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PROJETO INTERDISCIPLINAR I DEPENDÊNCIA QUÍMICA – ÁLCOOL E COCAÍNA. Alessandra Poletto; Amanda Barreiros; Carolina Correia; Fernanda Corrêa; Jéssica Sirena; Kimberly Corrêa. 1 SUMÁRIO Porque o álcool e a cocaína? 1. Classificação das drogas e critérios DSM e CID-10 2. Classificação e histórico do álcool 3. Classificação e histórico da cocaína 4. Ação e ativação do álcool no organismo 5. Ação e ativação da cocaína no organismo 6. Alterações comportamentais do álcool 7. Alterações comportamentais da cocaína O dependente e suas relações. 8. Perfil do dependente químico e de uso cruzado 9. Efeitos motivacionais e biológicos do uso 10. Efeitos no contexto/prejuízos 11. Desligamento de laços emocionais, codependência e família Tratamento. 12. Álcool e terapia cognitivo-comportamental 13. Cocaína e terapia cognitivo-comportamental 14. Álcool e psicanálise 15. Cocaína e psicanálise 16. Medicação e fases do tratamento 17. AA & NA Entrevistas 18. Entrevista com 02 dependentes químicos 19. Entrevista com psicólogo psicanalista 20. Entrevista com psicóloga cognitivo-comportamental 21. “A verdade sobre as drogas” – Documentário 22. Lei seca 2 Droga, segundo a OMS Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), DROGA é qualquer substância natural ou sintética que, ao ser fumada, inalada, ingerida ou injetada, provoca alterações psíquicas, sentidas como agradáveis numa primeira fase, mas que cria dependência, tornando as pessoas incapazes de viverem normalmente e integradas na sociedade. Tipos de drogas: As drogas atuam no cérebro afetando a atividade mental, sendo, por essa razão, denominadas psicoativas. Basicamente, elas são divididas três tipos: Depressoras: diminuem a atividade mental; afetam o cérebro, fazendo com que funcione de forma mais lenta. Essas drogas diminuem a atenção, a concentração, a tensão emocional e a capacidade intelectual. Ex.: ansiolíticos (tranquilizantes), álcool, inalantes (cola), narcóticos (morfina, heroína). Estimulantes: drogas que aumentam a atividade mental; afetam o cérebro, fazendo com que funcione de forma mais acelerada. Ex.: cafeína, tabaco, anfetamina, cocaína, crack. Alucinógenas: drogas que alteram a percepção; provocam distúrbios no funcionamento do cérebro, fazendo com que ele passe a trabalhar de forma desordenada. Ex.: maconha, cogumelo, perturbadores sintéticos (LSD), anticolinérgicos (plantas e medicamentos). Uso, abuso e dependência Uso - qualquer consumo de substância, seja para experimentar, seja esporádico ou episódico; Abuso ou uso nocivo - consumo de substâncias já associado a algum tipo de prejuízo (biológico psicológico ou social); Dependência - consumo sem controle, geralmente associado a problemas sérios para o usuário. 1. CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS E CRITÉRIOS DSM E CID-10 3 Uso nocivo de substâncias - DSM-IV A. Padrão de uso disfuncional de uma substância, levada a um comportamento ou desconforto clinicamente significativo, manifestado por um ou mais dos seguintes sintomas: 1. Uso constante da substância, resultando no fracasso em cumprir obrigações no trabalho, na escola ou em casa. 2. Uso constante da substância em situações fisicamente comprometedoras 3. Problemas legais constantes relacionados com o uso da substância. 4. Uso contínuo da substância, apesar de ter um problema social ou interpessoal persistente ou constante, ou que seria exacerbado pelos efeitos da substância. B. Nunca preencher os critérios para dependência desta substância. Uso nocivo de substâncias - CID-10 1. Evidência clara de que o uso foi responsável (ou contribuiu consideravelmente) por dano físico ou psicológico, incluindo capacidade de julgamento comprometida ou disfunção de comportamento; 2. A natureza do dano é claramente identificável; 3. O padrão de uso tem persistido por pelo menos um mês ou tem ocorrido repetidamente dentro de um período de 12 meses; 4. Não satisfaz critérios para qualquer outro transtorno relacionado à mesma substância no mesmo período (exceto intoxicação aguda). Dependência de substâncias - DSM-IV Um padrão de uso disfuncional de uma substância, levando a um comprometimento ou desconforto clinicamente significativo, manifestado por três (ou mais) dos seguintes sintomas, ocorrendo durante qualquer tempo, num período de 12 meses: 1. Tolerância, definida por um dos seguintes critérios: a) Necessidade de quantidades nitidamente aumentadas de substâncias para atingir intoxicação ou o efeito desejado. b) Efeito nitidamente diminuído com o uso contínuo da mesma quantidade da substância. 2. Abstinência, manifestada por um dos seguintes critérios: a) Síndrome de abstinência característica da substância. b) A mesma substância (ou outra bastante parecida) é usada para aliviar ou evitar sintomas de abstinência. 4 3. A substância é frequentemente usada em grandes quantidades, ou por período maior do que o intencionado. 4. Um desejo persistente ou esforço sem sucesso de diminuir ou controlar a ingestão da substância. 5. Grandes períodos de tempo utilizados em atividades necessárias para obter a substância, usá-la ou recuperar-se de seus efeitos. 6. Reduzir ou abandonar atividades sociais, recreacionais ou ocupacionais por causa do uso da substância. 7. Uso continuado da substância, apesar do conhecimento de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tenha sido causado ou exacerbado pela substância. Dependência de substâncias - CID-10 O diagnóstico de dependência deve ser feito se três ou mais dos seguintes critérios são experienciados ou manifestados durante o ano anterior: 1. Um desejo forte ou senso de compulsão para consumir a substância. 2. Dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância em termos de início, término ou níveis de consumo. 3. Estado de abstinência fisiológica, quando o uso da substância cessou ou foi reduzido, como evidenciado por: síndrome de abstinência característica para a substância, ou o uso da mesma substância (ou de uma intimamente relacionada) com a intenção de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. 4. Evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância psicoativa são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses baixas. 5. Abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do uso da substância psicoativa: aumento da quantidade de tempo necessária para obter ou tomar a substância ou recuperar-se de seus efeitos. 6. Persistência no uso da substância, a despeito de evidência clara de consequências manifestamente nocivas, tais como dano ao fígado por consumo excessivo de bebidas alcoólicas, estados de humor depressivos consequentes a períodos de consumo excessivo da substância, ou comprometimento do funcionamento cognitivo relacionado com a droga: deve- se procurar determinar se o usuário estava realmente consciente da natureza e extensão do dano. 5 Um líquido incolor produzido pela fermentação de diversas plantas, é um dos principais componentes das bebidas alcoólicas. A fermentação alcoólica é um processo biológico no qual açúcares como a glicose, frutose e sacarose são convertidos em energia celular com produção de etanol e dióxido de carbono como resíduos metabólicos. Como este processo pode ser realizado sem a presença de oxigênio é considerado um processo anaeróbico. A levedura e outros microorganismos fermentam a glicose em etanol eCO2. A glicose é convertida em piruvato e o piruvato é convertido em etanol e CO2. HISTÓRICO DO ÁLCOOL. No tempo da boemia, ou da industrialização podia ser normal o consumo de álcool, mas hoje em dia essa ideia mudou e pode ser considerado até uma doença, e um dos exemplos disso é o álcool. Antes era algo bom que sempre esteve presente em festas e comemorações, mas hoje não é bem assim, descobriu-se que o álcool além de causar dependência pelo seu consumo exagerado pode causar até a morte. Mas nem tudo é ruim pois o álcool foi muito útil antigamente como anestésico ou utilizado para aliviar a dor e desinfetar machucados. O álcool também tem um papel muito forte na sociedade pois os jovens encaram o álcool como um rito de passagem da fase infantil para a fase adulta isso é considerado licito até os jovens começarem a procurar outras drogas para experimentar, para se vingar dos pais ou para esquecer dos problemas. Por volta de 2200 a.C., a cerveja era recomendada como tônico para mulheres que estivessem amamentando porém anos mais tarde ela foi considerada ruim e profana. O vinho também é muito citado na bíblia desde o início dos tempo se anos depois ganhou seu lugar na cerimônia da eucaristia. O vinho e a cerveja sempre foram considerados bons quando tomados em doses terapêuticas, além destes, os gregos usavam outras drogas para fins cerimoniais, sendo o ópio a droga mais popular. Os antigos romanos, também, eram afetos ao álcool, havia somente uma proibição para as mulheres e os menores de 30 anos. Com a industrialização, o álcool começa a ser produzido em grande escala, resultando num baixo custo para o consumidor. Beber socialmente nesse tempo deixou as pessoas tolerantes ao álcool tornando-se em alguns casos alcoólatras, com isso acontecendo os Estados Unidos criaram a “lei seca” que proibia o consumo do álcool mas isso não deu muito certo pois o mercado clandestino se tornou a única escolha das pessoas, dizem que não se bebeu tanto quanto no tempo da “lei seca”. Hoje em dia o álcool é legalizado e muito estimulado por propagandas e tv o que torna tudo muito comum porem precisa-se de muita atenção e moderação principalmente. O álcool etílico é proveniente do etanol; Vinho e cerveja entram na classe dos fermentados; Pinga uísque e vodca pertencem aos destilados; 2. CLASSIFICAÇÃO E HISTÓRICO DO ÁLCOOL. 