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Aula 5 Hidrologia & Drenagem Urbana Profa. Dra. Monica Soares Resio Zuffo (baseada na aula do Prof. Dr. Antonio Carlos Zuffo) ABRIL - 2017 “Infiltração é o processo pelo qual a água penetra nas camadas superficiais do solo e se move para baixo em direção ao lençol d’água” [Wisley e Brater] No processo de infiltração podem ser destacadas três fases: Fase de Intercâmbio: a água está próxima à superfície do terreno, sujeita a retornar à atmosfera por uma aspiração capilar, provocada pela ação da evaporação ou absorvida pelas raízes das plantas e em seguida transpirada pelo vegetal; Fase de Descida: dá-se o deslocamento vertical da água quando a ação de seu peso próprio supera a adesão e a capilaridade*; esse movimento se efetua até até atingir uma camada-suporte de solo impermeável; Fase de Circulação: devido ao acúmulo de água, são constituídos os lençóis subterrâneos, cujo movimento se deve também a ação da gravidade, obedecendo às leis de escoamento subterrâneo. * tendência que os líquidos apresentam de subir em tubos capilares ou de fluir através de corpos porosos, causada pela tensão superficial. Na fase de descida devido ao acúmulo da água, são construídos os lençóis subterrâneos, cujo movimento se deve também a ação da gravidade, obedecendo às leis de escoamento subterrâneo: dois tipos de lençóis podem ser definidos: Lençol freático: quando a sua superfície é livre e está sujeita à pressão atmosférica; Lençol cativo: quando está confinado entre duas camadas impermeáveis, sendo a pressão na superfície diferente da atmosférica. Parte superior – é constituída pela franja de capilaridade, cuja altura depende do material do solo, atingindo de 30 a 60 cm para areias finas e até 4,00 metros para argilas. Parte inferior – é ocupada pela água do lençol compreendida entre a franja capilar e a superfície da camada suporte impermeável. Capacidade de infiltração: a capacidade de infiltração pode ser expressa em milímetros por hora (mm/h), milímetros por dia (mm/dia) ou metros cúbicos por metro quadrado (m3/m2) e por dia (m3/dia); Distribuição granulométrica: é a distribuição das partículas constituintes do solo em função das suas dimensões; Porosidade: é a relação entre o volume de vazios de um solo e o seu volume total, dado em %; Coeficiente de permeabilidade ou condutividade hidráulica (ver slide 11). 1 – Tipo do solo; 2 – Altura de retenção superficial e espessura da camada saturada; H hHf +µ h H Em que: • H = espessura da camada saturada, que é a medida em que conforme vai passando o tempo com a chuva a espessura vai aumentando; • h = altura da retenção superficial, que é a espessura da lâmina d’água provocada pela chuva (quanto maior for a lâmina, maior a infiltração). 3 – Grau de umidade do solo (capilaridade); 4 – Ação da precipitação sobre o solo (compactação de sua superfície); 5 – Compactação devido ao homem e dos animais; 6 – Temperatura (fator não muito importante no Brasil): influi na viscosidade do fluido, sendo que em meses frios seja mais baixa que nos meses quentes; 7 – Coeficiente de permeabilidade ou condutividade hidráulica: é a velocidade de filtração da água em um solo saturado com perda de carga unitária. O coeficiente de permeabilidade varia com a temperatura, pois esta influi na viscosidade da água. Pode ser expressa nas mesmas unidades da velocidade de filtração. A condutividade hidráulica é dada pela seguinte expressão: (1) em que: K = condutividade hidráulica (unidade de velocidade); k = condutividade intrínseca (depende das características físico- químicas do meio em que ocorre o escoamento); µ = viscosidade do fluido; g = peso específico do fluido; µ gkK = 8 – Cobertura vegetal: Retenção superficial; Diminuição do efeito da compactação pela chuva; Retiram a umidade do solo; Facilitam a ação de insetos e animais ; etc. 9 – Presença de ar no solo: o ar presente nos vazios do solo pode ficar retido temporariamente, comprimido pela água que penetra no solo, tendendo a retardar a infiltração. Infiltrômetros: A) com aplicação de água por inundação è infiltrômetros: Dt