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Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS) Prof. Bruno Baroni TENS Transcutaneous electrical nerve stimulation Estimulação elétrica de nervos (sensoriais, motores ou dolorosos) Estimulação realizada através da pele Ou seja, praticamente todas as correntes poderiam ser classificadas como TENS No entanto, TENS é o termo utilizado para descrever a modalidade eletroterapêutica utilizada para o controle da dor A dor é uma das queixas mais frequentes dos pacientes e também o principal motivo da procura pelo profissional de fisioterapia “DOR é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a dano tecidual real ou potencial” Conceitos relacionados à dor: • Dor aguda • Dor crônica • Dor localizada • Dor referida • Dor irradiada DOR AGUDA (OU FISIOLÓGICA) • Chamada de “dor boa” por ser um mecanismo de proteção • Apresenta início súbito e retrocede durante o período de cura DOR CRÔNICA (OU PATOLÓGICA) • Chamada de “dor ruim” devido a sua permanência após a recuperação da lesão • Subdivide-se em: - Dor inflamatória (ou nociceptiva) - Dor neuropática (ou neurogênica) DOR LOCALIZADA • A dor ocorre exatamente no local da lesão tecidual DOR REFERIDA • A lesão em estruturas profundas do organismo promove sensação de dor em locais afastados do local da lesão DOR REFERIDA • Ocorre devido ao padrão de convergência das fibras nervosas aferentes do órgão viceral (local original da dor) e da região superficial (local de dor referida) DOR IRRADIADA • É sentida exatamente no terrítório correspondente à raiz nervosa estimulada (ex.: ciatalgia) DOR DO MEMBRO FANTASMA • Após a amputação de um membro, o paciente pode permanecer com a sensação de que o membro continua lá e pode referir fortes dores na região por anos após a amputação A dor geralmente é acompanhada de: HIPERALGESIA ALODINIA (ou HIPERESTESIA) • Resposta exagerada a um estímulo nocivo • Sensação de dor em resposta a um estímulo inócuo (indolor) Um exemplo de alodinia, é a sensação dolorosa durante um banho quente quando a pele foi queimada pelo sol A alteração no limiar de dor no local da lesão é chamada hiperalgesia primária Com o passar do tempo, a hiperalgesia pode se espalhar para os tecidos adjacentes (íntegros), produzindo a hiperalgesia secundária As respostas de hiperalgesia e alodinia são principalmente decorrentes da sensibilização e ativação dos nociceptores por substâncias químicas liberadas no local da lesão tecidual Avaliação da dor Avaliação da dor • Escala numérica de dor SEM DOR MÁXIMA DOR Avaliação da dor • Escala de faces Avaliação da dor • Escala visual analógica (EVA) Avaliação da dor • Escala visual analógica (EVA) Avaliação da dor • Escala visual analógica (EVA) Avaliação da dor • Dolorímetro Avaliação da dor • Questionário de dor McGill Independente do tipo e intensidade da dor, a estimulação elétrica tem sido um dos métodos mais utilizados pelos fisioterapeutas para promoção da analgesia Estudo realizado com 3.538 fisioterapeutas na Austrália (mais de ¼ do total de profissionais do país) Chipchase et al (2009) Para compreender os princípios de ação analgésica da TENS, é necessário conhecer o Sistema Somatossensorial As informações dos meios interno e externo são fornecidas ao SNC pelos receptores sensoriais Esses receptores são transdutores que convertem diferentes formas de energia em potenciais de ação nos