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ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS DE CABINE - AULA Nº 4 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ INSTITUTO DO AR CURSO DE CIÊNCIAS AERONÁUTICAS DISCIPLINA: ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS DE CABINE PROFESSORA: SELMA LEAL DE OLIVEIRA RIBEIRO 6º PERÍODO O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO EM CRM/ARC 1 - INTRODUÇÃO A comunicação tem caráter impulsionador nas organizações e grupos humanos, gerando forças indispensáveis à sua dinâmica, contribuindo para determinados comportamentos ou atuando na consecução de objetivos pré- estabelecidos ou não. Ao observarmos a dinâmica das organizações e grupos humanos percebemos a presença da comunicação (formal ou informal) como fator de desenvolvimento e preservação de sua cultura. Para que qualquer grupo humano trabalhe e se desenvolva de forma produtiva é necessária a comunicação. COMUNICAÇÃO é a utilização de qualquer meio pelo qual um pensamento é transmitido de pessoa a pessoa, sem perder, tanto quanto possível, sua intenção original. Como todas as organizações e grupos humanos reunidos em torno de um objetivo, a tripulação depende da comunicação para manter a dinâmica operacional e a consciência situacional. Podemos afirmar ser a comunicação o elo essencial para o estreitamento da lacuna entre a técnica (habilidades acadêmicas e operacionais) e o relacionamento interpessoal. 2 - O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO 2.1 Comunicação Efetiva Definição � Transmissão, com precisão, de mensagens para assegurar a segurança operacional.2.2 Elementos De início, podemos dizer que, em toda comunicação humana, deve haver uma pessoa ou um grupo de pessoas com um objetivo, ou seja, a origem da comunicação, chamada fonte ou emissor. O objetivo da comunicação deve, por outro lado, ser expresso em forma de mensagem que ganha forma física quando traduzida num código ou conjunto sistemático de símbolos. Um quarto elemento vem a ser o canal, isto é, o condutor da mensagem. Finalmente, deve haver um decodificador de mensagem na outra extremidade e um receptor da comunicação. Temos assim, os elementos do processo da comunicação: a fonte, o codificador, a mensagem, o canal, o decodificador e o receptor. Lembre-se: Alguém transmite o quê, como, a quem. EMISSOR RECEPTOR FEEDBACK MEIO/CANAL MENSAGEM/ LINGUAGEM CÓDIGO ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS DE CABINE - AULA Nº 4 2.3 A Fidelidade na Comunicação Havendo um objetivo a comunicar e uma resposta a obter, o comunicador espera que sua comunicação seja o mais fiel possível, ou seja, que não haja distorção na mensagem. Ao analisar o processo da comunicação, é fundamental determinar o que aumenta ou reduz a fidelidade do processo, ou seja , o que aumenta ou reduz a distorção na comunicação. Para que a comunicação seja eficaz é necessário um perfeito funcionamento dos seguintes componentes: FONTE Deve traduzir fielmente a mensagem em símbolos através de habilidades codificadoras como, os gestos, a escrita, a palavra e o raciocínio. CANAL Deve ser escolhido de maneira adequada ao emissor, à mensagem e ao recebedor. Pode ser verbal, não verbal ou simbólico. MENSAGEM Deve ser corretamente codificada e ter o mesmo significado para a fonte e para o recebedor. RECEPTOR Deve reagir adequadamente à mensagem recebida. Se a mensagem não atingir e motivar o recebedor de nada adiantará enviá-la. Já o fator tempo e a urgência irão, sem dúvida, exigir um tratamento tão próximo do ideal quanto possível a cada um desses componentes. O ambiente do vôo exige um nível elevado de fidelidade da comunicação, mesmo em situações normais de operação. Quando a carga de trabalho é aumentada por operações anormais a dedicação da tripulação fica dividida e, assim, há prejuízo para a comunicação. Com o objetivo de atingir a máxima fidelidade no processo da comunicação devemos buscar, constantemente, a eficácia de cada parte do processo. Resumindo, definimos o canal ou modo de comunicação como sendo os sentidos através dos quais o recebedor percebe a mensagem codificada e transmitida pela fonte. 2.4 Canais de Comunicação a – Verbal � uso das palavras oralmente ou através da escrita. b – Não-verbal � uso da linguagem corporal, contato visual, postura, gestos, contato físico e mesmo o silêncio. c – Simbólica � resultado da aparência – roupas, cabelo, jóias, maquilagem para as mulheres. 