Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA NUCLEAR CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CIÊNCIAS RADIOLÓGICAS A ENERGIA NUCLEAR HOJE: UMA ANÁLISE EXPLORATÓRIA Alberto Ricardo Präss Porto Alegre 2007 Alberto Ricardo Präss A ENERGIA NUCLEAR HOJE: UMA ANÁLISE EXPLORATÓRIA Porto Alegre 2007 Monografia apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Especialista em Ciências Radiológicas. Orientador: Prof. Dr. Volnei Borges À Juliana AGRADECIMENTOS A Juliana Tonet, minha amada. A Josefina Tonet, mãe da Juliana. Ao Prof. Alfredo Castro pelo incentivo em prosseguir nos estudos. Ao Grupo Universitário pelo emprego que me propiciou diversas conquistas. A UFRGS por ser minha casa há mais de 15 anos. Ao DENUC pelo curso que acabo de concluir. Ao Instituto de Física da UFRGS pela bela formação que obtive. Ao povo brasileiro, por ter pagado boa parte dos meus estudos até hoje. LISTA DE ILUSTRAÇÕES REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Pg. Figura 0.1 - Figura 0.1 – Senhor “Burns” 4 1 Figura 0.2 – Capa da Revista Super Interessante de Julho/07 4 1 Figura 0.3 – Emissão de gases causadores do efeito estufa devido à geração de eletricidade 18 1 Figura 1.1 – Evolução histórica do número de reatores comerciais 18 4 Figura 3.1 – Uma típica fissão nuclear 18 11 Figura 3.2 – Reação em Cadeia 4 14 Figura 3.3 – Reator PWR 6 20 Figura 3.4 – Reator BWR 6 21 Figura 3.5 – Reator RBMK (reator pressurizado da água com canaletas individuais de combustível), utilizado em Chernobyl 26 21 Figura 3.6 – Tipos de reatores em uso no mundo 18 22 Figura 3.7 – Um exemplo de reator de quarta geração 27 22 Figura 4.1 – O ciclo do combustível nuclear 19 24 Figura 4.2 – Principais reservas de urânio no mundo 28 27 Figura 4.3 – Localização das reservas brasileiras de urânio 28 29 Figura 4.4 - Ultracentrífuga usada pelo Brasil 3 32 Figura 5.1 – Bloco de vidro rejeitos HLW 18 35 Figura 5.2 – Comparação entre várias fontes de rejeitos - Valores por ano a Europa 18 37 Figura 6.1 – Comparação de riscos a saúde para diversos sistemas energéticos 18 44 Figura 6.2 – O reator RBMK de Chernobyl 4 47 Figura 6.3 Contenção de Angra I e Angra II 4 55 Figura 6.4 - O Edifício do Reator, construído em concreto e envolvendo a Contenção de aço, é a quarta barreira física que serve para impedir a saída de material radioativo para o meio ambiente e, além disso, protege contra impactos externos (queda de aviões e explosões) 4 56 Figura 7.1 – Participação percentual dos cursos 11 62 Figura 7.2 – Idade dos entrevistados 11 63 Figura 7.3 – Grau de instrução dos entrevistados 21 69 Figura 7.4 – Você moraria numa cidade que tenha uma usina nuclear? 21 70 Figura 7.5 – O Brasil deveria investir no desenvolvimento de energia nuclear mais limpa e segura para futuro uso em sua matriz energética? 21 70 Figura 7.6 - Existem mais de 400 usinas nucleares no Mundo. Nos próximos 10 anos como você avalia o risco de um acidente sério envolvendo alguma dessas usinas? 21 72 LISTA DE TABELAS REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Pg. Tabela 2.1 - Geração de energia elétrica mundial 18 7 Tabela 2.2 – Reatores nucleares no mundo (maio de 2007) 24 8 Tabela 2.3 - Geração de energia elétrica no Brasil 3 9 Tabela 3.1 - Energia de cada fissão do U-235 = 200MeV 17 13 Tabela 3.2 - Quantidade de combustível para manter uma família durante um mês 5 13 Tabela 3.3 – Combinações de Moderador e Refrigerante 17 19 Tabela 3.4 – Reatores de potência 17 20 Tabela 4.1 – Aplicações do urânio enriquecido 17 25 Tabela 4.2 – Reservas mundiais de urânio 19 28 Tabela 4.3 – Urânio comercial e capacidade de enriquecimento (tSWU/ano) 18 31 Tabela 5.1 – Principais HLW (resíduos de alto nível) 18 36 Tabela 5.2 – Produção anual de resíduos radioativos (m3 por ano) gerada por uma planta de 1.000MWe 18 36 Tabela 6.1 - Escala Internacional de Eventos Nucleares (INES) 18 41 Tabela 7.1 - Auto-avaliação sobre conceitos de energia nuclear 15 60 Tabela 7.2 - Expressões mais citadas 15 60 Tabela 7.3 - Vantagens citadas 15 60 Tabela 7.4 - Desvantagens citadas 15 61 Tabela 7.5 - Possibilidade de residir perto de usinas nucleares 15 61 Tabela 7.6 - Geração de energia elétrica 15 61 Tabela 7.7 – Primeiro sentimento relativo á radioatividade e percentual de rejeição 11 63 Tabela 7.8 – Definição de Radioatividade: número de respostas e percentuais 11 63 Tabela 7.9 – Conhecimento sobre a Radioatividade Natural 11 64 Tabela 7.10 - Das aplicações da radioatividade, valores numéricos de respostas afirmativas por orientação e percentuais por grupo. Os itens e valores em itálicos não são aplicações nucleares 11 65 Tabela 7.11 - Para termos mais eletricidade para suprir as necessidades do Brasil nos próximos 25 anos, novas usinas geradoras precisarão ser construídas. Empresas e agências governamentais precisam iniciar o planejamento hoje em dia. Como você deseja que seja a escolha da fonte de energia? 21 71 Tabela 7.12 – Termos mais citados 21 72 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 CAPÍTULO 1 - BREVE REVISÃO HISTÓRICA 3 CAPÍTULO 2 - A ENERGIA NUCLEAR HOJE 7 2.1 USINAS NUCLEARES EM CONSTRUÇÃO 9 CAPÍTULO 3 - CONCEITOS BÁSICOS SOBRE REATORES NUCLEARES 11 3.1 O PROCESSO DE FISSÃO NUCLEAR 11 3.2 ENERGIA LIBERADA NA FISSÃO NUCLEAR 13 3.3 A MASSA CRÍTICA E A REAÇÃO EM CADEIA 14 3.4 CARACTERÍSTICAS DOS REATORES DE FISSÃO NUCLEAR 15 3.4.1 Tipos de reatores 17 3.4.2 Reatores nucleares de quarta geração 22 CAPÍTULO 4 - O COMBUSTÍVEL NUCLEAR 23 4.1 INTRODUÇÃO 23 4.2 O ENRIQUECIMENTO DO URÂNIO 25 4.3 OCORRÊNCIA DO URÂNIO NO MUNDO 27 4.4 O TÓRIO (Th-232) 29 4.5 PRINCIPAIS PAÍSES ENRIQUECEDORES 30 4.6 FABRICAÇÃO DE ELEMENTOS COMBUSTÍVEIS 32 4.7 CUSTO DO CICLO DO COMBUSTÍVEL 33 CAPÍTULO 5 - OS SUBPRODUTOS DA FISSÃO NUCLEAR: O LIXO 34 5.1 ORIGENS DOS REJEITOS RADIOATIVOS 35 5.2 O DESTINO FINAL 37 5.2.1 Contaminação do ar 38 5.2.2 Contaminação da água 38 5.3 O DESCOMISSIONAMENTO 39 CAPÍTULO 6 - SEGURANÇA NAS USINAS NUCLEARES 40 6.1 INTRODUÇÃO 40 6.2 ESCALA INTERNACIONAL DE ACIDENTES NUCLEARES 41 6.3 ANÁLISES DE SEGURANÇA 42 6.4 AVALIAÇÕES DE RISCOS DAS USINAS NUCLEARES ORIENTADA PELO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO 42 6.5 REATORES COMERCIAIS E SUAS DEFICIÊNCIAS 45 6.6 ACIDENTES IMPORTANTES 46 6.6.1 Chernobyl 46 6.6.2 Acidente em Three Mile Island 50 6.7 ATOS DE SABOTAGEM E TERRORISMO 52 6.8 RAZÃO E EMOÇÃO EM TORNO DA TECNOLOGIA NUCLEAR 57 CAPÍTULO 7 - PERCEPÇÃO PÚBLICA SOBRE ENERGIA NUCLEAR 58 7.1 PESQUISA NÚMERO UM 59 7.2 PESQUISA NÚMERO DOIS 62 7.3 AIEA REVELA MAIOR ACEITAÇÃO DA ENERGIA NUCLEAR 66 7.4 ENQUETE FEITA PARA O PRESENTE TRABALHO 68 7.5 ANÁLISE DAS PESQUISAS 73 CAPÍTULO 8 - CONCLUSÕES 74 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 75 APÊNDICE A – FORMULÁRIO DA ENQUETE ONLINE 79 ANEXO A - ENERGIA NUCLEAR VOLTA COMO OPÇÃO MAIS "LIMPA" 82 ANEXO B - NUCLEAR POWER IN BRAZIL 90 1 INTRODUÇÃO Após um período de intenso desenvolvimento em escala internacional, a geração de energia elétrica a partir de fonte nuclear atravessou uma fase de baixo crescimento,em decorrência, principalmente, de dois acidentes com usinas nucleares: Three Mile Island (EUA, 1979) e Chernobyl (Ucrânia, 1986). Figura 0.1 – Senhor “Burns”, dono de uma usina nuclear no seriado Os Simpsons, da Fox. Sempre retratado como vilão. Figura 0.2 – Capa da Revista Super Interessante de Julho de 2007, mostrando o “vilão que virou herói Entretanto, as alterações climáticas do planeta, devido à emissão de gases causadores do efeito estufa produzidos, entre outros, pela operação de usinas termelétricas; a previsão de escassez de petróleo e a contínua elevação do seus preços; a necessidade de garantia de abastecimento de combustíveis; as instabilidades geopolíticas internacionais, e a necessidade de diversificação da matriz energética e de redução de fontes externas de abastecimento vêm motivando a reconsideração, em vários países, da viabilidade de incremento da utilização da energia nuclear. 2 Figura 0.3 – Emissão de gases causadores do efeito estufa devido à geração de eletricidade No presente trabalho, são feitas algumas análises genéricas da situação da energia nuclear no Brasil e no Mundo. Pela natureza do texto (monografia), não se pretendeu um grande aprofundamento (o que acarretaria em muito mais tempo de execução) e nem um ineditismo. A idéia foi apresentar elementos para que o leitor possa ter um quadro geral da energia nuclear em 2007. Muitos trechos são adaptações de fontes checadas e alguns são frutos de posicionamento do autor. 