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Crise na geopolítica clássica

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EA
D
Teorias Geopolíticas
6
1. OBJETIVO
•	 Apresentar	os	temas	e	as	discussões	relacionadas	às	teo-
rias	geopolíticas.
2. CONTEÚDOS
•	 A	crise	da	Geopolítica	clássica	e	a	emergência	de	novos	
temas.
•	 As	possibilidades	de	conflito	devido	às	questões	econô-
micas.
•	 Os	choques	culturais	entre	civilizações.
•	 O	discurso	da	democracia	 liberal	ocidental	e	suas	 impli-
cações.
•	 Geopolítica	da	água.
© Geopolítica162
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Para	uma	leitura	mais	aprimorada	sobre	o	tema	da	uni-
dade,	 recomendamos	 a	 obra	 VESENTINI,	 W.	 J.	 Novas 
geopolíticas.	São	Paulo:	Contexto,	2004.
2)	 Sobre	um	dos	novos	temas	das	teorias	geopolíticas	con-
temporânea,	chamada	de	Geopolítica	Ambiental,	reco-
menda-se	a	leitura	de	BECKER,	B.	K.	Geopolítica	da	Ama-
zônia.	Revista do Instituto de Estudos Avançados da USP,	
São	Paulo,	n.	53,	p.	71-86,	2005.	Disponível	em:	<http://
www.scielo.br/pdf/ea/v19n53/24081.pdf>.	 Acesso	 em:	
28	maio	2013.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na	unidade	anterior,	estudamos	as	questões	geopolíticas	no	
continente	americano,	notadamente	nos	Estados	Unidos	da	Amé-
rica	e	na	República	Federativa	do	Brasil	no	século	20.
Conforme	mencionado,	 o	 declínio	 do	 pensamento	 geopo-
lítico	 clássico	 e	 a	 nova	 configuração	do	mundo	pós-Guerra	 Fria,	
dissolução	do	bloco	soviético,	neoliberalismo,	globalização,	blocos	
econômicos,	dentre	outros	novos	temas,	tiveram	forte	direciona-
mento	dos	Estados	Unidos,	que	representavam	a	maior	potência	
em	termos	militares	e	econômicos	nessa	nova	ordem	mundial.
No	entanto,	outros	atores	estatais	e	não	estatais	(empresas,	
ONGs,	ONU,	entre	outros)	passam	a	influenciar	as	relações	inter-
nacionais,	tanto	nos	aspectos	políticos	quanto	econômicos,	sociais	
e	ambientais,	de	modo	que	o	contexto	atual	é	caracterizado	pelo	
multilateralismo	e	a	presença	de	diversos	temas	na	agenda	inter-
nacional.	Nesta	unidade,	estudaremos	os	principais	temas	ligados	
às	teorias	geopolíticas.
Claretiano - Centro Universitário
163© U6 - Teorias Geopolíticas
5. A CRISE DA GEOPOLÍTICA CLÁSSICA E A EMERGÊN-
CIA DE NOVOS TEMAS
A	partir	do	 final	da	Segunda	Grande	Guerra,	a	Geopolítica	
Clássica	ingressou	em	um	período	de	questionamento	em	relação	
aos	seus	pressupostos	fundamentais.	Tal	fato	se	deve	à	sua	relação	
com	o	nazifascismo	na	Alemanha	e	Itália,	assim	como	com	as	po-
líticas	expansionistas	da	nação	germânica	e	do	Japão.	No	entanto,	
vale	ressaltar	que	a	Geopolítica	no	Brasil,	no	Chile	e	na	Argentina,	
por	 exemplo,	 continuaram	 a	 se	 desenvolver	 como	 fundamento	
para	as	políticas	territoriais	do	Estado.
Na	década	de	1970,	a	Geopolítica	assume	uma	nova	roupa-
gem,	 impregnada	pelo	embate	 ideológico	entre	as	potências	do	
bipolarismo	e	seus	sistemas	econômicos	antagônicos.	Nesse	senti-
do,	as	discussões	sobre	o	poder	marítimo	versus	o	poder	terrestre	
ou	sobre	o	heartland são	substituídas	pelas	teorias	a	respeito	do	
socialismo	e	do	capitalismo	em	um	contexto	de	Guerra	Fria,	assim	
como	as	possibilidades	de	uma	Terceira	Grande	Guerra.
O	futuro	da	humanidade,	a	relação	entre	corrida	armamen-
tista	e	gastos	nacionais	exorbitantes,	assim	como	as	questões	re-
lacionadas	ao	desenvolvimento	dos	Estados,	notadamente	o	mo-
vimento	dos	não	alinhados,	eram	temáticas	colocadas	em	pauta	
dada	a	conjuntura	internacional	da	época.	Dessa	forma,	"[...]	pen-
sar	 a	 guerra	 (ou	opor-se)	 tornou-se	uma	necessidade	 imperiosa	
para	os	movimentos	sociais,	as	instituições	de	pesquisa	e	os	inte-
lectuais	em	geral"	(VESENTINI,	2004,	p.	26).
As	 radicais	 mudanças	 ocorridas	 entre	 os	 anos	 de	 1989	 e	
1991,	 sobretudo	o	 fim	do	conflito	bipolar	e	o	esfacelamento	da	
União	Soviética,	 fez	com	que	discussões	envolvendo	o	futuro	do	
sistema	internacional	viessem	à	tona,	ou	seja,	o	estabelecimento	
de	uma	nova	ordem	mundial	apresentou-se	como	um	novo	e	im-
portante	objeto	de	pesquisas	e	reflexões,	assim	como	quem	seria	a	
potência	mundial	dominante.	Vale	ressaltar	que	a	excessiva	milita-
© Geopolítica164
rização	do	período	da	Guerra	Fria	gerou,	como	já	mencionado,	al-
tos	gastos	nacionais,	fato	que	desconsiderou	a	chamada	economia	
civil.	Nesse	sentido,	a	nova	reorganização	do	sistema	internacional	
daria	maior	ênfase	nas	questões	relacionadas	à	globalização,	revo-
lução	técnico-científico-informacional	e	formação	ou	consolidação	
de	blocos	econômicos	em	detrimento	das	questões	militares.
Nesse	ponto,	pode-se	 inferir	que	"a	excessiva	militarização	
das	políticas	externas"	e	a	"negligência	de	outras	ameaças	ao	bem-
-estar	nacional"	durante	o	período	da	Guerra	Fria,	assim	como	os	
efeitos	da	globalização,	fizeram	com	que	a	insegurança	global	au-
mentasse,	 ao	 passo	 que	 novas	 contendas	 começaram	 a	 ganhar	
cada	vez	mais	destaque,	como	as	questões	ambientais,	políticas,	
econômicas	e	sociais,	assim	como	os	chamados	"problemas	sem	
passaporte"	(tráfico	internacional	de	drogas	e	pessoas,	terrorismo,	
AIDS,	dentre	outros),	 fazendo	com	que	o	conceito	de	segurança	
humana	fosse	cada	vez	mais	enfatizado,	gerando	a	necessidade	de	
ampliar/revisar	o	conceito	de	segurança	militar.
Segundo	Cravo	(2009,	p.	69),	"[...]	os	conflitos	intra-estatais	
substituíram	os	 interestatais	como	principal	ameaça	à	segurança	
do	sistema	internacional	[...]".	Dessa	forma,	o	fim	do	conflito	bipo-
lar	fez	com	que	as	questões	de	cunho	humano	fossem	enfatizadas,	
notadamente	a	chamada	segurança	humana,	especialmente	como	
se	assistiu	na	década	de	1990	nos	conflitos	civis	onde	os	direitos	
humanos	foram	desrespeitados	em	larga	escala.
Apesar	 do	 conceito	 de	 segurança	 estar	 ainda	 inserido	 nas	
questões	de	soberania	estatal,	nota-se	a	ênfase	nas	relações	de	coo-
peração	e	diálogo	em	detrimento	das	relações	de	competição	e	con-
flito	da	Guerra	Fria,	destacando-se	ainda	o	papel	das	instituições	in-
ternacionais	(ONGs	e	OIGs),	assim	como	da	própria	sociedade	civil,	
rompendo-se	com	a	visão	unicamente	estadocêntricas	do	realismo.
