Material para Módulo 2 Leitura Curso de Estomatologia para o Cirurgião-Dentista da rede pública de atenção à saúde exames complementares Exames Hematológicos Material para Leitura exames complementares 2 2. EXAMES HEMATOLÓGICOS Os exames hematológicos são exames laboratoriais realizados a partir de amostras de sangue. O sangue é um fluido viscoso, formado por tecido conjuntivo com muita matriz intercelular, que circula no interior de vasos sanguíneos, transportando hormônios, gases, nutrientes, resíduos metabólicos, anticorpos. Cerca de 7% da massa corporal de um indivíduo é representada pelo tecido sanguíneo. Apresenta temperatura em torno de 38°, e pH entre 7,35-7,45. Dentre os seus constituintes encontra-se o plasma (55% do volume), que é composto de água, sais e proteínas, e pelas células do sangue (45%), tendo como principais células os eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Os eritrócitos (glóbulos vermelhos) tem função de transportar oxigênio. Os leucócitos (glóbulos brancos) são responsáveis pela defesa tecidual do paciente. Já as plaquetas têm como função principal promover e auxiliar na hemostasia. A produção das células é realizada pela medula óssea de acordo com as necessidades do organismo. Em situações de oxigenação diminuída (altitudes elevadas) ou número reduzido de eritrócitos (devido à hemorragia, por exemplo), os rins produzem e liberam eritropoietina, hormônio que estimula a medula óssea a produzir novas células do sangue. Frente a infecções, há aumento da produção de leucócitos pela medula óssea, a fim de combater o microrganismo. Em resposta ao sangramento, há aumento da produção de plaquetas. Desta forma, a análise dos componentes sanguíneos tem se mostrado um excelente exame complementar na prática clínica, pois nos dá condições de avaliar esses eventos de forma indireta. Figura 1. Desenho esquemático ilustrando os componentes do sangue. HEMOGRAMA Exame laboratorial de rotina para avaliação qualitativa e quantitativa dos elementos figurados (glóbulos brancos e vermelhos, plaquetas) do sangue. Pode ser dividido em eritrograma (avaliação das características relacionada aos eritrócitos), leucograma (avaliação do número e proporção dos leucócitos granulócitos e agranulócitos) e contagem de plaquetas. O cirurgião dentista utiliza muito o hemograma para avaliar condições sistêmicas antes da realização de procedimentos cirúrgicos. Quando temos redução de duas das três linhagens de células do sangue, chamamos de bicitopenia. Quando os três tipos de células estão reduzidos, damos o nome de pancitopenia. Material para Leitura exames complementares 3 ERITROGRAMA O eritrograma é a primeira parte do hemograma. É o estudo dos glóbulos vermelhos, ou seja, das hemácias, também chamadas de eritrócitos. O eritrograma fornece várias informações sobre o perfil dos glóbulos vermelhos. Podem ser observados parâmetros quantitativos (contagem de eritrócitos, dosagem de hemoglobina e hematócrito) e qualitativos (volume corpuscular médio, hemoglobina corpuscular média e concentração de hemoglobina corpuscular média). AVALIAÇÕES QUANTITATIVAS Esses três primeiros dados devem ser analisados em conjunto e são: contagem de hemácias, hemoglobina e hematócrito. Contagem normal de hemácias em homens varia de 4.400.000 a 6.000.000 por milímetro cúbico de sangue e em mulheres varia de 4.200.000 a 5.500.000 por milímetro cúbico de sangue. Após 65 anos há decréscimo dos valores, influenciando a resposta tecidual frente a procedimentos cirúrgicos. Dosagem de hemoglobina: reflete a quantidade de hemoglobina nos eritrócitos, logo a capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue. Valores de normalidade: para homens 15,3 gramas por decilitro de sangue, e 13,8 gramas por decilitro de sangue para mulheres. Hematócrito: analisa a proporção de volume da amostra de sangue ocupada pelas hemácias. Normalidade - 42 a 47% da amostra