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Material para Módulo 2 Leitura Curso de Estomatologia para o Cirurgião-Dentista da rede pública de atenção à saúde exames complementares Exames Hematológicos Material para Leitura exames complementares 2 2. EXAMES HEMATOLÓGICOS Os exames hematológicos são exames laboratoriais realizados a partir de amostras de sangue. O sangue é um fluido viscoso, formado por tecido conjuntivo com muita matriz intercelular, que circula no interior de vasos sanguíneos, transportando hormônios, gases, nutrientes, resíduos metabólicos, anticorpos. Cerca de 7% da massa corporal de um indivíduo é representada pelo tecido sanguíneo. Apresenta temperatura em torno de 38°, e pH entre 7,35-7,45. Dentre os seus constituintes encontra-se o plasma (55% do volume), que é composto de água, sais e proteínas, e pelas células do sangue (45%), tendo como principais células os eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Os eritrócitos (glóbulos vermelhos) tem função de transportar oxigênio. Os leucócitos (glóbulos brancos) são responsáveis pela defesa tecidual do paciente. Já as plaquetas têm como função principal promover e auxiliar na hemostasia. A produção das células é realizada pela medula óssea de acordo com as necessidades do organismo. Em situações de oxigenação diminuída (altitudes elevadas) ou número reduzido de eritrócitos (devido à hemorragia, por exemplo), os rins produzem e liberam eritropoietina, hormônio que estimula a medula óssea a produzir novas células do sangue. Frente a infecções, há aumento da produção de leucócitos pela medula óssea, a fim de combater o microrganismo. Em resposta ao sangramento, há aumento da produção de plaquetas. Desta forma, a análise dos componentes sanguíneos tem se mostrado um excelente exame complementar na prática clínica, pois nos dá condições de avaliar esses eventos de forma indireta. Figura 1. Desenho esquemático ilustrando os componentes do sangue. HEMOGRAMA Exame laboratorial de rotina para avaliação qualitativa e quantitativa dos elementos figurados (glóbulos brancos e vermelhos, plaquetas) do sangue. Pode ser dividido em eritrograma (avaliação das características relacionada aos eritrócitos), leucograma (avaliação do número e proporção dos leucócitos granulócitos e agranulócitos) e contagem de plaquetas. O cirurgião dentista utiliza muito o hemograma para avaliar condições sistêmicas antes da realização de procedimentos cirúrgicos. Quando temos redução de duas das três linhagens de células do sangue, chamamos de bicitopenia. Quando os três tipos de células estão reduzidos, damos o nome de pancitopenia. Material para Leitura exames complementares 3 ERITROGRAMA O eritrograma é a primeira parte do hemograma. É o estudo dos glóbulos vermelhos, ou seja, das hemácias, também chamadas de eritrócitos. O eritrograma fornece várias informações sobre o perfil dos glóbulos vermelhos. Podem ser observados parâmetros quantitativos (contagem de eritrócitos, dosagem de hemoglobina e hematócrito) e qualitativos (volume corpuscular médio, hemoglobina corpuscular média e concentração de hemoglobina corpuscular média). AVALIAÇÕES QUANTITATIVAS Esses três primeiros dados devem ser analisados em conjunto e são: contagem de hemácias, hemoglobina e hematócrito. Contagem normal de hemácias em homens varia de 4.400.000 a 6.000.000 por milímetro cúbico de sangue e em mulheres varia de 4.200.000 a 5.500.000 por milímetro cúbico de sangue. Após 65 anos há decréscimo dos valores, influenciando a resposta tecidual frente a procedimentos cirúrgicos. Dosagem de hemoglobina: reflete a quantidade de hemoglobina nos eritrócitos, logo a capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue. Valores de normalidade: para homens 15,3 gramas por decilitro de sangue, e 13,8 gramas por decilitro de sangue para mulheres. Hematócrito: analisa a proporção de volume da amostra de sangue ocupada pelas hemácias. Normalidade - 42 a 47% da amostra de sangue, podendo variar conforme sexo, altitude e grau de atividade física. Pode-se notar, portanto, que