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ISSN 2176-1396 POLÍTICAS E PROGRAMAS DE ERRADICAÇÃO DO ANALFABETISMO NO BRASIL NAS ÚLTIMAS QUATRO DÉCADAS Rosiani Fabricia Ribeiro Boeing 1 - UNIVALI Adeneri Nogueira de Borba 2 - UNIVALI Andressa Beatriz Götzinger 3 - UNIVALI Franciéli Arlt Lopes 4 - UNIVALI Valkíria de Novais Santiago 5 - UNIVALI Grupo de Trabalho - Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação Básica Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este estudo discuti alguns projetos e programas de políticas públicas contra o analfabetismo no Brasil, com o intuito de compreender o percurso percorrido até os dias atuais. A pesquisa tem caráter bibliográfico, de acordo com Gil (2012), com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, e tem como intenção levantar informações sobre o percurso histórico da alfabetização nacional. Este trabalho é um recorte de uma pesquisa em andamento do mestrado em Educação, com o objetivo de citarmos os programas que antecederam ao PNAIC (Plano Nacional de Alfabetização na Idade Certa), evidenciando suas características, atuações e o período que permaneceram. Pautados sob os seguintes referenciais teóricos, Ferraro (2009), Ghiraldelli Junior (2009) e Nofuentes (2008), Freire (1989) que retratam a trajetória da educação no Brasil desde a colonização. Contudo, após a revisão podemos destacar que os movimentos de erradicação ao analfabetismo iniciam em 1915 com a LBCA (Liga Brasileira contra o Analfabetismo), MEB (Movimento de educação de Base) 1960, MCP (Movimento de Cultura Popular), o A Campanha “De Pé no Chão” (1961), MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização (1967), Fundação Educar (1985- 1990), PAS Programa de Alfabetização Solidária (1997), PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) (BRASIL, 1999), PROFA - Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (2001), Programa Brasil Alfabetizado (PBA, 2003), EJA (Educação de Jovens e Adultos), 2009, Pró-Letramento (2005) e o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC- 2012). Ao todo foram nove programas em 54 anos de políticas públicas de erradicação, sendo que por muitos anos os públicos atendidos por essas políticas foram jovens e adultos, e somente nas últimas duas décadas iniciou a preocupação com a alfabetização na idade certa, após a constituição de 1988, tornar este fator obrigatório. 1 Mestranda em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí – Itajaí/SC. E-mail: rosiani_b@yahoo.com.br 2 Mestranda em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí – Itajaí/SC. E-mail: adeneri.borba@gmail.com 3 Mestranda em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí – Itajaí/SC. E-mail: andressagotzinger@hotmail.com 4Mestranda em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí – Itajaí/SC. E-mail: fr_lopes33@yahoo.com.br 5Mestranda em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí – Itajaí/SC. E-mail: kiriansantiago@yahoo.com.br 8401 Palavras-chave: Políticas públicas. Programas de alfabetização. Analfabetismo. Introdução A história da educação no Brasil de acordo com Menezes (2005) é marcada pelo distanciamento do Estado no que tange a educação pública. Iniciada pelos jesuítas, sem contar com nenhum recurso, o Brasil colônia inicia sua história numa educação religiosa e sob a responsabilidade de uma esfera particular que não garantia o acesso a todos. Após a expulsão dos jesuítas das terras brasileiras, sem muitos recursos, pois parte do imposto recolhido ia para a corte e as colônias são obrigadas a contar com o apoio de particulares para garantir a instrução dos poucos que a ela tinham acesso e novamente vê-se o distanciamento do Estado na questão da alfabetização do povo. A autora reitera que do ponto de vista da educação em nosso país é possível dividi-lo em três momentos: O 1º período decorreu do ano em que os jesuítas chegaram ao País (1549) até sua expulsão (1759); O 2º período, compreendido da expulsão dos jesuítas até o fim da República Velha (1930), que foi caracterizado pela busca de fontes autônomas de financiamento para a educação; e o 3º período, que se estende da homologação da Constituição Federal de 1934 até os dias atuais e tem