Buscar

Delação Premiada 06 03 2013

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 60 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 60 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 60 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 
FACULDADE PROJEÇÃO 
 
 
 
 
 
WILLIAM RODRIGUES GONÇALVES ESTRÊLA 
 
 
 
DELAÇÃO PREMIADA: 
ANÁLISE DE SUA CONSTITUCIONALIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
Taguatinga – DF 
2010 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 2 
WILLIAM RODRIGUES GONÇALVES ESTRÊLA 
 
 
 
DELAÇÃO PREMIADA: 
ANÁLISE DE SUA CONSTITUCIONALIDADE 
 
 
Monografia apresentada à banca 
examinadora da Faculdade Projeção como 
exigência parcial para obtenção do grau de 
bacharelado em Direito sob a orientação da 
professora Patrícia Catarina Luzio. 
 
 
 
 
 
 
Taguatinga – DF 
2010 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 
 
 
 
 
 
 
Estrêla, William Rodrigues Gonçalves. 
 Delação premiada: análise de sua constitucionalidade / William 
Rodrigues Gonçalves Estrêla. Taguatinga – DF: [S.n.], 2010. 
 57f. 
 Monografia – trabalho de conclusão do Curso de Bacharelado 
em Direito. FAPRO – Faculdade Projeção. 
 1. Delação Premiada. 2. Direito Constitucional. I. Título. 
 
 CDU – 343 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 2 
WILLIAM RODRIGUES GONÇALVES ESTRÊLA 
 
DELAÇÃO PREMIADA: 
ANÁLISE DE SUA CONSTITUCIONALIDADE 
 
 
Monografia apresentada à banca 
examinadora da Faculdade Projeção como 
exigência parcial para obtenção do grau de 
bacharelado em Direito sob a orientação da 
professora Patrícia Catarina Luzio. 
 
 
Aprovado pelos membros da banca examinadora em ____/____/____, com menção 
_____ (__________________________________________). 
 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
 
_________________________________ 
Presidente Prof.ª Patrícia Catarina Luzio 
Faculdade Projeção 
 
______________________________ ______________________________ 
 Prof.ª Jaqueline Teresinha Davoglio Prof. Eraldo Alves Barboza 
 Faculdade Projeção Faculdade Projeção 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico o presente trabalho à memória da 
minha querida irmã Maria Simony que em tão 
tenra idade nos ensinou valores como o amor 
ao próximo, a fraternidade e a compaixão. E 
hoje sei que essas qualidades só advêm de 
uma pessoa com coração puro e sincero. Sinto 
saudades. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço ao Wesley Ferreira, hoje morando 
no Estado da Paraíba, pois, por sua ideia 
genial, estamos nos graduando em Direito. 
Agradeço também à Rosa Varella por sempre 
ter me apoiado nesse longo caminho. Meus 
agradecimentos são igualmente devidos ao 
Israel Farias. Não posso me esquecer dos 
professores João Pavanelli Neto e Patrícia 
Catarina Luzio que são, antes de tudo, 
verdadeiros educadores. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quando as provas de um fato se apóiam todas 
entre si, isto é, quando os indícios do delito 
não se sustentam senão uns pelos outros, 
quando a força de várias provas depende da 
verdade de uma só, o número dessas provas 
nada acrescenta nem subtrai à probabilidade 
do fato: merecem pouca consideração, 
porque, destruindo a única prova que parece 
certa, derrubais todas as outras. 
Mas, quando as provas são independentes, isto 
é quando cada indício se prova à parte, 
quanto mais numerosos forem esses indícios, 
tanto mais provável será o delito, porque a 
falsidade de uma prova em nada influi sobre a 
certeza das restantes. 
 Cesare Beccaria 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 6 
RESUMO 
ESTRÊLA, William Rodrigues Gonçalves. Delação premiada: análise de sua 
constitucionalidade. Taguatinga-DF: [S.n.], 2010. 57f. Monografia – trabalho de conclusão 
do Curso de Bacharelado em Direito. FAPRO – Faculdade Projeção. 
 
A delação premiada deve ser estudada pela sua importância, quer por ser historicamente 
aceita pela humanidade, quer por se encontrar positivada nos ordenamentos jurídicos de 
diversos países; e no caso do Brasil, por estar dispersa em diversos diplomas legais, 
necessitando de um exame se as leis que tratam da delação premiada podem ser aplicadas ao 
contexto brasileiro. Objetiva esta pesquisa apresentar de forma geral os aspectos 
constitucionais do instituto da delação premiada. E mais especificamente mostrar a legislação 
aplicada e analisar se esse instituto é aceito no ordenamento jurídico brasileiro. A presente 
monografia quanto à natureza trata-se de um trabalho científico de resumo, classificada 
quanto ao objetivo como sendo exploratória. A pesquisa utilizada é a explicativa onde os 
elementos são organizados segundo uma lógica objetiva por intermédio da pesquisa 
monográfica e bibliográfica. A abordagem usada foi a de método estrutural. O método de 
procedimento utilizado foi observacional, sem nenhum tipo de experimentação. Já a 
metodologia jurídica utilizada foi a sociológica, pois considera a história, tradição e usos da 
estrutura social. Serão abordados o conceito e o histórico do instituto da delação premiada. 
Serão listadas as leis que tratam da delação premiada no ordenamento jurídico brasileiro. E 
principalmente analisar a constitucionalidade desse instituto. 
 
Palavras-chave: Delação premiada. Análise da constitucionalidade. Generalidades. Conceito. 
Histórico. Legislação Brasileira. Crimes hediondos. Crime de extorsão mediante sequestro. 
Crimes de colarinho branco. Crimes contra a ordem tributária. Lei contra o crime organizado. 
Lei contra a lavagem de dinheiro. Lei de proteção às vítimas, às testemunhas e aos delatores 
de crimes. Lei de drogas. Moral. Moralidade Administrativa. Respeito à Dignidade da Pessoa 
Humana. Devido Processo Legal. Ampla defesa. Contraditório. Sigilo. Princípio da 
Publicidade. Direito ao silêncio. 
 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 7 
ABSTRACT 
ESTRÊLA, William Rodrigues Gonçalves. Delação Premiada: analysis of its 
constitutionality. Taguatinga-DF: [S.n.], 2010. 57p. Monograph - Course work completed 
Bachelor of Law. FAPRO - College Projeção. 
 
The rewarded treachery, known in Brazil a delação premiada, should be studied for its 
importance, either because it is historically accepted by mankind or because it is substantiated 
in legal systems of different countries, and in the case of Brazil, being scattered in several 
laws, requiring an examination if the laws that deal with tipoff awarded may be applied to the 
Brazilian context. This research aims to give general constitutional aspects of the Institute 
rewarded treachery. And more specifically show the legislation and consider whether this 
institution is accepted into the Brazilian legal system. This monograph on the nature it is a 
scientific summary, classified according to its purpose as being exploratory. The survey is 
used to explaining where the elements are organized according to an objective logic through 
research and monographic literature. The approach used was that of the structural method. 
The method of procedure used was observational, without any trial. Already the legal 
methodology used was sociological, considering history, tradition and practices of social 
structure. Will be discussed the concept and history of the institute rewarded treachery. Will 
list the laws that deal with tipoff winning the Brazilian legal system. And especially to 
analyze the constitutionality of the institute. 
 
Keywords: Rewarded treachery. Review of Constitutionality. General. Concept. History. 
Brazilian law. Heinous crimes. Crime of extortion through kidnapping. White collar crimes. 
Crimes against the tax. Law against organized crime. Law against money laundering. Law to 
protect victims, witnesses andinformers of crimes. Drug law. Moral. Administrative morality. 
Respect for Human Dignity. Due Process of Law. Legal defense. Contradictory. 
Confidentiality. Principle of Advertising. Right to silence. 
 
