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Maquiavel: Teoria do Estado e do Governo

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MAQUIAVEL
TEORIA DO ESTADO E DO GOVERNO
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DADOS BIOGRÁFICOS.
Nasceu em Florença, em 3 de maio de 1469, ano em que Lorenzo di Medici subiu ao poder.
Inicia sua vida pública em 1494, quando ocupa inicialmente cargos de pouca importância, mas logo chega ao posto de segundo chanceler da república.
Como assessor de embaixadores, conheceu Cesare Borgia, que o inspirou na criação de sua obra “O Príncipe”.
Com o retorno dos Medicis ao poder em 1513, é exilado, ocasião em que escreve “O Príncipe”, dedicando-o a Lorenzo II, o magnífico.
Consegue retornar à Florença, mas não à vida pública, o que só ocorre em 1526.
Em 1527, com a nova queda dos Médicis, vê a possibilidade de retornar ao comando da Chancelaria, o que não ocorre.
Desapontado, morre logo após, ainda em 1527, com 58 anos de idade.
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TEORIA DO ESTADO
“Só quando se formam os Estados no sentido moderno da palavra é que nasce também uma reflexão sobre Estado” (GRUPPI, Luciano. Tudo começou com Maquiavel. P.8).
Introduz uma nova distinção entre as formas de Estado = “Todos os Estados (...) foram e são repúblicas ou principados” (O príncipe, p.13).
Diferente de seus antecessores, parte da experiência real de seu tempo, sem se ater a idealizações de formas que nunca existiram.
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INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA
A experiência jamais engana, e o erro é produto do pensamento especulativo.
Propõe estudar a sociedade pela análise da verdade efetiva dos fatos humanos, sem se perder em especulações.
Os fatos históricos repetem-se nas linhas mestras, e conhecê-los é possuir um material essencial para o estudo do presente.
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Principados ou repúblicas?
“Em função do modo de como os bens são compartilhados, onde persista ou possa persistir uma relativa igualdade entre os cidadãos, o fundador de Estados deve estabelecer uma República. Ocorrendo o contrário, manda a prudência que seja construído um Principado”(os pensadores, cap.XVIII)
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“O PRÍNCIPE”
“O povo, vendo que não pode resistir aos grandes, dá reputação a um cidadão e o elege Príncipe para estar defendido com sua autoridade”. (O Príncipe, p.50)
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“O PRÍNCIPE”
Obra inspirada em Cesare Borgia, filho do papa Alexandre VI.
Procura reconquistar os favores da família que reassumira o poder: escreve “O Príncipe” e o dedica a Lorenzo di Medici.
“E, se vossa Magnificência (...) alguma vez volver os olhos para baixo, saberá quão sem razão suporto uma grande e continua má-sorte” (O Príncipe, p.12)
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OBJETIVO DA OBRA
Reunificar a Itália, enfraquecida:
Pela divisão das cidades estado
Pela fuga de capital (descoberta de uma nova rota de comércio que não a mediterrânea – caminho marítimo para as Índias) e;
Impedida de se libertar de seus padrões medievais pela Igreja centralizadora.
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OS PRINCIPADOS
A obra “O Príncipe” pode ser dividida em dois enfoques:
Principados hereditários: aqueles em que seu senhor é príncipe pelo sangue.
Principados Novos: aqueles em que o poder é conquistado por quem ainda não era um príncipe
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PRINCIPADOS HEREDITÁRIOS
PRINCIPADOS HEREDITÁRIOS
O seu senhor é príncipe pelo sangue, por longo tempo;
O poder é transmitido com base numa lei constitucional de sucessão;
São analisados segundo a forma de poder exercido pelo príncipe, que pode ser um poder absoluto ou um poder não absoluto.
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PRINCIPADOS HEREDITÁRIOS CUJO PODER É ABSOLUTO
Encontram-se assistentes sob a forma de ministros, que estão nessa posição por graça e concessão do senhor.
Maior dificuldade de serem conquistados: não se encontra, dentro deles, quem tenha força suficiente para facilitar a entrada de invasores.
Exemplo: monarquia turca no século XV.
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PRINCIPADOS HEREDITÁRIOS CUJO PODER NÃO É ABSOLUTO
O poder é dividido com barões, embora o príncipe ocupe lugar de destaque.
Podem ser invadidos com facilidade, fazendo-se aliança com algum barão do reino, pois “sempre se encontram descontentes ou gente desejosa de fazer inovações” (p.27).
O príncipe é cercado por antigos nobres, reconhecidos como tais pelos súditos e que por eles são estimados.
Os nobres possuem prerrogativas que o príncipe não pode tirar sem perigo para si
Exemplo: França no século XV.
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PRINCIPADOS NOVOS
Aqueles em que o poder é conquistado por quem ainda não era um “príncipe”.
Quatro espécies básicas de principados novos:
Adquiridos pela virtude;
Adquiridos pela fortuna;
Adquiridos mediante o consentimento do povo;
Adquiridos mediante violência – vias celeradas
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PRINCIPADOS ADQUIRIDOS PELA VIRTUDE
Por virtude, entenda-se a capacidade de dominar os eventos, de alcançar um fim objetivado, por qualquer meio.
Retratados no capítulo VI da obra “O Príncipe” como principados que se conquistam pelas armas e nobremente.
“Aqueles que, por suas virtudes, conquistam o principado, o fazem com dificuldade, mas mantêm-se facilmente” (p.30)
As dificuldades que encontram são referentes à nova ordem legal que são obrigados a introduzir.
