e não como um determinismo biológico16.
Mesmo havendo sido provada cientificamente a capacidade intelectual da
mulher, como o demonstrava, por exemplo, Tito Lívio de Castro, no livro A
mulher e a sociogenia, citado em entrevista pela senhora Isabel Orlando Andrade
Bezerra, ainda assim, por que havia os que não acreditavam na capacidade inte-
lectual da mulher? A história do mundo ocidental estava repleta de casos de
mulheres bem sucedidas nas diversas áreas das artes, da cultura e do conhecimen-
to científico; mulheres que sobreviveram do fruto de seu trabalho e com o con-
curso de suas inteligências17. A doutora Albertina Correia Lima expunha seu
pensamento sobre a questão, com muita clareza e objetividade: “A mulher brasi-
leira deve ali representar-se não só para defender seus direitos, tanto tempo es-
quecidos, como para afirmar mais vitoriosamente sua capacidade mental”18. Para
Lili Lages, a sólida educação e uma conveniente ilustração eram consideradas
condição sine qua non para a mulher alcançar a independência econômica, esta
sim, “base imprescindível a todas as outras vitórias”19.
Procriar, educar os filhos para bem servir à pátria e encarregar-se da admi-
nistração e economia domésticas, eis as atividades que a sociedade e os valores
tradicionais haviam reservados às mulheres, confinando-as ao espaço da casa e da
vida privada20. Se tal situação apresentava sinais de mudanças, visíveis nas grandes
capitais brasileiras, especialmente nas da atual região Sudeste, o mesmo não acon-
tecia nas cidades de menor porte e menos urbanizadas do país. Mesmo no Reci-
fe, a terceira cidade do Brasil em termos de população e de economia, as mulhe-
res diziam encontrar resistência para se impor profissionalmente, em ambientes
para além do recôndito do lar. Ida Marinho Rego, diretora da Escola Técnico
Profissional Masculina, posto “para que um homem deveria parecer mais bem
indicado”, segundo comentário do Diario de Pernambuco, mas no desempenho
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ESTUDOS AVANÇADOS 17 (49), 2003140
do qual vinha demonstrando “apurado senso administrativo, um dinamismo de
ação eficiente e produtivo”, além de uma inteligência esclarecida, esta senhora
denunciava:
No Brasil, principalmente nas capitais do norte, devemos todas ser domésticas.
Domésticas têm aqui um duplo sentido. Quer dizer ao mesmo tempo do lar, da fa-
mília – mulher quituteira, que não lê, não escreve e, sobretudo, não pensa. O outro
sentido ainda é mais interessante, porque nos equipara a quase generalidade dos
animais inferiores. Domésticas quer
então dizer autômatas, submissas, escravas21.
Eram tempos de mudanças, de luta pela conquista da liberdade feminina,
no dizer de algumas entrevistadas, em que o novo não se havia ainda definido e
consolidado. As transformações relativas ao papel social da mulher, incluindo sua
atuação na vida política, eram percebidas e explicadas em termos do fluir históri-
co, discurso a que tivemos acesso através da fala de Edwiges de Sá Pereira, quan-
do discorria sobre a primeira categoria de mulher brasileira: a que não precisava
trabalhar para sobreviver. Entusiasmada pela campanha abolicionista – marco
inaugural do movimento feminista no país, segundo se depreende dos seus estu-
dos –, a mulher emancipada se foi desvencilhando gradativamente os afazeres
domésticos, que a absorvia quase por completo, sendo atraída e seduzida por
atividades situadas na esfera da vida coletiva pública. A passagem da vida domés-
tica, privada e familiar, para a coletiva, pública e social, processara-se mediante o
ingresso nas associações religiosas, a princípio, e nas de caridades, em seguida:
E esta personalidade, solicitada pelos reclamos da vida prática e útil, que entrou
a conhecer de perto e com a qual se identificou, foi a pouco e pouco se desdo-
brando, a pouco e pouco ingressando nas atividades fora do lar. As associações
religiosas a princípio, depois a caridade associada: os orfanatos, os asilos, a cre-
che, as escolas, os comites patrióticos, por fim bastaram-lhe até certo tempo.