6 No início o vinho e a cerveja tinham pouco álcool pois essas bebidas eram fermentadas mas com a invenção da destilação as bebidas ficaram com um teor bem mais alto de álcool e até foi considerado remédio pois tirava a tristeza do consumidor, por esse motivo a bebida destilada foi muito consumida e não demorou muito para que os problemas alcoólicos começassem a aparecer. A Erythroxylon coca é uma planta encontrada na América Central e América do Sul. Essas folhas são utilizadas, pelo povo andino, para mascar ou como componente de chás, com a função de aliviar os sintomas decorrentes das grandes altitudes. Entretanto, uma substância alcaloide que constitui cerca de 10% desta parte da planta, chamada benzoilmetilecgonina, é capaz de provocar sérios problemas de saúde e também sociais. Na primeira fase da extração do alcaloide, as folhas são prensadas em ácido sulfúrico, querosene ou gasolina, resultando em uma pasta denominada sulfato de cocaína. Na segunda e última, utiliza-se ácido clorídrico, formando um pó branco. Assim, neste segundo caso, ela pode ser aspirada, ou dissolvida em água e depois injetada. Há também a merla, que é a cocaína em forma de base, cujos usuários fumam-na pura ou juntamente com maconha. Atuando no Sistema Nervoso Central, a cocaína provoca euforia, bem estar, sociabilidade. Pelo fato de que nem sempre as pessoas conseguem ter tais sensações naturalmente, e de forma intensa, uma pessoa que se permite utilizar esta substância tende a querer usar novamente, e mais uma vez, e assim sucessivamente. O coração tende a acelerar, a pressão aumenta e a pupila se dilata. O consumo de oxigênio aumenta, mas a capacidade de captá-lo, diminui. Este fator, juntamente as com arritmias que a substância provoca, deixa o usuário pré- disposto a infartos. O uso frequente também provoca dores musculares, náuseas, calafrios e perda de apetite. Como a cocaína tende a perder sua eficácia ao longo do tempo de uso, fato este denominado tolerância à droga, o usuário tende a utilizar progressivamente doses mais altas buscando obter, de forma incessante e cada vez mais inconsequente, os mesmos efeitos agradáveis que conseguia no início de seu uso. Dosagens muito frequentes e excessivas provocam alucinações táteis, visuais e auditivas; ansiedade, delírios, agressividade, paranoia. Este ciclo torna-o também cada vez mais dependente, fazendo de tudo para conseguir a droga, resultando em problemas sérios não só no que tange à sua saúde, mas também em suas relações interpessoais. Afastamento da família e amigos, e até mesmo comportamentos condenáveis, como participação de furtos ou assaltos para obter a droga são comuns. Além de provocar, em longo prazo, comprometimento dos músculos esqueléticos, existem ainda os agravantes recorrentes da forma de uso. Cocaína injetável, por exemplo, pode provocar a contaminação por doenças infecciosas, como hepatite e AIDS, e infecções locais. No caso daqueles que inalam, comprometimento do olfato, rompimento do septo nasal e complicações respiratórias, estas últimas também típicas dos fumantes, incluindo aí bronquite, tosse persistente e disfunções severas. Gestantes podem ter bebês natimortos, com malformações, 3. CLASSIFICAÇÃO E HISTÓRICO DA COCAÍNA. 7 ou comprometimento neurológico. Romper com a droga é difícil, já que o indivíduo tende a se sentir deprimido, irritadiço, e com insônia. Assim, quando um usuário opta por deixá-la, deve receber bastante amparo e ser incentivado neste sentido. É necessária ajuda médica, tanto no processo de desintoxicação quanto tempos depois desta etapa. Substância Origem Efeitos Cocaína sob as formas de uso: inalada, injetada nas veias e fumada (crack ou merla) i Obtidos a partir da extração da planta Erythroxylon Coca, encontrada nos Andes Provoca sensação de poder, excitação, agitação, euforia. Estimula as atividades físicas e mentais, diminuindo o sono, o cansaço e a fome. Aumenta o bem- estar. Aumenta a freqüência cardíaca, a temperatura do corpo, e a freqüência respiratória. Provoca tiques nervosos, espasmos musculares, midríase, sudorese, anginas. HISTÓRICO DA COCAÍNA A coca é um dos estimulantes de origem natural mais antigo, mais potente e perigoso. Três mil anos antes do nascimento de Cristo, os antigos Incas nos Andes mascavam folhas de coca para conseguir que os seus corações batessem muito mais depressa, e para acelerar a sua respiração para contrastar com os efeitos de viver no ar rarefeito da montanha. Os nativos peruanos mascavam folhas de coca somente durante as cerimónias religiosas. Este tabu foi quebrado quando os soldados espanhóis invadiram o Peru em 1532. Aos índios forçados a trabalhar nas minas de prata espanholas eram fornecidas folhas de coca, pois isso tornava–os mais fáceis de controlar e explorar. A cocaína foi isolada (extraída das folhas de coca) pela primeira vez em 1859 pelo químico alemão Albert Niemann. Mas só em 1880 é que se tornou popular na comunidade médica. O psicanalista austríaco Sigmund Freud, que usava ele próprio a droga, foi o primeiro a promover amplamente a cocaína como um tónico para curar a depressão e a impotência sexual. Em 1884, publicou um artigo intitulado “Über Coca” (sobre a coca) o qual promoviaos “benefícios” da cocaína, chamando–lhe a substância “mágica”. Freud, contudo, não era um observador objetivo. Consumia cocaína regularmente, prescreveu–a à sua namorada e ao seu melhor amigo e recomendou–a para uso geral. Embora notasse que a cocaína conduzia à “decadência física e moral”, Freud continuava a promover a cocaína aos seus amigos íntimos, um dos quais acabou por sofrer de alucinações paranoicas de “cobras brancas a rastejar pela sua pele”. Freud também acreditava que “Para os humanos a dose tóxica (de cocaína) era muito elevada, e que parecia não haver uma dose letal”. 8 Contrariamente a esta crença, um dos pacientes de Freud faleceu de uma elevada dosagem por ele prescrita. Em 1886, a popularidade da droga conseguiu um maior impulso quando John Pemberton incluiu as folhas de coca como um ingrediente no seu novo refresco, Coca–Cola. Os efeitos revitalizantes e eufóricos sobre o consumidor ajudaram a subir vertiginosamente a popularidade da Coca–Cola na viragem do século. Dos meados do século XIX aos primeiros anos do século XX, elixires de cocaína e ópio (poções mágicas e médicas), tónicos e vinhos foram amplamente usados por pessoas de todas as classes sociais. Pessoas célebres que promoveram os efeitos “milagrosos” dos tónicos e elixires de cocaína incluiram o inventor Thomas Edison e a atriz Sarah Bernhardt. A droga tornou–se popular na indústria do cinema mudo, e as mensagens a favor da cocaína que saíam de Hollywood naqueles tempos influenciavam milhões. O consumo de cocaína na sociedade aumentou e os perigos da droga tornaram–se gradualmente mais evidentes. A pressão pública forçou a companhia de Coca–Cola a retirar a cocaína da bebida em 1903. Em 1905, tornou–se popular cheirar” cocaína e nos seguintes cinco anos, os hospitais e a literatura médica começavam a reportar casos de danos nasais como resultado do uso desta droga. Em 1912, o governo dos Estados Unidos reportou 5000 mortes relacionadas com a cocaína num ano, e em 1922 a droga foi oficialmente banida. Nos anos 70, a cocaína emergia como a nova droga da moda para artistas e empresários. A cocaína parecia o companheiro perfeito para uma viagem excitante. A cocaína “providenciava energia” e ajudava as pessoas a permanecerem “eufóricas”. Nalgumas universidades americanas, a percentagem de estudantes que experimentaram cocaína aumentou 10 vezes entre 1970 e 1980. No final da década de 1970, os traficantes de droga colombianos começaram a estabelecer uma rede elaborada para contrabandear cocaína nos EUA. Tradicionalmente, a cocaína era uma droga para ricos, por se tratar de um hábito muito caro. No final da década de 1980, a cocaína não era mais a droga de eleição só dos ricos. Nessa altura, tinha a reputação de ser a mais perigosa e viciante droga da América, ligada à pobreza, crime e morte. No início dos anos 90, os cartéis de droga colombianos produziram e exportaram entre 500 a 800 toneladas de cocaína ao ano, não só para os EUA mas também para a Europa e Ásia. Os grandes cartéis eram desmantelados pelas agências de execução da lei em meados de 1990, mas hoje eles foram substituídos por grupos menores – com mais de 300 organizações de contrabando de droga conhecidas e ativas na Colômbia. Desde 2008, a cocaína tornou–se a segunda droga ilegal mais contrabandeada no mundo. Distribuição Regional dos Usuários de Cocaína: Uso de cocaína, ATS, inclusive Ecstasy, mostraram tendência ao declínio ou à estabilização; a cocaína diminuiu fortemente na América do Norte desde 2006 (prevalência anual nos EUA: - 40% no período de 2006-2011): 9 A ação do álcool no SNC (Sistema Nervoso Central) e o desenvolvimento do alcoolismo variam de acordo com fatores genéticos e biológicos. A herança genética aponta um fator de risco predisponente importante para o desenvolvimento da patologia, mas não é determinante, o contexto social, cultura, entre outros fatores precisam também estar ligados a esses genes. Os efeitos do álcool podem ocorrer em qualquer nível do neuroeixo (encéfalo, nervos periféricos e músculos). Sua ação no organismo provoca o aumento da neurotransmissão pelo Ácido Aminobutírico (GABA), o abuso frequente e ingestão aguda dessa substância conduz o sujeito à um quadro de tolerância alcóolica e síndrome de abstinência, caracterizada pela 4. AÇÃO E ATIVAÇÃO DO ÁLCOOL NO ORGANISMO. 