DV ciAt Vf . D D = Possíveis causas de erros na leitura: • Ausência do efeito da compactação produzida pela água da chuva; • Fuga do ar retido para a área externa aos tubos; • Deformação da estrutura do solo com a cravação dos tubos. São aparelhos nos quais a água é aplicada por aspersão, com taxa uniforme, superior à capacidade de infiltração do solo, exceto para um curto período de tempo inicial. manômetro é um instrumento utilizado para medir a pressão de fluidos contidos em recipientes fechados. Existem, basicamente, dois tipos: os de líquidos e os de gases. Delimitam-se áreas de aplicação de aplicação da água, com forma retangular ou quadrada, de 0,10 a 40 m2 de superfície; medem-se a quantidade de água adicionada e o escoamento superficial resultante, deduzindo-se a capacidade de infiltração do solo. Tipos mais comuns: • Pearce: água lançada na margem mais alta de uma área de 0,10 m2 e o escoamento superficial medido na margem mais baixa. Uma caixa alimentadora de nível constante permite a medida da taxa de aplicação. Ela está ligada a um tubo perfurado para a aspersão. • North Folk modificado: água aplicada por borrifadores sobre uma área de 2,0 m2; taxa de aplicação medida por 6 pluviômetros e escoamento superficial medido na margem inferior. • Rock Mountain: semelhante ao anterior, área de 0,60 X 1,20 m; taxa de aplicação medida por 12 pluviômetros de 25 mm de diâmetro. • Tipo F modificado: área de 1,80 X 3,60 m, taxa de aplicação medida por 2 pluviômetros contínuos com 3,60 m de comprimento e 25 mm de largura, centrados: escoamento superficial registrado automaticamente. Tensiômetro: Extrator de Richards Umidade Pr es sã o ou S uc çã o C ap ila r PM P U C CC • PMP = Ponto de Murchamento Permanente = umidade do solo em que planta murcha permanentemente independente da quantidade de água que se regue posteriormente; • CC = Capacidade de Campo = máxima umidade ou quantidade de água que o solo consegue reter, pois além da CC a água começa a descer no solo por gravidade Depende basicamente da intensidade de chuva, CC (Capacidade de Campo: máxima umidade ou quantidade de água que o solo consegue reter, pois além da CC a água começa a descer no solo por gravidade), profundidade, solo homogêneo: Lei de Darcy; A lei de Darcy é uma equação constitutiva fenomenológica derivada que descreve o fluxo de um fluido através de um meio poroso. A lei foi formulada por Henry Darcy com base nos resultados de experimentos, publicado em 1856 sobre o fluxo de água através de leitos de areia. Constitui também a base científica da permeabilidade de fluidos utilizados em ciências da terra. Permeabilidade: a permeabilidade dos corpos consiste em uma propriedade dos corpos de permitirem, com maior ou menor facilidade, o escoamento de água através dos seus poros. Já a permeabilidade dos solos consiste, basicamente, em medir a velocidade de percolação da água em uma determinada amostra, considerando-se em escoamento laminar, considerando-se a temperatura no momento da análise. Aplicação dos estudos de permeabilidade: A lei de Darcy é amplamente difundida nos estudos (projetos geotécnicos) de barragens, hidroelétricas, filtros drenantes, fundações, fossas sépticas, construções que envolvem movimentação do solo e estabilidade. Coeficiente de Permeabilidade (K): o coeficientede permeabilidade, K, é um índice empregado para estabelecer parâmetros de permeabilidade dos solos. Resumidamente, é um valor que representa a velocidade com que a água atravessa uma amostra. Como este índice é bastante pequeno numericamente, foi convencionado expressar seu resultado em forma de potenciação, exemplo: K = 2,20 x 10−5 cm/s ou K = 1,27 x 10−7 m/s. Como a temperatura influencia no valor final de K, foi convencionado que ele deve ser convertido para uma temperatura final de 20°C, corrigindo-se a viscosidade da água à temperatura do ensaio: K20º = Kt x (Mt / M20º), onde: M20º = Viscosidade da água a 20 °C e Kt = Coeficiente da temperatura do ensaio. Fatores que influenciam a permeabilidade do solo: o coeficiente de permeabilidade pode sofrer alterações consideráveis em função do