Hoje, mais não. Hoje a mulher que pode não limita sua ação: ela projeta para um
destino de maior expansão as iniciativas de que se sente capaz22.
As mudanças nas áreas de atuação da mulher e nos padrões de comporta-
mento feminino eram correlacionadas às conquistas tecnológicas mundiais – à
eletricidade, à aviação, aos avanços na indústria de eletrodoméstico, que, ao tor-
nar mais ágil o serviço no interior do lar, permitiu à mulher urbana das camadas
médias dispor de mais tempo livre para si. Associadas, também, a maior facilidade
nas comunicações, quando se assistiu a uma multiplicação de novos títulos na
imprensa de periódicos, ao surgimento do rádio e à consagração do cinema como
veículo de mais viva penetração entre os vários segmentos e categorias da socie-
dade. Modificações que vinculavam a uma memória da vida em sociedade de
mais curto alcance, como lembrava a senhora Andrade Bezerra:
[...] mas, veio a terrível guerra de 1914 e, enquanto lá nas trincheiras, os homens
se batiam, ela, num esforço sublime, rebentava os elos das cadeias e heroicamente
ocupava os lugares vazios dos companheiros, no comércio, na agricultura, nas in-
dústrias, fazendo surgir, desassombrada e majestosa, a personalidade feminina23.
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ESTUDOS AVANÇADOS 17 (49), 2003 141
Para muitos, inclusive mulheres, as recentes conquistas femininas na políti-
ca, no direito, no trabalho, representavam uma ameaça. Mais que uma possível e
indesejada concorrência com o elemento masculino nos domínios agora com-
partilhados, temiam que as novas ocupações as fizessem desinteressar-se pelos
assuntos domésticos. Temiam a desestruturação da família, célula mater da soci-
edade, a desintegração do lar, a desmoralização dos costumes, o abandono dos
princípios éticos e religiosos católicos. As próprias mulheres, porém, ao menos
aquelas que participaram da enquete de 1933, as mais e as menos empolgadas
com a luta e as conquistas da mulher, com o seu direito ao voto e participação na
política, afirmavam que as mudanças não significavam uma ruptura brusca e com-
pleta com o passado, com a forma de organização da vida social e com os valores
tradicionais que nortearam suas existências até então. Não viam incompatibilida-
de entre ter uma casa, marido e filhos e exercer a cidadania política, materializada
pelo exercício do voto livre, ou atuar profissionalmente fora do lar24 . Contesta-
vam o modo de pensar dos que se assustavam com as perspectivas de mudanças:
“Quando o homem afirma que a vida de sua companheira só pode ser exclusiva-
mente dedicada ao lar, à educação dos filhos [...], falha na compreensão.” E
mais: “A brasileira não idealiza, não deseja um feminismo individualista, egoístico,
como o soviético, passando ao Estado suas obrigações”25.
Embora tecesse considerações de várias ordens – não acreditasse que a
mulher brasileira ingressasse na política com forte entusiasmo, haja vista a forma
como ela, a política, se organizava no Brasil, voltada para a defesa de interesses
mediatos e particulares e para as competições locais, muito longe de aqui se
praticar uma verdadeira “ciência política”; e dada a exigüidade do meio intelec-
tual feminino –, ainda assim, Nair de Andrade defendia o voto da mulher. Mas,
sublinhava: “Há ainda a observar – ponto mais importante – que a mulher abra-
çando deveres de ordem coletiva, não poderá negligenciar os deveres da ordem
individual o que seria falsear sua finalidade verdadeira no lar, na família”26.
