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ATERRAMENTOS IMPULSIVOS CONSIDERANDO A IONIZAÇÃO DO SOLO Levi C. F. da Silva, Guilherme A. D. Dias Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS Avenida Ipiranga, 6671 prédio 30 bloco 5 sala 218 levi@ee.pucrs.br, gaddias@ee.pucrs.br Resumo. O propósito deste Trabalho é apresentar o desenvolvimento dos esforços para a melhorar a avaliação do processo de ionização do solo em sistemas de aterramento e sua influência no desempenho frente às descargas atmosféricas, caracterizando suas condições para diferentes resistividades do solo como função da densidade de corrente. Apresentam-se equações simplificadas para estimar a impedância para alta corrente de aterramentos concentrados. Apesar de muitas pesquisas terem investigado este assunto há muito tempo, duas linhas de investigação são notáveis. A primeira considera o comportamento do solo no domínio tempo e a segunda, é concentrada na análise das curvas “V x I”. Através de algumas experiências realizadas ao longo dos anos, pôde-se chegar a um modelo de cálculo próximo da realidade sobre o comportamento do solo. Palavras-chave: Ionização, Aterramento, Impulsivo 1. INTRODUÇÃO O comportamento do aterramento quando submetido a uma corrente de descarga atmosférica é muito complexo. É sabido que para uma corrente muito alta, dependendo da densidade de corrente nas proximidades do eletrodo, um processo de ionização pode ocorrer ao redor dele, devido aos grandes valores de campos elétricos associados. Este processo contribui para reduzir a impedância de aterramento. Altas magnitudes de correntes produzidas pelas descargas atmosféricas, dissipando-se através do aterramento, reduzem a impedância significativamente se comparados com os valores medidos para baixa corrente. Apesar de se ter esse conhecimento há muitos anos, a maioria dos métodos de estimação de desempenho da descarga atmosférica não têm apresentado uma forma de estimar a impedância ao impulso, primeiramente pela falta de dados e pela falta de um processo simplificado de cálculo adequado. 2. NATUREZA DO FENÔMENO Para as altas correntes, representativas de descargas atmosféricas, quando o gradiente do solo excede um dado gradiente crítico Eo, ocorre um processo disruptivo no solo. Se o efeito de propagação ao longo de eletrodos não for considerado, para uma determinada configuração de aterramento, quando uma corrente I injetada no solo aumenta, a densidade de corrente sobre a superfície do condutor A aumenta linearmente: A I t E E @ ¶ ¶ + r r e s (1) Através do desenvolvimento das Equações de Maxwell pode-se chegar a um valor bem mais próximo da realidade do fenômeno de ionização, pois elas consideraram as componentes capacitivas além das resistivas. A “Fig. 1” representa a modelagem do solo quando uma corrente o atravessa: IR D t r ¶ ¶E r ×s Figura 1. Modelagem do comportamento do solo submetido a altas correntes O desenvolvimento para se chegar ao valor aproximado da densidade de corrente mencionada na “Eq. 1” parte da seguinte equação de Maxwell: t D JHx ¶ ¶ +=Ñ r rrr (2) A maioria dos métodos de cálculos apresentados por pesquisadores referente a este fenômeno físico desconsidera esta parte capacitiva. Entretanto, sabe-se que quanto maior for a corrente de surto, mais significativa é a parcela referente a corrente de deslocamento. Para cada tipo de solo e condição de umidade, há um valor crítico para campo elétrico Eo . Conforme aumenta a corrente, streamers são gerados e evaporam a umidade do solo, que ao redor do aterramento produzem arcos. Nessas zonas de arco e streamers, a resistividade decresce de seu valor original e como um limite aproxima-se de zero como um perfeito condutor. Quando o gradiente crítico Eo é excedido, criam-se canais plasmáticos com uma condutividade bem maior que a do solo, que agem como uma extensão do eletrodo, em excesso àquela associada à relação linear entre tensão e corrente, podendo ser visto como um acréscimo no diâmetro e no comprimento do eletrodo como mostrado na “Fig. 2”, reduzindo a impedância de aterramento no instante do surto. IR haste Codutividade constante Condutividade eletrolítica streamer arco Superfície da terra Figura 2. Rompimento impulsivo do solo ao redor do eletrodo A densidade de corrente J a uma distância r da haste para uma corrente injetada IR considerando o eletrodo hemisférico é 22 r I J R × = p (3) Assumindo a resistividade do