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APONTAMENTOS aulas 1 A 4 História do Direito Brasileiro

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO
APONTAMENTOS DE AULA
PROFª MARIA DE FÁTIMA ALVES SÃO PEDRO
UNIDADES MENEZES CÔRTES
HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO
Contextualização - A crescente busca pelo mercado de profissionais do Direito com ampla capacidade crítica e reflexiva acaba por exigir das instituições de ensino que forneçam a seus alunos sólida formação intelectual. Neste sentido, esta disciplina tem por propósito capacitar o discente a compreender o pensamento jurídico e o ordenamento brasileiro vigentes, como produtos de progressivas construções no tempo, a partir da necessidade que cada sociedade histórica tem de solucionar seus problemas e projetar seus ideais de vida conjunta. Para tanto, utilizam-se como referência basilar as particulares visões de mundo dessas sociedades que, mesmo construídas a partir de seus horizontes políticos, sociais, mentais, culturais e econômicos, presentes em cada tempo histórico específico, quando olhadas em conjunto, em sua inteireza, demonstram não apenas conectividade, mas também alguma unidade. É a identificação dessa unidade que acaba por explicitar  o que chamamos de tradição jurídica brasileira. 
Ementa:
Síntese do Direito no Brasil no período anterior à independência;
O direito no Brasil Imperial;
O direito na República Velha;
O direito na Era Vargas;
O direito brasileiro no Pós-guerra em um contexto de ascensão e decadência democrática;
A ordem jurídica na ditadura militar: da radicalização à distensão do regime de força;
O direito brasileiro no contexto da reconstrução democrática.
Objetivo Geral - Compreender o pensamento jurídico e o ordenamento brasileiro vigentes, como produtos de progressivas construções no tempo, tendo como referência o encontro de visões de mundo que se constroem a partir das realidades política, social, mental, cultural e econômica das sociedades que, em cada tempo, colaboraram para sua produção. 
Objetivos Específicos:
Analisar instituições jurídicas e estruturas judiciais aplicadas no Brasil a partir do período colonial até sua independência, de forma a apontar suas influências na formação de uma tradição do pensamento jurídico brasileiro; 
Pesquisar, a partir da visão de mundo da sociedade da época, as instituições jurídicas e sociais do Brasil Imperial que, assumidas da tradição colonial, importadas de outras sociedades, ou mesmo construídas no período - a partir das peculiaridades locais -, contribuíram para a construção do pensamento jurídico-político brasileiro;  .
Investigar as instituições e estruturas jurídicas construídas no período republicano, a partir de estruturas jurídicas, políticas e sociais herdadas do Brasil Colônia e do Brasil Imperial, ou mesmo importadas de tradições estrangeiras, identificando um quadro de permanências e rupturas no decorrer do tempo histórico, que acabam por ajudar a compreender o perfil atual do pensamento e da dogmática jurídica do Brasil contemporâneo; 
Permitir que o aluno visualize as transformações, rupturas e permanências dos institutos do direito brasileiro no decorrer da história, utilizando-se como parâmetro o direito vigente;
Colaborar no processo de auto-reconhecimento pelo discente como um sujeito histórico, potencial transformador da realidade sociopolítica e jurídica do mundo em que vive. 
Evidenciar como o direito se cristaliza como produto de seu tempo, demonstrando que sua legitimidade busca suas raízes mais profundas na tradição histórica e mental da sociedade que o produz.
Unidade 1 - Síntese do direito no Brasil no período anterior à independência
Estudo dos aspectos relevantes das instituições jurídicas e estruturas judiciais aplicados no Brasil a partir do período colonial até sua independência, analisados sob a perspectiva social, mental, econômica, política e cultural do período.  .
