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IGUALDADE DE GÊNERO enfrentando o sexismo e a homofobia

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Prévia do material em texto

igualdade de gênero
enfrentando o sexismo e a homofobia
Editora
UTFPR
Organização:
Lindamir S. Casagrande
Marilia G. de Carvalho
Nanci S. da Luz
IGUALDADE DE GÊNERO
enfrentando o sexismo e a homofobia
Carlos Eduardo Cantarelli
Reitor da UTFPR
Paulo Osmar Dias Barbosa
Vice-Reitor da UTFPR
Noemi Henriqueta Brandão de Perdigão
Diretoria de Gestão da Comunicação 
Vanessa Constance Ambrosio
Chefe do Departamento de Comunicação e Marketing
Adriano Lopes
Coordenador Geral da Editora UTFPR
IGUALDADE DE GÊNERO
enfrentando o sexismo e a homofobia
1º edição
CURITIBA 2011
Lindamir Salete Casagrande
Nanci Stancki da Luz
Marilia Gomes de Carvalho
 (Orgs.)
Projeto Gráfico: Felipe Leoni Gomes
Editoração eletrônica e revisão: Lindamir Salete Casagrande
Capa: Maristela Mitsuko Ono
Revisão: Joyce Luciane Muzi
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
I24 Igualdade de gênero: enfrentando o sexismo
 e a homofobia/
 Organização: Lindamir Salete Casagrande, Nanci Stancki
 da Luz, Marília Gomes de Carvalho. - 1. ed. Curitiba:
 ed. UTFPR, 2011. 
 
 372p. ; 24cm
 
 Inclui bibliografias
 Vários autores
 ISBN: 978-85-7014-090-6
 
 1. Relações de gênero. 2. Homofobia. 3. Sexismo
 4. Discriminação de sexo. 5. Preconceitos. 6. Papel
 sexual. I. casagrande, Lindamir Salete. II. Luz,
 Nanci Stancki da. III. Carvalho, Marília Gomes de.
 IV. Título.
 CDD – (22. ed.) 305.3
 
 Bibliotecário: Adriano Lopes CRB 9/1429
Depósito Legal na Biblioteca nacional conforme Lei
no 10.994, de 14 de dezembro de 2004.
Av. Sete de Setembro, 3165, Rebouças
Curitiba - PR 80230-901
www.utfpr.edu.br
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
APRESENTAÇÃO
Esta publicação é fruto do Projeto “CONSTRUINDO A IGUALDADE 
NA ESCOLA: reconhecendo a diversidade sexual e enfrentando o sexismo e a 
homofobia” coordenado pelas pesquisadoras Nanci Stancki da Luz e Lindamir Salete 
Casagrande, financiado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e 
Diversidade do Ministério da Educação (Secad/MEC) e executado, no período 2010-
2011, por pesquisadoras(es) do Grupo de Estudos e Relações de Gênero e Tecnologia 
(GeTec) do Programa de Pós-graduação em Tecnologia (PPGTE) da Universidade 
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Dentre os objetivos do projeto, destaca-se 
a formação docente visando à sensibilização para o reconhecimento da diversidade 
sexual e o combate à homofobia e ao sexismo, como forma de disseminar, por meio de 
programas educacionais e intervenção na realidade escolar valores éticos de respeito 
à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero, visando à eliminação 
de intolerâncias, preconceitos e discriminação e a promoção dos direitos humanos.
Inúmeras foram as motivações que nos levaram a propor esse projeto1, mas 
sem dúvida a maior delas foi a vontade de desenvolver alguma ação concreta que 
possibilitasse contribuir para a construção de uma sociedade com justiça social e 
1 Além desta publicação, o projeto desenvolveu formação docente continuada, por meio de cursos 
de extensão universitária com carga horária de 80horas/aula, envolvendo aproximadamente 600 
profissionais da educação de Curitiba e Região Metropolitana.
com respeito às diferenças, o que pressupõe a problematização de uma realidade 
que apresenta inúmeras formas de violências de gênero e a reflexão sobre formas de 
intervenção para coibir tais manifestações de intolerância.
Nos dias atuais, notícias sobre agressões contra mulheres, homossexuais, 
crianças e adolescentes estão cada vez mais frequentes. Violências, antes invisibilizadas 
ou aceitas socialmente, passam a ser debatidas e percebidas como formas de violação 
dos direitos do ser humano. Tais violações revelam uma face intolerante de uma 
sociedade que demonstra dificuldades em respeitar diferenças, particularmente no 
que se refere à sexualidade humana. Alguns casos de agressões físicas acabam por 
assumir notoriedade nacional, gerando reflexões que desvelam que grande parte 
da sociedade não aceita o preconceito, a brutalidade dos atos e muito menos as 
motivações para tais atos. Entretanto, grande parte das violências que ocorrem no 
país ainda não é noticiada, não é denunciada e muitas vezes é tolerada, destacando-se 
dentre elas aquelas que não despertam interesse da sociedade por não configurarem 
violência física. É fundamental, no entanto, ressaltar que a violência psicológica, por 
exemplo, é tão ou mais prejudicial do que a violência física.
Parcela significativa dessa violência tem motivação baseada na forma como 
as pessoas vivenciam sua sexualidade. Pessoas julgam-se no direito de agredir outras 
e condená-las pelo fato de terem orientação sexual diferente daquela entendida por 
eles como normal. Sentem-se juízes, definem e executam a sentença por meio de violência. 
O enfrentamento à homofobia tem sido tema de programas governamentais 
como o Programa Brasil sem homofobia implementado pelo Governo Federal cujo 
objetivo é o
reconhecimento e a reparação da cidadania da população de lésbicas, gays, 
bissexuais, travestis e transexuais, inegavelmente uma parcela relevante da 
sociedade brasileira, que sofre com o preconceito e a discriminação por 
orientação sexual e identidade de gênero, além de outros como de raça, etnia, 
gênero, idade, deficiências, credo religioso ou opinião política. (BRASIL)
 Estes programas proporcionam discussão sobre a temática e o 
desenvolvimento de ações com o intuito de diminuir a homofobia na sociedade. As 
ações desenvolvidas por meio dos programas governamentais passam pela formação 
de professores, campanhas publicitárias, desenvolvimento de materiais de apoio para 
os profissionais da educação e atividades direcionadas aos estudantes.
As mulheres também têm sido historicamente vítimas de violência. As 
agressões, em grande medida, ocorrem no âmbito doméstico e são cometidas por (ex)
companheiros, (ex)maridos, (ex)namorados. Nos últimos anos, com a aprovação da 
Lei Maria da Penha, começou-se a criar uma estrutura que possibilita coibir esse tipo 
de violência, acolhendo denúncias e condenando os agressores, fato que permitiu e 
estimulou a denúncia dos agressores, e, desta forma, deu mais visibilidade à violência 
contra a mulher, criando inclusive uma sensação aparente de que aumentou o número 
de casos.
É fundamental a reflexão sobre as razões para que a intolerância e o 
desrespeito aos direitos humanos estão se tornando tão visíveis e possivelmente 
aumentando no Brasil nos últimos anos. É sobre esta reflexão que autoras e autores 
deste livro escreveram os capítulos que seguem.
O capítulo “Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha” de 
autoria de Nanci Stancki da Luz discute a violência contra a mulher, entendida como 
violação dos direitos humanos. Esse capítulo ainda destaca a relevância da luta das 
mulheres para que o direito à vida sem violência fosse reconhecido como direito 
humano fundamental, trazendo uma reflexão sobre os mecanismos adotados pelo 
Brasil para o enfrentamento da violência de gênero e a promoção da igualdade de 
gênero – Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra 
a mulher, Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência 
Contra a Mulher e a Lei Maria da Penha. 
No capítulo intitulado “Gênero: flashes de uma construção” as autoras 
Nadia Veronique Jourda Kovaleski, Cintia de Souza Batista Tortato e Marília Gomes 
de Carvalho apresentam um panorama da construção do campo dos estudos de 
gênero. Apresentam trabalhos desenvolvidos em diversos países e que algumas 
vezes apontaram resultados contraditórios. Consideram que é necessário ter em 
mente que a multiplicidade de olhares “só tem a acrescentar no desenvolvimento de 
novos horizontes para a existência humana.” Conhecer e entender como este campo 
deestudos foi constituído e vem se solidificando contribui para a compreensão da 
sociedade e das relações sociais. As autoras finalizam afirmando que “a questão de 
gênero está posta e deve ser pensada e repensada em todos os aspectos da vida para 
que as desigualdades não sejam obscurecidas e naturalizadas”.
Anderson Ferrari nos convida a refletir sobre a construção das 
homossexualidades. Sim, no plural. Para o autor “há uma infinidade de 
homossexualidades possíveis, que faz com que as pessoas tenham inserções distintas 
nas construções de suas identidades”. Baseado em pesquisas realizadas em sua 
trajetória acadêmica, ele argumenta que a escola é um fator relevante na construção 
das identidades dos homossexuais. Destaca que a “homofobia tem um vínculo 
estreito com as questões de gênero e sexualidades e, sobretudo com as políticas 
de identidade”. Argumenta que a masculinidade hegemônica obriga os meninos a 
imprimirem esforço e disciplina extra para não se distanciarem do que é ser homem 
e os leva a negar e repudiar aos homossexuais e às mulheres. Os meninos precisam 
estar distantes de qualquer característica que remeta a estes. A escola ensina isso 
desde as séries iniciais. O autor conclui que “trazer para o conhecimento dos leitores 
o que está acontecendo nas escolas em torno das homossexualidades é uma forma 
de dar voz às homossexualidades, uma maneira de problematizar suas construções”.