2.5 Tipos de Comunicação a - Formal Caracteriza-se pela objetividade, determinação e estruturação, utilizando-se de canais regulares da empresa. Ex: memorandos, regulamentos, manuais, SOP’s, checklist, circulares, etc b - Informal Caracteriza-se pela espontaneidade, utilizando-se do canal representado pelas PESSOAS. ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS DE CABINE - AULA Nº 4 3 – FATORES DIFICULTADORES ���� BARREIRAS NA COMUNICAÇÃO Há três fatores distintos que podem bloquear a comunicação. a - Barreiras Físicas ���� Ruídos Obstáculos no canal da mensagem que dificultam ou distorcem sua interpretação, por fatores físicos. São, normalmente, barreiras que impedem o recebimento da comunicação. São fatores como barulho excessivo, perda de audição, confusão, fadiga e deficiência nos equipamentos de comunicação. Os pilotos, normalmente, têm algum controle sobre eles. b - Barreiras Psico-sociais ���� Bloqueios Obstáculos no canal da mensagem que impedem sua interpretação, por fatores psicossociais. Barreiras psico-sociais são, por sua natureza, mais difíceis de detectar uma vez que vêm de dentro do indivíduo. Elas abrangem atitudes, sentimentos, inclinações e preconceitos. Essas barreiras podem surgir ainda como decorrência de posto (antigüidade), idade, sexo e cultura organizacional. Um alto grau de profissionalismo é necessário dos pilotos para superar esse tipo de barreira. c - Barreiras Técnicas ���� Filtros Retransmissão de apenas parte da mensagem pelo receptor, por fatores técnicos.Barreiras técnicas são aquelas relacionadas com as habilidades requeridas para o processamento da comunicação. 4 – O PAPEL DA COMUNICAÇÃO NO CRM/ARC Com respeito ao CRM/ARC podemos apontar cinco formas de influência das comunicações no desempenho da tripulação. a. A comunicação provê informações. b. A comunicação estabelece o relacionamento interpessoal. c. A comunicação estabelece comportamentos previsíveis. d. A comunicação mantém o monitoramento e a atenção voltados para a tarefa. e. A comunicação é uma ferramenta gerencial. 5 - HABILIDADES DE COMUNICAÇÃO REQUERIDAS EM CRM/ARC Muitas investigações de acidentes aeronáuticos apontam falhas ou deficiências na comunicação como contribuintes ou mesmo causadores diretos desses acidentes. Embora a responsabilidade na segura execução do vôo recaia sobre o comandante, todos os membros da tripulação passam por processos decisórios e têm, a todo o momento, que decidir dentro de suas áreas de atuação. No processo decisório, a comunicação tem papel fundamental e aqui nós podemos apontar cinco habilidades que o assistirão a usar a comunicação na obtenção de informações claras e precisas. a) Escutar A arte de escutar, dentro do processo da comunicação, tem sido uma falha constante apontada em muitos acidentes. Escutar ativamente é uma ação e não uma função passiva. Ela requer do ouvinte uma participação ativa com perguntas e respostas, confirmando ao transmissor que a mensagem foi recebida e entendida. Escutar ativamente não é só captar as palavras, mas também é projetar-se à mente de quem está falando no sentido de captar-lhe o sentido pretendido. Não se trata evidentemente de telepatia, mas tão somente, de alinhar seus pensamentos e sentimentos àqueles do transmissor. ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS DE CABINE - AULA Nº 4 Escutar Ativamente é: • O genuíno desejo de entender a perspectiva da outra pessoa. • Escutare expressar entendimento ou não do que a outra pessoa disse. • Sensibilidade para com os pensamentos e sentimentos da outra pessoa. Escutar Ativamente não é: • Passividade ou pouco caso. • Concordar ou discordar. • Julgar ou criticar. • Argumentar. b) Interrogar Boas decisões são baseadas na qualidade das informações obtidas. A busca dos instrumentos na cabine de vôo é um exemplo de como obtemos informações. Embora variando em grau, a mesma busca de informações oriundas de outro(s) tripulante(s), despachantes de vôo e órgãos do Controle de Tráfego Aéreo, deve ser levada em consideração quando tomamos decisões complexas na cabine de vôo. Interrogar (perguntar) é uma maneira direta de obter informações ou sanar dúvidas. Uma suposta desvantagem em fazer perguntas é o medo do constrangimento. No entanto, esclarecer uma ação ou a pretensão desta é um imperativo entre tripulantes. c) Defender Idéias Defender uma idéia é expressá-la de maneira clara, mesmo que esta seja contrária ao comumente aceito. Quando um tripulante discorda de uma ação ou de um curso de ação é seu dever e responsabilidade expor sua posição. Isto