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SISTEMA DE PRODUÇÃO DE BENS E SERVIÇOS AULA 1 Prof. Gil Fábio de Souza 2 CONVERSA INICIAL Seja bem-vindo à disciplina de Sistema de Produção de Bens e Serviços! Esta é uma das mais importantes áreas no campo da gestão, e é a base para todo o processo de formalização de uma empresa. Antes de iniciarmos esta aula, vamos verificar os principais temas que nos acompanharão durante o desenvolvimento de nosso processo de ensino e aprendizagem. Os temas que abordaremos têm a seguinte organização: 1. Introdução e contexto; 2. Evolução histórica; 3. O modelo de transformação; 4. Bens e serviços; 5. Funções dos sistemas de produção de bens e serviços. Com base nestes tópicos, teremos uma visão geral dos sistemas de produção, de seus conceitos fundamentais e de sua evolução. Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: Ter uma visão geral dos sistemas de produção; Compreender a interdependência da tríade: marketing, produção e finanças; Entender a importância das atividades de planejamento e controle, com foco na produção; Ter uma visão da necessidade de unir a produção à demanda. Bom estudo! CONTEXTUALIZANDO Antes de iniciarmos nossas atividades, gostaríamos de sugerir um filme. A ideia é confrontarmos a visão tradicional de produção em massa – opressora – à visão filosófica da importância do ser humano como elemento final, e principal beneficiado desse sistema. O filme é Tempos Modernos, de Charles Chaplin. Um clássico lançado em 1936 que, apesar de sua antiguidade, nunca pareceu 3 tão atual. Preste atenção ao contexto social dos processos produtivos mostrados no filme, e à ironia de seu título. Embora tradicionalmente a gestão da produção tivesse como objeto de estudo os setores produtivos das empresas industriais, atualmente muitas de suas técnicas vêm sendo aplicadas a organizações do setor de serviços, como bancos, escolas, hospitais etc. Por natureza, a gestão da produção (e operações) é o estudo de técnicas e conceitos aplicáveis à tomada de decisões nas funções de produção (empresas industriais) e operações (empresas de serviços). Os conceitos e técnicas que fazem parte do objetivo da gestão da produção dizem respeito às funções administrativas clássicas (planejamento, programação e controle) aplicadas às atividades envolvidas com a produção física de um produto ou à prestação de um serviço. PESQUISE Antes de iniciar o próximo tema, leia, na página 14 da revista Controle e Instrumentação, o artigo “A Indústria 4.0 e a ISA”, sobre os impactos da tecnologia na indústria, um movimento que está sendo chamado de indústria 4.0. Para ler, acesse: <https://issuu.com/editora_valete/docs/ci217>. TEMA 1 – INTRODUÇÃO E CONTEXTO A Administração da Produção e Operações ou Administração da Produção de Bens e Serviços lida com processos que produzem bens materiais e serviços. Processos são atividades fundamentais que as organizações usam para realizar tarefas e atingir suas metas (Ritzman, 2004). A conceituação de sistemas produtivos abrange tanto a produção de bens como a de serviços. A eficiência de qualquer sistema produtivo depende da forma como os problemas são resolvidos, ou seja, do planejamento, programação e controle do sistema. Segundo o Dicionário Aurélio (1999, p. 1643), produção é o “ato ou efeito de criar, gerar, elaborar, realizar [...] aquilo que é produzido pelo homem, e, especialmente, por seu trabalho associado ao capital e à técnica [...]. O volume da produção de um indivíduo ou de um grupo, levando-se em consideração fatores circunstanciais, como tempo, qualidade, procura, etc.”. 