A heteronormatividade e a homofobia são questões abordadas por Rogério 
Diniz Junqueira no capítulo “Heteronormatividade e homofobia no currículo em 
ação”; nele ressalta o papel da escola no questionamento, na construção e desconstrução 
dos padrões vigentes. Baseado em relatos de professoras e professores sobre situações 
ocorridas em seus ambientes de trabalho, o autor constrói o argumento de que os 
“indivíduos que, de algum modo, voluntariamente ou não, escapam da sequência 
heteronormativa são postos à margem das preocupações centrais de um currículo e 
de uma educação supostamente para todos”. Leva-nos a refletir sobre as dificuldades 
que os homossexuais enfrentam para permanecer na escola, muitas vezes, para 
serem aceitos na escola e na sociedade, tem que demonstrar capacidade superior aos 
demais. Argumenta ainda que, na maioria das vezes, a homossexualidade é negada 
ou a heterossexualidade é presumida pelos profissionais que atuam na escola. Conclui 
que a homofobia e o preconceito são danosos não somente para as denominadas 
“minorias”. Argumenta baseado em pesquisas, que “uma escola racista, sexista e 
homofóbica revela-se, [...] um espaço menos educativo para todas as pessoas que a 
povoam”.
No capítulo de autoria de Maria Eulina Pessoa de Carvalho, Fernando 
Cezar Bezerra de Andrade, Francisca Jocineide da Costa e Silva, Maria Helena dos 
Santos Gomes e Daiane da Silva Firino, são apresentadas duas atividades realizadas 
junto a estudantes de EJA do turno noturno de uma escola na Paraíba visando ao 
enfrentamento à homofobia. As(os) autoras(es) constataram que a participação dos 
rapazes nas atividades descrita neste capítulo foi menos intensa e representou maior 
esforço para eles do que para as meninas. Eles riam, faziam piada, se mostravam 
desconfortáveis e constrangidos diante da temática enquanto elas se mostravam 
participativas e interessadas. Sobre a menor dificuldade das moças em abordar a 
temática, argumentam que elas “não se veem ameaçadas em suas identidades. Ademais, 
dado que a homofobia se imbrica com a misoginia (aversão e desvalorização da 
feminilidade), as mulheres, desse ponto de vista, já estão em condição inferiorizada”. 
Sendo assim, a sexualidade delas não seria questionada pelo fato de demonstrarem 
interesse em discutir a temática. Por outro lado, a recusa dos meninos em participar 
das atividades indicava a preocupação de não serem interpretados como próximos 
a este universo que os afastaria do mundo masculino. Os autores nos convidam a 
refletir sobre a resistência à mudança presente nas intervenções dos alunos e alunas 
nas atividades sobre as quais o capítulo discorre.
Cristina Tavares da Costa Rocha e Nanci Stancki da Luz, no capítulo “Gênero, 
ciência e tecnologia: avanços e desafios”, abordam a construção social da ciência e 
da tecnologia, revelando que embora essa construção histórica tenha sido marcada 
pelo sexismo e androcentrismo, os avanços e conquistas femininas nesses campos 
de saber foram significativos, destacando-se uma quebra de paradigma a partir 
da entrada de mulheres militantes de movimentos sociais feministas no cenário 
científico e tecnológico. Para isso, o texto evidencia a importância da ampliação da 
escolaridade feminina, o que possibilitou o acesso à informação, contribuiu para a 
produção e divulgação de conhecimentos, permitindo que mulheres pudessem atuar 
em áreas que exigem formação acadêmica específica. Embora essa formação tenha 
sido fundamental para reduzir as disparidades de gênero, as autoras pontuam lacunas 
que ainda persistem obstaculizando a concretização da igualdade entre homens e 
mulheres no campo científico e tecnológico.
A pesquisadora Carla Giovanna Cabral apresenta em seu capítulo uma reflexão 
sobre as publicações sobre gênero e feminismo no Brasil. Enfoca principalmente 
em gênero e educação. Constata a escassez de publicações sobre a temática nas 
revistas mais renomadas que se dedicam a temática de gênero. Argumenta ainda 
que a formação de professores/as nas universidades (licenciaturas) para abordar a 
temática com estudantes dos diversos níveis de ensino é precária e fruto de ações 
de “boa vontade” de alguns/mas professores/as e não de esforços e/ou iniciativas 
institucionais. Faltam projetos mais aprofundados e que assegurem a continuidade 
das ações. Reflete ainda sobre iniciativas governamentais como os cursos GDE e 
conclui que:
Um avanço no campo da formação inicial e continuada de professores, assim 
como de crianças e jovens, exigiria uma aproximação e um diálogo cada vez 
mais estreitos entre campos (inter) disciplinares, em que se admitam novos 
objetos e problemas, muito embora a conciliação de práticas e discursos seja 
trabalhosa e gere discordâncias e dissonâncias.
Para Valter Cardoso da Silva, Sandro Marcos Castro Araújo e Nanci Stancki 
da Luz, no capítulo “Violência de gênero: notas sobre um campo de pesquisa”, a 
violência deve ser compreendida como um fenômeno complexo, capaz de atingir 
os mais variados setores do tecido social e cujas manifestações ocorrem de forma 
distinta quando se refere aos homens e às mulheres, o que aponta o gênero como 
categoria essencial para a análise dos processos da constituição da violência, pois 
possibilita perceber as relações de poder, nas quais a violência de gênero tem se 
revelado como forma de dominação e controle. Nesta perspectiva, o texto analisa 
pesquisas sobre a violência de gênero no âmbito da sociologia, tomando por base 
trabalhos apresentados no XIV Congresso Brasileiro de Sociologia – ocorrido em 
2009 – buscando, por meio de uma amostragem de discursos acadêmicos produzidos 
em pesquisas sobre violências de gênero, dar maior visibilidade aos estudos sobre essa 
temática, contribuindo assim para a construção de um mapeamento desses estudos.
O bullying foi o tema do capítulo de Lindamir Salete Casagrande, Cintia 
de Souza Batista Tortato e Marilia Gomes de Carvalho. Nesse capítulo as autoras 
lançam o olhar para este tema que se torna cada vez mais recorrente no dia a dia 
escolar. As agressões entre os/as alunos/as se tornam mais frequentes e violentas e 
muitas vezes são a razão para que os/as jovens deixem de frequentar a escola por 
não se sentirem protegidos no seu interior. As autoras apresentam alguns casos que 
foram veiculados na mídia pela violência da agressão e do desrespeito ao colega. 
Ressaltam que esta divulgação se torna importante, pois provoca as autoridades a 
tomaremalguma providência para minimizar a ocorrência deste tipo de agressão. 
Destacam a “necessidade de preparação dos professores, diretores, pedagogos, enfim, 
equipe gestora das escolas para saberem identificar e abordar a temática de forma 
eficiente e preventiva”. Na opinião das autoras, o trabalho preventivo produz melhores 
resultados, uma vez que evita a ocorrência das agressões, sem a necessidade de ações 
punitivas contra os agressores e sem traumas para o agredido. Concluem que “é 
imprescindível o envolvimento de todos, de modo especial, dos próprios alunos no 
combate a esse mal que assola nossas escolas”.
O capítulo de autoria de Fabio Hoffmann Pereira e Marília Pinto de Carvalho 
aborda a questão da recuperação paralela sob a perspectiva de gênero. É baseado em 
uma pesquisa realizada em uma escola municipal de Embu, São Paulo, durante o ano 
de 2006. Os autores argumentam que a maioria dos/as estudantes encaminhados/as 
para a recuperação paralela é composta por meninos. Identificam que as professoras 
tinham percepção diferenciada dos motivos pelos quais meninos e meninas eram 
encaminhadas ao projeto de recuperação. Argumentam que uma dificuldade de 
aprendizagem recebia tratamento diferenciado quando encontrada em meninos ou 
em meninas. Concluem que a pesquisa revela “significados diferentes embutidos em 
falas semelhantes, interpretações do mesmo comportamento que variavam segundo 
o sexo do aluno”. Esta percepção diferenciada por parte das professoras pode estar 
baseada nos estereótipos de feminino e masculino que permeiam a sociedade atual.
No capítulo de autoria de Lindamir Salete Casagrande e Marilia Gomes de 
Carvalho aborda-se o rendimento escolar em Matemática de meninos e meninas. O 
artigo tem o objetivo de comparar o que os/as estudantes dizem sobre seu rendimento 
escolar em Matemática e as notas encontradas em documentos oficiais. As autoras 
argumentam que o rendimento em Matemática tem sido considerado como uma das 
razões para a pouca participação feminina em carreiras científicas e tecnológicas. 
As autoras concluem que há diferença no rendimento de alunos e alunas, porém é 
pequena e favorece as meninas. Encontraram ainda diferença significativa entre o 
que os/as estudantes dizem sobre seu rendimento e o que os documentos mostram. 
As alunas se avaliam com menor rendimento do que realmente têm, demonstrando 
maior exigência ou menor autoestima. As autoras ressaltam que “a diferença de 
rendimento não pode ser confundida com diferença de capacidade de aprendizagem 
ou de potencial”. Ou seja, ter melhor rendimento não significa ser mais inteligente, 
mais capaz, mas sim que se adequou melhor à escola e seu sistema de avaliação. 