A mulher brasileira, portanto, pertencente às camadas sociais mais favo-
recidas, deveria atuar no mundo moderno capitalista acumulando uma dupla
função: a de dona de casa e educadora dos filhos e a de cidadã consciente de seus
deveres e responsável pelo destino da pátria. Conciliar razão e sentimento, colo-
car à disposição da coletividade a intuição, dom natural atribuído ao sexo e do
qual as mulheres não davam mostras de quererem desvencilhar-se. “O sufrágio
feminino escreverá decerto na história brasileira a página do coração”, sentenci-
ava a mesma Nair de Andrade27.
Esta mulher, entretanto, para ser merecedora do voto e bem representar a
categoria na vida pública, deveria preencher certos requisitos morais, intelectuais
e profissionais, dos quais passaremos a falar, sempre referenciados pela enquete
do Diario de Pernambuco.
Considerando o lugar de classe social de onde falavam e os valores morais
e culturais das entrevistadas, a representante da mulher na futura Constituinte
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ESTUDOS AVANÇADOS 17 (49), 2003142
teria, necessariamente, que ser inteligente, culta, possuir idoneidade moral e re-
conhecida competência no ramo da atuação profissional que abraçara ou influên-
cia no meio social por onde circulava28. Bastante representativa do modo de
pensar dessas mulheres, era a declaração coletiva dada ao jornal pela Federação
Pernambucana para o Progresso Feminino, que reuniu mais de duzentas e vinte
e oito assinaturas: “A uma forte inteligência deve aliar-se sólida cultura, aprimo-
radas ambas por uma perfeita educação religiosa, cívica, e comprovado senso de
equilíbrio”29.
A particularidade do momento político que o país experimentava, há pou-
co sacudido por uma revolução, vivendo em pleno processo de reconstitucio-
nalização, de redefinição do Estado nacional e de reorganização da vida política,
mostrava-se mais que propícia à participação feminina. Nessa conjuntura, a mu-
lher, desde que regida pelos princípios religiosos e morais católicos, teria uma
contribuição única e original a dar. E mais, atuaria quase que como uma salvadora
da pátria, segundo se depreende da fala da senhora Agnaldo Lins:
Em tese: à mulher, que já tem sobre seus ombros a grande responsabilidade da
construção da família nos sãos princípios da moral cristã, não devia caber tam-
bém a função de cuidar das coisas públicas. No entanto acho que a mulher não
deve negar sua colaboração sempre que for julgada necessária.”
Quem sabe se a colaboração feminina neste momento de instabilidade do país,
não será o raio de luz que com o seu proverbial otimismo desvaneça todas as
preocupações, resolva todos os problemas, abra enfim todos os caminhos. Ad-
mitamos o voto feminino como medida de emergência. Nesta época, que pode-
mos considerar como a mais triste do mundo,
em que se produz tão des-
concertante conflagração de idéias, de sentimentos, de antíteses morais, a con-
tribuição de todas se faz necessária, num arranco supremo de levantamento dos
sãos princípios, reunindo sob a mesma bandeira todas as criaturas sem exceção
de nascimento, cor, herança, sexo30.
Esta mulher, de classe média ou de elite, escolarizada, inteligente, exercen-
do profissão fora do lar, geralmente integrada a alguma associação feminina de
fundo católico, parecia como que predestinada a elaborar uma dupla missão:
mostrar serem compatíveis as atividades do mundo privado com as do público; e
reconciliar a política com a religião católica, reconduzindo esta última para o
interior do Estado nacional, de onde havia sido banida desde 1891. A tônica
dada aos princípios católicos constituiu um diferencial do movimento feminista
em Pernambuco, distinguindo-se, neste ponto, da posição adotada pela direção
nacional da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino; fato que está por
merecer análise mais aprofundada31 .
