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conceitos básicos dos processos grupais

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47 
Encontro 
Revista de Psicologia 
Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014 
Armando Sérgio Emerenciano 
de Melo 
Universidade de Fortaleza - Unifor 
armandosemelo@gmail.com 
Osterne Nonato Maia Filho 
Universidade Estadual do Ceará - UECE 
osterne_filho@uol.com.br 
Hamilton Viana Chaves 
Instituto Federal de Educação, Ciência e 
Tecnologia do Ceará – IFCE 
Universidade de Fortaleza - Unifor 
hamilton@unifor.br 
 
 
 
 
 
 
CONCEITOS BÁSICOS EM 
INTERVENÇÃO GRUPAL 
 
RESUMO 
O ser humano é ser social e somente existe em função de seus 
relacionamentos grupais. O campo do conhecimento sobre a 
convivência em grupo e de suas relações com os outros grupos e com as 
instituições mais amplas foi denominado dinâmica dos grupos. Este 
artigo tem por objetivo explicitar elementos conceituais básicos em 
relação à dinâmica de grupos. Para tanto, objetivos, estrutura, 
necessidades interpessoais, tarefas e emoção na interação, papéis, entre 
outros elementos são destacados. A abordagem da dinâmica de grupos 
aplica-se as mais variadas estratégias de pesquisa e de intervenção em 
instituições. Presta-se ao serviço de transformação das relações 
humanas uma vez que põe em destaque o entrelaçamento de desejos 
pessoais e objetivos coletivos. 
Palavras-Chave: dinâmica de grupos; grupo; processo grupal; intervenção 
grupal. 
ABSTRACT 
The human being is a social being and only exists due to the group 
relationships. The field of knowledge about living in a group and its 
relationships with other groups and with the wider institutions was 
called group dynamics. This article aims to make explicit basic 
conceptual elements in relation to group dynamics. Therefore, purpose, 
goals, structure, roles, interpersonal needs, tasks and emotion in 
interaction, and other elements are highlighted. The group dynamics 
approach is applied to the most varied strategies of research and 
intervention in institutions. It is useful for the service of transforming 
human relationships once it highlights the intertwining of personal 
desires and collective goals. 
Keywords: group dynamics; group; group process; group intervention. 
Anhanguera Educacional Ltda. 
Correspondência/Contato 
Alameda Maria Tereza, 4266 
Valinhos, São Paulo 
CEP 13.278-181 
rc.ipade@anhanguera.com 
Coordenação 
Instituto de Pesquisas Aplicadas e 
Desenvolvimento Educacional - IPADE 
Artigo Original 
Recebido em: 23/09/2013 
Avaliado em: 17/02/2014 
Publicação: 10 de julho de 2014 
48 Conceitos básicos em intervenção grupal 
Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 47-63 
1. INTRODUÇÃO 
O ser humano é um ser social e somente existe em função de seus relacionamentos 
grupais. O fato de que o indivíduo nasce, aprende, trabalha e morre em grupo, torna 
evidente a necessidade do estudo da vida grupal. Para Zimerman e Osório (1997), todo 
indivíduo é um grupo na medida em que, no seu mundo interno, há um grupo de 
personagens introjetados, como os pais, os irmãos entre outros, que convivem e interagem 
entre si. Este fato indica que, se quisermos compreender o ser humano, devemos estudar 
sua vida em grupo. 
Grinberg, Sor e Bianchedi (1973) discutem a importância da formação grupal e a 
sua consequente conversão em objeto de observação e pesquisa. As pessoas reunidas em 
grupos apresentam maior riqueza e complexidade das qualidades da dimensão humana, 
dentre as quais a comunicação. Watzlawick, Beavin e Jackson (2007, p.44) afirmam que há, 
na verdade, uma “impossibilidade de não comunicar”. Ora, se não é possível não 
comunicar, então toda observação é também uma forma de comunicação e, portanto, 
algum tipo de intervenção “comunicativa”. Assim, o estudo de um grupo no campo é ao 
mesmo tempo observação, pesquisa e intervenção e, por isto, uma pesquisa-ação. 
O campo do conhecimento sobre a convivência em grupo e de suas relações com 
os outros grupos e com as instituições mais amplas foi denominado dinâmica de grupo. 
Seu desenvolvimento é um fenômeno do século XX e deu-se de forma diferenciada dos 
estudos realizados nos séculos anteriores. É neste período que, sobretudo, psicólogos e 
sociólogos passaram a dar um tratamento mais científico ao estudo de grupo. 
A dinâmica de grupo está intimamente ligada à teoria de campo aplicada à 
psicologia social. Kurt Lewin é considerado o fundador da moderna dinâmica de grupo. 
Com seu trabalho na Universidade de Iowa, por volta dos anos 1940, e, mais tarde, no 
Massachusetts Institute of Technology (MIT), Lewin estabeleceu esse campo de estudo e 
atraiu pesquisadores e recursos financeiros para este tipo de pesquisa. Os artigos de 
Lewin publicados na década de quarenta do século XX e depois reunidos nos livros Teoria 
de campo em Ciência Social (1965) e Problemas de dinâmicas de grupo (1978), 
prepararam o terreno para investigações e publicações do pós-guerra. 