Concluem que “não era objetivo deste estudo afirmar que meninas são melhores do 
que meninos (ou vice-versa) e sim contribuir para a discussão sobre o acesso deles e 
delas ao conhecimento matemático”.
O capítulo de autoria de Constantina Xavier Filha aborda os pressupostos 
teórico-metodológicos de um projeto que tem por objetivo “coletar dados para 
a produção de materiais educativos, especialmente livros infantis, não apenas 
destinados à infância, mas contando com sua efetiva participação”. A autora faz uma 
descrição de como se deu a pesquisa-ação com as crianças. Afirma que a atenção 
foi destinada especialmente aos seus comentários sobre gênero e sexualidade. 
Conclui que, além do uso com as crianças, os livros para a infância nas temáticas de 
gênero, sexualidades, diferenças/diversidades podem também ser utilizados como 
recursos pedagógicos para discussão, reflexão, estudo, sensibilização entre outras 
possibilidades teórico-metodológicas em momentos de formação docente, tanto na 
etapa inicial quanto na continuada.
Em seu capítulo Claudia Maria Ribeiro faz uma reflexão sobre a importância 
que acontecimentos como a criação de um grupo de trabalho (GT23) na Anped e a 
aproximação com a Secad contribuíram para um acercamento entre os grupos de 
estudos sobre gênero, sexualidade e educação dispersos por Universidades de todo o 
país, o que permitiu a divulgação do conhecimento por estes produzidos. A autora 
argumenta que este campo de estudos e de atuação apresenta “precisões e imprecisões 
das problematizações das sexualidades e gênero”. Destaca que o “desafio é lançar os olhos 
para o que é preciso e se organizar para navegar com instrumentos adequados”. Sem 
dúvida, é necessário lançar o olhar e desenvolver ações que contemplem as sexualidades 
e os gêneros em nossas práticas educativas visando minimizar as desigualdades.
Este é um breve panorama do que vocês encontrarão nesta obra. 
Boa leitura!
Lindamir Salete Casagrande
Nanci Stancki da Luz
Marilia Gomes de Carvalho
Organizadoras
SUMÁRIO
Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha 
Gênero: Flashes de uma Construção 
Reflexões Sobre a Homofobia na Escola 
Heternormatividade e Homofobia no Currículo em Ação 
Enfrentando a Homofobia na Escola: 
Reflexões a Partir de Desafios Postos pela Experiência 
Gênero, Ciência e Tecnologia: Avanços e Desafios 
Percursos e Discursos na Construção 
De uma Igualdade de Gênero na Educação 
Violência de Gênero: Notas sobre um Campo de Pesquisa 
Bullying: Quando a Brincadeira vira Violência 
Meninos e Meninas 
Num Projeto de Recuperação Paralela
Desempenho Escolar em Matemática: 
O que o Gênero tem a ver com isso? 
Gênero, Sexualidades, Diferenças e Diversidades em Livros 
Para a Infância: Análises e Produções para/com Crianças 
Agitando Conceitos que Perpassam as Temáticas de Gênero e 
Sexualidade. Navegando por entre Dimensões Teóricas, 
Metodológicas e Políticas 
Sobre as Autoras e Autores 
19 
47
69
89
125
143
167
187
209
243
269
307
327
345
21
DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 
E A LEI MARIA DA PENHA 
Nanci Stancki da Luz 
INTRODUÇÃO
No Brasil, o reconhecimento da igualdade entre homens e mulheres foi 
consagrado no texto constitucional de 1988, representando um marco na efetivação 
dos direitos fundamentais das brasileiras. Todavia, o reconhecimento formal da 
igualdade impôs o desafio de concretizá-la, pois preceitos constitucionais não alteram 
automaticamente as condições objetivas de vida. 
A desigualdade de gênero ainda é uma realidade e dentre as suas expressões, 
destacamos, neste texto, a violência contra a mulher – historicamente justificada e 
naturalmente aceita, tornou-se fenômeno generalizado e um grave problema social, 
dificultando a efetivação dos direitos das mulheres. 
A violência contra a mulher tem sido visibilizada, principalmente a partir 
da luta feminista e da inserção da categoria de gênero nos estudos sobre o tema, 
mostrando que a violência é resultado de relações de poder desiguais entre homens 
e mulheres e faz parte de um sistema patriarcal que defende a supremacia masculina 
e a subordinação feminina. 
22
Igualdade de Gênero: enfrentando o sexismo e a homofobia
A ampliação do rol dos direitos humanos e a busca da sua extensão às mulheres 
deixaram explícito que a violência contra a mulher é uma violação explícita desses 
direitos. Este texto objetiva apresentar uma reflexão sobre essa forma de violação 
de direitos das mulheres e apresentar uma avaliação sobre os mecanismos adotados 
pelo Brasil para o enfrentamento da violência de gênero e a promoção da igualdade 
de gênero, dentre os quais a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de 
Discriminação contra a mulher, a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir 
e Erradicar a Violência Contra a Mulher e a Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). 
Os DIReITOs HUmaNOs
O debate sobre a existência de direitos fundamentais aos seres humanos é 
bastante antigo:
Antes mesmo de se pensar em uma positivação, os filósofos gregos já 
examinavam o problema dentro da esfera do Direito Natural.Na Idade 
Média, o homem adquire, através da razão iluminista, uma série de direitos 
fundamentais, que seriam inerentes a sua própria natureza racional. Com as 
revoluções liberais, o indivíduo passa a ser o centro da organização social, sendo 
cara a essas revoluções a defesa da autonomia privada, cristalizada no direito à 
vida, à liberdade e à propriedade (RAMOS, 2002, p. 12).
Segundo Teles (2006), com a promulgação das declarações de direitos no final 
do século XVIII, como a Declaração Americana de Virgínia (1776) e a Declaração 
Francesa (1789), atribui-se um novo sentido à condição humana. 
Piovesan (2003) também destaca estes momentos históricos, destacando que 
a igualdade formal reduzida à fórmula “todos são iguais perante a lei”, foi um avanço 
histórico decorrente das Declarações de Direitos do século XVIII. A Declaração 
Francesa e a Americana buscam limitar o controle do poder do Estado, introduzindo 
uma concepção formal de igualdade, como um dos elementos a demarcar o Estado 
de Direito Liberal. Naquele momento não se previa qualquer direito de natureza 
social e tampouco se pensava na igualdade numa perspectiva material e substantiva. 
Tornou-se necessário o repensar da igualdade para que especificidades e diferenças 
fossem observadas e respeitadas. Essa perspectiva foi concretizada com um processo 
de ampliação dos direitos humanos. Gradativamente vai se consolidando um aparato 
23
Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha 
normativo especial de proteção de pessoas ou grupos de pessoas que, de alguma 
forma, necessitem de proteção especial, passando a reconhecer direitos das crianças, 
idosos, mulheres, vítimas de tortura, vítimas de discriminação, entre outros.
Mobilizações sociais possibilitaram uma alteração sobre o conceito de 
direitos humanos e principalmente sobre a ideia de sujeito de direitos – os direitos 
humanos passam a reconhecer a pluralidade e a diversidade desses sujeitos. Lutas 
de movimentos específicos, dentre os quais mulheres, negros, LGBT, explicitam que 
tais direitos foram historicamente negados a uma grande parcela da humanidade e 
que não seria possível a efetivação dos direitos humanos sem o reconhecimento da 
igualdade de direitos para as mulheres, negros, pobres, analfabetos, homossexuais, 
travestis, idosos, ou seja, para toda a humanidade.
Embora se admita que o Estado tenha um papel relevante no sentido de efetivar 
direitos, principalmente a partir de políticas públicas, a história das lutas sociais 
aponta que o Estado não é, por excelência, o promotor dos direitos fundamentais. Em 
determinados momentos históricos a sua efetivação deveu-se a ações da sociedade 
civil organizada, inclusive contra políticas de Estado ou de governo que limitavam 
o exercício da cidadania para todos(as). O movimento sindical e a organização da 
classe trabalhadora, por exemplo, tiveram um papel relevante para que os direitos 
humanos incorporassem a ideia de direitos sociais, econômicos e culturais, dentre 
os quais o direito ao trabalho, à organização sindical, à remuneração justa, à greve, à 
moradia, à educação, à previdência, à saúde, etc.
Podemos considerar que lutas sociais que visem garantir ou ampliar direitos 
fundamentais constituem formas de efetivar os direitos humanos. Assim, a luta do 
povo negro na resistência aos processos degradantes e vergonhosos de escravidão 
humana e na efetivação dos direitos civis e sociais; a dos povos indígenas para 
garantir posse de suas terras e o direito de ter sua cultura respeitada; a das mulheres 
para garantir o direito sobre suas vidas e seus corpos; a do movimento LGBT para o 
reconhecimento da igualdade de direitos e contra a discriminação de lésbicas, gays, 
bissexuais, transgêneros; são formas, dentre outras, de concretizar os direitos humanos. 
Assim, vale destacar, que a história dos direitos humanos é complexa e 
deve ser lida na sua relação com a história social, tendo como protagonistas as lutas 
concretas para a afirmação histórica desses direitos (TOSI, 2010). 