4 Gestão da produção “É o termo usado pelas atividades, decisões e responsabilidades dos gerentes de produção que administram a produção e a entrega de produtos e serviços”. “É uma das funções centrais de qualquer negócio”. (Slack, Chambers e Johnston, 1997) As empresas de bens ou serviços que não adaptarem seus sistemas produtivos para a melhora contínua da produtividade não terão espaço no mundo competitivo atual. À semelhança dos seres vivos, pode-se dizer que as empresas são organismos com vida própria, em constante transformação, sujeitas às leis do mercado. Quanto mais livre e dinâmico este mercado for, mais forte e resistente essas empresas serão, pois terão de conviver diariamente com oportunidades e ameaças ao seu desempenho produtivo (Tubino, 2009). É importante lembrar e atentar para as questões sociais sempre, tal como confrontadas com os sistemas de produção – principalmente a manufatura de bens. O contexto social-humanístico nunca pode deixar de ser considerado em qualquer atividade do ser humano, seja este em seu nível mais fundamental, seja naqueles níveis de elevada necessidade de capacitação intelectual e/ou tecnológica. No entanto, essa afirmação parece não ser tão lembrada quando nos embrenhamos em nossas atividades profissionais diárias, principalmente em se tratando das relações no trabalho e suas derivações. Não são raros os estudos a respeito de distúrbios sociais causados pela constante chamada à necessidade de evolução, de aumento de produtividade ou de capacitação profissional, uma lista que parece não terminar, já que são tantas as urgências de nosso tempo. Enquanto isso, uma grande parcela da sociedade continua marginalizada, à mercê dos altos ganhos gerados por essa mesma evolução, que se mostra completamente desigual em suas várias direções: o acesso às riquezas produzidas pela “máxima da produtividade” mostra-se ainda incapaz de chegar a todos os setores da sociedade. Um grande exemplo deve ser lembrado: a maior potência industrial mundial, os Estados Unidos da América, que consegue consumir cerca de um quarto de todos os recursos naturais do planeta, deixando o restante para ser dividido pelo resto do mundo. Vamos trabalhar, então, para que o aumento da produtividade sirva para diminuir a desigualdade social. Faz-se necessário observar também se os ambientes envolvidos em todo o conjunto da produtividade têm possibilidades de oferecer as melhores 5 condições de produção para todos os envolvidos e, nesse contexto, estão envolvidos os ambientes interno e externo à organização. No ambiente interno, faz-se necessário analisar se há tecnologias, finanças, marketing, suprimentos e principalmente pessoas para gerar os melhores produtos e/ou serviços. No ambiente externo, é preciso analisar os fornecedores, o governo, a concorrência, os consumidores, a comunidade, a tecnologia, os sindicatos, a sociedade organizada etc., pois todos estes, direta ou indiretamente, influenciam na produtividade e na qualidade das empresas. Curiosidade Acesse os links a seguir para entender a importância da Revolução Industrial nos sistemas produtivos que conhecemos atualmente. Veja como os sistemas nasceram e o quanto evoluímos em termos de planejamento. Vídeo 1: Revolução Industrial na Inglaterra, vídeo educativo sobre a Revolução Industrial na Inglaterra. Encyclopedia Britannica. 25 min. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jt- o3EBQPMU>. Vídeo 2: Revolução Industrial nos Estados Unidos, vídeo educativo sobre a Revolução Industrial nos Estados Unidos. Encyclopedia Barsa. 22 min. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GTOzHrvYVQ4>. O período entre 1850 e 1920 é marcado pela ascensão dos Estados Unidos e da Inglaterra como maiores potências militares, políticas e econômicas do mundo. O início desse período caracteriza-sepela reconstrução de um país – os Estados Unidos – destruído pela Guerra Civil. O crescimento da industrialização norte-americana que se começara no início do século XIX aumentou drasticamente após a Guerra Civil, quando o país passou por uma Revolução industrial. Técnicas mais modernas, rápidas e eficientes de produção industrial aumentaram drasticamente a capacidade de produção das fábricas americanas, e a construção de uma grande malha ferroviária ao longo do país fez com o transporte de produtos de um ponto a outro do país se tornasse prático e rápido. Inventores desenvolveram diversos novos produtos. O comércio por atacado e varejo do país prosperou, e grandes empresas surgiram. Durante esse período, o crescimento industrial dos Estados Unidos teve grandes efeitos. As indústrias de manufatura e de finanças superaram a agricultura e a pecuária 6 como principais fontes de renda dos Estados Unidos. O processo de industrialização elevou drasticamente a migração rural. Além disso, tal período também foi