praticamente metade do sangue é, na verdade, composto por células vermelhas. AVALIAÇÕES QUALITATIVAS Essas outras informações fornecem dados a respeito do tamanho e a forma das células vermelhas. Volume corpuscular médio: volume médio dos eritrócitos, ou seja, o tamanho da célula. Utilizada para realizar diagnóstico diferencial entre as diferentes anemias. Calcula-se dividindo o hematócrito pelo número de eritrócitos. Os valores variam de 80 micras cúbicas até 98 micras cúbicas. Quadros anêmicos onde o tamanho da célula é normal são chamados de anemia normocítica, enquanto nos que o volume da célula é menor, ou seja, as células são menores que o normal, são denominados de anemia microcítica. Já nos quadros em que o volume está aumentado, ou seja, as células são maiores que o normal, denominamos anemia macrocítica. Por exemplo, anemias por carência de ácido fólico cursam com hemácias grandes, enquanto que anemias por falta de ferro se apresentam com hemácias pequenas. Existem também as anemias com hemácias de tamanho normal. Hemoglobina corpuscular média: representa a quantidade de hemoglobina média no interior das hemácias, o peso da hemoglobina na hemácia. Valor de normalidade: 24 a 33 picogramas. Anemia hipocrômica é a diminuição de hemoglobina no interior de hemácias. Anemia hipercrômica é o aumento de hemoglobina Quando os valores dos dados quantitativos estão reduzidos, indicam anemia, isto é, baixo número de glóbulos vermelhos no sangue. Quando estão elevados indicam policitemia (eritrocitose), que é o excesso de hemácias circulantes. Material para Leitura exames complementares 4 no interior de hemácias. Concentração de hemoglobina corpuscular média: Reflete a relação do valor de hemoglobina contido em uma quantidade de sangue e o volume globular expresso em porcentagem. Nos mostra a concentração de hemoglobina dentro da hemácia. A coloração da hemácia depende da quantidade de hemoglobina (quanto mais hemoglobina, mais corada e vice-versa). Normalidade: 32 a 36%. Aumento da concentração de hemoglobina corpuscular média: anemia hipercrômica. Acima de 36%. Diminuição da concentração de hemoglobina corpuscular média: anemia hipocrômica. Abaixo de 32%. ANORMALIDADES NO ERITROGRAMA Anemia: condição na qual o número de eritrócitos ou a quantidade de hemoglobina presentes nas células estão abaixo do normal. Reflete um déficit no transporte de oxigênio. Lembrando que existem vários tipos de anemia e que em alguns quadros de anemia há diminuição de hemoglobina, em outros há diminuição dos eritrócitos, ou então há diminuição de ambos. A forma mais comum de análise de anemia se baseia na hemoglobina (Hb) sendo considerada anemia leve para os valores de Hb entre 12 e 10, anemia moderada Hb entre 7 e 10 e anemia severa quando os valores de Hb < 7. Se por um lado a falta de hemácias prejudica o transporte de oxigênio, por outro, células vermelhas em excesso deixam o sangue muito espesso, atrapalhando seu fluxo e favorecendo a formação de coágulos. Sinais clínicos: astenia (fraqueza muscular), dispneia (alterações respiratórias), hipotensão ortostática (baixa de pressão quando paciente levanta), picos de taquicardia, mucosas pálidas, glossite e queilite angular, pele fria e seca, cabelo sem brilho e quebradiço. Em casos mais graves pode-se notar alterações neurológicas, como parestesia das extremidades, cefaleias e irritabilidade. Causas: falta de produção dos eritrócitos, aumento da demanda de eritrócitos, excesso de destruição dos eritrócitos, perda hemorrágica. A falta de produção usualmente está relacionada à deficiência de ferro, ácido fólico, ou vitamina B12. Pode também estar associada a defeitos genéticos, má formação de tecido hematopoiético, falta de estimulo da eritropoietina. A deficiência de ferro é a mais observada na clínica,estando relacionada a uma dieta carente em ferro ou à deficiência na absorção dele. A deficiência do ferro impossibilita o transporte de oxigênio, sendo denominada de anemia ferropênica ou ferropriva. O aumento da demanda de eritrócitos é observado durante a gravidez e o