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3. A elaboração de um texto

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A ELABORAÇÃO DE UM TEXTO
O ato de redigir nada mais é do que o reflexo imediato do pensamento daquele que escreve, de modo que um pensamento ordenado e lógico gera uma redação igualmente ordenada e lógica. Portanto, “saber escrever é saber pensar”. Antes de escrever, precisamos ter claro o que vamos dizer. Devemos, ainda, ter em mente que o leitor tem de compreender exatamente o que pretendemos comunicar. Assim, escrever com simplicidade e precisão, evitando qualquer tipo de desvio ao que não seja pertinente ao tema, será o caminho para não errarmos. 
Selecionando as informações
A elaboração de um texto requer o domínio de um cabedal de ideias que serão, posteriormente, organizadas e reproduzidas graficamente no papel. Assim, podemos dizer que, efetivamente, o primeiro passo a ser dado num trabalho de produção textual é a manipulação adequada das ideias que comporão o texto. 
Diante desse fato, podemos propor um modelo do que devemos considerar as etapas do desenvolvimento das ideias e da seleção das informações. Obviamente tal modelo só tem sentido se elaborado junto a um planejamento mais amplo do texto a ser escrito.
A primeira etapa é a definição do tema central. 
A segunda é o posicionamento crítico frente a esse tema. Necessitamos aqui pensar como defender a nossa tese de forma convincente.
Na terceira, precisamos definir os temas paralelos ao central, que com ele mantenham uma relação necessária e evidente.
Na quarta etapa, necessitamos expandir ainda mais esse processo, tratando de enriquecer o conjunto de ideias – qual(is) informação(ções) será(ão) mais importante(s)? Qual(is) o(s) argumento(s) mais pertinente(s) e persuasivo(s)? 
A última etapa é a que passamos à estruturação dos parágrafos.
Para construirmos um texto coeso e coerente (e persuasivo!), necessitamos esquematizar as ideias. Geralmente os alunos não simpatizam com os esquemas. Acham que o tempo é exíguo e atiram-se, a esmo, ao trabalho da redação. O fato é que, dispensando o esquema, perdem, ao redigir, os minutos que pensavam economizar. O que sucede? As ideias vêm desordenadas, contraditórias. Atrapalhados, eles rabiscam, apagam, voltam a escrever o que riscaram... 
Quando principiamos uma redação, temos de traçar uma diretriz. Qual tese defenderemos? O esquema é um mapa. O esquema é um guia. Não haverá lugar para desvios ou retrocessos se tivermos, anteriormente, traçado o nosso roteiro. O esquema exigirá, talvez, uns quinze minutos. Porém, esses minutos são importantíssimos. Eles nos trarão a ideia básica e alinharão os argumentos contrários e favoráveis. Esquematizar é planejar. É dar à redação um destino, um sentido, um fim.
Não podemos nos impressionar se as ideias demorarem a chegar. É natural que, no início, fiquemos um tanto vazios. À medida que formos refletindo, elas irão aparecendo, ainda que desordenadamente. Não nos esqueçamos de que esse é o momento de concentração absoluta. Imaginação, sensibilidade, inteligência, memória – todas as faculdades, enfim – devem ser despertadas na procura das ideias.
Ao elas surgirem, começaremos a registrá-las em um esquema. O esquema é de ideias, não de palavras. Ele é pessoal, e cada um o executa da maneira que achar mais conveniente. 
Antes de iniciarmos a redação do texto, deveremos ordenar as ideias de modo que as partes da redação conservem sua autenticidade e progressão argumentativa. O esquema é um roteiro, e a redação deve caminhar progressivamente. Um esquema ordenado, definido, não nos levará a retrocessos. 
Construindo o parágrafo
O parágrafo bem elaborado normalmente consta de duas partes: o tópico frasal e a explanação dessa mesma ideia-núcleo. 
O tópico frasal é constituído habitualmente por um ou dois períodos curtos iniciais e encerra de modo geral e conciso a ideia-núcleo do parágrafo. Ele constitui um meio muito eficaz de expor ou explanar ideias. Enunciando logo de saída a ideia-núcleo, o tópico frasal garante de antemão a objetividade, a coerência e a unidade do parágrafo, definindo-lhe o propósito e evitando digressões impertinentes.
Em síntese, ao construirmos um texto, devemos observar o seguinte:
O parágrafo é um conjunto de enunciados que se unem em torno de um mesmo sentido.
Não devemos esgotar o tema no primeiro parágrafo. Devemos apenas apontar a questão que vai ser desenvolvida.
O parágrafo seguinte é sempre uma retomada de algo que ficou inexplorado no parágrafo anterior ou anteriores. Pode ser uma palavra ou uma ideia que mereça ser desenvolvida. 
Um texto é constituído por parágrafos interdependentes, sempre em torno de uma mesma ideia.
O texto deve demonstrar coerência, que resulta de um bom domínio de sua arquitetura e do conhecimento da realidade. 
Se o tema da redação é de nosso domínio, com o conhecimento dos princípios de coesão e da estruturação dos parágrafos, nossas dificuldades para escrever serão bem menores.