24
Igualdade de Gênero: enfrentando o sexismo e a homofobia
O “alargamento” do rol de direitos humanos reforça que se protege um 
direito fundamental pelo seu conteúdo, consagrando uma intenção de proteger 
um princípio maior que é a dignidade da pessoa humana, de um ponto de vista 
ético-valorativo. Assim, se considera que direitos humanos é um conjunto mínimo 
de direitos necessário para assegurar uma vida humana digna. Destaca-se que a 
ampliação do rol dos direitos humanos e a sua tradicional classificação em gerações1 
reflete tanto a evolução doutrinária do tema quanto demonstra que a definição 
“direito fundamental” é uma conquista histórica (RAMOS, 2002).
Os direitos humanos das primeiras declarações foram os chamados de 
“primeira geração” – direitos individuais. A esses direitos, somaram-se os direitos 
civis e políticos que possibilitaram a organização em associações de classe, participar 
de partidos políticos e da vida pública:
No século XIX, as propostas socialistas surgiram como uma alavanca ao 
processo histórico dos direitos humanos, que se encontravam em um impasse 
entre as pretensões formais e os direitos materiais propriamente ditos, aplicados 
seletivamente aos que possuíam propriedade. Em geral, homens, brancos e 
ricos. [...] No ápice do movimento socialista deu-se com a vitória da revolução 
soviética, em 1917. Nasce a “segunda geração de direitos humanos”, conhecidos 
como sociais e econômicos, que visam ao reconhecimento ao trabalho, à saúde, 
à educação. Esses direitos seriam incorporados aos textos constitucionais a 
partir do século XX e reafirmados com a proclamação da Declaração Universal 
dos Direitos Humanos (TELES, 2006, p. 25).
Dornelles (2007) destaca a importância do movimento operário nesse 
processo de construção de direitos. Tal movimento demonstrou que o reconhecimento 
1 A primeira geração de direitos humanos refere-se aos direitos individuais atribuídos a uma pretensa 
condição natural do indivíduo e expressam as lutas da burguesia revolucionária, com base na filosofia 
iluminista e na tradição doutrinária liberal, contra o despotismo dos antigos Estados absolutistas, 
requerendo assim a abstenção do Estado para o seu pleno exercício. A segunda geração dos direitos 
humanos refere-se aos direitos coletivos. Os direitos humanos deixam de ser entendidos apenas como 
direitos individuais e passam a incorporar a ideia de direitos coletivos de natureza social. Para dar conta 
da expansão conceitual a expressão “direitos sociais, econômicos e culturais” passa a ser utilizada. Entre 
os direitos fundamentais de natureza social, econômica e cultural estão o direito ao trabalho, direito à 
organização sindical, direito à previdência social, direito à greve, direito à educação gratuita, direito à 
uma remuneração digna, direitos trabalhistas, direito à moradia, etc. Os direitos dos povos ou os direitos 
da solidariedade compõem a terceira geração dos direitos humanos e são direitos a serem garantidos 
com o esforço conjunto do Estado, dos indivíduos, dos diferentes setores da sociedade e das diferentes 
nações (DORNELLES, 2002, p. 18-35).
25
Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha 
de um direito não garantia o seu efetivo exercício. Não se tratava mais de admitir a 
existência de direitos naturais inerentes à pessoa humana. Os direitos sociais não 
teriam o intuito de limitar a intervenção e o poder do Estado, pois tais direitos 
passavam a exigir a ação do poder estatal para criar condições para o seu efetivo 
exercício. Tratava-se, portanto, não apenas de enunciar direitos, mas também de 
prever mecanismos adequados para a sua viabilização. Nesta perspectiva, Estado 
passaria a ser um grande promotor das garantias e direitos sociais.
Para Tosi (2010), os direitos humanos passam a ser valores que orientam o 
próprio direito e queo Estado e a sociedade realizam por meio de instituições. A partir 
de sua positivação, transformam-se em obrigações jurídicas que vinculam as relações 
internas e externas dos Estados e exigem para sua efetivação a implementação de 
instrumentos e garantias jurídicas de proteção desses direitos. Tais direitos também 
serão norteadoras de políticas públicas que possibilitarão que o Estado promova os 
direitos fundamentais de todos e de todas. 
O reconhecimento dos direitos humanos assume outra dimensão e, segundo 
Dornelles (2007), tais direitos deixam de interessar unicamente aos Estados em 
particular e passam a ser interesse de toda a comunidade internacional. Assim, o 
que passou a caracterizar a evolução dos direitos humanos no século XX foi a sua 
progressiva incorporação no plano internacional, diferentemente do que ocorreu no 
século XIX que se caracterizou pelo reconhecimento dos direitos humanos em cada 
Estado. A ampliação dos mecanismos de proteção dos direitos humanos no plano 
internacional se expressa em diferentes documentos dentre os quais se destaca:
•	 Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem: primei-
ra expressão do Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos 
Humanos, aprovada pela IX Conferência Interamericana, reunida 
na cidade de Bogotá entre março e maio de 1948;
•	 Declaração Universal dos Direitos do Homem: elaborada a par-
tir da Carta das Nações Unidas que criou a Comissão de Direitos 
Humanos, aprovada em dezembro de 1948 na Assembléia Geral 
da ONU;
•	 Convenção Americana de Direitos Humanos – Pacto de San José: 
aprovada na Conferência Especializada Interamericana sobre Di-
26
Igualdade de Gênero: enfrentando o sexismo e a homofobia
reitos Humanos, realizada em San José – Costa Rica. Texto norma-
tivo cujo objetivo é dar execução à proteção dos direitos e garan-
tias a partir da definição das regras protetoras e prever a criação da 
Comissão e da Corte Interamericana de Direitos Humanos;
•	 Declaração Universal dos Direitos dos Povos: aprovada em Argel 
em 1977. Documento enuncia princípios com a preocupação de 
construir uma nova ordem internacional mais solidária e coop-
erativa.
Além desses documentos, outros de relevância passam a compor o sistema 
de proteção aos direitos humanos. Esse sistema, de acordo com Piovesan (2003), 
passa a ser integrado por instrumentos de alcance geral – Pactos Internacionais 
de Direitos Civis e Políticos e de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – e por 
instrumentos específicos como as Convenções Internacionais que buscam responder 
a discriminação racial, a discriminação contra a mulher, a violação dos direitos das 
crianças, entre outras formas de violação. Passa a coexistir, de forma complementar, 
um sistema geral e um sistema especial de proteção dos direitos humanos. No segundo 
sistema realça-se a especificação do sujeito de direito visto em sua concretude e 
especificidade. Torna-se possível, dessa forma, assegurar às mulheres um tratamento 
específico que dê conta das particularidades e das diferenças, visando com isso assegurar 
que os direitos humanos sejam concretizados também para esta parcela da população.
a CONveNÇÃO sObRe a elImINaÇÃO De TODas as FORmas 
De DIsCRImINaÇÃO CONTRa a mUlHeR
A proclamação do Ano Internacional da Mulher e a realização, no México, 
da Conferência Mundial sobre a Mulher (em 1975) impulsionaram as Nações Unidas 
a aprovarem, em 1979, a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de 
Discriminação contra a mulher – ratificada pelo Brasil em 1984 (PIOVESAN, 2003).
Essa Convenção tem como fundamento o compromisso de eliminar a 
discriminação contra a mulher, bem como assegurar a igualdade de direitos entre 
homens e mulheres. No preâmbulo, entre outras questões, a Convenção sobre a 
Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a mulher reafirma:
27
Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha 
•	 a igualdade de direitos do homem e da mulher;
•	 a obrigação dos Estados em garantir a homens e mulheres a igual-
dade de direitos;
•	 a discriminação contra a mulher como forma de violação dos 
princípios da igualdade de direitos e do respeito à dignidade hu-
mana, constituindo-se em mecanismo que dificulta a participação 
feminina na vida política, social e cultural;
•	 a discriminação contra a mulher como um obstáculo para o bem-
estar da sociedade, da família e que dificulta o pleno desenvolvi-
mento das potencialidades da mulher, o desenvolvimento de um 
país e o bem-estar do mundo e obsta a paz;
•	 a necessidade de modificar o papel tradicional tanto do homem 
como da mulher na sociedade e na família para alcançar a plena 
igualdade de gênero.
A partir do preâmbulo, a referida Convenção em seu artigo 1º trata a 
discriminação contra a mulher como:
[…] toda distinção, exclusão ou restrição fundada no sexo e que tenha por 
objetivo ou consequência prejudicar ou destruir o reconhecimento, gozo ou 
exercício pelas mulheres, independentemente do seu estado civil, com base 
na igualdade dos homens e das mulheres, dos direitos humanos e liberdades 
fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em 
qualquer outro campo.2
Nesta perspectiva, Piovesan (2003, p. 207) considera que “a discriminação 
significa sempre desigualdade”. Para a autora, se o combate à discriminação é medida 
emergencial à implementação do direito à igualdade, há que se conjugar medidas que 
coíbam a violência com políticas que acelerem a igualdade.
[...] a igualdade e a discriminação pairam sob o binômio inclusão-exclusão. 
Enquanto a igualdade pressupõe formas de inclusão social, a discriminação 
implica na violenta exclusão e intolerância à diferença e diversidade. O que se 
2 DHNET. Direitos Humanos na Internet. Convenção sobre a eliminação de todas as formas de 
discriminação contra a mulher. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/mulher/
lex121.htm> Acesso em: 22 abr. 2009.
