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2. A Preocupação com os Fenômenos Psicológicos no Século XIX

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A Preocupação com os Fenômenos Psicológicos no Século XIX
1
O Brasil no século XIX – mudanças importantes:
Deixou a condição de colônia e transformou-se em império.
Autonomia relativa, pois ainda estava sob o poder da realeza portuguesa.
Mudanças no plano cultural:
Produção de ideias e práticas de natureza psicológica.O pensamento psicológico produzido nesse período diferenciou-se do precedente, especialmente, pela vinculação às instituições então criadas. 
A produção do saber psicológico foi gerada no interior de outras áreas do conhecimento: Medicina e Educação.
2
O Pensamento Psicológico na Educação
Similar ao período precedente, mas mais sistematizado devido à vinculação com instituições e maior elaboração dos conteúdos.
A transferência da Corte para o Brasil (1808):
Necessidade de formação de quadros para os aparatos repressivo e administrativo do governo, demandando uma maior preocupação com a Educação e com o ensino. 
Pode-se dizer que foi a partir desse momento que foram criados os cursos superiores no Brasil.
Tais cursos tinham como finalidade quase exclusiva a formação profissional, praticamente inexistindo preocupação com produção de conhecimento.
3
O ensino secundário manteve, por um bom tempo, as aulas avulsas, de caráter precipuamente propedêutico, quase exclusivamente para o sexo masculino, sob o domínio da iniciativa privada, sobretudo da Igreja Católica. 
Exceção: Colégio Pedro II: de caráter universalista e enciclopédico; elitista e aristocrático; finalidade modelar.
Década de 30: criada, em Niterói, a primeira Escola Normal. Cursos de dois anos, sem garantia de formação profissional, com docentes pouco preparados. Em 1880, em São Paulo, o curso passou para três anos.
Em 1890, no Rio de Janeiro, foi criado o “Pedagogium”: centro de pesquisas educacionais e museu pedagógico, sob inspiração de Rui Barbosa. 
4
O pensamento brasileiro no século XIX, referente à Educação, sofreu profunda influência europeia. 
Principais correntes: liberalismo e o positivismo. Havia, ainda, a forte presença do tomismo e do empirismo, do espiritualismo francês e do idealismo alemão. 
Essas ideais tiveram grande influência sobre o pensamento psicológico, não apenas como tendência geral, mas por constituírem-se como conteúdos relacionados às questões de natureza psicológica. 
Conteúdos revelados pelas obras filosóficas, produzidos por professores, teólogos e médicos, que tendiam a considerar a Psicologia como parte integrante da metafísica, tendo como objeto de estudo a “alma”, o “espírito” e o “eu”. 
5
Assuntos encontrados nas obras filosóficas:
Os conceitos relativos aos fundamentos da vida psíquica (alma, eu, consciência, identidade, caráter, faculdades etc.).
Conceitos referentes a fenômenos psíquicos específicos (percepção, emoção, cognição, motricidade etc.).
Além dos conteúdos de ensino, havia uma preocupação com os métodos de ensino, que demandam conhecimento sobre o educando e à formação do educador – fonte para o desenvolvimento do pensamento psicológico. 
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Essa preocupação especificamente pedagógica pode ser observada nos programas da disciplina Pedagogia das Escolas Normais. 
Questões tratadas: educação das faculdades psíquicas, aprendizagem e utilização de recompensas e castigos como instrumentos educativos
Influência de pensadores como Locke, Rousseau, Pestalozzi, Herbat e Spencer, além do dualismo interacionista de Descartes. 
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As preocupações com as questões de ordem psicológica pela Pedagogia, no século XIX, esboçam sistematização que será empreendida a partir de seu final e início do século seguinte.
Os temas pouco diferem, portanto, não há ruptura, mas uma evolução no tratamento dessas questões, confirmando a importância da relação entre Psicologia e Pedagogia. 
Tal relação guarda íntima relação com o pensamento escolanovista, que inicia-se no século XIX, mas cuja efetiva explicitação e consolidação ocorre no século XX. 
8
‘
O Pensamento Psicológico na Medicina
Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia – criadas em 1832.