sido marcado pela busca da vinculação constitucional de um percentual mínimo de recursos tributários para a educação, bem como programas e projetos para corrigir os séculos de negligência com nosso povo (MENEZES, 2005). A presente pesquisa tem como foco Projetos e Programas de Alfabetização no Brasil, nos últimos 54 anos, de forma a mapear, identificar e discuti-los. Nesse sentido, tem-se a intenção de estudar alguns dos projetos e programas de políticas públicas contra o analfabetismo no Brasil, fazendo o percurso histórico sobre a história da educação brasileira, com o intuito de compreender o trajeto percorrido até os dias atuais, de forma a discutir as políticas educacionais realizadas antes da constituição de 1988 até chegarmos ao PNAIC (Plano Nacional de Alfabetização na Idade Certa), programa atual vigência. Desde o primeiro Censo da história do Brasil no segundo reinado, no século XIX até os dias atuais a história do analfabetismo tem se constituído em um dos principais desafios da pesquisa da Educação. De acordo com Ferraro (2009) os resultados do recenseamento de 1872 e dos debates travados no final da década de 1870, a propósito dos projetos de reforma eleitoral, acabaram colocando o analfabetismo como um problema público nacional. O que 8402 resultou na expansão do sistema de ensino e na estigmatização do analfabetismo, por sua vez acompanhada da exclusão das pessoas analfabetas tanto no voto quanto no mercado formal de trabalho. Nesse breve panorama, de acordo com Ferraro (2009) é possível percebemos que os problemas que afetam o povo brasileiro são realmente antigos, especialmente o analfabetismo. Somente a partir do século XXI que começa uma grande luta contra o analfabetismo no Brasil. O analfabetismo foi erigido no país mais que um problema pedagógico como também político, transformou-se quase que de repente num rótulo, em um problema quase sem solução. Ao determo-nos aos projetos, é perceptível que o foco dos projetos está voltado á jovens e adultos, na incumbência de diminuir o descaso. Outro fator observado é que os programas e projetos que ocorreram no território nacional estavam focados no índice de analfabetismo da população por região, eram territoriais, como o caso MCP (Movimento Cultural Popular) que ocorreu apenas em Recife e Rio Grande do Norte; o CPC (Centro de Cultura Popular) que ocorreu apenas em Minas Gerais, o MEB (Movimento de Educação de Base) que ocorreu em Minas Gerais e nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste. Desde a década de 1915, surgiam no país para atender as demandas regionais muitos programas e projetos de erradicação ao analfabetismo e o PNAIC é, pela primeira vez, um programa de âmbito nacional, inclusive referenciado no plano nacional de educação, como uma responsabilidade do Estado, compromisso firmado entre União, Estados e Municípios brasileiros para atingir o objetivo de alfabetizar todas as crianças até os 8 anos de idade, coincidindo com o final do 3° ano do ensino fundamental. Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter bibliográfico e documental, constituído principalmente da utilização de livros e artigos científicos, de acordo com Gil (2012). A principal vantagem deste tipo de pesquisa reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. A pesquisa bibliográfica tambémé indispensável nos estudos históricos. Em muitas situações, não há outra maneira de conhecer os fatos passados se não com base em dados bibliográficos. Para efetivação do objetivo proposto o trabalho encontra-se organizado em ordem cronológica, pois á medida que fomos conhecendo projetos e programas, de políticas públicas 8403 de erradicação do analfabetismo fomos montando esta trajetória histórica para fazermos uma breve contextualização e nos atermos a estes fatos. Trata-se de um recorte de uma pesquisa maior em andamento e aqui evidenciamos os primeiros registros encontrados de trabalhos que fundamentarão a pesquisa, bem como dos aportes teóricos que a fundamentarão como: Ferraro (2009), Ghiraldelli Junior (2009), Nofuentes (2008) e Freire (1989). Sobre as Políticas e programas de alfabetização no Brasil Ao longo de mais de 500 anos de história, o Brasil sofre de um problema que nasceu