Unidade 2 – O direito no Brasil Imperial
A gênese de um sistema jurídico brasileiro. O processo constituinte. A Constituição imperial como retrato contraditório da difícil conjugação entre liberalismo e escravagismo. O papel da Igreja no modelo imperial. A legislação material e processual penal. Os cursos jurídicos no Brasil. Os principais movimentos legislativos do período: o Código Comercial, a Lei de Terras e os projetos do Código Civil. A questão escravocrata e as legislações abolicionistas 
Unidade 3 – O direito na República Velha
A República e a Constituição liberal de 1891 (a nova estruturação dos poderes, o sistema eleitoral e os direitos e garantias tipicamente liberais), analisada sob os primas social, político, econômico e cultural do período. A ruptura Estado /Igreja.  O novo Código Penal sob a influência da abolição da escravatura. O primeiro Código Civil Brasileiro e a leitura mental e social de uma época. 
Unidade 4 - O direito na Era Vargas
O corporativismo na emblemática e breve Constituição de 1934. O  trabalhismo, a CLT e a segunda geração de direitos fundamentais. A Constituição de 1937 (a “Polaca”). A centralização e o antifederalismo na base da ditadura varguista.  Os novos códigos penal e de processo penal sob a influência do hegemônico positivismo jurídico no período. 
Unidade 5 – O direito brasileiro entre o pós-guerra e o Golpe Militar: ascensão e decadência do regime democrático
A Constituição de 1946 e o breve período democratizante. A crise da Ordem Constitucional de 1946. Golpe Militar de 1964 e o Ato Institucional (nº1) como ato inaugural de uma ordem “metaconstitucional”. A Constituição de 1967 como base jurídica inicial do regime militar. 
Unidade 6 - A ordem jurídica na ditadura militar: da radicalização à distensão do regime de força
O recrudescimento do regime militar e seu crescente caráter antidemocrático. Os Atos Institucionais (AIs) nº 2, 3 e 4.  O AI-5 e a supressão de direitos fundamentais. As alterações substanciais da Constituição de 1967 pela Emenda Constitucional nº 1/69. A ditadura e suas consequências nos campos jurídico, social, político, cultural, mental e econômico. A paulatina distensão do regime. A Lei da Anistia e a Lei do Divórcio como estatutos paradigmáticos do período.
Unidade 7- O direito brasileiro no contexto da reconstrução democrática
O movimento “Diretas-já”. A Constituinte e o choque ideológico. A Constituição de 1988: a construção democrática e a progressiva ampliação e proteção aos direitos e garantias fundamentais.  O direito  sob novo enfoque: as legislações ambiental, do consumidor, civil, de proteção à criança e ao adolescente. Os novos direitos a partir das novas demandas. 
PLANO DE AULA 1 – Introdução à Disciplina História do Direito Brasileiro
Apresentar o Plano de Ensino da Disciplina História do Direito Brasileiro, que lhe será ministrada durante o semestre letivo;
Entender como funciona a metodologia de ensino centrada na resolução de casos concretos, empregada no curso de Direito e, por via de consequência, também na disciplina História do Direito no Brasil;
Compreender o conceito de História, relacionando-o ao de  História do Direito;
Entender as bases dos grandes sistemas do direito (civil law - ou sistema germânico-romano - e common law),  situando o direito brasileiro como seguidor da tradição românico-germânica. 
1- O Plano de Ensino da disciplina: apresentação da disciplina enfatizando a importância que ela possui na formação de um profissional com sólida cultura jurídica. Isto porque, além de auxiliar o aluno a se situar como sujeito histórico no mundo em que vive, essa disciplina foi concebida para proporcionar elementos de base para as matérias dogmáticas, sem deixar de estabelecer um diálogo permanente com as outras disciplinas de fundamentos. Por isso, é importante que o discente tenha ciência dos conteúdos a serem ministrados em cada semana, bem como, conheça a sistemática das atividades estruturadas, entre as quais a Metodologia de Casos, utilizada no Curso de Direito. 
2- O conceito de história e sua decorrente correlação com o conceito de históriado Direito. O propósito é explicar aos educandos a relação entre passado e presente e a consequente importância  daquele na compreensão deste. Nesse sentido, uma das preocupações é a de demonstrar  a relação dialética e dinâmica entre história e direito, enfatizando o aspecto de ser a produção jurídica largamente influenciada pelos fatores histórico-culturais de cada época, ao mesmo tempo em que é determinante na produção de novos fatos (históricos).  .