crescimento. O excesso de destruição de hemácias é observado em casos de hemólise e esplenomegalias. Perdas hemorrágicas ocorrem em quadros de sangramento digestivo, hipermenorreias e ruptura de vasos importantes. Conteúdo de hemoglobina Tamanho da célula Normocrômica Hipocrômica Microcítica Incomum. Possível em alguns casos de infecção e doenças sistêmicas crônicas (DSC) Anemia ferropriva, talassemia maior e menor, anemias por DSC Normocítica Hemólise, anemia hemorrágica, anemia aplásica, anemia por insuficiência renal, hiperesplenismo Envenenamento por chumbo Macrocítica Anemia perniciosa, deficiência de ácido fólico, má absorção, reticulocitose, doença hepática crônica, alguns casos de anemia aplástica, alcoolismo Anemias microcítica associadas a deficiência de ferro Tabela 1. Resumo dos tipos de anemia e fatores associados Material para Leitura exames complementares 5 LEUCOGRAMA Identifica os leucócitos (também chamados de glóbulos brancos do sangue) tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo morfológico. A média de leucócitos no sangue é de 5.000 a 10.000 por milímetro cúbico de sangue. Esse valor de referência de normalidade se modifica conforme idade, sexo, raça, temperatura ambiente, situações de repouso ou exercício físico, ansiedade, depressão, alimentação, gravidez e período menstrual. Quando o leucograma apresenta índices aumentados na contagem de leucócitos, denominamos de leucocitose pode ser causada por uma infecção e até uma leucemia. Em casos de diminuição na contagem, é chamado de leucopenia que pode ser causada pelo uso de medicamentos ou quimioterapia, por exemplo, e cada uma destas situações necessita de um tratamento específico. Os leucócitos são células mais volumosas quando comparadas com as hemácias. A principal função dos leucócitos é participar da defesa imunológica, quando requeridos, dessa forma saem da corrente sanguínea e defendem os tecidos. A produção dos leucócitos também depende do estímulo sistêmico, na presença de quadros infecciosos há um considerável aumento na produção, visando debelar o processo a defesa. Os leucócitos podem ser divididos em granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) e agranulócitos (linfócitos e monócitos). Os grânulos presentes no citoplasma são compostos por enzimas que participam da resposta imunológica que cada célula vai desempenhar. O número total de leucócitos circulantes varia de 5.000 a 10.000 por milímetro cúbico de sangue. Em valores abaixo de 5.000, há um quadro de leucopenia. Em valores acima de 10.000 há um quadro de leucocitose, refletindo uma resposta da medula óssea a estímulos que produzem aumento da produção de linhagem neutrofílica ou linfocítica. Esses estímulos podem ser inflamatórios ou neoplásicos. O leucograma permitirá verificar quantitativamente cada um dos leucócitos. Sabe se que em situações de normalidade há um predomínio de neutrófilos (50-70%), seguido de linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos. Tipos de Leucócitos Funções Neutrófilos Leucócitos mais abundantes Responsável pelo combate a bactérias e, quando os valores de neutrófilos estão altos, isto pode indicar uma infecção bacteriana. Os bastões (bastonetes) são os neutrófilos jovens, que foram lançados no sangue para combater uma infecção aguda e, os neutrófilos segmentados são os neutrófilos maduros. Linfócitos Associados com reposta a vírus, tumores e produzem anticorpos. Quando aumentados, podem indicar uma infecção viral, HIV, leucemia ou rejeição de um órgão transplantado, por exemplo. Monócitos Responsáveis por fagocitar micro-organismos Quando localizados nos tecidos extra sanguíneos são chamados de macrófagos. Atuam contra vírus e bactérias, sem distinção. Eosinófilos Células de defesa que são ativadas em caso de alergia ou infecção parasitária. Basófilos Células ativadas em caso de inflamação crônica ou alergia prolongada e, em um indivíduo normal, só é encontrado até 1%. Tabela 2. Detalhamento a respeito dos tipos de glóbulos brancos e suas funções Material para Leitura exames complementares 6 