 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 8 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 9 
Capítulo 1 - Generalidades da Delação Premiada ................................................................. 11 
1.1 Conceito de Delação Premiada .................................................................................................11 
1.2 Histórico da Delação Premiada ................................................................................................13 
1.3 No Direito Comparado Italiano ................................................................................................15 
1.4 No Direito Comparado Americano ..........................................................................................16 
1.5 No Direito Comparado Espanhol .............................................................................................17 
1.6 No Direito Comparado Alemão ................................................................................................17 
1.7 No Direito Comparado Colombiano ........................................................................................18 
Capítulo 2 - Delação Premiada na Legislação Brasileira ...................................................... 19 
2.1 Leis dos Crimes Hediondos e do Crime de Extorsão Mediante Sequestro ...........................20 
2.2 Leis dos Crimes de Colarinho Branco e dos Crimes Contra a Ordem Tributária ..............22 
2.3 Lei Contra o Crime Organizado ...............................................................................................24 
2.4 Lei Contra a Lavagem de Dinheiro ..........................................................................................26 
2.5 Lei de Proteção às Vítimas, às Testemunhas e aos Delatores de Crimes ..............................27 
2.6 Lei de Drogas ..............................................................................................................................29 
Capítulo 3 - Constitucionalidade da Delação Premiada ........................................................ 32 
3.1 A Moral e a Moralidade Administrativa na Delação Premiada ............................................33 
3.2 Respeito à Dignidade da Pessoa Humana na Delação Premiada ...........................................39 
3.3 Devido Processo Legal na Delação Premiada ..........................................................................41 
3.3.1 Ampla defesa e contraditório na delação premiada ............................................................................ 42 
3.3.2 Sigilo na delação premiada versus o princípio da publicidade............................................................ 45 
3.3.3 Direito ao silêncio na delação premiada ............................................................................................. 48 
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 51 
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 53 
GLOSSÁRIO ............................................................................................................................ 58 
 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 9 
INTRODUÇÃO 
A crescente onda de criminalidade não é fato novo, pois, vem enraizada na própria 
essência do ser humano. E, modernamente, o Estado busca diversas formas de minimizar o 
impacto negativo que essa criminalidade causa em seus concidadãos de forma a conseguir 
chegar à verdadeira paz social. 
Ocorre que o Estado, quer por falência de suas instituições, quer pela efetividade 
evolutiva das organizações criminosas, não consegue descobrir e incriminar de forma 
satisfatória os delinquentes que se associam para subverter a ordem social. Mas, mesmo com 
todas as limitações, o Estado sempre está na busca de soluções para promover o bem de todos. 
E um dos meios que o Estado encontrou para tentar conter a expansão da 
criminalidade organizada é o instituto da delação premiada, que será estudado nesta pesquisa 
monográfica, onde se pretende analisar a sua adequação frente à integração ao ordenamento 
jurídico brasileiro, sob a ótica de sua constitucionalidade, especificamente, quanto aos 
princípios ligados ao devido processo legal. 
Justifica-se o estudo do instituto da delação premiada, ao menos, pela vertente da 
moralidade, porque, por um lado, o Estado se utiliza da traição para abreviar todo um 
caminho necessário para uma eficiente investigação criminal, economizando tempo e 
dinheiro; e, por outro lado, o criminoso é o principal interessado em receber os benefícios 
oferecidos pela delação. Isso porque, a partir do momento em que ele sabe que não há mais 
como se furtar da ação penal, agarra-se a qualquer forma de ajuda que possa minorar ou até 
excluir a eventual pena que irá ser aplicada, podendo com essa atitude, inclusive, prejudicar 
pessoas inocentes. 
Já a delação premiada deve ser estudada pela sua importância, quer por ser 
historicamente aceita pela humanidade, quer por se encontrar positivada nos ordenamentos 
jurídicos de diversos países; e no caso do Brasil, por estar dispersa em diversos diplomas 
legais, necessitando que se examine se as leis que tratam da delação premiada podem ser 
aplicadas ao contexto brasileiro. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 10 
Objetiva esta pesquisa apresentar de forma geral os aspectos constitucionais do 
instituto da delação premiada. E mais especificamente mostrar a legislação aplicada e analisar 
se esse instituto é aceito no ordenamento jurídico brasileiro. 
A presente monografia quanto à natureza trata-se de um trabalho científico de 
resumo, classificada quanto ao objetivo como sendo exploratória. A pesquisa utilizada é a 
explicativa onde os elementos são organizados segundo uma lógica objetiva por intermédio da 
pesquisa monográfica e bibliográfica. A abordagem usada foi a de método estrutural. O 
método de procedimento utilizado foi observacional, sem nenhum tipo de experimentação. Já 
a metodologia jurídica utilizada foi a sociológica, pois leva “[...] em conta a época, os 
costumes e usos da sociedade.”1 
São três os capítulos deste trabalho. No primeiro serão abordados o conceito, o 
histórico e uma descrição no direito comparado do instituto da delação premiada. Já no 
segundo serão listadas as leis que tratam da delação premiada no ordenamento jurídico 
brasileiro. E o último tratará do objeto principal do estudo que é análise da 
constitucionalidade desse instituto. 
Foi adotado o sistema de referência numérico-completo onde cada obra utilizada é 
citada no rodapé da respectiva página e ao final se encontra listada, em ordem alfabética, a 
bibliografia completa. 
_____________ 
1 VIEIRA, Liliane dos Santos. Pesquisa e monografia jurídica na era da informática. 3. ed. Brasília: Brasília 
Jurídica, 2007, p. 103-105. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 11 
Capítulo 1 
GENERALIDADES DA DELAÇÃO PREMIADA 
Neste capítulo serão apresentados os conceitos de delação e de delação premiada. 
Também será mostrada a evolução histórica que antecede este instituto na 
contemporaneidade. E a título de conhecimento, será abordada de forma bem sintética o 
instituto da delação premiada na atualidade, conforme é aplicado na Itália, nos Estados 
Unidos da América, na Espanha, na Alemanha e na Colômbia. 
Tal abordagem torna-se importante, pois as organizações criminosas atuam 
mundialmente,em virtude da globalização, onde encontram acessibilidade a todas as 
facilidades do mundo moderno, na economia, na universalização financeira, no comércio livre 
e nas telecomunicações.2 
E os problemas que as nações mundiais precisam enfrentar em face do crime 
organizado são bastante similares. “Das assombrações contemporâneas, mostram-se 
particularmente evidentes o narcotráfico, em geral vinculado à atuação de organizações 
criminosas, e o terrorismo.”3 
1.1 Conceito de Delação Premiada 
Conforme Damásio de Jesus, “delação é a incriminação de terceiro, realizada por um 
suspeito, investigado, indiciado ou réu, no bojo de seu interrogatório (ou em outro ato).”4 
Segundo De Plácido e Silva, delação significa: 
Originado de delatio, de deferre (na sua acepção de denunciar, delatar, acusar, 
deferir), é aplicado na linguagem forense mais propriamente para designar a 
denúncia de um delito, praticado por uma pessoa, sem que o denunciante (delator) 
se mostre parte interessada diretamente na sua repressão, feita perante autoridade 
_____________ 
2 GUIDI, José Alexandre Marson. Delação Premiada no combate ao crime organizado. São Paulo: Lemos & 
Cruz: 2006, p. 36. 
3 CARVALHO, Natália Oliveira de. A delação premiada no Brasil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 69. 
4 JESUS, Damásio Evangelista de. Estágio atual da “delação premiada” no Direito Penal brasileiro. 
Disponível em: <http//jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7551>. Acesso em: 1º jun. 2010. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 12 
judiciária ou policial, a quem compete a iniciativa de promover a verificação da 
denúncia e a punição do criminoso. 
[...] 
Desse modo, mais propriamente, emprega-se o vocábulo delação para indicar a 
denúncia ou acusação que é feita por uma das próprias pessoas que participam da 
conspiração, revelando uma traição aos próprios companheiros.5 
 
Mas a delação pura e simples é a situação em que uma pessoa chega perante a 
autoridade judiciária ou policial e narra um fato criminoso nos exatos termos em que o delito 
ocorreu sem ter interesse algum processual, ou melhor, sem esperar um benefício imediato 
por sua conduta. 
A delação nada tem a ver com a desistência voluntária, onde o agente desiste de 
prosseguir na execução do crime, nem com o arrependimento eficaz, onde ele impede que o 
resultado se produza, e, muito menos com o arrependimento posterior, onde, sem violência ou 
grave ameaça, após a execução, o agente repara o dano ou restitui a coisa; pois, em todas 
essas hipóteses o agente não tem o auxílio de terceiros na empreitada criminosa.6 Também 
não deve ser confundida a delação premiada com o instituto da confissão espontânea,7 pois 
nessa o agente confessa a sua participação no ato delituoso, sem a incriminação de outra 
pessoa.8 
Invocando novamente Damásio de Jesus, que define delação premiada como “[...] 
aquela incentivada pelo legislador, que premia o delator, concedendo-lhe benefícios (redução 
de pena, perdão judicial, aplicação de regime penitenciário brando etc.).”9 
A delação premiada consiste no fato de o criminoso voluntariamente assumir a sua 
culpa, entregando os demais comparsas da conduta delituosa à autoridade judiciária ou 
_____________ 
5 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 18. ed., 2. tiragem. Rio de Janeiro: Companhia Editora Forense, 
2001, p. 247. 
6 BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. PINTO, Antonio Luiz de Toledo 
(Colab.); WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos (Colab.); CÉSPEDES, Livia (Colab.). Vade Mecum. 9. ed. 
atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 542. 
7 Ibidem, p. 548. 
8 BANDEIRA, Adriana Alves Lima. Delação premiada no direito positivo brasileiro. Trabalho de conclusão 
do curso de direito, Faculdade Farias Brito. Fortaleza-CE: 2007, p. 24. Apud COSTA, Marcos Dangelo da. 
Delação Premiada. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=1055.22109>. Acesso 
em 30 abr. 2010. 
9 JESUS, Damásio Evangelista de. Estágio atual da “delação premiada” no Direito Penal brasileiro. 
Disponível em: <http//jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7551>. Acesso em: 1º jun. 2010. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 13 
policial, obtendo assim o delator os benefícios previstos pelo instituto. E nesse sentido se 
posiciona Nucci: 
Quando se realiza o interrogatório de um co-réu [sic] e este, além de admitir a 
prática do fato criminoso de qual está sendo acusado, vai além e envolve outra 
pessoa, atribuindo-lhe algum tipo de conduta criminosa, referente à mesma 
imputação, ocorre a delação.10 
 