3- As bases dos grandes sistemas do direito (civil law - ou sistema germânico-romano - e common law),  situando o direito brasileiro como seguidor da tradição germânico-romano. Faz-se necessário, neste ponto, ainda que de forma superficial, que o aluno possa ter uma compreensão acerca dos dois grandes modelos paradigmáticos do direito ocidental (germânico-romano  e Common Law), observando que a tradição brasileira, corolária da portuguesa, compartilha/ assume a tradição germânico-romana (também chamada de  continental ou da Civil Law), desenvolvida em países europeus, como, por exemplo, Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, sendo a Inglaterra a mais notória exceção, ao assumir posição na paradigmática família da Common Law. 
O que é a História? Ou melhor, como a História é pensada pelo senso comum? 
A História e o passado seriam categorias intercambiáveis – elas estariam unidas de tal forma que somente poderia haver uma única leitura histórica do passado. 
A História serviria para o conhecimento do passado tal como ele “realmente” aconteceu – isto permitiria uma apreensão “pura” dos fatos históricos. 
A História se confundiria com a memória – sobreviventes, participantes, contemporâneos de fatos e eventos históricos, ou seus escritos e depoimentos seriam considerados como “a História viva” deste ou daquele fato ou evento. 
A História se constituiria como a narrativa de um processo evolutivo linear das sociedades, desde os “tempos remotos” até os dias atuais.
O senso comum, entretanto não consegue dar conta de uma apreensão mais sofisticada, mais elaborada dos fenômenos sociais e do mundo natural.
O “olhar” do senso comum sobre o mundo é sempre fragmentado, imediatista e pouco abrangente.
No que se refere à História, este “olhar” do senso comum a situa no campo da compilação/registro de fatos e eventos considerados históricos “per si” em uma sequência temporal linear. 
Como então superar a perspectiva do senso comum no conhecimento histórico? Algumas sugestões:
Entender que a História é um dentre muitos “discursos” sobre o mundo e que tais discursos ainda que não criem o mundo, dele se apropriam, dando-lhe todos os significados que têm – a pequena parte do mundo que se constitui em pretenso objeto de investigação da História é o Passado. Portanto História e Passado são coisas diferentes. Assim como História e Memória são também coisas distintas. 
Compreender que os fatos e eventos da história chegam até nós sempre refratados através da mente, do olhar do registrador, ou seja, do historiador – quando tomamos um trabalho de história para leitura devemos nos preocupar, não com os fatos que ele contém, mas, primeiramente, com o historiador que o escreveu. 
A visualização, a compreensão do passado somente ocorre através dos olhos do presente – o historiador pertence à sua época, ao seu “presente”, e a ele se liga pelas condições objetivas da existência humana. 
Entender que a História é produto do trabalho de historiadores (ou dos que atuam como historiadores) – não é possível relatar mais do que uma pequena parcela do que aconteceu, sendo que o relato do historiador nunca corresponde exatamente ao passado. 
Algumas reflexões:
As rápidas considerações que tecemos anteriormente a respeito da natureza do conhecimento histórico e de sua produção são válidas para o campo do conhecimento da História do Direito e, mais especificamente, da História do Direito Brasileiro.
Como campo especializado do conhecimento histórico, a História do Direito (e como tal, a História do Direito Brasileiro) se apresenta como produção discursiva daqueles que exercem o ofício do historiador e que buscam a compreensão das configurações institucionais e normativas do Direito nas diversas formações sociais ao longo do tempo ou no processo de formação de uma determinada sociedade. 
No que se refere à importância e ao papel da disciplina histórica na formação dos juristas e dos chamados “operadores do direito”, podemos entendê-la a partir de uma perspectiva CONSERVADORA ou a partir de uma perspectiva CRÍTICA.