Nesse	contexto,	a	teórica	Mary	Kaldor	(2001,	p.	1-12)	aponta	
o	surgimento	de	um	novo	tipo	de	violência	que	marcaria	as	cha-
madas	"novas	guerras"	no	contexto	da	globalização.	Tais	guerras	
Claretiano - Centro Universitário
165© U6 - Teorias Geopolíticas
(intraestatais)	se	diferenciam	das	guerras	clássicas	 (interestatais)	
pela	dificuldade	de	se	diferenciar	o	 interno	do	externo,	ou	seja,	
há	participação	de	diversos	atores	 internacionais,	como	os	orga-
nismos	internacionais	governamentais	ou	não	governamentais,	a	
mídia	e	as	multinacionais,	que	são	movidas	pelos	 interesses	das	
grandes	potências.	Nesse	 sentido,	as	novas	guerras	 seriam	mar-
cadas	por	objetivos	políticos	e	econômicos	que	envolveriam	o	cri-
me	organizado	e	a	violação	dos	direitos	humanos	em	larga	escala,	
como	assistiu-se	nos	conflitos	civis	da	década	de	1990	no	conti-
nente	africano	e	no	leste	europeu.
Assim,	faz-se	necessário	atentar	às	questões	envolvendo	as	
novas	temáticas	da	Geopolítica,	enfatizando-se	o	predomínio	das	
questões	econômicas	sobre	as	militares.	Nesse	sentido,	as	teorias	
seguintes	 apresentam	em	 comum	a	 importância	 dada	 ao	 pode-
rio	econômico	em	detrimento	do	poderio	militar.	Estas	foram	for-
muladas	em	plena	crise	do	mundo	socialista	e	do	conflito	bipolar,	
época	em	que	a	disputa	de	alinhamentos	ideológicos	era	intensa,	
especialmente	na	busca	de	mercados	para	a	ideologia	capitalista.	
Além	disso,	nesse	período	pode-se	identificar	a	formação	dos	pri-
meiros	blocos	econômicos.
6. AS POSSIBILIDADES DE CONFLITO DEVIDO ÀS 
QUESTÕES ECONÔMICAS
Segundo	Vesentini	(2004,	p.	33),	as	disputas	mundiais	pas-
saram	 a	 ser	 essencialmente	 econômicas.	 Baseado	 nas	 ideias	 de	
Luttwak,	expressas	no	artigo	"Da	Geopolítica	à	Geoeconomia",	pu-
blicado	na	revista	TheNational Interest em 1990,	aponta	que,	com	
o	colapso	da	União	Soviética,	houve	a	substituição	das	guerras	mi-
litares	por	conflitos	econômicos.	A	existência	de	guerras	militares	
não	teria	uma	importância	significativa	como	teve	antes	da	Guerra	
Fria.	A	lógica	da	guerra	não	seria	mais	ideológica	ou	armamentista;	
seria	regulamentada	pelas	conquistas	de	novos	mercados,	aprimo-
ramento	de	novas	tecnologias	e	deficits	de	balança	de	mercado.
© Geopolítica166
No	entanto,	aceitando-se	que	a	Geopolítica	estaria	sendo	substi-
tuída	por	uma	Geoeconomia,	seria	importante	apontar	também	o	en-
fraquecimento	do	Estado-Nação,	pois	este	não	possui	um	papel	único	no	
processo.	Ele	divide	uma	parte	de	seu	poderio	com	as	empresas	trans-
nacionais,	novas	tecnologias,	organizações	globais	e	até	mesmo	com	as	
privatizações,	que	diminuíram	o	espaço	do	poder	público	na	economia.
Nesse	contexto,	pode-se	observar	uma	maior	 interferência	
nos	assuntos	internos	dos	Estados	em	nome	dos	direitos	humanos	
ou	do	sistema	global,	alterando	o	conceito	de	soberania	definido	
no	Tratado	de	Westfália	de	1648,	que	contemplava	o	princípio	da	
não	intervenção	e	da	integridade	dos	Estados	Nacionais.
Haveria	uma	tendência	de	disputa	entre	três	regiões:	Japão,	
Europa	e	os	Estados	Unidos.	Porém,	essa	disputa	não	seria	como	
no	passado,	quando	o	objetivo	era	destruir	o	adversário,	uma	vez	
que	a	interdependência	dos	Estados,	sobretudo	por	meio	da	eco-
nomia	e	do	comércio	internacional,	gerou	a	necessidade	de	pro-
moção	da	cooperação,	pois	as	crises	internacionais	poderiam	facil-
mente	atingir	todos	os	Estados	no	sistema	internacional,	como	se	
tem	assistido	nas	crises	econômicas	recentes.
Neste	sentido,	a	única	ameaça	ao	capitalismo	seria	o	descon-
tentamento	gerado	pela	desigualdades	sociais,	migrações	e	injus-
tiças	econômicas,	que	está	promovendo	o	aumento	da	xenofobia	e	
movimentos	extremistas.	Para	isso,	são	necessários	investimentos	
em	desenvolvimento,	melhor	distribuição	de	renda,	infraestrutura,	
educação,	assistência	médica	e	qualificação	da	força	de	trabalho.
No	que	se	 refere	às	novas	Geopolíticas,	os	megablocos	ou	
blocos	 regionais,	 em	 detrimento	 dos	 Estados	 Nacionais,	 serão	
cada	vez	mais	fundamentais	nas	relações	internacionais,	tendo	as	
relações	de	poder	forte	ênfase	nas	questões	econômicas.	De	acor-
do	com	Vesentini	 (2004,	p.	36):	"[...]	essa	 interpretação	consiste	
basicamente	na	 idéia	de	que	 são	os	megablocos,	e	não	mais	os	
Estados	Nacionais,	que	dominam	o	cenário	mundial	ou	as	relações	
de	poder	no	espaço	planetário.
Claretiano - Centro Universitário
167© U6 - Teorias Geopolíticas
Essa	ideia	começou	a	ser	formulada	e	percebida	antes	mes-
mo	do	término	da	Guerra	Fria,	durante	a	qual	pode-se	identificar	o	
crescimento	econômico	da	Europa	Ocidental	e	do	Japão	que,	jun-
tamente	com	os	Estados	Unidos,	dominavam	o	sistema	capitalista.	
Assim,	o	mundo	seria	dividido	em	três	blocos	regionais	preponde-
rantes:	o	americano,	o	europeu	(que	incluiria	a	África)	e	o	asiático	
(que	incluiria	a	Oceania).
O	 sucesso	da	 integração	europeia,	 cujo	 exemplo	 tenta	 ser	
imitado	em	outras	partes	do	mundo,	por	meio	do	Nafta,	Mercosul,	
Apec,	Alca,	fizeram	com	que	muitos	acreditassem	que,	por	inter-
médio	da	formação	desses	blocos,	haveria	uma	nova	ordem	geo-
política	mundial	que	seria	multipolar	e	marcada	pelas	associações	
de	países	ao	redor	de	um	Estado	central.
No	entanto,	do	ponto	de	vista	geopolítico,	essa	ideia	é	du-
vidosa,	 pois,	 com	 exceção	 da	 União	 Europeia,	 que	 possui	 uma	
coesão	político-diplomática	concreta,	a	maioria	dos	blocos	é	es-
sencialmente	formada	por	questões	econômicas,	não	tendo	uma	
atuação	conjunta	como	sujeitos	em	assuntos	políticos	e	militares.
Existe,	sem	dúvida,	uma	tendência	à	regionalização,	ocorri-
da	em	decorrência	da	 interdependência	econômica;	no	entanto,	
tal	processo	não	se	dá	igual	em	todo	o	mundo.	Cada	bloco	evolui	
de	acordo	com	seu	interesse,	e	essa	evolução	ocorre	por	etapas.	
Porém,	segundo	Vesentini	(2004,	p.	35-38),	essa	regionalização,	na	
verdade,	é	apenas	uma	forma	pela	qual	avança	a	globalização	e	
não	uma	nova	divisão	do	mundo	ou	um	fechamento	dos	continen-
tes	em	"blocos"	alternativos.
No	que	se	refere	à	globalização,	Milton	Santos	(1997)	aponta	que	
seus	processos	ocorrem	de	formas	e	intensidades	diferentes	nas	diver-
sas	partes	do	globo.	A	evolução	da	ciência,	tecnologia	e	informação,	re-
ferida	pelo	geógrafo	como	"meio	técnico-científico-informacional",
[...]	se	dá	em	muitos	lugares	de	forma	extensa	e	contínua	(Europa,	
Estados	Unidos,	Japão,	parte	da	América	Latina),	enquanto	em	ou-
tros	(África,	Ásia,	parte	da	América	Latina)	apenas	pode	se	manifes-
tar	como	manchas	ou	pontos	(SANTOS,	1997,	p.	39).