28
Igualdade de Gênero: enfrentando o sexismo e a homofobia
percebe é que a proibição da exclusão, em si mesma, não resulta automaticamente 
na inclusão. Logo, não é suficiente proibir a exclusão, quando o que se pretende 
é garantir a igualdade de fato, com a efetiva inclusão social de grupos que 
sofreram e sofrem um persistente padrão de violência e discriminação. Neste 
sentido, como poderoso instrumento de inclusão social, situam-se as ações 
afirmativas. Essas ações constituem medidas especiais e temporárias que, 
buscando remediar um passado discriminatório, objetivam acelerar o processo 
de igualdade, com o alcance da igualdade substantiva por parte de grupos 
vulneráveis, como as minorias étnicas e raciais, as mulheres, dentre outros 
grupos (PIOVESAN, 2003, p. 199).
Com objetivo de eliminar a discriminação e acelerar a busca pela igualdade 
entre homens e mulheres, a Convenção, em seu artigo 4º, prevê a adoção de ações de 
discriminação positiva: 
A adoção, pelos Estados Partes, de medidas especiais de caráter temporário 
visando acelerar a vigência de uma igualdade de fato entre homens e mulheres 
não será considerada discriminação, tal como definido nesta Convenção, mas 
de nenhuma maneira implicará, como consequência, na manutenção de normas 
desiguais ou distintas; essas medidas deverão ser postas de lado quando os 
objetivos de igualdade de oportunidade e tratamento tiverem sido atingidos.3
Vale destacar que, conforme relata Piovesan (2003), esta Convenção é o 
instrumento internacional que mais recebeu reservas dentre as Convenções de 
Direitos Humanos. O Estado brasileiro que a ratificou em 1984 apresentou reservas 
ao artigo 15, §4º que assegura a homens e mulheres o direito de, livremente, escolher 
seu domicílio e residência; e ao artigo 16, §1º, (a), (b), (c), (g) e (h) que estabelece 
a igualdade de direitos entre homens e mulheres, no âmbito do casamento e dasrelações familiares. O Governo brasileiro apenas em dezembro de 1994 notificou o 
Secretário Geral das Nações Unidas acerca da eliminação dessas reservas.
Segundo a Convenção (art. 2º), os Estados-partes se comprometem com a 
implementação de uma política destinada a eliminar discriminação contra a mulher, 
possibilitando avanço na construção da igualdade de gênero: 
Os Estados Partes condenam a discriminação contra as mulheres sob todas 
as suas formas, e concordam em seguir, por todos os meios apropriados e 
3 Art. 4º da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. 
29
Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha 
sem tardança, uma política destinada a eliminar a discriminação contra as 
mulheres, e para tanto, se comprometem a:
a) consagrar em suas constituições nacionais ou em outra legislação 
apropriada o princípio da igualdade dos homens e das mulheres, caso não 
o tenham feito ainda, e assegurar por lei ou por outros meios apropriados a 
aplicação na prática desse princípio;
b) adotar medidas legislativas e outras que forem apropriadas – incluindo 
sanções, se fizer necessário – proibindo toda a discriminação contra a 
mulher;
c) estabelecer a proteção jurisdicional dos direitos das mulheres em uma 
base de igualdade com os dos homens e garantir, por intermédio dos 
tribunais nacionais competentes e de outras instituições públicas, a proteção 
efetiva das mulheres contra todo ato de discriminação;
d) abster-se de incorrer em qualquer ato ou prática de discriminação contra 
as mulheres e atuar de maneira que as autoridades e instituições públicas 
ajam em conformidade com esta obrigação;
e) adotar as medidas adequadas para eliminar a discriminação contra as 
mulheres praticada por qualquer pessoa, organização ou empresa;
f) tomar todas as medidas apropriadas, inclusive de caráter legislativo, para 
modificar ou revogar leis, regulamentos, costumes e práticas que constituam 
discriminação contra as mulheres;
g) derrogar todas as disposições penais nacionais que constituam 
discriminação contra as mulheres.4
Esse compromisso do Estado brasileiro contribuiu para que a Constituição 
Federal de 1988 consagrasse o princípio da igualdade entre homens e mulheres. De 
acordo com Piovesan (2003), a Carta Magna trouxe dispositivos específicos voltados 
à mulher e consolidou o valor da igualdade, respeitando a diferença e a diversidade. 
Essa concepção exige, no entanto, duas metas básicas: o combate à discriminação e a 
promoção da igualdade, pois apenas o combate à discriminação torna-se insuficiente 
se não forem implementadas medidas voltadas para a promoção da igualdade que, 
por sua vez, mostra-se insuficiente se não se verificarem políticas de combate à 
discriminação.
4 Art. 2º da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher.
30
Igualdade de Gênero: enfrentando o sexismo e a homofobia
O processo de discriminação da mulher envolve inúmeros aspectos, conforme 
prevê a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a 
Mulher. Este texto destacará a violência contra a mulher, considerada como forma de 
discriminar, subjugar e dominar, bem como reproduzir as desigualdades de gênero e 
violar os direitos humanos das mulheres.
Destaca-se um importante instrumento normativo que visa contribuir para 
a redução/eliminação da violência contra a mulher e a efetivação da igualdade de 
direitos entre homens e mulheres: a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir 
e Erradicar a Violência contra a Mulher.
a CONveNÇÃO INTeRameRICaNa paRa pReveNIR, pUNIR e 
eRRaDICaR a vIOlêNCIa CONTRa a mUlHeR
A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência 
Contra a Mulher, conhecida como Convenção de Belém do Pará, foi adotada, em 
1994, pela Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos e ratificada 
pelo Brasil em 1995. Ela representou um grande avanço para a proteção dos direitos 
humanos das mulheres, pois de acordo Piovesan (2003), a Convenção de Belém do 
Pará é o primeiro tratado internacional de proteção de direitos humanos a reconhecer 
a violência contra a mulher como um fenômeno generalizado. 
O preâmbulo da referida Convenção dispõe que:
[…] a violência contra a mulher transcende todos os setores da sociedade, 
independentemente de sua classe, raça ou grupo étnico, níveis de salário, cultura, 
nível educacional, idade ou religião, e afeta negativamente suas próprias bases.5
Ainda no preâmbulo, há o reconhecimento de que a violência contra a 
mulher constitui violação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e uma 
ofensa à dignidade humana e uma manifestação das relações de poder historicamente 
desiguais entre mulheres e homens. 
5 DHNET. Direitos Humanos na Internet. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar 
a Violência Contra a Mulher. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/oea/mulher2.htm> 
Acesso em: 22 abr. 2009.
31
Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha 
A Convenção de Belém do Pará, dessa forma, conceitua a violência contra 
a mulher de forma ampla, tratando-a como uma ofensa à dignidade humana, uma 
manifestação de relações de poder desiguais entre mulheres e homens e reconhece que a 
eliminação da violência contra a mulher é condição indispensável para o desenvolvimento 
individual e social da mulher e sua plena e igualitária participação em todas as esferas da 
vida. Neste sentido, define, em seu artigo 1º, a violência contra a mulher como “qualquer 
ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual 
ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado”.6
Entende, em seu artigo 2º, que a violência contra a mulher inclui a violência física, 
sexual e psicológica e que independe da origem do agressor (família, comunidade ou Estado):
1. que tenha ocorrido dentro da família ou unidade doméstica ou em qualquer 
outra relação interpessoal, em que o agressor conviva ou haja convivido no 
mesmo domicílio que a mulher e que compreende, entre outros, estupro, 
violação, maus-tratos e abuso sexual: 
2. que tenha ocorrido na comunidade e seja perpetrada por qualquer pessoa e 
que compreende, entre outros, violação, abuso sexual, tortura, maus tratos de 
pessoas, tráfico de mulheres, prostituição forçada, seqüestro e assédio sexual no 
lugar de trabalho, bem como em instituições educacionais, estabelecimentos de 
saúde ou qualquer outro lugar, e 
3. que seja perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que 
ocorra.7
Esses artigos reconhecem que a violação dos direitos humanos pode ocorrer 
no âmbito privado e que a esfera familiar e doméstica não pode ser um espaço no qual 
o Estado não pode interferir, pois é justamente nele que grande parte das violências 
contra as mulheres ocorrem.