neurônios Mecanoceptores Termoceptores Quimioceptores Fotoceptores Nociceptores Sistema sensorial Modalidade Estímulo Receptor Visual Visão Luz Fotoceptor Auditivo Audição Som Mecanoceptor Vestibular Equilíbrio Gravidade Mecanoceptor Somatosensorial Toque Propriocepção Temperatura Coceira Dor Pressão / textura Deslocamento Térmico Químico Químico / térmico / mecânico Mecanoceptor Mecanoceptor Termoceptor Quimioceptor Nociceptor (quimio / termo / mecanoc.) Gustativo Sabor Químico Quimioceptor Olfativo Cheiro Químico Quimioceptor EFERENTE DESTINO DIÂMETRO (µm) VELOCIDADE (m/s) Aα Músculo Esquelético 12 - 20 70 - 120 Aβ Musc. Esquelético / Fuso Musc. 5 -12 30 - 70 Aγ Fuso Muscular 3 - 6 15 - 30 B Musc. Liso (neurônio pré-ganglionar) <3 3 - 15 C * Musc. Liso (neurônio pós-ganglionar) <2 0,5 - 2,0 * Amielínicas α alfa • β beta • δ delta • γ gama AFERENTE ORIGEM DIÂMETRO (µm) VELOCIDADE (m/s) Aα (Ia) Fuso Muscular (mecanoceptor) 12 - 20 70 - 120 Aα (Ib) OTG (mecanoceptor) 12 - 20 70 - 120 Aβ (II) Mecanoceptores 5 - 12 30 - 70 Aδ (III) Termo / Nociceptores (dor rápida) 2 - 5 12 - 30 C (IV) * Termo / Nociceptores (dor lenta) <2 0,5 - 2,0 Mecanoceptores cutâneos Discos de Merkel Corpúsculos de Meissner Corpúsculos de Pacini Corpúsculos de Ruffini Bulbos terminais de Krause Receptores do folículo piloso Terminações nervosas livres Mecanoceptores articulares Corpúsculos de Ruffini Corpúsculos de Pacini Receptores Ligamentares Terminações Nervosas Livres Mecanoceptor tendíneo (Ib) Mecanoceptor muscular (Ia) (II) Além de mecanoceptores, as terminações nervosas livres atuam como termoceptores e nociceptores Termoceptores Terminações nervosas livres localizadas em todo o organismo Termoceptores de frio: fibras nervosas Aδ e C (ou III e IV) Termoceptores de calor: fibras nervosas C (ou IV) Nociceptores Terminações nervosas livres localizadas em todo o organismo Nociceptores mecânicos Nociceptores térmicos Nociceptores químicos Nociceptores polimodais - Nociceptores polimodais - Dor lenta, persistente e difusa - Percebida em 1s ou mais - Nociceptores mecânicos - Dor rápida, passageira e localizada - Percebida em 0.1s ou menos Vias Sensoriais Receptor sensorial Neurônio de primeira ordem • Liga a terminação periférica (receptor sensorial) à medula Neurônio de segunda ordem • Cruza a linha média da medula e conduz estímulo ao tálamo Neurônio de terceira ordem • Conduzem o estimulo do tálamo ao córtex cerebral Neurônio de quarta ordem • Realizam interligações no córtex cerebral Corno dorsal da medula (lâminas I-VII) Tratos Nervosos Coluna dorsal Via coluna dorsal / lemnisco medial • Estímulo sensitivo (bulbo) (mesencéfalo) (ponte) Trato espinotalâmico lateral • Estímulo nociceptivo Sistema neoespinotalâmico • Dor rápida (fibras Aδ) Sistema paleoespinotalâmico • Dor lenta (fibras C) (bulbo) (ponte) (mesencéfalo) Cortex somatossensorial TENS • Tradicionalmente, os equipamentos de TENS utilizam uma corrente pulsada bifásica assimétrica equilibrada • No entanto, os fabricantes têm produzido equipamentos com variações de corrente pulsada, incluindo formatos bifásicos simétricos e até monofásicos • PACIENTE • ELETRODOS • CORRENTE ELÉTRICA Método de aplicação:Paciente Preparação da pele Pêlos aumentam a resistência à entrada da corrente elétrica O ideal seria raspar o local e limpar a pele com um algodão embebido em álcool, o que normalmente é negligenciado na