10 liberação de opióides endógenos, causando euforia, reforço para a continuidade do uso e adaptação aos afeitos agudos do álcool em níveis celulares após cessar o uso. A intoxicação alcóolica aguda apresenta sintomas tais como: alterações de comportamento mal-adaptativas, sinais de comprometimento neurológico, lentidão psicomotora, prejuízos cognitivos, na coordenação e julgamento, labilidade do humor, entre outros. Existem três períodos classificados como “períodos da intoxicação ou embriaguez”. O primeiro é caracterizado por excitação, euforia e vivacidade mental; O segundo período é também chamado de médico-legal, onde há turbulência e agressividade, por fim, o ultimo período diz respeito ao coma ou “apagamento”, é onde há a depressão do SNC. Num estado depressivo pré- coma, o indivíduo pode buscar novas doses na tentativa de voltar ao estado de euforia (ciclo compulsivo da dependência). Vale ressaltar que a síndrome de abstinência alcóolica possui como um dos principais sintomas o delirium tremens, caracterizado por confusão mental acentuada, alucinações, tremor, hiperatividade sináptica e hiperpirexia. Dentre os efeitos a longo prazo da ingestão aguda alcóolica estão as alterações de número e função dos receptores que emitem respostas compensatórias aos efeitos do álcool; Alterações neurológicas e distúrbios neurológicos crônicos que levam a doenças secundárias à dependência, tais como: cirrose hepática, degeneração cerebelar, deficiências nutricionais, síndrome amnésica de Korsakoff, algumas demências, neuropatia alcóolica, entre outras. A dependência alcóolica, assim como a dependência de outras substâncias, é caracterizada por três elementos comportamentais principais: compulsão para busca e obtenção do álcool, perda do controle em limitar o consumo e emergência de estados emocionais negativos quando o sujeito fica sob privação do álcool. Existem atualmente muitos instrumentos capazes de verificar, avaliar e intervir no consumo do álcool e das demais drogas, são classificados em: instrumentos para triagem (muito utilizados em clínicas), instrumentos para diagnóstico, instrumentos para avaliação do consumo de álcool e drogas, instrumentos para avaliação dos comportamentos associados ao consumo de álcool e drogas, instrumentos para avaliação do comprometimento de outras áreas, instrumentos para planejamento do tratamento, instrumentos para análise do processo de tratamento e instrumentos para avaliação de resultados. De acordo com a SENAD (Secretaria Nacional Antidrogas) existem cinco níveis para o uso do álcool e das demais drogas: 11 1) Uso Experimental Os primeiros poucos episódios de uso de uma droga específica – algumas vezes incluindo tabaco ou álcool -, extremamente não frequentes ou não persistentes. 2) Uso Recreativo Uso de uma droga, em geral ilícita, em circunstâncias sociais ou relaxantes, sem implicações com dependência e outros problemas relacionados, embora haja os que discordem, opinando que, no caso de droga ilícita, não seja possível este padrão devido às implicações legais relacionadas. 3) Uso Controlado Refere-se à manutenção de um uso regular, não compulsivo e que não interfere com o funcionamento habitual do indivíduo. Termo também controverso, poisse questiona se determinadas substâncias permitem tal padrão. 4) Uso Social Pode ser entendido, de forma literal, como uso em companhia de outras pessoas e de maneira socialmente aceitável, mas também é usado de forma imprecisa querendo indicar os padrões acima definidos. 5) Uso nocivo/abuso e Dependência Esses padrões de uso estão representados nos sistemas classificatórios CID-10 e o DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Psiquiátrica Americana). Podendo ser entendido como um padrão de uso onde aumenta o risco de consequências prejudiciais para o usuário. Na CID-10, o termo “uso nocivo” é utilizado como aquele que resulta em dano físico ou mental. Na DSM-IV, utiliza-se o termo “abuso”, definido de forma mais precisa e considerando também consequências sociais de um uso problemático, na ausência de compulsividade e fenômenos como tolerância e abstinência. A definição de abuso (DSM-IV) baseia-se na ocorrência de um ou mais dos seguintes critérios no período de 12 meses: 1. Uso recorrente resultando em fracasso em cumprir obrigações importantes relativas a seu papel no trabalho, na escola ou em casa; 2. Uso recorrente em situações nas quais isso representa perigo físico; 3. Problemas legais recorrentes relacionados à substância; 4. Uso continuado, apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes, causados ou exarcebados pelos efeitos da substância. Já a definição de uso nocivo (CID-10) baseia-se nos seguintes critérios: 1. Evidência clara de que o uso foi responsável (ou contribuiu consideravelmente) por dano físico ou psicológico, incluindo capacidade de julgamento comprometida ou disfunção de comportamento; 2. A natureza do dano é claramente identificável; 3. O padrão de uso tem persistido por pelo menos um mês ou tem ocorrido repetidamente dentro de um período de 12 meses; 4. Não satisfaz critérios para qualquer outro transtorno relacionado à mesma substância no mesmo período (exceto intoxicação aguda). 12 Estágios da intoxicação alcóolica: Concentração de álcool no sangue (CAS) (g /100 ml de sangue) Estágio Sintomas clínicos 0.01 - 0.05 Subclínico - Comportamento normal 0.03 - 0.12 Euforia - Euforia leve, sociabilidade, indivíduo torna-se mais falante - Aumento da auto-confiança desinibição, diminuição da atenção, capacidade de julgamento e controle Início do prejuízo sensório-motor - Diminuição da habilidade de desenvolver testes 0.09 - 0.25 Excitação - Instabilidade e prejuízo do julgamento e da crítica - Prejuízo da percepção, memória e compreensão - Diminuição da resposta sensitiva e retardo da resposta reativa - Diminuição da acuidade visual e visão periférica - Incoordenação sensitivo-motora, prejuízo do equilíbrio - Sonolência 0.18 - 0.30 Confusão - Desorientação, confusão mental e adormecimento - Estados emocionais exagerados - Prejuízo da visão e da percepção da cor, forma, mobilidade e dimensões - Aumento da sensação de dor - Incoordenação motora - Piora da incoordenação motora, fala arrastada - Apatia e letargia 0.25 - 0.40 Estupor - Inércia generalizada - Prejuízo das funções motoras - Diminuição importante da resposta aos estímulos I - Importante incoordenação motora - Incapacidade de deambular ou coordenar os movimentos - Vômitos e incontinência prejuízo da consciência, sonolência ou estupor 0.35 - 0.50 Coma - Inconsciência - Reflexos diminuídos ou abolidos - Temperatura corporal abaixo do normal - Incontinência - Prejuízo da respiração e circulação sanguínea - Possibilidade de morte 0.45 + Morte - Morte por bloqueio respiratório central 13 14 Entrevista com o Dr. Drauzio Varella e Dr. Ronaldo Laranjeira: Drauzio – Na casa de Detenção, cheguei a ver rapazes de 25 anos com derrame cerebral depois de uma noitada de crack. Ronaldo Laranjeira – As doenças cardiovasculares são realmente as maiores causas de mortalidade relacionadas à cocaína, uma das substâncias mais potentes para gerar prazer imediato, principalmente na forma de crack cuja ação é muito mais rápida e efetiva. É atrás desse prazer que o usuário está. O padrão de uso dessa droga é quase na forma de tudo ou nada: ou a pessoa fica dependente ou não se interessa por ela. Embora existam, é pequeno o número de usuários esporádicos, exatamente porque o efeito poderoso e reforçador do crack logo gera a dependência. Drauzio – Qual o mecanismo cerebral que transforma a cocaína no interesse maior na vida das pessoas? Ronaldo Laranjeira – Em nosso cérebro existe um sistema de recompensa que é o núcleo do prazer. Quando a pessoa come, dorme, tem relações sexuais – o repertório é muito grande – ativa esse sistema biológico. Ao longo de milhares e milhares de anos de evolução, ele foi desenvolvido como forma de preservar a espécie e o indivíduo. Por isso, a tendência é repetir os comportamentos que trazem prazer. Drauzio – Na verdade, o cérebro acha que tudo o que dá prazer é bom para o organismo. Ronaldo Laranjeira – De certa forma, é bom mesmo, pois resulta de um mecanismo protetor. Graças a ele, os homens aprenderam a comer, a ter relações sexuais, a abrigar-se do frio. O problema é que as drogas, especificamente a cocaína, utilizam esse mecanismo biológico e deturpam a fonte natural do prazer, fazendo com que a pessoa repita seu uso não se importando com o que lhe possa acontecer. A tendência do usuário de cocaína, mais