Precisamos ler tudo o que for possível – sobretudo temas da atualidade – para que não tenhamos dificuldade para ter uma posição firme e bem fundamentada. 
A DISSERTAÇÃO
A dissertação é um tipo de discurso em que discorremos sobre um tema (ideia delimitada, particularizada) dentro de um assunto (questão ampla, ideias generalizadas), para defender nossa tese, nosso ponto de vista, apoiando-nos em dados convincentes. 
No texto dissertativo, colocamo-nos criticamente, fundamentando nossas ideias, explicitando os motivos pelos quais problematizamos determinados aspectos, para atingir nosso objetivo: tornar válida nossa tese. 
A dissertação tem caráter universal, qualquer pessoa – leitora/ouvinte de português – poderá se inteirar do assunto e respeitar o nosso raciocínio. 
Estrutura dissertativa
A estrutura dissertativa que possui introdução, desenvolvimento e conclusão é conhecida como ortodoxa ou clássica. Desde a Retórica clássica, essa estrutura vem sendo usada e desenvolvida. Na Roma antiga, era comum que os oradores organizassem seus discursos com uma introdução (exordium), um desenvolvimento (narratio e confirmatio) e uma conclusão (peroratio). Até hoje, os bons textos – orais ou escritos – seguem essa estrutura.
Introdução 
Tem como finalidade apresentar a explicitação do tema e o nosso posicionamento crítico (tese) frente a esse.
Assim, a partir da introdução, o leitor/ouvinte pode deduzir qual é o nosso tema e qual é a nossa opinião sobre essa questão posta em debate. De antemão já deduz o percurso argumentativo do texto e já tem pistas da nossa ”visão de mundo”.
Introdução: tema + tese
O Presidente George W. Bush erra quando afirma que o premiê de Israel, Ariel Sharon, é um homem de paz. É exatamente o contrário. Sharon é um militar de linha dura que, sempre que teve ocasião, votou contra a paz. 
Ainda é mais rentável, no Brasil, produzir para o mercado interno do que para o externo. Segmentos com mais de 20% da produção destinada à exportação encerraram 2004 com uma perda de 2,5% na rentabilidade total em relação a 2003. 
Desenvolvimento
 Contém a defesa, com convicção, do posicionamento assumido. Nesse estágio da dissertação, deveremos confirmar as ideias expostas na introdução, conferindo credibilidade à nossa tese.
Para desenvolver um bom texto, necessitamos: selecionar os argumentos favoráveis ao tema e os desfavoráveis, pois esses podem servir para uma possível contra-argumentação; hierarquizar os argumentos, isto é, dispor na ordem do mais forte para o mais fraco e apresentar clareza nas relações lógicas estabelecidas pelos próprios argumentos. Também precisamos evitar as generalizações sem provas concretas ou particularizações indevidas.
Conclusão
É o arremate da ideia central que foi desenvolvida na trajetória do texto; portanto, não devemos introduzir nenhum dado novo. A conclusão é uma decorrência natural de um raciocínio anteriormente apresentado. Assim, devemos ratificar nossa tese, procurar dar uma resposta pessoal ao tema levantado, e se for pertinente, apresentar possíveis soluções para o problema questionado/analisado/discutido. Devem ser evitados finaismirabolantes, com frases de efeito, lugares-comuns.
Dizer, como o fez o presidente Bush, que Sharon é um homem de paz é um acinte tão grande que só serve para dar razão aos que veem parcialismo dos Estados Unidos em favor de Israel. Isso em nada contribui para os esforços diplomáticos para levar a paz ao Oriente Médio. 
Como se percebe, sem leis adequadas, ações sociais e cooperação internacional não se conseguirá sucesso no combate à prostituição infantil e ao turismo sexual direcionado à pedofilia e à exploração de crianças e adolescentes. 
ARGUMENTAÇÃO
A argumentação é um conjunto de procedimentos com os quais sustentamos nossa opinião de forma a torná-la convincente ao leitor/ouvinte. Mesmo que o receptor não compartilhe de nossas ideias, ele deverá passar a aceitar e reconhecê-las como legítimas, porque elas contêm opiniões lógicas, plausíveis, sustentáveis. 
A forma de argumentar é responsável pela estruturação do texto e determina o caminho que escolhemos para defender nossa opinião. A argumentação é um processo que exige ordem. Um argumento deve encadear-se ao outro naturalmente, em busca de uma unidade de sentido. Nossa capacidade de convencer o leitor depende da ordenação e força de nossos argumentos. 
Argumentar é convencer ou tentar convencer mediante a consistência do raciocínio, a evidência das provas e o apelo emocional. 
EXERCÍCIOS
1. Leia o texto abaixo e faça um esquema das ideias principais: 
Pena de morte
Cada aplicação da pena capital nos EUA ressalta o paradoxo entre uma sociedade tida como das mais democráticas do planeta e a preservação de um instituto marcadamente brutal e incivilizado. Com a morte de um prisioneiro anteontem na Califórnia, subiu para 167 o número de execuções nos EUA desde 1976, data da reimplantação da pena de morte.