A Constituição de 1891, a primeira da República brasileira, de inspiração
jacobina, possuía caráter inteiramente laico. Em seu preâmbulo, diferentemente
das que a antecederam e mesmo das que viriam a sucedê-las nas décadas seguin-
tes, não há referência a Deus. Nas Declarações de Direito, no § 3º, estabelecia
que “Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer pública e livre-
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mente o seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens, observadas as
disposições dos direitos comuns.” Com relação ao casamento, a lei era clara: “A
República só reconhece o casamento civil, cuja celebração será gratuita.” Sobre
os cemitérios, dizia, “terão caráter secular e serão administrados pela autoridade
municipal”, ficando livre todo os cultos religiosos, desde que não ofendessem a
moral pública e as leis. O § 6º dizia: “Será leigo o ensino ministrado nos estabe-
lecimentos públicos”, e o seguinte legislava que “Nenhum culto ou igreja gozará
de subvenção oficial, nem terá relação de dependência ou aliança com o governo
da união, ou dos Estados”32 .
Para alguns segmentos da sociedade, a Revolução de 1930 acenara com a
possibilidade de a Igreja Católica vir a recuperar espaços e poder, sobre a vida
política e sociedade civil, perdidos desde que República liberal se instalara. Neste
sentido, ela apresentava um viés mais que conservador, reacionário. O mundo
católico reagia, mobilizava esforços, arrebanhava suas ovelhas e conclamava-as à
luta. Organizava ou estimulava o surgimento de associações femininas, a exem-
plo da Federação Pernambucana para o Progresso Feminino, da Liga Eleitoral
Católica e da Cruzada de Educadoras Católicas.
O Diario, ampliando a cobertura dada ao tema da mulher e a política,
acompanhou o trabalho de propaganda e alistamento eleitoral posto a cabo pela
Liga Eleitoral Católica, na paróquia das Graças. Atividade que ficou registrada,
em fotografia, flagrando três moças em plena campanha pelas ruas do bairro
homônimo. O trabalho das propagandistas constituía em realizar palestras nos
centros sociais e em visitar as famílias, de casa em casa, indagando se os adultos já
se haviam alistados. Caso não, iniciavam um jogo de sedução e convencimento
dos potenciais eleitores, visando a quebrar a indiferença pelo exercício do voto
livre, verificada entre homens e mulheres, e a induzi-los a votar nos candidatos
indicados pela Liga, todos católicos, evidentemente33 .
O voto feminino e a Constituinte próxima vinham reforçar a luta da Igreja
em sua busca por reaver espaços perdidos. As palavras de Celina Didier, professo-
ra de ensino religioso em escola particular do Recife e membro da Cruzada de
Educadoras Católicas, traduziam bem o jogo de interesses políticos nutrido pela
Igreja em relação ao voto feminino, e as expectativas das mulheres, de que vimos
nos ocupando, de ver restabelecidos os costumes sociais baseados nos princípios
morais e éticos do catolicismo:
E com tal programa, a mulher irá lembrar que, se na Velha República por cir-
cunstâncias diversas, não reagiu contra a organização laica da Constituição, hoje,
vem reclamar para a Constituinte em projeto, bases seguras de justa equidade,
cuja ausência acarretou conseqüências nefastas34.
O “mundo católico feminino”, dizia nossa conhecida informante Nair de
Andrade, “tem no momento deveres imperiosos para chegar às urnas”. Morali-
zar a sociedade brasileira, fragilizada em seu organismo social, resultado de déca-
das vivendo sob domínio de uma ordem social e política laica, eis o dever das
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mulheres católicas: “Somos católicas e não compreendemos as reivindicações
femininas fora desses princípios. Somos pela indissolubilidade do matrimônio
como condição máxima de garantia da família, da estabilidade do lar, da moral
social enfim”35 . Uma única entrevistada, a senhora Edna Leite Gueiros, ao mani-
festar sua intenção de voto, fez interessante ressalva: votaria em Edwiges de Sá
Pereira, “contanto que ela não fosse combater o divórcio ou submeter-se às exi-
gências dogmáticas da igreja [...]”36 .