© Geopolítica168
Observe,	na	Figura	1,	um	esquema	que	representa	as	etapas	
de	um	processo	de	integração	regional	e	suas	características.
Nível de integração
Área de livre 
comércio
União
aduaneira
Mercado 
Comum
União econô-
mica e (even-
tualmente) 
monetária
União
política 
Os menbros concordam em eliminar tarifas e barrei-
ras não tarifárias entre si, porém cada qual mantem 
suas próprias restrições comerciais com países não 
menbros.
Exemplo: Nafta, Efta, Asean, Australia and New Zealand 
Closer Economic Relations Agreement (CER) 8.63
Tarifas externas comuns.
Exemplo: Mercosul
Livre movimentação de bens, mão de obra e capital.
Exemplo: Comunidade Econômica Européia pré-1992
Política monetária e fiscal unificadapor uma autori-
dade central.
Exemplo: a atual União Europeia exibe políticas comer-
ciais, agrícolas e monetárias comuns.
Todas as políticas por meio de uma organização comum: 
desaparecimento da distinção entre as instituições nacio-
nais.
Exemplo: permanece como um ideal, ainda a ser atingido.
Fonte:	Cavusgil,	Knight	e	Riesenberger	(2010,	p.	168).
Figura	1	Níveis de integração regional entre países.
De	acordo	com	alguns	geógrafos,	a	nova	Geografia	do	mun-
do	seria	baseada	no	sistema	global,	que	seria	uma	espécie	de	ator	
muito	mais	importante	do	que	os	próprios	Estados	Nacionais	e	as	
Organizações	Internacionais	ou	blocos	econômicos.
Há	diferentes	versões	para	essa	teoria,	mas	todas	elas	apos-
tam	na	crise	do	Estado-Nação,	que	deixaria	de	ser	o	ator	principal	
no	 cenário	 internacional.	O	 conceito	 de	 potência,	 segundo	 essa	
teoria,	também	estaria	ultrapassado	e	a	análise	desse	sistema	glo-
bal	seria	a	chave	para	entender	as	relações	de	poder,	cujo	alicerce	
estaria	no	sistema	capitalista.
Talvez	o	principal	teórico	dessa	linha	de	interpretação	seja	Im-
manuel	Wallerstein,	ele	acredita	que	existem	potências	hegemôni-
cas,	e	que	estas	ainda	têm	um	papel	importante	para	desempenhar,	
mas	já	não	são	elas	que	comandam	de	fato	as	mudanças.	Essa	mu-
dança	é	responsabilidade	do	sistema	global	e	da	economia.
Claretiano - Centro Universitário
169© U6 - Teorias Geopolíticas
Autor	de	"The Modern World System" (2011),	Wallerstein	enfati-
za	os	fatos	históricos	como	determinantes	para	se	entender	a	dinâmica	
do	sistema	internacional,	contrariando	a	posição	realista	das	Relações	
Internacionais	que	se	baseiam	na	análise	sistêmica	e	sua	influência	na	
história.	Nesse	sentido,	o	teórico	faz	referência	à	ebulição	social	do	ano	
1968	como	fator	de	grande	influência	para	as	"revoluções"	do	século	
21,	como	a	recente	chamada	"Primavera	dos	Povos	Árabes".
Wallerstein	chega	a	aceitar	o	termo	"geocultura"	como	de-
corrência	da	análise	do	sistema-mundo	e	da	cultura	global	e	seus	
conflitos.	O	problema	é	que	essa	construção	totalitária	do	globo	
precede	as	ações	de	atores	menores,	como	os	Estados,	empresas	
e	associações	internacionais.
Essa	teoria,	embora	tenha	aspectos	em	comum	com	a	teoria	
do	 sistema-mundo	a	 respeito	de	que	a	 globalização	e	 seus	pro-
cessos	propiciam	uma	 regionalização	e	 enfraquecem	os	 Estados	
Nacionais,	 tem	umaabordagem	distinta,	pois	 favorece	os	atores	
menores	(região,	lugar,	indivíduos,	pequenas	empresas).
O	sistema	global,	de	acordo	com	essa	teoria,	é	visto	como	
algo	 extremamente	 positivo	 e	 como	 a	 garantia	 da	 humanidade	
para	um	mundo	próspero.
Para	Paul	Kennedy,	em	sua	obra	Ascensão e queda das gran-
des potências:	transformação	econômica	e	conflito	militar	de	1500	
a	2000,	o	maior	conflito	gerado	pela	nova	ordem	mundial	é	o	au-
mento	das	disparidades	entre	os	países	do	Norte	em	relação	aos	
países	do	Sul,	problema	este	causado	pela	"nova	revolução	indus-
trial",	com	o	aumento	da	produtividade	e	o	desemprego	em	mas-
sa,	a	explosão	demográfica	e	os	perigos	para	o	meio	ambiente.
Como	exemplo,	Kennedy	(1989,	p.	342)	cita	que	a	robótica	da	
nova	revolução	industrial	é	imprópria	para	os	países	do	Sul,	pois,	com	
seu	alto	índice	demográfico,	há	a	necessidade	de	preservar	empregos	
além	da	carência	de	capitais	necessários	para	essas	inovações.	Além	
disso,	esses	avanços	na	robótica	tornam	a	força	de	trabalho	mais	ba-
rata	e	desqualificada,	características	típicas	de	países	periféricos.
© Geopolítica170
Kennedy	 (1989,	 p.	 418),	 acredita	 que	 é	 necessário	 regula-
mentar	e	dar	mais	confiabilidade	ao	sistema	global,	pois	a	globa-
lização	e	o	enfraquecimento	do	Estado	agravariam	ainda	mais	as	
desigualdades	e	tornariam	o	mundo	mais	instável.	Portanto,	seria	
necessário	um	 investimento	dos	 governos	 em	melhoria	 na	 edu-
cação,	 pesquisa	 tecnológica,	melhoria	 da	 posição	 das	mulheres,	
especialmente	nos	países	pobres,	e	em	negociações	internacionais	
mais	democráticas	e	sensíveis	à	diminuição	dessas	desigualdades.
A	 nova	 reorganização	 do	 sistema	 internacional	 daria	maior	
ênfase	às	questões	relacionadas	à	globalização,	revolução	técnico-
-científico-informacional,	formação	ou	consolidação	de	blocos	eco-
nômicos	em	detrimento	das	questões	militares.	Além	disso,	as	ques-
tões	culturais	voltavam	a	ser	variáveis	que	influenciariam	as	relações	
internacionais,	notadamente	nos	conflitos	étnicos-civilizacionais.
7. OS CHOQUES CULTURAIS ENTRE CIVILIZAÇÕES
Samuel	 P.	 Huntington,	 em	 seu	 livro	O choque das civiliza-
ções,	 publicado	 em	1994,	 criou	 um	novo	 paradigma	 geopolítico	
para	explicar	os	conflitos	do	pós-Guerra	Fria.	Para	o	teórico,	o	fim	
da	Guerra	 Fria	 e	 a	 vitória	 do	 capitalismo	 fez	 com	que	a	política	
internacional	entrasse	em	uma	nova	fase,	na	qual	eram	debatidas	
visões	 acerca	da	mesma	e	 como	esta	 seria	 a	partir	 de	então.	O	
teórico	defende	que	os	 novos	 conflitos	 na	política	 internacional	
seriam	de	ordem	cultural,	e	não	essencialmente	de	ordem	econô-
mica	e	ideológica	por	causa	da	existência	de	uma	heterogeneidade	
cultural	no	mundo.
A	política	internacional	teria	como	foco	a	interação	entre	a	
civilização	ocidental	e	a	não	ocidental.	Dessa	 forma,	Huntington	
(1994,	p.	120)	se	mostrava	contrário	à	teoria	do	"fim	da	História"	
contemplada	por	Francis	Fukuyama	em	seu	livro	O fim da História 
e o último homem	(1992),	cuja	definição	se	baseava	na	supremacia	
do	liberalismo	capitalista	no	mundo.