marcado pela grande imigração sem precedentes de europeus ao país. Logo após a Guerra Civil, a política de reconstrução perdurou por mais de uma década. A maior parte da industrialização e do crescimento econômico americano, entre 1865 e 1918, ocorreu no Centro-Oeste e principalmente no Norte – enquanto que a economia do Sul, completamente destruída pela Guerra Civil, demoraria décadas para se recuperar, sendo que sua industrialização ocorreria somente após as primeiras décadas do século XX. TEMA 2 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA Nos primórdios da humanidade, não havia produção, mas sim povos nômades que se alimentavam do que coletavam na natureza. A Pré-história é marcada pela utilização de ferramentas feitas de pedra. Com o desenvolvimento e a organização das produções artesanais, iniciou-se o ciclo de desenvolvimento dos processos da gestão de produção de uma maneira geral. Da mesma forma, antes disso, o comércio não era oficial, e funcionava com base na troca de produtos, o chamado escambo. Isso impulsionou a primeira forma de produção organizada pelos artesãos – pessoas com habilidade para produzir bens específicos – que, com maiores demandas, começaram a estabelecer prazos de entrega e a classificar prioridades. O trabalho de manufatura era feito em casa, e a técnica de produção era transmitida de pai para filho, mas em razão deste aumento de demanda, os artesãos começam a trabalhar com ajudantes que, depois de treinados, se tornariam novos artesãos. Isso levou ao início dos primeiros movimentos de pessoas que deixavam de trabalhar em casa para fazê-lo em associações. Com o surgimento da Revolução Industrial, a produção artesanal entra em decadência e, com a invenção da máquina a vapor, em 1764, por Watt, e da máquina de fiação (tear mecânico) por Hargreaves quase na mesma época, começa a substituição do trabalho artesanal (manual) pelo realizado por máquinas, quando surgem as primeiras fábricas. Nesse momento, nenhum produto era igual a outro. Só em 1801 Eli Whitney introduziu a padronização de 7 produtos por meio da montagem de armas que eram vendidas ao governo norte- americano. A Revolução Industrial (que atualmente é conhecida como a Primeira Revolução Industrial) preparou o caminho para a moderna Gestão da Produção e Operações, mas foi com os grandes avanços que se deram no século XX, particularmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, que as técnicas e instrumentos de gestão da produção se difundiram por inúmeros países. À medida que o tempo passa muitos tipos de máquinas são desenvolvidos nas fábricas, dando início à gestão da produção, sendo esta área capaz de produzir bens e/ou serviços por meio dos melhores processos, decisões, atitudes e responsabilidades vindas de seus gestores. A administração científica de Taylor trouxe inovações: estudos para saber como fazer melhor as coisas, cálculos de tempo e planos de incentivos. Houve ainda o casal Gilbreth, que fez estudos dos movimentos dos trabalhadores e iniciou a psicologia industrial. Um grande impulso é dado com o advento da linha de montagem em movimento por Henry Ford, em 1913. A indústria têxtil cria a divisão do trabalho, com os objetivos de redução da fadiga, padronização dos produtos e melhoria da qualidade dos produtos. No século XIX ocorre a Segunda Revolução Industrial, marcada pela divisão do trabalho (matadouro de Cincinatti), produção em massa (Henry Ford) e a invenção da energia elétrica. Figura 1 – Primeira e Segunda Revolução Industrial Fonte: Portal da Indústria – CNI. 8 No entanto, as tecnologias, tanto práticas como teóricas, continuam evoluindo, e o foco da manufatura muda muito com o passar das últimas décadas, conforme vemos na Tabela 1. Tabela 1 – A evolução da manufatura Década Abordagem/foco 1960 Custos 1970 Marketing 1980 Qualidade 1990 Tempo 2000 Conhecimento A Terceira Revolução Industrial, ocorre no século XX, marcada principalmente pela invenção do computador, do consequente sistema de tecnologia da informação (TI), da internet e da automação industrial. As fábricas digitais, com altos níveis de comunicação e capacidade de monitoramento de processos, já dão seus primeiros passos, principalmente na Europa, Japão e Estados Unidos. Vivemos atualmente a Quarta Revolução Industrial, também chamada de Indústria 4.0, cujos principais pontos são: ferramentas e produtos se comunicando; sistemas ciberfísicos, marcados pela inteligência artificial; fábrica digital/nuvem – cloud computing; internet das Coisas – Internet of Things – IoT. No entanto, a realidade da manufatura avançada da Indústria 4.0 ainda está distante do cenário brasileiro. 