HISTÓRIA - (do grego antigo historie, que significa testemunho, no sentido daquele que vê) é a ciência que estuda o Homem e sua ação no tempo e no espaço, concomitante à análise de processos e eventos ocorridos no passado. 
Assim, o que é História do direito...
é o ramo da história social que se ocupa da análise, da crítica e da desmistificação dos institutos, normas, pensamentos e saberes jurídicos do passado. Ela é uma disciplina obrigatória nos cursos de Direito e possui uma autonomia disciplinar. 
O Direito e a História vivem em regime de mútua influência, o certo é que o Direito vive impregnado de fatos históricos, que comandam o seu rumo, e a sua compreensão exige, muitas vezes, o conhecimento das condições sociais existentes à época em que foi elaborado.
A Escola Histórica do Direito, de formação germânica, criada no início do século XIX, valorizou e deu grande impulso aos estudos históricos do Direito. 
É necessário que a história do direito, paralelamente à análise da legislação antiga, proceda à investigação nos documentos históricos da mesma época. A pesquisa histórica pode recorrer às fontes jurídicas - que tomam por base as Leis, o Direito consuetudinário, sentenças judiciais e obras doutrinárias - às fontes não-jurídicas, como livros, cartas e outros documentos.
A história do direito é de suma importância para o estudo da ciência jurídica, pois, visa compreender o processo de evolução e constante transformação das civilizações humanas no decorrer da história dos diversos povos e consequentemente das diversas culturas, do ponto de vista jurídico, sendo assim o direito a ciência do conviver. 
DE UMA FORMA MAIS USUAL, A HISTÓRIA DO DIREITO SERIA CONSIDERADA IMPORTANTE NA FORMAÇÃO DOS JURISTAS E DOS OPERADORES DO DIREITO PORQUE:
Ela serviria para a interpretação do direito atual.
Permitiria a identificação de valores jurídicos considerados “eternos”, “naturais”.
Possibilitaria um alargamento do “horizonte cultural” dos juristas e dos operadores do direito, aumentando seu poder de persuasão e ocasionalmente “abrilhantando” sua argumentação, sobretudo diante de uma audiência forense.
Desenvolveria a sensibilidade jurídica.
Tal interesse pedagógico pela História do Direito limita-se geralmente, em uma perspectiva mais tradicional do ensino jurídico, a afirmar que, para os futuros juristas e operadores do Direito, ela é uma disciplina formativa.
Aceitaremos, portanto, o fato de que a História do Direito é uma Disciplina Formativa, porém DIFERENTE DAS DEMAIS DISCIPLINAS DOGMÁTICAS DO CURSO JURÍDICO. 
Mas por que ela seria efetivamente uma disciplina FORMATIVA? A HISTÓRIA DO DIREITO PODE SE CONFIGURAR COMO UMA DISCIPLINA FORMATIVA SOB UMA PERSPECTIVA CONSERVADORA/LEGITIMADORA. COMO? 
Identificando a ideia de direito justo com o direito estabelecido e longamente praticado - a concepção de que aquilo que é antigo, tradicional é “naturalmente” bom;
Disseminando a ideia de que determinada categoria discursiva ou que determinada solução jurídica pertencem à “natureza das coisas” ou que derivam de “categorias eternas da justiça ou da razão jurídica”;
“Comprovando” a “linearidade do progresso da sociedade e de suas instituições” e a consequente “sacralização” do presente;
Apresentando as decisões judiciais como opções puramente “técnicas”, “científicas”, desideologizadas, apartadas de qualquer conflito social adjacente. 
Assumindo uma FUNÇÃO CRÍTICA – ou seja, diferentemente das disciplinasdogmáticas dos cursos jurídicos que visam criar certezas acerca do DIREITO, a História do Direito deve problematizar o pressuposto básico de tais disciplinas. 
E que pressuposto seria este? O de que o direito dos nossos dias é o RACIONAL, o NECESSÁRIO, o DEFINITIVO. 
Enfatizando que o Direito existe sempre em um determinado formação social e que suas soluções estarão sempre referenciadas a um determinado ambiente, sendo, portanto sempre soluções locais, independentemente do modelo teórico que se use para descrever as relações do Direito com os contextos sociais. 