Para concluir o curso o aluno deveria defender publicamente uma tese de doutoramento. 
Grande parte dos trabalhos sobre assuntos psicológicos dessa época (1836) é proveniente dessas teses.Temas relacionados a: Psiquiatria, Neurologia, Medicina Social e Medicina Legal. 
9
Assuntos tratados: 
Paixões ou emoções;
 Diagnóstico e tratamento das alucinações mentais; 
Epilepsia;
 Histeria, ninfomania, hipocondria; 
Psicofisiologia; 
Instrução e educação física e moral, higiene escolar, sexualidade e temas de caráter psicossocial. 
10
A primeira tese que trata do fenômeno psicológico foi defendida em 1836.
Autor: Manoel Ignacio de Figueiredo Jaime.
Título: “As paixões e afetos d’alma em geral, e em particular sobre o amor, amizade, gratidão e o amor da pátria.”
11
Ao final do século, o termo “paixão” é trocado por “emoção”, nas teses. 
Temas frequentes: cópula, onanismo, histeria, ninfomania, prostituição etc.
1914 – Tese de Genserico Aragão de Souza Pinto – baseada na Psicanálise. 
Medicina Legal – aproximação com a Psicologia Social: tese “Epilepsia e Crime”, de Júlio Afrânio Peixoto. 
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“Nos anos finais desse período, temas bastante próximos da Psicologia propriamente dita começam a aparecer de maneira significativa, revelando maior rigor metodológico e uma base científica mais apurada. 
Vale lembrar que a Psicologia conquistou o estatuto de ciência autônoma no último quartel daquele século, momento em que aparecem teses que podem ser identificadas com a ciência psicológica.”
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Final do século XIX – tese: “Duração dos Atos Psíquicos Elementares” – Henrique Roxo, considerada por Lourenço Filho, Pessoti e Pfromm Netto como o primeiro trabalho de Psicologia Experimental.
Muitas teses podem ser consideradas pertencentes à Medicina Social e tratam de questões relacionadas à higiene e àquilo que hoje consideramos como fenômenos psicossociais. 
Condições de saneamento precárias: leprosos, loucos, prostitutas e mendigos nas ruas, clima quente eram questões preocupantes para os médicos.
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Para os médicos as “sujeiras” e “imundícies” – materiais e morais – deveriam ser eliminadas. 
É nesse contexto que se origina a Medicina Social no Brasil, preocupada mais com a saúde do que com a doença, buscando a prevenção.
Portanto, é preciso que a sociedade seja organizada, livre da “desordem” e dos “desvios” que devem ser eliminados por meio de um projeto profilático. 
A Medicina Social elaborará propostas para instituições sociais, com finalidade de higienizá-las, preocupando-se com hospitais, cemitérios, quartéis, bordéis, prisões, fábricas e, em especial, escolas, tema frequente nas teses de doutoramento. 
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Para higienização das escolas são propostas formas de controle do comportamento, em que se discute o uso de recompensas e castigos para eliminar, por exemplo, a desobediência e a prática da masturbação, vista como algo que “... provoca a tísica, a loucura, a epilepsia, a hipocondria, a flegmasia (inflamação) crônica de todos os órgãos e finalmente a morte (MACHADO, 1978, p.3044). 
Uma das medidas preventivas para o onanismo é a prática da ginástica. 
Foi do âmbito de ação da Medicina Social, também, a criação de hospícios, uma necessidade para a higienização e a normalização da sociedade. 
Até meados do século XIX, não havia qualquer forma de assistência aos doentes mentais. Os “loucos” erravam pelas ruas, eram encarcerados nas prisões ou reclusos em celas especiais das Santas Casas de Misericórdia. 
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Por volta de 1830 – reivindicações para a criação de hospícios, principalmente dos médicos. 
Para Machado (1978), a constituição da Psiquiatria no Brasil inicia-se com a criação dos hospícios, articulada às finalidades da Medicina Social. 
“Coube à medicina social a tarefa de isolar preventivamente o louco com o objetivo de reduzir o perigo e impossibilitar o efeito destrutivo que elaviu caracterizada em sua doença. 