A exigência para que o delator também tenha participado da mesma conduta 
delituosa atribuída aos seus comparsas delatados é necessária na delação premiada, pois, caso 
aquele não tenha participado não passará de mera testemunha ou informante que presenciou 
fatos criminosos,11 onde, em tese, por não tomar parte, o delator já não teria imputação penal 
por atos praticados por terceiros. 
A colaboração do delator deve ser efetiva, onde as informações prestadas sejam 
eficientes para o desmantelamento e elucidação da trama criminosa. Como colaboração 
efetiva deve ser incluída a declaração de culpa do delator para a obtenção dos benefícios da 
delação, já que ele, ao negar os fatos que o são imputados, não estará auxiliando efetivamente 
com a investigação e o esclarecimento da infração penal. 
O delator ser coautor ou coparticipador permite que a delação premiada seja utilizada 
como exceção, sendo aplicada somente nos crimes em que ele tenha interesse processual 
direto. E esse entendimento é bom, pois ampliar demasiadamente a abrangência desse 
instituto para outros crimes, em que o delator agiria somente como informante, traria uma 
situação muito cômoda ao Estado, pois tiraria deste todo o interesse de investigar, bastando 
para isso somente prender um delator e exigir dele a denúncia dos comparsas de todos os atos 
por ele presenciados. 
1.2 Histórico da Delação Premiada 
A delação atrelada a um prêmio não é assunto novo, pois, há mais de dois mil anos, o 
guerreiro filosófico Sun-tzu trouxe para a humanidade a ideia de que é moral a utilização de 
_____________ 
10 NUCCI, Guilherme de Souza. O valor da confissão como meio de prova no processo penal. 2. ed. rev. e 
atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 213. 
11 CARVALHO, Natália Oliveira de. A delação premiada no Brasil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 98. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 14 
espiões para se conhecer o inimigo através da delação, inclusive com o pagamento de 
recompensas. Ele também trata como inteligentes e humanos os que se empregam desse 
artifício para abreviar uma operação militar chamando esta postura de talento organizacional 
valioso para a liderança.12 
Também se tem historicamente retratada a delação com paga quando o discípulo 
Judas Iscariotes, em troca de trinta moedas de prata, traiu Jesus Cristo para os príncipes dos 
sacerdotes, entregando-o assim ao poder dominante da época.13 
Na Idade Média, ainda no sistema inquisitório, utilizavam-se da delação do corréu, 
mas separavam a delação obtida sob tortura da obtida de forma espontânea. Quem delatasse 
espontaneamente estava predisposto a mentir somente para prejudicar outra pessoa, por isso, 
nesse período, a delação era valorada como um indício, pois, havia a presunção de “[...] que 
era mais fácil vir da boca do co-réu [sic] a mentira do que a verdade.”14 
No século XVIII, Cesare Beccaria tratou da delação premial, in verbis: 
 [...] De uma parte, as leis castigam a traição; de outro, autorizam-na. O legislador, 
com uma das mãos, aperta os laços de sangue e de amizade e, com a outra, dá o 
prêmio àquele que os rompe. Sempre em contradição com ele mesmo, ora tenta 
disseminar a confiança e encorajar os que duvidam, oraespalha a desconfiança em 
todos os corações. Para prevenir um crime, faz com que nasçam cem.15 
 
Tempos atrás, afixavam-se cartazes em locais públicos com o objetivo de se obter 
informações que levassem à prisão de indivíduos procurados, quem delatasse era 
recompensado em dinheiro. Atualmente, essa forma de delação, com paga em dinheiro, ainda 
é utilizada, tendo como diferença daquela, o fato de que os cartazes são virtuais e que estão 
disponíveis em páginas eletrônicas publicadas na rede internacional de computadores. Os 
_____________ 
12 SUN-TZU. A arte da guerra. 9. reimpr. da 1. ed. de 1994. São Paulo: Pensamento, 2007, p. 191 e 193. 
Traduzido do chinês por Thomas Cleary. Tradução Euclides Luiz Calloni, Cleusa M. Wosgrau. Disponível em: 
<http://books.google.com.br/books?id=u_JBHNI85WUC&printsec=frontcover>. Acesso em: 18 maio 2010. 
13 BÍBLIA. N. T. Mateus. Português. Bíblia Sagrada. Trad. de João Ferreira de Almeida. Brasília: Sociedade 
Bíblica do Brasil, 1969, i1997, cap. 26, vers. 14-16. 
14 GUIDI, José Alexandre Marson. Delação Premiada no combate ao crime organizado. São Paulo: Lemos & 
Cruz: 2006, p. 101. 
15 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. 5. reimpr. da 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2008, p. 67-68. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 15 
Estados Unidos da América, através de seu Serviço Federal de Investigação (FBI, sigla 
original em inglês), utilizam-se desse método para localização de criminosos importantes.16 
No Brasil, Tiradentes, o mártir da inconfidência mineira, foi traído por Joaquim 
Silvério dos Reis que recebeu em troca da delação o perdão da sua dívida existente perante a 
Fazenda Real.17 
1.3 No Direito Comparado Italiano 
Na Itália, a colaboração processual é conhecida como “pattegiamento [...] em prol do 
desmantelamento da máfia”18 ou pentitismo, sendo que esse último surgiu com os pentiti 
(arrependidos, tradução do italiano) que são pessoas que deixam de participar da organização 
criminosa ao qual pertenciam e passam a colaborar com a justiça. 
O pentitismo é utilizado para desarticular a máfia, para libertação de pessoas vítimas 
de sequestro com finalidades terroristas ou de desestruturação da ordem democrática estatal. 
Os benefícios obtidos com a delação vão desde a redução da pena condenatória, como a 
substituição da pena de prisão perpétua por uma pena mais branda. 
O auxílio dado pelo pentiti deve ocorrer nos crimes em que ele atuou em concurso 
com a organização, e a delação tem como objetivos: a diminuição dos efeitos do crime, a 
confissão de sua participação nas condutas delituosas ou o impedimento de que sejam 
cometidos crimes conexos ao que foi delatado.19 
_____________ 
16 COSTA, Marcos Dangelo da. Delação Premiada. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/? 
artigos&ver=1055.22109>. Acesso em 30 abr. 2010. 
17 FREITAS, Newton. Delação Premiada. Disponível em: <http://www.newton.freitas.nom.br/artigos.asp? 
cod=240>. Acesso em: 30 abr. 2010. 
18 BRASILEIRO, Renato. Lavagem ou Ocultação de Bens : Lei 9.613, 03.03.1998. In: GOMES, Luiz Flávio 
(Coord.); CUNHA, Rogério Sanches (Coord.). Legislação criminal especial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2009, v. 6, p. 562. 
19 GUIDI, José Alexandre Marson. Delação Premiada no combate ao crime organizado. São Paulo: Lemos & 
Cruz: 2006, p. 101-105. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 16 
1.4 No Direito Comparado Americano 
Nos Estados Unidos da América, como forma de colaboração processual existe a 
figura do plea bargaining, onde a acusação negocia a pena com o acusado colaborador. Lá o 
Ministério Público é titular para a propositura da ação e o poder de atuação desse órgão é bem 
amplo, podendo conduzir investigações policiais, não propor ação penal (independente de 
manifestação do magistrado), realizando acordos com a defesa ou levando o processo para 
solução do Poder Judiciário.20 
O plea bargaining pode ser utilizado em todos os processos, mesmo nas hipóteses 
onde o indivíduo cometeu o crime sozinho, sem coparticipação ou coautoria. Mas não existe 
impedimento para que esse instituto seja empregado na delação de outros membros de uma 
organização criminosa. “Assim, é comum nos Estados Unidos existir prêmio àqueles que 
colaboram para a elucidação de delitos, principalmente em se tratando de crimes complexos 
cometidos por evoluídas organizações.”21 
Dessa forma, o indivíduo confessa a sua participação no crime e presta informações 
que levem à prisão e a condenação dos demais membros participantes da organização 
criminosa. E com essa atitude, é encontrada para o delator “[...] uma saída amena para [a] 
situação, em que está excluída a absolvição, trata-se da construção de um sistema de 
culpados.”22 Mas obterá benefícios como uma pena mais abrandada, a possibilidade de que 
não seja proposto outro processo contra ele ou a exclusão de eventuais processos existentes.23 
_____________ 
20 GUIDI, José Alexandre Marson. Delação Premiada no combate ao crime organizado. São Paulo: Lemos & 
Cruz: 2006, p. 105. 
21 KOBREN, Juliana Conter Pereira. Apontamentos e críticas à delação premiada no direito brasileiro. 
Teresina: Jus Navigandi, ano 10, n. 987, 15 mar. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/ 
imprimir.asp?id=8105>. Acesso em: 20 maio 2010. 
22 GOMES, Milton Jordão de Freitas Pinheiro. Plea bargaining no Processo Penal: perda das garantias. 
Disponível em <www.jus.com.br>. Acesso em 19 jul. 2007. Apud GUIDI, op. cit., p. 105-106. 
23 ARANHA, Adalberto José Q. T. de Camargo. Da prova no processo penal. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: 
Saraiva, 2006, p. 136. Apud BRASILEIRO, Renato. Lavagem ou Ocultação de Bens : Lei 9.613, 03.03.1998. In: 
GOMES, Luiz Flávio (Coord.); CUNHA, Rogério Sanches (Coord.). Legislação criminal especial. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2009, v. 6, p. 562. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 17 
1.5 No Direito Comparado Espanhol 
Na Espanha, a colaboração processual, é tratada pelas normas penais e processuais 
penais para combater as associações ou organizações dedicadas aos crimes de terrorismo, de 
tráfico ilícito de entorpecentes e contra a saúde pública; sendo chamada no cotidiano como 
delincuente arrepentido (delinquente arrependido, tradução do espanhol).24 
Nesse sistema é exigido do arrependido que abandone voluntariamente as atividades 
ilícitas, confesse seus atos, identifique ou leve diretamente até a justiça os demais membros da 
organização criminosa ou evite que o resultado criminoso se consuma.25 “Na verdade, o 
legislador espanhol consagra a colaboração tanto preventiva quanto repressiva, exigindo que a 
colaboração seja eficaz para a concessão da benesse.”26 E, agindo dessa forma, o arrependido 
poderá ter como benesse a pena excluída, atenuada ou remida. 
1.6 No Direito Comparado Alemão 
Na Alemanha, o instituto de colaboração processual é chamado de 
“Kronzeugenregelung ou a regulação dos testemunhos [...]”27 e ocorre quando o indivíduo 
voluntariamente impede que a associação criminosa tenha continuidade ou denuncia a 
associação à autoridade, impedindo assim o cometimento de um crime de que se tenha 
ciência. “O agente não será punido mesmo que o resultado não seja obtido por circunstâncias 
alheias à sua vontade.”28 
Como benefício pela colaboração processual é previsto para o agente que a pena seja 
diminuída ou não aplicada, que a ação penal seja dispensada ou que seja arquivado o 
_____________ 
24 GUIDI, op. cit, p. 107-108. 
25 VILLAREJO, Julio Diaz-Maroto. Algunos aspectos jurídicos-penales y procesales de la figura del 
“arrepentido”. Revista Ibero-Americana de Ciências Criminais, ano 1, n. 0, maio/ago. 2000. Apud GUIDI, José 
Alexandre Marson. Delação Premiada no combate ao crime organizado. São Paulo: Lemos & Cruz: 2006, p. 107. 
26 KOBREN, Juliana ConterPereira. Apontamentos e críticas à delação premiada no direito brasileiro. 
Teresina: Jus Navigandi, ano 10, n. 987, 15 mar. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/ 
imprimir.asp?id=8105>. Acesso em: 20 maio 2010. 
27 GUIDI, op. cit., p. 108-109. 
28 Ibidem, loc. cit. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 18 
procedimento já iniciado. Tudo isso para se evitar que novos crimes sejam praticados, 
permitindo a apuração ou a captura dos demais envolvidos.29 
1.7 No Direito Comparado Colombiano 
Na Colômbia, o direito premial foi criado como forma processual para combater 
especialmente o narcotráfico. Para se utilizar desse direito o agente deve voluntariamente 
delatar os copartícipes da conduta delituosa, com provas eficazes de suas imputações e que 
essas provas estejam de acordo com os termos da delação. O agente recebe os benefícios da 
delação independentemente da confissão de seus crimes.30 
Aquele que auxiliar a justiça delatando os demais membros pode receber como 
benefícios a diminuição da pena, liberdade provisória, substituição da pena privativa de 
liberdade e inclusão no programa de proteção a vítimas e testemunhas. E caso o agente 
confesse sua participação nos crimes é admitida uma redução da pena em um terço.31 
_____________ 
29 VILLAREJO, op. cit. Apud GUIDI, op. cit., p. 109. 
30 GUIDI, José Alexandre Marson. Delação Premiada no combate ao crime organizado. São Paulo: Lemos & 
Cruz: 2006, p. 109-110. 
31 Ibidem, loc. cit. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 19 
Capítulo 2 
DELAÇÃO PREMIADA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 
No Brasil a delação premiada, apesar de possuir previsão legislativa desde o século 
XVII nas Ordenações Filipinas, deixou de existir em 1830, revogada pelo Código Criminal do 
Império, só retornando ao ordenamento jurídico pátrio 160 anos depois, a partir do ano de 
1990, com a instituição da lei nº 8.072/90 (Lei de crimes hediondos) que prevê a concessão de 
prêmio ao réu-delator.32 
Além da citada lei, o ordenamento comporta o instituto da delação premiada em 
normas dispersas, notadamente as seguintes: Decreto-Lei nº 2.848/40 (Código Penal 
Brasileiro), Lei nº 7.492/86 (Lei de crimes do colarinho branco), Lei nº 8.137/90 (Lei de 
crimes contra ordem tributária), Lei nº 9.034/95 (Lei de prevenção ao crime organizado), Lei 
nº 9.613/98 (Lei contra a lavagem de dinheiro), Lei nº 9.807/99 (Lei de proteção à testemunha 
e à vítima de crime) e Lei nº 11.343/06 (Lei antitóxico), que revogou a Lei nº 10.409/02 (que 
será igualmente analisada por advir do mesmo instituto jurídico da norma que a revogou e 
pelo cuidado de se verificar como versava antes e como ficou o texto revogador). 
Consta afirmar que as referidas normas comportam mecanismos distintos para que o 
delator se beneficie do prêmio, portanto não há um padrão no tratamento do instituto da 
delação premiada. De sorte que a intenção do legislador pátrio de reprimir a criminalidade 
surgiu eivada de imperfeições nas regras que asseguram a delação premiada, em princípio 
pela falta de harmonia entre os regramentos acima citados. 
Não contrário a isso, do ponto de vista teleológico, observa-se que tal mecanismo é 
de grande importância no combate à criminalidade e guarda consenso com a finalidade 
perseguida pelo legislador. Assim, passa-se a demonstrar as diferentes formas do instituto da 
delação premiada previstas na legislação brasileira. Antes, porém, é importante informar que 
alguns mecanismos não serão trazidos ao estudo de forma cronológica, mas de forma 
conjugada para facilitar o enfrentamento do tema. 
_____________ 
32 GAZZOLA, Gustavo dos Reis. Delação Premiada. In: CUNHA, Rogério Sanches (Coord.); TAQUES, Pedro 
(Coord.); GOMES, Luiz Flávio (Coord.). Limites constitucionais da investigação. 1. ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2009, p. 150-152. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 20 
2.1 Leis dos Crimes Hediondos e do Crime de Extorsão Mediante Sequestro 
A Constituição Federal de 1988 trouxe a previsão dos crimes hediondos no inciso 
XLIII, do artigo 5º, deixando a cargo de lei infraconstitucional a definição dos tipos penais 
que se enquadrariam nesse instituto e os parâmetros para sua configuração.33 Diante disso, o 
legislador pátrio editou a Lei nº 8.072/90.34 Como se sabe, a tramitação desta norma ocorreu 
em momento de grande instabilidade da segurança pública nacional, tendo em vista a onda de 
crimes que ocorriam em determinados setores da sociedade. Sobre esse aspecto, Antônio 
Lopes Monteiro afirma o que se segue: 
Para tentar explicar essa pressa, o que não justifica de forma alguma as imprecisões 
contidas e os conflitos gerados, devemos entender o momento de pânico que atingia 
alguns setores da sociedade brasileira, sobretudo por causa da onda de seqüestros 
[sic] no Rio de Janeiro, culminando com o do empresário Roberto Medina, irmão do 
Deputado Federal pelo Estado do Rio de Janeiro, Rubens Medina, considerado a 
gota d’água para a edição da lei. [...] A sociedade exigia uma providência drástica 
para por fim ao ambiente de insegurança vivido no País. O governo precisava dar ao 
povo a sensação de segurança.35 
 