com ele, o analfabetismo. Conforme Diniz, Machado e Moura (2014) inúmeras tentativas de erradicar o analfabetismo no país, como a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos de 1947; a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo de 1958; o Programa Nacional de Alfabetização, baseado no método Paulo Freire, de 1964; o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) entre os anos de 1968 e 1978; a Fundação Nacional de Educação de Jovens e Adultos (Educar) de 1985; o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (Pnac) de 1990; o Plano Decenal de Educação para Todos de 1993; e, no final do último século, o Programa de Alfabetização Solidária, de 1997. Assim, percebe-se que, em cada governo, foram promovidos esforços no sentido de combater o analfabetismo, que se mostra como um problema social crônico no Estado brasileiro. Após a reformulação da Constituinte de 1930, marco da vinculação constitucional de um percentual dos tributos da União destinado á educação pública, evidenciamos de forma resumida na tabela abaixo as reformulações e os períodos em que ela teve evidencia, bem como os anos em que ficou esquecida e negligenciada pela União, deixando essa responsabilidade a cargo dos municípios. E quando estes não conseguiam atender a demanda, aqueles que possuíam recursos patrocinavam a educação de seus filhos, ato que é de direito do povo e dever do Estado (MENEZES, 2005). 8404 Tabela 1: Alíquotas de recursos para a educação no Brasil no século XX Ano e disposição legal União Estado e Distrito Federal Municípios Constituição Federal de 1934 Constituição Federal de 1937 Constituição Federal de 1946 1961- Lei de Diretrizes e Bases 4.024 Constituição Federal de 1967 1969 EC - Ementa Constitucional nº 1 1971- LEI 5.592 1983 E C –Ementa Constitucional 24 Constituição Federal de 1988 LDB- LEI 9.394 Lei de Diretrizes e Bases da Educação 10% nenhuma 10 % 12% nenhuma nenhuma nenhuma 13% 18% 18% 20% nenhuma 20% 20% nenhuma nenhuma nenhuma 25% 25% 25% 10% nenhuma 20% 20% nenhuma 20% 20% 25% 25% 25% Fonte: Adaptado de Menezes (2005). Partindo do pressuposto de Ghiraldelli Junior (2009, p. 106) é possível entender que a “alfabetização no Brasil é um objeto necessariamente condicional à cidadania, que passa a ser cada vez mais importante, e correlacionada à urbanização. [...] no final da década de 1950 e início dos anos de 1960 o nosso povo deixou de pertencer, em sua maioria, à zona rural”. Nossa produção econômica não veio a ter nas cidades seu peso maior. Portanto, não se tratava de dizer que éramos pessoas que estávamos vivendo em um país com base industrial. Toda via o fato é que nossa população urbana, pela primeira vez aparecia no censo, maior que a população rural. Por sua vez o discurso governamental, ao menos aquele que tinha por base o Instituto Superior de Estudos Brasileiros, o ISEB, se movimentava na propaganda da necessidade de uma industrialização de caráter nacionalista, enquanto que a prática do governo parecia querer indicar outro caminho: uma industrialização associada aos interesses das empresas e centros financeiros internacionais. Neste clima é que nasceu a motivação para que forças intelectuais viessem a discutir a pergunta “afinal, que Brasil que queremos?”. Alguns, para responder a tal pergunta, colocavam outra: “mas afinal, como ter um Brasil se não fizermos todos participarem da democracia e de outros bens e direitos?”. Foi essa segunda pergunta que levou o surgimento de uma série de movimentos sociais no início da década de 1960. Movimentos estes que destacaremos a seguir num breve panorama sobre cada um. Dentre os movimentos destacamos os 12 mais importantes. 