do que o das outras drogas, é negligenciar todas as outras fontes de prazer. Às vezes, ele para de comer, de ter relações sexuais, de trabalhar. Hoje se considera a dependência de maneira geral, e particularmente a de cocaína, uma doença cerebral, uma vez que o dependente usa a droga de forma deletéria para o cérebro. Dráuzio – No cérebro, quais são os circuitos fundamentais da ação da cocaína? Ronaldo Laranjeira – A cocaína age sobre três pontos: o tronco cerebral, o núcleo-acubens e sobre a região do córtex cerebral pré-frontal, a mais importante de todas. A sensação de prazer tem conexão com o pensamento. Não é só uma sensação visceral, de prazer físico. É também um prazer cerebral. Por isso, o usuário de cocaína pensa que tem controle sobre a busca do prazer – “Não uso cocaína porque sou dependente; uso porque quero essa fonte de prazer”. Ele deturpa seu pensamento em função de uma necessidade mais primitiva, ou seja, a busca do prazer rápido e imediato que a cocaína proporciona. Envolvido por esse processo incessante, desenvolve uma doença chamada dependência química. Muitos de seus comportamentos vão ser explicados pelo mecanismo biológico que perpetua o uso da droga, embora haja fatores sociais e de facilidade de oferta que também interferem. O efeito da cocaína no organismo: Um de seus primeiros efeitos é a febre, que é explicada pelo calor que o corpo libera no sistema nervoso central e também pela perda deste calor que ocorre por conta da vasoconstriçao periférica. Se inalada pode furar o septo nasal e no uso 5. AÇÃO E ATIVAÇÃO DA COCAÍNA NO ORGANISMO. 15 endovenoso compromete o aparecimento de infecções locais e doenças como malária, hepatite B, AIDS e entre outras. A cocaína age diretamente no cérebro por seu efeito de dependência. A Droga impede que os receptores reabsorvam a dopamina, fazendo que ela fique mais tempo na sinapse e realizando a sensação de prazer. Ela age em três pontos: O tronco cerebral, o núcleo-acumbens e sobre o córtex cerebral pré-frontal. -> Uma grande percentagem de mortes e danos causados por acidentes automobilísticos está relacionada ao consumo de álcool, quetambém contribui para violência e agressão. -> De acordo com Pinel (2005), nos Estados Unidos, aproximadamente 104 milhões de pessoas consumiram álcool nos últimos 30 dias, dos quais 13 milhões são alcoólatras, e mais de 100.000 morrem a cada ano por doenças e acidentes relacionados ao álcool. -> Em baixas doses, o álcool produz certa euforia e tem um efeito ansiolítico - isto é, reduz o desconforto da ansiedade. -> Em doses altas, o álcool produz falta de coordenação e sedação. -> A leve euforia que o álcool produz é seu reforço positivo: se uma pessoa está ansiosa e desconfortável, então, uma droga ansiolítica que alivie este desconforto representa uma fuga, mesmo temporária, da situação desagradável. O reforço negativo do álcool é causado pela finalização de um estímulo aversivo. -> A dependência ocorre tanto por fatores físicos (como tolerância e abstinência), quanto psicológicos, estes últimos caracterizados por uma condição na qual a droga produz um sentimento de satisfação e uma necessidade de administrações periódicas para produzir prazer e evitar desconforto. Por que beber demais ocasiona falta de senso crítico? Em pesquisa de laboratório com animais foi administrado um choque elétrico sempre que o animal manifestava uma resposta para obter alimento ou água, como resultado ele reduziu a frequência da resposta. No entanto, quando lhe era administrado um pouco de álcool, voltava a emitir a resposta. Fica claro que há 6. ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS DO ÁLCOOL. 16 ocorrência dos efeitos ansiolíticos do álcool, pois manifesta-se liberação dos efeitos punitivos dos estímulos aversivos. Semelhantemente, quando as pessoas bebem demais, fazem coisas que normalmente não fariam. Isso ocorre porque o álcool remove o efeito inibitório dos controles sociais sobre o comportamento. - Déficit de atenção - Déficit de tomada de decisões. (alterações pré-frontais) - Diferenças na fluência verbal fonológica e expressão verbal. - Déficit na memória visual tardia (após 30 min.) - Problemas para armazenar novas informações (alterações no lobo frontal e temporal). - Alterações no hipocampo, envolvido no processamento de novas memórias. - Deficiência na produção de dopamina e serotonina durante a abstinência - Com o déficit de aprendizagem e memória, dificulta a aprendizagem dos métodos de prevenção. - Agressividade, sintomas depressivos e ansiedade. - Etanol + Cocaína = diminuição da atividade locomotora - Despersonalização A cocaína age diretamente no sistema nervoso, trazendo alucinações e alterações tanto comportamentais quanto agressões ao biológico. A área mais afetada ‘e a região do cortex pré fontral, responsável pelas decioes. Tambem parte da memoria e o processamento de novas memórias são intensamentes afetados. A produção dos hormônios da serotonina e dopamina possuem deficiência na produção, quando o sujeito esta em abstinencia, isso afeta diretamente a estabilidade de humor, causando ansiedade e angustia. 7. ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS DA COCAÍNA. 17 Sintomas depressivos, agressividade e ansiedade são comuns, tanto para o uso, quanto para a abstinencia. O processo psicológico e a auto estima são totalmente afetadas pelo vicio, causando despersonalização do individuo. As defesas psíquicas, baixa tolerância a frustração, baixa auto estima, comportamentos obsessivos, indisciplina, desorganização, dependência afetiva, imediatismo, sedução, mentira e manipulação, negação da doença e negligência quanto as consequências das atitudes estão entre as principais características da doença manifestadas no comportamento humano. Quanto maior a frequência de utilização dessas defesas, mais frágil se torna o ego. Crianças que tem pais dependente químicos têm um risco aumentado em quatro vezes para o desenvolvimento do alcoolismo, e também é um grupo com maior chance para o desenvolvimento de depressão, ansiedade, transtorno de conduta e fobia social. Famílias desorganizadas, com influências negativas e com pouca iniciativa para resolver problemas tem mais chances dos filhos serem dependentes químicos, o que também contribui é que na maioria das famílias dos dependentes químicos, eles não são desejadas pelos pais. Nos estudos entre o pai e a mãe, o pai é na maioria das vezes dependente químico. Aproximadamente um em cada três dependentes de álcool tem um histórico familiar de alcoolismo, violência familiar, timidez e notas ruins na escola é muito comum na vida de um dependente químico. Isso ocorre por falta de estimulação porque estudos indicam que as crianças são capazes de realizar atividades de acordo com a sua faixa etária. 8. PERFIL DO DEPENDENTE QUÍMICO E DE USO CRUZADO. 18 Atualmente o uso de cocaína juntamente com o álcool atinge 50% dos usuários. Os objetivos são: potencializar os efeitos positivos da droga causando uma euforia intensa, alguns usuários acham que o alcool reduz o alto grau de excitação causado pela cocaína sendo que a mesma reverte o prejuízo psicomotor e cognitivo causado pelo álcool. Essa junção denominada cocaetileno, tem maiores riscos de produzir uma overdose aumentando o risco de toxicidade cardíaca e a frequência de 18 ä 25 vezes no risco de morte imediata. A junção que tem efeitos positivos nas sensações do usuário pode se tornar uma droga nova, sendo que o uso de uma esta associado a outra. 9. EFEITOS MOTIVACIONAIS E BIOLÓGICOS DO USO. 19 O cocaetileno produz efeitos mais prolongados, sendo um potente inidor da recaptcao da dopamina. Diante disso esse potente componente tem sido associado a convulsões, danos hepáticos e mau funcionamento do sistema imunológico. Visto é que pode ser muito mais prejudicial do que o uso da cocaína ou o álcool isoladamente. Diante de um estudo apresentado por 110 participantes, sendo que 69 utilizavam o álcool juntamente com a cocaína e 41 utilizavam o crak (a amostra do estudo (n = 102) foi composta por 53 homens (52%) e 49 mulheres (48%), com média de idade de 30,3 anos) . A frequência e quantidade do consumo de álcool foram maior em usuários de cocaína, sendo que relataram um comportamento de beber mais frequentemente e em períodos prolongados. Entre os usuários de cocainca, 99% relataram o consumo de álcool em quantidades maiores pelo menos uma vez durante o processo de uso da droga psicoativa. Metade desse numero utiliza o álcool de forma frequente pelo menos 1 vez na semana. O álcool pode representar um grave risco para a saúde, principalmente se associado a outras drogas psicoativas. Motivações ou efeitos buscados no início do consumo de drogas (em percentagens): Motivações No início Depois Curiosidade 60,8 5,3 Busca de escapatória 32,2 33,9 Busca de efeitos reputados 19,1 18,9 Pressão do grupo 17,2 9,3 Necessidade de segurança 14,2 14,7 Desafio à sociedade 10,3 7,7 Melhor conhecimento de si 10,5 7,7 Busca de uma criatividade artística 5,7 7,2 Aumento do apetite sexual 1,4 1,4 Estado de necessidade 2,1 39,8 Outros motivos 9,5 12,4 20 -> Os alcoólicos crônicos frequentemente perdem seus empregos, suas casas e suas famílias; muitos morrem de cirrose hepática, abandono ou doenças causadas por condições precárias de vida e maltrato de seu organismo. -> Um dos efeitos mais alarmantes da cocaína, observado em pessoas que abusam dessa droga com regularidade, é o comportamento psicótico: a alucinação, o delírio de perseguição, o distúrbio de humor e os comportamentos repetitivos, sintomas que assemelham-se ao da esquizofreniaparanoide. Estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostram que: Os usuários de drogas e álcool faltam ao trabalho de duas a três vezes mais do que os outros empregados; Funcionários com dependência química podem precisar utilizar a assistência médica ou o seguro-saúde três vezes mais que os outros empregados; Em algumas empresas, foi constatado que de 20% a 25% dos acidentes envolvem pessoas intoxicadas, que se machucam sozinhas ou ferem outras pessoas; A oferta de drogas e álcool durante o expediente contabiliza de 15% a 30% de todos os acidentes de trabalho. Prejuízos do uso cruzado de álcool e cocaína: A associação de cocaína e álcool produz uma toxicidade maior, em comparação ao uso dessas drogas isoladamente, e essa alta toxicidade ocorre devido à formação do cocaetileno, um metabólito ativo da cocaína 10. EFEITOS NO CONTEXTO/PREJUÍZOS. 