9 Figura 2 – Terceira e Quarta Revoluções Industriais Fonte: Portal da Indústria – CNI. CURIOSIDADE: Assista ao vídeo “Fábrica da BMW Série 3 na Alemanha”. Você pode acessá-lo neste link: <http://www.noticiasautomotivas.com.br/video-fabrica-da-nova-bmw-serie-3-na-alemanha/>. TEMA 3 – O MODELO DE TRANSFORMAÇÃO Um processo é qualquer atividade ou conjunto de atividades que com base em insumos, transforma-os e lhes agrega valor, criando um ou mais produtos/serviços para os clientes (Ritzman, 2004). Figura 3 – Processos e operações Fonte: Ritzman, 2004. 10 Entradas do processo de transformação – Inputs 1. Recursos transformados: são aqueles que são tratados, transformados ou convertidos de alguma forma. Exemplos: Materiais: os extratos bancários fornecidos pelo banco. Informações: processamento de informações sobre assuntos financeiros de interesse dos consumidores (predomina nos bancos). Consumidores: orientações sobre aplicações, pagamento de cheques. 2. Recursos de transformação: são aqueles que agem sobre os recursos transformados. Exemplos: Instalações: prédios, terrenos, equipamentos, tecnologia do processo de produção. Funcionários: os funcionários, ou seja, as pessoas que operam, mantêm, planejam e administram a produção. Processo de transformação 1. Processamento de materiais Transformação das propriedades físicas (manufatura). Mudança de localização (correio). Mudança na posse/propriedade (atacado-varejo). Estocagem ou armazenamento (centro de distribuição). 2. Processamento de informações Alteram a forma da informação (contadores). Alteram a posse da informação (empresas de pesquisa). Estocam ou acomodam (bibliotecas, arquivos). Transferem as informações (empresas de telecomunicação). 3. Processamentode consumidores Transformação das propriedades físicas (cabelereiros, cirurgiões plásticos). Estocam ou acomodam (hotéis). Localização (linhas aéreas, ônibus etc.). 11 Estado fisiológico (hospitais, clínicas). Estado psicológico (música, teatro, televisão). Exemplo: Função produção: transporte de pessoas. A função Produção transforma insumos em transporte de pessoas por meio do processo de conversão. Entradas/insumos Conversão Saídas Ônibus Mão de obra (motoristas e cobradores, manutenção) Combustível Transporte de pessoas Transporte de pessoas Figura 4 – O processo de transformação Fonte: Slack et al., 1997. Saídas do processo de transformação – Outputs A saída, claro, é o propósito do processo de transformação: são bens e serviços geralmente vistos como diferentes. É importante destacar a situação específica da agregação de valor: qual a necessidade de transformarmos insumos (entradas) em produtos ou serviços sem gerarmos mais valor? Isso significa que quanto mais criamos valor no processo de transformação, mais agregamos valor ao produto da empresa, seja este um bem material ou um serviço. A saída – o produto – deve ser muitas Recursos transformados Input Recursos de transformação Input Materiais Informações Consumidores Instalações Pessoal INPUT Processo de transformação Ambiente Ambiente OUTPUT Bens e serviços Slack et all , 1997. 12 vezes mais valioso que a soma dos itens de entrada. Quanto maior a agregação de valor, maior a competitividade de uma empresa. E o que as empresas buscam é a manutenção de uma alta capacidade de competição, pois somente assim conseguirão se manter vivas, vendendo e distribuindo seus produtos e serviços. Um ponto importante dessa discussão está ligado à gestão (ou não) dos preços dos produtos ofertados ao mercado: Preço = custo + lucro (economias fechadas ou monopólios) Lucro = preço - custo (globalização – ampla concorrência) Quanto mais livre e dinâmico esse mercado for, mais forte e resistente tais empresas serão, pois terão de conviver diariamente com oportunidades e ameaças ao seu desempenho