Claretiano - Centro Universitário
171© U6 - Teorias Geopolíticas
Huntington	(1994,	p.	121)	enfatiza	que	os	Estados	continu-
arão	a	ser	os	atores	mais	poderosos,	mas	pontua	que	os	conflitos	
ocorrerão	entre	nações	que	pertencem	às	diferentes	civilizações,	
com	a	seguinte	definição:	"[...]	o	mais	amplo	agrupamento	cultural	
de	pessoas	e	o	mais	abrangente	nível	de	identidade	cultural	que	
se	verifica	entre	os	homens".	Assim,	os	Estados	deveriam	ser	agru-
pados	de	acordo	com	a	sua	cultura	e	civilização	e	não	pelos	seus	
sistemas	político	e	econômico.
O	teórico	ainda	pontua	que	uma	civilização	pode	conter	vá-
rias	Nações-Estados,	 como	a	ocidental,	ou	apenas	uma,	 como	o	
Japão	e	a	China.	Dentre	as	civilizações,	podem	ocorrer	ainda	sub-
divisões,	como	as	variantes	europeia	e	americana	na	ocidental,	e	a	
árabe,	turca	e	malaia	na	islâmica.	Mas	todas	as	civilizações	podem	
ascender,	chegar	no	apogeu,	declinar,	fundir-se	ou	dividir-se.
Huntington	 (1994,	p.	122-124)	aponta	a	existência	de	sete	
ou	oito	civilizações	que	moldarão	o	mundo	por	meio	de	suas	in-
terações:	ocidental,	confuciana,	japonesa,	islâmica,	hindu,	eslava	
ortodoxa,	latino-americana	e,	possivelmente,	a	africana.	O	teórico	
aponta	que	os	conflitos	girarão	em	torno	das	linhas	de	cisão	que	
dividem	essas	civilizações	e	apresenta	seis	argumentos	para	fun-
damentar	essa	ideia:
1)	 As	diferenças	entre	as	civilizações	são	reais	e	fundamen-
tais	(história,	língua,	religião,	cultura,	tradição),	existem	
há	muito	tempo	e	 já	 foram	motivos	para	conflitos	que	
vão	além	das	diferenças	em	âmbito	ideológico	e	político,	
sendo	especialmente	cultural.
2)	 "O	mundo	está	ficando	menor".	Por	isso,	as	 interações	
entre	as	civilizações	(migrações,	por	exemplo)	aumenta-
rão	ainda	mais	o	potencial	de	conflito	entre	as	mesmas	
(contrasta	com	liberalismo	sociológico).
3)	 A	modernização	 econômica	 e	 a	mudança	 social	 estão	
criando	um	distanciamento	entre	pessoas	e	identidades	
locais	e,	assim,	se	assiste	a	um	processo	de	desseculari-
zação	do	mundo,	no	qual	as	bases	de	identidade	cultural	
estão	se	reforçando	cada	vez	mais	na	religião,	que	pre-
© Geopolítica172
enche	tal	distanciamento	(enfraquecimento	do	Estado-
-Nação)	por	meio	dos	movimentos	fundamentalistas.	
4)	 O	duplo	papel	do	Ocidente,	que,	por	um	lado,	está	em	
seu	auge	e,	por	outro,	assiste	a	um	processo	de	enraiza-
mento	entre	 as	 civilizações	não	ocidentais,	 reforçando	
diferenças	e	animosidades	entre	as	civilizações.
5)	 As	diferenças	de	ordem	cultural	são	menos	mutáveis	do	
que	as	de	ordem	econômica	e	política	e,	portanto,	são	
mais	difíceis	de	conciliar.
6)	 O	regionalismo	será	bem	sucedido	se	baseado	em	uma	
civilização	comum	(cultura	comum	e	fortalecimento	da	
consciência	civilizacional).
Segundo	 Huntington	 (1994,	 p.	 126),	 "[...]	 ao	 definir	 suas	
identidades	em	termos	étnicos	e	religiosos,	as	pessoas	tendem	a	
enxergar	suas	relações	com	pessoas	de	etnias	e	religiões	diferen-
tes	como	um	jogo	de	'nós'	contra	'eles'	[...]",	e	o	choque	poderia	
ocorrer	nos	seguintes	níveis:
•	 Micro:	grupos	adjacentes	ao	longo	das	linhas	de	cisão	em	
conflito.
•	 Macro:	Estados	de	diferentes	civilizações	em	conflito.
Com	o	fim	da	Guerra	Fria,	a	Cortina	de	Ferro	(divisão	políti-
ca	e	ideológica	na	Europa)	deu	lugar	à	Cortina	de	Veludo	(divisão	
cultural	na	Europa)	perante	a	qual	se	opõem	o	Cristianismo	oci-
dental,	de	um	lado,	e	o	Cristianismo	ortodoxo	e	o	Islã,	de	outro.	
Essas	 linhas	 são	 o	 berço	de	 crises	 e	 conflitos	 violentos	 entre	 as	
civilizações,	pois,	segundo	o	teórico,	ao	norte	e	oeste	da	Europa,	
habitam	povos	protestantes	ou	católicos	que	dividiram	experiên-
cias	comuns,	são	bem	sucedidos	economicamente,	democráticos	
e	berço	da	comunidade	europeia.	Já	ao	sul	e	leste,	habitam	povos	
muçulmanos	e	ortodoxos	que	pertenceram	ao	império	czarista	ou	
otomano,	menos	desenvolvidos	economicamente,	sem	governos	
democráticos	estáveis	e	não	afetados	pelos	acontecimentos	que	
moldaram	a	Europa.
Claretiano - Centro Universitário
173© U6 - Teorias Geopolíticas
Huntington	(1994,	p.130)	pontua	que	o	conflito	na	linha	de	
cisão	entre	as	civilizações	ocidental	e	islâmica	está	ativo	há	1.300	
anos,	notadamente	desde	o	período	das	Cruzadas.	Com	o	fim	da	
Segunda	 Guerra	Mundial,	 o	 teórico	 aponta	 que	 o	 Ocidente	 co-
meçou	a	recuar,	com	o	desaparecimento	de	colônias,	enquanto	o	
fundamentalismo	islâmico	ascendia.	A	necessidade	energética	do	
Ocidente	e	a	alta	dependência	do	Golfo	Pérsico	fizeram	com	que	
os	 países	muçulmanos	 se	 enriquecessem	 em	 dinheiro	 e	 armas.	
Quando	os	países	de	diferentes	civilizações	entram	em	conflito,	os	
países	de	um	mesmo	grupo	de	civilização	tendem	a	buscar	ajuda	
com	outros	países	de	mesma	civilização.	 Isso	 foi	o	que	Hunting-ton	(1994,	p.	129-130)	chamou	de	"arregimentação	civilizacional"	
e	"síndrome	dos	países	parentes",	na	qual	ocorre	a	"substituição	
da	ideologia	política	e	das	considerações	sobre	equilíbrio	de	poder	
como	base	principal	para	a	cooperação	e	coalizão",	contrastando	
com	a	escola	realista.
Para	 exemplificar	 tal	 situação,	 o	 autor	 utiliza	 a	 Guerra	 do	
Golfo,	em	que	um	país	árabe	invadiu	o	outro	(exceção	à	regra	de	
conflito	entre	civilizações	diferentes),	e	os	movimentos	fundamen-
talistas	islâmicos	apoiaram	o	Iraque,	enquanto	o	Kuwait	recebeu	
apóio	da	Arábia	Saudita	e	do	Ocidente	(é	o	Ocidente	contra	o	Ira-
que).
Segundo	 o	 teórico,	 o	mundo	 de	 conflito	 entre	 civilizações	
apresenta	critérios	duplos,	ou	seja,	o	que	vale	para	um	grupo	de	
países	parentes	não	vale	para	outro	grupo	diferente.	Como	exem-
plo,	pode-se	citar	o	conflito	da	Iugoslávia,	na	ex-União	Soviética,	e	
a	Guerra	Civil	Espanhola.	Contudo,	defende	que	os	conflitos	entre	
grupos	de	uma	mesma	civilização	são	menos	prováveis	e	menos	
intensos,	e	que	os	maiores	conflitos	serão	aqueles	entre	as	linhas	
de	cisão	(bósnios	contra	sérvios,	por	exemplo).	A	tendência	é	que	
tal	síndrome	se	intensifique.