O Capítulo II da Convenção, referente aos “Direitos Protegidos”, reconhece 
que “toda mulher tem direito a uma vida livre de violência, tanto no âmbito público 
como no privado”.8 Reconhece ainda (artigo 4º) que:
Toda mulher tem direito ao reconhecimento, gozo, exercícios e proteção de 
todos os direitos humanos e às liberdades consagradas pelos instrumentos 
6 Art. 1º da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher. 
7 Art. 2º da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher. 
8 Art. 3º da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher.
32
Igualdade de Gênero: enfrentando o sexismo e a homofobia
regionais e internacionais sobre direitos humanos. Estes direitos compreendem 
, entre outros:
1. o direito a que se respeite sua vida;
2. o direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral;
3. o direito à liberdade e à segurança pessoais;4. o direito a não ser submetida a torturas;
5. o direito a que se refere a dignidade inerente a sua pessoa e que se proteja sua 
família;
6. o direito à igualdade de proteção perante a lei e da lei;
7. o direito a um recurso simples e rápido diante dos tribunais competentes, que 
a ampare contra atos que violem seus direitos;
8. o direito à liberdade de associação;
9. o direito à liberdade de professar a religião e as próprias crenças, de acordo 
com a lei;
10. o direito de ter igualdade de acesso às funções públicas de seu país e a 
participar nos assuntos públicos, incluindo a tomada de decisões.9
O direito a uma vida livre de violência inclui “o direito da mulher ser 
valorizada e educada livre de padrões estereotipados de comportamento e práticas 
sociais e culturais baseados em conceitos de inferioridade de subordinação”.10
Os Estados-partes concordam com a adoção de políticas orientadas a 
prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher e adotem medidas que visem 
modificar os padrões socioculturais de conduta de homens e mulheres. Concordam 
também a partir da previsão dos Artigos 7º e 8º em:
adotar em sua legislação interna normas penais, civis e administrativas 
necessárias para esse fim; adotar medidas jurídicas que exijam do agressor abster-se de 
fustigar, perseguir, intimidar, ameaçar, machucar ou pôr em perigo a vida da mulher 
de qualquer forma que atente contra sua integridade ou prejudique sua propriedade; 
9 Art. 4º da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a 
Mulher. 
10 Art. 6ºb da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a 
Mulher.
33
Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha 
estabelecer procedimentos jurídicos justos e eficazes para a mulher que 
tenha sido submetida à violência, que incluam, entre outros, medidas de proteção, 
um julgamento oportuno e o acesso efetivo a tais procedimentos; 
aplicar os serviços especializados apropriados para o atendimento necessário 
à mulher objeto de violência, por meio de entidades dos setores público e privado, 
inclusive abrigos, serviços de orientação para toda a família, quando for o caso, e 
cuidado e custódia dos menores afetados.
A Convenção de Belém do Pará possibilitou que casos de violência contra 
mulher sem tratamento jurídico adequado no âmbito nacional se transformassem 
em denúncias de violação de direitos humanos para a Comissão Interamericana 
de Direitos Humanos. Piovesan (2009) analisa 78 casos admitidos pela Comissão 
Interamericana contra o Estado brasileiro, no período de 1970 a 2004, dentre os 
quais três referem-se a denúncias de violência contra a mulher, fundamentadas na 
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a 
Mulher:
O caso 11996 é de Márcia Cristina Rigo Leopoldi, estudante de Arquitetura, 
estrangulada em sua própria casa pelo ex-namorado em 10 de março de 1984. O 
assassino foi condenado a quinze anos de reclusão, mas após concessão da Habeas 
corpus – afastada posteriormente – foragiu e não foi preso. Este é o primeiro caso 
contra o Estado Brasileiro baseado na Convenção Interamericana para Prevenir, 
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. Os peticionários requerem a condenação 
do Brasil pela afronta ao direito assegurado à mulher a uma vida livre de violência e o dever 
do Estado em atuar no sentido de prevenir, investigar e punir a violência contra a mulher.
O caso 12051 denuncia o Estado brasileiro no mesmo sentido e refere-se à 
violência cometida por seu então companheiro contra Maria da Penha Maia Fernandes. 
Este caso leva à condenação do Brasil, no âmbito do sistema interamericano de 
proteção dos direitos humanos. Em cumprimento à decisão da Comissão, o Estado 
Brasileiro adotou a Lei n. 11.340/2006 que cria mecanismos para coibir e prevenir a 
violência doméstica e familiar contra a mulher.
O caso 12263 refere-se ao assassinato da estudante Márcia Barbosa de Souza 
em João Pessoa (Paraíba) em junho de 1998. O principal acusado era deputado 
estadual e, em decorrência da imunidade parlamentar, só poderia ser processado 
34
Igualdade de Gênero: enfrentando o sexismo e a homofobia
criminalmente com autorização da Assembleia Legislativa do Estado que por duas 
vezes indeferiu pedido neste sentido.
Para a autora esses casos denunciam um padrão específico de violência que 
alcança as mulheres:
Trata-se da violência baseada no gênero, capaz de causar morte, dano ou 
sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, seja na esfera pública, seja 
na esfera privada. Reconhece-se assim que o domínio do privado não é mais 
indevassável quando ocorre violação a direitos humanos. Embora esse padrão 
específico de violência seja distinto dos demais padrões até então examinados 
– em que os próprios agentes estatais atuam como agentes perpetradores na 
esfera pública –, os casos se assemelham aos demais casos na medida em que, 
do mesmo modo, requerem o combate à impunidade, acentuando o dever do 
Estado em investigar, processar e punir agentes responsáveis (PIOVESAN, 
2009, p. 328-329).
A Convenção de Belém do Pará e a Convenção sobre a Eliminação de 
todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher revelam a urgência de se 
eliminar a discriminação e a violência contra a mulher e promover a igualdade 
material e substantiva. Tais convenções buscam proteger o valor da igualdade, 
baseada no respeito à diferença e a aplicação desses instrumentos pode contribuir 
para a promoção dos direitos humanos das mulheres. Conforme lembra Piovesan 
(2003), os direitos humanos das mulheres são parte inalienável, integral e 
indivisível dos direitos humanos universais, pois não há direitos humanos sem a 
observância dos direitos humanos das mulheres, ou seja, não há direitos humanos 
sem que a metade da população exerça em igualdade de condições, os direitos 
fundamentais.
A partir da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a 
Violência Contra a Mulher e da condenação do Estado Brasileiro no caso 12051, 
o Brasil passou a adotar medidas para coibir a violência doméstica, entre elas 
destaca-se a Lei Maria da Penha – Lei n. 11.340/2006.
35
Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha 
a leI maRIa Da peNHa
A Lei n. 11.340/200611, conhecida como Lei Maria da Penha, sancionada 
em 07 de agosto de 2006 pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, 
representa uma resposta do Estado brasileiro às inúmeras violações dos direitos 
humanos das mulheres vítimas da violência doméstica e familiar no país e uma 
importante conquista da luta das mulheres e de toda sociedade brasileira.
A Lei Maria da Penha foi assim chamada em homenagem à farmacêutica 
Maria da Penha Maia Fernandes, uma das vítimas da violência doméstica no país.
Essa discussão inicial nos remete ao ano de 1983, em Fortaleza, Estado do 
Ceará, época em que Marcos Antonio Herredia, então marido de Maria da Penha, 
em ato flagrantemente premeditado, tentou matá-la por duas vezes. Na primeira 
vez simulou um assalto e, enquanto ela dormia, desferiu-lhe um tiro de espingarda, 
deixando-a paraplégica. Não contente, ele ainda tentou eletrocutá-la no banho 
por meio de uma descarga elétrica, pouco tempo após essa primeira tentativa de 
homicídio. A ação premeditada foi reforçada a partir dos seguintes fatos: semanas 
antes da agressão, Heredia tentou convencer Maria da Penha a fazer um seguro 
de vida em favor dele e, alguns dias antes de agredi-la, tentou obrigá-la a assinar 
documento de venda de carro, de propriedade dela.
As agressões deixaram marcas físicas (paraplegia irreversível) e psicológicas. 
A dor de Maria da Penha, no entanto, foi canalizada para a luta em defesa do fim da 
violência contra a mulher (SOUZA, 2008). 
A partir de então Maria da Penha iniciou uma longa luta para que seu 
agressorfosse condenado e punido pelo seu crime. O caso demorou oito anos para se 
ter uma decisão do Júri que somente em 1991 proferiu sentença condenatória contra 
Heredia, aplicando-lhe 15 anos de prisão (que poderia ser reduzida a dez por não 
11 BRASIL. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e 
familiar contra a mulher, nos termos do §8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana 
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de 
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a 
Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/_
Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm> Acesso em: 03 mar. 2009.
36
Igualdade de Gênero: enfrentando o sexismo e a homofobia
haver condenação anterior). Após apelação da defesa (apresentada extemporaneamente), 
em 1995, a condenação foi anulada, aceitando-se a alegação apresentada pela defesa de que 
houve vícios na formulação de perguntas aos jurados. Novo julgamento ocorreu em 1996 e 
condenou Heredia a dez anos e seis meses de prisão. Houve uma segunda apelação alegando 
que o réu teria sido julgado ignorando-se as provas dos autos. Maria da Penha juntamente 
com o Centro pela Justiça e o Direito Internacional e o Comitê Latino-Americano de Defesa 
da Mulher apresentou, em 1998, denúncia contra o Brasil à Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos12.
Rogério Cunha e Ronaldo Pinto relatam que o caso chegou à Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos, órgão da Organização dos Estados Americanos 
(OEA), sediada em Washington, Estados Unidos, cuja principal tarefa consiste na análise 
de petições apresentadas com denúncias de violações de direitos humanos. Qualquer 
indivíduo (incluindo a vítima da violação), grupo ou organização não governamental 
(ONG) legalmente reconhecida tem legitimidade para formular tais petições. Em 20 de 
agosto de 1998, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos recebeu a denúncia 
do crime de violência doméstica apresentada por Maria da Penha. O Brasil se omitiu 
em responder as indagações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos; em 
1998 quando solicitado para prestar informações, nada respondeu; em 1999, reiterado 
o pedido de informações, novamente não respondeu; em 2000, também não respondeu 
aos pedidos de esclarecimento. Frente à inércia do Estado brasileiro foi aplicado o artigo 
39 do Regulamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, presumindo-
se verdadeiros os fatos relatados na denúncia (CUNHA e PINTO, 2008).