índice de vazios do material e da temperatura da água no momento do ensaio. Um mesmo solo poderá apresentar, conforme sua situação, coeficiente de permeabilidade diferente: O índice de vazios (e) da amostra é diretamente proporcional ao coeficiente de permeabilidade, ou seja, quanto maior for o índice de vazios, maior será o valor do coeficiente de permeabilidade; A temperatura da água é outro fator que alterará o resultado final do valor do coeficiente de permeabilidade, caso haja aumento de temperatura da água, haverá a redução da sua viscosidade e, com isso, a água fluirá mais facilmente pelos vazios da amostra, reduzindo o tempo gasto para atravessá-la. Assim, o coeficiente aumentará, ou seja, solos ensaiados a temperaturas mais elevadas apresentam coeficientes de permeabilidade maiores; O tipo de material analisado também irá exercer influência sob o coeficiente de permeabilidade. Solos granulares, como pedregulhos e areais, apresentam maior coeficiente de permeabilidade. Solos finos siltes e argilas apresentam menor coeficiente de permeabilidade. Lei de Darcy: calcula a vazão Q em um meio poroso é dada pela relação entre a permeabilidade do meio k , a queda de pressão (pb−pa), a viscosidade do fluido μ, ao longo de uma distância L e área de seção transversal A: 𝑄 = −𝑘 ∗ 𝐴𝜇 ∗ 𝑝* − 𝑝+𝐿 1 – Método do Índice φ O método do índice φ nada mais é do que a taxa de infiltração “f” suposta constante durante todo o evento pluvioso; qualquer precipitação que possua intensidade superior à essa taxa provocará escoamento superficial. f tempo (h) Altura da chuva mm ff Desta forma o índice representa uma precipitação a partir da qual haverá o escoamento superficial. Esta precipitação é uma precipitação média, uma vez que a umidade antecedente do solo também influi na taxa de infiltração, e, consequentemente, na precipitação que provoca o escoamento. 2 – Método de Horton O fenômeno da infiltração pode ser modelado matematicamente pela fórmula de Horton, pela seguinte expressão: ( ) ktcoc effff --+= . em que: fo – taxa de infiltração inicial (mm/h); fc – taxa de infiltração constante (mm/h); f – taxa de infiltração no tempo t (mm/h); e - logaritmo neperiano (2,718281828459045... ou 2,72); k – constante que depende do tipo de solo; t – tempo em horas. 2 – Método de Horton Horton (1939) apresentou seu modelo hidrológico de infiltração de três parâmetros como: ( ) ktcoc effff --+= . em que: fo – taxa de infiltração inicial (mm/h); fc – taxa de infiltração constante (mm/h); f – taxa de infiltração no tempo t (mm/h). k – constante que depende do tipo de solo; e - logaritmo neperiano (2,718281828459045... ou 2,72); t – tempo em horas ( ) ( )ktcoct ek fftfF ---+= 1.. Os parâmetros fo e K não tem base física; ou seja, eles não podem ser determinados a partir das propriedades dos solos e dever ser medidos a partir de dados experimentais. A capacidade de infiltração cumulativa é expressa por: Filtração Total Intensidade de Chuva e curvas de capacidade de infiltração A Fórmula proposta pelo SCS é representada pela seguinte expressão: ( ) , *8,0 *2,0 2 SP SPQ + - = P > 0,2*S em que: Q = escoamento superficial direto em mm; P = precipitação em mm; S = retenção potencial do solo em mm. O valor de “S” depende do tipo e da ocupação do solo e pode ser determinado facilmente por tabelas próprias. Não se recomenda utilizar as tabelas americanas para o Brasil, pois seus solos são bastante diferentes. Neste caso, utilizam-se as tabelas propostas por Setzer e Porto (1979) ou Lombardi Neto et al. (1989), sendo a segunda, aparentemente, aquela que fornece os melhores resultados. Condição necessária para a utilização do método: P > Ai Como F = P – Q, tem-se sob a condição descrita acima que: Substituindo, obtêm-se: iAP Q S F - = ( ) QAPF i --= ( ) ( ) SAP APQ i i +- - = 2 O laranja (F) infiltrou, o verde (Q) escoou, o azul (Ai) é a abstração inicial, que é a chuva que foi interceptada pela vegetação e nem escoa e nem infiltra, volta a atmosfera por evaporação. Baseado em gráficos do escoamento superficial direto Q em função da precipitação P, para bacias hidrográficas