Já	os	países	com	grande	número	de	povos	que	pertencem	
a	diferentes	civilizações	tem	forte	tendência	a	se	desintegrarem,	
© Geopolítica174
como	a	URSS	e	a	Iugoslávia.	Existem,	ainda,	países	que	apresentam	
grau	 considerável	 de	homogeneidade,	mas	nos	quais	não	existe	
consenso	interno	sobre	a	que	civilização	pertencem,	como	a	Tur-
quia,	na	qual,	geralmente,	seus	líderes	pretendem	integrar-se	ao	
Ocidente,	apesar	da	tradição	não	ocidental	preconizada	pela	elite	
e	população	em	geral.	Outro	exemplo	é	o	México,	que	passou	de	
país	 latino-americano	 a	 norte-americano.	 A	 Rússia	 se	 apresenta	
como	a	mais	dividida,	pois	pode	ser	considerada	tanto	uma	civi-
lização	ocidental	ou	civilização	eslava	ortodoxa.	o	que	resulta	em	
situações	conflituosas	ao	longo	do	seu	território.
Huntington	 (1994,	 p.	 133),	 cita	 a	 conexão	 confuciana-islâ-
mica	como	a	que	surgiu	para	desafiar	os	interesses	ocidentais.	O	
teórico	ainda	cita	que	existe	um	nível	de	dificuldade	variante	para	
que	países	não	ocidentais	se	juntem	aos	ocidentais.	Para	os	latino-
-americanos,	 essa	dificuldade	é	menor,	 o	que	não	é	 válido	para	
as	sociedades	muçulmanas	 (a	França	não	conseguiu	 implantar	o	
ocidentalismo	na	Argélia,	um	país	muçulmano,	por	exemplo).
Com	 o	 objetivo	 de	 concorrer	 com	 o	 Ocidente,	 países	 não	
ocidentais,	 como	 a	 China	 e	 Coreia	 do	 Norte,	 desenvolvem	 sua	
capacidade	militar	por	meio	de	importação	de	armas	do	próprio	
Ocidente	e	do	não	Ocidente	ou	desenvolvem	a	sua	indústria	bé-
lica	"	armas	nucleares	e	biológicas	também	são	reclamadas	como	
direito	para	os	não	ocidentais	(o	objetivo	da	conexão	confuciana-
-islâmica	é	o	armamento).
Os	desafios	do	pós-Guerra	Fria	são	controlar	o	armamento	
do	não	ocidente	e	garantir	que	os	interesses	ocidentais	não	sejam	
ameaçados	por	meio	dos	acordos	internacionais,	pressão	econô-
mica	e	controle	de	transferência	de	armas	e	tecnologia	bélica.
O	 potencial	 conflito	 –	 predominantemente	 de	 caráter	 cul-
tural	–	que	pode	existir	entre	as	 linhas	de	cisão	das	civilizações,	
juntamente	 com	o	 aumento	da	 consciência	 civilizacional,	 coloca	
tal	potencial	cada	vez	mais	iminente.	As	civilizações	não	ocidentais	
serão	 agentes	 das	 Relações	 Internacionais,	 não	 apenas	 objetos.	
Claretiano - Centro Universitário
175© U6 - Teorias Geopolíticas
Dessa	forma,	o	globo	cada	vez	mais	é	ameaçado	pelo	potencial	de	
guerras	globais	que	se	justificam	nas	fundamentais	e	reais	diferen-
ças	entre	as	civilizações.
As	relações	serão	basicamente	divididas	entre	o	"Ocidente	
e	o	resto".	Perante	esses	fatos,	o	teórico	faz	algumas	recomenda-
ções	necessárias	para	que	o	Ocidente	mantenha	sua	supremacia:	
combater	o	armamento	dos	países	não	ocidentais,	reforçar	sua	ci-
vilização,	moderar	a	diminuição	de	seu	poderio	militar,	apoiar	gru-
pos	que	demonstrem	simpatia	pelos	valores	ocidentais,	fazer	um	
estudo	antropológico	das	outras	civilizações,	manter	seu	poderio	
militar	 e	 econômico,	 conciliar	modernidade	 com	 tradição,	 entre	
outras.	 E	aponta,	 também,	a	 importância	dos	Estados	Nacionais	
no	sistema	internacional,	que	são	movidos,	segundo	a	perspectiva	
realista,	pela	busca	dos	seus	 interesses	nacionais,	como	poder	e	
recursos.
No	que	tange	à	questão	da	nova	ordem	mundial	multipolar	
e	multicivilizacional,	além	dos	agrupamentos	mais	importantes	de	
Estados,	que	são	as	sete	ou	oito	grandes	civilizações	que	existem	
no	globo,	o	teórico	também	apresenta	os	conflitos	ocorridos	intra-
civilizações,	devido	à	sua	importância	em	nível	regional.	Todavia,	
aponta	que	os	choques	na	Bósnia,	por	exemplo,	são	mais	perigo-
sos	e	possuem	repercussão	global.
O	conceito	de	"Estado-núcleo	de	uma	civilização"	seria	con-
siderado	como	característica	da	nova	configuração	da	Geopolítica	
"	"novas	geopolíticas"	"	que	difere	da	Geopolítica	Clássica,	que	é	
basicamente	fundamentada	por	meio	dos	pressupostos	militares	e	
expansionistas	das	superpotências	da	Guerra	Fria	e	das	chamadas	
guerras	clássicas.
Nesse	sentido,	Huntington	 (1994,	p.	137),	atribui	aos	Esta-
dos-núcleos	 a	 função	 de	 "chefiar"	 cada	 bloco	 civilizacional	 per-
tencente.	Os	mesmos	teriam	o	papel	de	mediadores	nos	conflitos	
mundiais	e,	dessa	forma,	seriam	fundamentais	para	a	manutenção	
da	paz	mundial.	As	civilizações	 latino-americana	e	africana	care-
© Geopolítica176
ceriam	de	 um	 Estado-núcleo,	mas	 não	 enfrentam	 conflitos	 com	
outras	civilizações,	com	exceção	do	conflito	africano	para	evitar	a	
expansão	do	Islamismo	no	continente.	Tais	civilizações	são	consi-
deradas	frágeis	e	tendem	a	se	apoiar	no	Ocidente.	E,	como	a	paz	
mundial	 estaria	 ameaçada	não	por	questões	econômicas	ou	 co-
merciais,	mas	sim,	por	choques	entre	as	civilizações,	a	Europa	e	
os	Estados	Unidos	deveriam	se	unir	para	não	serem	"destruídos".
Huntington	(1994,	p.	138),	não	acredita	na	expansão	da	de-
mocracia	para	outras	 civilizações,	 então	 argumenta	que	 a	OTAN	
(Organização	do	Tratado	do	Atlântico	Norte)	e	os	Estados	Unidos	
não	deveriam	se	envolver	em	conflitos	de	outras	civilizações	("re-
gra	de	abstenção").	Os	Estados-núcleos	teriam	a	responsabilidade	
de	estabelecer	negociações	entre	si	no	intuito	de	evitar	guerras.
A	principal	crítica	da	teoria	Realpolitik culturalista	do	respei-
tado	teórico	tange	a	questão	dos	direitos	humanos,	pois	os	Esta-
dos	Unidos	representariam	uma	legitimação	das	desconsiderações	
pelos	direitos	humanos	e	o	abandono	de	qualquer	universalismo	e	
uma	espécie	de	divisão	do	mundo	entre	os	Estados-núcleos,	visto	
que	poderiam	fazer	o	que	quisessem	em	suas	zonas	de	influência.
8. O DISCURSO DA DEMOCRACIA LIBERAL OCIDEN-
TAL E SUAS IMPLICAÇÕES
Francis	 Fukuyama,	 em	 seu	 artigo	 de	 1989	The end of His-
tory?, provocou	uma	grande	discussão	geopolítica	no	que	se	re-
fere	ao	novo	reordenamento	do	sistema	internacional	em	relação	
à	nova	ordem	mundial	que	despontava	no	pós-Guerra	Fria,	pois,	
ao	utilizar	o	termo	"O	fim	da	História?",	não	se	refere	ao	fim	dos	
eventos	históricos,	como	os	conflitos,	mas	sim	à	chegada	ao	seu	
"destino	teleológico",	que	representaria	o	estágio	final	da	huma-
nidade	nos	moldes	da	democracia	liberal,	que	se	tornara	a	única	
alternativa	política	após	o	fracasso	do	projeto	comunista.
Segundo	o	teórico	Fukuyama	(1992):
Claretiano - Centro Universitário
177© U6 - Teorias Geopolíticas
[...]	a	história	da	humanidade	consistiria	numa	progressão	de	eta-
pas	ou	estágios	"	as	comunidades	primitivas,	as	sociedades	tribais,	
o	escravagismo,	as	teocracias	etc.	"	até	chegar	à	fase	democrática-
-igualitária	[...]	(VESENTINI,	2004,	p.	64).