Neutrófilos: Os neutrófilos têm um tempo de vida de aproximadamente 24-48 horas. Sua principal função é a fagocitose (englobar e digerir) de pequenas partículas que precisam ser eliminadas. Há predomínio de neutrófilos em quadros de infecção bacteriana. Por isso, assim que o processo infeccioso é controlado, a medula reduz a produção de novas células e seu níveis sanguíneos retornam rapidamente aos valores basais. Valores de referência: representa em média 50-70% dos leucócitos circulantes ou entre 1.800 a 7.700/mm3 Aumento: neutrofilia, em casos de infecções bacterianas, viróticas ou fúngicas agudas, necroses teciduais, quadros de hipersensibilidade, insuficiência renal aguda. Diminuição: neutropenia, em casos de hepatite, viroses, mononucleoses e doenças autoimunes, como o lúpus eritematoso sistêmico. Classificação: - Neutropenia leve: entre 1700 e 1000 - Neutropenia moderada: entre 1000 e 500 - Neutropenia importante: < 500: Quando estamos infectados, a medula óssea aumenta rapidamente a produção de leucócitos e acaba por lançar na corrente sanguínea neutrófilos jovens recém-produzidos denominados de bastões (bastonetes). A infecção deve ser controlada rapidamente, por isso, não há tempo para esperar que essas células fiquem maduras antes de lançá-las ao combate. Desta forma, quando o hemograma apresenta muitos bastões chamamos este achado de “desvio à esquerda”. Esta denominação deriva do fato dos laboratórios fazerem a listagem dos diferentes tipos de leucócitos colocando seus valores um ao lado do outro. Como os bastões costumam estar à esquerda na lista, quando há um aumento do seu número diz-se que há um desvio para a esquerda no hemograma. Portanto, se você ouvir o termo desvio à esquerda, significa apenas que há um aumento da produção de neutrófilos jovens. Os neutrófilos segmentados são os neutrófilos maduros. Quando o paciente não está doente ou já está em fase final de doença, praticamente todos os neutrófilos são segmentados, ou seja, células maduras. Linfócitos: Os linfócitos são as principais linhas de defesa contra infecções por vírus e contra o surgimento de tumores. São eles também os responsáveis pela produção dos anticorpos. Valores de referência: representam em média 20-40% dos leucócitos circulantes. Aumento – linfocitose. Em quadros infecciosos virais (hepatite A, mononucleose, rubéola, sarampo, citomegalovírus, infecção herpética), sífilis, infecções crônicas, reação de hipersensibilidade e leucemias linfocíticas. Quando temos um processo viral em curso, é comum que o número de linfócitos aumente, às vezes, ultrapassando o número de neutrófilos e tornando-se o tipo de leucócito mais presente na circulação. Diminuição – linfocitopenia. Em quadros de estresse agudo, uremia, doença cardíaca congestiva, linfoma, lúpus eritematoso, anemia aplásica, infecção por HIV após aumento dos linfócitos inicialmente. Obs: linfócitos atípicos são um grupo de linfócitos com morfologia diferente, que podem ser encontrados no sangue. Geralmente surgem nos quadros de infecções por vírus, como mononucleose, Material para Leitura exames complementares 7 gripe, dengue, catapora, etc. Além das infecções, algumas drogas e doenças autoimunes, como lúpus, artrite reumatoide e síndrome de Guillain-Barré, também podem estimular o aparecimento de linfócitos atípicos. Atenção, linfócitos atípicos não têm nada a ver com câncer. Monócitos: Os monócitossão células de defesa ativadas tanto em processos virais quanto bacterianos. Essas células são os precursores dos macrófagos teciduais. O monócito deixa o sangue e vai para o tecido, se tornando macrófago. Valores de referência: representam em média 3 – 7% dos leucócitos circulantes. Aumento – monocitose. Em quadros infecciosos crônicos, como tuberculose, doenças inflamatórias crônicas, neoplasias e doenças mieloproliferativas crônicas. Diminuição – monocitopenia. Em quadros de estresse agudo, anemia aplásica e uso de corticoides. Presentes também em fases reparativas de doenças. Eosinófilos: Células capazes de realizar pequena fagocitose. Tornam-se ativos nas