produtivo. Segundo Tubino (2009), a perda do poder de competitividade das empresas nacionais se deve em grande parte à obsolescência das práticas gerenciais e tecnológicas aplicadas aos seus sistemas produtivos, em especial no processo de transformação e consequente agregação de valor, tendo sua origem atribuída a cinco pontos básicos, que são: Deficiência nas medidas de desempenho; Negligência com considerações tecnológicas; Especialização excessiva das funções de produção sem a devida integração; Perda de foco dos negócios; Resistência e demora em assumir novas posturas produtivas. TEMA 4 – BENS E SERVIÇOS Até 1950, a indústria de transformação era a que se destacava no cenário político e econômico mundial. As chaminés das fábricas eram símbolos de poder; as indústrias empregavam um grande número de pessoas e eram responsáveis por 90% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países industrializados. Os manuais acadêmicos sobre produção referiam-se ao chão de fábrica – termo usado para designar os trabalhadores ou os processos relativos à fase de produção propriamente dita – e abordavam temas relativos à fabricação de bens tangíveis: arranjo físico, processos de fabricação, planejamento e controle da produção, controle de qualidade, manutenção das instalações fabris, 13 manuseio e armazenamento de materiais. A gestão de todos esses elementos era denominada Administração da Produção. A indústria de transformação tinha total destaque (fábricas-chaminés) e a ênfase dos estudos está na fabricação de bens tangíveis. Na década de 1980, a administração da produção foi o campo fértil para a teoria da qualidade: tudo era uma questão de processo. Aumenta a produção de serviços e, assim, a produção deixa de ser exclusivamente da fábrica. Figura 5 – Bens e serviços Fonte: adaptado de Administração da Produção, Slack et alli, Atlas, 1997. Os serviços representam a maior parcela do PIB da maior parte das nações e empregam o maior número de pessoas. Dessa maneira, todas as técnicas utilizadas na administração industrial tradicional foram transportadas para a administração de serviços. Houve uma ampliação do conceito de produção, que passou a incorporar os serviços. Hoje o termo “operações” é considerado amplo e compõe o conjunto de todas as atividades da empresa relacionadas com a produção de bens e/ou serviços. No Brasil, os autores costumam abordar esse conjunto de técnicas como Administração da Produção e Operações ou Administração de Bens e Serviços. 14 As empresas mundiais necessitam cada vez mais de esquemas de distribuição rápidos e eficazes. A logística empresarial, parte integrante da Administração de Operações, constitui um conjunto de técnicas de distribuição e transporte de produtos. Um bom exemplo disso são os automóveis fabricados por multinacionais, que são idênticos a despeito de produzidos em países diferentes. Tabela 2 – Fluxos Fluxo de serviços: o volume tende a ser ainda maior que o de materiais, devido à melhoria dos meios de comunicação. Fluxo de capitais: os fluxos de dinheiro, como uma “nuvem”, vagam sobre o mundo, à procura de locais onde possam “descer” e obter o máximo de rendimento possível. A saída é o propósito do processo de transformação: são bens e serviços geralmente vistos como diferentes. Tabela 3 – Elementos relacionados à saída de bens Tangibilidade (bens tangíveis; serviços intangíveis) Estocabilidade (bens estocáveis; serviços não estocáveis) Transportabilidade (bens transportáveis; serviços não transportáveis) Simultaneidade (bens produzidos antes do consumo; serviços produzidos simultaneamente ao consumo) Contato com o consumidor (bens baixo nível de contato na produção; serviços alto nível de contato na produção do serviço) Qualidade (bens julgarão qualidade com base nos próprios bens; serviços julgarão qualidade pela percepção) A saída da maioria dos tipos de operações é um composto de bens e serviços. Gianesi (1994) destaca sete fatores que propiciam o aumento da demanda por serviços: 1. Desejo de melhor qualidade de vida; 2. Mais tempo de lazer; 3. A urbanização, tornando necessários alguns serviços (a segurança, por exemplo); 15 4. Mudanças demográficas que aumentam a quantidade de crianças e/ ou idosos, os quais