Frente a esses fatos, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos publicou 
o Relatório 54/2001 que culminou, anos mais tarde, com a Lei Maria da Penha:
 
Mais especificamente quanto ao caso concreto, a Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos assim se pronunciou: “A Comissão recomenda ao Estado 
que proceda uma investigação séria, imparcial e exaustiva para determinar a 
responsabilidade penal do autor do delito de tentativa de homicídio em prejuízo 
da Senhora Fernandes e para determinar se há outros fatos ou ações de agentes 
estatais que tenham impedido o processamento rápido e efetivo do responsável; 
também recomenda a reparação efetiva e pronta da vítima e a adoção de 
12 Dados retirados do Relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos n. 54/01, caso 
12.051 – Maria da Penha Maia Fernandes apresentado por Amini Haddad Campos e Lindinalva 
Rodrigues Corrêa – Direitos Humanos das Mulheres – editora Juruá, 2009. 
37
Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha 
medidas, no âmbito nacional, para eliminar essa tolerância do Estado ante a 
violência doméstica contra mulheres”(CUNHA e PINTO, 2008, p. 25).
O Relatório foi enviado ao Estado brasileiro em março de 2001 para que em um 
mês fossem cumpridas as suas recomendações. Nesta fase, houve novamente omissão 
do Brasil. Frente ao não cumprimento, a Comissão tornou público o teor do relatório 
e o Estado Brasileiro é condenado a pagar uma indenização de 20 mil dólares em favor 
de Maria da Penha, que foi imposta ao Estado do Ceará (CUNHA e PINTO, 2008).
Assim, conforme resgata Souza (2008), o nome atribuído à Lei 11.340/06 
encontra razão de ser na luta desenvolvida pela vítima Maria da Penha diante da 
inoperância da legislação brasileira:
Ressalte-se que a luta da biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes 
não se deu apenas no âmbito interno, tendo ela o discernimento de levar a 
sua batalha pelos direitos humanos das mulheres aos campos internacionais, 
principalmente pela omissão brasileira em implementar medidas investigativas 
e punitivas contra o agressor, dentro do denominado razoável prazo de duração 
do processo, o que culminou com uma condenação do Estado brasileiro perante 
a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão da OEA (SOUZA, 
2008, p. 30).
O caso de Maria da Penha e toda a sua luta para ter o reconhecimento de seus 
direitos não retratam um fato isolado. Os dados sobre violência no Brasil confirmam 
a assertiva da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência 
Contra a Mulher de que a violência contra a mulher é um fenômeno generalizado. 
Existem em nosso país inúmeras vítimas da violência, particularmente da doméstica, 
são “Marias” de todas as camadas sociais, de diversas etnias, de diferentes idades e 
distribuídas por todo o país e que continuam a sofrer as atrocidades e a violência 
daqueles que se espera afeto e proteção. A existência dessas mulheres, a busca 
da igualdade de direitos entre homens e mulheres, bem como a necessidade da 
efetivação dos direitos humanos das mulheres é a razão necessária e talvez suficiente 
para justificar a existência da Lei Maria da Penha13.
13 A Lei Maria da Penha teve como referência básica a Constituição Federal, a Convenção para 
Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher e a Convenção Interamericana para 
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher (LIMA, 2007). 
38
Igualdade de Gênero: enfrentando o sexismo e a homofobia
Para Souza (2008) é patente a desigualdade existente entre os gêneros, pois 
as mulheres aparecem como parte que mais sofre as discriminações e violências, não 
só físicas, mas também culturais. Neste sentido, a existência de uma discriminação 
em favor da mulher tem o claro objetivo de dotá-la de uma especial proteção para 
permitir que o gênero feminino tenha compensações que equiparem as mulheres 
à situação vivida pelos homens. A Lei Maria da Penha constitui, dessa forma, uma 
política ou ação afirmativa no sentido de possibilitar que, em relação à questão da 
violência, as mulheres alcancem o respeito à sua dignidade enquanto ser humano, 
bem como atinjam a igualdade de condições em relação aos homens, estando em 
consonância com a Constituição Federal de 1988.
Até o advento da Lei Maria da Penha, a violência doméstica não mereceu 
a devida atenção, nem da sociedade, nem do legislador e tampouco do Judiciário, 
sendo tratada como situações que ocorriam no âmbito privado, prevalecia que “em 
briga de marido e mulher ninguém põe a colher” (DIAS, 2007).
Os crimes de violência contra a mulher, antes da Lei Maria da Penha, eram 
atendidos nos Juizados Especiais Criminais que, de acordo com artigo 60 da Lei 
9.099/95, têm competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações 
penais de menor poder ofensivo. O artigo 61 da referida lei define tais infrações:
Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos 
desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima 
não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa(Redação dada pela 
Lei n. 11.313, de 2006).14
Frente à inexistência de lei específica que tipificasse a violência doméstica 
contra a mulher, tal violação de direitos das mulheres era tratada como sendo um 
crime de menor poder ofensivo e, dessa forma, suas punições tão brandas que não 
contribuíam de forma satisfatória para inibir ou prevenir a violência contra a mulher. 
A Lei Maria da Penha prevê, conforme artigo 41, que independente da pena, não 
se aplica mais a Lei 9.099/95 para casos de violência doméstica e familiar contra a 
mulher. As penas de cestas básicas ou outras de prestação pecuniária ou a substituição 
de pena por pagamento isolado de multa também passam a ser vedadas: 
14 BRASIL. Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e 
Criminais e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.
htm> Acesso em: 03 mar. 2009.
39
Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha 
Houve uma vulgarização na aplicação desse tipo de pena e de sua variação 
(cestas básicas), a situações onde efetivamente ela não atingia os objetivos 
preventivos e tampouco a reprovação do crime (CP, art. 59) e então, ao invés 
de buscar mecanismos de correção de aplicação dessa importante modalidade 
de pena, que em diversas situações termina por valorizar a vítima, o legislador 
radicalizou ao extremo e preferiu vedá-la (SOUZA, 2008, p. 114).
A Lei n. 11.340/06 retira dos Juizados Especiais Criminais a competência 
para julgar os crimes de violência doméstica e familiar, tipificando tais crimes. No 
artigo 1º são apresentadas as finalidades da lei:
Art. 1º. Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e 
familiar contra a mulher, nos termos do §8º do art. 226 da Constituição Federal, 
da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a 
Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a 
Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela 
República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência 
Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e 
proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.15
A proteção diferenciada para a mulher em situação de violência doméstica 
justifica-se pela sua condição peculiar, pois ela ocorre em um espaço onde nem 
sempre há quem preste socorro e, muitas vezes, a vítima depende do agressor 
afetiva e financeiramente. Essa realidade deve estar presente na aplicação da lei e 
pode inclusive contribuir para formar argumentos no sentido de afastar ou enfrentar 
discussões sobre a inconstitucionalidade da lei (CUNHA e PINTO, 2008).
Assim, a Lei Maria da Penha revela-se necessária devido ao grave quadro 
de violência contra a mulher presente no país e aos desequilíbrios de poder entre 
homens e mulheres, justificando assim um tratamento diferenciado e adequado à 
realidade das mulheres vítimas de violência: 
Não há como exigir que o desprotegido, o hipossuficiente, o subalterno, 
formalizem queixa contra seu agressor. Esse desequilíbrio também ocorre 
no âmbito das relações afetivas, já que, em sua maciça maioria, a violência é 
perpetrada por maridos, companheiros ou pais contra mulheres, crianças e 
adolescentes. Apesar da igualdade entre os sexos estar ressaltada enfaticamente 
na Constituição Federal, é secular a discriminação que coloca a mulher em 
posição de inferioridade e subordinação frente ao homem. A desproporção, 
15 Art. 1º da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. 
40
Igualdade de Gênero: enfrentando o sexismo e a homofobia
quer física, quer de valoração social, entre o gênero masculino e feminino, não 
pode ser olvidada (DIAS, 2007, p. 22).
A mulher passa a contar com um precioso estatuto, sendo sua aplicação 
uma exigência das estatísticas que demonstram a situação de verdadeira calamidade 
pública que assumiu a agressão contra as mulheres (CUNHA e PINTO, 2008).
Para Souza (2008), o termo “violência doméstica” apresenta o mesmo 
significado de “violência familiar” ou “violência intra-familiar”, circunscrevendo-se 
aos atos de maltrato desenvolvidos no âmbito domiciliar, residencial ou em relação 
a um lugar onde habite um grupo familiar. A Lei objetiva garantir a proteção da 
mulher enquanto ser humano mais suscetível de sofrer com o fenômeno da violência 
e levando em conta que é no seio do grupo familiar que a mulher mais sofre violências 
praticadas principalmente pelo seu marido, companheiro ou convivente, pai e irmão. 
O tratamento desigual de homens e mulheres é justamente o que possibilitará o alcance 
da real igualdade de gênero. O autor defende que, enquanto política afirmativa, uma 
vez atingida a igualdade entre homens e mulheres no âmbito da violência doméstica 
e familiar, deve-se passar a ter um tratamento isonômico entre os gêneros, mas isto 
não é a situação atual.
A violência doméstica e familiar é considerada como “qualquer ação ou 
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou 
psicológico e dano moral ou patrimonial”16 e “constitui uma das formas de violação 
dos direitos humanos”17.