21 formado apenas na presença do álcool. Vale salientar que essa toxicidade, causada pelo cocaetileno, é mais prejudicial para os sistemas cardiovascular e nervoso central. -> Em testes laboratoriais, indivíduos referem maior sensação de bem-estar depois do uso da cocaína e álcool associados, em comparação ao uso destes isoladamente. A interação de álcool e cocaína pode resultar não somente em aumento e prolongamento da euforia, mas também em grande toxicidade. Esta toxicidade, em parte, pode resultar em grave comprometimento vital, além de contribuir para muitas fatalidades relacionadas à cocaína, mesmo quando esta é encontrada em baixas concentrações sanguíneas. -> Cocaetileno também está relacionado a convulsões, danos hepáticos e diminuição da função do sistema imunológico. Álcool em combinação com a cocaína atenua a percepção subjetiva da sedação. Esses efeitos subjetivos podem levar ao aumento do uso combinado dessas drogas e resultar em uma superestimulação do álcool, aumentando, consequentemente, os efeitos deletérios dessa droga. A dependência química é considerada pela Organização Mundial de Saúde como uma doença crônica, catalogada no DSM IV. Tal doença causa sofrimento psíquico e precisa ser tratada numa perspectiva biopsicossocial. Assim, no tratamento do dependente químico é preciso conhecê-lo, como também seu contexto familiar. O vicio em drogas é uma doença que reflete em toda estrutura familiar e nos relacionamentos básicos dessa pessoa. O familiar necessita de ajuda, pois ela não sabe como promover o desligamento requerido, oque o torna indefeso. A necessidade de estabelecer limites se mistura com a culpa, e o medo de estar reprimindo o dependente químico. O medo é um dos sentimentos presentes na vida da família, ele ficou caracterizado pelas situações de violência, também ao abandono, o medo de cometer erros, e principalmente o medo de acontecer algo ruim ao dependente químico. O sentimento de culpa das famílias se da pela situação do dependente tornando-se coodepente, permitindo-se ser afetada pelos problemas do vicio, perdendo seu amor próprio e sua capacidade de cuidar de si mesma. A 11. DESLIGAMENTO DE LAÇOS EMOCIONAIS, CODEPENDÊNCIA E FAMÍLIA. 22 família vive constantemente num estado de desconfiança, não sabendo ate onde oque o dependente fala ‘e a verdade, mentira ou manipulação para conseguir a droga. Segundo o CodaBrasil (Coo-dependentes Anônimos do Brasil) a Codependência é a inabilidade de manter e nutrir relacionamentos saudáveis com os outros e consigo mesmo. Nos relacionamentos co-dependentes não existe a discussão direta dos problemas, expressão aberta dos sentimentos e pensamentos, comunicação honesta e franca, expectativas realistas, individualidade, confiança nos outros e em si mesmo. Podemos observar constantemente essa situação psicológica no relacionamento com dependentes químicos. Segundo Zampieri a Codependência pode ser definida como um transtorno emocional de pessoas em convivência direta com dependentes químicos, produzindo sofrimento psíquico, modificando o estilo de vida tanto social quanto pessoal. A CodaBrasil, descreveu um questionário onde a pessoa pode se identificar como coodepente. Segue abaixo: As perguntas a seguir servem para identificar possíveis padrões de codependência. Somos conscientes que o Autoconhecimento é um assunto muito sério e por sua vez pessoal. Esperamos que estas perguntas possam ser-lhe úteis… Você se sente responsável por outra pessoa? Pelos seus sentimentos, pensamentos, necessidades, ações, escolhas, vontades, bem-estar e destino? Você sente ansiedade, pena e culpa quando outras pessoas têm problemas? Você se flagra constantemente dizendo “sim” quando quer dizer “não”? Você vive tentando agradar aos outros ao invés de agradar a si mesmo? Você vive tentando provar aos outros que é bom o suficiente? Você tem medo de errar? Você vive buscando desesperadamente amor e aprovação? Você se sente inadequado? Você tolera abuso para não perder o amor de outras pessoas? Você sente vergonha da sua própria vida? Você tem a tendência de repetir relacionamentos destrutivos? Você se sente aprisionado em um relacionamento? Você tem medo de ficar só? Você tem medo de expressar suas emoções de maneira aberta, honesta e apropriada? Você acredita que se assim o fizer ninguém vai amá-lo? O que você sente sobre mudar o seu comportamento? O que te impede de mudar? Você ignora os seus problemas ou finge que as circunstâncias não são tão ruins? Você vive ajudando as pessoas a viver? Acredita que elas não sabem viver sem você? Tenta controlar eventos, situações e pessoas através da culpa, coação, ameaça, manipulação e conselhos, assegurando assim que as coisas aconteçam da maneira que você acha correta? Você procura manter-se ocupado para não entrar em contato com a realidade? Você sente que precisa fazer alguma coisa para sentir-se aceito e amado pelos outros? 23 Você tem dificuldade de identificar o que sente? Tem medo de entrar em contato com seus sentimentos como raiva, solidão e vergonha A dependência alcoólica além de produzir efeitos negativos na vida pessoal, trabalho e social, pode causar graves problemas de saúde, e o que é mais frustrante é que o melhor dos tratamentos não gera grandes efeitos. A associação americana de psiquiatria (APA) instituiu um padrão de critérios diagnosticados pelo abuso de álcool: - Abuso de substância: É manifestado por um ou mais dos seguintes aspectos, ocorrendo dentro de um período de 12 meses: • uso recorrente da substância, resultando em um fracasso em cumprir obrigações importantes relativas a seu papel no trabalho, na escola ou em casa • uso recorrente da substância em situações nas quais isto representa perigo físico • problemas legais recorrentes relacionados à substância • uso continuado da substância, apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes Os sintomas jamais satisfizeram os critérios para Dependência de Substância. - Dependência de substância: É manifestado por três (ou mais) dos seguintes critérios, ocorrendo a qualquer momento no mesmo período de 12 meses: 1) Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: a) uma necessidade de quantidades maiores da substância para adquirir a intoxicação ou efeito desejado b) redução do efeito com o uso continuo da mesma quantidade de substância 2) Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: a) síndrome de abstinência característica para a substância b) a mesma substância (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumida para aliviar ou evitar sintomas de abstinência3) A substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido 12. ÁLCOOL E TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL. 24 4) Existe um desejo persistente ou esforços mal-sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância 5) Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da substância (por ex., consultas a múltiplos médicos ou fazer longas viagens de automóvel), na utilização da substância (por ex., fumar em grupo) ou na recuperação de seus efeitos 6) importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância 7) o uso da substância continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância (por ex., uso atual de cocaína, embora o indivíduo reconheça que sua depressão é induzida por ela, ou consumo continuado de bebidas alcoólicas, embora o indivíduo reconheça que uma úlcera piorou pelo consumo do álcool) Em um estudo, Galduroz & Caetano demonstraram um aumento significativo de 6,6 para 9,4% entre 2000 e 2004 de dependentes de álcool. Nos tratamentos tradicionais, é dado a motivação ao paciente para não beber mas na maioria das vezes isso não acontece pelo fato de que não é lhes mostrado como não beber ou largar um vício. Neste segundo foco, o indivíduo recebe a responsabilidade pela resolução do problema, e não sua causa e desenvolvimento. Programa efetivo de autocontrole: 1) Mostrar ser eficaz na manutenção da mudança por um período significativo comparado aos melhores programas alternativos 2) Melhorar e manter a adesão às demandas do programa 3) Combinar técnicas cognitivas e comportamentais com mudanças globais no estilo de vida 4) Facilitar a motivação e habilidades de enfrentamento para mudanças contínuas na vida 5) Substituir padrões comuns por outras habilidades 6) aumentar a generalização 7) Ensinar novas formas de lidar com o fracasso 8) Usar sistemas disponíveis de apoio. O modelo de aprendizagem social considera que a aprendizagem do comportamento de beber resulta de influências sociais, familiares e de pares que modelam comportamentos, crenças e expectativas referentes ao álcool. As atitudes e comportamentos dos pais em relação ao álcool são favoráveis ao consumo de bebida na adolescência. O papel do reforçamento positivo resultante dos efeitos do álcool não pode ser negligenciado, já que é um poderoso lubrificante social, facilitando a sociabilidade. Reforçamento negativo também atua através de redução da tensão e do humor negativo, do alívio da dor e liberação de inibições sociais. No condicionamento pavloviano, um dependente associa a droga a sensação boa que ela causa, isso se torna um forte vínculo com o álcool que é difícil de ser quebrado. 