Nasce assim, no Brasil dos meados do século XIX, não uma ‘psiquiatria preventiva’, mas a psiquiatria como instrumento da prevenção.” (p. 380).
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Em 1842 é inaugurado no Rio de Janeiro o Hospício Pedro II, práticas fundamentadas nas ideias de Pinel e Esquirol.
Princípios: isolamento, vigilância, distribuição e organização do tempo dos internos, com vistas à repressão, controle e individualização. 
Considerava-se a necessidade de afastar “o louco” das causas da loucura, isto é, da sociedade e da família, e romper com seus hábitos para realizar-se o tratamento. 
O trabalho com terapêutica, principalmente a agricultura, no tratamento dos internos pobres. Da cura da “loucura” com sangrias e banhos para uma preocupação de natureza comportamental; intervenções no plano moral. 
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1848 – lei que permite a criação de um hospício em São Paulo. Em 1852, é inaugurado o Asilo Provisório de Alienados da Cidade de São Paulo – Hospício Velho.
Ação limitada à reclusão; excluir os “loucos” das ruas. Dirigido pelo alferes Tomé de Alvarenga.
Muitos dos internos eram estrangeiros: imigrantes italianos ou negros alforriados; maioria do sexo masculino. 
Funcionários: negros libertos e egressos de prisões. 
Sofreu muitas rebeliões: sem ventilação, sem condições sanitárias, sem segurança.
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Em 1862, o Hospício Velho mudou-se para a Ladeira Tabatinguera. Essa mudança ocorre em função da problemática disciplinar, não havendo preocupação terapêutica.
Permanecem os problemas de superlotação, altas taxas de mortalidade e morbidade, fugas e violência. Os métodos disciplinares não são mudados. 
Diferenças profundas entre os hospícios do Rio de Janeiro e São Paulo:
No Rio: preocupação médico psiquiátrica, com base em teorias e práticas da Psiquiatria estrangeira. 
São Paulo: espaço de reclusão.
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No Rio de Janeiro havia um clima bastante propício à discussão e ao desenvolvimento do pensamento psiquiátrico, contando com a Sociedade de Medicina e Cirurgia e a Faculdade de Medicina – instituições fundamentais para o desenvolvimento do pensamento e da prática alienista no Rio de Janeiro. 
Foram criados ainda, nesse século, o Hospício São João de Deus, 1861, em Recife; um em Salvador, em 1874 e outro em Porto Alegre, em 1884.
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Quais as principais diferenças entre o contexto do Brasil colonial para o contexto do século XIX.
Quais as contribuições desse período para a Psicologia?
Que diferença importante podemos observar entre os primeiros hospícios do Rio de Janeiro e de São Paulo?
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A Psicologia Científica e seu processo de Autonomização no Brasil 
Psicologia, Ciência e Profissão
Novas e significativas transformações ocorreram, a partir do final do século XIX, tanto na sociedade brasileira quanto na Psicologia:
O Brasil adotou o modelo republicano.
Desenvolvimento da economia de base agrário-comercial-exportadora, vinculada fundamentalmente à produção cafeeira. 
A efetivação do processo de industrialização do País. 
Tais fatores concorreram para a expansão do processo de urbanização e para a definição do polo econômico-político-cultural do Brasil na região Sudeste. 
Expansão do ideário liberal entre os intelectuais, trazendo à tona a preocupação com a “questão nacional” e a busca de caminhos para o progresso e a modernidade. 
A Psicologia adquiriu no final do século XIX o estatuto de Ciência autônoma; processo que se originou na Europa e logo depois nos Estados Unidos. 
Na virada do século, ocorreu intenso desenvolvimento da ciência psicológica em todas as instâncias:
No plano teórico, com a diversidade de abordagens surgidas e o aumento significativo da produção de pesquisas;
 No plano prático, em que esta ciência penetrou e ampliou seu potencial de aplicação. 
Os problemas que o Brasil enfrentava no século XIX tenderam, com a virada do século, a agravar-se. 
O pensamento psicológico, já em franco desenvolvimento no País, encontrou terreno fértil para penetrar e estabelecer-se na sua dimensão científica.
Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da ciência psicológica e a ampliação de seu campo de ação maximizavam as possibilidades concretas de a Psicologia contribuir com possíveis respostas para as questões que se impunham. 
A Psicologia e outras áreas do conhecimento foram buscadas no sentido de contribuir com soluções para os problemas relacionados à:
- Saúde;
- Educação;
- Organização do trabalho. 
Isso ocorre no contexto de uma formação social dependente e atrasada, em busca da modernidade representada pela concretização do ingresso do Brasil no mundo industrializado. 
A produção psicológica no interior de algumas instituições delineia-se cada vez com maior clareza devido: 
À diferenciação gradativa de outras áreas de conhecimento, como a Psiquiatria por exemplo;
 Pela penetração das ideias e práticas já constitutivas daquilo que, na Europa e nos Estados Unidos, era considerado como Psicologia científica.
Fizeram essa história: médicos, educadores, bacharéis em direito e até engenheiros, sendo que muitos deles acabaram por dedicar-se exclusivamente à Psicologia e podem ser considerados os primeiros psicólogos brasileiros.
A Psicologia em Instituições Médicas
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A tendência do século XIX manteve-se por algum tempo, diferenciando-se gradativamente.
 As preocupações estritamente psiquiátricas foram se delineando com maior clareza e delimitando mais explicitamente suas fronteiras com a Psicologia. 
A principal evidência foi a criação de laboratórios de Psicologia em diversas instituições psiquiátricas, cuja produção foi principalmente de natureza psicológica.
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As precárias condições de saúde e saneamento no País, provocou uma demanda por parte da sociedade brasileira por intervenções concretas por parte da Medicina, evidenciando fortemente as questões de Higiene. 
Foi nesse contexto que tanto o pensamento psiquiátrico, quanto psicológico encontraram terreno fértil para seus estudos e aplicação dos seus conhecimentos por meio da Higiene Mental.
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Os Hospícios e algumas instituições correlatas:
Conhecimentos produzidos no campo do alienismo.
Alienismo: objeto de estudo “a razão”; campo que se autonomizou em relação à Medicina tradicional.
União do Alienismo ao Organicismo.
Organicismo: loucura como geneticamente determinada. 
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Psiquiatria no Brasil: ecletismo: alienismo + Organicismo.
A teoria da degenerescência, uma vertente do organicismo: concepção da determinação hereditária da loucura.
A teoria da degenerescência propunha ações que extrapolavam os muros asilares, propondo a higienização e a disciplinarização da sociedade. 
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Morel (1809 -1873) publicou: Tratado das degenerescências psíquicas, intelectuais e morais da espécie humana. 
Utilizando ideias de Darwin e Lamarck sobre as modificações adaptativas de órgãos transmitidas de geração para geração pela hereditariedade, Morel constrói a teoria da degenerescência. 
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Segundo Morel, a degenerescência seria causada por diversas etiologias: 
Tóxicas (ópio, haxixe, álcool etc.); 
Climáticas, ecológicas: cretinismo por falta de iodo;
Morais e sociais (conduta de vida desfavorável, miséria etc.). 
A tara (defeito) transmitida se modificaria e, com o passar das gerações se agravaria. 
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Ex.: 
A um indivíduo instável se seguiria outro muito instável, depois um alienado grave, para culminar na extinção da família. 
Em comum acordo a essa teoria, Lombroso e Krafft-Ebbing chegam a exaltar o papel da hereditariedade e se esforçam em definir o patologia mental relacionada a ela, tal como os tipos criminosos e a psicopatia sexual. 
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A teoria da degenerescência no Brasil:
 Hierarquia racial: no ápice a raça ariana e na base a raça negra. 
Muitos teóricos acreditavam que os negros eram mais propensos à degeneração por sua inferioridade biológica. 
No Brasil, essas duas correntes juntam-se numa só experiência, emque a exclusão do “louco” deveria ser compartilhada com a prevenção “social da loucura. 
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A preocupação com a “ordem” urbana e com o “progresso” baseia-se também nos princípios positivistas. 
Desta forma, o asilo devia excluir do convívio social aqueles que não se adaptassem às normas estabelecidas, isto é, os “desordeiros”, estando incluídos nessa categoria os indivíduos engajados nos movimentos sociais organizados.”
