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Meios alternativos de solução de conflitos na criação da cultura da autocomposição

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Meios alternativos de solução de conflitos na criação da cultura da autocomposição.
Alternative means of conflict resolution in creating the culture of self-composition.
Leopoldo Baffi de Favari
Pós-graduando em Processo Civil pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifica Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas. Advogado.
Resumo: Trata-se de um artigo que analisa as alterações legislativas recentes que tem por objetivo tornar o sistema judiciário mais célere e justo, propiciando de maneira mais abrangente um acesso adequado a justiça por toda a população. Abordamos a abertura ao Modelo Multiportas, principalmente no Novo Código de Processo Civil, que reforça a necessidade da substituição da cultura da sentença pela cultura da autocomposição.
Palavras Chave: Meios alternativos de solução de conflitos – Modelo Multiportas – Conciliação – Mediação – Autocomposição
Abstract: This article analyzes recent legislative changes aimed at making the judiciary faster and more equitable, providing more comprehensive access to justice for the whole population. We address the opening of the Multiport Model, especially in the New Code of Civil Procedure, which reinforces the need to replace the sentence culture with the culture of self-composition. 
Keywords: Alternative means of conflict resolution - Multiport Model - Conciliation - Mediation - Self-composition
Sumario: 1. Introdução. 2. Análise histórica dos meios de solução de conflitos. 3.A crise do judiciário. 3.1.Os Juizados Especiais como solução a crise do Judiciário. 3.2. Resolução nº 125/2010 do CNJ – Política pública de tratamento adequado de conflitos de interesses. 3.2.1.Abertura ao Modelo Multiportas. 3.3.As inovações do CPC/2015. 4.Meios autocompositivos de resolução de conflito. 4.1.Conciliação. 4.2.	Mediação. 5.Considerações finais. 6.Bibliografia
Introdução
O presente artigo tem por objetivo compreender os meios de solução de conflitos alternativos ao sistema judiciário convencional, vislumbrando os motivos que levaram o CPC/2015 a dar mais destaque a eles, tornando inclusive obrigatórias audiências de conciliação/mediação antes do início do processo em regra.
Faremos uma análise da atual conjuntura estrutural do sistema judiciário vigente, com uma breve retrospectiva da história dos modelos de solução de conflitos e como cada um deles evoluiu para o modelo atual.
Iremos demonstrar as especificidades de cada um dos meios alternativos de solução de conflitos, pela autocomposição, pautados em destaque pelo novo Código de Processo Civil, conciliação e mediação, combinando o texto da lei, com opiniões doutrinarias sobre o tema, de forma critica as determinações legais e suas aplicações práticas, sempre nos atentando a melhor adequação de cada um deles a realidade dos litígios propostos pela sociedade brasileira.
Análise histórica dos meios de solução de conflitos
A vida em sociedade naturalmente gera conflito de interesses e a necessidade de soluciona-los fez que com que ao longo da história alguns meios ganhassem destaque.
Na autotutela temos o mais obvio de todos eles, o uso da força como meio de imposição da vontade do agente sobre os demais. Trata-se de um meio de baixa complexidade do ponto de vista sociológico, em que a vontade do mais forte era garantida, sem que sobre ela fosse valorado o certo ou errado e sem que houvesse discussão sobre a razão daquele que a impõe. 
Apesar de vedado pelo ordenamento jurídico, com raras exceções, como no caso da legitima defesa, havemos de reconhecer que ainda está presente nos dias atuais, principalmente na população que é tida como vivendo a margem da sociedade, uma vez que, apesar dos esforços em contrário, a burocracia do Estado sempre o impediu de acessar e abranger a todos.
Em contraponto a autotutela temos a autocomposição, um meio de solução de conflitos pautado no diálogo entre as partes envolvidas no conflito, onde elas possam negociar termos e condições que sejam adequadas a ambas em busca da solução da demanda.
“A autocomposição é uma interessante e cada vez mais popular forma de solução dos conflitos sem a interferência da jurisdição, estando fundada no sacrifício integral ou parcial do interesse das partes envolvidas no conflito, mediante a vontade unilateral ou bilateral de tais sujeitos. O que determina a solução do conflito não é o exercício da força, como ocorre na autotutela, mas a vontade das partes, o que é muito mais condizente com o Estado democrático de direito em que vivemos. ” [1: NEVES, Daniel de Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil.9ª Ed. São Paulo. Editora Jus Podvim. P. 63. 2017]
O conceito de autocomposição é justamente o pilar da implantação dos meios alternativos de solução de conflitos em nosso sistema jurídico atual, uma vez que ela se divide em três formas distintas, transação, submissão e renúncia, que serão objeto de estudo futuro, é dele que serão trabalhados os modelos de conciliação, mediação e negociação que o atual Código de Processo Civil preconiza como caminhos a não judicialização de demandas.