As bases jurídicas em que se assentava o casamento civil, por sua vez, neces-
sitavam urgentemente ser revistas e reformadas pela nova Constituição. As mu-
lheres consultadas pelo jornal condenavam o Código Civil, em vigor desde 1916,
que retirava direitos da mulher casada, colocando-a em situação de inferioridade
e dependência em relação ao cônjuge. Esta foi, inclusive, a tônica da entrevista
dada pela advogada paraibana Lilia Guedes, ao Diario de Pernambuco: “Na fase
de reorganização social que atravessamos a maior conquista por que se deve
bater a mulher é a de manter a plenitude de sua capacidade civil no casamento.”
A mulher solteira gozava de maior extensão de direitos que suas irmãs casadas, o
que lhe parecia, além de grande injustiça, contraditório em relação à recente
conquista feminina de direito ao voto e à plena cidadania política37 .
Em convenção realizada no Rio de Janeiro, a Federação Brasileira para o
Progresso Feminino buscou traçar o seu programa para as eleições que se avizi-
nhavam. Trataria dos interesses das “mães de família, donas de casa, empregadas
públicas e comerciais, professoras, operárias, enfim todas as mulheres que traba-
lham.” A sucursal pernambucana, que se fez representar pelas senhoras Georgina
Barbosa e Laura Austragésilo, apresentou e defendeu as seguintes propostas:
“apoio radical aos princípios católicos; inclusão das obras contra as secas na Cons-
tituição como medida de interesse nacional; combate à idéia de militarização da
mulher”38. Recomendou às votantes e simpatizantes da causa, a candidatura de
Edwiges de Sá Pereira, que, filiada ao Partido Economista, não alcançou número
suficiente de votos para eleger-se deputada. Em todo o país, apenas uma mulher
conseguiu assento na Assembléia Constituinte: Carlota Pereira de Queiroz, elei-
ta por São Paulo. Berta Lutz, candidata pela legenda do Partido Autonomista do
Distrito Federal, como representante da Liga Eleitoral Independente, entidade
por ela criada também em defesa dos direitos da mulher, em 1932, obteve a pri-
meira suplência e, em 1936, ocupou uma cadeira na Câmara, em virtude da mor-
te do titular, deputado Cândido Pessoa.
A Igreja saiu vitoriosa em sua luta, recuperando poder e prestígio perdidos
desde 1891. A Carta Magna de 1934 introduzia seu texto dizendo: “Nós, os
representantes do Povo Brasileiro, pondo a nossa confiança em Deus, reunidos
em Assembléia Nacional constituinte [...]”39. O casamento continuou a ser civil,
e gratuita a sua celebração; porém, produziria os mesmos efeitos se realizado por
ministro de qualquer igreja, desde que
não contrariasse a ordem pública ou os
bons costumes. O divórcio, que tanto atemorizava as mulheres católicas, não
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fora aprovado, permanecendo indissolúvel o laço matrimonial. O ensino religio-
so passou a ser de freqüência facultativa nas escolas particulares, mas tornou-se
matéria dos horários nas escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e
normais.
As mulheres permaneceram em luta, organizadas em suas associações, bus-
cando avançar em suas conquistas por direitos civis, políticos, trabalhistas. Em
1937, porém, com o golpe de Estado que instalou a ditadura no Brasil, Getúlio
Vargas extinguiu os partidos políticos do país, incluindo, nos dispositivos legais,
as organizações civis nos termos da hipótese expressa de registro civil. Em conse-
qüência, foram dissolvidas diversas associações civis, dentre as quais a Federação
Pernambucana para o Progresso Feminino, assim permanecendo até que passas-
se a existir “sob diferente denominação, dentro da finalidade que sempre obser-
vou, puramente cultural e beneficente”40 . As mulheres da classe média e da elite
urbanas se manteriam unidas e organizadas em associações, sob inspiração da
Igreja Católica ou diretamente tuteladas por ela, lutando sobretudo pela
moralização dos costumes, pelo fortalecimento da família e pela difusão dos prin-
cípios éticos e valores católicos, a exemplo da Campanha Pró-Decência na Praia,
iniciada no Recife, em 1939.