naturais, observou-se que com o aumento de P, Q aproxima-se de P. Os mesmos dados demonstraram que (P-Q) aproxima-se de uma constante, enquanto P continua aumentando, ou seja, a medida que P cresce, P - Q = F + Ai tendem a S. Uma vez que se torna necessária uma estimativa para a variável S para se determinar o escoamento direto Q a partir de uma precipitação conhecida P, o SCS elaborou o “número da curva” (CN). Este parâmetro CN representa os efeitos da combinação do grupo hidrológico do solo com o tipo de cobertura e tratamento da terra sobre o escoamento superficial. Essas curvas foram numeradas de 0 a 100 e S foi relacionado com os valores CN pela seguinte equação: rearranjando: sendo S dado em mm e CN adimensional. 25425400 -= CN S S CN + = 254 25400 O CN representa uma curva média de infiltração que separa a parte da precipitação que escoará superficialmente. A condição de umidade antecedente foi usada como parâmetro representativo dessa variabilidade. Desta forma, a variabilidade do CN depende do volume precipitado num período de 5 a 30 dias antecedente a uma determinada chuva, a qual foi denominada de precipitação antecedente. Assim, o SCS definiu três condições de umidade do solo, definidos por: Condição I: os solos de uma bacia hidrográfica estão secos, mas não ao ponto de murchamento e quando se ara ou cultiva bem o solo; Condição II: os solos encontram-se na umidade ideal, ou propícia às condições que precedem a ocorrência de uma enchente máxima anual em numerosas bacias hidrográficas; Condição III: os solos, nesta condição, apresentam-se quase saturados, quando da ocorrência de chuvas fortes ou fracas e baixas temperaturas durante 5 dias anteriores a uma determinada precipitação. Gráfico para a obtenção do volume de escoamento superficial em função da precipitação e do CN (Ai = 0,2*S e condição II de umidade antecedente). As condições de umidade antecedente podem ser identificadas a partir dos limites sazonais (estações do ano) estabelecidos para ambos. Estes limites são apresentados na tabela 1, obtidos para um período mínimo de 5 dias antecedentes: Tabela 1: limites da precipitação para a estimativa das condições de umidade antecedente. O SCS distingue em seu método 4 grupos hidrológicos de solos. A adaptação para os solos de São Paulo proposto pôr Setzer e Porto (1979) classifica os solos em 5 grupos como segue: GRUPO A – Solos arenosos com baixo teor de argila total, inferior a uns 8%, não há rocha nem camadas argilosas e nem mesmo densificadas até a profundidade de 1,5 m. O teor de húmus é muito baixo, não atingindo 1%; GRUPO B– Solos arenosos menos profundos que os do GRUPO A e com teor de argila total, porém ainda inferior a 15%. No caso de terras roxas este limite pode subir a 20% graças a maior porosidade. Os dois teores de húmus podem subir, respectivamente, a 1,2 e 1,5 %. Não pode haver pedras e nem camadas argilosas até 1,5 m, mas é quase sempre presente camada mais densificada que a camada superficial; GRUPO C – Solos barrentos com teor total de argila de 20 a 30% mas sem camadas argilosas impermeáveis ou contendo pedras até a profundidade de 1,2 m. No caso de terras roxas, estes dois limites máximos podem ser 40% e 1,5m. Nota-se a cerca de 60cm de profundidade camada mais densificada que no GRUPO B, mas ainda longe das condições de impermeabilidade; GRUPO D – Solos argilosos (30 – 40% de argila total) e ainda com camada densificada a uns 50 cm de profundidade. Ou solos arenosos como B, mas com camada argilosa quase impermeável ou horizonte de seixos rolados. GRUPO E – Solos barrentos como C, mas com camada argilosa ou com pedras. Pode também não possuir tal camada, mas apresenta teor total de argila superando 40%. No caso de terras roxas este teor pode alcançar 60% (no caso D, 45%). Tabela : Numeração das curvas CN de escoamento superficial de chuvas intensas conforme o complexo hidrológico do solo com a sua cobertura vegetal (condição II de umidade antecedente). Tabela : fatores de conversão das curvas CN para as diferentes condições de umidade antecedentes do solo.
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