Pois bem, o artigo 1º da Lei nº 8.072/90,36 relaciona de forma taxativa os crimes, 
tanto consumados quanto tentados, considerados hediondos: homicídio, quando praticado em 
atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente; homicídio 
qualificado; latrocínio; extorsão qualificada pela morte; extorsão mediante sequestro e na 
forma qualificada; estupro; estupro de vulnerável; epidemia com resultado morte; falsificação, 
corrupção e adulteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais; e genocídio. 
Observa-se que o rol citado comporta forma mais severa, com penas mais rigorosas, 
sendo insuscetíveis de anistia, graça, indulto, fiança e liberdade provisória, com início da 
pena, necessariamente, em regime fechado, conforme previsto em seu artigo 2º e incisos. O 
Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 80.886, corroborou a constitucionalidade 
desse artigo afirmando o seguinte: 
_____________ 
33 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. PINTO, Antonio Luiz de 
Toledo (Colab.); WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos (Colab.); CÉSPEDES, Livia (Colab.). Vade Mecum. 
9. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 9. 
34 Idem. Lei n. 8.072 de 25 de julho de 1990. Ibidem, p. 1430 et seq. 
35 MONTEIRO, Antonio Lopes. Crimes hediondos: textos, comentários e aspectos polêmicos. 5. ed. São 
Paulo: Saraiva, 1997. p. 4. 
36 BRASIL. Lei n. 8.072 de 25 de julho de 1990. PINTO, op. cit., loc. cit. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 21 
A Lei 8.072/90, que dispõe sobre os crimes hediondos, atendeu ao comando 
constitucional. Considerou o tráfico ilícito de entorpecentes como insuscetível dos 
benefícios da anistia, graça e indulto (art. 2º, II). E, ainda, não possibilitou a 
concessão de fiança ou liberdade provisória (art. 2º, II). A jurisprudência do 
Tribunal reconhece a constitucionalidade desse artigo.37 
 