Tais concepções, embora majoritárias, não foram unânimes. 
38
Hospício do Juquery
Franco da Rocha e seu sucessor, Pacheco e Silva, defendiam a centralização da assistência psiquiátrica como forma de gerar condições para o estudo da loucura, com base na descrição, comparação e classificação.
Apresentavam preocupação em demonstrar a pertinência da teoria da degenerescência.
Gradativamente, o hospício vai abandonando sua preocupação com a loucura individual e assumindo tarefas de ordem social, sobretudo no que diz respeito ao controle da força de trabalho. 
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A produção do Juquery circunscreve-se especificamente no âmbito da Psiquiatria.
Entretanto, sua preocupação com a loucura envolve o fenômeno psicológico. 
Sua maior contribuição foi a de demarcar mais nitidamente as fronteiras entre a Psicologia e a Psiquiatria. 
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Hospital Nacional dos Alienados 
Após a proclamação da república, o Hospício Pedro II passou a ser chamado Hospital Nacional dos Alienados. 
1902: nomeação de Juliano Moreira. 
1907: criação do, provável, 2º laboratório de Psicologia no Brasil: Laboratório de Psicologia Experimental da Clínica Psiquiátrica do Hospital Nacional dos Alienados. 
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Assim como no Juquery, o ecletismo era a prática hegemônica. 
Diferencia-se do Juquery por ter vínculo com a Psicologia, por meio do laboratório.
A impossibilidade de acesso aos documentos que registram a produção do laboratório, pois estes encontram-se perdidos, compromete a avaliação desse hospício e de seu laboratório na história da Psicologia no Brasil. 
43
Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro
Rio de Janeiro: extensa contribuição para a Psicologia: Laboratório de Psicologia, criado em 1923.
1932: o laboratório é transformado em Instituto de Psicologia, subordinado ao Ministério de Educação e Saúde Pública. 
O laboratório foi criado por Riedel, diretor da Colônia e dirigido pelo psicólogo polonês Waclaw Radecki . 
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A concepção médica: 
“Atualmente todo Instituto destinado ao estudo, cura e profilaxia das moléstias mentais deve ter, como auxiliar indispensável, um laboratório de psicologia, a cargo de um psicólogo profissional. 
Este torna-se, então, valioso colaborador do médico, para eficiência de tal Instituto.” 
46
A Importância do Laboratório: 
O laboratório contava com sofisticados equipamentos vindos de Paris e Leipzig e funcionava:
Como instituição auxiliar médica; 
Como auxiliar das necessidades sociais e práticas; 
Como núcleo de pesquisas científicas; 
Como centro didático para a formação de psicólogos. 
47
A extensa produção do laboratório indica um grande avanço em direção ao reconhecimento da autonomia científica e prática da Psicologia no Brasil. 
A psicologia como campo próprio de conhecimento, que guarda íntima relação com a Psiquiatria. 
No laboratório: formação de psicólogos e difusão do conhecimento psicológico; o trabalho clínico e a aplicação da Psicologia a questões relativas ao trabalho.
 
Contribuiu, também, com uma das primeiras referências, no Brasil, da perspectiva psicoterápica, num momento em que tal campo de ação, quando existia, limitava-se à Psiquiatria. 
48
Outra contribuição importante do laboratório: organização do trabalho, com utilização de testes para fins de seleção e orientação profissional. 
Estudos sobre seleção de candidatos, psicometria e questões profissionais etc. 
A Psicologia, por meio do laboratório, penetra no interior do processo produtivo, com um caráter estritamente técnico-científico, intervindo de forma direta: 
Nos processos seletivos e no estabelecimento de contingências e normas nas relações de produção, com base no saber psicológico. 
49
Desta forma:
A Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro foi uma das mais importantes instituições que geraram condições para o estabelecimento da Psicologia no Brasil, quer pela consolidação desta área do saber como ciência, quer em relação ao reconhecimento de sua autonomia teórica e prática. 
50
Liga Brasileira de Higiene Mental e instituições correlatas
Fundada em 1923, no Rio de Janeiro, por Gustavo Riedel. 