Para Lewin (1978), um grupo é mais do que a soma de seus membros: consiste 
numa totalidade dinâmica que não resulta apenas da soma de seus integrantes, tendo 
propriedades específicas enquanto totalidade, princípio da Escola da Gestalt. Possui 
estrutura própria, objetivos e relações com outros grupos. A essência de um grupo não é a 
semelhança ou a diferença entre seus membros, mas sua interdependência. Lewin 
 Armando Sérgio Emerenciano de Melo, Osterne Nonato Maia Filho, Hamilton Viana Chaves 49 
Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 47-63 
caracteriza um grupo como sendo um todo dinâmico, o que significa que uma mudança 
no estado de uma das suas partes provoca mudança em todas as outras. 
Nesse sentido, as tentativas com vistas à realização dos objetivos grupais criam 
no grupo um processo de interação entre as pessoas, que se influenciam reciprocamente e 
pode haver a produção de novos significados e metas. 
Há que se reconhecer que, embora existam diversas orientações teóricas, é válido 
partir do princípio de que, basicamente, a essência dos fenômenos grupais, a 
interdependência entre seus membros, é a mesma em qualquer tipo de grupo e o que 
determina as diferenças entre os distintos grupos é o objetivo e fins para os quais foram 
criados e compostos e a diversidade da cultura (ZIMERMAN; OSÓRIO, 1997). 
Existem, portanto, grupos de diversos tipos. Uma subdivisão com implicações 
quantitativas permite diferenciar os grandes grupos sociais e os pequenos grupos ou 
microgrupos. Na presente discussão estamos abordando o microgrupo, pois a qualidade 
das relações entre os participantes nesse tipo de formação explicita mais claramente a 
força do próprio grupo na dialética da interação grupal. Neste sentido, para Luft (1970) o 
microgrupos é: 
[...] o estudo dos indivíduos em interação dentro de grupos cujo número é 
suficientemente limitado para permitir aos participantes estabelecerem entre si relações 
explícitas e terem uma percepção recíproca uns dos outros – a expressão face a face 
resulta desta situação. (LUFT, 1970, p.15). 
Em outras palavras, nos microgrupos todos os participantes estão frente a frente 
e têm a possibilidade de estabelecer relacionamentos interpessoais sem a mediação de 
terceiros. Assim, a interdependência grupal costuma possibilitar coesão grupal, clima 
gerado pelo compromisso assumido, possibilitando, entre outros aspectos, o ambiente 
acolhedor para a aprendizagem e a solidariedade. 
Devido à importância que o objetivo do grupo tem para sua existência parece-nos 
oportuno uma classificação que considere esta característica como balizadora. Assim, há 
os grupos operativos e os psicoterápicos. Os operativos cobrem o campo institucional, 
organizacional, comunitário, com foco psico-educativo, portanto, na modificação desses 
campos. Os psicoterápicos são classificados a partir da abordagem teórica e têm 
perspectiva terapêutica. Neste último caso, temos as perspectivas psicodramática, 
psicanalítica, cognitivo-comportamental e teoria sistêmica (ZIMERMAN; OSÓRIO, 1997). 
Para o estudodos microgrupos é necessário ter outras conceituações. A partir de 
Mucchielli (1979) e Minicucci (1982), podemos estabelecer a seguinte classificação para a 
gênese dos microgrupos: naturais espontâneos ou artificiais. 
50 Conceitos básicos em intervenção grupal 
Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 47-63 
Os naturais espontâneos são caracterizados por relações afetivas, enraizadas na 
existência natural como a família, a comunidade de nascimento, entre outros. Os 
microgrupos artificiais caracterizam-se pelo fato de que a razão do agrupamento é, pelo 
menos na origem, exterior à vontade direta dos membros. Exemplo desses microgrupos 
são o serviço militar obrigatório e os cursos de graduação universitários. 
Os microgrupos podem ser ainda momentâneos ou duráveis. Os microgrupos 
momentâneos e caracterizam-se por uma limitada duração da sua existência. Exemplos 
desses microgrupos são as reuniões eventuais, como eventos de secretários municipais de 
uma determinada área de trabalho, ou os microgrupos de discussão por tema de uma 
comunidade, escola, entre outras. Já o microgrupo natural e durável pode ser 
exemplificado pela família e as organizações militares. 
1.1. O desenvolvimento das práticas de intervenção grupal 
Por causa do seu caráter amplo, a expressão “dinâmica de grupo” nem sempre é 
empregada num sentido acurado. Por isto, é necessário precisar o seu emprego. A 
expressão caiu em descrédito devido à aplicação que, às vezes, dela se fez para se referir a 
atividades utilizadas com objetivos ilustrativos, recreativos, místicos, entre outros. 
Certamente, contribuiu para o descrédito a aplicação inconsequentemente realizada por 
profissionais descomprometidos ética e cientificamente. 
Utilizam-se expressões tais como: “dinâmicas” ou “técnicas de relações 
humanas”, que confundem mais do que revelam o seu significado. Para Cartwright e 
Zander (1975), a expressão “dinâmica de grupo” popularizou-se após a segunda grande 
guerra e tem três empregos mais conhecidos: numa concepção ideológica; como um 
conjunto técnicas aplicadas ao grupo destituídas de articulação teórica; e o estudo dos 
grupos, de sua essência e funcionamento. No caso da concepção ideológica trata-se de: 
[...] um tipo de ideologia política, interessada nas formas de organização e direção dos 
grupos. Essa ideologia acentua a importância da liderança democrática, a participação 
dos membros nas decisões e as vantagens, tanto para a sociedade quanto para os 
indivíduos, das atividades cooperativas em grupos. (CARTWRIGHT; ZANDER, 1975, 
p.5). 