São evidentes as mudanças na forma de perceber a violência e seu respectivo 
tratamento a partir do advento da Lei Maria da Penha. O quadro 1 apresenta as 
inovações da lei, comparando o tratamento dado às vítimas de violência doméstica e 
familiar contra a mulher antes e depois da Lei ser sancionada.
16 Art. 5º da Lei 11.340/2006.
17 Art. 6º da Lei 11.340/2006.
41
Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha 
Quadro 1: Violência doméstica antes e depois da Lei Maria da Penha
antes da lei maria da penha Depois da lei maria da penha
Não existia lei específica sobre violência domé-
stica contra a mulher.
Tipifica e define a violência doméstica e famil-
iar contra a mulher.
Não estabelece formas desta violência. Estabelece as formas da violência doméstica – 
física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.
Aplica a Lei dos Juizados Especiais Criminais 
que julgam crimes de menor poder ofensivo.
Retira dos Juizados Especiais a competência 
para julgar os crimes de violência doméstica.
Permite a aplicação de penas pecuniárias como 
as de cestas básicas e multa.
Proíbe a aplicação destas penas.
Os Juizados Especiais tratam apenas do crime. 
Para resolver outras questões (separação, pen-
são, guarda de filhos) tem que ingressar com 
processo na Vara da Família.
São criados os Juizados Especiais de Violência 
Doméstica e Familiar contra a Mulher com 
competência cível e criminal para abranger 
todas as questões.
A mulher pode desistir da denúncia na delega-
cia.
A mulher somente renuncia perante o juiz.
A mulher entrega a intimação para o agressor 
comparecer em audiência.
É vedada a entrega da intimação pela mulher 
ao agressor.
Não é utilizado prisão em flagrante do agressor. Possibilita a prisão em flagrante.
Não prevê a prisão preventiva para os crimes de 
violência doméstica
Altera o Código do Processo Penal para pos-
sibilitar ao juiz a decretação da prisão preven-
tiva quando houver risco à integridade física 
ou psicológica da mulher.
A mulher vítima geralmente não é informada 
sobre o andamento dos atos processuais.
A mulher vítima será notificada dos atos pro-
cessuais, especialmente quanto ao ingresso e 
saída da prisão do agressor.
A mulher vítima em geral vai desacompanhada 
de advogado ou defensor público em audiên-
cia.
A mulher vítima deverá ser acompanhada de 
advogado ou defensor público em todos os 
atos processuais.
A pena é de 6 meses a 1 ano. A pena passa a ser de 3 meses a 3 anos.
Não prevê o comparecimento do agressor a 
programas de recuperação e agressão.
Altera a Lei de Execuções Penais para permitir 
que o juiz determine o comparecimentoobrig-
atório do agressor a programas de recuperação 
e reeducação.
Fonte: secretaria Nacional sobre a mulher Trabalhadora da CUT a partir 
de informações da secretaria especial de políticas para as mulheres, 2008, p. 28.
42
Igualdade de Gênero: enfrentando o sexismo e a homofobia
A partir do quadro comparativo, pode-se verificar que os mecanismos criados 
pela Lei Maria da Penha para coibir e prevenir a violência doméstica são amplos, 
envolvendo formas de assistência à mulher em situação de violência doméstica e 
familiar, medidas de prevenção, formas de atendimento pela autoridade policial, 
procedimentos judiciais, medidas protetivas de urgência, assistência judiciária.
Embora se possa questionar sobre a eficácia dos processos punitivos, deve-se 
considerar que a Lei Maria da Penha cumpre um importante papel de acabar com 
a impunidade dos crimes contra a mulher. Uma sociedade que prevê mecanismos 
de punição para diferentes crimes, quando deixa de punir outros – violência contra 
a mulher, por exemplo – envia uma mensagem clara de desvalorização da vítima 
(mulher), de aceitação da impunidade e de estímulo para que a violência perdure. 
A Lei prevê punição sim, não para os homens, mas para os homens que cometem 
crimes contra a mulher – o que é condenável e deve receber tratamento condizente 
com a gravidade que representa essa questão, a exemplo do que ocorre em outras 
esferas criminais.
A punição, no entanto, nem sempre dá resultados sociais satisfatórios, pois 
não consegue evitar que a violência ocorra, embora possa inibir. A prevenção revela-
se importante, pois o que se deseja é eliminar a violência. A lei, neste aspecto, além 
das medidas punitivas, busca também coibir a violência doméstica e familiar contra 
a mulher por meio de medidas de prevenção à violência. O artigo 8º da Lei Maria da 
Penha prevê diretrizes de uma política pública por meio de um conjunto articulado 
de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-
governamentais, visando, entre outras questões:
à promoção de busca de dados com a perspectiva de gênero e de raça ou 
etnia, concernentes às causas, às consequências e à frequência da violência doméstica 
e familiar contra a mulher;
ao respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais 
da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou 
exacerbem a violência doméstica e familiar;
à implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, 
em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher e a capacitação permanente 
das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos 
43
Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha 
profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas do Poder Judiciário, Ministério 
Público, Defensoria Pública, Segurança Pública, Assistência Social, Saúde, Educação, 
Trabalho e Habitação quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;
à promoção e à realização de campanhas educativas de prevenção da violência 
doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em 
geral, bem como à promoção de programas educacionais que disseminem valores 
éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de 
gênero e de raça ou etnia, com destaque nos currículos escolares de todos os níveis 
de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à equidade de gênero 
e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.
Conforme destaca Dias (2007), a violência sofrida pela mulher é 
responsabilidade sobretudo do agressor, mas também da sociedade que ainda 
cultiva valores que incentivam a violência. O fundamento é cultural e decorre de 
desigualdades de poder entre homens e mulheres que acabam sendo referendadas 
pelo próprio Estado. A sociedade protege a agressividade dos homens que se veem 
como superiores, mais fortes e proprietários do corpo e da vontade da mulher e dos 
filhos.
Dessa forma, a lei soma esforços no sentido de construir a igualdade, pois a 
equiparação entre homens e mulheres não depende apenas de processos punitivos, 
mas também de ações que colaborem para a mudança de uma cultura na sociedade, 
estimulando a ideia da equidade de gênero e do respeito aos direitos humanos de 
mulheres e homens, objetivos que podem ser observados na lei.
CONsIDeRaÇões FINaIs 
A Lei Maria da Penha representa importante mecanismo e um avanço no 
combate à violência doméstica, podendo contribuir para mudanças de cultura no 
âmbito doméstico e para que as relações no âmbito privado possam ser estabelecidas 
a partir de parâmetros de respeito aos direitos fundamentais. As estatísticas sobre 
violência doméstica e familiar revelam que o direito à vida, à segurança, à saúde, à 
educação não tem se efetivado para um número significativo de mulheres, assim a lei 
44
Igualdade de Gênero: enfrentando o sexismo e a homofobia
visa efetivar o direito de viver sem violência, resgatando a mulher como ser sujeito 
de direitos.
A Lei 11.340/06 revela-se inovadora ao expandir o conceito restrito de 
violência e considerar como violência não só a física, mas também a psicológica, 
sexual, patrimonial e moral, assumindo dessa forma, a conceituação de violência da 
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a 
Mulher. Destacamos que a efetivação dos direitos humanos é um processo complexo 
que, atualmente envolve mecanismos internos e internacionais para cuja existência 
teve contribuição decisiva de movimentos sociais que visavam ampliar a noção de 
direitos humanos e de sujeito de direitos. Deve-se destacar ainda a contribuição 
desses movimentos no sentido de exigir que o Estado implemente políticas públicas 
que possibilitem que seus direitos sejam garantidos, particularmente no que tange 
aos direitos que exigem uma ação estatal, dentre os quais os direitos sociais. 
Podemos considerar que, historicamente, a efetivação de direitos de 
determinados grupos sociais esteve associada à organização e luta desses sujeitos. Tais 
lutas possibilitaram que parcelas da população injustamente excluídas dos benefícios 
sociais fossem consideradas na expressão genérica “todo ser humano tem direito” 
ou na expressão “todos são iguais perante a lei” e, dessa forma, reconhecidas como 
sujeitos de direitos.
Destacamos que a efetivação do direito à igualdade – essencial para 
a consolidação dos direitos fundamentais de todo ser humano – pressupõe o 
reconhecimento do direito à diferença. 
No que tange aos direitos humanos das mulheres ainda enfrentamos o 
desafio de eliminar as várias formas de manifestação de violência contra a mulher. 
O reconhecimento do princípio da igualdade pela Constituição Federal de 1988, a 
Lei Maria da Penha e a ratificação de tratados e convenções internacionais, como a 
Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher 
e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a 
Mulher, consistem em conquistas importantes na efetivação dos direitos fundamentais 
das mulheres e avanço para o enfrentamento da violência contra a mulher, proporcionado 
às vítimas e seus familiares instrumentos que tanto previnem quanto desempenham 
papel punitivo para ações que violem o direito da mulher a ter uma vida sem violência.
45
Direitos Humanos das Mulheres e a Lei Maria da Penha 
Há muitos desafios ainda a serem enfrentados, mas uma importante barreira 
para a efetivação dos direitos das mulheres e a concretização da igualdade real entre 
homens e mulheres começou a ser superada: leis que discriminam e não contribuem 
para a igualdade real passam a ser substituídas por leis que têm entre seus princípios 
a igualdade e o respeito à dignidade das mulheres.
Pode-se considerar que a Lei

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