3 CAPÍTULO 1 BREVE REVISÃO HISTÓRICA A radioatividade artificial foi obtida pela primeira vez em 1934, com os trabalhos de Frederick e Irene Joliot-Curie. Em 1935, Enrico Fermi começou uma série de experiências em que foram produzidos artificialmente núcleos radioativos, pelo bombardeamento com nêutrons de vários elementos. Alguns dos seus resultados sugeriram a formação de elementos transurânicos. O que eles observaram foi a fissão nuclear, mais tarde comprovado por Otto Hahn. Durante a Segunda Guerra Mundial, as pesquisas na Europa e nos EUA viraram assunto militar, culminando com as bombas nucleares de Hiroshima e Nagazaki. Depois da guerra, os EUA procuraram desenvolver um programa que preservasse a supremacia americana na tecnologia militar com finalidades pacíficas. Em 1951 entrou em operação um pequeno reator em Idaho Falls, para pesquisar as propriedades regeneradoras de um reator rápido. Até 1963 ele sempre forneceu energia elétrica para o seu próprio edifício. Esse reator foi construído pelo Laboratório Nacional de Argonne da Universidade de Chicago e em 1955-1956 manteve a primeira cidade da história totalmente iluminada com energia elétrica proveniente de uma central nuclear. Era a cidade de Arco, em Idaho. Em 1953 o Presidente Eisenhower lançou o programa átomos para a Paz, propondo colaborações internacionais para desenvolver o uso pacífico da energia nuclear. Um pouco antes os soviéticos haviam explodido a primeira bomba atômica não-americana. Em 1957 foi fundada em Viena a Agencia Internacional de Energia Atômica, para controlar o desenvolvimento mundial da energia atômica. Em 1957 os primeiros submarinos nucleares entraram em operação. Em 1956 a Westinghouse construiu o primeiro reator comercial dos EUA, em Shippingport, Pennsylvania. Ele operou até 1982. O primeiro reator europeu entrou em operação em Moscou, no ano de 1946. 4 Em 1954 os soviéticos inauguraram a primeira planta nuclear de potencia. Na década de 1960, tivemos o amadurecimento da tecnologia de reatores nucleares e diversos países entraram no chamado clube nuclear. No Brasil, há 25 anos ocorreu o primeiro sincronismo ao sistema elétrico – produção de energia elétrica para abastecimento de uma rede – na usina de Angra 1, tornando a data um marco histórico da energia nuclear no país. Neste tempo, Angra 1 produziu 56.462.110 MWh, energia suficiente para abastecer uma cidade como o Rio de Janeiro por três anos e meio. Figura 1.1 – Evolução histórica do número de reatores comerciais A procura da tecnologia nuclear no Brasil começou na década de 50, com o pioneiro nesta área, Almirante Álvaro Alberto, que entre outros feitos criou o Conselho Nacional de Pesquisa, em 1951, e que importou duas ultra-centrifugadoras da Alemanha para o enriquecimento do urânio, em 1953. Nas décadas seguintes o país não passou da instalação de alguns centros de pesquisas na área nuclear. A decisão da implementação de uma usina termonuclear no Brasil aconteceu em 1969, quando foi delegado a Furnas Centrais Elétricas S.A. a incumbência de construir nossa primeira usina nuclear. É muito fácil concluir que em nenhum momento se pensou numa fonte para substituir a energia hidráulica, da mesma maneira que também após alguns anos, ficou bem claro que os objetivos não eram simplesmente o domínio 5 de uma nova tecnologia. Estávamos vivendo dentro de um regime de governo militar e o acesso ao conhecimento tecnológico no campo nuclear permitiria desenvolver submarinos e armas. O Programa Nuclear Paralelo, somente divulgado alguns anos mais tarde, deixou bem claro as intenções do país em dominar o ciclo do combustível nuclear, tecnologia esta somente do conhecimento de poucos países no mundo. Em junho de 1974, as obras civis da Usina Nuclear de Angra 1 estavam em pleno andamento quando o Governo Federal decidiu ampliar o projeto, autorizando Furnas a construir a segunda usina. Em 1975, com a justificativa de que o Brasil já apontava escassez de energia elétrica para breve, uma vez que o potencial hidroelétrico já se apresentava quase que totalmente instalado, foi assinado com a Alemanha o Acordo de Cooperação Nuclear, pelo qual o Brasil compraria oito usinas nucleares e obteria toda a tecnologia necessária ao seu desenvolvimento nesse setor. Angra 1 encontra-se em operação desde 1982 e fornece ao sistema elétrico brasileiro uma potência de 657 MW. Angra 2, após longos períodos de paralização nas obras, iniciou sua geração entregando ao sistema elétrico mais 1300 MW, o dobro de Angra 1. A Central Nuclear de Angra está pronta para receber sua terceira unidade. Em função do acordo firmado com a Alemanha, boa parte dos equipamentos desta usina já estão comprados e estocados no canteiro da Central, com as unidades 1 e 2 existentes, praticamente toda a infra-estrutura necessária para montar Angra 3 já existe, tais como pessoal treinado e qualificado para as áreas de engenharia, construção e operação, bem como toda a infra-estrutura de canteiro e sistemas auxiliares externos. Por isso, considera-se acertada a decisão de construção de Angra 3, conforme já exposto no CAPÍTULO 1. Brasil e França assinaram, em 2002 , um acordo de cooperação para utilização da energia nuclear para fins pacíficos. A França ira participar financeiramente do projeto de Angra 3 e poderá contribuir com a venda de equipamentos adicionais e, sobretudo em termos de cooperação técnica e treinamento de pessoal. 6 O interesse dos franceses nesse projeto nuclear pode ser explicado pelo fato de que a estatal francesa Framatom comprou 80% da Siemens, fabricante do reator comprado pelo Brasil. 7 CAPÍTULO 2 A ENERGIA NUCLEAR HOJE As usinas nucleares participam com cerca de 16% do total da energia elétrica produzida no mundo, embora correspondam a apenas 12% da capacidade elétrica instalada. Isso indica que a maior parte das usinas nucleares opera com fatores de utilização superiores aos das usinas elétricas convencionais.Tabela 2.1 - Geração de energia elétrica mundial Tipo de Usina Participação Carvão 40,1 Gás 19,4 Hidrelétricas 15,9 Nuclear 15,8 Óleo 6,9 Outros 1,9 Total 100,0 Fonte: Agência Internacional de Energia Atômica - AIEA 8 Tabela 2.2 – Reatores nucleares no mundo (maio de 2007) GERAÇÃO DE ELETRICIDADE POR USINAS NUCLEARES OPERAÇÃO CONSTRUÇÃO PLANEJADOS PROPOSTOS CONSUMO DE URÂNIO billion kWh % e No. MWe No. MWe No. MWe No. MWe t Argentina 7.2 6.9 2 935 1 692 0 0 1 700 135 Armenia 2.4 42 1 376 0 0 0 0 1 1000 51 Belgium 44.3 54 7 5728 0 0 0 0 0 0 1079 Brazil 13.0 3.3 2 1901 0 0 1 1245 4 4000 338 Bulgaria 18.1 44 2 1906 0 0 2 1900 0 0 255 Canada* 92.4 16 18 12595 2 1540 4 4000 0 0 1836 China 51.8 1.9 11 8587 4 3170 23 24500 54 42000 1454 China: Taiwan 38.3 20 6 4884 2 2600 0 0 0 0 906 Czech Republic 24.5 31 6 3472 0 0 0 0 2 1900 550 Egypt 0 0 0 0 0 0 0 0 1 600 0 Finland 22.0 28 4 2696 1 1600 0 0 0 0 472 France 428.7 78 59 63473 0 0 1 1630 1 1600 10368 Germany 158.7 32 17 20303 0 0 0 0 0 0 3486 Hungary 12.5 38 4 1773 0 0 0 0 0 0 254 India 15.6 2.6 17 3779 6 2976 4 2800 15 11100 491 Indonesia 0 0 0 0 0 0 0 0 4 4000 0 Iran 0 0 0 0 1 915 2 1900 3 2850 143 Israel 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1200 0 Japan 291.5 30 55 47577 2 2285 11 14945 1 1100 8872 Kazakhstan 0 0 0 0 0 0 0 0 1 300 0 Korea DPR (North) 0 0 0 0 0 0 1 950 0 0 0 Korea RO (South) 141.2 39 20 17533 1 950 7 8250 0 0 3037 Lithuania 8.0 69 1 1185 0 0 0 0 1 1000 134 Mexico 10.4 4.9 2 1310 0 0 0 0 2 2000 257 Netherlands 3.3 3.5 1 485 0 0 0 0 0 0 112 Pakistan 2.6 2.7 2 400 1 300 2 600 2 2000 64 Romania 5.2 9.0 1 655 1 655 0 0 3 1995 92 Russia 144.3 16 31 21743 5 2720 8 9600 18 21600 3777 Slovakia 16.6 57 5 2064 2 840 0 0 0 0 299 Slovenia 5.3 40 1 696 0 0 0 0 1 1000 145 South Africa 10.1 4.4 2 1842 0 0 1 165 24 4000 332 Spain 57.4 20 8 7442 0 0 0 0 0 0 1473 Sweden 65.1 48 10 9076 0 0 0 0 0 0 1468 Switzerland 26.4 37 5 3220 0 0 0 0 0 0 575 Turkey 0 0 0 0 0 0 3 4500 0 0 0 Ukraine 84.8 48 15 13168 0 0 2 1900 20 21000 2003 United Kingdom 69.2 18 19 10982 0 0 0 0 0 0 2021 USA 787.2 19 103 98254 1 1155 2 2716 21 24000 20050 Vietnam 0 0 0 0 0 0 0 0 2 2000 0 WORLD 2658 16 437 370,040 30 22,398 74 81,601 182 151,345 66,529 FONTE: AIEA Operando = conectados a rede de distribuição Construção = em fase real de construção Planejados = aprovados e com fundos alocados, com definição de local, mas suspensos Propostos = intenção de construir, mas sem recursos alocados e/ou aprovação 9 Tabela 2.3 - Geração de energia elétrica no Brasil Tipo de Usina Geração total (junho/2005 a maio/2006) (MW) % Hidrelétricas 42.771,9 92,1 Gás 1.654,9 3,6 Nuclear 1.360,9 2,9 Carvão 482,2 1,0 Óleo 162,1 0,4 Totais 46.432,0 100,00 Fonte: Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS 2.1 USINAS NUCLEARES EM CONSTRUÇÃO Previstas para serem retomadas no último trimestre de 2007, as obras de Angra 3 finalmente deixarão de ser apenas planos. Com a aprovação do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), na reunião do dia 25 de junho de 2007, a construção da terceira usina nuclear do Brasil se tornou uma realidade, com o seu término programado para 2013. Nesta reunião, foram apresentados os estudos do Plano Nacional de Energia (PNE-2030), elaborados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), sob a coordenação Ministério de Minas e Energia. O plano indica que o país, possivelmente, precisará de quatro novas usinas nucleares até 2030, sem contar Angra 3, para atender a demanda de energia. Ele não determina o total de usinas a serem construídas, mas representa uma visão estratégia do Governo sobre as necessidades futuras do Brasil. De acordo com o plano, o país necessitará gerar mais 5.300 MWh de energia nuclear nos próximos 23 anos, incluindo os 1.350 MWh de Angra 3, e dos cerca de 2.000 MWh atualmente gerados por Angra 1 e Angra 2. Até 2005, os Estados Unidos (com 104 usinas em operação e nenhuma em construção) ampliaram em 20 anos a vida útil de 39 dessas usinas (43.380 MW de 10 potência instalada), o que equivale, em termos de geração futura, à construção de 21 novas usinas de 1000 MW cada uma, sem os custos de projeto, construção, montagem e comissionamento. Em 2005, oito novos reatores iniciaram sua operação comercial no Japão, Rússia, Ucrânia, Índia e Coréia do Sul; um foi religado no Canadá e dois foram fechados, um na Alemanha e outro na Suécia. Pesquisas realizadas na Grã-Bretanha verificam que o público em geral aceitaria uma política energética que combinasse a energia renovável com construção de novas usinas nucleares. Um relatório da Ontário Power Authority (órgão regulador do Canadá), a pedido do governo, propõe que a geração de energia elétrica de fonte nuclear seja mantida no mesmo patamar atual até 2025. Isso implica em construção de novas usinas, na ampliação de vida útil das existentes ou no religamento de unidades desativadas. Foram publicados recentemente novos estudos sobre o custo da geração nuclear, entre eles o New Economics of Nuclear Power da World Nuclear Association (WNA), onde este valor é mais barato entre todos os outros combustíveis. 