Observamos que os cientistas que trabalharam junto aos aliados ocidentais na 
época da segunda guerra mundial foram fortemente influenciados pelos valores sociais 
dessa época. Não é difícil imaginar o envolvimento dos pesquisadores dos países aliados 
com certas ideias de democracia ao atribuírem este significado aos estudos de dinâmica 
de grupo, já que se está se contrapondo ali à perspectiva autoritária de organização social 
dos países do eixo. 
 Armando Sérgio Emerenciano de Melo, Osterne Nonato Maia Filho, Hamilton Viana Chaves 51 
Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 47-63 
Além disso, essa perspectiva comete o engano ao considerar semelhantes os 
processos grupais amplos da sociedade e do microgrupo, sem avaliar a diferença de 
contextos. A proposta de participação aplicada aos contextos da dinâmica de grupos é 
bem diferente da participação no contexto político-social mais amplo. 
A participação da população nas decisões do contexto político-social mais amplo 
pode redundar em democracia. Desta maneira, democracia implica em uma forma de 
participação com poderes de decisão que a participação no contexto da dinâmica de 
grupo não logra. A proposta de participação dos membros do microgrupo nas 
intervenções grupais não tem as mesmas implicações que a participação democrática 
proposta para o contexto político mais amplo da sociedade. Para o contexto da dinâmica 
de grupo, utiliza-se a participação como uma estratégia limitada às decisões do escopo 
grupal, enquanto que a democracia situa-se no contexto maior das questões políticas da 
sociedade. 
Uma segunda definição de dinâmica de grupo refere-se a um conjunto de 
técnicas, tais como o desempenho de papéis, grupos de discussão, feedback de processos 
coletivos, entre outras. Desta perspectiva resulta a expressão técnica “dinâmica de grupo”. 
A preposição “de” propõe uma aplicação ampla em qualquer grupo, independente de sua 
finalidade e especificidade e, como sabemos, as técnicas quando aplicadas sem o alicerce 
de uma teoria e uma perspectiva metodológica mais ampla, desconstroem o espaço 
grupal. Assim, a preposição “de” fornece à expressão “dinâmica de”, o sentido que pode 
ser aplicado a qualquer grupo em qualquer momento, desconhecendo que o termo 
“dinâmica” implica forças interdependentes agindo no interior e no exterior de um campo 
mutável como são os grupos e as pessoas que a eles se integram. 
Por isso estamos propondo o uso da preposição “do(s)” para dá a expressão 
dinâmica a intensidade e a versatilidade que precisa. Considerar a dinâmica dos grupos 
apenas como técnica, independente do método e da teoria, destitui-a de implicações 
sociais e psicológicas mais amplas, que realmente lhe dão sentido. Evidente que 
precisamos de técnica, porém técnica sem método e teoria é cegueira intelectual. É neste 
sentido que denominamos este campo como dinâmica “dos” e não “de”, como é 
conhecido, apenas por sua prática e não por sua teoria/método. 
Um terceiro emprego apresentado pelos autores para a expressão “dinâmica de 
grupo” se refere ao campo de pesquisa dedicado a obter conhecimento a respeito da 
natureza dos grupos, dos seus axiomas, de seu desenvolvimento e das interrelações entre 
os indivíduos, outros grupos e instituições mais amplas. É lamentável constatar que esse 
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Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 47-63 
campo de pesquisa teve um excelente momento na época de sua fundação, mas que 
atualmente dispõe de poucas pesquisas no âmbito acadêmico. 
O que se observa é que as transformações econômicas, tecnológicas e culturais na 
sociedade têm promovido mudanças significativas em sua forma de perceber, pensar e 
agir nas organizações humanas. Os grupos têm sido, na maioria das vezes, a via de acesso 
aos processos de mudanças e isso requer que as pessoas aprendam a trabalhar em grupo. 
Podemos juntar a esta necessidade o fato de que todas as pessoas trazem experiências de 
vida em grupo e têm um conhecimento tácito sobre o grupo. Ocorre que esse 
conhecimento algumas vezes é insuficiente para coordenar e participar de grupos, mas 
algumas pessoas não se dão conta desta característica do conhecimento sobre grupos e 
enganam-se com o trabalho em e com grupos e seguem culpando os outros por sua 
própria incapacidade de lidar com o mundo. 
Podemos concluir que a expressão “dinâmica de grupo” continua sendo 
percebida como uma técnica, que o sentido ideológico do termo encontra-se valorizado e 
a pesquisa científica ausente. Mas não podemos nos esquecer de que as tendências 
socioeconômicas têm proposto o trabalho em grupo como estratégia de gestão e, assim 
como na sua gênese, esse panorama pode trazer pesquisadores e recursos para investir em 
novas pesquisas. 
1.2. A definição de processo grupal 
Para Mucchielli (1979) a dinâmica dos grupos, como passaremos a denominar a partir de 
agora esse campo de conhecimento, compreende dois conjuntos diferentes de processos: 
O conjunto dos fenômenos psicossociais que se produzem nos pequenos grupos, 
assim como as leis naturais que os regem. O conjunto dos métodos que permitem atuar 
sobre a personalidade através dos grupos, assim como os que possibilitam aos pequenos 
grupos atuar sobre as organizações sociais mais amplas (ou organizaçõescomplexas 
intergrupais) (MUCCHIELLI, 1979, p.11). 
Nos dois sentidos atribuídos pelo autor para a expressão dinâmica dos grupos, 
podemos concluir que se trata de um campo da ciência, pois investiga os fenômenos de 
sujeitos em microgrupo; também se trata de uma ciência aplicada, pois se propõe uma 
intervenção. 