Notas
1 O Diario de Pernambuco foi fundado em 1825. Sediado no Recife, é o jornal mais
longevo da América Latina, ainda em circulação. Sobre este órgão da imprensa, ver
obra organizada por Gilberto Freyre (1979, Edição fac-símile) para marcar o centená-
rio do jornal e Nascimento (1968).
2 A segunda categoria era a das mulheres que precisavam e sabiam trabalhar e a terceira
a das que precisavam e não sabiam trabalhar. Edwiges de Sá Pereira era escritora,
membro da Academia Pernambucana de Letras e professora da Escola Normal. Líder
do movimento feminino em Pernambuco, foi uma das fundadoras da Federação
Pernambucana para o Progresso Feminino, em 1931. Concorreu às eleições para a
Assembléia Nacional Constituinte de 1934, pelo Partido Econômico, não conseguin-
do, porém, eleger-se. Ver Pereira (1932). Dados biográficos de Edwiges de Sá Perei-
ras encontram-se em Schuma e Schumaher, 2000, p. 189.
 Todas as citações dos documentos originais, aqui citados, tiveram sua grafia atualizada.
3 Sobre a participação feminina no movimento abolicionista em Pernambuco, ver Ferreira,
2000.
4 “O significado jurídico-político maior da convocação de uma assembléia nacional cons-
tituinte é, então, a restauração da legalidade e da legitimidade do poder, fazendo-o
passar de um poder de fato, de um regime de força, a um poder de direito, a um
regime legal.” Gomes et al., 1981, cap. I.
5 Permaneciam excluídos do direito de voto os mendigos e analfabetos, os praças de pré
e os clérigos regulares. A Constituinte de 1934 não instituiu a obrigatoriedade do
alistamento e do voto. À guisa de comparação, a França estabeleceu o voto feminino
apenas em 5 de janeiro de 1944.
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6 No Manifesto regionalista de 1926, Gilberto Freyre registrou as mudanças ocorridas
nos valores, comportamentos e lugar social da mulher, entre as décadas de 1920 e
1930, não sem lamentar a perda de vitalidade de certos modos e costumes predomi-
nantes na sociedade escravista e patriarcal: “As novas gerações de moças já não sabem,
entre nós, a não ser entre a gente mais modesta, fazer um doce, um guisado tradicio-
nal e regional. Já não tem gosto nem tempo para ler os velhos livros de receitas da
família. Quando a verdade é que, depois dos livros de missas, são os livros de receita
de doces e guisados os que devem receber das mulheres leitura mais atenta. O senso
de devoção e o de obrigação devem completar-se nas mulheres do Brasil, tornando-as
boas cristãs, e, ao mesmo tempo, boas quituteiras, para assim criarem melhor os filhos
e concorrerem para a felicidade nacional. Não há povo feliz quando às suas mulheres
falta a arte culinária. É uma falta quase tão grave como a fé religiosa”. Freyre, 1996.
7 Andrade, 1933, p. 1. Doravante, quando se tratar de respostas à enquete, não mais lhe
repetiremos o título, mas apenas o nome da entrevistada, o jornal e a data da publica-
ção.
8 A primeira mulher a votar, no Brasil, foi Celina Guimarães Viana, professora do muni-
cípio de Mossoró, no Rio Grande do Norte, que conseguiu, na justiça local, o direito
de voto. Berta Maria Júlia Lutz, bióloga, nasceu em São Paulo, em 1894. Estudou na
Europa, absorvendo idéias em torno das lutas feministas e, de volta ao Brasil, em
1918, criou a Liga para a Emancipação das Mulheres, tornando-se pioneira nas lutas
feministas no país. Para maiores informações, consultar verbetes “Federação Brasileira
pelo Progresso Feminino” e “Berta Lutz”, no Dicionário das mulheres do Brasil: de
1500 até a atualidade biográfico e ilustrado..., respectivamente, pp. 217-226 e 106-
110. Ver também Oliveira, 1992, pp. 534-535.
9 Lages, 1933, p. 1. Lili Lages, primeira presidente da Federação Alagoana para o Pro-
gresso Feminino, foi eleita deputada a Assembléia Constituinte de Alagoas, em 1934,
sendo uma das nove mulheres brasileiras que alcançaram sucesso nas urnas, concor-
rendo às constituintes de seus respectivos Estados. Dicionário das mulheres do Brasil:
de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado..., pp. 333-334.