solo como zero dentro da zona ionizada simplesmente significa que o raio do hemisfério condutor perfeito se expande. O gradiente crítico E0 pode ser calculado por 22 r I JE R p r r == (4) 3. PESQUISAS E APROXIMAÇÕES Ao longo dos últimos anos, diversas pesquisas têm analisado este assunto. Duas linhas de investigação são notáveis. A primeira considera o comportamento do solo no domínio tempo e seu ponto fundamental é baseado na determinação de relações de campo elétrico crítico e densidade de corrente sobre a superfície do eletrodo, para diferentes solos. A segunda linha de investigação é concentrada na análise das curvas “V x I”, em uma aproximação similar àquela empregada para estudar o efeito Corona por meio das curvas “Q x V”. Ambas aproximações extensivamente empregam avaliações experimentais. 4. A FORMULAÇÃO Diversas experiências vem sendo executadas ao longo dos últimos anos, para se chegar a um processo de cálculo adequado. Para efeito de cálculo da configuração prática, as duas aproximações citadas anteriormente satisfazem a analogia teórica do fenômeno, e são chamadas de aproximações geométrica e física. A última assume um comportamento de resistividade dinâmico para o solo ao redor do eletrodo, para que se leve em conta a redução na impedância. Já a aproximação geométrica, para este decréscimo, assume-se um acréscimo na superfície do eletrodo. A pesar de alguns pesquisadores considerarem que uma aproximação tem mais simpatia física que a outra, a experiência mostra que isso não é verdade. Ambas aproximações são ligeiramente diferentes do que realmente acontece em condições práticas. Nem a resistividade é modificada, nem o raio do eletrodo é aumentado. O estabelecimento de grandes canais disruptivos não–lineares expressam o efeito. Estas aproximações, numa perspectiva macroscópica, tentam compensar a redução da impedância, devido ao processo, com um ajuste em outros parâmetros. Todavia, uma vez que o usuário está a par da natureza real do efeito, ambos métodos devem funcionar, se apropriadamente empregados. Um ponto a ser frisado consiste na natureza da corrente. Primeiro, não é razoável desconsiderar a componente capacitiva da corrente para ondas impulsivas no solo. A presença de canais disruptivos no solo afeta exatamente da mesma maneira a condutância e a capacitância do eletrodo e também suas correntes correspondentes. A forma da curva “a” na “Fig. 3”, obtida experimentalmente por medições no solo, mostra uma resposta típica para um circuito RC paralelo para uma corrente impulsiva. As curvas também expressam a ocorrência do processo de ionização quando a densidade de corrente é aumentada. Figura 3. Comportamento das curvas "VxI" para um eletrodo enterrado no solo A este respeito, a chamada aproximação física, que considera somente a natureza resistiva do solo, deve apresentar alguns desvios como sua formulação tenta descrever, por meios de uma resistividade de solo dinâmica, ambos processos de ionização e a natureza capacitivada corrente. Por outro lado, o então chamado método geométrico pode também apresentar alguns desvios, se este não leva em conta a natureza do processo. A ionização só começa a ocorrer depois que um determinado valor de densidade de corrente é alcançado. Então, quando se calcula o efeito, a compensação geométrica (acréscimo da área equivalente do eletrodo) deveria ser feito somente após este limite. 4.1 Método Geométrico para Aterramento Concentrado A disrupção no solo começa quando o gradiente na superfície do hemisfério ultrapassa o gradiente crítico E0. A corrente necessária para alcançar este gradiente é chamada de Ig e é determinada pela “Eq (4)”: 2 0 0 2 1 R E I g r p = (5) Tal como antes, a resistência medida a baixa corrente é R0 e a resistividade do solo é dada por r (ohm - metro), sendo que Eo é aproximadamente a 400 kV/m. Para correntes maiores que Ig , a disrupção no solo continua e se expande, atingindo um raio r. Dentro desta área descrita por r, a resistência do solo é considerada zero, podendo-se considerar o solo como um condutor perfeito. Assim, a resistência para baixas correntes é simplesmente a resistência de um hemisfério de raio r. Portanto, a impedância Ri se torna g r i I I R R 0= (6) Considerando uma haste simples, desde que sua dimensão permita que o gradiente Eo seja obtido quase instantaneamente, o decréscimo na resistência também ocorre quase imediatamente. No entanto, a resistência a