O teor da decisão elencada acima demonstra a gravidade que o legislador pátrio 
atribuiu àqueles crimes. Atentando-se a isso, o parágrafo único do artigo 8º, da Lei de Crimes 
Hediondos, “[...] introduziu instituto que vinha sendo adotado no exterior para o combate 
aberto ao terrorismo: a delação premiada [...]”38 que prevê a redução da pena de um a dois 
terços para o participante ou associado que possibilite o desmantelamento do bando ou da 
quadrilha,39 por intermédio de denúncia às autoridades. Por isso o instituto da delação 
premiada constitui-se um grande atrativo para o transgressor delatar seus comparsas, 
contribuindo para a solução do crime e auxiliando com a justiça. 
Damásio de Jesus comenta que o conceito do desmantelamentoé um problema que 
deve ser abalizado pela jurisprudência avaliando-se o caso concreto para determinar se 
ocorreu ou não o desfazimento da quadrilha ou bando.40 Entende-se, porém, que o 
enfrentamento do citado conceito nem sempre carece de pronunciamento jurisdicional, em se 
tratando de quadrilha ou de bando com componentes diversos, se a delação alcançar 
efetivamente a separação do grupo, afetando-o de modo que seus objetivos criminosos sejam 
frustrados, onde haverá o desmantelamento. 
Por outro caminho, a redação primitiva do artigo 7º da Lei nº 8.072/90 sobrepôs um 
parágrafo ao artigo 159 do Código Penal, posteriormente modificado pela Lei nº 9.269/96, 
aduzindo que o delito deveria ser cometido por um bando ou quadrilha para ensejar o direito 
ao prêmio da delação. Não obstante, a modificação feita inovou e substituiu os termos bando 
ou quadrilha por em concurso e coautor por concorrente, bastando que o réu-delator tenha se 
reunido com, no mínimo, outra pessoa para a prática do delito. 
_____________ 
37 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Penal. Processual Penal. Habeas Corpus n. HC 80.886, Relator: Ministro 
Nelson Jobim, Brasília, DF, 22 de maio de 2001. DJ de 14-6-02. Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/ 
jurisprudencia/visualizarEmenta.asp?s1=000100041&base=baseAcordaos>. Acesso em 30 maio 2010. 
38 FRANCO, Alberto Silva. Crimes Hediondos. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 335. 
39 BRASIL. Lei n. 8.072 de 25 de julho de 1990. PINTO, Antonio Luiz de Toledo (Colab.); WINDT, Márcia 
Cristina Vaz dos Santos (Colab.); CÉSPEDES, Livia (Colab.). Vade Mecum. 9. ed. atual. e ampl. São Paulo: 
Saraiva, 2010, p. 1430 et seq. 
40 JESUS, Damásio Evangelista de. Anotações à Lei 8.072/90: Fascículos de Ciências Penais. n. 4, Porto 
Alegre: Forense, 1990, p. 4. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 22 
No que concerne o Decreto-Lei nº 2.848/40, Código Penal, mais especificamente o § 
4º do artigo 159 (extorsão mediante sequestro), contempla: “Se o crime é cometido em 
concurso, o concorrente que denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, 
terá sua pena reduzida de um a dois terços”41. Depreende-se desse dispositivo que a delação 
premiada é uma causa de diminuição de pena ao delator que tenha atuado em quaisquer das 
posições subjetivas do crime extorsão mediante sequestro consumado e que proceda a delação 
voluntariamente. Quanto à eficácia da delação, deve-se entender que o prêmio está adstrito a 
libertação eficaz do sequestrado, bem como que a integridade física dele esteja preservada. 
Assim observa-se que o instituto da delação prevista no Código Penal, visa favorecer a 
libertação do sequestrado e imputar a devida punição aos demais concorrentes que 
continuaram na transgressão penal. 
Por uma análise conjugada entre os dispositivos elencados acima, no que concerne ao 
prêmio da delação, entende-se que ambos podem figurar num mesmo caso concreto, ou seja, o 
§ 4º do artigo 159 do Código Penal pode ser cumulado com o parágrafo único do artigo 8º da 
Lei 8.072/90, porquanto as citadas previsões comportam objetivos diversos; a libertação do 
sequestrado e o desmantelamento da quadrilha ou bando. De sorte que, se as informações 
prestadas pelo delator às autoridades possibilitarem a libertação do sequestrado, bem como o 
desfazimento da quadrilha ou bando, sua pena privativa de liberdade final, sendo reconhecido 
o concurso material entre os dois delitos, deverá ser mensurada considerando ambos os 
prêmios. 
2.2 Leis dos Crimes de Colarinho Branco e dos Crimes Contra a Ordem 
Tributária 
Inicialmente, cumpre sobressaltar que, embora se tratem de crimes diversos, a lei que 
versa sobre os crimes contra o sistema financeiro nacional, mais conhecida como lei do 
colarinho branco, e a lei de crimes de ordem tributária, serão expostas nesse tópico do 
trabalho monográfico em conjunto, tendo em vista que ambas tiveram o instituto da delação 
_____________ 
41 BRASIL. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. PINTO, Antonio Luiz de Toledo 
(Colab.); WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos (Colab.); CÉSPEDES, Livia (Colab.). Vade Mecum. 9. ed. 
atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 559. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 23 
premiada alterados pela Lei nº 9.080/95 e por conterem em seu bojo, basicamente, o mesmo 
texto normativo. Superada essa explicação, passa-se a discorrer sobre as referidas leis. 
Percebe-se que a Lei nº 7.492/86, que versa sobre os crimes contra o sistema 
financeiro nacional, busca alcançar um tipo de criminoso distinto, ou seja, aquele que detém 
poderes diretivos e econômicos. Por esse motivo, foi intitulada pela doutrina de crimes do 
colarinho branco. Como se sabe, alcançar criminosos dessa monta não é tarefa das mais 
fáceis. Com essa consciência, a Lei nº 9.080/95 introduziu na norma o instituto da delação 
premiada, com vistas a facilitar a elucidação de crimes envolvendo controladores e 
administradores de instituições financeiras e assimiladas, na forma disposta abaixo: 
Art. 25. São penalmente responsáveis, nos termos desta lei, o controlador e os 
administradores de instituição financeira, assim considerados os diretores, gerentes 
(vetado). 
[...] 
§ 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-
autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial 
ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços. 
(Incluído pela Lei nº 9.080, de 19.7.1995)42 
 
No que concerne à lei de crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as 
relações de consumo o legislador pátrio editou a Lei nº 8.137/90, visando em síntese: 
controlar a supressão ou redução de tributos, informações falsas ou omissas no que concerne 
ao fato gerador desses encargos; manter incólume a saúde econômica nacional; e, evitar os 
abusos inerentes às relações de consumo. Desse modo, os artigos 1º ao 7º, e seus incisos 
correspondentes, enumeram o rol de condutas tipificadas como crimes na citada norma. O 
parágrafo único dessa lei, a exemplo de outras normas aqui estudadas, faz referência ao 
instituto da delação premiada, visando livrar a ordem tributária das condutas tipificadas e 
punir exemplarmente os envolvidos. Nesse sentido, dispõe o artigo 16 e seu parágrafo único: 
Art. 16. Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público nos 
crimes descritos nesta lei, fornecendo-lhe por escrito informações sobre o fato e a 
autoria, bem como indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção. 
Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-
autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à 
_____________ 
42 BRASIL. Lei n. 7.492 de 16 de junho de 1986. PINTO, Antonio Luiz de Toledo (Colab.); WINDT, Márcia 
Cristina Vaz dos Santos (Colab.); CÉSPEDES, Livia (Colab.). Vade Mecum. 9. ed. atual. e ampl. São Paulo: 
Saraiva, 2010, p. 1407. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 24 
autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um 
a dois terços. (Parágrafo incluído pela Lei nº 9.080, de 19.7.1995)43 
 
Em ponderação ao disposto na norma, José Carlos Gobbis Pagliuca faz o seguinte 
comentário acerca da delação premiada na Lei nº 8.137/90: 
Como narra o art. 16, parágrafo único, da Lei nº 8.137/1990, o agente ativo que 
prestar informações relevantes à polícia ou à Justiça, a respeito da delinqüência, terá 
redução de pena de 1/3 a 2/3, não se exigindo que sua colaboração impeça ou evite o 
prejuízo fiscal. Basta a vontade em prestar informações idôneas a desbaratar os 
crimes.44 
 
Como elucidado no início do tópico, tanto a Lei 7.492/86 (art. 25, § 2º) que versa 
sobre os crimes do colarinho branco, comoda Lei 8.137/90 (art. 16, parágrafo único) que 
dispõe sobre os crimes contra ordem tributária, em ambas o instituto da delação premiada é 
tratado de forma idêntica. Depreende-se ainda que na alteração dos respectivos parágrafos, 
imprimidas pela Lei nº 9.080/95, o legislador se valeu do termo “confissão espontânea”. 
Dito isso, deduz-se dos dispositivos legais e da elucidação trazida pelo autor 
supramencionado, que os crimes cometidos em quadrilha ou com mais de dois agentes, sendo 
um deles coautor ou partícipe que traga elucidação de toda a rede de delitos, ainda que não 
obstaculize a consecução dos crimes, enseja o prêmio da delação premiada. Depreende-se 
ainda que a norma exija a confissão espontânea do agente para que o prêmio seja efetivado, 
nesse ponto específico, as leis que versam sobre o instituto da delação premiada não guardam 
sintonia, ora se exige espontaneidade, ora voluntariedade. No caso das leis em comento, a 
exigência é ainda mais ímpar, pois além da espontaneidade há a figura da confissão, enquanto 
que em outras a simples cooperação garante o prêmio. 
2.3 Lei Contra o Crime Organizado 
Constitui-se de senso comum o fato de que as organizações criminosas possuem uma 
estrutura cada dia mais complexa. Nesse ínterim, o legislador brasileiro editou a Lei nº 
9.034/95 com o intento de criar mecanismos de repressão ao crime organizado. Outra vez, 
_____________ 
43 Idem. Lei n. 8.137 de 27 de dezembro de 1990. Ibidem, p. 1457-1458. 
44 PAGLIUCA, José Carlos Gobbis. Direito penal: legislação especial e execução penal. São Paulo: Rideel, 
2008, p. 61. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 25 
incluiu no texto da mencionada norma o instituto da delação premiada, visando se valer desse 
mecanismo para facilitar a aplicação da lei penal contra os envolvidos. Não há que se 
esquecer que as instituições criminosas são dotadas de grande força e que a delação é bastante 
eficaz para combatê-las. Nesse caminho, dispõe o artigo 6º: “Nos crimes praticados em 
organização criminosa, a pena será reduzida de um a 2/3 (dois terços), quando a colaboração 
espontânea do agente levar ao esclarecimento de infrações penais e sua autoria.”45 
Pela leitura atenta deste dispositivo legal, depreende-se que a delação premiada só 
alcança o agente que tiver tomado parte da organização criminosa e que de forma espontânea 
delate seus comparsas. Deve ser atentado que a espontaneidade distingue-se de colaboração 
voluntária, como afirma Damásio de Jesus procedendo à diferenciação dos institutos: 
Voluntário é o ato produzido por vontade livre e consciente do sujeito, ainda que 
sugerido por terceiros, mas sem qualquer espécie de coação física ou psicológica. 
Ato espontâneo, por sua vez, constitui aquele resultante da mesma vontade livre e 
consciente, cuja iniciativa foi pessoal, isto é, sem qualquer tipo de sugestão por parte 
de outras pessoas.46 
 