11 CAPÍTULO 3 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE REATORES NUCLEARES 3.1 O PROCESSO DE FISSÃO NUCLEAR Somente se produz fissão nuclear em certos núcleos de numero atômico e mássico elevado, sendo um fator que contribui de modo importante o alto valor de Z (numero atômico) e, por conseguinte, o da força repulsiva existente no interior do núcleo. No processo de fissão, o núcleo composto excitado, que se forma após a absorção de um nêutron, se divide em dois núcleos mais rápidos, denominados fragmentos de fissão. Quando a energia cinética do nêutron incidente é pequena, ou seja, é um nêutron lento, os dois fragmentos geralmente possuem massas diferentes. Dito de outra forma, a fissão simétrica por nêutrons lentos é rara; na maioria das fissões provocadas por nêutrons lentos, a relação de massas dos fragmentos de fissão é aproximadamente de 2 a 3. Figura 3.1 – Uma típica fissão nuclear Somente três núcleos (U-233, U-235 e Pu-239), possuem estabilidade suficiente para poderem ser armazenados durante um longo tempo e são fissionáveis por 12 nêutrons de todas as energias, desde valores térmicos até milhões de eletro-volt. Dos três, unicamente o U-235 existe na Natureza; os outros dois são produzidos artificialmente a partir do U-238 e Th-232, por captura neutrônica seguida de duas desintegrações beta. São conhecidas algumas espécies mais capazes de experimentar a fissão de nêutrons de qualquer energia, porém são fortemente radioativas e se desintegram tão rapidamente que não oferecem valor prático para obtenção de energia nuclear. Alem dos nuclídeos fissionáveis por nêutrons de qualquer energia, existem outros que requerem nêutrons rápidos para produzir fissão, destacando-se entre eles o Th-232 e o U-238. Do ponto de vista da utilização da energia nuclear, a importância do processo de fissão se direciona em dois caminhos. O primeiro é que nesse processo se libera uma grande quantidade de energia por unidade de massa de combustível nuclear, e segundo é que a reação de fissão, iniciada por nêutrons, origina a liberação de mais nêutrons. Esta combinação é, justamente, o que faz possível o projeto de um reator nuclear, onde se estabelece a reação em cadeia, autossustentada, com produção contínua de energia. Uma vez iniciada a fissão dealguns núcleos, mediante uma fonte externa de nêutrons, os nêutrons produzidos na reação se propagam a outros núcleos. Deve-se notar, entretanto, que uma reação autossustentada somente é possível com certos núcleos fissionáveis. Nem o Th-232, nem o U-238 podem manter uma reação em cadeia, devido a baixa probabilidade de fissão. A liberação de nêutrons no processo de fissão ocorre porque o núcleo composto U-236, que se forma quando o núcleo de U-235 captura um nêutron, a relação de nêutrons e prótons é da ordem de 1,57; em conseqüência, ao cindir-se esse núcleo em dois fragmentos com numero de massa compreendidos entre 95 e 140, a relação nêutron/próton deve ter o mesmo valor nos produtos. Se os núcleos produzidos por fissão dispõem de energia de excitação suficiente, podem emitir nêutrons, tendendo com isso a adquirir maior estabilidade. 13 3.2 ENERGIA LIBERADA NA FISSÃO NUCLEAR Para determinar a quantidade de energia liberada por fissão de um núcleo atômico, uma das formas é determinar a diminuição de massa, a partir das massas iniciais, e aplicar a relação massa-energia de Einstein E=mc², onde: “E” é o equivalente energética da massa “m” e “c” é a rapidez da luz no vácuo. Tabela 3.1 - Energia de cada fissão do U-235 = 200MeV MeV Energia cinética do fragmento da fissão 166 Nêutrons 5 Raios gama imediatos 7 Raios gama dos produtos da fissão 7 Partículas beta 7 Neutrinos 10 Fonte: Murray, 2004 Por comparação, vejamos a quantidade de energia liberada por outras fontes de energia: Tabela 3.2 - Quantidade de combustível para manter uma família durante um mês FONTE QUANTIDADE Nuclear 10g de urânio Termoelétrica 1.200kg de carvão Biomassa 75.000kg de bagaço de cana Hidroelétrica 5 piscinas olímpicas Eólica 1 dia de uma grande turbina Solar 2 anos de sol Fonte: Revista SUPERINTERESSANTE, 2007 14 3.3 A MASSA CRÍTICA E A REAÇÃO EM CADEIA Como em cada ato de fissão se liberam dois ou três nêutrons e somente se necessita um para manter a fissão em cadeia, parece a primeira vista que, iniciada a reação em uma massa determinada de material físsil, esta se manterá por si mesma. Não é assim que acontece, pois nem todos os nêutrons de fissão são aproveitáveis para manter a reação em cadeia. Alguns nêutrons se perdem por outros tipos de reação, principalmente captura radioativa, com os diversos materiais estranhos existentes no sistema e inclusive com sua própria espécie físsil, além de que alguns nêutrons escapam definitivamente do sistema. A fração dos nêutrons que escapam, ou seja, que saem definitivamente dos limites geométricos do sistema pode reduzir-se convenientemente aumentando o tamanho – ou massa – do material físsil. A quantidade mínima de material capaz de manter a fissão em cadeia, uma vez que ela seja iniciada com uma fonte externa de nêutrons, recebe o nome de massa critica. Figura 3.2 – Reação em Cadeia A massa critica necessária para o funcionamento de um reator depende de um grande numero de fatores, porém para certo reator tem sempre um valor definido. 15 Assim, por exemplo, a massa critica de U-235 pode variar de menos de 1 kg, quando se trata de sistemas constituídos por soluções aquosas de um sal de urânio com 90% de isótopo físsil, até mais de 200 kg que conteriam 30 toneladas de urânio natural incrustadas em uma matriz de grafite. O urânio natural somente, com um conteúdo aproximado de 0,7% de U-235 não pode alcançar a criticidade, por maior que seja a sua massa, devido às perdas excessivamente grande de nêutrons por reações distintas da fissão. 3.4 CARACTERÍSTICAS DOS REATORES DE FISSÃO NUCLEAR Apesar das variedades de sistemas de reatores nucleares, tanto no que se refere ao desenho e componentes, existem certo numero de características gerais que todos esses sistemas possuem em comum, em maior ou menor grau. Um reator consta de um núcleo ativo, no qual se mantém a cadeia de fissões e onde se libera quase toda a energia de fissão na forma de calor. O núcleo de reator contem o combustível nuclear, constituído por um nuclídeo físsil. Na maioria das vezes queremos que a fissão seja feita por nêutrons lentos, o que necessita o uso de um moderador. A função do moderador é de frear os nêutrons de grande energia procedentes da reação de fissão, principalmente por meio de colisões de dispersão elástica. Os melhores moderadores são aqueles materiais que são formados por elementos de número de massa pequeno, com pouca probabilidade de capturar nêutrons; como exemplos desta classe têm a água comum, água pesada (óxido de deutério) e hidrocarbonetos. A natureza do combustível e do moderador, assim como as proporções relativas a ambos, determina as energias da maioria dos nêutrons que produzem fissão. O núcleo do reator está cercado por um refletor de nêutrons, constituído por um material cuja natureza é determinada, em grande parte, pela distribuição energética dos nêutrons existentes no reator. A função do refletor é reduzir a perda de nêutrons por escape, contradispersando parte dos que conseguiram escapar. Por conseguinte, o uso de refletor ocasiona uma diminuição na massa critica do núcleo físsil. Se o núcleo possui um moderador de nêutrons, pode-se utilizar como refletor esse mesmo material 16 ou outro moderador. Se o reator for do tipo que exige nêutrons de alta energia, deve-se evitar a presença de materiais moderadores; nesse caso, o refletor deve ser feito de algum material denso, ou seja, com elevado número de massa. O calor gerado no núcleo de um reator, como conseqüência das fissões que ali tem lugar, se elimina os excessos por meio de um refrigerante adequado. Entre os refrigerantes usados, temos a água líquida, o sódio líquido, certos