baixa corrente R0 é mantida até que a corrente Ir exceda Ig, e esse decréscimo não é imediato até que o streamer e zona de arco se aproximem de um hemisfério. Uma escala logarítmica na”, onde a tranformação da haste à um hemisfério ocorre a uma corrente de Ig, é mostrada na “Fig. 5”. ln Ig ln IR ln Ro ln Ri IR baixo IR alto Figura 5. Resistência e impedância impulsiva do hemisfério. Para uma haste, várias hastes ou qualquer aterramento concentrado, essa característica pode ser aproximada pela equação abaixo: ( )gR o i II R R /1+ = (7) 4.2 Cálculos para Contrapesos Quando o efeito é considerado para aterramento concentrado (eletrodo de pequeno comprimento), devido natureza divergente predominante do campo, o processo é distribuído de forma regular ao longo do eletrodo, dependendo da densidade de corrente local. No entanto, para grandes eletrodos (como os típicos para aterramento de torres de linhas de transmissão e contrapesos em regiões de alta resistividade) é necessário levar em conta a distribuição não regular do efeito ao longo do eletrodo. A intensidade do processo segue a densidade de corrente de fuga ao longo do eletrodo, o qual é reduzido ao longo deste, desde o ponto de injeção da corrente, devido a atenuação da onda. A “Fig. 7” ilustra o fenômeno da baixa corrente. Ondas de tensão e corrente descendo a torre interferem na combinação dos aterramentos concentrados Ri e os contrapesos, resultando em ondas de corrente ic e tensão ec atravessando os contrapesos a cerca de 1/3 da velocidade da luz. Estas ondas de corrente e tensão encontram-se e refletem-se a partir da resistência de fuga do contrapeso e então, com um atraso no tempo, decrescem até a resistência total de pé de torre. torre contrapeso Faixa de passagem Contrapeso de quatro pernas Figura 6. Local dos contrapesos dentro da faixa de passagem. RL RL RL RL Superfície da terra Contrapeso Torre ZT e,i ec, ic Rc = åRL Figura 6. Ondas de corrente e tensão dissipando-se ao longo do contrapeso O efeito da ionização do solo no espaçamento pode ser avaliado usando a “Eq. 8”, sendo que o diâmetro final ionizado D para o eletrodo de aterramento pode ser aproximado pela equação para eletrodos esféricos, i.e., g R E I D p r2 = (8) Fazendo–se os cálculos correspondentes, verifica–se que diâmetros ionizados podem medir de 5 a 10 metros. Para obter a efetividade máxima das hastes paralelas, o espaçamento deveria ser aumentado para aproximadamente 5 metros. 5. CONCLUSÃO O problema a ser considerado é complexo. Inúmeros aspectos merecem uma avaliação aprofundada considerando o processo de ionização propriamente dito e a maneira de calcula–la, para aterramento de linhas de transmissão. Há muitos desafios a serem encarados para se alcançar um processo de cálculo adequado em relação à ocorrência do fenômeno. Alguns delas estão listadas a seguir: 1. Caracterização geral das condições de limites da ocorrência de ionização para diferentes solos e resistividades, como função da densidade de corrente; 2. Possibilidade de relatar o efeito somente como função da resistividade, independentemente do tipo de solo; 3. Como formular o problema para aterramento concentrado , em uma aproximação geral; 4. Como calcular o fenômeno na presença de outros efeitos que influenciam significantemente no comportamento do aterramento (como atenuação, natureza capacitiva da corrente no solo e assim por diante), sobretudo para contrapesos; 5. Qual a importância relativa do processo da ionização do solo para o comportamento de linhas de transmissão, quando perturbado por corrente de descargas atmosféricas. 6. REFERÊNCIAS [1] Andrew R. Hileman, Insulation Coordination for Power Systems, Monroeville, Pensylvania, 1999, p.379. [2] CIGRE Task Force on Soil Ionization – WG 33.01, “Perspectives on Soil Ionization Investigation”, in Proceedings of the International Conference on Grounding and Earthing, GROUND’2000, pp. 105-106. [3] W. A. Chisholm e W. Jaischewskyj, “Lightning Surge Response of Ground electrodes,” IEEE Trans. on Power Delivery, abril 1989. [4] N. Mohamad Nor, S. Srisakot, H. Griffiths, A. Haddad, “Characterisation of Soil Ionization Under Fast Impulse”, ICLP 2000 – 25th International Conference on Lightning Protection, Rhodes – Greece, 18 – 22 September 2000. [5] João Pedro Assumpção Bastos, Eletromagnetismo e Calculos de Campos, UFSC – Florianópolis, 1989, p. 3, 24.
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