de sangue, podendo variar conforme sexo, altitude e grau de atividade física. Pode-se notar, portanto, que praticamente metade do sangue é, na verdade, composto por células vermelhas. AVALIAÇÕES QUALITATIVAS Essas outras informações fornecem dados a respeito do tamanho e a forma das células vermelhas. Volume corpuscular médio: volume médio dos eritrócitos, ou seja, o tamanho da célula. Utilizada para realizar diagnóstico diferencial entre as diferentes anemias. Calcula-se dividindo o hematócrito pelo número de eritrócitos. Os valores variam de 80 micras cúbicas até 98 micras cúbicas. Quadros anêmicos onde o tamanho da célula é normal são chamados de anemia normocítica, enquanto nos que o volume da célula é menor, ou seja, as células são menores que o normal, são denominados de anemia microcítica. Já nos quadros em que o volume está aumentado, ou seja, as células são maiores que o normal, denominamos anemia macrocítica. Por exemplo, anemias por carência de ácido fólico cursam com hemácias grandes, enquanto que anemias por falta de ferro se apresentam com hemácias pequenas. Existem também as anemias com hemácias de tamanho normal. Hemoglobina corpuscular média: representa a quantidade de hemoglobina média no interior das hemácias, o peso da hemoglobina na hemácia. Valor de normalidade: 24 a 33 picogramas. Anemia hipocrômica é a diminuição de hemoglobina no interior de hemácias. Anemia hipercrômica é o aumento de hemoglobina Quando os valores dos dados quantitativos estão reduzidos, indicam anemia, isto é, baixo número de glóbulos vermelhos no sangue. Quando estão elevados indicam policitemia (eritrocitose), que é o excesso de hemácias circulantes. Material para Leitura exames complementares 4 no interior de hemácias. Concentração de hemoglobina corpuscular média: Reflete a relação do valor de hemoglobina contido em uma quantidade de sangue e o volume globular expresso em porcentagem. Nos mostra a concentração de hemoglobina dentro da hemácia. A coloração da hemácia depende da quantidade de hemoglobina (quanto mais hemoglobina, mais corada e vice-versa). Normalidade: 32 a 36%. Aumento da concentração de hemoglobina corpuscular média: anemia hipercrômica. Acima de 36%. Diminuição da concentração de hemoglobina corpuscular média: anemia hipocrômica. Abaixo de 32%. ANORMALIDADES NO ERITROGRAMA Anemia: condição na qual o número de eritrócitos ou a quantidade de hemoglobina presentes nas células estão abaixo do normal. Reflete um déficit no transporte de oxigênio. Lembrando que existem vários tipos de anemia e que em alguns quadros de anemia há diminuição de hemoglobina, em outros há diminuição dos eritrócitos, ou então há diminuição de ambos. A forma mais comum de análise de anemia se baseia na hemoglobina (Hb) sendo considerada anemia leve para os valores de Hb entre 12 e 10, anemia moderada Hb entre 7 e 10 e anemia severa quando os valores de Hb < 7. Se por um lado a falta de hemácias prejudica o transporte de oxigênio, por outro, células vermelhas em excesso deixam o sangue muito espesso, atrapalhando seu fluxo e favorecendo a formação de coágulos. Sinais clínicos: astenia (fraqueza muscular), dispneia (alterações respiratórias), hipotensão ortostática (baixa de pressão quando paciente levanta), picos de taquicardia, mucosas pálidas, glossite e queilite angular, pele fria e seca, cabelo sem brilho e quebradiço. Em casos mais graves pode-se notar alterações neurológicas, como parestesia das extremidades, cefaleias e irritabilidade. Causas: falta de produção dos eritrócitos, aumento da demanda de eritrócitos, excesso de destruição dos eritrócitos, perda hemorrágica. A falta de produção usualmente está relacionada à deficiência de ferro, ácido fólico, ou vitamina B12. Pode também estar associada a defeitos genéticos, má formação de tecido hematopoiético, falta de estimulo da eritropoietina. A deficiência de ferro é a mais observada na clínica,