A	 visão	 idealista	de	Fukuyama,	anteriormente	 já	 apontada	
por	Hegel	em	1806	em	um	contexto	de	ideais	revolucionáriosba-
seados	nas	Revoluções	Francesa	e	Americana,	tem	sido	desafiada,	
assim	como	fora	Hegel,	por	uma	visão	materialista	impregnada	pe-
las	forças	produtivas	ou	materiais	da	humanidade	que	desempe-
nhariam	um	papel	importante	na	evolução	histórica.
A	democracia	 liberal	 ainda	 teria	que	 lidar	 com	duas	ques-
tões:	o	 fundamentalismo	 religioso	e	o	nacionalismo.	O	primeiro	
seria	representado	pela	possibilidade	do	estabelecimento	de	um	
Estado	teocrático	e	o	segundo	seria	influenciado	por	uma	consci-
ência	étnica,	mas	não	totalmente	incompatível	com	os	preceitos	
democráticos	liberais.
As	relações	de	poder	no	sistema	internacional	seriam	mar-
cadas	pela	progressiva	uniformização	dos	regimes	políticos	e	eco-
nômicos	por	meio	da	expansão	do	 liberalismo	e	da	evolução	do	
capitalismo,	porém	poderia	haver	problemas	ligados	ao	passado,	
trazendo	à	tona	o	calculismo,	competição	e	conflito.
Outro	ponto	importante	da	visão	do	teórico	é	o	fato	de	que	
um	mundo	composto	por	democracias	liberais	estaria	menos	su-
jeito	a	guerrear.	No	entanto,	problemas	relacionados	à	criminali-
dade,	ao	declínio	das	relações	familiares,	ao	aumento	da	descon-
fiança,	 à	 cultura	 individualista,	 à	 falta	de	 respeito	 às	 regras,	 e	 à	
desordem	social	poderiam	ameaçar	a	manutenção/expansão	do	
capital	social	e	da	democracia	liberal.
No	que	se	refere	às	discussões	geopolíticas,	o	teórico	era	for-
temente	influenciado	pela	visão	norte-americana	de	mundo,	pois	
ocupava	cargo	no	Departamento	de	Estado	em	Washington.	Seu	
discurso	estava	fortemente	condicionado	pelos	princípios	do	go-
verno	de	George	Bush	(nova	ordem	mundial,	cooperação	interna-
cional,	não	agressão,	final	da	ameaça	terrorista	e	justiça).
© Geopolítica178
Tais	princípios	fizeram	com	que	os	Estados	Unidos	assumis-
sem	 uma	 postura	 intervencionista	 em	 países	 que	 julgavam	 não	
compartilhar	desses	pressupostos	e	usassem	a	promoção	da	paz	
e	defesa	dos	direitos	humanos	como	forma	de	legitimar	sua	ação	
intervencionista,	rompendo	com	um	dos	postulados	westfalianos.
No	entanto,	ao	mesmo	tempo	em	que	os	direitos	humanos	
se	universalizam	de	diferentes	formas	pelo	mundo,	o	modelo	de-
mocrático	ocidental	é	ameaçado	pelos	processos	da	globalização	e	
pelo	enfraquecimento	dos	Estados	Nacionais.	Os	chamados	"pro-
blemas	sem	passaporte"	abarcam	questões	que	permeiam	desde	
as	questões	econômicas	até	as	ambientais	e	vão	erodindo	as	bases	
da	democracia,	uma	vez	que	as	forças	de	outros	atores	internacio-
nais,	como	as	empresas	multinacionais,	não	levam	em	conta,	na	
maioria	das	vezes,	a	participação	da	sociedade	que	sofre	com	as	
externalidades	causadas	pelas	atividades	desses	atores.
Outra	questão	se	 refere	à	noção	de	 localidade	que	muitas	
sociedades	possuem,	como	no	caso	das	tribos	africanas,	fazendo	
com	que	esses	grupos	não	sejam	diretamente	ou	 indiretamente	
afetados	pelos	preceitos	democráticos	liberais.	Segundo	Vesentini	
(2004,	p.	70),	os	direitos	do	homem	"[...]	se	redefinem,	se	recriam,	
incorporando	novos	atores	e	novas	demandas,	alargando	continu-
amente	a	noção	de	democracia".
Vale	 relembrar	 que	 o	 período	 da	 Guerra	 Fria	 foi	marcado	
pelo	congelamento	do	Conselho	de	Segurança,	sendo	que	as	inter-
venções	da	ONU	nesse	período	foram	praticamente	interrompidas	
devido	à	disputa	das	duas	superpotências	que	são,	até	os	dias	atu-
ais,	membros	permanentes	do	Conselho	de	Segurança.	No	entan-
to,	com	o	fim	do	conflito	bipolar,	a	década	de	1990	assistiu	a	um	
aumento	tanto	nos	conflitos	intraestatais	como	nas	intervenções	
praticadas	pela	Organização	das	Nações	Unidas	no	intuito	de	rees-
tabelecer	a	ordem	por	meio	dos	preceitos	democráticos	e	liberais,	
como	foi	discutido	anteriormente.
Claretiano - Centro Universitário
179© U6 - Teorias Geopolíticas
No	que	se	refere	aos	princípios	democráticos	liberais,	Visen-
tini	(2004,	p.	72)	aponta	que:
A	apologia	da	democracia	 liberal	e	do	enfraquecimento	da	sobe-
rania	nacional	em	prol	dos	direitos	humanos,	apesar	de	encerrar	
um	aspecto	positivo	(o	ideal	da	democracia	sendo	operacionalizada	
também	nas	relações	 internacionais),	na	realidade	generaliza	de-
mais	e	cai	num	otimismo	infundado.	Os	arautos	dessa	visão	ima-
ginam	que	a	democracia	está	em	expansão	pelo	mundo	afora,	que	
um	Estado	democrático	 tem	uma	política	externa	democrática	e	
que	uma	vez	atingido	o	estágio	da	democracia	não	existe	mais	vol-
ta.	Ora,	infelizmente	todos	esses	pressupostos	são	questionáveis.
Dessa	forma,	pode-se	afirmar	que	não	há	garantias	quanto	à	con-
tinuidade	dos	regimes	democráticos.	Além	do	mais,	a	ideia	de	que	a	
democracia	está	se	espalhando	pelo	mundo,	apesar	de	ser	considerada	
como	parcialmente	verdadeira,	pode	ser	discutida.	O	fato	de	eleições	
elegerem	governantes	que	garantam	o	livre	mercado	não	pode	ser	con-
siderado	suficiente	para	garantir	a	democracia.	Tal	situação	se	deve	ao	
fato	de	que	a	cultura	democrática,	caracterizada	especialmente	pelos	
valores	 igualitários,	nem	sempre	se	 faz	presente	em	sociedades	que	
aparentemente	são	baseadas	em	princípios	democráticos.
Na	América	 Latina,	 por	 exemplo,	 o	 fim	das	 ditaduras	mili-
tares	não	garantiu	necessariamente	a	implementação	de	um	go-
verno	dito	democrático,	devido	à	permanência	de	questões	que	
desfiguram	 os	 preceitos	 democráticos,	 como	 a	 permanência	 de	
uma	cultura	patrimonialista	que	não	separa	o	público	do	privado	
e	favorece	a	corrupção,	desvalorizando	as	relações	de	trabalho	e	
educação,	e	um	corporativismo	que	não	reconhece	devidamente	
o	cidadão,	gerando	profundas	desigualdades	sociais	que	são	cada	
vez	mais	intensificadas	pelos	preceitos	do	liberalismo	econômico.
Nesse	contexto,	pode-se	 inferir	que	a	construção/perpetuação	
da	democracia	está	acontecendo	e	sendo	feita	pelos	Estados	Nacionais	
de	forma	mais	significativa,	mas	também	outros	atores	internacionais	
participam	desse	processo,	conforme	afirma	Vesentini	(2004,	p.	74):
As	organizações	que	se	preocupam	com	a	atuação	internacional	de	
seus	governos	e	de	suas	empresas,	que	se	denunciam	desrespeitos	
aos	direitos	humanos	ou	agressões	ambientais	no	exterior,	consti-
tuem	talvez	o	embrião	dessa	nova	consciência	democrática.