25 - Modelo de prevenção de recaídas: O conceito de auto-eficácia propõe que as pessoas tendem a repetir certos comportamentos quando acreditam em sua capacidade pessoal de desempenhar corretamente esses comportamentos. Entretanto, o poder preditivo de auto-eficácia encontra-se limitado em alcoolistas, uma vez que eles tendem a ser autoconfiantes. Por outro lado, fortalecer a auto-eficácia de resistir ao uso de álcool diminui a probabilidade de recaídas. Mudanças no estilo de vida são um elemento central para reduzir a probabilidade de recaídas, como a redução de fontes de estresse, busca de um equilíbrio entre prazer a obrigação, prática de exercícios físicos, tentativa de melhorar a alimentação por meio de uma dieta mais balanceada, ioga, meditação ou outra forma de relaxamento e o uso de técnicas de diminuição de estresse. - Modelo cognitivo de abuso de substância: O termo SMART (baseado na terapia racional) ajuda os indivíduos a atingir independência de seus comportamentos , seja de substâncias ou de atividades. 1) melhorar e manter a motivação para se abster; 2) enfrentamento de fissuras; 3) resolução de problemas, manejo de pensamentos, sentimentos e comportamentos; 4) equilíbrio no estilo de vida, balanceando satisfações momentâneas e duradouras. Ele ajuda as pessoas a se recuperarem de todos os tipos de comportamento adictivo, incluindo alcoolismo, abuso de drogas, jogo compulsivo e adicção a outras substâncias e atividades. A relação terapêutica e a conceitualização de casos desempenham um importante papel. É através delas que um terapeuta pode entender a dor e o medo por trás da hostilidade e resistência do paciente. O modelo cognitivo de abuso de substância é baseado na pressuposição de que experiências nas fases iniciais da vida são as bases para o desenvolvimento de problemas dessa natureza. Elas favorecem o desenvolvimento de esquemas, crenças nucleares básicas e crenças condicionais. Exposição e experiência com uso de drogas é parte desse processo pois é por meio dessas experiências que o paciente formula pensamentos e crenças em relação ao seu vicio, mas nem todos os pensamentos serão bons, e o risco de uma recaída é muito grande nesse estagio do tratamento. É essencial uma boa relação terapêutica porque é por meio dela que pode-se avaliar as dificuldades e revertê-las a favor do paciente. - Estagio de mudança: Há diversos estágios relacionados a comportamentos adictivos que definirão a prontidão de um indivíduo em abandonar o uso de substâncias. Primeiro há um estágio chamado de pré- contemplação, no qual há uma negação da existência do problema (“Quem tem um problema? Eu não!”). Segundo, há um estágio de contemplação (“Isto está começando a me trazer problemas”); depois vem o estágio de preparação (no qual a pessoa começa a fazer planos concretos para atingir a mudança); depois 26 desse momento pode ter início o estágio de ação (redução real e cessação do uso de substância); e finalmente, um estágio de manutenção, no qual mudanças de atitudes e estilo de vida em longo prazo resultarão na recuperação contínua ou em uma nova recaída - Tratamento: Há 33 diferentes modalidades de tratamento do alcoolismo e concluíram que há boa evidência da eficácia das seguintes intervenções terapêuticas: treinamento de habilidade social, treinamento de autocontrole, entrevista motivacional breve, manejo de estresse, terapia conjugal comportamental e reforçamento da comunidade. Muitos estudos confirmaram a efetividade da terapia cognitivo- comportamental no tratamento do alcoolismo. Ao lidar com pacientes, é importante para o terapeuta estar “focado”, tentando não demonstrar desesperança e desespero, mas ao mesmo tempo, não esperando progresso constante. Os terapeutas devem sempre tentar permanecer calmos numa situação de crise e auxiliar o paciente na resolução de seu problema, sabendo que não devem resolver as crises para seus pacientes. A TCC é uma abordagem estruturada ou semi-estruturada, diretiva, ativa e de prazo limitado. Ela se fundamenta na racionalidade teórica de que o afeto e o comportamento de um indivíduo são, em grande parte, determinados pelo modo como ele estrutura o mundo. O objetivo da TCC é reestruturar as cognições disfuncionais e dar flexibilidade cognitiva no momento de avaliar situações específicas,como as exemplificadas acima. Ela visa à resolução de problemas focais, objetivando, em ultima análise, dotar o paciente de estratégias cognitivas para perceber e responder ao real de forma funcional. O terapeuta cognitivo comportamental formula as idéias e crenças disfuncionais do paciente sobresi, sobre suas experiências e sobre seu futuro em hipóteses e, então, testa a validade dessas hipóteses de uma forma objetiva e sistemática. Expectativa positiva de resultado: O usuário tem uma visão fragmentada do efeito da droga. Ora focaliza os efeitos positivos do uso, ora os negativos. No momento do uso, o foco está nos efeitos positivos. Algumas vezes, as expectativas positivas se manifestam como sensações ou imagens positivas. Identificação do estado de motivação: O reconhecimento do estado de motivação do paciente é uma das principais tarefas do profissional. Pode ser usado um quadro para balanço sobre vantagens e desvantagens do uso de drogas, que ajudará o paciente a ter uma visão global de riscos e benefícios e tomar uma decisão mais consistente. É uma técnica excelente no processo de resolução da ambivalência em pacientes pré-contemplativos. A motivação do paciente segue 13. COCAÍNA E TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL. 27 um espiral nos seguintes estágios: 1) Pré-contemplação: o paciente não reconhece que tem problemas relacionados ao uso de substâncias psicoativas; 2) Contemplação: o paciente reconhece que tem um problema, porém, não consegue mudar seu comportamento, nem seu estilo de vida para atingir, como meta, a abstinência; 3) Ação: o paciente reconhece seu problema relacionado ao uso de drogas psicoativas e se compromete a mudar seu comportamento através de estratégias eficazes (mudança do estilo de vida, reconhecimento e enfrentamento de situações de risco, etc); 4) Manutenção: o paciente, uma vez que conseguiu atingir a abstinência, toma decisões no sentido de manter o novo comportamento. Ao ter contato com a droga, o paciente desenvolve um outro grupo de crenças relacionadas à situação "usar droga". As crenças relacionadas à droga mantêm uma relação coerente com as Crenças Básicas de caráter mais genérico. Assim, o modelo cognitivo postula que a dependência é resultado da interação entre o contato inicial com a droga e as cognições que se formarão por influência das crenças básicas. Não são, portanto, todas as pessoas que, ao ter contato com a droga, desenvolverão dependência. As crenças relacionadas às drogas são de duas naturezas: 1) facilitadoras e 2) de expectativas positivas. O paciente, ao avaliar sua situação de estudante como muito árdua, começa a pensar que "merece" descontrair-se no bar durante o período da tarde; que beber "melhora o estresse"; e que vai ser "agradável durante a conversa com os amigos". Estas crenças são suficientes para eliciar pensamentos automáticos como "vou beber" e desencadear a fissura. Outras crenças, agora na vigência da fissura, aparecem: são Crenças Facilitadoras. Por exemplo, "não consigo suportar a vontade"; "só há um modo de melhorar essa vontade: usar!". Esse conjunto de cognições impulsiona o paciente ao uso, fechando um ciclo cognitivo para o uso continuado da droga. Para a psicanálise freudiana, as origens da toxicomania devem ser procuradas na fase oral do desenvolvimento psicossexual, onde a zona erógena é a boca e onde surge a libido, podendo ser vista em termos de fixação oral, onde fatores desencadeadores devem estar localizados nesta área de desenvolvimento da libido (Ex: a solução oral pode perdurar ao longo da vida como uma forma de afastar angústias). 14. ÁLCOOL E PSICANÁLISE. 