A expressão “dinâmica” foi primeiramente utilizada neste contexto por Kurt 
Lewin. Como já destacamos anteriormente, ele utilizou a expressão em oposição ao termo 
“estática”, que significa sem movimento – como a física o define. Em tempo, Lewin 
graduou-se em física antes de estudar psicologia. Cabe destacar que a expressão dinâmica 
 Armando Sérgio Emerenciano de Melo, Osterne Nonato Maia Filho, Hamilton Viana Chaves 53 
Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 47-63 
enfatiza o movimento. Que movimento é esse? Denominamos movimento o conjunto de 
processos e atividades na direção da realização grupal e esse é um o conceito fundamental 
para quem pretende trabalhar com e em grupo. Mas o grupo não é apenas um processo, 
como destaca Ribeiro (1994, p.34) quando afirma “que o grupo tem um elemento 
permanente, que chamamos matriz, e um transitório, que chamamos processo, mas ambos 
contêm em si permanência e transitoriedade, ao seu modo”. Para ele, o termo “processo” 
encerra a ideia de movimento existencial e transformação. De acordo com Zimerman e 
Osório (1997), embora o grupo sofra influências externas, o locus do processo é endógeno, 
ou seja, o lugar do processo é determinado pela identidade do grupo e suas 
possibilidades. Isto traz implicações para a coordenação do trabalho em grupo, tão 
peculiar à pesquisa-ação. Significa dizer que a mudança prevista na pesquisa-ação é uma 
intervenção nos processos internos e corresponde a uma modificação na estrutura do 
grupo. 
Para Schein (1982, p.128) os grupos funcionam a partir dos “padrões de 
comunicação, métodos de tomada de decisão, técnicas de resolução de problemas, 
atividades formadoras de normas, sentimentos e percepções interpessoais e formação de 
simpatias e antipatias.” No entanto, mais importante que sua função é sua 
intencionalidade. 
Nesse sentido, para Pichon-Rivière (1994), o processo grupal decorre da mudança 
inerente à realização do objetivo do grupo. No processo de mudança, os grupos convivem 
com dois medos básicos, relativos a perdas de suas conquistas e aos desafios diante do 
novo. Medo de perder o equilíbrio conseguido; medo de ser atacado ao enfrentar 
situações novas em que os antigos parâmetros de ação já não valem e os novos ainda não 
estão postos e, portanto, não são suficientes. Assim, é instalada uma resistência no grupo 
que requer a elaboração desses medos como condição para a realização da tarefa grupal. 
Noutras palavras, a característica de mudança (transitoriedade), que os processos grupais 
apresentam, tem como consequência a necessidade de vencer os medos que geram 
resistência. Apenas assim a aprendizagem implícita no processo grupal transformará a 
questão central do processo coletivo: a elaboração do medo e da resistência às mudanças. 
Por fim, é importante estabelecer a diferença entre processo (método) e 
procedimento (técnica). Scholtes (1992) define procedimento como a descrição detalhada 
de ações necessárias para alcançar determinado resultado. Assim, o que caracteriza o 
procedimento não é o tipo de resultado esperado, mas a descrição minuciosa e rígida dos 
passos que devem ser obedecidos para atingir o resultado definido. Já nos processos 
encontramos também a definição de um resultado a ser alcançado, mas os resultados são 
54 Conceitos básicos em intervenção grupal 
Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 47-63 
definidos de forma a permitir diversas estratégias de ação. Em um grupo, o resultado do 
processo é a realização do objetivo do grupo e o processo de realização da tarefa. 
1.3. Os objetivos e necessidades grupais 
Para Amado e Guittet (1982, p.99), “os grupos nascem da tomada de consciência de 
indivíduos isolados de seus interesses comuns e de sua interdependência”. 
Compreendidos assim, os grupos são fundados a partir do compartilhamento de fins que 
justificam sua existência e pelo reconhecimento da dependência em relação ao “outro” 
para alcançar esse resultado. Os objetivos direcionam as ações grupais. Quando 
trabalhamos com grupos, devemos saber como o objetivo do grupo foi estabelecido, como 
o objetivo grupal está em interação com os objetivos de cada membro e como o objetivo 
do grupo influenciou o processo de inclusão grupal. Quando os motivos que levam os 
indivíduos a fazerem parte de um grupo ficam muito destoantes entre si há uma 
tendência a surgirem insatisfações e angústias que geram estresses e conflitos. Os 
objetivos individuais e grupais podem modificar-se ao longo da existência do grupo. 
Assim, é necessário rever os objetivos através de uma discussão explícita no grupo. 
Merece atenção especial e acompanhamento sistemático da relação entre os objetivos 
individuais e coletivos. 
Seguindo os achados de Lewin (1978) sobre os efeitos favoráveis da cooperação e 
da solidariedade nas relações interpessoais para a eficácia grupal, Schutz (1989) formulou 
uma teoria sobre as necessidades interpessoais e sua relação com os objetivos grupais. 
Para ele, as pessoas em um grupo não consentem em integrar-se senão a partir do 
momento em que certas necessidades podem ser satisfeitas. O autor postula que o ser 
humano que se reúne em grupo tem, em maior ou menor grau, necessidades específicas e 
que é apenas no grupo e através do grupo que estas necessidades podem ser satisfeitas. 
Ele identificou três necessidades interpessoais típicas: necessidades de inclusão, 
necessidades de controle e necessidades de afeição. Estas necessidades são 
experimentadas por todas as pessoas, ainda que em graus diferentes. 