© Geopolítica180
Finalmente,	as	intervenções	em	Estados	considerados	como	
fracos	ou	 falidos,	 sob	o	pretexto	 de	defender	 os	 reprimidos,	 le-
vam	consigo,	muitas	das	vezes,	interesses	econômicos,	políticos	e	
geoestratégicos.	Nem	sempre	as	políticas	interna	e	externa	de	um	
Estado	 são	condizentes.	 Frequentemente,	países	ditos	democrá-
ticos	no	âmbito	de	sua	política	 interna	agem	de	forma	contrária	
na	busca	pelos	seus	interesses,	financiando	e	apoiando	governos	
totalitários,	 como	é	o	caso	dos	Estados	Unidos	da	América	que,	
por	muitas	vezes,	promoveu	golpes	militares	na	América	Latina	em	
prol	da	implantação	da	ideologia	capitalista,	liberal	e	democrática	
em	um	contexto	de	embate	ideológico	entre	o	capitalismo	estadu-
nidense	e	o	socialismo	soviético.
Desse	modo,	dada	a	globalização	e	a	consequente	intercone-
xão	tanto	dos	Estados	como	dos	problemas	do	sistema	internacio-
nal,	faz-se	necessário	a	construção	de	um	"sistema	internacional	
de	regras"	para	a	coexistência	democrática	entre	os	povos.	Consi-
derando	a	anarquia	do	sistema	internacional,	aponta-se	a	necessi-
dade	de	uma	instituição	que	garantisse	tal	sistema	de	regras.
No	 entanto,	 essa	 instituição	 não	 deveria	 ser	 representada	
primordialmente	por	uma	potência	militar	e	sim	por	um	organismo	
internacional	 legítimo	 que	 incluísse	 especialmente	 organizações	
não	governamentais,	dado	o	seu	envolvimento	visível	com	ques-
tões	que	 tocam	os	direitos	humanos,	por	exemplo,	ao	 trabalhar	
diretamente	com	a	sociedade	civil.	Vale	ressaltar	que	tais	menções	
ainda	estão	no	plano	do	idealismo,	mas	são	temas	considerados	
como	variantes	das	novas	geopolíticas,	e	que	contribuem	para	a	
construção	do	pensamento	geopolítico	contemporâneo.9. GEOPOLÍTICA DA ÁGUA
Os	recursos	hídricos	são	preponderantes	para	as	discussões	
envolvendo	poder,	conflito	e	cooperação	nas	Relações	Internacio-
nais.	A	disponibilidade	e	a	distribuição	de	tais	recursos	podem	le-
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181© U6 - Teorias Geopolíticas
var	países	e	comunidades	ao	conflito	e	buscarem	a	satisfação	de	
suas	necessidades,	uma	vez	que	tais	recursos	são	de	vital	impor-
tância	tanto	para	a	manutenção	da	vida	quanto	para	o	funciona-
mento	das	sociedades	em	geral.	Dessa	forma,	pode-se	afirmar	que	
a	disponibilidade	dos	recursos	hídricos	influencia	diretamente	as	
possibilidades	econômicas,	políticas	e	sociais	de	um	Estado.	Nesse	
sentido,	Raffestin	(1993,	p.	251)	aponta	que:
Hoje	o	petróleo,	amanhã	o	trigo.	Quem	sabe?	Todos	os	recursos	
são	ou	podem	ser	instrumentos	de	poder.	Se	é	verdade	que	certos	
recursos	"	conforme	a	sua	capacidade	de	satisfazer	as	necessida-
des	fundamentais	"	manifestam	uma	grande	permanência	no	papel	
que	podem	desempenhar,	eles	não	deixam	de	se	ligar	ao	contexto	
sócio-econômico	e	 sócio-político	quanto	à	 sua	 significação	 como	
instrumento	de	poder.
O	contexto	de	escassez	hídrica,	seja	esta	física	(quando	di-
tada	pela	natureza)	ou	econômica	(quando	não	há	recursos	eco-
nômicos	 suficientes	para	prover	o	acesso	digno	aos	 recursos	hí-
dricos),	 vem	 sendo	 cada	 vez	 mais	 apontado	 por	 estudiosos	 de	
Geografia,	Relações	Internacionais	e	Ciência	Política	como	o	cau-
sador	das	guerras	do	século	21.	Assim,	algumas	bacias	hidrográ-
ficas	no	mundo	têm	sido	identificadas	como	potenciais	fontes	de	
conflito,	notadamente	devido	à	distribuição	desigual	dos	recursos	
hídricos	transfronteiriços	que	são	diretamente	afetados	pela	divi-
são	política	dos	Estados	Nacionais.
Observe	o	mapa	da	Figura	2:	70%	do	planeta	Terra	é	compos-
to	por	água,	e	apenas	2,5%	desse	total	é	considerado	água	doce.	
No	entanto,	apenas	0,26%	desse	total	é	considerado	como	acessí-
vel	em	rios,	lagos	e	aquíferos	de	fácil	acesso.
© Geopolítica182
Figura	2	A distribuição política da água.
Os	possíveis	conflitos	que	podem	se	desenvolver	em	torno	
das	bacias	hidrográficas	apontadas	anteriormente	podem	ser	en-
quadrados	no	contexto	das	chamadas	novas	guerras	e	das	discus-
sões	envolvendo	as	novas	geopolíticas,	uma	vez	que	podem	acon-
tecer	dentro	dos	 territórios	nacionais	 (intraestatais),	envolvendo	
grupos	mobilizados	por	etnia,	raça	ou	religião,	assim	como	diver-
sos	atores	internacionais.
De	acordo	com	Homer-Dixon	(1999	apud	LOPES,	2009,	p.	83-
84),	os	conflitos	envolvendo	o	chamado	estresse	hídrico	não	são	cau-
sados	diretamente	pela	escassez	ou	má	distribuição	dos	recursos	hí-
dricos,	mas	sim	pelas	consequências	sociais,	políticas	e	econômicas	
advindas	de	tal	situação,	como	pobreza,	migrações	e	queda	da	pro-
dução	econômica,	uma	vez	que	os	processos	produtivos	estão	direta-
mente	relacionados	à	disponibilidade	energética	de	um	Estado.
Tal	situação	de	escassez	pode	levar	a	conflitos,	caso	o	apa-
rato	político-institucional	seja	afetado	de	forma	drástica.	É	impor-
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183© U6 - Teorias Geopolíticas
tante	evidenciar,	ainda,	que	o	teórico	pontua	que	tais	conflitos	se	
concentram	em	escala	nacional,	mas	não	descarta	a	possibilidade	
de	transcenderem	as	fronteiras	nacionais.	A	água	é	um	insumo	es-
sencial	para	a	manutenção	da	vida	dos	seres	vivos,	pois
Ela	integra	padrões	e	sistemas	produtivos	de	diversos	segmentos	
da	economia,	além	de	fazer	parte	do	dia-a-dia	dos	mais	de	6	bi-
lhões	de	seres	humanos	da	Terra	e	de	diversas	outras	formas	de	
vida.	 Por	 isso	 é	 fundamental	 sua	manutenção	 em	 condições	 de	
aproveitamento	(RIBEIRO,	2008,	p.	32).
A	Figura	3	aponta	as	bacias	hidrográficas	localizadas	nas	re-
giões	do	mundo	que	podem	servir	 de	motivação	para	 conflitos,	
justamente	pelas	questões	descritas	anteriormente.
Fonte:	Wolf,	Yoffe	e	Giordano	(2003	apud	LOPES,	2009,	p.	82).
Figura	3	Bacias hidrográficas em risco.
Dessa	forma,	o	acesso	aos	recursos	hídricos	pode	ser	consi-
derado	um	fator	determinante	para	a	chamada	segurança	ambien-
tal,	especialmente	em	casos	de	escassez	e/ou	utilização	destes	por	
mais	de	uma	nação,	como	os	rios	transfronteiriços.
A	água	possui	duas	perspectivas	que	são	diretamente	ligadas	
à	questão	da	segurança	ambiental:	pode	ser	fonte	de	conflitos	e	
ameaça	à	reprodução	da	vida.	Assim,	pode-se	considerar	o	aces-
so	à	água	como	uma	temática	 intimamente	 ligada	à	distribuição	
© Geopolítica184
política	desse	recurso	natural,	uma	vez	que	os	cursos	d'água	atra-
vessam	ou	delimitam	as	fronteiras	das	nações	soberanas,	eviden-
ciando-se	a	relação	entre	território	e	poder,	uma	vez	que	tal	distri-
buição	política	é	feita	de	forma	desigual,	fazendo	com	que	certos	
Estados	tenham	uma	maior	abundância	hídrica	que	outros.