Inclusive é considerado atualmente um excelente meio de pacificação social porque inexiste no caso concreto uma decisão impositiva, como ocorre na jurisdição, valorizando-se a autonomia da vontade das partes na solução dos conflitos. ”[2: Idem.]
Por outro lado, o modelo amplamente adotado pelo Estado brasileiro é o da heterocomposição, sistema no qual um terceiro, em regra um juiz, togado ou não, participa da resolução do conflito com as partes, determinando como se dará a solução. Este modelo se faz presente não apenas no sistema judiciário tradicional, mas se aplica também ao modelo de arbitragem.
A heterocomposição se difere do modelo de autocomposição, especificamente da conciliação e da mediação, pois apesar da existência de um terceiro imparcial, lá ele tem papel apenas de orientar as partes na busca pela solução do conflito, em um apenas mediando a conversa, em outro podendo aconselhar e apontar caminho as, mas em ambos os casos sem poder de afastar a autonomia de vontade das partes.
A Crise do Judiciário
O Conselho Nacional de Justiça, é o órgão que visa aperfeiçoar o trabalho do sistema judiciário brasileiro, principalmente no que diz respeito ao controle e à transparência administrativa e processual. Anualmente faz um balanço fundamentado no exercício do ano anterior e traduzindo em números a realidade de nosso sistema judiciário, denominado Justiça em Números.[3: Definição própria. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/sobre-o-cnj/quem-somos-visitas-e-contatos. Acesso em: 11/09/2017.][4: O CNJ divulga o relatório anual Justiça em Números desde 2004.]
O relatório divulgado em 2017, conclui que o número de novos processos continua a aumentar, ficando bem próximo a marca total de 80 milhões de processos, acumulando um crescimento de 31,2% desde 2009. 
Apesar dos esforços dos tribunais em otimizar a quantidades de servidores, fazendo uma redistribuição destes de acordo com a demanda por área e esfera do judiciário, buscando assim elevar o número de processos em que eles atuam por dia, o acumulo de processos ainda é extremamente alto, chegando a 3,2 vezes na Justiça Estadual e 2,6 vezes na Justiça Federal.[5: Justiça em Números 2017. Conselho Nacional de Justiça – CNJ. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/09/904f097f215cf19a2838166729516b79.pdf. Acesso em: 12/09/2017]
“Analisando o Poder Judiciário como um todo, tais diferenças significam que, mesmo que o Poder Judiciário fosse paralisado sem o ingresso de novas demandas e mantida a produtividade dos magistrados e dos servidores, seriam necessários aproximadamente 2 anos e 8 meses de trabalho para zerar o estoque. ”[6: Idem.]
Não resta dúvidas de que o sistema judiciário brasileiro está em crise devido a lentidão em que tramitam os processos frente ao crescente número de novos processos. 
Nos últimos anos claramente se notaum movimento do judiciário brasileiro, buscando trazer experiências de sucesso realizadas no exterior como meio de transformar sua atuação, tornando-se mais célere e eficaz na prestação jurisdicional e consequentemente proporcionando uma economia aos cofres públicos.
 Os Juizados Especiais como solução a crise do Judiciário
No início da década de 1980, tivemos, por meio dos Juizados de Pequenas Causas a primeira experiência formal no sentido de desburocratizar o acesso à justiça, permitindo que todo e qualquer cidadão pudesse, de maneira fácil e rápida, buscar uma solução adequada a seus conflitos sociais.
Esta ideia foi posteriormente incluída na Constituição Cidadã de 1988 como um modelo a ser buscado e em meados da década de 1990 foi aprovada a Lei 9.099/95 que instituiu os Juizados Especiais e o rito sumaríssimo, com o claro objetivo de aumentar o acesso da população a justiça e de desafogar o sistema judiciário então estabelecido.