8405 Quadro 1: Programas contra o analfabetismo desde a década de 1960 Ano dos Programas Programas e projetos 1960 1961 1967 1985 2009 2003 1997 1999 2001 2008 2012 Movimento de Cultura Popular teve origem em maio de 1960 MEB Movimento de educação e Base MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização Fundação Educar EJA Educação de Jovens e Adultos PBA Programa Brasil Alfabetizado PAS Programa Alfabetização Solidária PCN Parâmetros curriculares Nacionais PROFA Programa de Formação de Professores PRÓ- LETRAMENTO PNAIC Pacto Nacional pela Alfabetização na idade certa Fonte: As autoras. Iniciaremos pela Liga Brasileira contra o Analfabetismo no Brasil Quanto à questão específica da instrução para os setores marginalizados da sociedade brasileira, a Liga Brasileira Contra o Analfabetismo foi a primeira grande campanha do gênero, preocupada com o problema em termos nacionais envolvendo pessoas de vários segmentos da sociedade e que tinha como lema: “Combater o Analfabetismo é dever de Honra de todo povo Brasileiro” (FREIRE, 1989). O MCP (Movimento de Cultura Popular) iniciado em maio de 1960 tinha como Diretor da Divisão de pesquisa e coordenador do Projeto de Educação de Adultos do MCP Paulo Freire que alfabetizava através de grupos de debates. Era um movimento ligado à prefeitura de Recife e além de Paulo Freire contava também o apoio do Governo Miguel Arraes. O objetivo do Movimento de Cultura Popular era alfabetizar utilizando novos métodos de aprendizagem, mas com a falta de investimentos financeiros se limitou ao Recife e ao Rio Grande do Norte (BRASIL, 2014). A Campanha “De Pé no Chão” O segundo movimento de cultura popular a surgir foi a campanha “De Pé no Chão também se Aprende a Ler” crescida pela Secretaria Municipal de Natal na administração do prefeito Djalma Maranhão (BRASIL, 2014). Em 1961, junto com o Movimento Cultural Popular, também surge o MEB, por meio do Decreto 50.370, de 21 de março, o decreto previa que o Governo Federal iria cooperar com a CNBB (Conferência Nacional de Bispos do Brasil) no processo de alfabetização de adultos. O movimento utilizaria na época a rede de emissoras católicas e a área de atuação era 8406 constituída pelo estado de Minas Gerais, e pelas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste (BRASIL, 2014). O MEB foi o único movimento que resistiu a Ditadura Militar, por força do convênio com a união que fixara as datas base de 1961/1965. Já o CPC Centro Popular de Cultura suas instalações foram incendiadas para evitar o contato com as classes populares (CUNHA, 2002). Com o golpe militar e o regime ditador, começaram as perseguições e contenções aos programas e grupos populares que eram realizados muito anterior à ditadura. Os que conseguiram sobreviver foram sujeitos a um segundo plano. Em 1971 a Ação Básica Cristã foi eliminada por causadas dificuldades financeiras (OLIVEIRA, 2011). MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização Em 15 de dezembro de 1967 foi criado pela Lei número 5.379 o MOBRAL lançado pelo presidente Artur da Costa e Silva e pelo Ministro da Educação, Tarso Dutra. E ressuscitado em 1969 pelo presidente Médici e seu senador Jarbas Passarinho (CALMON, 1974). O movimento, entretanto, nascido da iniciativa de livrar o país do analfabetismo, possível causa para a pobreza e até a opressão política –, só fora revisto em 1970. Entre os entusiastas do MOBRAL estavam todos aqueles que, travestidos no papel de educadores durante a ditadura, desconheciam ou desprezavam o fato de que para combater o analfabetismo só há dois caminhos, já citados por Luiz Antonio Cunha (2002, p. 57): [...] pela expansão das oportunidades de ensino público e gratuito, acompanhada ou precedida por significativas melhorias do padrão de vida das classes populares; 2) de campanhas maciças de educação popular durante ou logo após uma revolução, como na União Soviética, na China, em Cuba, no Vietnã e, mais recentemente, na Nicarágua. Na década de 1980 enxergava-se novas expectativas para a educação de jovens e adultos por conta da abertura política. Ativavam as discussões pedagógicas para a melhor organização educacional da filosofia que foi retirada nos anos anteriores (CARVALHO, 2013). A partir de 1982 voltaram as eleições diretas para os estados da Federação da República. Com isso, o clima de liberdade política cresceu e consequentemente, a movimentação teórica foi mais intensa, possibilitando mais visões para vários impasses teóricos no campo educacional (GHIRALDELLI JUNIOR, 2009, p.144). 