Possuía em seus quadros os mais importantes psiquiatras e intelectuais da época.
Objetivo inicial: melhoria da assistência ao doente mental. 
51
Entretanto, 
A partir de 1926 a melhoria da assistência ao doente mental foi cedendo lugar ao ideal eugênico, à profilaxia e à educação dos indivíduos. 
A preocupação transferiu-se do “doente” para o “normal”, da cura para a prevenção, ampliando seu raio de ação para a sociedade como um todo, definindo a ação psiquiátrica como prática higiência, apoiada na noção de eugenia. 
52
A Eugenia levou a uma interpretação racista da sociedade brasileira:
 Os problemas sócio-econômicos eram causados por questões raciais, principalmente devido à presença de “raças inferiores”, numa explícita referência aos negros que, junto com o clima quente, eram responsabilizados pelo atraso do país. 
53
As Ligas de Higiene Mental e a Eugenia: 
Buscavam: “embranquecimento da raça brasileira” e a busca da “pureza racial”.
A educação ocupou lugar privilegiado: a ignorância como uma das mais graves doenças sociais. 
As relações de trabalho também estiveram diretamente articuladas ao pensamento da Liga e constituíram-se em objetos de estudo e alvos de ação. 
54
A Liga reconhecia a Psicologia como ciência afim à Psiquiatria e estimulava sua produção. Nesse sentido, foi criado um laboratório de Psicologia, cuja direção foi confiada ao francês Alfred Fessard.
A Liga propôs, em 1932, ao Ministério da Educação e Saúde Pública, a presença obrigatória de “gabinetes de Psicologia” junto às clínicas psiquiátricas, sendo a proposta acolhida. 
A Liga realizava as “Jornadas Brasileiras de Psicologia” - para difundir pesquisas puras e aplicadas em Psicologia. 
55
Liga Paulista de Higiene Mental:
Fundada em 1929, por Pacheco e Silva, semelhantes à Liga Brasileira. 
Questões relativas à organização do trabalho:
 Conhecimento sobre funções psicomotoras;
 Memória, atenção e julgamento; 
Seleção e orientação profissional. 
56
“A higiene mental nas oficinas e nas profissões em geral pode ser realizada pela orientação profissional e pela seleção psicológica dos operários, tendo por efeito:
1º) a eliminação nas oficinas de certas classes de profissionais psicopatas que constituem um peso morto e um grave prejuízo para a coletividade;
2º) colocar os indivíduos em seus devidos lugares, de acordo com as aptidões mentais, condições que favorecem o êxito do trabalho.”
57
A concepção psiquiátrica das Ligas de Higiene Mental não era unânime:
“na mesma época, Odilon Galotti, no Rio, James Ferraz Alvim, em São Paulo, e Ulisses Pernambucano em Recife (...) orientavam suas pesquisas numa direção totalmente oposta à higiene social da raça. Para esses psiquiatras, que mantinham também ligações com a L.B.H.M., a higiene mental continuava a ser aquilo que Riedel havia desejado que fosse: melhoramento e humanização da assistência psiquiátrica aos doentes mentais.”.
58
Importante ressaltar que:
O pensamento e a ação das ligas são expressões de uma concepção autoritária de mundo, representada na Psiquiatria.
Pretendia-se, em nome da ciência, abarcar o controle da sociedade, e para tal, estimulava-se a pesquisa e a aplicação da Psicologia como meio auxiliar para seus fins. 
59
O Movimento Psiquiátrico de Recife
Ulysses Pernambucano: na contramão do pensamento psiquiátrico corrente na época. Contribuiçãoimportante para a Educação.
Pernambucano foi nomeado, em 1924, diretor do Hospital de Doenças Nervosas e Mentais de Recife.
60
Contrário às ideias da psiquiatria organicista, aboliu calabouços e as camisas-de-força, implantou a praxiterapia, criou o Pavilhão de Observações, o Laboratório de Análises e o Pavilhão de Hidroterapia, tendo também criado o sistema de “internato acadêmico” para os jovens médicos estagiarem. 