“A prática virou lei, mas continua coerente com suas ideias iniciais, e os Juizados aproximam-se daqueles em função de quem surgiu a ideia do acesso à Justiça. A criação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais (Lei no 9.099/95) ocorreu sob a inspiração da referida Lei no 7.244/84 (Juizados de Pequenas Causas), objetivando desafogar o contingente crescente de demandas judiciárias brasileiras, trazendo mais eficiência e eficácia à válida experiência do Juizado Informal. ”[7: PINTO. Oriana Piske de A, Magalhães. Abordagem Histórica e Jurídica dos Juizados de Pequenas Causas aos Atuais Juizados Especiais Cíveis e Criminais Brasileiros – Parte II. Disponível em: http://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/artigos/2008/abordagem-historica-e-juridica-dos-juizados-de-pequenas-causas-aos-atuais-juizados-especiais-civeis-e-criminais-brasileiros-parte-ii-juiza-oriana-piske-de-azevedo-magalhaes-pinto. Acesso em: 09/09/2017]
Infelizmente a ideia de desafogar o contingente crescente de demandas judiciais teve sua eficácia consumida pelo tempo. Atualmente as varas dos Juizados Especiais acumulam quase tantos processos quantos as varas comuns e na maioria dos casos perdeu-se a celeridade na resolução dos casos que antes era marco principal.
Por outro lado, esta experiência serviu para desenvolver no direito brasileiro alguns pontos que antes eram percebidos apenas em países de Common Law. A “seleção” dos recursos, que evitam a postergação demasiada dos processos, hoje é aplicada também ao Processo Civil de modo geral no CPC/2015, que torna mais onerosa a interposição de recursos, fazendo com que sejam reduzidos o número de recursos protelatórios.
No mesmo sentido, a busca pela conciliação, preconizada no art. 2º de Lei 9.099/95, hoje é princípio essencial do novo código.[8: Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.]
Resolução nº 125/2010 do CNJ – Política pública de tratamento adequado de conflitos de interesses
Após a bem-sucedida experiência de solução de conflitos através da conciliação, trazida ao ordenamento jurídico pela Lei 9.099/95, somada a proliferação de outras experiências pelo país, o Conselho Nacional de Justiça, entendeu que era necessário uniformizar, este e outros procedimentos alternativos de solução de conflitos no âmbito nacional, consolidando o incentivo legal a solução consensual de conflitos e garantido assim acesso a uma justiça mais eficaz.
Com este objetivo, no ano de 2010, o CNJ resolveu, através da resolução nº 125/2010, estabelecer uma política pública de tratamento adequado dos conflitos de interesse de modo a traçar novas diretrizes ao judiciário brasileiro, afastando-o da chamada “cultura da sentença”.
“A conciliação e a mediação são instrumentos efetivos de pacificação social, solução e prevenção de litígios, e a sua apropriada disciplina nos programas já implementados no país tem reduzido a excessiva judicialização dos conflitos de interesses, a quantidade de recursos e de execução de sentenças. ”[9: Movimento pela Conciliação. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao-portal-da-conciliacao/movimento-conciliacao-mediacao. Acesso em 09/09/2017.]
Ao estipular a conciliação e a mediação como meios alternativos a judicialização para a solução de conflitos de interesse, o CNJ também propõe uma mudança de comportamento dos profissionais que atuam no sistema judiciário, sejam eles advogados, juízes ou membros do ministério público, uma vez que, via de regra, todos eles têm em sua formação acadêmica a ideia de que apenas por meio de sentença se faz justiça, tornando o sistema judiciário uma máquina de resolver processos, que nem sempre são a melhor solução ao caso concreto ou melhor satisfazem a pretensão das partes.
Abertura ao Modelo Multiportas
Com a determinação da nova política pública de tratamento adequado de conflitos de interesses, o CNJ trouxe um conceito já antigo nos Estados Unidos, o do Tribunal Multiportas.
“(...)modelo desenvolvido pelo professor Frank Sander, da Harvard Law School, em que os casos são encaminhados para o fórum mais adequado de resolução de acordo com as especificidades de cada disputa. ”[10: ALMEIDA. Rafael Alves de. Tribunal Multiportas – Investindo no capital social para maximizar o sistema de solução de conflitos no Brasil. Rafael Alves de Almeida, Tania Almeida, Marine Hernandez Crespo. Rio de Janeiro. FGV. 2012. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/10361/Tribunal%20Multiportas.pdf;sequence=1 . Acesso em: 09/09/2017]
O Modelo Multiportas propõe que cada conflito seja analisado e direcionado ao caminho que melhor o solucionará. Sendo mais especifico e, portanto, melhor o abordado o problema as possibilidades de que ele venha a ser solucionado de maneira mais eficaz aumentam consideravelmente em comparação com uma solução sentencial imposta as partes.