consomem maior variedade de serviços; 5. Mudanças socioeconômicas, como o aumento da participação da mulher no trabalho remunerado e pressões sobre o tempo pessoal; 6. Aumento da sofisticação dos consumidores, levando a necessidades mais amplas de serviços; 7. Mudanças tecnológicas (como o avanço dos computadores e das telecomunicações), que têm aumentado a qualidade dos serviços, ou ainda criado serviços completamente novos (Gianesi, 1994, p. 17). Os serviços possuem uma interatividade maior com os clientes. Por sua proximidade com o público, os serviços atualmente são considerados os maiores responsáveis pela conquista e fidelização daqueles. Gianesi (1994) destaca três papéis dos serviços na indústria: Diferencial competitivo; Suporte às atividades de manufatura; Geradores de lucro. O serviço agregado ao produto adiciona valor à oferta final, o que significa diferencial competitivo para as empresas e seus produtos.As atividades de produção existem dentro de um sistema composto por subsistemas, e vários desses subsistemas são compostos por serviços que dão suporte à atividade de manufatura da empresa (administração financeira, administração de recursos humanos etc.). Algumas empresas descobriram que seu verdadeiro foco está nos serviços, e para vendê-los os atrelam a produtos que geram maior rentabilidade, como é o caso das operadoras de telefonia móvel. A gestão de serviços poder ser caracterizada pela presença e participação intensa dos clientes, produção e consumo simultâneos (impossibilidade de estocar serviços) e intangibilidade. TEMA 5 – FUNÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO Para atingir seus objetivos, os sistemas produtivos devem exercer uma série de funções operacionais, desempenhadas por pessoas, que vão desde o projeto dos produtos até o controle dos estoques, passando por recrutamento e 16 treinamento de funcionários, aplicação dos recursos financeiros, distribuição dos produtos etc. De maneira geral, essas funções podem ser agrupadas em três áreas básicas: Finanças; Produção; Marketing. O sucesso de um sistema de produção depende da forma como essas três funções se relacionam. Convencionalmente, as funções desempenhadas dentro de um sistema produtivo se limitam à esfera imediata de sua autoridade. Tende a ser bilateral e fechado, com as funções exercendo suas atividades até o limite de sua delegação. Atualmente, as empresas sabem que essas barreiras funcionais devem ser quebradas, e o compartilhamento de informações nas tomadas de decisões é fundamental para o eficiente desempenho do sistema como um todo. A estrutura funcional deve ceder espaço a uma estrutura operacional multilateral e aberta, em que as responsabilidades pelas ações vão até o ponto em que o efeito dessa ação se fizer sentir. Figura 6 – Administração de operações como uma função Fonte: Ritzman, 2004. 17 A função de produção consiste em todas as atividades que estão diretamente relacionadas com a produção de bens ou serviços. Ela é o centro dos sistemas produtivos, sendo responsável por gerar os bens ou serviços comercializados pelas empresas pela transformação dos insumos utilizando-se de um ou mais processos organizados de conversão. A essência da função de produção consiste em adicionar valor aos bens ou serviços durante o processo de transformação. De acordo com esse conceito, todas as atividades produtivas que não adicionarem valor aos bens ou serviços devem ser consideradas perdas e eliminadas. A função de marketing é vender e promover os bens materiais e serviços produzidos, tomando decisões sobre estratégias de publicidade e estimativas de preços destes. Ela está encarregada de contatar os clientes e cuidar do mercado, visando a, por um lado (médio e curto prazos), abastecer a produção com informações sobre a demanda pelos produtos atuais, permitindo o planejamento e a programação da produção, e, por outro (longo prazo), buscar informações sobre potenciais necessidades dos clientes buscando projetos de novos bens ou serviços a serem desenvolvidos. Figura 7 – O Fluxo de Informações do PCP Fonte: Adaptado de Tubino, 2002. A função de finanças está encarregada de administrar os recursos financeiros da empresa e alocá-los onde forem necessários. Esta