A necessidade que toda pessoa tem de sentir-se fazendo parte do grupo e de 
sentir-se aceito, valorizado e respeitado é definida pelo autor como necessidade de 
inclusão. Nesta fase, as pessoas procuram evidências de que são aceitas pelos membros do 
grupo. A inclusão se processa na plenitude quando o indivíduo sente-se fazendo parte 
dos processos decisórios do grupo. A inclusão se refere ao estabelecimento de interação 
com outras pessoas: manter contatos, travar conhecimentos, comunicar-se, participar de 
encontros e cultivar o companheirismo e a cooperação. As pessoas que têm alto nível de 
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Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 47-63 
inclusão se dão facilmente com todos e têm grande círculo de relações, gozam de 
prestígio, valorizam a fama e a popularidade. As pessoas que têm inclusão negativa são 
retraídas, desligam-se das funções sociais e apreciam o isolamento. 
A necessidade de controle se refere ao estabelecimento de relações de comando e 
de autoridade (poder). Diz respeito ao domínio e aos termos do processo decisório entre 
as pessoas. Na fase de controle, a necessidade de relacionamento implica no respeito pela 
competência e pela responsabilidade dos outros e a consideração dos outros por sua 
própria competência e responsabilidade. As pessoas que têm alto índice de controle 
gostam de influir, de liderar, de persuadir e de chefiar. As pessoas que expressam controle 
negativo não dominam, pelo contrário, ou são submissas e seguidoras, ou são rebeldes e 
resistentes. Isto é, ou se submetem ao controle dos outros ou a ele se opõem, mas não 
assumem o controle delas próprias. 
A necessidade de afeição se refere ao estabelecimento de relações afetivas, de 
sentimentos íntimos e particulares e de contatos amistosos não indiscriminados, mas 
efetivos. Concerne à aproximação emocional. Esta necessidade está ligada ao sentimento 
de amar e ser amado e de sentir-se amável, ou seja, aosentimento de amor mútuo e 
recíproco. As pessoas buscam no grupo a afirmação de que sua presença e isso é 
fundamental, pois mostra um grande desejo de interação emocional. Os sujeitos com 
afeição negativa são mais distantes, menos amorosos, menos íntimos e confidenciam 
menos. 
Todos nós usamos as três formas de interação: ora uma, ora outra, mas uma delas 
predomina no nosso estilo pessoal. Schutz (1989) ainda destaca que as três necessidades 
ocorrem em diferentes momentos ou fases dos grupos (inclusão, controle e afeição). 
A fase de inclusão se apresenta sempre no período inicial do grupo quando os 
participantes, confrontando-se uns com os outros, buscam e encontram o lugar que lhes 
convém. É o momento em que o grupo estabelece seus limites e cada um decide se vai 
implicar-se ou comprometer-se, até que ponto vai tornar-se membro do grupo e ser aceito 
e respeitado. É neste período que cada um avalia com quem pretende comunicar-se e ter 
contato. Os subgrupos são criados a partir do momento em que cada um escolhe seus 
parceiros. A ideia inicial do objetivo e da composição do grupo, assim como o tipo de 
papel que se espera representar é formada nesta fase. Na teoria do grupo operativo de 
Pichon-Rivière (1994), a inclusão recebe, nos momentos iniciais de um grupo, a 
denominação de afiliação e, quando plenamente construída, gera o sentimento de 
pertença. 
56 Conceitos básicos em intervenção grupal 
Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 47-63 
Já incluídas pelo grupo, as pessoas sentem-se responsáveis por tudo aquilo que 
constitui o grupo, passando à fase de controle. Esse momento corresponde ao momento 
no qual o jogo de forças assume caráter importante, uma vez que os membros, ao 
procurarem firmar seu lugar no grupo, tentam também a mostrar seu poder de influência. 
Compreendem as lutas, as disputas pessoais pela liderança e pela distribuição de poder; 
refere-se ao domínio entre as pessoas, à competição fraternal, às discussões sobre os 
objetivos, às normas, à organização interna e aos métodos de ação e a tomada de decisão. 
Na afeição, por sua vez, o grupo torna-se mais produtivo, criativo, construtivo, 
interdependente, sinérgico e amoroso. Em contrapartida, também aparecem o ciúme, a 
hostilidade e as manifestações de sentimentos negativos. Cada indivíduo estabelece sua 
norma pessoal no que concerne a dar e a receber afeto. Nesta fase, o grupo sente confiança 
de expressar sentimentos de qualquer natureza na busca do crescimento individual e 
grupal. 
A compreensão de como as necessidades interpessoais apresenta-se no grupo é 
importante para situar seus integrantes (membros, coordenadores e lideres). Possibilita o 
entendimento dos momentos vivenciados nos grupos e por isso possibilita fundamentar 
as intervenções que contribuem para a eficácia grupal. 
Com a aproximação do fim do grupo, costumam emergir momentos afetivos 
como a avaliação e feedback em relação aos sentimentos vividos coletivamente. Algumas 
tomadas de consciência tornam-se claras nessa etapa. Quanto maior o nível de 
envolvimento afetivo do grupo, maior o estado de coesão grupal. Uma dinâmica emerge e 
pode-se observar a inversão das fases anteriores na seguinte ordem: afeição, controle e 
inclusão. 
Como decorrência desta teoria, Schutz elaborou técnicas de diagnostico capaz de 
mensurar como essas necessidades se manifestam nas pessoas e de técnicas para a 
construção de relações interpessoais grupais saudáveis, produtivas e articuladas com os 
objetivos grupais. 