Tornou-se necessária essa diferenciação, pois outros dispositivos legais que dispõem 
sobre a delação premiada não exigem a espontaneidade. De sorte que, especificamente nessa 
lei, para a concessão do prêmio delatório não importa a causa que levou o agente a denunciar 
seus comparsas, mas é imprescindível que o ato tenha sido espontâneo. 
Ademais, o prêmio delatório não se restringe a delação dos crimes praticados pela 
organização, mas também pela revelação da própria instituição criminosa, obviamente porque 
constitui delito organizar-se com o fito de cometer crimes. Assim, na elucidação da própria 
organização criminosa, uma transgressão penal já está presente. Observa-se, portanto, que, 
diversamente do que ocorre com parágrafo único do artigo 8º da Lei 8.072/90, a lei contra o 
crime organizado, não exige o desmantelamento da organização, bastando que o delator 
aponte ou exponha a existência de violações penais no tempo e no espaço, bem como que 
indique os comparsas que tomaram parte dela. 
_____________ 
45 BRASIL. Lei nº 9.034 de 3 de maio de 1995. PINTO, Antonio Luiz de Toledo (Colab.); WINDT, Márcia 
Cristina Vaz dos Santos (Colab.); CÉSPEDES, Livia (Colab.). Vade Mecum. 9. ed. atual. e ampl. São Paulo: 
Saraiva, 2010, p. 1.566. 
46 JESUS, Damásio Evangelista de. Estágio atual da “delação premiada” no Direito Penal brasileiro. 
Disponível em: <http//jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7551>. Acesso em: 1º jun. 2010. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 26 
Entende-se ainda que a lei não pontuou limite temporal para a cooperação do agente, 
por isso a delação poderá ocorrer em qualquer fase, desde o inquérito até após o trânsito em 
julgado da condenação, hipótese última em que o prêmio será perquirido incidentalmente na 
Vara das Execuções. 
2.4 Lei Contra a Lavagem de Dinheiro 
Como se viu no tópico anterior, as organizações criminosas são dotadas de 
complexidade e visam, evidentemente, auferir lucros gigantescos com suas atividades ilegais. 
Não há dúvidas que a Lei contra lavagem de dinheiro está intimamente ligada ao combate do 
crime organizado. Atento a esse fato, André Luís Callegari aduz o seguinte: 
O crime organizado, mercê de suas atividades ilícitas (tráfico de drogas, contrabando 
de armas, extorsão, prostituição, etc.), dispõe de fundos colossais, mas, inutilizáveis 
enquanto possam deixar pistas de sua origem. Da necessidade de ocultar e reinvestir 
as ingentes fortunas obtidas, ora para financiar novas atividades criminosas, ora para 
a aquisição de bens diversos, surge a lavagem de dinheiro com o fim último de 
evitar o descobrimento da cadeia criminal e a identificação de seus autores.47 
 
Segundo Marcelo Batlouni Mendroni, a “lavagem de dinheiro poderia ser definida 
como método pelo qual um indivíduo ou uma Organização Criminosa processa os ganhos 
financeiros obtidos com atividades ilegais, buscando trazer a sua aparência de obtidos 
licitamente”.48 Diante do externado, deduz-se que a lavagem de dinheiro é um mecanismo 
usado pelos criminosos, organizados ou não, para transformar os recursos advindos da 
criminalidade em posses supostamente legítimas. Percebe-se, porém, que a eficácia da 
lavagem de dinheiro depreende da colaboração de outros indivíduos, por exemplo, os ligados 
ao governo ou às instituições financeiras, bem como pode ocorrer por meio de negócios de 
fachadas. 
Como se observa, o problema da lavagem de dinheiro envolve pessoas que 
dificilmente seriam descobertas através de investigações criminais. Desse modo, o legislador 
_____________ 
47 CALLEGARI, André Luís. Imputações objetivas: lavagem de dinheiro e outros temas de direito penal. 2. 
ed. rev. Ampl. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2004, p. 55. 
48 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Tópicos essenciais da lavagem de dinheiro. Revista dos Tribunais, ano 90. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 787, maio 2001, p. 481. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 27 
pátrio, com a finalidade de identificar os principais agenciadores dessa conduta criminosa, 
estabeleceu no § 5º, artigo 1º, da Lei nº 9.613/98, a delação premiada nos seguintes termos: 
§ 5º. A pena será reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços) e começará a ser cumprida 
em regime aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena 
restritiva de direitos se o autor, co-autor [sic] ou partícipe colaborar 
espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à 
apuração das infrações penais e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou 
valores objeto do crime.49 
 
Oportuno falar que a norma supramencionada trouxe inovação, tendo em vista que 
não restringiu o prêmio à redução da pena, mas sugere prêmios bem mais atrativos: a 
aplicação da pena em regime aberto, a conversão de pena privativa de liberdade em pena 
restritiva de direitos e a não aplicação de pena. Para a concessão do prêmio delatório na formaestabelecida será necessário, além da prática do crime, que o delator tenha participação ativa 
no crime como autor, coautor ou partícipe e que haja uma relação de causa-efeito entre a 
colaboração do agente e o esclarecimento da infração e de sua autoria ou o resgate dos objetos 
do crime. 
Nota-se que o legislador estabeleceu novamente a espontaneidade da cooperação, ou 
seja, que o agente delate de forma eficaz seus comparsas por vontade livre, consciente e por 
iniciativa própria, sem a ingerência de outras pessoas. Em decorrência da espontaneidade, o 
prêmio não pode ser concedido de ofício pelo juiz, por isso é necessário a provocação do 
Poder Judiciário para a eficácia da delação. 
2.5 Lei de Proteção às Vítimas, às Testemunhas e aos Delatores de Crimes 
Como se observa no bojo desse capítulo, a delação premiada foi introduzida no 
ordenamento jurídico com a finalidade de elucidar crimes de difícil solução, praticados em 
concurso de agentes, com a colaboração do delator que é agraciado com um prêmio, que pode 
ser a redução da pena, e até mesmo a não aplicação da pena, dentre outros. 
_____________ 
49 BRASIL. Lei nº 9.613 de 3 de março de 1998. PINTO, Antonio Luiz de Toledo (Colab.); WINDT, Márcia 
Cristina Vaz dos Santos (Colab.); CÉSPEDES, Livia (Colab.). Vade Mecum. 9. ed. atual. e ampl. São Paulo: 
Saraiva, 2010, p. 1.653. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 28 
Não obstante, a delação premiada compromete a segurança do delator quem sabe de 
sua família, diante das ameaças e ações vingativas havidas pelos comparsas delatados. Além 
disso, prevalece no senso comum a máxima da lei do silêncio, também ligada à insegurança, 
em que são submetidas às vítimas e testemunhas de crimes temendo represália de criminosos. 
Nessa conjuntura foi editada a Lei nº 9.807/99, denominada Lei de Proteção a 
Vítimas e Testemunhas, com a intenção de resguardar vítimas, testemunhas e réus delatores; 
sujeitos submetidos a riscos por colaborarem na elucidação de fatos criminosos. Antes de 
versar sobre o núcleo desse tópico, vale informar que não há possibilidade de a delação 
ocorrer de forma anônima, como ocorre com as vítimas e testemunhas, deixando os réus 
colaboradores mais expostos aos riscos de represália pelos seus comparsas. 
Diante disso, a referida norma além de disciplinar o instituto da delação, estabeleceu 
no artigo 15 em seus parágrafos 1º e 3º, importantes medidas de segurança e de proteção à 
integridade física dos réus colaboradores, assim dispostas: 
Art. 15. Serão aplicadas em benefício do colaborador, na prisão ou fora dela, 
medidas especiais de segurança e proteção a sua integridade física, considerando 
ameaça ou coação eventual ou efetiva. 
§ 1º Estando sob prisão temporária, preventiva ou em decorrência de flagrante 
delito, o colaborador será custodiado em dependência separada dos demais presos. 
§ 3º No caso de cumprimento da pena em regime fechado, poderá o juiz criminal 
determinar medidas especiais que proporcionem a segurança do colaborador em 
relação aos demais apenados.50 
 
A delação premiada vem estampada no artigo 14 da lei referenciada na seguinte 
hipótese: 
O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e 
o processo criminal na identificação dos demais co-autores [sic] ou partícipes do 
crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do 
produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.51 
 