fases tardias da inflamação. São ativos principalmente nas reações alérgicas e em parasitoses. Valores de referência: 1-3% dos leucócitos circulantes. Aumento: Eosinofilia, em casos de doenças alérgicas, hipersensibilidade a drogas, infecções parasitárias e doenças linfoproliferativas. Diminuição: Eosinopenia, em casos de estresse agudo, causado por traumas, cirurgias, infarto do miocárdio e inflamação aguda. Basófilo: São leucócitos raros. Células ativadas em caso de inflamação crônica ou alergia prolongada e, em um indivíduo normal, só é encontrado até 1% dos leucócitos circulantes. Aumento: basofilia, em casos de hipersensibilidade, assim como leucemia mieloide crônica. Diminuição: basopenia, em casos de estresse agudo. Material para Leitura exames complementares 8 Questões que podemos elucidar a partir da análise do leucograma: 1. Existe processo infeccioso presente? 2. Que tipo de processo inflamatório está presente? Agudo (aumento de neutrófilos) ou crônico (aumento de leucócitos). 3. Em qual fase o processo se encontra? -Processo agudo: aumento de leucócitos, aumento de neutrófilos com desvio à esquerda e eosinofilia. -Processo agudo com supuração: além da neutrofilia, há granulação tóxica. -Processo agudo em resolução: além da neutrofilia, há monocitose (reparo do quadro instalado). -Processos crônicos: leucocitose com aumento de linfócitos e eosinofilia. 4. Existe supuração? Verificada a partir da presença de granulação tóxica Grandes elevações dos leucócitos podem ocorrer nas leucemias, que nada mais é que o câncer dos leucócitos. Enquanto processos infecciosos podem elevar os leucócitos até 20.000-30.000 células/mm3, na leucemia estes valores ultrapassam facilmente as 50.000 células/mm3. As leucopenias normalmente ocorrem por lesões na medula óssea. Podem ser por quimioterapia, por drogas, por invasão de células tumorais ou por invasão por micro- organismos. COAGULOGRAMA O coagulograma é a parte do hemograma que avalia o nível de coagulação do sangue. Nos permite avaliar quantitativamente e qualitativamente a hemostasia. A hemostasia pode ser definida como o equilíbrio entre a hemorragia e a trombose, ou seja, o sangue deve correr no sistema circulatório de maneira fluida. O sangue não pode extravasar, o que caracterizaria uma hemorragia, e não pode coagular, o que caracterizaria um trombo. Alterações da hemostasia são condições patológicas frequentes, podendo estar associadas com alterações na parede dos vasos, nas plaquetas ou nos fatores de coagulação. Os exames que compõem o coagulograma são: • Tempo de Sangramento (TS) • Tempo de Coagulação (TC) • Tempo de Ativação da Protrombina (TAP) • Tempo de Ativação Parcial da Tromboplastina (KPTT ou TTPA) • Número de Plaquetas Esses exames ajudam na identificação de qual dos componentes estão alterados na hemostasia, podendo prevenir ou minimizar quadros de hemorragia frente a procedimentos cirúrgicos. Material para Leitura exames complementares 9 Plaquetas: As plaquetas são produzidas na medula óssea a partir de megacariócitos, sendo liberadas na corrente sanguínea. São fragmentos de células com citoplasma granuloso. Apresentam papel fundamental na estabilização de quadros hemorrágicos, através da formação do tampão plaquetário pela adesividade entre as plaquetas. Valor de normalidade: 130.00 a 400.000 por milímetro cubico de sangue. Quando as plaquetas apresentam um número aumentado, chamamos de plaquetose (ou trombocitose). Quando estão em pequeno número, chamamos plaquetopenia (ou trombocitopenia). Nesta situação pode haver sangramento, dependendo do grau da plaquetopenia: < 100.000: risco de sangramento quando submetido a trauma ou procedimentos de grande porte (cirurgia da cabeça, do coração ou dos olhos) < 50.000: risco de sangramento quando submetido a trauma ou procedimentos de pequeno e médio porte < 10.000: risco de sangramento espontâneo Fatores de coagulação: Após romper o vaso, há migração das plaquetas do vaso para a parede endotelial, aderindo-se entre elas e formando o tampão primário, que é frágil, podendo ser deslocado