“Em verdade, sabe-se que, muitas vezes, a decisão judicial não é a solução mais adequada, considerando que suas características tendem a acirrar o conflito que eventualmente existe entre as partes. Por isso, uma jurisdição preocupada com a pacificação social deve oferecer aos litigantes um leque de opções para a composição da controvérsia, de modo que eles possam eleger aquele mecanismo que lhes oferecer a solução mais adequada e vantajosa diante do caso concreto.
Situações como relações de vizinhança ou de família, pelo caráter duradouro do convívio que tendem a ocasionar, certamente não são bem resolvidas por meio da imposição judicial de uma resposta. Técnicas tendentes a pacificação social e manutenção dos vínculos antes formados – a exemplo da mediação – tendem a oferecer respostas mais adequadas, porque fomentam as partes a encontrarem, espontaneamente, a melhor resposta ao seu problema. ”[11: MARINONI, Luiz Guilherme. Novo Curso de Processo Civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum, volume 2/ Luiz Guilherme Marinoni, Sergio Cruz Arenhart, Daniel Mitidiero. 3ª edição. Pag. 180. São Paulo. Revista dos Tribunais.]
As inovações do CPC/2015
Seguindo no contexto histórico de alterações legislativas que culminaram na abertura do sistema judiciário brasileiro a uma nova visão sobre a função social do direito, que agora busca pacificar conflitos e não mais apenas dar a eles uma solução, e a consequente abertura do ordenamento jurídico ao Modelo Multiportas, temos a recente reforma do Código de Processo Civil, na qual grandes mudanças em comparação a sua versão anterior puderam ser notadas.
O novo código traz logo de início uma parte geral, na qual expõe detalhadamente, sob o título de “Das normas fundamentais e da aplicação das normas processuais”, os princípios que passam a nortear a visão do legislador, bem como a que se deve utilizar na interpretação das normas que passam a ser dispostas.
Neste contexto nos chamam a atenção especificamente os §§ 2º e 3º do artigo 3º do CPC/2015.
“Art.3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.
(...)
§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.
§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.[12: Código de Processo Civil. Lei 13.105/2015.]
No §2º temos o nítido reforço a adoção do Modelo Multiportas a legislação e no parágrafo seguinte temos em rol não taxativo a estipulação da utilização da conciliação e da mediação, além de outros meios cabíveis, como a arbitragem e a justiça restaurativa, a solucionar adequadamente a questão sem a necessidade de judicialização.[13: Lei de Arbitragem. Lei 9.307/1996. Reformada pela Lei 13.129/2015.]
Posteriormente, entre os artigos 165 e 175, o código, além de delimitar a atuação dos profissionais tanto da conciliação quanto da mediação, criando regras para a confidencialidade dos atos que forem praticados, determina a criação de centros judiciários voltados a solução consensual de conflitos.
“Art. 165.  Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição.
(...)”[14: Código de Processo Civil. Lei 13.105/2015.]
Determina também a criação de câmaras especializadas na solução consensual de conflitos, mas voltadas a questões da administração que os entes federativos.
“Art. 174. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios criarão câmaras de mediação e conciliação, com atribuições relacionadas à solução consensual de conflitos no âmbito administrativo, tais como:
I - dirimir conflitos envolvendo órgãos e entidades da administração pública;
II - avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, por meio de conciliação, no âmbito da administração pública;
III - promover, quando couber, a celebração de termo de ajustamento de conduta. ”[15: Idem.]
Destacamos aqui a existência, desde 2007, da Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal, que resolve controvérsias entre entes da Administração Pública Federal e entre estes e a Administração Pública dos Estados, Distrito Federal e Municípios.[16: “A Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal – CCAF foi criada em 27 de setembro de 2007 e instituída pelo Ato Regimental n.º 05, de 27 de setembro de 2007, sendo unidade da Consultoria-Geral da União-CGU, que é órgão de direção superior integrante da estrutura da Advocacia-Geral da União-AGU. ” Cartilha da Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal. Disponível em: file:///C:/Users/Ricaom/Downloads/cartilha_da_camara_de_conciliacao_e_arbitragem_da_administracao_federal.pdf.][17: Idem.]
Por fim, é disciplinada a audiência de conciliação ou medição, no artigo 334 do mesmo código, em que no §4, incisos I e II, há uma determinação interessante sobre a possibilidade de não realização da referida audiência.