Do artigo supracitado, colhem-se pontos relevantes para o presente estudo. 
Inicialmente, o legislador determinou que a colaboração derivasse da voluntariedade, já 
distinguida da espontaneidade nesta monografia, vez que o ato praticado deve surgir da 
_____________ 
50 BRASIL. Lei nº 9.807 de 13 de julho de 1999. PINTO, Antonio Luiz de Toledo (Colab.); WINDT, Márcia 
Cristina Vaz dos Santos (Colab.); CÉSPEDES, Livia (Colab.). Vade Mecum. 9. ed. atual. e ampl. São Paulo: 
Saraiva, 2010, p. 1.674. 
51 Ibidem, loc. cit. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 29 
vontade consciente e livre do delator, ainda que por sugestão de terceiros, mas sem coação 
psicológica ou física, desde que efetiva. Outro ponto importante é que o legislador pontuou os 
marcos para a colaboração do réu, na fase de investigação policial e/ou na fase processual, por 
isso, o trânsito em julgado de sentença condenatória obsta o prêmio da delação, 
diferentemente de outras previsões. Ainda, o artigo estudado deixa perceber que a delação é 
genérica, ou seja, diferentemente de outras leis verificadas, não restringe os crimes em que o 
instituto possa ser utilizado, de forma que o delator pode contribuir para o esclarecimento de 
qualquer um deles. 
Importante salientar que tal dispositivo não exige que o colaborador seja primário, 
logo, subentende-se que o indiciado ou o acusado possa ser reincidente. Faz-se necessário 
esclarecer esse ponto, tendo em vista que o artigo 13 da mesma lei prevê o perdão judicial 
como prêmio delatório para o réu primário que preencha os demais requisitos listados, quais 
sejam: identificação dos demais coautores ou partícipes do crime, localização da vítima com 
vida e recuperação total ou parcial do produto do crime 
Por último, cumpre ressaltar que a aplicação da Lei nº 9.807/99, apesar de constituir-
se de um grande avanço no sistema jurídico penal, não alcança a efetividade proposta, seja 
pela falta de verbas e programas garantidores da proteção, seja pelo descaso político pelo 
instituto. Por isso, prevalece o temor das vítimas, testemunhas e delatores do delito que se 
vêem recalcados no sentido de contribuírem com a elucidação de crimes, prevalecendo a lei 
do silêncio em virtude do medo de represália dos criminosos. 
2.6 Lei de Drogas 
O legislador brasileiro, com o objetivo de combater o tráfico ilícito de entorpecentes, 
introduziu no ordenamento jurídico, em princípio, a Lei nº 10.409/02, expressamente 
revogada pela Lei nº 11.343/06. Embora tenha sido revogada, para efeitos didáticos dessa 
monografia, necessário se faz analisar o instituto da delação premiada tal como previa a citada 
lei. 
A antiga Lei de Tóxicos dispunha sobre a prevenção, o tratamento dos dependentes, 
a fiscalização, o controle e a repressão à produção, ao uso e ao tráfico ilícitos de produtos, 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 30 
substâncias ou drogas ilícitas causadoras de dependência física ou psíquica, conforme lista 
editada pelo Ministério da Saúde. A citada norma previa a figura da delação premiada em dois 
parágrafos do artigo 32. Ocorre que, o caput desse artigo sofreu veto presidencial, deixando 
seus parágrafos comprometidos. Diante do veto, ocorreu verdadeira imperfeição legislativa, 
acerca disso, Rômulo Andrade Moreira fez a seguinte observação: 
Há quem entenda inaplicáveis estes dois parágrafos, exatamente pela falta do caput 
do art. 32, tornando-os “dispositivos legais juridicamente inócuos ou ineficazes”, 
devendo aplicar-se a respeito os arts. 13 e 14 da Lei 9.807/1999 (Lei de Proteção às 
Testemunhas). Preferimos a corrente que sustenta a aplicabilidade dos dois 
parágrafos, apesar da evidente balbúrdia legislativa ocasionada pelo veto parcial do 
art. 32, mesmo porque as disposições da Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas 
são menos amplas do que estes dois parágrafos. O perdão judicial, por exemplo, só é 
cabível para o colaborador primário e não há previsão de sobrestamento do inquérito 
policial.52 
 
De fato, não era admissível que não se aplicasse os dois parágrafos em virtude do 
veto do caput, tendo em vista o valor teleológico atribuído a eles. De todo modo, faz-se 
necessário reproduzir os parágrafos 2º e 3º da citada lei: 
§ 2º O sobrestamento do processo ou a redução da pena podem ainda decorrer de 
acordo entreo Ministério Público e o indiciado que, espontaneamente, revelar a 
existência de organização criminosa, permitindo a prisão de um ou mais dos seus 
integrantes, ou a apreensão do produto, da substância ou da droga ilícita, ou que, de 
qualquer modo, justificado no acordo, contribuir para os interesses da Justiça. 
§ 3º Se o oferecimento da denúncia tiver sido anterior à revelação, eficaz, dos 
demais integrantes da quadrilha, grupo, organização ou bando, ou da localização do 
produto, substância ou droga ilícita, o juiz, por proposta do representante do 
Ministério Público, ao proferir a sentença, poderá deixar de aplicar a pena, ou 
reduzi-la, de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços), justificando a sua decisão.53 
 
Colhe-se do parágrafo 2º que o Ministério Público possuía a prerrogativa de abster-se 
de continuar com o processo, bem como imputar redução de pena, por meio de acordo 
firmado com o próprio indiciado que, espontaneamente, contribuísse com os interesses da 
justiça, resguardadas as hipóteses elencadas no bojo do citado parágrafo. Ademais, deduz-se 
que se o oferecimento da denúncia antecedesse à revelação eficaz dos demais integrantes da 
_____________ 
52 MOREIRA, Rômulo de Andrade. A nova Lei de Tóxicos: aspectos processuais. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, ano 93, v. 825, jul. 2004, p. 458-459. 
53 BRASIL. Lei n. 10.409, de 11 de janeiro de 2002. Dispõe sobre a prevenção, o tratamento, a fiscalização, o 
controle e a repressão à produção, ao uso e ao tráfico ilícitos de produtos, substâncias ou drogas ilícitas que 
causem dependência física ou psíquica, assim elencados pelo Ministério da Saúde, e dá outras providências. 
L10409. Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10409.htm >. Acesso 
em: 30 maio 2010. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 31 
quadrilha, grupo, organização ou bando, ou da localização do produto, substância ou droga 
ilícita, aplicava-se o parágrafo 3º. Nessa hipótese, o juiz, em decorrência de proposta 
formulada pelo Ministério Público, na ocasião da sentença, poderia conceder o perdão judicial 
ou a reduzir a pena de um sexto a dois terços. Depreende-se ainda, que tais prêmios deveriam 
ser contemplados na sentença de forma justificada. 
Já Lei nº 11.343/06 que igualmente trouxe em seu texto a possibilidade da delação 
premiada em dois artigos, 41 e 49, mas de forma distinta da verificada na lei anterior. Assim 
dispõem os dispositivos legais: 
Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação 
policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes 
do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de 
condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços. 
[...] 
Art. 49. Tratando-se de condutas tipificadas nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 
desta Lei, o juiz, sempre que as circunstâncias o recomendem, empregará os 
instrumentos protetivos de colaboradores e testemunhas previstos na Lei no 9.807, 
de 13 de julho de 1999.54 
 
É patente a distinção entre a antiga norma e texto revogador no que diz respeito à 
forma de colaboração, que outrora deveria ser espontânea e atualmente exige-se apenas que a 
colaboração seja voluntária. 
Depreende-se ainda, que o objetivo da delação é a identificação dos demais coautores 
ou partícipes do crime e a recuperação total ou parcial do produto do crime. O benefício 
delatório previsto se restringe a redução de um a dois terços da pena, não há mais previsão de 
sobrestamento da pena como antevisto antes, tampouco a possibilidade de acordo entre o 
representante do Ministério Público e o indiciado. No que tange o artigo 49, a lei revogadora 
remete as hipóteses previstas nos artigos 33, caput e § 1º e 34 a 37 da lei, passíveis do prêmio 
da delação, à proteção prevista na lei de proteção às testemunhas. 
_____________ 
54 BRASIL. Lei nº 11.343 de 23 de agosto de 2006. PINTO, Antonio Luiz de Toledo (Colab.); WINDT, Márcia 
Cristina Vaz dos Santos (Colab.); CÉSPEDES, Livia (Colab.). Vade Mecum. 9. ed. atual. e ampl. São Paulo: 
Saraiva, 2010, p. 1.738-1739. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 32 
Capítulo 3 
CONSTITUCIONALIDADE DA DELAÇÃO PREMIADA 
O objeto principal deste estudo é a análise do instituto da delação premiada quanto a 
sua constitucionalidade. 
Essa verificação é indispensável para que se saiba se esse instituto encontra guarita 
no ordenamento jurídico brasileiro, principalmente no âmbito do direito processual 
constitucional na vertente da tutela constitucional do processo que “[...] é matéria atinente à 
teoria geral do processo [...] em sua dúplice configuração: a) direito de acesso à justiça (ou 
direito de ação e de defesa); b) direito ao processo (ou garantias do devido processo legal).”55 
Mas a delação premiada está baseada na ideia de que o estado foi ineficiente e a 
investigação pode ser abreviada, bastando, para isso, o Estado obter auxílio, com a oferta de 
um prêmio ao delator, que é diretamente interessado no desfecho do processo, por um sistema 
de trocas.56 
E a discussão sobre a constitucionalidade processual criminal da delação premiada 
ganha principal interesse, porque: 
[...] se de um lado há a idéia [sic] de trazer um indivíduo acusado de um crime a 
atuar como auxiliar da justiça na punição de seus co-autores [sic], por outro lado há 
um ataque aos princípios fundamentais sobre os quais se estrutura o Estado 
Democrático de Direito.57 
 