1.4. Grupo é estrutura, estrutura é grupo: Composição 
A estrutura do grupo se define pelas posições específicas que as pessoas ocupam nele. 
Reflete as relações internas entre os membros do grupo e representam a maneira pela qual 
as pessoas e seus papéis estabelecem esses relacionamentos. Segundo Cartwright e 
Zander (1975, p.802), “parece quase impossível descrever o que acontece nos grupos sem 
usar termos que indicam o „lugar‟ dos membros na sua relação mútua”. 
 Armando Sérgio Emerenciano de Melo, Osterne Nonato Maia Filho, Hamilton Viana Chaves 57 
Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 47-63 
Quando um grupo adquire estabilidade na disposição entre seus membros, diz-
se que está estruturado. Sabe-se que os vínculos estabelecidos podem se tornar rígidos e 
dificultar as mudanças necessárias à realização dos objetivos grupais. Assim, a rigidez 
torna difícil o relacionamento interno. Por outro lado, a ausência de uma estrutura 
interna, ou mesmo a informalidade num grupo pode levar a dificuldades para se lidar 
com seus problemas. 
As pessoas levam seu universo pessoal ao grupo: experiências de vida, 
conhecimentos pessoais fazem parte deste background. Ao se encontrarem numa situação 
grupal, os indivíduos agem a partir deste conjunto basilar, mas, uma vez em grupo, é 
num processo de interação que as ações e as reações individuais influem e são 
influenciadas pelo grupo. 
Pagès (1975) define os grupos como conjuntos de pessoas que, em razão de sua 
história individual, de relações interpessoais anteriores ou de sua cultura, demonstram 
um conflito efetivo sentido por um conjunto mais vasto de pessoas do qual fazem parte, 
destacando a composição como uma categoria importante de análise da eficácia grupal. 
Uma vez observadas as características pessoais dos membros do grupo, deve-se 
atentar às semelhanças e às diferenças entre eles. As pessoas levam para o grupo as suas 
vivências pessoais, as características de sua personalidade e a experiência profissional 
para compor o seu background. 
O motivo para ingressar no grupo e a experiência de vida são consideradas como 
componentes influentes naquilo que Pichon-Rivière (1994) denominou heterogeneidade 
do grupo. A tese do autor é a de quanto mais heterogêneo é um grupo, maior a 
probabilidade de ser eficaz e atingir o seu objetivo. A homogeneidade e heterogeneidade 
de um grupo afetam os seus resultados. Para Pichon os grupos heterogêneos apresentam 
mais recursos, pois a presença de mais diferença pode implicar em mais diversidade para 
a troca do que em grupos homogêneos. Entretanto os grupos heterogêneos, pela sua 
diversidade, apresentam maior dificuldade em seu funcionamento do que os grupos 
homogêneos, porém o processo de crescimento torna-se mais eficaz em função das trocas 
interpessoais. 
Ao trabalhar com o grupo, o coordenador grupal deve levar em consideração 
estas características pessoais, interpessoais, profissionais (econômico-sociais) e culturais. 
Neste contexto, é de fundamental importância que o coordenador compreenda a realidade 
sócio histórica na qual estão inseridos ele próprio e as pessoas que participam do grupo. 
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Encontro: Revista de Psicologia  Vol. 17, Nº. 26, Ano 2014  p. 47-63 
1.5. Desempenho de tarefas e a comunicação grupal 
Para a realização do objetivo grupal ocorre necessariamente a interação entre os membros 
do grupo. Bales (1970), em seu estudo sobre a tomada de decisão na solução de problema 
em grupo, identificou, através da observação da comunicação, categorias que representam 
os seus principais momentos. 
Ele observou, na execução das atividades grupais, uma distribuição diferenciada 
das atribuições entre os membros do grupo. Uma parte dos membros buscava manter o 
grupo unido enquanto outra parte esforçava-se pela execução da tarefa grupal. Essa 
classificação de atribuições corresponde à principal distinção entre as categorias grupais. 
Assim tais categorias foram agrupadas em níveis ou processos de ocorrência: o 
da tarefa e o sócio emocional ou interpessoal. O nível da tarefa abrange as atividades 
relacionadas diretamente à realização do objetivo do grupo enquanto que o nível sócio 
emocional abrange os processos interpessoais responsáveis pela manutenção de um clima 
favorável à realização da tarefa grupal. As atividades relacionadascom o nível sócio 
emocional remete para os sentimentos e as trocas afetivas gerados na convivência do 
grupo. 
Numa perspectiva psicanalítica, Bion (1975) identificou dois modos de solução 
dos problemas grupais semelhantes aos níveis de Bales (1970). Para Bion são dois os 
planos no qual os grupos agem: o plano do trabalho-tarefa e o plano da emoção. No plano 
do trabalho-tarefa a estratégica caracteriza-se por esclarecer a situação, buscar 
informações relevantes, elaborar alternativas e testá-las. Este é um modo racional de 
reagir que Bion denominou trabalho-tarefa. Esta modalidade refere-se à maneira racional 
e consciente de um grupo buscar soluções para suas dificuldades. 
Porém, é no plano da emoção que os grupos se defrontam com as dificuldades 
maiores em lidar com os problemas e seus reflexos recaem sobre o plano da tarefa, 
impedindo muitas vezes de um grupo realizar seu objetivo. É no plano da emoção que se 
inserem as necessidades interpessoais e que dão o clima para a realização da tarefa 
grupal. 