clínica Paciente Posicionamento • O paciente deve estar em posição mais confortável possível (usar travesseiros, cunhas, rolos, etc.) • A região tratada sempre deve estar em posição relaxada (sem tensão sendo aplicada sobre o tecido alvo) Eletrodos Tipos, tamanhos e fixações Eletrodos Posicionamento Zona de dor • Os eletrodos devem ser posicionados de modo que a corrente elétrica atravesse a área de dor ou o nervo responsável pela inervação dessa área Existem 3 tipos básicos de TENS: • TENS CONVENCIONAL = TENS alta frequência • TENS ACUPUNTURA = TENS baixa frequência • TENS BREVE INTENSO = TENS intenso Corrente Elétrica Características dos tipos de TENS Robertson et al (2009) TENS Convencional TENS Acupuntura TENS Breve-Intenso Frequência 80-120 Hz 2-5 Hz 125-250 Hz Duração de pulso ~50 µs 300 µs 200-250 µs Watson (2009) TENS Convencional TENS Acupuntura TENS Breve-Intenso Frequência 10-200 Hz <10 Hz 50-200 Hz Duração de pulso 100-200 µs 100-200 µs >500 µs Nelson et al (2003) TENS Convencional TENS Acupuntura TENS Breve-Intenso Frequência 10-100 Hz <10 Hz 60-150 Hz Duração de pulso 50-100 µs 100-300 µs 50-250 µs TENS Convencional TENS Acupuntura TENS Breve-Intenso Frequência Alta Baixa Alta Duração pulso Curta Longa Longa Amplitude Baixa (nível sensorial) Alta (nível motor) Alta (máxima tolerável) Características dos tipos de TENS TENS convencional TENS acupuntura TENS breve-intenso TENS convencional (TENS alta frequência) • Objetivo: ativação de fibras sensitivas Aβ, sem ativação de fibras motoras (Aα) ou fibras nociceptivas (Aδ e C) • Promove uma parestesia confortável forte (formigamento) • Tempo de aplicação: longo (mínimo 30 min) • Duração do efeito pós-terapia: curto • Mecanismo de ação: - via portão da dor - liberação de opióides endógenos TENS acupuntura (TENS baixa frequência) • Objetivo: ativação de fibras nociceptivas Aδ em resposta ao estímulo motor nas fibras Aα • Promove contrações musculares rítmicas visíveis • Tempo de tratamento: intermediário (máximo 30-45 min) • Duração do efeito pós-terapia: variável • Mecanismo de ação: liberação de opióides endógenos O TENS acupuntura pode ser aplicada através do modo burst, onde uma alta frequência de pulsos individuais (40-150 Hz) é distribuída em “trens” de baixa frequência (1-10 Hz), tornando a terapia melhor tolerável pelo paciente TENS breve-intenso (TENS intenso) • Objetivo: ativação de fibras nociceptivas Aδ • Promove fasciculação muscular não rítmica e se aproxima do limiar doloroso do paciente • Tempo de tratamento: curto (máximo 10-15 min) • Duração do efeito pós-terapia: variável • Mecanismo de ação: liberação de opióides endógenos Melzack R & Wall PD. Pain mechanisms: A new theory. Science 1965;150:971–9 A percepção de dor é regulada por uma “porta” que pode ser aberta ou fechada por meio de outras entradas de informação nos nervos periféricos ou do sistema nervoso central, assim aumentando ou diminuindo a percepção da dor. TEORIA DO PORTÃO DA DOR Periferia Medula Encéfalo Aferentes nociceptivos (neurônio de primeira ordem; fibras Aδ e C) terminam no corno posterior da medula, estabelecendo ligação com neurônios de transmissão (neurônio de segunda ordem; neurônio T) T CENTROS SUPERIORES Aδ e C + Periferia Medula Encéfalo Os interneurônios da substância gelatinosa (SG) possuem influência inibitória sobre os neurônios T, limitando a transmissão do impulso nociceptivo