função deve providenciar o orçamento, acompanhar receitas e despesas, e fazer a provisão Engenharia de Produto •lista de materiais •desenhos Engenharia de Processo •roteiros de fabricação •leadtimes Marketing •plano de vendas •pedidos firmes Manutenção •plano de manutenção Compras •entradas e saídas de materiais Planejamento Estratégico da Produção Planejamento Mestre da produção Programação da Produção •ordens de compra •ordens de fabricação •ordens de montagem Acompanhamento da Produção Recursos Humanos •programa de treinamento Finanças •plano de investimentos •Fluxo de caixa 18 de fundos para atender que atenda a esse orçamento, além da análise econômica dos investimentos produtivos. Outras funções de apoio são: engenharia, compras, suprimentos, manutenção, recursos humanos etc. Pesquise Leia o primeiro e o segundo capítulos do nosso livro-texto, que se encontra na biblioteca virtual. Saiba mais Acesse este link e leia o artigo sobre os sistemas de produção: <http://planejamentoecontroledeproducao.blogspot.com.br/2010/02/visao-geral- dos-sistemas-de-producao.html>. TROCANDO IDEIAS O Brasil conseguirá dar uma guinada de produtividade – elemento fundamental para o crescimento econômico – sem se basear na tecnologia e na inovação? (Responda antes de ver a sugestão de resposta.) Sugestão de resposta: A manufatura avançada começa a aparecer, no Brasil, principalmente, na modernização de plantas de grandes multinacionais, sobretudo na indústria automotiva tradicional. Entretanto, isso não ocorre em todos os segmentos industriais. Com exceção de algumas ilhas de excelência no setor produtivo, como a Embraer, progressos tecnológicos são isolados e são implementados lentamente, em função das dificuldades enfrentadas pela indústria nos últimos dez anos. Por aqui, tanto na academia quanto no governo, as discussões sobre manufatura avançada são incipientes (Fonte: CNI). No entanto, temos uma indústria de alimentos e bebidas altamente competitiva, conforme poderá ser visto no infográfico a seguir, que demonstra este grande poder de competitividade, alcançando a liderança mundial tanto para alimentos quanto para bebidas. Observe: 19 Figura 8 - Infográficos do faturamento da indústria alimentícia em 2014 Fonte: Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) e CNI – Portal da Indústria. Com o crescimento excessivo das funções de apoio, o compartilhamento de informações na tomada de decisões fica mais difícil, comprometendo a eficiência do sistema, além de criar uma burocratização pela subdivisão de tarefas. Por exemplo, havendo uma divisão responsável pela manutenção das máquinas, se ocorre um problema simples com uma delas, quem é responsável 20 pelo seu conserto? Seria o operador ou ele tem de esperar o pessoal da manutenção? Cria-se então um conflito, retardando a resposta para o problema. Discuta o crescimento excessivo das funções de apoio aos sistemas produtivos e sua relação com a burocratização e a morosidade de resposta aos problemas. NA PRÁTICA Analise as questões propostas a seguir e tente respondê-las sem olhar as respostas sugeridas. Nos sistemas de produção abaixo, diferencie quais dos sistemas são predominantemente de produção de bens materiais (B) e quais são de serviços (S): 1. Processo contínuo: ( ) Petróleo e derivados ( ) Fornecimento de aquecimento e ar condicionado ( ) Geração de energia elétrica 2. Processo repetitivo em massa: ( ) Transporte aéreo ( ) Automóveis ( ) Restaurante industrial ( ) Eletrodomésticos linha branca 3. Processo repetitivo em lotes: ( ) Restaurantes ( ) Fabricação de calçados 4. Processo por projeto: ( ) Clínica médica ( ) Estaleiros (navios) ( ) Escritórios de arquitetura ( ) Aluguel de automóveis 21 Respostas esperadas: 1) B – S – S. 2) S – B – S- B. 3) S – B. 4) S – B – S – S. Sustentabilidade na Atualidade Vejamos agora uma abordagem interessante em um artigo que traz umavisão bem moderna do importante papel da gestão da produção sob o ponto de vista da sustentabilidade. Leia o artigo no link <http://www.sustentabilidadecorporativa.com/2013/05/a-importancia-da- engenharia-de-producao.html>, e entenda porque a gestão da produção pode contribuir – e muito – para o “correto” modo de desenvolvimento