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
De acordo com o historiador do direito ANTONIO MANUEL HESPANHA, o DIREITO se constitui como um sistema de legitimação, ou seja, como um sistema que produz efeitos de obediência consentida em todos aqueles que terão sua liberdade (ou suas liberdades) limitada (s) pelas normas;
O Direito, portanto necessita de legitimação, tal como os poderes políticos, o que significa dizer que o Direito demanda a “produção” de um determinado consenso social a respeito não apenas de sua “inevitabilidade” na composição de uma “vida ordenada”, mas também acerca da necessidade de que seja obedecido;
Tal legitimação, segundo Max Weber, pode ser obtida a partir de vários complexos de crenças, ou seja, de “estruturas de legitimação”, que se organizam em torno de determinados valores tais como a TRADIÇÃO (porque está estabelecido há muito tempo), o CARISMA (porque é inspirado por virtudes mágicas ou por Deus), a RACIONALIZAÇÃO (porque é racional e/ou eficiente) - no âmbito do mundo jurídico, alguns dos principais processos de legitimação, sobretudo a “legitimação tradicional”, dependem de argumentos de caráter histórico;
Muito mais do que se constituir como um sistema de normas voltadas para a regulação das relações sociais, assegurando padrões mínimos de convivência em sociedade, o Direito em boa medida cria os próprios valores sobre os quais se assentam tais padrões - na verdade, o Direito “imagina” a sociedade, criando a realidade com a qual opera. 
QUE CONDIÇÕES TEÓRICAS E IDEOLÓGICAS POSSIBILITAM O DESENVOLVIMENTO UMA HISTÓRIA CRÍTICA DO DIREITO?
O entendimento das normas jurídicas em seu movimento de integração nos complexos normativos da vida social.
A criação de uma consciência de que os “fatos históricos” não são independentes do olhar do historiador.
A compreensão da produção do Direito não apenas em suas vinculações com os processos sociais, mas também como um processo social dotado de relativa autonomia, e que modela “imaginários” e práticas sociais mais abrangentes.
A percepção que a história é descontínua onde continuidades e rupturas se sucedem ou convivem em um mesmo espaço, em um mesmo tempo.
PERSPECTIVAS DA HISTÓRIA DO DIREITO
História “externa” - Trata do exame formal dos acontecimentos político-sociais que dão origem e influenciam as fontes clássicas do Direito.
História “interna”- Trata do estudo da vida dos institutos jurídicos e das instituições públicas e privadas.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
De acordo com ANTONIO CARLOS VOLKMER, pode-se conceituar a História do Direito “como parte da História geral” que examina o Direito como fenômeno sociocultural, inserido em um contexto fático, produzido pela interação dos homens entre si e com o ambiente, e materializado evolutivamente através de fontes históricas, documentos jurídicos, agentes operacionais e instituições legais reguladoras.
Common law - é o direito que se desenvolveu em certos países por meio das decisões dos tribunais, e não mediante atos legislativos ou executivos. Constitui, portanto um sistema ou família do direito, diferente da família romano-germânica do direito, que enfatiza os atos legislativos. Nos sistemas de common law, o direito é criado ou aperfeiçoado pelos juízes: uma decisão a ser tomada num caso depende das decisões adotadas para casos anteriores e afeta o direito a ser aplicado a casos futuros. Nesse sistema, quando não existe um precedente, os juízes possuem a autoridade para criar o direito, estabelecendo um precedente. O conjunto de precedentes é chamado de common law e vincula todas as decisões futuras. Quando as partes discordam quanto o direito aplicável, um tribunal idealmente procuraria uma solução dentre as decisões precedentes dos tribunais competentes. Se uma controvérsia semelhante foi resolvida no passado, o tribunal é obrigado a seguir o raciocínio usado naquela decisão anterior (princípio conhecido como stare decisis). Entretanto, se o tribunal concluir que a controvérsia em exame é fundamentalmente diferente de todos os casos anteriores, decidirá como "assunto de primeira impressão" (matter of first impression, em inglês). Posteriormente, tal decisão se tornará um precedente e vinculará os tribunais futuros com base no princípio do stare decisis.