compostos orgânicos, os gases do ar, dióxido de carbono e hélio. Quando desejamos converter em energia elétrica a energia térmica produzida no reator, o calor do refrigerante é geralmente transmitido a um fluido de trabalho, com o objetivo de produzir vapor de água ou um gás a temperatura elevada. Esse vapor é utilizado num sistema convencional de turbina-gerador. Em alguns reatores, faz-se que a água ferva dentro do próprio núcleo do reator, ou seja, o calor gerado pela fissão é utilizado diretamente para produzir vapor. Quanto maior a temperatura do vapor ou do fluido de trabalho usado, maior será o rendimento de conversão em potência útil. Por conseguinte, num reator de potência, interessa operar a mais alta temperatura possível. Alem disso, sob o ponto de vista econômico, interessa que a potência específica do reator, ou seja, a taxa de geração de calor por unidade de massa de material físsil seja elevada. No que se refere a considerações nucleares, não existem limites a temperatura ou nível de potencia que um reator pode alcançar. Isso significa que as limitações de operação são determinadas, na pratica, por questões tecnológicas e econômicas. A extração de calor deve ser feita num ritmo que permita ao refrigerante alcançar temperaturas elevadas, porém sem que se criem tensões térmicas ou temperaturas internas perigosamente altas, que poderiam causar danos irreparáveis ao reator. A geração de calor num reator é proporcional ao número de fissões e este vem determinado em cada sistema pela densidade neutrônica, ou seja, o número de nêutrons por unidade de volume. Por isso, as operações de controle se realizam variando a densidade neutrônica no núcleo do reator. Isso é feito principalmente pela inserção de barras móveis de um material que captura nêutrons com facilidade, como cádmio ou boro. 17 3.4.1 Tipos de reatoresExistem muitas combinações de materiais e disposições possíveis para se construir um reator nuclear operacional. Devido a isso, temos várias classificações para os tipos de reatores: a) quanto a finalidade: - reatores de pesquisa e desenvolvimento, destinados a pesquisa e não objetivam a produção de energia elétrica. São úteis na produção de radio-isótopos, utilizados em aplicações medicas, por exemplo. - reatores de produção e reatores de potencia são usados para o aproveitamento dos materiais férteis (U-238 e Th-232), a partir dos quais são fabricados os elementos físseis. Existem poucos reatores desse tipo. Podem ser facilmente adaptados para produção de combustível nuclear para armas. - reatores de potência são os utilizados para produção de energia elétrica. Existem reatores fixos (os das centrais nucleares) e os móveis, utilizados em navios e submarinos. b) quanto a energia dos nêutrons Ainda que os reatores nucleares possam ser classificados de vários modos, a distinção mais fundamental é a que se baseia na energia cinética dos nêutrons responsáveis pela fissão. Quase todos os nêutrons liberados por fissão possuem energias elevadas e, por tanto, caso não exista um moderador no núcleo ou um refletor, a maioria das fissões serão produzidas por nêutrons rápidos. O reator que utiliza esse tipo de situação é chamado de reator rápido. O combustível de tais reatores deve conter uma proporção considerável de – por volta de 10% ou mais – de material físsil. O restante deve ser de alguma substância de número de massa elevado, já que os elementos de número atômico baixo freariam os nêutrons. Também se devem evitar materiais cujos elementos possam provocar dispersão inelástica e, portanto, moderação, de nêutrons moderadamente altos. Se no núcleo do reator rápido, ou no que se chama de capa fértil em torno do mesmo, existe uma espécie fértil, esta se converterá em físsil por captura neutrônica. O número de capturas inúteis – ou parasitas – de nêutrons rápidos é relativamente 18 pequeno, de modo que, se mantém mínima a perda de nêutrons por escape, cabe a possibilidade de que se disponha de mais de um nêutron, por fissão, para a conversão de núcleos férteis em físseis. Nessas condições, é possível que se produza mais material físsil, por captura neutrônica, do que se consume por fissão. Quando o nuclídeo físsil produzido é idêntico ao empregado para produzir a fissão em cadeia, o reator se denomina reprodutor. Um reator rápido que utilize Pu-239 como combustível e U-238 como espécie fértil, pode atuar como reator de potência e reprodutor, gerando energia e, ao mesmo tempo, produzindo mais Pu-239 do que consome. Também é possível um reator rápido análogo, reprodutor e de potencia, que utilize U-233 e Th-232 como nuclídeos físseis e férteis, respectivamente. Parece, entretanto, que a reprodução nesse sistema pode lograr-se em reatores de outros tipos, com vantagens sobre os reatores rápidos. As reservas de U-235, único material físsil existente na Natureza, são pequenas. Por conseguinte, chegará ao fim algum dia, com o esgotamento das reservas de todo U-235 aproveitável. O aproveitamento do U-238 e do Th-232 dependerá do emprego de U-239 e U-233 para manter a fissão em cadeia. Por esse motivo, são importantes os reatores reprodutores, que produzem e consomem nuclídeos físseis. Quando o núcleo do reator contém uma proporção considerável de moderador, a elevada energia dos nêutrons de fissão cai rapidamente a região térmica. A maior parte das fissões em reatores desse tipo, que são chamados de reatores térmicos, será produzida por nêutrons térmicos ou lentos. Os reatores térmicos têm sobre os rápidos a vantagem de serem mais flexíveis em termos de desenho, podendo-se fazer escolhas entre diversos moderadores, refrigerantes e materiais combustíveis. Em contrapartida, os reatores rápidos são bem menores. c) quanto à combinação moderador e refrigerante: Existem diversas combinações possíveis de moderador e refrigerante, destacando-se: 19 Tabela 3.3 – Combinações de Moderador e Refrigerante Moderador Refrigerante Água leve Água leve Água pesada Dióxido de carbono Grafite Hélio Berílio Sódio líquido d) quanto ao combustível: O urânio com teor de U-235 variando do urânio natural (0,7%) a levemente enriquecido (3%) a altamente enriquecido (90%) é empregado em vários reatores, com o enriquecimento dependendo do conjunto. Os nuclídeos físseis Pu-239 e U-233 são produzidos e consumidos em reatores contendo quantidades significativas de U-238 ou Th-232. O Pu-239 serve como combustível para reatores rápidos regeneradores e podem ser reciclados como combustível para reatores térmicos. O combustível pode ter várias apresentações físicas: metal ou liga, composto UO2, UC, etc. e) quanto à disposição: Pode-se isolar o combustível do refrigerante, formando a chamada disposição heterogênea, que é a mais utilizada. Outras disposições são as chamadas homogêneas, onde se tem a mistura de combustível e moderador ou combustível e moderador-refrigerador. f) quanto aos materiais estruturais As várias funções num reator são usadas para dar nome a certo tipo de reator. Alguns dos reatores de potencia mais utilizados são: Comb Enriq Mode Refrig Reve Contr Vaso PWR – BWR – CAND Fonte bustível quecimento erador gerante estimento role – Pressurized W – Boiling Wate DU – Canadianu e: Murray, 20 T Água Pressurizad (PWR) UO2 U-235 a 3% Água Água Zircaloy Hastes B4C ou Ag- Cd Aço Water Reactor r Reactor uranium-deuter 004 Tabela 3.4 da Água e Ebuliçã (BWR) UO2 % U-235 2,5% Água Água Zircalo de -In- Cruzes B4C Aço rium Figura – Reatores em ão Águ e urâ (CA PH UO a U-2 Águ Águ y Zirc s de Nív mo Aço HTG LMF PHW 3.3 – Reat s de potên ua pesada ânio natural ANDU) ou WR O2 235 a 0,7% ua pesada ua pesada caloy vel do oderador o GR - High Temp BR – Liquid M WR – Pressuris tor PWR ncia Refrigerado gás, alta Temperatu (HTGR) UC2,ThC2 U-235 a 93 Grafite Hélio gasos Grafite Hastes B4C Concreto protendido perature gás-co etal Fast Breed ed Heavy Wate o a ra Regen Rápido Metal l (LMFB PuO2, 3% Pu-239 15% Nenhu so Sólido Aço inoxidá de Tântalo hastes B4C Aço ooled Reactor der Reactor er Reactor erador o com íquido BR) UO2 9 a m líquido ável o ou de 20 Figura 3.55 – Reator individuais Figura RBMK (re s de comb 3.4 – Reat ator press ustível), ut tor BWR urizado da tilizado em a água com m Chernoby m canaletas yl s 21 22 Figura 3.6 – Tipos de reatores em uso no mundo 3.4.2 Reatores nucleares de quarta geração Reatores de Quarta geração (Gen IV) é um conjunto de projetos de reatores nucleares teóricos que estão atualmente sendo pesquisados. Em geral não se espera que estes projetos tenham aplicação comercial antes de 2030. Os reatores em operação atualmente no mundo são geralmente considerados sistemas de segunda ou terceira geração. As pesquisas deste tipo de reator começaram oficialmente no Fórum Internacional da Quarta Geração (Generation IV International Forum (GIF)) que propôs oito objetivos tecnológicos. Os objetivosprimários são: melhorar a segurança nuclear, melhorar a resistência à proliferação, minimizar a produção de lixo nuclear e a utilização de recursos naturais e diminuir o custo da construção e operação das centrais nucleares. Figura 3.7 – Um exemplo de reator de quarta geração 23 CAPÍTULO 4 O COMBUSTÍVEL NUCLEAR 4.1 