das empresas, sejam elas de serviços ou de bens materiais! SÍNTESE As empresas, desde os tempos mais remotos, têm sido desafiadas a encontrar soluções para reduzir custos, melhorar processos, evitar desperdícios e aumentar a produtividade. Algumas figuras chave na história da gestão das operações: Eli Whitney (fim do século XVIII): intercambiabilidade de partes; James Hargreaves (1.764): máquina de tear; James Watt (1.764): máquina a vapor; Frederick Winslow Taylor (início do século XX): administração científica; Henry Ford (início do século XX): produção em massa; Alfred P. Sloan, Jr. (década de 1920): planejamento centralizado e controle descentralizado. A história da evolução dos meios de produção mostra o quanto já evoluímos e o quanto ainda temos para evoluir. A preocupação com energia, por exemplo, está impondo ao setor novas rotinas e a introdução de outras tecnologias, com máquinas e equipamentos mais eficientes, novas fontes alternativas e a adoção de uma gestão eficaz de recursos. Portanto, esses desafios, que vêm surgindo desde a Primeira Revolução Industrial, vão continuar. 22 O modelo de transformação precisa evoluir ainda mais, ficar mais competitivo e mais eficiente em termos da utilização de recursos naturais, especialmente na América Latina e no Brasil. A produção, como função básica de transformação, está cada vez mais dependente das tecnologias, sob as mais diferentes formas: técnicas de produção para o chão de fábrica, tecnologias massivas da informação para gestão de serviços – como ocorre com os bancos, ou tecnologias de informação para os sistemas de gestão, que vão desde o nível das máquinas, com controle de produção e estoque, até os sistemas corporativos que dão suporte às decisões tomadas na alta administração das empresas. A tecnologia surgida na nova Revolução Industrial abre as barreiras da produtividade: nas montadoras de automóveis Toyota, Fiat e Nissan, o tempo de desenvolvimento de um novo modelo caiu até 50% a partir do momento que designers e engenheiros passaram a usar informações digitalizadas e testes virtuais de peças. Na fabricante de aviões Embraer, os operários responsáveis pela produção do jato Legacy 500, em São José dos Campos, no interior paulista, começaram a treinar, de forma virtual e em 3D, o que fariam no chão de fábrica um ano antes do início da produção dos aviões. O projeto teve 12 mil horas de testes antes de a aeronave fazer a primeira decolagem. Porém, enquanto o mundo se prepara para essa nova Revolução Industrial, o Brasil parece não ter se dado conta dos imensos desafios que o cercam. Em 2013, o país comprou menos de 1.300 robôs industriais — a Coreia do Sul adquiriu 21 mil, e a China, 37 mil. No Brasil, a idade média de máquinas e equipamentos é de 17 anos – enquanto que são sete anos nos Estados Unidos e cinco anos na Alemanha. Em uma era de imensos ganhos tecnológicos, as empresas brasileiras estão presas a tecnologias ultrapassadas, o que afeta diretamente a produtividade do país. Essa defasagem tecnológica tem várias explicações. Uma delas é que o Brasil ainda tem uma economia fechada. Com o mercado doméstico garantido, as indústrias instaladas aqui têm menos incentivos para investir em aumento de produtividade (Costa e Stefano, 2014). Até a próxima aula! 23 REFERÊNCIAS ARAUJO, C. D. Administração da produção e sua evolução histórica. Portal educação. Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/administracao/artigos/21585/administracao- da-producao-e-sua-evolucao-historica#ixzz4FSQGnu6X>. Acesso em: 13 dez. 2016. GIANESI, I. G. N.; CORRÊA, H. L. Administração estratégica de serviços. São Paulo: Atlas, 1994. COSTA, M; STEFANO, F. A era das fábricas inteligentes está começando. Revista Exame. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/revista- exame/edicoes/1068/noticias/a-fabrica-do-futuro>. Acesso em: 13 dez. 2016. RITZMAN, L. P.; KRAJEWSKI, L. J. Administração da produção e operações. São Paulo: Prentice Hall, 2004. SLACK, N. et al. Administração da produção. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. TUBINO, D. F. Planejamento e controle da produção: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
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