Portanto, são esses os motivos para que a delação premiada tenha sua 
constitucionalidade verificada. 
_____________ 
55 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria 
Geral do Processo. 26. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 86. 
56 COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda; CARVALHO, Edward Rocha de. Acordos de delação premiada e 
o conteúdo ético mínimo do estado. In: Revista Portuguesa de Ciência Criminal. [S.l.]: Editora Coimbra, ano. 
17, n. 1, p. 95-106, jan./mar. 2007, p. 97. 
57 TASSE, Adel El. Delação Premiada: Novo passo para um procedimento medieval. In: Ciências Penais - 
Revista da Associação Brasileira de Professores de Ciências Penais. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano. 3, p. 
269-283, jul./dez. 2006, p. 270. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 33 
3.1 A Moral e a Moralidade Administrativa na Delação Premiada 
A moral pode ser conceituada como “um conjunto de normas e regras destinadas a 
regular as relações dos indivíduos de uma comunidade social dada”58, ou “[...] que a moral 
baseia-se no comportamento da sociedade e que a ética, com a reflexão desse comportamento, 
criará normas universais com a finalidade de estabelecer as melhores ações”59, trazendo a 
noção de que o comportamento humano deve se basear em atitudes moralmente aceitas para 
que o indivíduo tenha a sensação de aceitação por seus demais pares. Sendo que essa 
aceitação já foi descrita por Ernest Hemingway: “Eu sei o que é moral apenas quando você se 
sente bem após fazê-lo e o que é imoral quando se sente mal após fazê-lo”60. 
Já Beccaria, reportando-se à traição como algo imoral onde inclusive deveria ser 
afastada da sociedade, assim se manifestou: 
As nações somente serão felizes quando a moral sã estiver intimamente ligada à 
política. Contudo, leis que dão prêmio à traição, que ateiam entre os cidadãos uma 
guerra clandestina, que fazem nascer suspeitas recíprocas, sempre se oporão a essa 
união tão necessária da política e da moral; união que propiciaria aos homens 
segurança e paz, que lhes diminuiria a miséria e que traria aos países mais 
prolongados intervalos de tranqüilidade [sic] e concórdia do que aqueles que até o 
presente desfrutaram.61 
 
A delação, que possui um cunho de traição, por quebrar o vínculo de confiança entre 
o denunciantee o denunciado, é vista na sociedade como algo imoral. “Toma-se, assim, a 
delação num sentido pejorativo, visto que, em regra, a consideram o produto de vingança ou 
ódio ou qualquer outra paixão, quando, além do desejo de fazer mal.”62 
_____________ 
58 VASQUÉS, Adolfo Sánchez. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969, p. 25. 
59 ALMEIDA, Guilherme Assis; CHRISTMANN, Martha Ochsenhofer. Ética e Direito: uma perspectiva 
integrada. São Paulo: Atlas, 2002, p. 15. 
60 HEMINGWAY, Ernest. Death in the afternoon. New York: Charles Scribner's Sons, 1932, p. 22. Apud 
CARVALHO, Luciano Limírio de. A moral, o direito, a ética e a moralidade administrativa. Disponível em: 
<http:// www.fucamp.com.br/nova/revista/revista0309.pdf>. Acesso em: 18 maio 2010. 
61 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. 5. reimpr. da 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2008, p. 67-68. 
62 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 18. ed., 2. tiragem. Rio de Janeiro: Companhia Editora Forense, 
2001, p. 247. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 34 
Sobre a traição pela delação premiada Damásio de Jesus assim já se pronunciou: 
“não nos parece correto premiar traidor com novos empregos, nova identidade e mudança 
para o exterior.”63 
Novamente sobre a delação premiada, onde o cúmplice de um crime, com a certeza 
da obtenção de algum benefício para si, trai a confiança de seus comparsas, Beccaria assim se 
manifestou: 
Certos tribunais oferecem a impunidade ao cúmplice de um grande delito que trair 
os seus colegas. Esse modo de proceder apresenta algumas vantagens; porém não 
está livre de perigos, pois a sociedade autoriza desse modo a traição, que repugna os 
próprios celerados. Introduz os delitos de covardia, muito mais funestos do que os 
delitos de energia e coragem, pois a coragem é pouco comum e aguarda somente 
uma força benéfica que a encaminhe para o bem público, enquanto que a covardia, 
muito mais geral, é um contágio que infecta muito depressa todas as almas. 
O tribunal que utiliza a impunidade para desvendar um crime demonstra que é 
possível ocultar tal crime, pois que ele o desconhece; e as leis atestam sua fraqueza, 
implorando a ajuda do próprio criminoso que as violou.64 
 
Mas o direito é valorativo podendo comportar diversos entendimentos e a 
racionalidade, apesar de balizar vários valores humanos, não é por si só um elemento que 
justifica uma imposição limitativa ao direito, nesse sentido: 
[...] o direito continua axiológico como inevitavelmente o é, mas seu valor não está 
prefixado por qualquer instância a ele anterior ou superior. Ele não é imposto pela 
infalibilidade do Papa ou da Santa Madre Igreja, pela natureza ou por qualquer 
escatologia, nem é fixado a partir desta ou daquela concepção que alguém tenha de 
“justiça” ou de “razão”. A “racionalidade”, tenha dimensão ética ou meramente 
instrumental e tecnológica, não se impõe por si mesma ao direito, e há profundas e 
inconciliáveis divergências quanto ao seu significado.65 
 
E nesse mesmo sentido há o entendimento de que existe um mínimo ético necessário 
à vida em sociedade onde é exigido que as relações humanas sejam adaptadas às normas 
jurídicas e às normas morais: 
Sendo o direito o mínimo ético indispensável à convivência humana, a obediência ao 
princípio da moralidade, em relação a determinados atos, significa que eles só serão 
_____________ 
63 JESUS, Damásio Evangelista de. O fracasso da delação premiada. In: Revista Jurídica do Ministério Público 
do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: JUS, XXVI, v. 18, 1995, p. 71. 
64 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. 5. reimpr. da 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2008, p. 47-48. 
65 BREUER, Ingeborg; LEUSCH, Peter; e MERSCH, Dieter. Welten im Kopf – Profile der 
Gegenwartsphilosophie. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1996, p. 9-31 e 121. Apud 
ADEODATO, João Maurício. Ética e retórica : para uma teoria da dogmática jurídica. 2. ed. rev. e ampl. São 
Paulo: Saraiva, 2006. p. 180. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 35 
considerados válidos se forem duplamente conformes à eticidade, ou seja, se forem 
adequados não apenas às exigências jurídicas, mas também às de natureza moral.66 
 
Continuando nessa linha de raciocínio, o moralismo jurídico de Vicktor Cathrein, na 
obra de Miguel Reale, permite certa flexibilização na aplicação da moral ao fato concreto, 
admitindo inclusive o julgamento baseado na dúvida surgida na justiça da lei, senão vejamos: 
[...] Se a justiça da lei é apenas duvidosa, o juiz pode, em regra, decidir segundo a 
lei; se, ao contrário, a injustiça da lei é manifesta, não pode cooperar em sua 
execução. A ordem jurídica natural constitui o limite intransponível da ordem 
positiva. Pode acontecer que, para se oprimirem minorias inconformadas, se 
promulguem determinadas leis evidentemente injustas, em cuja execução ninguém 
pode cooperar sem se tornar cúmplice. Em tais casos, o juiz contencioso tem o dever 
de renunciar à função de magistério.67 
 
Conforme citado, pela visão de Cathrein, se uma lei não é manifestadamente injusta, 
o magistrado pode sim utilizar-se dela, devendo-se afastar completamente de leis 
evidentemente injustas. Onde inclusive Reale se manifestou nesse mesmo sentido: 
Entre o mínimo da imoralidade apenas duvidosa e o máximo que converteria a regra 
jurídica em regra moral propriamente dita, abre-se um campo vastíssimo deixado às 
determinações do Poder, o que dá à concepção tomista do Direito uma reconhecida 
plasticidade: a virtude de corresponder, até certo ponto, ao mundo dos fatos 
concretos e contingentes.68 
 
E a delação premiada, que apresenta um conteúdo moral suspeito, pode ser aceita em 
um determinado ordenamento jurídico, bastando para isso, entender que a moral, aplicada ao 
mundo real, deve ser adequada às necessidades humanas, dessa forma: 
Não se confunda o moralismo jurídico com a velha Escola de Direito Natural, 
racionalista e abstrata, que idealizava uma ordem jurídica plena e perfeita, à luz de 
cujos dispositivos deveriam os legisladores e os juízes plasmar suas criações ou 
decisões jurídicas.69 
 
_____________ 
66 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de 
direito constitucional. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 968. 
67 CATHREIN, Viktor. Filosofia Morale. 2. ed. Florença, 1913, p. 615. Trad. de Eurico Tommasi. Apud 
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 484-485. 
68 Ibidem, p. 485-486. 
69 Ibidem, p. 282. 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
 36 
A delação premiada está baseada “[...] na mais pura ética e moral e ainda, é de 
essência puramente pedagógica, pois ensina que não há nada de mal em se arrepender de erros 
passados, bem como em tentar reparar ofensas feitas à sociedade [...]”70. 
Em virtude do instituto da delação premiada beneficiar diretamente à estrutura estatal 
brasileira, deve-se obrigatoriamente ser abordado o princípio da moralidade administrativa, 
previsto na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 37, caput, que assim é enunciado: “A 
administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, 
moralidade, publicidade e eficiência [...]”,71 pois a administração pública deve se pautar na 
moralidade administrativa para a tomada de suas decisões. 
E além da previsão constitucional, a Lei n. 9.784/9972 em seu artigo 2º, prevê a 
moralidade como um princípio a ser seguido pela Administração Pública; e, no parágrafo 
único, inciso IV, exige “atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé”73. 
Como ponto de partida, o princípio da moralidade administrativa deve ser observado 
“[...] também pelo particular que se relaciona com a Administração

Outros materiais