Para Bion (1975), as respostas emocionais podem apresentar uma das seguintes 
hipóteses: a dependência, a luta-fuga e a união ou acasalamento. A dependência refere-se 
à condição que toda pessoa apresenta de depender de algo ou alguém para a realização de 
seus objetivos. Pressupõe que um dos motivos para os indivíduos buscarem os grupos é a 
necessidade primária de obter deles a segurança, cuidado e proteção. Assim, a fase da 
dependência caracteriza-se pela necessidade grupal de um líder, ou seja, de esperar que 
alguém diga o que o grupo deve fazer, como e quando realizar ações. 
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O grupo tem necessidade de centrar o poder em alguém, que normalmente 
representa a figura de autoridade. Há também, nessa fase, a necessidade de se estabelecer 
normas explícitas e códigos de funcionamento que sejam respeitados por todos, pois tais 
aspectos marcam a formação da cultura humana. 
A luta-fuga refere-se ao desejo de não mais depender do outro e de perceber a 
relação de dependência como uma ameaça. A relação é percebida como perigosa e a 
forma de neutralizá-la passa a ser a agressão ou a fuga do grupo. Assim, na fase de luta-
fuga o grupo sente desconforto pela condição de dependência e o demonstra com 
manifestações de sentimentos de raiva, hostilidade e agressão dirigidos aos membros ou 
ainda ao coordenador ou líder. Os conflitos tornam-se mais evidentes, bem como se 
acentuam as diferenças individuais. Neste momento, surgem o esvaziamento do grupo, a 
queda de energia para realização de tarefas, o descrédito e possíveis questionamentos 
sobre o sentimento de pertença ao grupo. 
A união ou o acasalamento refere-se ao momento em que os integrantes do grupo 
não se sentem mais ameaçados pelos sentimentos advindos da relação de dependência e 
buscam, então, uma forma mais saudável de se agrupar com vistas a alcançar os seus 
objetivos. Uma vez atingida a fase da união, o grupo apresenta maturidade para tratar os 
conflitos, as diferenças individuais, as incertezas e as emoções. Vale lembrar, no entanto, 
que a fase de união não significa necessariamente que o grupo atingiu o ideal de 
crescimento, mas sim que este foi capaz de integrar as diferenças em prol de um objetivo 
comum. 
A habilidade para trabalhar em grupo está diretamente relacionada ao modo 
como os indivíduos lidam com suas emoções e como estas impactam o plano da execução 
das tarefas. A emoção é difícil de ser apreendida (percebida), pois se localiza no território 
privado e pessoal. É, portanto, difícil de ser acessada, mutável e transitória e está no 
âmbito da subjetividade. Essa subjetividade permeia o grupo como uma teia que entrelaça 
as relações interpessoais. O modo como os indivíduos se relacionam e trabalham em 
grupo está implicado com a forma como se processam seus desejos, suas frustrações, seus 
temores, suas fantasias. Os aspectos subjetivos em uma pesquisa-ação são tão relevantes 
quanto à tarefa de coordenação e intervenção grupal, a tal ponto que se não dermos conta 
deles, estaremos fadados ao fracasso em facilitar esse processo. 
A comunicação no grupo reflete como este está estruturado e como os papéis 
assumidos pelos participantes atuam na realização do objetivo grupal. O canal de 
comunicação mais utilizado é o verbal. É através da comunicação oral que o líder do 
grupo prepara a utilização de outros canais. Para a observação da comunicação, 
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recomenda-se atentar também à comunicação não verbal e ao que é percebido (sentido) no 
clima do grupo. Ou seja, devemos considerar o que Watzlawick, Beavin e Jackson (2007) 
denominaram metacomunicação. 
Para Lewin (1978) o ideal é que a comunicação entre os integrantes de um grupo 
seja autêntica. Decorre da aceitação da proposição de autenticidade nas comunicações de 
Lewin que os membros de um grupo devem ter as condições para concretizar a 
comunicação autêntica. Para tanto, devemos observar como o grupo na resolução de seus 
problemas relativos à tarefa grupal trata as diferenças em termos de manifestações 
discursivas. Um grupo que não apresenta espaço interno para que seus integrantes 
possam ser autênticos e se comunicarem em todos os níveis, apresenta a possibilidade de 
desenvolver redes paralelas e informais externas ao grupo, esvaziando, com isto, a força 
do grupo. 
1.6. O exercício de papéis e a liderança 
Segundo Moreno (1991), os papéis representam as atitudes que o indivíduo assume no 
momento em que reage a uma situação específica ou age sobre ela, em que outras pessoas 
ou objetos estão envolvidos. Afirma também que os papéis têm características e 
especificidades próprias da cultura em que foram estruturados. Na maioria das vezes, os 
papéis são referendados pelas normas de funcionamento de um grupo. 
Pichon-Rivière (1994) destaca que os papéis podem ser impostos ou escolhidos. 
Por isto, no trabalho grupal, deve-se observá-los a fim de identificar aqueles que os 
membros do grupo assumem de forma espontânea ou imposta. Deve-se observar, ainda, 
como o grupo lida com os papéis assumidos formal e informalmente. Para Schein (1982), 
os papéis informais surgem de espaços onde a organização formal não responde 
adequadamente às demandas do grupo, mas que não são assumidos publicamente. Assim 
a gênese dos papéis informais é permeada por conteúdos subjetivos pessoais e grupais. 