para os centros superiores do SNC T CENTROS SUPERIORES SG - Aδ e C + Periferia Medula Encéfalo Porém, os interneurônios da SG são inibidos quando os aferentes nociceptivos (Aδ e C) são ativados, reduzindo a inibição pré-sináptica da junção entre os aferentes nociceptivos e os neurônios T T CENTROS SUPERIORES SG - - Aδ e C + Periferia Medula Encéfalo Entretanto, os interneurônios da SG também são estimulados pela ativação dos aferentes mecanossensitivos (fibras Aβ) através de uma sinapse excitatória, aumentando a ação inibitória pré-sinaptica sobre os aferentes nociceptivos (Aδ e C) T CENTROS SUPERIORES SG + - - Aδ e C Aβ + + Periferia Medula Encéfalo Apesar de os aferentes mecanossensitivos (Aβ) possuírem sinapse com os neurônios T, esses impulsos também são inibidos pelos interneurônios da SG T CENTROS SUPERIORES SG + - - - Aδ e C Aβ + + Periferia Medula Encéfalo No entanto, os impulsos dos aferentes mecanossensitivos seguem em direção aos centros superiores do SNC através da via coluna dorsal/lemnisco medial, transmitindo a sensação tátil T CENTROS SUPERIORES SG + - - - Aδ e C Aβ + + Os interneurônios da SG recebem impulsos excitatórios descendentes que aumentam a ação inibitória sobre a transmissão dos impulsos nos aferentes nociceptivos (Aδ e C) T CENTROS SUPERIORES SG + - - - Aδ e C Aβ + + + Periferia Medula Encéfalo Em síntese, a excitação dos interneurônios na medula espinhal (via ativação das fibras Aβ) inibe a transmissão do impulso de dor (fibras Aδ e C) para os centros mais altos do SNC Opióides são substâncias de natureza endógena (produzidas pelo próprio organismo) ou exógena (administradas externamente) que se unem aos receptores opióides (localizados no SNC) e produzem analgesia Os opióides endógenos podem ser divididos em três classes: • ENDORFINAS (β-endorfina, α-endorfina e γ-endorfina) • ENCEFALINAS (leucina e metionina encefálica) • DINORFINAS (dinorfina A, dinorfina B e neo-endorfina) LIBERAÇÃO DE OPIÓDES ENDÓGENOS Periferia Medula Encéfalo Os impulsos descentendes emitidos pela substância cinzenta periaquedutal (SCPA, localizada no mesencéfalo) e pelos núcleos da rafe (localizados no bulbo) são naturalmente inibidos por ação de interneurônios inibitórios (I) do SNC, o que reduz o estímulo excitatório sobre o interneurônio da SG T CENTROS SUPERIORES SG - - Aδ e C + + SCPA Núcleos da rafe + - - I Periferia Medula Encéfalo A liberação de opióides endógenos no SNC, capazes de bloquear a ação do interneurônio inibitório (I), permite que os estímulos excitatórios chegem até o interneurônio da SG e a transmissão da dor para os centros superiores seja modulada T CENTROS SUPERIORES SG - - Aδ e C + + SCPA Núcleos da rafe + I OPIÓIDES DOR AGUDA TENS convencional Recomendação clássica DOR CRÔNICA TENS acupuntura DOR AGUDA Opção 1: TENS convencional Opção 2: TENS acupuntura Opção 3: TENS breve-intenso Recomendação atual DOR CRÔNICA Opção 1: TENSconvencional Opção 2: TENS acupuntura Opção 3: TENS breve-intenso Principalmente na TENS convencional, a modulação da corrente é uma alternativa para redução do efeito de acomodação dos tecidos com a corrente elétrica escolhida Além da popular ação analgésica do TENS, há evidências de que essa terapia possa proporcionar: • Aumento da circulação sanguínea local • Reparação de feridas cutâneas • Recuperação de fraturas • Redução do edema
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