10 A sucursal pernambucana da Federação Brasileira para o Progresso Feminino foi fun-
dada em 1931, por iniciativa de um grupo de mulheres, tendo à frente Edwiges de Sá
Pereira. Ver Livro de Atas da Assembléia Geral e Sessões Extraordinárias da Federação
Pernambucana pelo Progresso Feminino. 1931-1937. Arquivo Edwiges de Sá Pereira.
Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Sobre os movimentos femininos e feministas no
mundo ocidental e no Brasil, ver Duby e Perrot (orgs.), 1991 e Priori (org.), 1997.
11 Campos, 1933, p. 1.
12 Gueiros, 1933, p. 1.
13 Monteiro, 1933, p. 1.
14 Idem.
15 Nosso Século, 1981, vol. 2. Ver especialmente o capítulo IV, “O sexo frágil e o
sportman”, pp.100-127.
16 Esta mudança ocorrida na base do pensamento sociológico brasileiro, que teve, entre
seus marcos, obras de Gilberto Freyre escritas nas décadas de 1930 e 1940, como
Casa grande & senzala e Sobrados e mucambos, pode ser percebida nesta passagem:
“[...] a verdade é que a especialização do físico e moral da mulher, em criatura franzina,
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neurótica, sensual, religiosa, romântica, ou então, gorda, prática e caseira, nas socie-
dades patriarcais e escravocráticas, resulta em grande parte, dos fatores econômicos,
ou antes, sociais e culturais, que a comprimem, amolecem, alargam-lhe as ancas,
estreitam-lhe as cinturas, acentuam-lhe o arredondado das formas, para melhor ajus-
tamento de sua figura aos interesses do sexo dominante e da sociedade organizada
sobre o domínio exclusivo de uma classe, de uma raça, de um sexo.” Freyre, 1985, t.
I, p. 96.
17 Depoimento da senhora Andrade Bezerra, 1933, p. 1.
18 Lima, 1933, p. 4.
19 Lages, 1933, p. 1.
20 Maluf e Mott, 1998, pp. 367-421.
21 Rego, 1933, p. 1.
22 Pereira, op. cit., p. 7.
23 Bezerra, 1933, p. 1.
24 Gueiros, 1933, p. 1.
25 Bezerra, 1933, p. 1. Em seu depoimento, Olga Pimentel, escriturária do Tesouro do
Estado, teceu comentários bastante originais em relação às demais. Afirmou encan-
tar-se com as mulheres que se dedicavam exclusivamente ao lar, indo de encontro à
tendência modernizante nos valores e comportamentos
femininos. Para ela, a mulher
se havia encaminhado para o mercado de trabalho não para conquistar a liberdade
sonhada, mas forçada pelas dificuldades econômicas: “Infelizmente, porém, a ques-
tão econômica tem atirado a mulher para o meio da rua, para o esforço do trabalho
em parceria com o homem, dourando-se a pílula dessa amarga realidade com o colo-
rido de que assim a mulher adquire a sua liberdade.” Certamente, referia-se a mulhe-
res de classe média ou mesmo pobres, àquelas que precisavam e sabiam trabalhar,
para voltarmos à classificação de Edwiges de Sá Pereira. Pimentel, 1933, p. 1.
26 Andrade, 1933, p. 1.
27 Dentre as vantagens que Nair de Andrade via na mulher, para atuar no universo da
política, estavam o sentimentalismo e o poder de intuição: “A mulher mais intuitiva
que o homem, possui em maior escala esse dom misterioso, sutil – o poder de seleção –
por vezes grandemente necessário nas demarches políticas.”