INTRODUÇÃO A produção de combustível nuclear, sua utilização no reator e a recuperação de materiais físseis e férteis, constituem o ciclo do combustível. Representa este ciclo um aspecto importante do projeto de um reator, devido principalmente a sua influência sobre a economia da energia nuclear. Em primeiro lugar, o processo de mineração do urânio para conversão em um material de grande pureza que possa ser utilizado como combustível exige um esforço considerável; o combustível pode ser urânio metálico, oxido de urânio ou até um sal solúvel em água como o sulfato de urânio. Más a maioria dos reatores utiliza urânio enriquecido com o isótopo físsil U-235, ou seja, numa proporção maior do que a encontrada em estado natural. Devido a isso, deve-se incluir na preparação dos materiais combustíveis, um processo de separação isotópica. A vida do combustível de um reator depende de diversos fatores: a) alterações dimensionais dos elementos combustíveis sólidos, b) acumulação de produtos de fissão “venenosos”, especialmente em reatores térmicos, c) esgotamento do material físsil. Normalmente é preciso substituir o combustível quando apenas uma pequena percentagem do total de espécies físseis e férteis fora consumida. Os materiais não usados são reciclados para reutilização. Apesar da pequena utilização de material físsil, a radioatividade intensa dos produtos de fissão introduz um problema peculiar com relação ao tratamento de combustíveis usados. Os processos de separação do urânio, plutônio e produtos de fissão, podem ser bastante complexos, dependendo da forma em que se encontram no reator. Em particular, os reatores térmicos requerem um alto grau de descontaminação, ou seja, de eliminação de produtos de fissão, com o objetivo de reduzir ao mínimo a quantidade de absorvedores neutrônicos. Esse problema é menos grave quando se trata de 24 combustível para reatores rápidos, devido a que, em geral, a probabilidade de captura sem fissão de nêutrons rápidos é pequena. Em qualquer caso, no entanto, a eliminação de produtos de fissão radioativos é sempre necessária, para que no final se possa fabricar-se o material recuperado até dar-lhe uma forma especifica, sem que exista um risco biológico. Figura 4.1 – O ciclo do combustível nuclear 25 4.2 O ENRIQUECIMENTO DO URÂNIO Do minério de urânio até a obtenção do metal urânio vai um longo trabalho. Foram desenvolvidos vários processos de enriquecimento de urânio, entre eles o da difusão gasosa e da ultracentrifugação (em escala industrial), o do jato centrífugo (em escala de demonstração industrial) e um processo a Laser (em fase de pesquisa). Por se tratarem de tecnologias sofisticadas, os países que as detêm oferecem empecilhos para que outras nações tenham acesso a elas. O processo de coletar o urânio natural, contendo 0,7% de U-235, 99,3% de U-238 e traços de U-234, e retirar uma quantidade de U-238 para aumentar a concentração de U-235, é conhecido como enriquecimento. O melhor processo é aquele que envolve o menor custo de produção. Para a produção de 1 kg de U-235 enriquecido entre 3 e 3,5 % é necessário o consumo de cerca de 2.300 kWh. Tabela 4.1 – Aplicações do urânio enriquecido Nível de pureza Aplicação 0,72% Urânio natural 3-4% Usinas nucleares 40% Barcos e submarinos russos 80% Barcos e submarinos americanos 90% Bombas nucleares Para separar o isótopo de U-235 do U-238, o método mecânico se mostrou eficiente, utilizando uma máquina centrífuga para separação. A taxa de conversão é da ordem de 500 partes de minério para se obter 1 parte de metal. Desta parte, mais de 99% é de U-238, sem finalidade na indústria nuclear. Em termos simples, a ultracentrífuga segue o mesmo princípio das centrífugas domésticas, usadas para preparar alimentos: propicia a separação do material de maior peso, que é jogado para a parede do recipiente, daquele de menor peso, que fica mais concentrado no centro. No processo chamado de enriquecimento acontece algo 26 semelhante. O U-235 é apenas ligeiramente mais leve que o U-238, adiciona-se flúor ao metal, formando o gás hexafluoreto de urânio. Para o combustível nuclear interessa apenas o isótopo U-235, que é físsil. E como no urânio natural há uma quantidade muito pequena de U-235, é preciso fazer essa separação, ou aumentar a concentração do urânio físsil. Dentro da centrífuga, o isótopo de urânio U-235 tende a concentrar-se mais no centro, e o U-238 fica mais próximo à parede do cilindro. Duas tubulações de saída recolhem o urânio, sendo que numa delas segue o urânio que tiver maior concentração de isótopos U-235 (urânio enriquecido), e na outra, o que tiver mais U-238 (chamado de subproduto). Dessa centrífuga o urânio é repassado para outra centrífuga e assim por diante, num processo em cascata. No final dessa cascata é recolhido o urânio com maior nível de enriquecimento, enquanto que na base permanece o subproduto. Através de uma tubulação, o hexafluoreto de urânio (UF6) é aquecido em uma autoclave a 100°C, adicionam-se outras substâncias, dando origem ao tricarbonato de amônia uranila. Quando o gás passa por um filtro o pó de dióxido de urânio (UO2) fica retido e é prensado e aquecido a 1.750°C. O aproveitamento unitário das centrífugas é muito pequeno, sendo, portanto necessário uma bateria de máquinas para permitir a obtenção de maior quantidade de urânio enriquecido. Enquanto não dominava o processo de enriquecimento, que aumenta a porcentagem do isótopo U-235, este era feito, na Alemanha e Holanda, pelo consórcio europeu URENCO. A conversão de urânio é o processo que consiste na transformação de concentrados de urânio, o chamado "yellow cake". O material volta ao país como hexafluoreto de urânio (UF6). Com ele, as Indústrias Nucleares do Brasil fabricam, em Resende (RJ), as pastilhas de dióxido de urânio (UO2), que abastecem o reatores de Angra. 27 4.3 OCORRÊNCIA DO URÂNIO NO MUNDO Encontram-se vestígios de urânio em quase todas as rochas sedimentares da crosta terrestre, embora este não seja muito abundante em depósitos concentrados. O minério de urânio mais comum e importante é a uraninita, composta por uma mistura de UO2 com U3O8. O maior depósito do mundo de uraninita situa-se nas minas de Leopoldville no Congo, na África. Outros minerais que contêm urânio são a euxenita, a carnotita, a branerita, a torbernite e a coffinita. Os principais depósitos destes minérios situam-se nos EUA, Canadá, Rússia e França. Figura 4.2 – Principais reservas de urânio no mundo Embora exista urânio sobre toda a crosta terrestre, as reservas economicamente exploráveis são aquelas com custo de exploração inferior a US$ 130,00/kg. Segundo esse critério, temos a seguinte distribuição: 28 Tabela 4.2 – Reservas mundiais de urânio País Reservas Toneladas de urânio % Cazaquistão 957.000 21,7 Austrália 910.000 20,6 África do Sul 369.000 8,4 Estados Unidos 355.000 8,0 Canadá 332.000 7,5 Brasil 309.000 7,0 Namíbia 287.000 6,5 Outros 897.000 20,3 Total 4.416.000 100,00 Fonte: Indústrias Nucleares do Brasil S.A. - INB O Brasil, segundo dados oficiais (INB - Indústrias Nucleares do Brasil S.A.), ocupaa sexta posição no ranking mundial de reservas de urânio (por volta de 309.000t de U2O8). Segundo esta empresa, apenas 25% do território nacional foi objeto de prospecção, e as duas principais delas são a de Caetité (mina Lagoa Real), e Santa Quitéria (Ceará). 29 Figura 4.3 – Localização das reservas brasileiras de urânio Descoberta em 1976, a mina de Caetité é feita a céu aberto, numa das 33 ocorrências localizadas numa faixa com cerca de 80 km de comprimento por 30 a 50 km de largura. Localizada a 20 km da sede do município, o complexo instalado produz um pó do mineral, conhecido por yellow cake. Esta reserva possui um teor médio de 3.000 ppm (partes por milhão), capaz de suprir dez reatores do porte de Angra 2 durante toda sua vida útil. 4.4 O TÓRIO (Th-232) O Th-232 é outro elemento, inclusive mais abundante que o urânio, que pode ser empregado como matéria prima para a produção de combustível nuclear. Em estado puro, ele não entra em reação em cadeia, pois não se fissiona. Porém, se submetido a um intenso fluxo de nêutrons num reator, se converte no isótopo artificial U-233, que assim como o U-235 e o Pu-239. 30 4.5 PRINCIPAIS PAÍSES ENRIQUECEDORES No momento os serviços de enriquecimento estão sendo oferecidos por quatro supridores principais, USEC-"United States Enrichment Corp.", substituindo o DOE- "Department of Energy" dos Estados Unidos, COGEMA/EURODIF (França e associados), a TENEX/ MINATOM (Ministério de Energia Atômica da Rússia ) e URENCO (Reino Unido, Holanda e Alemanha) e por dois outros supridores de menor porte, a CNEIC-"Chinese Nuclear Energy Industry Co." e JNFL-"Japan Nuclear Fuels Ltd". Os processos industriais empregados são a difusão gasosa, empregado pela USEC, EURODIF e CNEIC. A centrifugação é empregada pela URENCO, MINATOM, JNFL e CNEIC. Os outros métodos (Laser, CRISLA, etc.), ainda se encontram no estágio de pesquisa e desenvolvimento. A URENCO possui a mais avançada tecnologia em operação comercial, suprindo serviços de enriquecimento para 15 países. A URENCO movimentou em 2003 US$ 18 bilhões e está em franco crescimento. No Brasil, a INB (Indústrias Nucleares Brasileiras) é uma empresa de economia mista, vinculada à Comissão Nacional de Energia Nuclear - (CNEN) e subordinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Está presente nos estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais e Rio de Janeiro, participando ativamente, junto à sociedade brasileira, com o desenvolvimento de importantes projetos tecnológicos para geração de energia nucleoelétrica. Responde pela exploração do urânio, desde a mineração e o beneficiamento primário até a produção e montagem dos elementos combustíveis que acionam os reatores de usinas nucleares. O conjunto dessas atividades constitui o Ciclo do Combustível Nuclear. Atua também na área de tratamento físico dos minerais pesados com a prospecção e pesquisa, lavra, industrialização e comercialização das areias monazíticas e obtenção de terras-raras. 