Mais importante do que sublinhar a crueldade do método utilizado – a câmara de gás – é repisar os argumentos contrários a esse tipo de sanção. E eles são vários. Ao aplicar a pena de morte, o Estado desce à mesma condição aviltante do delinquente responsável por um ato hediondo. Pior, correndo o sério risco de cometer injustiça, fruto de falhas processuais, as quais ficam sem possibilidade de reparação. 
Nem sequer como medida exemplar o dispositivo pode ser justificado. São inúmeros os estudos a mostrar que a aplicação da pena de morte não diminui a criminalidade. Na medida em que toda sanção tem como um de seus objetivos coibir a reprodução de comportamentos antissociais, só esta constatação bastaria para desautorizar o uso de método tão bárbaro e sinistro.
O direito moderno dispõe de meios de dissuasão muito mais eficazes e contundentes para combater a delinquência, sem precisar, recorrer a procedimentos que atentem contra a inviolabilidade da vida humana. Por tudo isso, é extremamente lamentável que num país como dos EUA os emocionalismos prevaleçam sobre os argumentos da razão. 
2. Nos textos a seguir aparecem teses diferentes, argumentos diferentes. Identifique-os. 
A favor da esmola
Nunca consigo deixar de dar esmola. Quando vejo uma pessoa na miséria absoluta, meto a mão no bolso e dou uma ajuda. Naquele momento em que recebe uma esmola, a pessoa excluída de um processo social injusto pode comer alguma coisa. Em tese, pode ser correta esta ideia de que “dar esmola não é bom nem para quem dá nem para quem recebe”. Mas, numa prática, a realidade é outra. Quem pede esmola está ou deve estar com fome. Vivo esta contradição, e acho que é a mesma que, no fundo, todo mundo vive. O ideal seria um mundo sem esmola, em que todos tivessem emprego, ganhassem seu salário, tivessem a sua dignidade, sua cidadania resguardada. Mas, infelizmente, vivemos em um país onde 20 % da população vivem na indigência. 
Com tanta miséria, o que eu vou fazer no momento em que um menino, com fome, descalço, visivelmente fraco, me pede uma esmola? Vou dizer para ele: não, vá trabalhar! Não posso dizer isso. Estas campanhas como “não dê esmolas” só terão validade se antes for criada uma alternativa verdadeira. Se não, tornam-se perversas. Na situação atual, negar uma esmola a um excluído é um ato de insensibilidade. Não é difícil acabar com a miséria no Brasil. Mas não basta apenas o discurso. A comparação entre o que se faz na área social com o que se faz para salvar bancos é válida, porque para algumas coisas no Brasil somos rápidos e eficientes, mas, para outras, somos lentos e ineficientes, como no trato da questão social.
A miséria é uma vergonha para todos nós e, às vezes, chegamos a nos sentir cúmplices. Em alguma medida podemos ter responsabilidade, uns muito mais do que a maioria. A esmola não é alienante, a não ser quando é a única ação contra a miséria. Eu não posso, ao ver uma pessoa cair na rua, dizer, comodamente: um médico é que deve atender você. Acho que contemplar ou passar por cima é a pior coisa que uma pessoa pode fazer.
(Herbert de Souza)
Contra a esmola
Esmola é o que se dá por caridade a alguém que necessita. Deve ser evitada e utilizada em último caso, quando todas as outras alternativas falharam. A todo ser humano, qualquer que seja a situação em que esteja vivendo, é preciso garantir dignidade. Desde o direito à privacidade, ao livre arbítrio, à educação, até o direito ao trabalho através do qual se entende que a própria pessoa possa administrar sua vida e obter o que necessita para viver.
Quando uma família se desestrutura, quando enfrenta alguma tragédia, doença prolongada de seu chefe, ou alguma impossibilidade para o trabalho, deve-se entender que esta situação não é definitiva e tem que ser encarada como passageira. Neste momento, quando se recorre à esmola, leva-se junto com ela também a humilhação, o rebaixamento à condição de favor. Ou seja, junto com o ato da caridade está implícito o ato de vontade: dou porque quero, não tenho obrigação. Com a esmola o direito acaba e o necessitado perde a condição de ser humano sujeito de direitos e passa à condição de objeto que vai receber alguma coisa dependendo da vontade de quem dá ou de quem a administra.
Por não se tratar de direitos, a administração da esmola também não tem critérios objetivos, ou seja, dá-se sempre a quem vê, a quem está mais perto e nem sempre a quem mais necessita. Uma sociedade que conta com políticas públicas para crianças, idosos, doentes e desempregados não precisa lançar mão de esmolas. A manutenção de políticas sociais estáveis, além de garantir direitos, tem também de garantir a universalidade do atendimento, ou seja, o serviço ou o benefício tem que atingir a todos que dele necessitam. A esmola só serve para deixar em paz a consciência de quem a dá. Ainda assim, a paz é falsa.

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