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ANTICOAGULANTES A hemostasia é a interrupção da perda de sangue após a ruptura de um vaso sanguíneo. Fisiologicamente, existem etapas que facilitam a hemostasia quando há lesão tecidual, para que o sangramento seja contido; para isso, é necessário que o sistema de coagulação seja eficiente para formar fibrina, e o tampão celular ative as plaquetas, que são constituintes responsáveis pela formação do trombo – ele é formado pela agregação plaquetária e formação da rede de fibrina. As três fases da hemostasia são: vasoconstrição, agregação plaquetária e formação do trombo. Para que isso ocorra, os megariócitos, que são as células produtoras de plaquetas, precisam estar ativos no organismo; na circulação, as plaquetas estão na forma inativa, mas quando há lesão tecidual ou vascular elas expõem seus receptores e são ativadas pelo colágeno da membrana lesionada, trombina, tromboxana A2 e serotonina. O receptor plaquetário de glicoproteína IIB/IIIA é importante para a ligação do fibrinogênio (encontrado na cascata do sistema de coagulação); quando ele se liga ao receptor da plaqueta, elas começam a se ligar umas as outras formando uma rede, que junto com a fibrina formam o trombo. A plaqueta em repouso é um arsenal, pois abriga vários grânulos produtores de substâncias importantes que as ativam e também ativam tecidos ao redor; essas substâncias são fatores de crescimento endotelial vascular, tromboxanos, ATP e trombina. Ela tem sido utilizada para reconstituir tecidos, estimulando o tecido a se proliferar, como tecido ósseo em um enxerto. É denominado PRP (plasma rico em plaqueta) e muito utilizado na odontologia para reparo de tecidos. A trombina é um constituinte da cascata de coagulação, importante para ativar plaquetas, formar fibrina, produzir o coágulo, estimular a proliferação dos fibroblastos e a síntese de proteínas; se a trombina for inibida as plaquetas podem ser inativadas. Existem mecanismos fisiológicos para cessar o extravasamento de sangue, tanto pela via intrínseca como pela via extrínseca. Pela via intrínseca, a antitrombina III é uma substância que se liga à heparina e inativa os componentes da cascata de coagulação. Na via extrínseca, a trombina se liga à trombomodulina na célula endotelial e muda sua conformação. Normalmente, após a lesão o sangramento cessa pela formação do coágulo, no entanto, existem doenças hematopoiéticas que impedem a interrupção do coágulo e este é depositado continuamente. A formação de fibrina precisa ser controlada. Quando a trombina estimula a célula endotelial, esta produz duas substâncias: fator ativador de plasminogênio tecidual e a -2- antiplasmina. Como o fator ativador de plasminogênio é mais rápido, ele se liga a fibrina para não ser inativado e forma a plasmina; a plasmina é responsável pela quebra de fibrina. Quando é formada muita plasmina, a coagulação é inibida; a -2-antiplasmina inibe a plasmina de quebrar os constituintes da cascata de coagulação. Algumas substâncias estimulam a produção de plasmina, que quebra a fibrina e inibem a formação do trombo, e são a estreptoquinase, uroquinase e anistreplase. Essas substâncias são eficazes para doenças trombóticas como embolia pulmonar, infarto e AVC com infarto. O paciente com excesso de plasmina pode tomar um inibidor desse fator, que é o ácido aminocapróico. Os fármacos anticoagulantes causam desequilíbrio na hemostasia do paciente; eles podem ser de ação direta, quando atuam diretamente na cascata (como a heparina), ou de ação indireta, que atuam indiretamente na cascata de coagulação. A heparina endógena é produzida pelos mastócitos, onde é armazenada em uma grande forma macromolecular complexada com a histamina. A heparina sintética é obtida a partir do intestino do porco, fígado do boi ou do bode; ela se liga a antitrombina III e forma um complexo que pode inativar alguns componentes da cascata de coagulação; esse processo pode ser revertido quando administrado uma substância carregada positivamente, como a protamina, azul de toluidina e brometo de hexadimetrina, que são antagonistas específicos. A heparina pode ser fracionada e não fracionada. A heparina não fracionada pode ser utilizada como anticoagulante, os efeitos adversos são necrose da pele nos locais da injeção, osteoporose com uso prolongado, trombocitopenia grave e reações de hipersensibilidade. O paciente que toma anticoagulante deve ser monitorado através do exame tempo parcial de tromboplastina ativada. Ela é contraindicada para pacientes hemofílicos, com úlceras e sangramentos gastrointestinais, trombocitopenia, cirurgias recentes do cérebro, medula espinal ou olho, e antes ou durante a realização de uma punção lombar ou bloqueio anestésico regional. A heparina de baixo peso molecular (enoxaparina, dalteparina