“Art. 334.  Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.
(..)
§ 4o A audiência não será realizada:
I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual;
II - quando não se admitir a autocomposição. 
(...)
§ 6o Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser manifestado por todos os litisconsortes.
(...)”[18: Código de Processo Civil. Lei 13.105/2015.]
Como destacado, a legislação apenas admite a não realização da audiência caso ambas as partes (inciso I), e no caso de litisconsórcio, cada um dos litisconsortes (par. 6º), se manifestem expressamente contrarias a realização da audiência. Caso apenas uma das partes o faça, o legislador entende ainda ser possível, com o auxílio dos conciliadores ou mediadores, a obtenção de um acordo entre as partes. Por fim, na possibilidade da matéria objeto da lide não ser de autocomposição, o que inviabiliza qualquer tentativa de acordo.
Mais uma vez fica demonstrada a importância que o legislador deu a busca pela solução consensual dos conflitos, na hipótese de uma das partes não comparecer à audiência.
“(...)
§ 8o O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado.
(...)”[19: Código de Processo Civil. Lei 13.105/2015. Artigo 334, §8º.]
Meios autocompositivos de resolução de conflito
Conciliação
Sendo um dos meios alternativos de solução de conflitos propostos pelo legislador, o método de conciliação conta com a participação de um terceiro imparcial que tem como função estimular o diálogo entre as partes, facilitando a elaboração de um acordo. 
Como já indicado na legislação, a conciliação é voltada para casos em que não há uma relação previa a demanda entre as partes.
“(...) 
§ 2o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem.
(...).”[20: Código de Processo Civil. Lei 13.105/2015. Artigo 165, §2º.]
No mesmo sentido, a conciliação é tida como um procedimento menos complexo com relação a mediação, de modo que por não existir relação de afeto entre as partes, não há necessidade de exposição emocional dos motivos que culminaram no conflito que se busca solucionar, apenas se busca solucionar um problema.
“ O conflito é circunstancial, sem perspectiva de gerar ou restabelecer uma relação continuada envolvendo as partes. ” Portanto, se aplica a casos em que se discute objetivamente um fato, como acidentes de transito ou responsabilidade civil.[21: CAHALI, Francisco José. Curso de Arbitragem: mediação, conciliação: resolução CNJ 125/2010. 4ª Edição. Pag. 44. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2014. ]
Deste modo, cabe ao conciliador ouvir as partes sobre os fatos em debate, se entender pertinente questiona-las sobre os termos que as satisfariam em um acordo e até mesmo intervir criando opções com a finalidade de compor o interesse de ambas as partes em um acordo que encerre a lide, satisfazendo a pretensão das partes. 
Dada a objetividade da matéria que compete ser abordada pelo método da conciliação, é admissível que a audiência seja única.[22: Sem prejuízo ao acontecimento de outras audiências caso necessário. Código de Processo Civil. Lei 13.105/2015. Artigo 334, §2°.]
Caso a audiência seja frutífera, gerando ao final o termo de acordo firmado entre as partes, este será levado ao juiz para homologação.[23: Código de Processo Civil. Lei 13.105/2015. Artigo 334, §11.]
Mediação
Diferentemente do que ocorre na conciliação, no método de mediação o terceiro imparcial apenas auxilia as partes, porém sem poder de intervir, funcionando apenas como um facilitador do diálogo entre as partes.
“Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia. ”[24: Lei de Mediação. Lei 13.140/2015. Artigo 1º, par. único.]
Isto se deve ao fato de a mediação ser voltada a casos onde existe uma previa relação, muitas vezes afetiva entre as partes, tais como causas entre familiares ou vizinhos.
“ O foco na mediação é o conflito, e não a solução. Na conciliação percebe-se o contrário: o foco é a solução, e não o conflito, E com o tratamentoàs partes, pretende-se na mediação o restabelecimento de uma convivência com equilíbrio de posições, independentemente de se chegar a uma composição, embora seja naturalmente desejada. ”[25: CAHALI, Francisco José. Curso de Arbitragem: mediação, conciliação: resolução CNJ 125/2010. 4ª Edição. Pag. 45. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2014. ]
Tendo em vista a natureza subjetiva dos temas abordados pela mediação, é comum que sejam necessárias várias audiências, até mesmo para o estabelecimento de uma relação de confiança entre as partes a ponto de permitirem o aprofundamento em assuntos que, via de regra, são de foro íntimo. Somente após compreendido as condições de relacionamento entre as partes, bem como o papel que esta relação desempenha no conflito em si, é que passa a ser possível abordar a questão que fora levada a mediação.