Ribeiro	(2008,	p.	13)	faz	referência	a	pontos	importantes	que	
tocam	a	questão	dos	recursos	hídricos,	na	qual
Verifica-se	uma	crise	de	governança	em	relação	à	sua	gestão,	e	a	
necessidade	de	gerenciá-los	de	forma	mais	eficiente,	englobando	
tanto	a	recuperação	de	sua	qualidade	e	quantidade,	como	sua	dis-
tribuição	justa	e	equitativa.
De	acordo	com	o	relatório	Water for People,	Water for Life	
(UNESCO	&	WWAP,	2003,	p.	25,	tradução	nossa):
Equidade	e	gerenciamento	sustentável	para	a	divisão	dos	recursos	
hídricos	demandam	flexibilidade,	instituições	holísticas	capazes	de	
responder	às	variações	hidrológicas,	às	mudanças	nas	necessida-
des	socioeconômicas,	valores	societais,	e,	particularmente	no	caso	
dos	cursos	d'águas	internacionais,	mudanças	nos	regimes	políticos.
Dada	essa	significativa	acepção,	pode-se	ressaltar	a	neces-
sidade	 de	 criar	 mecanismos	 que	 contribuam	 para	 uma	 gestão	
mais	eficiente	dos	recursos	hídricos	em	países	que	possuem	rios	
transfronteiriços,	como	ocorre	no	caso	em	que	bacias	hidrográfi-
cas,	como	a	do	Rio	Amazonas,	se	situam	em	diferentes	territórios	
nacionais.	Assim,	destaca-se	a	necessidade	da	promoção	e	da	co-
operação	entre	esses	países	para	que	regimes	 internacionais	 re-
lacionados	à	gestão	conjunta	dos	recursos	hídricos	sejam	criados	
e,	assim,	padrões	de	comportamento	sejam	estabelecidos.	Nesse	
sentido,	Ribeiro	(2008,	p.	129)	aponta	que:
[...]	A	água	deve	ser	analisada	na	perspectiva	de	sua	distribuição	
política	e	não	na	natural,	porque	o	sistema	interestatal	atua	com	
base	na	soberania,	determinando	aos	países	o	direito	de	definirem	
o	uso	dos	seus	recursos	naturais,	incluindo	os	hídricos.
No	tocante	às	novas	geopolíticas	e	ao	seu	enfoque	nas	ques-
tões	econômicas,	pode-se	afirmar	que	a	ausência	de	uma	conven-
ção	internacional	sobre	o	acesso	aos	recursos	hídricos	faz	com	que	
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185© U6 - Teorias Geopolíticas
grupos	transnacionais	atendam	seus	 interesses	ao	enxergarem	a	
água	como	uma	fonte	de	lucros.
A	heterogeneidade	do	 sistema	 internacional	no	que	se	 re-
fere	aos	interesses	dos	Estados	Nacionais,	assim	como	às	capaci-
dades	econômica	e	militar,	 faz	com	que	países	como	os	Estados	
Unidos	possam	empreender	sua	capacidade	militar	na	busca	por	
recursos	hídricos	que,	em	sua	maioria,	se	situam	em	países	que	
não	possuem	tais	capacidades,	como	o	Brasil,	que	abriga	grande	
parte	da	bacia	amazônica.
A	América	Latina	abriga	uma	parte	significativa	dos	recursos	
hídricos	do	mundo.	No	entanto,	a	falta	d'água	que	se	faz	presen-
te	em	muitos	dos	países	latino-americanos,	causada	pela	má	ad-
ministração	do	poder	público,	faz	com	que	as	iniciativas	privadas	
estrangeiras	interfiram	na	questão	por	meio	da	privatização,	con-
texto	que	se	caracteriza	pela	ingerência	nos	assuntos	internos	de	
um	Estado	e	traz	externalidades	que	afetam	a	sociedade	como	um	
todo,	como	no	caso	de	Cochabamba	na	Bolívia,	em	que	a	popula-
ção	se	mobilizou	contra	os	preços	abusivos	cobrados	pela	empresa	
norte-americana	Bechtel.
Em	outras	áreasdo	globo,	a	relação	entre	conflito	e	recursos	
hídricos	se	 faz	presente,	como	no	caso	de	 Israel	e	Palestina,	em	
que	o	primeiro	país	determina	o	consumo	de	água	do	segundo.	
Segundo	Ribeiro	(2008,	p.	133),
O	controle	do	fornecimento	de	água	como	pressão	política	é	uma	
das	variáveis	a	ser	ponderada	no	sistema	internacional	de	gestão	
dos	 recursos	 hídricos.	 Os	 países	 detentores	 das	 nascentes	 estão	
em	vantagem	com	os	que	seguem	à	jusante,	pois,	além	de	usarem	
como	bem	lhes	aprouverem	os	recursos	hídricos,	podem	regular	o	
fornecimento	dos	demais.
Diante	 dos	 debates	 apresentados	 ao	 longo	 da	 unidade,	
pode-se	perceber	que	novas/velhas	 temáticas	estão	permeando	
a	Geopolítica	 na	 contemporaneidade,	 de	modo	que	 evidencia	 a	
importância	 da	multiplicidade	 dos	 atores	 (indivíduos,	 empresas,	
ONGs,	OIs	e	Estados),	os	recursos	fundamentais	para	o	desenvol-
© Geopolítica186
vimento	social	e	econômico	atrelados	diretamente	ao	território,	e	
as	questões	ideológicas	e	culturais	ampliando	a	complexidade	das	
análises	geopolíticas.
10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira,	a	seguir,	as	questões	propostas	para	verificar	o	seu	
desempenho	no	estudo	desta	unidade:
1)	 Reflita	sobre	os	motivos	que	levaram	ao	declínio	do	pensamento	geopolítico	
clássico.
2)	 A	nova	reorganização	do	sistema	internacional	daria	maior	ênfase	às	questões	
relacionadas	 à	 globalização,	 à	 revolução	 técnico-científico-informacional,	 à	
formação	ou	consolidação	de	blocos	econômicos	em	detrimento	das	questões	
militares.	Nesse	sentido,	reflita	sobre	o	contexto	de	transição	presente	no	final	
da	década	de	1980	e	início	da	década	de	1990.
3)	 Aponte	e	exemplifique	o	que	é	a	chamada	segurança	humana	e	em	que	con-
texto	a	mesma	surgiu,	incluindo	ainda	em	sua	resposta	a	questão	das	cha-
madas	novas	guerras.
4)	 As	disputas	mundiais	de	poder	são	essencialmente	econômicas?	Reflita	tal	
questão	referenciando	os	teóricos	apontados	ao	longo	da	unidade.
5)	 Reflita	a	importância	dos	blocos	econômicos	no	contexto	das	novas	geopo-
líticas.
6)	 Reflita	sobre	a	ideia	de	sistema-mundo	de	Immanuel	Wallerstein.
7)	 "Globalização"	e	"descentralização"	são	sinônimos?
8)	 As	disparidades	Norte-Sul	podem	levar	a	conflitos?
9)	 Os	choques	culturais	marcarão	o	século	21?	Reflita	tal	questão	com	base	no	
que	foi	apresentado	sobre	a	teoria	de	Huntington.
10)	A	democracia	liberal	tende	a	dominar	o	mundo?	Reflita	tal	questão	de	acor-
do	com	o	que	foi	apresentado	sobre	a	teoria	de	Fukuyama.
11)	A	democracia	e	os	direitos	humanos	são	universais?
12)	A	ONU	ou	as	grandes	potências	têm	o	direito	de	intervir	nos	diversos	recan-
tos	do	planeta?
Claretiano - Centro Universitário
187© U6 - Teorias Geopolíticas
13)	Por	que	as	discussões	geopolíticas	ligadas	às	questões	que	envolvem	recur-
sos	hídricos	dão	maior	ênfase	à	divisão	política	do	que	à	divisão	natural	des-
ses	recursos?
14)	Quais	são	as	possíveis	razões	que	podem	levar	Estados	ou	comunidades	ao	
conflito	por	conta	do	acesso	aos	recursos	hídricos?
11. E-REFERÊNCIAS
Figura
Figura 2	A distribuição política da água.	Disponível	em:	<http://www.fao.org/nr/water/
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