Pernambucano teve participação fundamental na implantação da “Assistência a Psicopatas”, que era composta por:
Serviços para doentes mentais não alienados, com ambulatório e hospital aberto; 
Serviços para doentes mentais alienados, com hospital para doentes agudos e colônia para doentes crônicos;
Manicômio Judiciário; Serviço de Higiene Mental, com Serviço de Prevenção das Doenças Mentais e Instituto de Psicologia. 
61
Sobre o serviço, escreve João Marques de Sá:
“Creio mesmo que o Serviço de Higiene Mental foi o responsável pela suspensão da interferência da polícia sobre os cultos afro-brasileiros. As seitas africanas tiveram em Ulysses e no mestre Gilberte Freyre os mais ardentes defensores, passando a receber certo grau de controle científico do serviço de Higiene Mental.”
Pernambucano desenvolveu estudos antropológicos percorrendo caminhos opostos aos percorridos por Nina Rodrigues, para quem as manifestações culturais negras eram sintomas de degenerescência mental.
62
Pernambucano fundou a Liga de Higiene Mental em Pernambuco. Bastante diferente das demais Ligas. 
Objetivos: busca de melhoria na assistência aos doentes mentais. 
Pernambucano, na Liga, criou uma “Escola para anormais”, que em 1964 passou a ser dirigida pela APAE. 
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Em 1936, criou o Sanatório de Recife, no qual foi também instalada uma “Escola para Anormais”. 
Realizou cursos intensivos de especialização para formação de “monitores de saúde mental” e “auxiliares psicólogos”, sendo essa ocupação última desempenhada por professoras diplomadas pela Escola Norma. 
Pernambuco: pioneiro do movimento que mais tarde veio a ser conhecido como Anti-Psiquiatria. 
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A concepção de doença mental em Pernambucano: “Psiquiatria Humanista”
Doença Mental:
Situação existencial, resultante da dinâmica do processo psicológico, considerando o sujeito como agente desse processo e admitindo os fatores sociais como co-determinantes.
Era contrário ao organicismo, que via a doença mental causada pela constituição orgânico-genética do sujeito.
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Contribuições do Movimento de Recife com relação à produção psicológica:
Instituto de Psicologia, mais tarde denominado Instituto de Seleção e Orientação Profissional. 
Preocupação de Ulysses com a formação de profissionais na área psicológica, preocupação educacional geral e com crianças com deficiência mental. 
Pernambucano adotou em seu trabalho uma perspectiva muito próxima à Psicologia na sua maneira de conceber e atuar sobre a doença mental. 
Seus estudos sobre a cultura afro-brasileira foram não apenas contribuições à Antropologia, mas podem ser também admitidos como Psicologia Social, na medida em que buscaram articular cultura e psiquismo. 
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Medicina Legal, Psiquiatria Forense e Criminologia:
A Psiquiatria procurou articular doença mental e criminalidade, com base na teoria da degenerescência: por isso o combate ao alcoolismo, jogo, prostituição e crime ganharam terreno no interior da Psiquiatria. 
Psiquiatria e Direito integraram-se por meio da Medicina Legal, da Psiquiatria Forense e da Criminologia, sob a influência do organicismo, além das ideias de Spencer, Darwin, Galton, Comte, Wundt e, especialmente, de Lombroso.
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Heitor Carrilho: por seu esforço foi criado em 1921, no Rio de Janeiro, o Manicômio Judiciário, do qual foi diretor. 
Carrilho foi crítico do Direito Clássico e grande defensor do Direito Positivo, que procurava enfocar o crime sob o foco da determinação individual e não social. 
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O Direito Positivo acabava psicologizando ou individualizando o ato criminoso e sua interpretação.
O Direito Positivo junto às ideias correntes imputavam ao criminoso a etiologia da criminalidade, isentando de responsabilidade as condições sociais; 
A sociedade era vista como vítima do indivíduo criminoso, com isso referendava a noção de saneamento da sociedade pela exclusão dos “desordeiros” e pela regeneração dos indivíduos. 
Carrilho contribui no exame que fundamentou o primeiro caso de inimputabilidade de um criminoso, Febrônio Índio do Brasil, por ter sido considerado “louco”. 