com facilidade. Após formar o tampão primário são ativados os fatores de coagulação que ao produzirem fibrina estabilizam o coágulo, solidificando o tampão, que passa a se chamar tampão secundário, estancando o sangramento. Após isso, as células endoteliais reestabelecem o vaso que fora rompido. Pelo coagulograma podemos detectar alterações nas plaquetas e nos fatores de coagulação, além de alterações vasculares que possam levar a quadros hemorrágicos, ou seja, a dificuldade de hemostasia que o paciente apresenta. Tempo de sangramento Avalia a disponibilidade de plaquetas na corrente sanguínea e a capacidade que elas têm em conter o sangramento frente uma incisão. Valor de normalidade: 1-3 min. Tempo aumentado: paciente portador de função plaquetária anormal. Quadros observados em pacientes que utilizam inibidor de adesão plaquetária, para impedir formação de trombos, plaquetopênicos e com insuficiência hepática. Utilização de aspirina e AINES aumentam o tempo de sangramento, diminuindo o controle da hemostasia. Atualmente, não se recomenda a suspensão do AAS, pois o risco gerado pela suspensão da droga é maior que a dificuldade de controle do sangramento pela anti-agregação. Tempo de coagulação Mensura a capacidade da fibrina em formar o coágulo inicial. Portanto, estaremos avaliando fatores plasmáticos ativos na coagulação. Valor de normalidade: 5-10 min. Usualmente está aumentado em quadros com deficiências de fatores plasmáticos (hemofilia), na deficiência de vitamina K e em drogas anticoagulantes. Material para Leitura exames complementares 10 Tempo de tromboplastina parcial (TTP): Avalia a via intrínseca da coagulação, os fatores de coagulação. Valor de normalidade: 35-50 s. TTP aumentado: defeitos genéticos, fatores intrínsecos – hemofilia (fator VIII), doença de Christmas (fator IX) e alterações do fator XI e XII em menor grau. Utilizada para monitorar tratamento com heparina, que age na via intrínseca da coagulação. Tempo de protrombina (TP): Avalia a via extrínseca da coagulação. Ligada ao fibrinogênio, fator X, VIII, V e protrombina. Valor de normalidade: 11 a 13 s. Alterado em casos de má absorção de vitamina K, principalmente em quadros de colite, doença celíaca e diarreia crônica. Utilizada para monitoramento de anticoagulante com cumarina, pois este medicamento inibe a síntese hepática desses fatores. EXAMES BIOQUÍMICOS Refletem processos metabólicos, auxiliando no diagnóstico de doenças hepáticas, renais e metabólicas comuns. A identificação de anormalidades nesses exames indica qual órgão está afetado. Podemos detectar no sangue substâncias como glicose, sódio, potássio, metabólitos como a ureia, creatinina e amônia, substâncias decorrentes de dano celular, como creatinina, amilase, ferritina e fosfatase alcalina, e drogas como antibióticos, álcool e anticonvulsivantes. Glicemia Valor de normalidade (jejum): 70-100 mg/dl É o exame bioquímico mais solicitado, servindo para avaliar níveis séricos de glicose.A taxa aumentada (>100mg/dl) indica estágios inicias de diabetes. Esse diagnóstico é definido a partir da obtenção de 2 resultados iguais ou superiores a 126mg/dl. Valores abaixo de 70mg/dl indicam hipoglicemia. Quando detectada a hiperglicemia, precisamos saber se ela é persistente (em quadros de diabetes, obesidade e hipertireoidismo) ou transitória (estresse físico, hepatopatia grave, choque convulsões). Glicemia elevada- hiperglicemia Sintomas: boca seca, sede, vontade frequente de urinar, cansaço e visão turva. Se você apresentar qualquer um desses sintomas, teste sua glicemia imediatamente. As razões para glicemia elevada incluem comer exageradamente, ser menos ativo que o comum, estar doente ou sob estresse ou necessitar de ajustes no medicamento contra diabetes. Glicemia baixa -hipoglicemia Pode acontecer se você estiver tomando algum medicamento para manter os níveis de glicose no sangue próximos ao normal. Entretanto, este não é um motivo para deixar de controlar o diabetes – apenas acompanhe de perto os níveis baixos de glicemia. A baixa de glicose no sangue é