28 Apenas uma, dentre matérias que compunham a série, incluindo a propaganda da
Federação Pernambucana para o Progresso Feminino, publicada na seção “Solicita-
da”, observava: “Há uma grande distância entre um espírito esclarecido e uma ten-
dência especial para bem representar uma classe.” Não se referia, porém, à classe
social, e sim, ao gênero feminino. Cunha, 1933, p. 1.
29 Declaração Coletiva da Federação Pernambucana para o Progresso Feminino. Diario
de Pernambuco. Recife, 29 jan. 1933, p. 1.
30 Lins, 1933, p. 1.
31 A proposta das feministas para a redação do anteprojeto de constituição, de cuja
comissão participou Berta Lutz, incluía treze itens, nenhum dos quais fazia qualquer
alusão a aspectos religiosos: “Enfatizava as questões diretamente vinculadas ao coti-
diano das mulheres – como a maternidade e proteção à infância – e contemplava
problemas que afetavam as condições de vida da população pobre como um todo.
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Pensando de forma ampla e com ousadia para a época, as feministas condenaram as
diferenças salariais motivadas por sexo, nacionalidade ou estado civil, previram a ins-
tituição de licença maternidade remunerada, além de pleitearem o acesso irrestrito de
mulheres a cargos públicos, sem distinção de estado civil.” Dicionário das mulheres do
Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado..., p. 221.
32 Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 24 de Fevereiro de 1891.
Em Almeida, 1961, pp. 101-143. Para a Seção II, Declaração de Direitos, ver pp.
131-132. Para a reação provocada entre o episcopado católico, ver Rodrigues, 1981.
33 “O movimento católico feminino no Recife em face às próximas eleições constituinte”.
Diario de Pernambuco. Recife, 31 jan. 1933, p. 1.
34 Didier, 1933, p. 3.
35 Pereira, 1933, p. 1. Para uma análise recente da tentativa de moralização da sociedade
brasileira, com base em valores modernos e religiosos católicos, ver Novaes e Mello,
1998, pp. 559-658.
36 Gueiros, 1933, p. 1.
37 Guedes, 1933, p. 1. Código Civil, 1992, pp. 7-257. Sobre o casamento civil e os
direitos dos cônjuges, ver Maluf e Mott. op. cit., especialmente, pp. 373-384. Esta
percepção, expressa por mulheres que responderam à enquete do jornal, distinguia-
se da registrada em abaixo-assinado colhido pelas lideranças feministas da Federação
Brasileira para o Progresso Feminino, em 1927, apresentado à Comissão de Consti-
tuição e Justiça do Senado, por ocasião da votação de matéria relatada por Chermont.
Trecho do documento dizia: “O nosso Código Civil, afastando-se de outros menos
liberais, deu à mulher brasileira uma situação privilegiada, considerando a esposa como
companheira do marido e não como sua inferior, não lhe exigindo na sociedade con-
jugal obediência, mas sim colaboração. Sendo a mãe a tutora natural dos filhos, dota-
da de pátrio poder, elevou-se legalmente ao nível dos homens, cujas responsabilida-
des políticas está habilitada a compartilhar. [...]”. Dicionário das mulheres do Brasil:
de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado..., p. 220.
38 Pereira, 1933, p. 1.
39 Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 16 de Julho 1891. Em
Constituições do Brasil..., pp. 227-336.
40 Ata da sessão extraordinária da diretoria da Federação Pernambucana pelo Progresso
Feminino, realizada para tomar conhecimento da situação da mesma e deliberar a
respeito. Recife, 6 de dezembro de 1937. In Livro de Atas da Assembléia Geral e
Sessões Extraordinárias da Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino. p.
20-23. Arquivo Edwiges de Sá Pereira. Acervo Fundação Joaquim Nabuco.
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RESUMO – ESTE artigo trata da participação política da mulher, no quadro das transforma-
ções trazidas pela Revolução de 1930 e, sobretudo, pela perspectiva da eleição da Assem-
bléia Nacional Constituinte, em 1934. Situado no campo

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