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“Pode-se dizer, em termos gerais, que a Medicina Legal, a Psiquiatria Forense e a Criminologia demonstraram a importância da Psicologia como uma de suas ciências auxiliares e, nesse sentido contribuíram para seu desenvolvimento (...) por outro lado, só indiretamente essas aplicações contribuíram para o processo de autonomizaçao da prática psicológica, tanto que só recentemente a Psicologia e o psicólogo têm sido reconhecidos no âmbito do poder judiciário.”
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Teses de Doutoramento das Faculdades de Medicina
Final do século: temas: inteligência, emoção e psicofisiologia. 
Aumento de teses a partir de 1890: a Psicologia considerada como ciência autônoma. 
1890: tese: “Psicofisiologia da percepção e das representações”, por José Estelita Tapajós. Evidenciando a tendência psicofisiologista da época. 
Pelo menos três teses com a denominação “Das Emoções”: Veríssimo Dias de Castro (1890); Manuel Pereira de Melo Morais (1891); e Adolfo Porchat Assis (1892). 
A tese de Odilon Goulart, “Estudo psicoclínico da afasia”, de 1891, é talvez o primeiro estudo relacionado à Psicologia Clínica. 
A tese “A memória e a personalidade”, de Alberto Seabra, 1984, é um estudo pioneiro sobre a memória. 
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Raimundo Nina Rodrigues: médico, professor da Faculdade de Medicina da Bahia e grande produtor de pesquisas. 
Foi um forte defensor da teoria da degenerescência. 
Produziu vasta obra em que procurava articular inferioridade racial e degeneração psíquica, abordando, dentre outros, as manifestações religiosas de base afro-brasileira, que eram vistas como manifestação de primitivismo, inferioridade e degeneração. 
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A tese de Oscar Freire, defendida em 1902, e orientada por Nina Rodrigues: “Etiologia das formas concretas da religiosidade do norte do Brasil.”
A tese de Henrique Roxo, “Duração dos atos psíquicos elementares”, 1900, traz a defesa da Psicologia como propedêutica da Psiquiatria.
Isso mostra o reconhecimento da autonomia entre as duas áreas de conhecimento, além de estabelecer um parâmetro definidor das relações entre elas.
 
Tal ideia justifica a presença de laboratórios de Psicologia nos hospícios, o que viria a ocorrer logo depois. 
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A tese de Plínio Olinto, 1911, “Associação de ideias” é demonstrativa da produção científica da Psicologia no Brasil. 
Importante destacar também o primeiro trabalho fundamentado na Psicanálise: “Da Psicanálise: a sexualidade das neuroses”, de Genserico Aragão de Sousa Pinto, defendida em 1914.
1931: fim da obrigatoriedade da defesa das teses.
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Portanto,
“A Psicologia produzida no interior da Medicina o foi essencialmente sob o enfoque de ciência auxiliar à Psiquiatria; todavia, nesse contexto, já ficava reconhecida, pelo menos em tese, sua condição de ciência e, consequentemente, sua autonomia. 
Não se pode afirmar que a conquista de autonomia da Psicologia em relação à Medicina tenha ocorrido por um projeto estabelecido “a priori”; antes foi seu próprio desenvolvimento e sua adequação às necessidades geradas pelos problemas sociais brasileiros que estabeleceram as condições para que tal ocorresse.”
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Questões
Em que consiste a teoria da degenerescência?
Quais fatores influenciaram o desenvolvimento do pensamento psiquiátrico e psicológico no início do século XX?
Qual a teoria adotada pelo hospício do Juquery?
Qual foi a maior contribuição do Hospício do Juquery?
Qual o nome do provável segundo laboratório de psicologia doBrasil?
Qual a importância para o desenvolvimento da Psicologia no Brasil da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro?
Quem foi Waclaw Radecki e quais foram suas contribuições para a Psicologia no Brasil?
Qual foi o objetivo do ideal Eugênico no ano de 1926?
Quais foram as mudanças feitas por Ulysses Pernambucano ao assumir a diretoria do Hospital de Doenças Nervosas e Mentais do Recife?
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