8407 Fundação Educar Em 1985 surgiu para substituir o MOBRAL, a FUNDAÇÃO EDUCAR, pelo decreto nº 91980, de 25 de novembro foi para suprir o MOBRAL que vinha tendo um gasto muito alto por aluno não tendo o resultado esperado (BRASIL, 2014). Instituído pelo decreto nº 92.374, de 6 de fevereiro de 1986 quando todos os benefícios do MOBRAL foram transferidos para a Fundação EDUCAR. As diferenças mais marcantes entre o MOBRAL e a EDUCAR foram: A EDUCAR estava dentro das competências do MEC; Promovia a execução dos programas de alfabetização por meio do “apoio financeiro e técnico às ações de outros níveis de governo, de organizações não governamentais e de empresas” (BRASIL, 2000) e; tinha como especialidade à “educação básica”. As verbas para a execução dos programas iam para as prefeituras municipais através da COEST que recebia os recursos da EDUCAR. O objetivo da EDUCAR era “promover a execução de programas de alfabetização e de educação básica não-formais, destinados aos que não tiveram acesso à escola ou dela foram excluídos prematuramente” (ZUNTI, 2000 apud BRASIL, 2014, p. 6). A Fundação EDUCAR foi extinta em 1990, surgindo a (PNAC) Plano Nacional de Alfabetização e Cidadania que só durou um ano (BRASIL, 2014). O MEC tinha exigências que a Fundação EDUCAR possuía, ela estava dentro das suas competências. O desempenho dos programas de alfabetização por meio do “apoio financeiro e técnico às ações de outros níveis de governo, de organizações não governamentais e de empresas” (BRASIL, 2000) e; tinha como especialidades à “educação básica”. PCN Parâmetros Curriculares Nacionais Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 1999) organizados pelo Ministério da Educação como sugestão de formação continuada de professores vêm carregados de um referencial de qualidade para a educação na modalidade do ensino fundamental em todo o território nacional. Apontando à construção de um novo currículo, o PCN (BRASIL, 1999) prevê, na formação continuada de professores, a introdução das variedades regionais, étnicas, religiosas e políticas, com o objetivo de elevar a qualidade de ensino. Esse novo programa foi inserido no ano de 2000, propondo à formação continuada dos professores. O projeto do PCN em Ação foi ordenado em módulos de estudo. A metodologia do programa era crescida por meio de apresentação de filmes, leitura de textos para reflexão coletiva para ajudar os professores a elaborar propostas de trabalho para serem 8408 aplicadas aos alunos. A ideia central do PCN em Ação era beneficiar a leitura compartilhada, a aprendizagem em parceria e a reflexão solidária. As políticas de formação foram implantadas em parceria com as universidades e secretarias de educação (BRASIL, 2014). PAS Programa de Alfabetização Solidária Fernando Henrique Cardoso tinha como meta governamental o programa PAS – Programa Alfabetização Solidária foi criado em janeiro de 1997, trazia como sugestão inicial agir na alfabetização de jovens e adultos. E atingiu as regiões Norte, Nordeste, Centro Oeste e Sudeste do país, e outros países da África de Língua Portuguesa. A introdução das pessoas não alfabetizadas na Educação de Jovens e Adultos e o seguimento dos estudos são alguns dos principais objetivos do PAS (BRASIL, 2014). PROFA - Programa de Formação de Professores Alfabetizadores O PROFA é um Programa de Formação de Professores Alfabetizadores, planejado e organizado em Módulos. O Programa de Formação de Professores Alfabetizadores é um Curso preparado em três Módulos, que são apropriados por Unidades. A contagem de Unidades em cada Módulo muda, contudo, a última delas é sempre designada à avaliação individual dos professores (BRASIL, 2001). O Módulo 1 debate conteúdos de fundamentação, pautados aos processos de aprendizagem da leitura e escrita e à didática da alfabetização. O principal objetivo desse módulo é demonstrar que a aprendizagem inicial da leitura e da escrita é resultado de um processo de construção conceitual que se dá pela reflexão do aprendiz sobre as características e o funcionamento da escrita (BRASIL, 2001). No Módulo 2 são discutidas situações didáticas de alfabetização. O objetivo é demonstrar que a alfabetização é parte de um processo mais amplo de aprendizagem de diferentes usos da linguagem escrita, em situações de leitura e produção de texto (BRASIL, 2001). O Módulo 3 também tem como foco as situações didáticas. O objetivo é apresentar e discutir outros conteúdos de língua