31 Tabela 4.3 – Urânio comercial e capacidade de enriquecimento (tSWU/ano) País Método Difusão gasosa Centrifugação Brasil - 120 China 900 1.000 França 10.800 - Alemanha - 1.800 Índia - 5 Irã - 250 Japão - 1.250 Holanda - 2.900 Paquistão - 5 Rússia - 15.000 Reino Unido - 3.400 Estados Unidos 11.300 - 23.000 22.730 48.730 Notas: a) As capacidades de Israel e da Coréia do Norte não são conhecidas b)Existem diversas plantas militares e de pesquisa, que não estão contabilizadas c) Fonte: AIEA 32 Figura 4.4 - Ultracentrífuga usada pelo Brasil 4.6 FABRICAÇÃO DE ELEMENTOS COMBUSTÍVEIS Os reatores a água (PWR, BWR, PHWR e LWGR) estão sendo empregados comercialmente há mais de 30 anos. Aproximadamente 96% da capacidade mundial instalada em centrais nucleares são com estes tipos de reatores e 88% é com centrais nucleares com reatores a água leve do tipo PWR e BWR. Os combustíveis para todas estas centrais são hoje fabricados em 21 países. A demanda de combustível para todos os tipos de usinas, com exceção de combustível MOx e FBR, foi de cerca de 60% da capacidade total instalada. No momento a capacidade instalada de fabricação de combustível do tipo LWR, a demanda em pelo menos 70%. Uma série de países está considerando a construção/expansão de fábricas de elementos combustíveis. Estes países ou já tem um programa de centrais nucleares estabelecidos (Ucrânia, China, República da Coréia, México e Romênia) ou estão na fase inicial de implantação de um programa (Indonésia, Egito e Turquia). Por outro lado um grupo de países com programas de centrais nucleares já estabelecidos (Finlândia, Suíça, etc.) não possuem fábricas de elementos combustíveis e não tem planos para 33 implantá-las. O preço do elemento combustível depende de uma série de fatores como tipo de combustível utilizado, inclusão ou não de esquemas de gestão do combustível no núcleo, treinamento, etc. O reprocessamento dos elementos combustíveis descarregados dos reatores visa a separação do material físsil e fértil, principalmente plutônio e urânio, dos produtos de fissão, para eventual uso posterior como combustível. O reprocessamento constitui- se em uma tecnologia comprovada e os seus serviços estão disponíveis em nível comercial para todas as empresas de energia elétrica do mundo. O reprocessamento só se aplica naqueles casos em que se considera o fechamento do ciclo, com extração do urânio residual e plutônio para serem reciclados no reator. Naqueles casos em que o reprocessamento não é utilizado há os custos para a estocagem do combustível descarregado. 4.7 CUSTO DO CICLO DO COMBUSTÍVEL No caso da geração nuclelétrica o custo do combustível incide sobre o custo final de geração em cerca de 20-25%. Considerando-se as condições atuais de mercado para os diferentes serviços e materiais do ciclo do combustível, um fator de capacidade de 70% da usina nuclear, o custo do combustível,incluindo a primeira carga, varia de US$ 4 a 12/MWh para um ciclo fechado e de US$ 3,5 a 11/MWh para um ciclo aberto com previsão para estocagem definitiva do combustível irradiado. No caso brasileiro a INB está fornecendo combustível a ELETRONUCLEAR que leva a um custo do ciclo de cerca de US$ 8,5/MWh, ciclo aberto, indicando que seus custos estão dentro da gama dos custos internacionais. 34 CAPÍTULO 5 OS SUBPRODUTOS DA FISSÃO NUCLEAR: O LIXO O lixo radioativo é produzido em todos os estágios do ciclo do combustível nuclear- desde a mineração do urânio até o reprocessamento de combustível nuclear irradiado. Grande parte desse lixo permanecerá radioativo por milhares de anos, deixando uma herança mortal para as futuras gerações. Portanto, o grande desafio é como mantê-lo em condições seguras e invioláveis por tanto tempo. Mas, embora tudo isto seja aterrorizante, a Agência Internacional de Energia Atômica informa que o que há de lixo radioativo, depois de 50 anos de uso comercial da energia nuclear, não enche um estádio de futebol. Durante o funcionamento de um reator nuclear são criados isótopos radioativos extremamente perigosos - como césio, estrôncio, iodo, criptônio e plutônio. O plutônio é particularmente perigoso, já que pode ser usado em armas nucleares se for separado do combustível nuclear irradiado por meio de um tratamento químico chamado reprocessamento. Como parte da operação de rotina de toda usina nuclear alguns materiais residuais são despejados diretamente no meio ambiente. O resíduo líquido é descarregado junto com a "água de resfriamentoda turbina" no mar ou em rio próximo à usina e os resíduos gasosos vão para a atmosfera. Em ambos os casos, a vazão destes efluentes é controlada para que não altere a radioatividade natural (background) do meio ambiente. Mundialmente são gerados 10.000 t/ano de resíduos radioativos. Os EUA dispõem de Yucca Mountain, local capaz de estocar 70.000 t ao custo de 15 bilhões de dólares. Para que a energia nuclear substituísse o petróleo como combustível para geração elétrica seria necessária que sua participação aumentasse até 30% em meados de 2020, com isto a geração de resíduos chegaria a 40.000 t/ano. 35 5.1 ORIGENS DOS REJEITOS RADIOATIVOS Há três categorias de lixo radioativo: a) resíduo de alto nível (HLW, de high level waste); Dentro da categoria HLW existe a subcategoria SNF (spend nuclear fuel), que é formada por isótopos que NÃO PODEM se reciclados). b) rejeito de nível intermediário (ILW, intermediate level waste); c) rejeito de baixo nível (LLW, de low level waste). O HLW consiste principalmente de combustível irradiado proveniente dos núcleos de reatores nucleares e de rejeitos líquidos de alta atividade produzidos durante o reprocessamento. A remoção de plutônio pelo reprocessamento resulta num imenso volume de rejeito líquido radioativo. Parte desse rejeito de reprocessamento, armazenado em grandes tanques, é misturado com material vitrificante quente. Novas tecnologias vêm sendo desenvolvidas, como os ADS - Accelerator Driven Systems, que podem usar o lixo como combustível e assim reduzem o tempo de armazenamento em centenas de anos. Os blocos de vidro resultantes também são classificados como HLW e ainda que o processo de vitrificação possa tornar mais fácil o transporte e o armazenamento, de forma alguma diminuem as emissões radioativas. Figura 5.1 – Bloco de vidro rejeitos HLW O ILW consiste principalmente de "latas" metálicas de combustível que originalmente continham urânio combustível para usinas nucleares, peças de metal do reator e rejeitos químicos. Têm de ser blindadas para proteger operários e outras 36 pessoas contra a exposição durante o transporte e a destinação final. O ILW, de maneira geral, é muito mais radioativo que o LLW. O LLW pode ser definido como o rejeito que não requer blindagem durante o manuseio normal e o transporte. O LLW consiste principalmente de itens como roupas de proteção e equipamentos de laboratório que possam ter entrado em contato com material radioativo. Tabela 5.1 – Principais HLW (resíduos de alto nível) Isótopo Meia-vida aproximada (anos) Estrôncio-90 29 Césio-137 30 Amerício-241 430 Amerício-243 7.400 Plutônio-239 24.000 Tecnécio-99 213.000 Fonte: http://www.nea.fr/html/pub/nuclearenergytoday/welcome.html Tabela 5.2 – Produção anual de resíduos radioativos (m3 por ano) gerada por uma planta de 1.000MWe Tipo de resíduo Após uma passagem pelo ciclo Reciclando o combustível LLW/ILW 50-100 70-190 HLW 0 15-35 SNF 45-55 0 Fonte: http://www.nea.fr/html/pub/nuclearenergytoday/welcome.html 37 Figura 5.2 – Comparação entre várias fontes de rejeitos Valores por ano a Europa 5.2 O DESTINO FINAL O combustível nuclear altamente radioativo é retirado do reator e armazenado em piscinas de resfriamento no interior da própria usina. De acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), a quantidade total de combustível usado era de 125.000 t em 1992 e 200.000 t no ano 2000. Contudo, embora diversos métodos de destinação tenham sido discutidos durante décadas — incluindo o envio para o espaço — ainda não há solução para o lixo radioativo. Já surgiram propostas para se dispor de tais resíduos, inclusive colocá-los em foguetes e dispará-los para o sol. A maioria das "soluções" atualmente propostas para a disposição final do lixo radioativo envolve seu enterro no subsolo numa embalagem