e ardeparina) é mais utilizada, pois sua ligação à proteína plasmática é menor e isso propicia um controle maior do fármaco. A ligação da heparina com a antitrombina III impede a ativação de alguns constituintes da cascata de coagulação. Comparada com a heparina não fracionada, essas podem ser utilizadas em domicílio, o monitoramento de rotina dos tempos de coagulação é desnecessário, a relação dose-resposta é previsível, maior biodisponibilidade, tempo de meia-vida mais longo e administrado uma ou duas vezes ao dia. A varfarina é um anticoagulante de ação indireta, pois inibe os componentes da cascata de coagulação sem atuar diretamente sobre eles, diferente da heparina. Ela pertence ao grupo dos cumarínicos e inibe de forma competitiva a vitamina K, essencial para a síntese de fatores de coagulação (II, VII, IX e X) pelo fígado. Existem alimentos ricos em vitamina K que podem diminuir a ação da varfarina, como couve de Bruxelas, brócolis, repolho, grão de bico, alface, espinafre, nabo e acelga. Outros produtos podem aumentar os riscos de sangramento quando associados à varfarina, como óleos de peixes, alho, gengibre, gingko-biloba, ginseng, rábano e vitamina E. Os efeitos anticoagulantes da varfarina também podem ser reduzidos pela agrimônia, goldenseal, visco e mil-folhas. A varfarina é metabolizada pelo citocromo P-450, e pode aumentar a biodisponibilidade de outros fármacos ou dela mesmo dependendo de qual medicamento fora administrado primeiro. É contraindicada para pacientes com tendências hemorrágicas de qualquer tipo, doenças hepáticas ou renais graves, alcoolismo crônico, deficiências de vitamina K e hipertensão maligna. Os fármacos que aumentam o risco de sangramento quando associados com a varfarina são: antifúngicos e metronidazol; diuréticos de alça e valproato; aminoglicosídeos, tetraciclinas e vitamina E; AINES, penicilinas e óleo de peixe; cefalosporinas, disulforam, ácido fíbrico, pentoxifilina, estreptoquinase, trombolíticos e uroquinase. Eles agem, respectivamente, inibindo o metabolismo da varfarina, deslocando-a dos locais de ligação nas proteínas plasmáticas, interferência com a vitamina K, efeitos plaquetários e por mecanismo desconhecido. Os fármacos que diminuem os efeitos anticoagulantes de varfarina são: espironolactona, sucralfato, diuréticos tiazídicos e vitamina K; barbitúricos, carbamazepina, dicloxacilina, nafcilina e rifampicina; clozapina, anticoncepcionais orais, estrógenos, grisefulvina, haloperidol e trazodona. Eles agem, respectivamente, por absorção diminuída ou eliminação aumentada, indução de enzimas do citocromo P-450 microssomal hepático, e por mecanismo desconhecido. Existem dois anticoagulantes novos disponíveis no mercado: rivaroxaban, que inibe o componente X da cascata de coagulação, e dabigatran, que inibe o componente II da cascata de coagulação. ANTIPLAQUETÁRIOSOs antiplaquetários inibem as plaquetas, como o ácido acetilsalicílico que inibe tromboxana A2 ao inibir a COX. Quando o paciente chegar ao consultório fazendo uso de aspirina, a conduta ideal é solicitar exames para verificar a contagem de plaquetas e se necessário, conversar com o cardiologista do paciente e solicitar a suspensão do medicamento por 5 a 7 dias. Quando o tratamento não puder ser interrompido, pode-se utilizar vasopressina após análise da função plaquetária, porém deve-se ter cuidado, pois ela induz trombose, sendo perigosa para pacientes com doença cardiovascular. A hirudina e argatroban inibem o receptor de trombina da plaqueta. O abciximab, tirofiban e eptifibatide inibem o receptor de glicoproteína IIB/IIIA e impedem a ligação de fibrinogênio. O ticlopidine e o clopidogrel inibem receptor de ADP. O dipyridamole inibe a fosfo-diesterase e impede a ativação do AMPc. Desse modo, há 5 grupos de antiplaquetários que atuam com mecanismos de ação diferentes; isso possibilita a associação de antiplaquetários. A atenção deve ser dobrada para os pacientes hemofílicos, com doença hematopoiética e os que estão em tratamento com anticoagulantes. O dentista pode solicitar exames como contagem de plaquetas, tempo de tromboplastina e INR (tempo de tromboplastina do paciente dividido pelo paciente controle, deve estar entre 0,9 a 1,2). Se pelo INR paciente estiver com o valor maior que 1,2 e menor que 4, é preciso avaliar a extensão do procedimento cirúrgico a ser realizado e utilizar medidas sistêmicas ou locais para o controle do sangramento; se o INR é maior que 4 nenhum procedimento cirúrgico deve ser realizado. Dentre as medidas locais para controle de sangramento utilizam-se adstringentes e estípticos ou vasoconstritores; as medidas sistêmicas em caso de distúrbios plaquetários são transfusão de plaquetas, ou em hemofílicos, suplementação com o fator deficiente.
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