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PRINCIPADOS ADQUIRIDOS PELA FORTUNA
Por fortuna, deve-se entender o curso dos acontecimentos que não dependem da vontade humana, apenas da sorte.
“Aqueles que somente por fortuna se tornam príncipes, pouco trabalho têm para isso, mas se mantêm penosamente” (p.35)
Este tipo de príncipe mantém-se no poder com dificuldade por estar na dependência exclusiva da vontade de quem lhe concedeu o Estado.
Os principados adquiridos pelo mérito são mais duradouros; os que o príncipe conquista não pelo próprio mérito são menos estáveis, desaparecem em pouco tempo.
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VIRTUDE E FORTUNA
Para Maquiavel, o que se consegue realizar não depende exclusivamente da virtude e nem só da fortuna, mas de ambos.
Assim, o homem de virtude é aquele que sabe o momento exato criado pela fortuna, no qual a ação poderá funcionar com êxito.
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PRINCIPADOS ADQUIRIDOS COM O CONSENTIMENTO DO POVO
“Quem se torna príncipe mediante o favor do povo deve manter-se seu amigo, o que é muito fácil, uma vez que este deseja apenas não ser oprimido. Mas, quem se torna príncipe contra a opinião popular, por favor dos grandes, deve, antes de mais nada, procurar conquistar o povo”. (p.51)
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PRINCIPADOS ADQUIRIDOS POR VIAS CELERADAS
Principado ao qual se chega por maldade, contrário a todas as leis humanas e divinas.
Analisa dois casos:
Agátocles, de Siracusa – mesmo conquistando o poder por meios criminosos, consegue mantê-lo.
Oliverotto, de Fermo – apesar de valer-se da mesma tática de conquista, só se manteve no poder por uma ano.
O critério para distinguir a boa política da má é seu êxito.
Os dois príncipes citados foram cruéis, mas a crueldade de um deles foi bem utilizada, tendo em vista a manutenção do Estado conquistado; a crueldade do outro não serviu para manter o poder.
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“OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS”
Nas ações de todos os homens, o que importa é o êxito. O príncipe deve vencer e conservar o Estado; os meios que empregar serão louvados por todos.
Note-se que os meios são empregados com a finalidade de manter o poder, não se trata da finalidade qualquer.
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Ser amado ou temido?
Maquiavel ocupa-se deste tema basicamente no capítulo XVII – “Da crueldade e piedade – se é melhor ser amado ou temido”.
Pode um príncipe ser amado ou temido, mas nunca, de forma alguma, odiado.
Um príncipe não deve importar-se com as conspirações se é amado pelo povo.
Sendo difícil ao mesmo tempo ambas qualidades, é muito mais seguro ser temido que amado pois “Os homens hesitam menos em ofender aos que se fazem amar do que os que se fazem temer” (p.84)
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PRINCIPADOS QUE SE REGIAM POR LEIS PRÓPRIAS
Com relação a esses principados, há três modos de manter-se a sua posse:
Arruiná-los
Ir habitá-los
Deixá-los viver com suas leis, arrecadando tributos e criando um governo de poucos.
Maquiavel afirma que não há garantia de posse mais segura do que arruinar estes principados;
Quem se torna senhor de uma cidade livre e não a destrói serádestruído por ela, porque a liberdade e as antigas leis não são nunca esquecidas. 
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O PRÍNCIPE E O POVO
O príncipe deve, antes de mais nada, procurar CONQUISTÁ-LO.
No capítulo XX, diz que a melhor fortaleza que possa existir é não ser odiado pelo povo, pois não falta nunca aos povos rebelados príncipes estrangeiros que desejem ajudá-los. O nível de solidariedade é maior quando o povo participa do governo.
Homens em liberdade identificam-se com os negócios de seu Estado e o defendem como coisa sua.
A liberdade reforça a coesão interna e esvazia as pretensões da conquista dos Estados rivais.
Quando um príncipe e um povo estão submetidos às leis, verifica-se que o povo mostra suas qualidades superiores às do Príncipe, por ser mais conforme e mais constante.
Se ambos estão libertos de qualquer coerção legal, os erros do povo são de mais fácil reparo que os do príncipe.
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O PENSAMENTO POLÍTICO DE MAQUIAVEL
Cerca de 30 anos após a sua morte, “O Príncipe” foi incluído no index dos livros proibidos.
Nos séculos seguintes, a obra é identificada como manual de técnicas do despotismo, criando-se a imagem de um oportunista político.
Diderot afirma ser “O Príncipe” uma sátira, entendida equivocadamente como um elogio.
Rousseau e os radicais democratas do século XIX enfatizam as idéias republicanas de Maquiavel que, obrigado pelas circunstâncias, fingia dar lições aos reis, quando na verdade ensinava ao povo.
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CONTRIBUIÇÃO PARA A HISTÓRIA DAS IDÉIAS
Modernamente, os estudos rompem com a utilização da obra como instrumento ideológico, e com a tradição crítica do ponto de vista moral.
A tendência é não mais ver o pensamento de Maquiavel como geometria euclidiana da política eterna, mas como pensamento do seu tempo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GRUPPI, Luciano. Tudo Começou com Maquiavel.Tradução: Dario Canali. 5ª edição. Porto Alegre: L&PM, 1986.
MACHIAVELLI, Nicolò. O Príncipe: escritos políticos. Tradução: Lívio Xavier. 2ª edição. São Paulo: abril cultural, 1979.
WEFFORT, Francisco. Os Clássicos da Política, volume 1, editora ática, 2004.

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