especial com proteção forte o bastante para impedir que sua radioatividade escape. Não bastam perfurações de teste ou levantamentos geológicos para o manejo do lixo radioativo. Os testes adequados demandariam dezenas de milhares de anos Há dois riscos principais no enterro de lixo radioativo: a contaminação do ar e a da água. 38 5.2.1 Contaminação do ar As liberações explosivas ou lentas de gases de um sítio de destinação final subterrâneo são possíveis teoricamente. Infelizmente, não há forma confiável de estimar esse risco - há incógnitas demais relativas aos atuais métodos de deposição e às interações químicas possíveis num ambiente real. 5.2.2 Contaminação da água Geralmente este é considerado o mecanismo de poluição mais provável ligado à disposição final de rejeitos em rochas. Elementos radioativos podem vazar do invólucro e entrar em contato com o lençol freático, contaminando a água potável de comunidades locais e distantes. Além do enterro dos rejeitos, vários esquemas de armazenamento no local de uso estão sendo investigados. Nisso, o armazenamento de combustível usado em grandes recipientes de aço ou concreto é de interesse primordial. Ainda que esse tipo de armazenamento conserve o material no ponto em que foi criado e reduza os custos de transporte, centenas de comunidades de todo o mundo estão ameaçadas de fato por depósitos de alto nível às suas portas. Também há planos para consolidar o combustível usado e colocá-lo em contêineres em algumas poucas instalações regionais de superfícies, o que resulta num número imenso de viagens em recipientes não destinados a resistir a possíveis acidentes. 39 5.3 O DESCOMISSIONAMENTO Grande quantidade de lixo radioativo também é produzida quando um reator nuclear é desativado. Isso porque muitas das peças que o compõem, incluindo o combustível, tornam-se radioativas. O processo de tratamento de uma usina nuclear nesse ponto é chamado "descomissionamento". Entretanto, além da remoção do combustível usado, não há consenso sobre o que deve acontecer a seguir. Nenhum reator de dimensões normais foi desmontado em lugar algum do mundo. Ainda que alguns países planejem retirar toda a estrutura, até mesmo as partes radioativas, restando um espaço plano desocupado; outros sugerem deixar a edificação onde está, cobrindo-a com concreto ou, possivelmente, enterrando-a sob um monte de terra. O custo do descomissionamento dos reatores nucleares é objeto de muita especulação. As estimativas de custo originam-se de estudos genéricos, a partir da projeção dos custos de descomissionamento de pequenas instalações de pesquisa. O detalhamento e a sofisticação empregados no desenvolvimento dessas estimativas variam muito; a falta de padronização torna difíceis as comparações. Além disso, a limitada experiência de descomissionamento — nenhuma, se considerados reatores de grande porte — torna impossível saber se as estimativas são razoáveis, mas já se sugeriu que os custos de descomissionamento poderiam ser de até 100% do custo de construção inicial. Nas próximas três décadas, mais de 350 reatores nucleares serão desativados. Quarenta anos depois de a primeira usina nuclear começar a produzir eletricidade, a indústria nuclear ainda não tem respostas sobre como desmantelar, de forma segura e economicamente eficiente, um reator. 40 CAPÍTULO 6 SEGURANÇA NAS USINAS NUCLEARES 6.1 INTRODUÇÃO Em geral, os três objetivos primários da segurança das usinas nucleares são: a) Controle da reatividade, ou seja, a possibilidade de apagar a reação nuclear em cadeia de fissão.Esse controle deve ser intrínseco ao projeto. Em Chernobyl não havia algo assim, deixando a interrupção da reação em cadeia nas mãos dos operadores. b) Remoção do calor de decaimento. Em Three Mile Island a falha nesse sistema contribuiu para o acidente. c) Barreiras múltiplas para confinamento da radioatividade. Os sistemas de segurança de um reator nuclear são de três tipos: a) Sistemas ativos, que são sistemas baseados no controle ativo, elétrico ou mecânico, de equipamentos como válvulas, bombas, trocadores de calor, etc. e são projetados de forma redundante. Esta redundância ocasiona uma elevação enorme dos custos da planta nuclear. b) Sistemas passivos, que independem de mecanismos complexos ou interferência humana para funcionarem, dependendo exclusivamente de fenômenos físicos, como a convecção, a gravidade, a resistência a altas temperaturas. c) Sistemas inerentes são baseados na eliminação de um dado risco através da utilização de materiais específicos ou conceitos de projeto. Os reatores de primeira e segunda geração confiavam exclusivamente em sistemas de segurança ativos e em características inerentes de segurança. Com os reatores de terceira geração foram introduzidos os conceitos de segurança passiva e de diversificação e redundância dos sistemas de segurança. Os reatores de quarta geração obedecerão a uma combinação de sistemas de segurança ativos, passivos e inerentes. 41 6.2 ESCALA INTERNACIONAL DE ACIDENTES NUCLEARES Em 1990 a AIEA e outros órgãos internacionais definiram a Escala Internacional para Eventos Nucleares (INES) como padrão internacional para definição dos acidentes nucleares no mundo todo. . Tabela 6.1 - Escala Internacional de Eventos Nucleares (INES) Nível Descrição Impacto fora da área da instalação Impacto na área da instalação Degradação da defesa em profundidade Exemplos A C ID EN TE S 7 Acidente grave Liberação grave - múltiplos efeitos para a saúde e o meio ambiente Central nuclear de Chernobyl, Ucrânia, 1986 6 Acidente sério Liberação importante - possibilidade de exigência de aplicação integral das contramedidas previstas Usina de reprocessamento de Kyshtym, Rússia, 1957 5 Acidente com risco fora da área da instalação Liberação limitada - possibilidade de exigência de aplicação parcial das contramedidas previstas Danos graves no núcleo do reator/barreiras radiológicas Reator de Windscale, UK, 1957 Three Mile Island, EUA, 1979 4 Acidente sem risco importante fora da área da instalação Liberação pequena - exposição do público entorno dos limites prescritos Danos importantes no núcleo do reator, barreiras radiológicas, exposição fatal de um trabalhador Central de Saint- Laurent, France, 1980 Takai-mura, Japão, 1999 IN C ID EN TE S 3 Incidente sério Liberação muito pequena - exposição do público a uma fração dos limites prescritos Dispersão grave da contaminação, efeitos agudos sobre a saúde de um trabalhador Quase acidente – perda total das barreiras de segurança Central de Vandellos, Espanha, 1989 2 Incidente Dispersão importante da contaminação, superexposição de um trabalhador Incidente com falhas importantes nos dispositivos de segurança 1 Anomalia Anomalia além do regime de operação autorizado 0 Abaixo da escala Nenhuma importância com relação Evento fora da escala Fonte: Mongelli, 2006 42 6.3 ANÁLISES DE SEGURANÇA O relatório de segurança de uma instalação nuclear é um documento extremamente importante e uma exigência normativa para o licenciamento e o exercício de uma planta nuclear. No relatório de segurança a avaliação e a análise dos incidentes ocupam um papel fundamental e o objetivo de demonstrar que a planta é construída de maneira tal que: a) A probabilidade de acontecimento de qualquer incidente seja pequena; b) o acontecimento de um incidente de pequeno porte não cause danos a instalação; c) As conseqüências de um incidente de grande porte sejam contidas sem arrecadar danos a população das redondezas. O tema da análise de segurança pode ser enfrentado de um ponto de vista determinístico ou probabilístico. Estes dois métodos não são alternativos, mas complementares. O método probabilístico introduz o conceito de risco aceitável e permite a identificação das possíveis seqüências de eventos indesejáveis e os possíveis pontos fracos de uma planta. O método determinístico atribui um limite concreto de gravidade de um incidente, sendo de grande utilidade para as autoridade supervisoras e para a opinião pública. 