causada, geralmente, por comer menos ou mais tarde do que o normal, estar mais ativo do que o habitual ou tomar medicamento contra o diabetes que não esteja de acordo com suas necessidades. Material para Leitura exames complementares 11 Hemoglobina glicada Valor de normalidade: 4-6%. Outra forma de verificar a glicemia vem a ser pela hemoglobina glicada, que representa uma avaliação retroativa dos últimos 3 meses, informando flutuações na glicemia nesse período. Então, a glicemia em jejum faz uma avaliação momentânea, enquanto a hemoglobina glicada nos mostra uma análise retrospectiva. Creatinina: é um metabólito dos rins, o exame serve para verificação do funcionamento renal. Valor de normalidade: 0,7-1,4mg/dl. Aumento da creatinina no plasma: presença de insuficiência renal. O cálcio e o fósforo são íons, presentes na corrente sanguínea, que estão relacionados com a mineralização óssea. Portanto, devem ser avaliados conjuntamente. O fluxo desses íons é controlado pelo paratormônio, pela vitamina D e pela calcitonina. Uma diminuição de cálcio livre estimula a produção de paratormônio, causando reabsorção do cálcio a partir dos ossos, suprimindo sua perda pela urina. A vitamina D promove a absorção de cálcio e fósforo pelo intestino, acelerando a renovação desses minerais no sistema ósseo. Calcemia Valores de referência: 8,5 a 10,5 mg/d Hipercalcemia - aumento de cálcio no sangue: em quadros de hiperparatireoidismo, tumores ósseos malignos, ingesta excessiva de Ca, hipervitaminose D. Hipocalcemia – valores diminuídos de cálcio no sangue: hipoparatireoidismo, insuficiência renal, síndrome de má absorção e deficiência de vitamina D. Cálcio não está sendo absorvido ou produzido. Fósforo: excesso de fósforo é filtrado e eliminado pelo rim. Portanto, aumento indica insuficiência renal. Fosfatase alcalina é uma enzima encontrada em todos os tecidos corporais, principalmente em tecido ósseo. Utilizada para verificar doenças ósseas. É responsável pela degradação de substâncias que contenham fosfato. Valores aumentados quando há aumento na atividade óssea. Portanto, o aumento pode ser fisiológico, em fases de crescimento, e patológico em quadros de fraturas, doença de Paget, tumores ósseos e hiperparatireoidismo. EXAMES SOROLÓGICOS A partir de amostras de sangue, podemos realizar exames sorológicos, que avaliam os mecanismos imunológicos, demonstrando a presença de anticorpos ou antígenos associados a infecções específicas e doenças autoimunes. Isso ocorre em casos de sífilis, HIV, hepatite e mononucleose infecciosa. VDRL (sigla de Venereal Disease Research Laboratory): teste para identificação de pacientes com sífilis. Um teste de VDRL negativo quase sempre significa que a pessoa nunca teve contato com a sífilis entretanto, num estado avançado da sífilis o VDRL poderá dar resultado negativo. Isto é chamado de resultado falso negativo e acontece devido ao elevado número de anticorpos produzidos pelo organismo durante o estado latente ou terciário da doença. Por outro lado, o VDRL é às vezes positivo na ausência do sífilis. Chama-se de resultado falso positivo. Como exemplo temos, a mononucleose infecciosa, o lupus eritematoso sistêmico, a hepatite A, a hanseníase, a malária e, ocasionalmente, até a gravidez podem ser encontrados pequenos títulos que não significam a presença de sífilis. O ideal é realizar o VDRL e o FTA ABS, para confirmar a sífilis. Material para Leitura exames complementares 12 FTA-ABS: teste mais específico e sensível que o VDRL. A sua janela imunológica é mais curta, podendo estar positivo já após alguns dias depois do aparecimento da lesão inicial. Uma vez positivo, o FTA-ABS assim permanecerá para o resto da vida, mesmo após a cura do paciente. Já os valores do VDRL caem progressivamente após a cura, podendo ou não tornar-se negativos após um tratamento bem sucedido. Habitualmente o VDRL é usado para rastreio da doença e o FTA-ABS para confirmação num estado latente ou terciário da sífilis. Interpretação de resultados de VDRL e FTA-ABS - VDRL positivo e FTA-ABS (ou TPHA) positivo confirmam