A Lei de Mediação traz ainda alguns aspectos importantes com relação a aplicação deste método, possibilitando que as partes busquem autonomamente este meio alternativo de solução de conflitos, sem a necessidade da propositura de uma ação, que a mediação seja estipulada como clausula contratual, tal qual é feito com o foro de eleição ou opção pela arbitragem, ou ainda que a audiência seja realizada de maneira não presencial, via internet por exemplo.[26: Lei de Mediação. Lei 13.140/2015. Artigo 21.][27: Lei de Mediação. Lei 13.140/2015. Artigos 22 e 23.][28: Lei de Mediação. Lei 13.140/2015. Artigo 46.]
Considerações finais
Como demonstramos, ao longo da história o ser humano desenvolveu diversas técnicas para solucionar os conflitos de interesse que sempre permearam vida em sociedade, nos preocupando neste artigo apenas com aquelas que apresentaram maior relevância.
No Brasil, durante muitos anos o sistema jurídico foi visto como um meio de assegurar os direitos através da cultura da sentença, onde as partes eram tratadas como adversárias no âmbito processual, fazendo com que as demandas demorassem anos para serem sandas. Este modelo, apesar de continuar presente e em muitos casos útil a solução de conflitos de interesse, certamente ainda o será por muito tempo, sempre foi muito caro, pois envolve uma grande quantidade de profissionais, e acarretou na crise do judiciário uma vez que a demasiada espera por uma decisão traz insatisfação a sociedade.
Somente nas últimas décadas o legislador passou a visualizar os meios alternativos de solução consensual de conflitos como forma de proporcionar mais celeridade processual e satisfação social. 
Adotando o Modelo Multiportas, passou a dar mais atenção as características de cada conflito, direcionado para o método mais adequado a soluciona-lo, atingindo melhor as pretensões das partes, e fazendo do direito um meio de pacificação social.
Neste sentido, o legislador tem se esforçado em implantar através de reformas graduais do ordenamento jurídico, tanto para os profissionais quanto para aqueles que são partes, uma cultura de solução consensual dos conflitos, aqui tratada como cultura da autocomposição. 
As experiências neste sentido têm se intensificado no ordenamento jurídico brasileiro, passando pela implementação dos Juizados Especiais a pouco mais de duas décadas, com a recente reforma do Código de Processo Civil que tornou as mudanças muito mais profundas e presentes no dia-a-dia forense e da sociedade de modo geral, além da elaboração da Lei de Mediação e de alterações na Lei de Arbitragem, que embora não tenha sido abordada diretamente neste artigo, tem papel importante na solução consensual de conflitos por meio da heterocomposição.
As inovações, tanto legislativas quanto praticas são muitas e recentes, basta observarmos que grande parte das leis mencionadas neste artigo datam do ano de 2015, e certamente os resultados ainda não são os esperados, como demonstra o relatório anual do CNJ, mas uma alteração cultural passa por longos períodos de transformação da sociedade e estamos certos de que nos próximos anos este quadro de crise no judiciário brasileiro devido a demasiada demora na tramitação dos processos será minimamente amenizado com a adoção desta nova perspectiva.
 “Observou-se em 2016 que, apesar de o novo código de processo civil tornar obrigatória a realização de uma audiência prévia de conciliação e mediação, a resolução de casos por meio de conciliação ainda apresenta desempenho tímido, sendo que das 30,7 milhões de sentenças e decisões terminativas, apenas 11,9% foram homologatórias de acordo – crescimento de menos de 1 ponto percentual em relação ao ano de 2015. Os índices de conciliação aumentam um pouco quando se observa apenas a fase de conhecimento do primeiro grau de jurisdição: 17,4% no juízo comum e 16,0% nos juizados especiais. A Justiça do Trabalho é a que mais conciliou, com índice de 39,7%. ”[29: Justiça em Números 2017. Conselho Nacional de Justiça – CNJ. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/09/904f097f215cf19a2838166729516b79.pdf.]
A mudança que se busca é cultural, depende não apenas da alteração do ordenamento jurídico, mas principalmente das atitudes dos profissionais em incentivar seus clientes e jurisdicionados a compreender e experimentar estas formas alternativas a solução de conflitos. 
Bibliografia
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