significa ter ASSERTIVIDADE. c.1 � Definição: Assertividade é explicitar a sua posição de uma maneira que não viole os direitos de outra pessoa. É a expressão direta, honesta e apropriada de seus sentimentos e opiniões. Quando ser assertivo? • Caso os acontecimentos sejam inseguros. • Se você tiver a resposta. • Ao perceber o perigo.c.2 � Assertividade X Risco c.3 � Níveis de Assertividade Conflito Transferência Sugestão Crítica Confronto Não-reação 0 1 2 3 4 5 5 4 3 2 1 Níveis de Assertividade Níveis de Risco Ação Perigo Iminente Elevado Nível de risco Baixo nível de risco Nenhum risco ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS DE CABINE - AULA Nº 4 (0) Transferência • Chamar pelo nome • Expressar preocupação específica • Definir o problema (1) Sugestão • Recomendar uma solução • Buscar um acordo (2) Crítica • Mostrar a gravidade do problema (3) Confronto • Manter a posição com base na segurança operacional (4) Conflito • Expor sua decisão (5) Ação • Assumir o controle Muitas vezes a hierarquia reduz ou mesmo impede o fluxo de idéias novas na cabine de vôo. Bons comandantes interrogam, escutam e defendem suas idéias. Bons co-pilotos interrogam escutam e defendem suas idéias. d) Criticar Adotando uma atitude produtiva, a palavra crítica significa “apreciar méritos e deméritos (qualidades e defeitos) do desempenho”. Além de satisfazer o interesse natural do subordinado em relação à opinião do chefe acerca de seu desempenho, a crítica deve ter uma finalidade básica para ser eficaz: aperfeiçoar o desempenho futuro do criticado. Se da crítica não restar algo construtivo, alguma orientação ou esclarecimento em que o criticado possa basear-se para elevar o nível do seu desempenho, não terá sido mais do que um exercício de satisfação do ego ou uma experiência arrasadora do moral. Como vimos, o único aspecto da crítica que nos interessa é aquele que aprimora desempenhos. A crítica apropriada e oportuna é importante elemento de sucesso nas operações aéreas. Ela começa no pré- vôo e continua durante o vôo, terminando no pós-vôo ou “DEBRIEFING”. O processo de crítica é constante e as contribuições de todos os tripulantes vêm aumentar a performance total da tripulação na segurança das operações. Todos os tripulantes devem ser encorajados a oferecer sua crítica para aprimorar desempenhos em todas as fases do vôo. A crítica pode ser interna (autocrítica) ou externa (a ações ou desempenho de outro tripulante), mas, sempre, deve visar o desempenho da tripulação como um todo. e) Resolver Conflitos Ao defender idéias, há a possibilidade de se criar conflito de opiniões entre os tripulantes. Os princípios do CRM/ARC reconhecem esse conflito não apenas como saudável mas como construtivo e esperado. A contribuição de todos os tripulantes é ingrediente necessário para que o processo de sinergia se torne ativo. Todos os conflitos, se corretamente tratados, tendem a ser construtivos e, no ambiente de vôo, devem ser explorados no sentido de se obter a maior eficiência do grupo. Em muitas situações mais de uma solução para um problema em questão pode ser apontada pelos tripulantes. A chave na resolução de conflitos na cabine de vôo é simples, porém muitas vezes esquecida. ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS DE CABINE - AULA Nº 4 6 - O “BRIEFING” É no “briefing” que se estabelece o vínculo entre a tripulação. Nele, o canal de comunicação é aberto a todos os integrantes da tripulação, contribuindo para o clima que envolverá a operação. O “briefing” serve para: • Apresentação da tripulação. • Apresentar o planejamento de atividades. • Definir as ações esperadas. • Relembrar ou enfatizar aspectos operacionais e de segurança. • Reforçar a necessidade de comunicação ampla e objetiva. 7 - O “DEBRIEFING” O “debriefing” é a ferramenta mais poderosa da crítica aplicada ao CRM/ARC Nele encontramos a maneira de ressaltar práticas de relacionamento interpessoal, técnicas e desvios operacionais, comunicação e comportamento de equipe da tripulação. A crítica, durante o “debriefing”, constitui uma experiência positiva de aprendizado podendo cobrir áreas específicas ou amplas da operação, tais como: • Apontar ações bem sucedidas. • Identificar desvios operacionais. • Reforçar a necessidade de se aderir aos procedimentos operacionais. • Dividir com os outros tripulantes suas percepções situacionais. • Ressaltar tarefas bem executadas. • Preparar “feedback” para a administração (relatórios).
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