o diagnóstico de sífilis. - VDRL positivo e FTA-ABS (ou TPHA) negativo indicam outra doença que não sífilis. - VDRL negativo e FTA-ABS (ou TPHA) positivo indicam sífilis em fase bem inicial ou sífilis já curada ou sífilis na fase terciária. - VDRL negativo e FTA-ABS (ou TPHA) negativo descartam o diagnóstico de sífilis. Exame para EBV (vírus Epstein-Barr) O vírus Epstein-Barr é um membro da família de vírus da herpes e é um dos vírus mais comuns a infectar os seres humanos em todo o mundo. Em crianças, o vírus normalmente não provoca sintomas. Em adolescentes e adultos, ele provoca uma doença conhecida como mononucleose infecciosa entre 35 e 50% dos casos. A propagação do vírus é através da saliva ou secreções respiratórias superiores e não pode ser propagado pelo contato com o sangue. A pesquisa do EBV é muito utilizada para identificação de mononucleose infecciosa, quando nesse exame há IgG houve contato pregresso com o vírus, tendo IgM a doença está ativa. CMV (Citomegalovírus) Os exames para citomegalovírus (CMV) são usados para diagnosticar uma infecção ativa ou para determinar se uma pessoa teve uma infecção anterior. A presença de anticorpos IgM indicam a presença de infecção ativa pois são os primeiros a serem produzidos em resposta a uma infecção. São detectados em uma a duas semanas após a exposição inicial ao CMV. Após alguns meses, não são mais detectados, mas podem voltar a ser produzidos quando a infecção latente é reativada. Os anticorpos IgG são detectados algumas semanas após a infecção inicial, e permanecem detectáveis durante o resto da vida da pessoa desta forma, indicam que a pessoa teve contato com a doença. Além disso, podemos detectar por exame sorológico a infecção pelo HIV tipo 1 e 2, herpes simples, tipos de hepatite, sarampo, caxumba e rubéola. Sarampo: IgG (pregressa ou vacina), IgM (ativa). Caxumba: IgG (pregressa, imunização), IgM (ativa). Rubéola: IgG (imunidade), IgM (ativa). Material para Leitura exames complementares 13 CONSIDERAÇÕES FINAIS – EXAMES HEMATOLÓGICOS Exames hematológicos são fundamentais para monitorar doenças sistêmicas, ou diagnosticar determinadas doenças. Depende do exame clínico inicial, visto que é um exame complementar, sendo realizado em casos que necessitamos de um auxílio para fechar o diagnóstico final. Hemograma é indicado para analisar elementos figurados do sangue (hemácias, leucócitos, plaquetas e fatores de coagulação). Bioquímicos: analisar o metabolismo da glicose, ósseo. Sorológicos: suspeita de doenças infecciosas e autoimunes. Equipe Responsável: A Equipe de coordenação, suporte e acompanhamentodo Curso é formada por integrantes do Núcleo de TelessaúdeRS do Rio Grande do Sul (TelessaúdeRS-UFRGS) e do Programa Nacional de Telessaúde Brasil Redes. REFERÊNCIAS COLEMAN, C. C.; NELSON, J. F. Principios de diagnósticos bucal. Editora Guanabara Koogan, 1993. MARCUCCI, G. Fundamentos de Odontologia – Estomatologia. Editora Guanabara Koogan, 2005. TelessaúdeRS-UFRGS Coordenação Geral Marcelo Rodrigues Gonçalves Coordenação do curso Vinicius Coelho Carrard Coordenação da Teleducação Roberto Nunes Umpierre Otávio Pereira D’Avila Ana Paula Borngräber Corrêa Conteudistas Manoela Domingues Martins Marco Antonio Trevizani Martins Vinicius Coelho Carrard Vivian Petersen Wagner Revisores Bianca Dutra Guzenski Fernanda Friedrich Otávio Pereira D’Avila Michelle Roxo Gonçalves Thiago Tomazetti Casotti Projeto Gráfico Luiz Felipe Telles Diagramação Carolyne Vasques Cabral Luiz Felipe Telles Ilustração Carolyne Vasques Cabral Luiz Felipe Telles Edição/Filmagem/Animação Diego Santos Madia Rafael Martins Alves Divulgação Camila Hofstetter Camini Guilherme Fonseca Ribeiro Vitória Oliveira Pacheco Equipe de Teleducação Ana Paula Borngräber Corrêa Andreza de Oliveira Vasconcelos Angélica Dias Pinheiro Cynthia Goulart Molina Bastos Ylana Elias Rodrigues Rosely de Andrade Vargas Dúvidas e informações sobre o curso Site: www.telessauders.ufrgs.br E-mail: ead@telessauders.ufrgs.br Telefone: 51 33082098
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