Para Bleger (1998, p.87), além da necessidade de um conjunto de pessoas que 
atuem em interação entre si, no grupo é fundamental que uma sociabilidade seja 
estabelecida a partir de um intercambio dos diferentes papéis grupais para que entre eles 
possa emergir uma mudança, “com os papéis individuais refaz-se, no grupo, o processo 
total da aprendizagem, tendo em conta que cada integrante pode assumir funcionalmente 
papéis diferentes conforme o tema, os momentos ou níveis da aprendizagem.” 
Entendido assim, o trabalho com grupos auxilia os participantes a exercitarem os 
papéis dinamicamente, o que permite avaliar se os mesmos facilitam ou dificultam o 
desenvolvimento do próprio grupo. Diante dos problemas grupais alguns membros são 
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capazes de alternar papéis com outros membros de acordo com uma tarefa específica, 
tornando possível o fluxo e a troca de experiências. Um grupo cujas pessoas assumem 
papéis rígidos tende a ser um grupo com dificuldades de adaptar-se às mudanças e com 
grande possibilidade de conflito interpessoal futuro. 
Em síntese, os papéis construídos no grupo podem ser relacionados às categorias 
de interação emdois níveis. Assim, no âmbito da tarefa há membros do grupo que 
propõem o início das atividades, que sugerem ao grupo alternativas ao que deve ser 
realizado para alcançar os objetivos ou formas de abordar as tarefas; enquanto outros 
membros irão articular os integrantes do grupo para uma melhor qualidade dos 
resultados; outros, ainda, poderão ficar mais como observadores. 
No que diz respeito ao nível sócio emocional, algumas pessoas sugerem 
atividades que aliviem as tensões surgidas no grupo, outras articulam as divergências 
para que elas não paralisem o curso da interação do grupo, evocando a solidariedade 
entre os membros do grupo. 
A liderança exerce papel importante no processo de produção do grupo. Os 
grupos de trabalho apresentam, inevitavelmente, lideranças formais, geralmente 
delegadas em função da estrutura organizacional. O que se pretende, ao se desenvolver 
grupos, é verificar em que grau a liderança impacta no objetivo do grupo e o quanto o 
grupo absorve, aceita e legitima a liderança. 
Por outro lado, sabe-se que, durante o processo, o grupo abre espaço para 
emergirem lideranças que têm um papel catalizador das tensões grupais. Estas lideranças 
podem ter maior competência para lidar com os processos grupais da tarefa ou 
emocionais. Isto é, ao deparar-se com dificuldades na solução de problemas, podem 
emergir no grupo pessoas com maior facilidade de lidar com um determinado processo 
que auxiliarão o grupo na transposição das adversidades. 
Tanto no processo da tarefa quanto no processo interpessoal o grupo apresenta o 
mesmo procedimento, atribuindo a uma ou mais pessoas a liderança. Esta é distribuída 
alternadamente para diferentes membros, no sentido de facilitar a resolução do problema 
que a todos incomoda. Neste momento são equacionadas as trocas emocionais do grupo e, 
quanto à tarefa, se estabelece uma estratégia geral de como atingir os resultados 
desejados. Entre os membros do grupo que exercem a liderança, todos têm competência 
nos dois processos com qualidades e em quantidades diferentes (PICHON-RIVIÈRE, 
1994). 
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1.7. Grupo é cultura, grupo produz cultura: normas e valores 
Segundo Schein (1982), cultura é um conjunto de pressupostos básicos desenvolvidos 
(utilizados, inventados, descobertos) por um determinado grupo à medida que ele 
aprende a lidar com seus problemas de adaptação externa e integração interna. Todo 
grupo adquire, portanto, a partir das crenças, das normas, dos valores e de códigos 
implícitos e explícitos, padrões de comportamento que formam sua cultura. Assim, uma 
organização contém as diversas culturas dos grupos por ela formados. 
Os participantes de um grupo tendem a se associar ou a escolher em subgrupos 
os integrantes com quem compartilham valores semelhantes. Sempre que um grupo se 
forma, os membros discutem o que devem fazer como funcionar e como se comportar 
para atingir os objetivos grupais. Assim, as normas são as regras de conduta que nascem 
pouco a pouco num grupo. As normas são estabelecidas através de processos de 
identificação, incorporação, aprendizado (MILLS, 1970). 
Para Freitas (1991), as normas são comportamentos sancionados, através dos 
quais as pessoas são recompensadas ou punidas, confrontadas ou encorajadas, ou postas 
em ostracismo quando as violam. Se uma pessoa deseja continuar a pertencer ao grupo, 
deve considerar-se dentro das normas. As normativas e códigos têm a função de proteger 
o grupo quanto a fatores internos e externos que possam vir a ameaçar seu 
funcionamento, para isso o grupo faz uso de controles e sanções. 
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A abordagem da dinâmica dos grupos aqui proposta aplica-se as mais variadas 
estratégias de intervenção e pesquisa em instituições. Presta-se ao serviço de 
transformação das relações humanas uma vez que põe em destaque o entrelaçamento de 
objetivos pessoais e objetivos coletivos. 
Destacam-se, assim, os papéis assumidos e como estes corroboram na 
manutenção da existência grupal ou mesmo desafiam sua preservação. Com isso, 
podemos destacar que o grupo não é uma entidade que naturalmente se compõe, mas é 
preciso que haja a intervenção da cultura, dos atributos humanos. 
Isso provoca a emergência de uma rede colaboração e de outra parte, a 
explicitação dos conflitos que, a depender da articulação de seus membros, 
particularmente da liderança, pode provocar transformações estruturais na identidade 
grupal. 
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