portuguesa que fazem sentido no período de alfabetização (BRASIL, 2001). Cada módulo discute, então, contextos específicos, mas que têm relação entre si. Para cada um deles é definido um conjunto de capacidades que devem ser desenvolvidas pelos 8409 professores ao longo do Curso, denominadas Expectativas de Aprendizagem (BRASIL, 2001). Programa Brasil Alfabetizado (PBA) O MEC realiza, desde 2003, o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), voltado para a alfabetização de jovens, adultos e idosos. O programa é uma porta de acesso à cidadania e o despertar do interesse pela elevação da escolaridade. O Brasil Alfabetizado é desenvolvido em todo o território nacional, com o atendimento prioritário a municípios que apresentam alta taxa de analfabetismo, sendo que 90% destes localizam-se na região Nordeste. Esses municípios recebem apoio técnico na implementação das ações do programa, visando garantir a continuidade dos estudos aos alfabetizados. Podem aderir ao programa por meio das resoluções específicas publicadas no Diário Oficial da União, estados, municípios e o Distrito Federal. Objetivo: Promover a superação do analfabetismo entre jovens com 15 anos ou mais, adultos e idosos e contribuir para a universalização do ensino fundamental no Brasil. Sua concepção reconhece a educação como direito humano e a oferta pública da alfabetização como porta de entrada para a educação e a escolarização das pessoas ao longo de toda a vida. Ações: Apoiar técnica e financeiramenteos projetos de alfabetização de jovens, adultos e idosos apresentados pelos estados, municípios e Distrito Federal (Programa Brasil Alfabetizado – NOVO). Pró-Letramento De acordo com o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2001), analfabeto é quem não sabe ler nem escrever, quem desconhece ou conhece muito mal um assunto ou matéria, analfabetismo. Segundo a Profa. Magda Soares (2003, p. 30-31): Analfabeto é aquele que é privado do alfabeto, a que falta o alfabeto, ou seja, aquele que não conhece o alfabeto, que não sabe ler nem escrever. Analfabetismo é o modo de proceder como analfabeto. Alfabetizar é tornar o indivíduo capaz de ler e de escrever. Alfabetização é a ação de alfabetizar, de tornar alfabeto. Definindo nosso ponto de chegada continuemos. O termo letramento surgiu porque apareceu um fato novo para o qual precisávamos de um nome, um fenômeno que não existia antes. Fomos buscar a palavra letramento na palavra 8410 inglesa literacy que significa condição de ser letrado. Essa palavra é do mesmo campo semântico que a palavra inglesa literate, que significa pessoa que domina a leitura e a escrita. Pessoa letrada é aquela que aprende a ler e a escrever e que passa a fazer uso da leitura e da escrita, a envolvesse em práticas sociais de leitura e de escrita, ou seja, que faz uso frequente e competente da leitura e da escrita. A pessoa letrada passa a ter outra condição social e cultural, muda o seu lugar social, seu modo de viver, sua inserção na cultura e consequentemente uma forma de pensar diferente. Tornar-se letrado traz consequências linguísticas, cognitivas. Letramento é o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e de escrita. É o estado ou a condição que adquire um grupo social, ou um indivíduo, como consequência de ter se apropriado da escrita e de suas práticas sociais. Apropriar-se da escrita é torná-la própria, ou seja, assumi-la como propriedade. Um indivíduo alfabetizado, não é necessariamente um indivíduo letrado, pois ser letrado implica em usar socialmente a leitura e a escritura e responder às demandas sociais de leitura e de escrita (SOARES, 2003). O Pró-Letramento é uma das políticas de educação continuada de professores, surgiu em 2008 no governo do presidente Luis Inácio da Silva, que também visa lutar contra o analfabetismo. E seu principal objetivo é conhecer o uso e as funções sociais da escrita. Foi um curso de formação continuada elaborado pensando em todas as ações e práticas na área da educação, procurando estabelecer, um diálogo eficaz entre assuntos categóricos de língua portuguesa e matemática (BRASIL, 2008). Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic) Em 8 de novembro de 2012, o ministro da Educação, Aloísio Mercadante, no governo da presidenta Dilma Rousseff, lançou o (Pnaic), compromisso firmado entre União, estados e municípios brasileiros, para atingir, o objetivo de alfabetizar todas as crianças até os 8 anos de idade, coincidindo com o final do 3º ano do ensino fundamental, no qual o governo federal investirá mais de R$ 600 milhões. Entre as ações estratégicas do Pnaic, o MEC pretende aplicar anualmente a Provinha Brasil no início e no final do 2º ano, cujos resultados servirão também para o INEP realizar análise amostral, além da avaliação externa universal ao final do 3º ano do ensino fundamental (MORTATTI, 2013). Inclusive servirá o seguinte planejamento do PNAIC para concretizar a meta 5 do Plano Nacional de Educação, Meta 5: alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º (terceiro) ano do ensino fundamental 8411 O analfabetismo funcional é encontrado nas séries iniciais do ensino fundamental, as dificuldades nos processos de escolarização, expressando o seu distanciamento de adequados padrões de qualidade. De acordo com o Censo de 2010 15,2% das crianças brasileiras com 8 anos de idade que estavam cursando o ensino fundamental eram analfabetas. As situações mais graves foram encontradas nas regiões Norte (27,3%) e Nordeste (25,4%), sendo que os estados do Maranhão (34%), Pará (32,2%) e Piauí (28,7%) detinham os piores índices. Em contrapartida, os melhores índices estavam no Paraná (4,9%), Santa Catarina (5,1%), Grande do Sul e Minas Gerais (ambos com 6,7%), o que demonstra a gravidade do fenômeno em termos de disparidades regionais (BRASIL, 2014). Em expressão de tal fato e de outras dificuldades que vem impactando a condição do ensino, existiu o aumento do ensino fundamental obrigatório para 9 anos com início a partir dos 6 anos de idade (BRASIL, 2006). Em sequência o plano de metas compromisso todos pela educação (BRASIL, 2007), dentre as atuações que visam a característica da educação, ficou determinada, no início II do artigo 2º, a responsabilidade dos entes federativos com a alfabetização das crianças até, no máximo, os 8 (oito) anos de idade, aferindo os resultados por exame periódico específico. Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino fundamental de 9 anos (BRASIL, 2010), encontra-se estabelecido que os três anos do e ensino fundamental deve assegurar a alfabetização e o letramento e o desenvolvimento das diversas formas de expressão, incluindo e do aprendizado das disciplinas. Considerações Finais Após a identificação dos programas de políticas publicas de erradicação ao analfabetismo no Brasil, mergulhar na história pela tessitura dos autores que retratam esse movimento que antecedeu ao PNAIC (Pacto Nacional da Alfabetização na Idade Certa), percebe-se que muitas lutas foram travadas e muitos programas testados na busca de reduzir esse estardalhaço na nossa cultura pela ausência do estado em relação a educação publica. Ao destacarmos esses programas fica perceptível o porquê que a maioria teve como foco reverter o analfabetismo de jovens e adultos, dados os anos de ausência do financiamento a educação a esses jovens na idade certa. E todos os programas e projetos que ocorreram, demonstram as áreas mais afetadas do descaso nacional, Norte, Nordeste e Centro Oeste. A falta de êxito a esses programas muitas vezes esteve atrelada a um fator importantíssimo, o financiamento, muitas vezes insuficientes, o que diverge do discurso de 8412 uma minoria que acredita em investimentos mal aplicados. Sinal de que mesmo em pleno século XXI, o Estado ainda não destinava recursos suficientes para diminuir essa indiferença. Após a constituição de 1988, e posteriormente com os PNE (Plano Nacional de Educação), que torna constitucional esse dever, é que crianças, jovens e adultos tem esse direito garantido. E o PNAIC, passa a ser o primeiro programa que objetiva a alfabetização na idade certa, que seria uma prevenção ao analfabetismo do adulto, mas não a alfabetização na idade adulta. Assim é responsabilidade de todos – Sociedade civil e Estado – terem comprometimento com metas e prazos a serem cumpridos. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. 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