28 O indivíduo toxicomaníaco sofre o processo de fixação, onda há uma repetição patológica de manifestações de experiências infantis, e de auto-erotismo, onde a energia libidinal é dirigida ao ego e pode conduzir a uma atitude narcisista. Em resumo, para a psicanálise a dependência química é vista como um estado de perturbação do ego, reconduzindo o dependente à estágios primitivos de relacionamento. Quanto ao alcoolismo, Antônio Alves propõem em seu livro “ Idealcoolismo: um olhar psicanalítico sobre o alcoolismo” que a relação estabelecida entre o alcoolista e o álcool, é de ordem idealizada, ou seja, o álcool se torna uma ilusão da divindade que protege o sujeito da própria realidade e da sua humanidade em troca de sua entrega (de corpo e alma). Possíveis “causas” propostas por Antônio são: relação mãe-bebê comprometida, componentes ativos de idealização e inveja, de ansiedade, presença maciça da pulsão de morte e ausência de um pai cuidador e protetor. Em suma, o individuo possuidor de uma história de vida onda há uma construção da psique falha e mal equipada, torna-se mais vulnerável para desenvolver o alcoolismo. “A excessiva presença da pulsão de morte transforma o masoquismo primário e a tolerância da dor para o crescimento em tolerância prazerosa da dor, em acúmulo de investimento em vez de descarga; a inveja de não ser o ideal e de não ter o idealizado transforma-se em arrogância e onipotência e, portanto, converge a mente para a estreiteza mental e para o assassinato do outro” (LÚCIA, 2013) O tratamento da toxicomania sob uma perspectiva psicanalítica visa a reconstrução de uma psique capacitada a pensar e privilegiar a vida (fortalecimento da pulsão de vida), reconhecendo e fazendo o dependente sentir-se humano. A psicoterapia visa auxiliar o individuo a lidar com o seu sofrimento emocional, resultante da dificuldade dos mecanismos de defesa diante de conflitos psíquicos. Os métodos podem abordar: psicoterapias, remédios, grupos de ajuda, etc. Segundo a psicanálise a concepção dos conflitos está na base do sistema de repressão e desejos (Id, Ego e Superego). Essa abordagem concentra-se em interpretar conflitos inconscientes, sendo reconhecidas e elaboradas, de forma que o sujeito descubra seu motivo. 15. COCAÍNA E PSICANÁLISE. 29 Esse conflito pode aparecer de forma abstrata através de símbolo, podendo resultar em um sintoma, uma forma e expressão do sofrimento psíquico. Desde que a pessoa consiga dar significados aos conflitos inconscientes, pode-se também transformar a simbolização em elementos pensáveis. Sendo o objetivo do tratamento psicanalítico, transformar a linguagem do sintoma em realidade psíquica. Por meio de associação livre, o paciente verbaliza seus conteúdos psíquicos, dizendo tudo que passa na sua cabeça, sem omitir dados que possam parecer inconvenientes. Através do processo de catarse e escuta o terapeuta ira pontuar as resistências que levam o desvendamento dos conflitos psíquicos. As representações se conectam, constituindo uma cadeia de elementos interligados. Surgindo como um campo de investigação, cada representação leva a outra, suscitando novas representações latentes que tendem a gerar angustia. A psicoterapia psicanalítica no contexto de uso de drogas tem por objetivo o apoio e fortalecimento dos recursos do paciente. Podendo ser intervenções individuais ou em grupos, através de encontros frequentes de duas a três vezes na semana. É necessário integralidade da percepção, memória, atenção, raciocínio, síntese, condição intelectual, pois para as interpretações é requerida a capacidade de simbolização. A ferramenta fundamental desse trabalho é o manejo da relação tranferencial, transferindo o terapeuta sentimentos e atitudes vivenciadas através das figuras paternas na fase da infância, pois é através dessa abordagem que pode ser possível desfazer os padrões estereotipados. AS interpretações dessa primeira resistência promove mudança na estrutura da personalidade. O objetivo é possibilitar o acesso dos conflitos psíquicos para elabora-los para a reestruturação, reorganização e desenvolvimento da personalidade, sendo esse conflito reencenado na relação transferencial. Também auxiliando o processo de alcançar os mecanismosdefensivos e substituí-los por defesas saudáveis, Na relação de confiança paciente-terapeuta é possível internalizar um bom objeto interno, sendo assim ocorrida a mudança. Outro aspecto importante é a possibilidade de preencher lacunas que surgiram no processo de identificação com as figuras paternas. Tudo isso fortalecera o ego, e o processo de identificação pode se encontrar melhor condições de elaborar os conflitos, sem remover os mecanismos de defesa primários. - ESTUDO: 30 Foi apresentado um estudo por dos Santos (...) no artigo Psicoterapia Psicanalítica: Aplicações no tratamento de pacientes com problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas, onde foram feitas 36 sessões individuais e 24 sessões de aconselhamento em grupo para dependentes de cocaína. Sendo o aconselhamento em grupo exclusivo o melhor resultado obtido, se comparados com terapias grupais com abordagem TCC e Psicodinâmica. Sendo o aconselhamento individual superior a ambas as formas de psicoterapia, porem mesmo assim todas as formas provaram ser efetivas. - Desintoxicação ou Promoção da abstinência Fase de abstinência sob supervisão médica dos efeitos do consumo de álcool ou outras drogas. Fisiologicamente esta fase dura poucos dias, porém a vontade de consumo pode persistir por meses. O uso de medicações pode reduzir o desconforto dos usuários ou mesmo minimizar as complicações médicas. A desintoxicação estabiliza o paciente, permitindo que ele ingresse na próxima fase do tratamento. Porém a desintoxicação sozinha tem mínimo impacto na dependência - Reabilitação É a fase do tratamento em que os paciente aprendem como modificar seu comportamento para manter a abstinência. Inúmeras modalidades terapêuticas podem (e devem) ser utilizadas para esta finalidade – aconselhamento individual e familiar, aprendizado sobre dependência e sobre as substâncias que consome, psicoterapia individual e familiar, medicações contra as vontades de consumo que o indivíduo apresenta, treinamento social e vocacional, e outros processos são integrantes desta fase. Grupos de mútua-ajuda devem sempre ser incluídos no processo de reabilitação - Cuidados continuados Muitos dos pacientes dependentes devem se manter em tratamento por um período longo em suas vidas. Esta fase é composta de propostas para a manutenção do estado de sobriedade frente às dificuldades de suas vidas. Participação em grupos de mútua-ajuda é um dos mais conhecidos meios de manutenção dos benefícios conseguidos em um tratamento. Outras possibilidades para esta fase são oferecidas pelas comunidades terapêuticas. Elas oferecem um ambiente bem estruturado para indivíduos que não disponham destes recursos em sua vida. As internações nestas instituições são frequentemente longas, possibilitando uma estruturação da vida do indivíduo antes dele retornar ao seu ambiente de vida. Todas as modalidades oferecem suporte moral e encorajamento. - Prevenção de recaídas 16. MEDICAÇÃO E FASES DO TRATAMENTO. 31 Estratégias que podem ser aplicadas conjuntamente ou logo após o tratamento primário (desintoxicação ou reabilitação). Em geral estas estratégias têm o objetivo de antecipar (e lidar) com as situações em que os pacientes terão possibilidade de recair, ajudando-os a adquirir instrumentos eficazes para evitar uma recaída, também modificando seu estilo de vida. Assim sendo são efetivas na redução da exposição dos indivíduos às situações de risco, fortalecendo suas habilidades de evitar uma recaída. As regras do tratamento - Passo a passo as normas impostas pela Anvisa para o funcionamento das comunidades terapêuticas Como deve ser escolhida a instituição que cuidará do tratamento da dependência de drogas de um familiar ou de um amigo próximo? Essa é uma pergunta muitas vezes presente nas consultas feitas à Abrafam (Associação Brasileira de Apoio aos Familiares de Droga- dependentes) - mas para a qual não existe uma resposta única. Em primeiro lugar, porque não existe tratamento que sirva para todos. Em qualquer área da saúde, cada indivíduo apresenta necessidades diferentes e reações diferentes às mais variadas terapias. Assim, não seria possível compor um "guia de tratamento de drogadependentes". E, certamente, se existisse um, não haveria tantos dependentes em apuros... No entanto, algumas orientações básicas são imprescindíveis. A primeira delas é verificar se, no mínimo, a lei está sendo cumprida. O tratamento da drogadição pode ser realizado das mais diferentes formas: em regime de ambulatório, domiciliar ou de internamento, sendo que esse último ainda subdivide-se entre vários tipos de serviços prestados por diferentes instituições: clínicas, hospitais, comunidades terapêuticas. E, com relação às comunidades terapêuticas, a legislação existe para defender o paciente. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgão do Ministério da Saúde, publicou, em maio, a Resolução número 101, preparada por membros de diferentes áreas, que trata do assunto. Ali estão descritas regras de funcionamento que devem ser do conhecimento de qualquer pessoa internada ou que tenha providenciado o internamento de alguém, pois deslizes ou claros exemplos de negligência podem passar despercebidos por pura falta de informação. Assim, para apoiar a família nesse universo tão grande de comunidades espalhadas por todo o país, acompanhe este estudo e confira o texto integral da Resolução a seguir. Medicamentos da cocaína e álcool PROMOCAO DA ABSTINENCIA: Ela ocorre sempre acompanhada de um médico para que possa observar seus efeitos. É um acompanhamento rápido, mas que dependendo da pessoa pode levar meses. A medicação que é orientada pelo médico é eficaz para a próxima fase do tratamento. Ou seja, se tratar sozinho não é uma solução. REABILITAÇÃO: Nessa fase o paciente vai aprender a se comportar sem ter a droga ou destilado, porque a abstinência ainda é muito presente. Aconselhamento familiar, obter conhecimento sobre o assunto, psicoterapia. O principal para a reabilitação é os grupos de mútua-ajuda. CUIDADOS CONTINUOS: Depende de paciente para paciente, alguns precisam tomar medicação a longo prazo ou até a vida 32 inteira. PREVENCAO DE RECAIDAS: Após a primeira fase (reabilitação) o médico já prevê que a recaída é muito provável, por isso ele já prepara o paciente para que ele tenha comportamentos que ajudem no processo. MEDICAMENTO: Substâncias psicoativas que são parecidas com as drogas, e que por conta disso precisam de indicação médica porque, seu uso excessivo causa dependência. "As regras do tratamento- Passo a passo as normas impostas pela Anvisa para o funcionamento das comunidades terapêuticas." Opinião Favorável: A Eficácia do Alcoólicos Anônimos Segundo Keith Humpreys (apud Atkinson et al., 2002), psicólogo da Stanford University e do sistema de saúde norte-americano Palo Alto, o AA é uma associação, existente em mais de 50 países, com de mais de 2 milhões de pessoas comprometidas a ajudarem-se mutuamente a, principalmente, absterem-se do álcool. Isso cocorre por meio de reuniões regulares em grupos de apoio, nas quais utilizam-se dos “doze passos” e de sua “experiência, força e esperança”. Os doze passos: 1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas. 2. Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade. 3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos. 4. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos. 5. Admitimosperante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas. 6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter. 7. Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições. 8. Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados. 9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem. 10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e quando estávamos errados, nós o admitíamos 17. AA & NA. 33 prontamente. 11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade. 12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes Passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades. A crítica ao AA está em consistir em um programa pouco monitorado e não padronizado, baseado principalmente em experiências e perspectivas espirituais de seus integrantes, pecando por não ser um tratamento profissional extraído de pesquisa objetiva e científica. O AA, por outro lado, parece ser a medida mais acessível financeiramente (é gratuito) e altamente disponível, além de ser o tratamento mais procurado nos EUA. Pesquisas revelam que: houve um aumento da probabilidade de abstinência em um grupo amostral de 158 pacientes acompanhados após 10 anos de tratamento; a eficácia é tal qual em outras psicoterapias, como mostra o estudo “Project Match” que acompanhou durante 8 anos 628 abusadores do álcool; o AA é, portanto, um dos mais importantes recursos da sociedade para se auxiliar indivíduos dependentes do álcool. Opinião Desfavorável: Alternativas ao Alcoólicos Anônimos Para G. Allan Marlatt (apud Atkinson et al, 2002), psicólogo da University of Washington, o AA não é o único caminho e pode até ser um obstáculo. Por que isso ocorre? - A exigência de admitir impotência em relação à bebida e admitir que a recuperação é possível apenas pela entrega do controle à uma “força superior” afasta muitos iniciantes; - A determinação de alcoolismo como “doença física” controlada apenas pela abstinência total e vitalícia do álcool, sem possibilidade de beber moderadamente, é desestimulante; 34 - A exigência da abstinência total não se adequa a todos: muitos só voltarão após sofridas todas as consequências negativas e ter-se chegado ao “fundo do poço”. Pesquisas demonstram que o apoio favorecido pelos encontros em grupos, é mais eficaz que os ensinamentos específicos associados ao AA, portanto outros grupos podem funcionar, tais como o Rational Recovery, SMART, Women for Sobriety e o Moderation Management. A seguir especificar-se-á mais sobre eles. No Brasil, o Al-Anon “é uma associação de parentes e amigos de alcoólicos que compartilham sua experiência, força e esperança” (al-anon.org.br) para solucionar os problemas em comum. Tem-se também o Narcóticos Anônimos (NA) voltado para a abstinência total de qualquer droga. Ambos os programas utilizam-se da terapia em grupo e dos mesmos doze passos do AA, incluindo a admissão da entrega a uma “força superior”. Alguns Tratamentos em Grupo para o Álcool e Outras Drogas Rational Recovery (Recuperação Racional): baseado em princípios racionais de mudança do comportamento, sem a necessidade de uma “força superior” para manter a abstinência. Existente somente nos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá e Austrália. Há também para o dependente a possibilidade de participação e possível tratamento a distância, em inglês e pago, pelo site. Usa a técnica "Addicted Voice Recognition Technique" (AVRT), para reconhecer a voz interior que clama pela droga, livros de auto-ajuda e seminários. SMART (Self-Management And Recovery Treatment ou Tratamento de Recuperação por Automanejo): baseado nos princípios da terapia cognitivo-comportamental, tais como a prevenção à recaída e treinamento em habilidades sociais. “Ele ajuda as pessoas a se recuperarem de todos os tipos de comportamento adictivo, incluindo alcoolismo, abuso de drogas, jogo compulsivo e adicção a outras substâncias e atividades. Atualmente, o programa patrocina mais de 300 encontros presenciais no mundo inteiro e 16 encontros on-line todas as semanas” (Rangé & Marlatt, 2008). O Women for Sobriety é um grupo para mulheres que tem problemas em relação à presença predominantemente masculina nos encontros do AA. O Moderation Management é um 35 programa de autoajuda que tem sido utilizado em muitos grupos. Ambos fazem atendimento em grupo também pelos sites, em inglês. ENTREVISTA 01 1- Sexo, nome, idade, data e local Masculino. L, 18 anos. Sexta-feira á tarde na rua do Largo da Ordem 2- Drogas que experimentou e quando começou? ‘’Comecei com 12 anos quando meu padrasto me deu um baseado de maconha pela primeira vez, foi dai que comecei a experimentar a maconha, depois fui pro álcool, cloro, redu, cogumelos, lsd, ópio e comecei a cheirar e injetar muita mas muita cocaína. Acho que a única droga que eu nunca usei foi o crack por incrível que pareça’’ 3- Você quer parar? ‘’Ish, já tentei parar várias vezes, já fui até internado, mas como moro aqui na rua e não vivo sem a cocaína é impossível parar, mas parar eu quero parar, mas não da, sem ela eu fico louco’’ 4- Já fez ou pretende buscar um tratamento? Como foi a experiência ‘’Como meu pai é separado da minha mãe, fui passar um tempo com ele quando eu tinha uns 14 anos, ele já estava sabendo que eu usava maconha mas não sabia que eu estava completamente viciado na cocaína. Então ele me internou numa clínica lá na cidade dele, fiquei um mês por lá e consegui fugir. A experiência foi horrível, no quinto dia eu já estava na loucura de cheirar e não podia, eu só fugi porque se não eu ia tentar me matar lá dentro, melhor morrer usando o que eu gosto do que me matar por ela’’ 5- Como é sua relação com a família antes e depois do tratamento? ‘’Minha relação antes de eu morar na rua, com minha mãe era perturbada, a gente brigava todo dia porque ela não acreditava que tinha sido o Valdir (padrasto) que tinha acabado com a família inteira, ela me batia um monte e ainda ele batia nela e se eu fosse pra cima dele ela achava ruim e me batia cada vez mais, os dois usavam droga também, acho que usar droga vem de família... Todos meus irmãos mais velhos já estavam virado, um é traficante agora, outros tão na rua igual eu, mas nunca mais vi eles. Depois do tratamento nada mudou, porque depois que voltei da casa do meu pai eu fui direto pra rua, faz uns 2 anos que não vejo minha família, não sei nem se minha mãe ta viva’’ 6- O que sente quando está ‘’limpo’’ e quando usa a droga? ‘’Eu nem lembro quando foi a ultima vez que eu fiquei limpo de verdade, porque usar alguma droga com 12 anos é quase a mesma coisa do que nascer com ela, quando eu uso 18. ENTREVISTA COM 02 DEPENDENTES QUÍMICOS. 36 a droga nossa, eu sinto aquela liberdade, esqueço de tudo o que já passei na vida, parece que sou outra pessoa, vivo em outro mundo quando uso a cocaína, ela me da a sensação de eu ter tudo, que eu posso fazer tudo o que eu quero. Quando eu fico sem usar por umas 2, 3 horas já fico meio transtornado, querendo me matar por ver a situação que eu to nesse mundo sem volta’’ 7- Você se considera um dependente?
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