6.4 AVALIAÇÕES DE RISCOS DAS USINAS NUCLEARES ORIENTADA PELO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO Alguns críticos dos métodos adotados para analisar os riscos das usinas nucleares afirmam que: a) as avaliações são limitadas a uma avaliação caso a caso, de modo que cada situação é examinada separadamente, tendo como preposição que os efeitos que forem sendo identificados serão adicionados aos outros, sendo o efeito total o resultado da soma dos diversos efeitos individuais identificados. Os efeitos interativos são 43 desconsiderados. b) as avaliações consideram apenas os perigos para os quais existem provas, de modo que, somente efeitos adversos para os quais existe relação causal e que tenham sido cientificamente aceitos pela comunidade científica são considerados. c) as avaliações de risco são expressas de modo unidimensional e em termos de quantitativos, centrando o debate sobre a probabilidade de ocorrências ou de exposições, expressa em numero de óbitos, perdas financeiras, etc. Essa quantificação pressupõe que os parâmetros do comportamento nas pessoas e no meio ambiente em questão, podem ser conhecidos, testados e relativamente controlados, de modo que as chances de diferentes resultados podem ser definidas e quantificadas através de análises estruturadas de mecanismos probabilísticos. d) as avaliações cabem somente aos especialistas, não cabendo ao cidadão comum participar do processo. A concepção elitista de democracia que orienta as avaliações de riscos tem como maior preocupação manter a estabilidade de um determinado sistema ético, moral, social, cultural e político, em que são qualificados como racionais aqueles cujas ações se encontram em consonância com o sistema. Nessa concepção, apenas os “especialistas” podem são capazes de julgar e decidir pela coletividade. Os interesses dos cidadãos são atendidos quando os processos decisórios de escolhas de tecnologias estão de acordo com os modelos técnicos de avaliações de riscos e consenso das elites. As implicações disso são que as avaliações de riscos acabam sendo realizadas de modo descontextualizado com as circunstâncias praticas das atividades humanas e pouca atenção é dada ao impacto dos aspectos sistêmicos e interativos. Podem-se identificar as seguintes limitações: a) sabe-se que a maioria dos sistemas físicos possui uma dinâmica não-linear, o que significa que mudanças de longo prazo são muito difíceis de prever e que pequenas mudanças nas condições iniciais podem mudar a situação final radicalmente (Teoria do Caos); b) por não serem fenômenos lineares, não podem ser antecipados com o uso de variáveis estatísticas simples. 44 c) todas as análises são baseadas em poucos casos e são extrapoladas. Devemos levar em conta que muitos problemas envolvem eventos ou situações de riscos muito complexos, pois envolvem simultaneamente, fenômenos naturaise humanos, que se relacionam de forma muito elaborada. Não podemos mais aceitar processos decisórios que são baseados em decisões que não levam em conta as atividades humanas. Temos que reconhecer os limites de nossas avaliações baseadas apenas em sistemas lineares. Figura 6.1 – Comparação de riscos a saúde para diversos sistemas energéticos Devemos, pois, adotar o Princípio da Precaução, que é a garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificados. Este Princípio afirma que a ausência da certeza científica formal, a existência de um risco de um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam prever este dano. O Princípio da Precaução não deve ser encarado como um obstáculo às atividades assistências e principalmente de pesquisa. É uma proposta atual e necessária como forma de resguardar os legítimos interesses de cada pessoa em particular e da sociedade como um todo. O Princípio da Precaução é fundamental para a abordagem de questões tão atuais e importantes como a produção de alimentos transgênicos e a clonagem de seres humanos. Reconhecer a existência da possibilidade da ocorrência de danos e a necessidade de sua avaliação com base nos conhecimentos já disponíveis é o grande desafio que está sendo feito a toda comunidade científica mundial. 45 Devemos sempre lembrar que risco baixo não significa ausência de risco. 6.5 REATORES COMERCIAIS E SUAS DEFICIÊNCIAS No início de 2005, havia 441 reatores nucleares, operando em 31 países. A idade, o tamanho e o tipo de projeto de todos esses reatores variam consideravelmente. O projeto predominante é o Reator de Água Pressurizada (PWR), com 215 deles em operação. O projeto do PWR foi originalmente concebido para a propulsão de submarinos nucleares. Portanto, esses reatores são pequenos se comparados a outros modelos, mas possuem uma elevada potência energética. Trata-se de um modelo muito suscetível a corrosão dos componentes, já que a água atinge altíssimas temperaturas e pressões (aproximadamente 320oC e 135 atm). Vários defeitos foram encontrados nos PWR ao longo dos anos e mesmo assim, problemas novos foram encontrados há pouco tempo. O mesmo ocorre com os outros reatores. Problemas novos aparecem, sem que possamos evitá-los. Vale lembra o acidente que afundou a maior plataforma de petróleo da PETROBRAS e os resultados da análise do acidente: "A Comissão de Sindicância que apurou o acidente da P-36 concluiu que foi uma seqüência de eventos que se alinharam de forma única e que, isoladamente, não teriam provocado seu afundamento. A Comissão fez recomendações para melhorar os processos internos, como os de emergência e de operação." - PETROBRAS em Ações/Julho de 2001 46 6.6 ACIDENTES IMPORTANTES Diversos acidentes e incidentes ocorreram em usinas nucleares. A seguir analisaremos os dois mais importantes. 6.6.1 Chernobyl O acidente nuclear de Chernobyl ocorreu dia 26 de abril de 1986, na Usina Nuclear de Chernobyl (originalmente chamada Vladimir Lenin) na Ucrânia (então parte da União Soviética). É considerado o pior acidente nuclear da história da energia nuclear, produzindo uma nuvem de radioatividade que atingiu a União Soviética, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido. Grandes áreas da Ucrânia, Bielorrússia (Belarus) e Rússia foram muito contaminadas, resultando na evacuação e reassentamento de aproximadamente 200 mil pessoas. Cerca de 60% de radioatividade caiu em território bielorrusso. O acidente fez crescer preocupações sobre a segurança da indústria nuclear soviética, diminuindo sua expansão por muitos anos, e forçando o governo soviético a ser menos secreto. Os agora separados países de Rússia, Ucrânia e Bielorrússia (Belarus) têm suportado um contínuo e substancial custo de descontaminação e cuidados de saúde devida ao acidente de Chernobyl. É difícil dizer com precisão o número de mortos causados pelos eventos de Chernobyl, devido às mortes esperadas por câncer, que ainda não ocorreram e são difíceis de atribuir especificamente ao acidente. Um relatório da ONU de 2005 atribuiu 56 mortes até aquela data – 47 trabalhadores acidentados e 9 crianças com câncer de tireóide – e estimou que cerca de 4000 pessoas morrerão de doenças relacionadas ao acidente. O Greenpeace, entre outros, contesta as conclusões do estudo. O governo soviético procurou esconder o ocorrido da comunidade mundial, até que a radiação em altos níveis foi detectada em outros países. Segue um trecho do pronunciamento do líder da União Soviética, na época do acidente, Mikhail Gorbachev, quando o governo admitiu a ocorrência: "Boa tarde, meus camaradas. Todos vocês sabem que houve um inacreditável erro – o acidente na usina nuclear de Chernobyl. Ele afetou duramente o povo 47 soviético, e chocou a comunidade internacional. Pela primeira vez, nós confrontamos a força real da energia nuclear, fora de controle." A usina de Chernobyl está situada no assentamento de Pripyat, Ucrânia, 18 km a noroeste da cidade de Chernobyl, 16 km da fronteira com Belarus, e cerca de 110 km ao norte de Kiev. A usina era composta por quatro reatores, cada um capaz de produzir 1 GW de energia elétrica (3.2 GW de energia térmica). Em conjunto, os quatro reatores produziam cerca de 10% da energia elétrica utilizada pela Ucrânia na época do acidente. A construção da instalação começou na década de 1970, com o reator No. 1 comissionado em 1977, seguido pelo No. 2 (1978), No. 3 (1981), e No. 4 (1983). Dois reatores adicionais estavam em construção na época do acidente. As quatro instalações eram projetadas com um tipo de reator chamado RBMK- 1000. Figura 6.2 – O reator RBMK de Chernobyl Sábado, 26 de abril de 1986, à 01h23min hora local, o quarto reator da usina de Chernobyl - conhecido como Chernobyl - 4 - sofreu uma catastrófica explosão de vapor que resultou em incêndio, uma série de explosões adicionais, e um derretimento nuclear. Há duas teorias oficiais, mas contraditórias, sobre a causa do acidente. A primeira foi publicada em agosto de 1986, e atribuiu a culpa, exclusivamente, aos operadores da usina. A segunda teoria foi publicada em 1991 e atribuiu o acidente a 48 defeitos no projeto do reator RBMK, especificamente nas hastes de controle. Ambas as teorias foram fortemente apoiadas por diferentes grupos, inclusive os projetistas dos reatores, pessoal da usina de Chernobyl, e o governo. Alguns especialistas independentes agora acreditam que nenhuma teoria estava completamente certa. Outro importante fator que contribuiu com o acidente foi o fato que os operadores não estavam informados sobre certos problemas do reator. De acordo com um deles, Anatoli Dyatlov, o projetista sabia que o reator era perigoso em algumas condições, mas intencionalmente omitiu esta informação. Isto contribuiu para o acidente, uma vez que a gerência da instalação era composta em grande parte de pessoal não qualificado em RBMK: o diretor, V.P. Bryukhanov tinha experiência e treinamento em usina termoelétrica a carvão. Seu engenheiro chefe, Nikolai Fomin, também veio de uma usina convencional. O próprio Anatoli Dyatlov, ex-engenheiro chefe dos Reatores 3 e 4, somente tinha "alguma experiência com pequenos reatores nucleares". Algumas ressalvas são importantes: a) O reator tinha um coeficiente a vazio positivo perigosamente alto. Dito de forma simples, isto significa que se bolhas de vapor se formam na água de resfriamento, a reação nuclear se acelera, levando à sobrevelocidade se não houver intervenção. Pior,
Compartilhar