Portanto, Common Law é uma estrutura mais utilizada por países de origem anglo-saxônica como Estados Unidos e Inglaterra. Uma simples diferença é que lá o Direito se baseia mais na Jurisprudência que no texto da lei. Jurisprudência, caso esteja em dúvida, trata-se do conjunto de interpretações das normas do direito proferidas pelo Poder Judiciário.
Exemplo - Se lá nos EUA dois homens desejam realizar uma adoção, eles procuram outros casos em que outros homossexuais tenham conseguido adoções e defendem suas ideias em cima disso. Mas a parte contrária pode alegar exatamente casos opostos, o que gera todo um trabalho de interpretação, argumentação e a palavra final fica com o Juiz. É bom lembrar que nos países de Common Law também existe a lei, mas o caso é analisado principalmente de acordo com outros semelhantes.
Aqui no Brasil, isso pode ocorrer, mas não é regra. A regra é usar o texto da lei, seguindo a vontade do legislador (quem escreveu). Mas esse texto também pode ser interpretado. E a lei também cai em desuso em alguns casos. Além disso, quando a lei ainda não aborda o assunto, a jurisprudência é muito recorrida.
A origem do Direito Brasileiro
A História do Direito Brasileiro, até as duas primeiras décadas do século XIX, confunde-se com a História do Direito Português ou, simplesmente, constitui parte dela. Após a Independência do Brasil, em 1822, começa-se a tratar do Direito Brasileiro propriamente dito. 
A história do direito português começa por volta de 19 a.C., quando se inicia o domínio do Império Romano na Península Ibérica, habitada, até então, por inúmeros povos (celtas, iberos, tartéssios, cartagineses, lusitanos), que, aos poucos, foram adotando a língua latina, ainda que de modo peculiar, em detrimento de suas próprias línguas. No inicio do século V, começam invasões bárbaras, em detrimento do domínio romano. Como a cultura hispânico-latina era forte demais para ser sobrepujada pelos germânicos, o Direito Romano adaptado sobreviveu. Para dirimir as controvérsias entre os visigodos, os hispanos e os galos-romanos, foi elaborado o direito visigótico. Por volta de 711, ocorre a conquista da Península Ibérica pelos muçulmanos, impulsionados pela necessidade de terras férteis, interesses de atividades comerciais e a explosão demográfica. 
No campo do direito, os muçulmanos regem-se pelas leis de origem islâmica, porém permitindo que os cristãos (os que habitavam a região antes da invasão e ali permaneceram) continuassem se regendo pelo código visigótico, bem como mantendo suas instituições, desde que pagassem impostos. Qualquer um poderia se submeter ao islamismo se assim desejasse. A jurisprudência baseava-se na auctoritas, no saber socialmente reconhecido, mas desprovido de poder, distinguindo-se assim da lei que repousa sobre este, a potestas. A jurisprudência é, portanto, a atividade de todos os que constroem o direito em termos científicos e independentemente de qualquer ligação ou dependência específica ao poder. Lembrando que direito prudencial - a ordem normativa criada pelos prudentes, ou seja, pelos que conhecem o direito, o justo e o injusto, por aqueles cuja autoridade lhes permitia declarar a verdade jurídicanos casos concretos (Álvaro D’Ors) - é diferente de direito jurisprudencial.
D. Afonso Henriques e D. João I: personagens centrais na consolidação do Estado Nacional Português.
A instalação das monarquias espanhola e portuguesa é usualmente compreendida a partir das guerras que tentaram expulsar os muçulmanos da Península Ibérica. Desde o século VIII os árabes haviam dominado boa parte do território ibérico em função da expansão muçulmana ocorrida no final da Alta Idade Média. A partir do século XI, no contexto das Cruzadas, os reinos cristãos que dominavam a região norte formaram exércitos com o objetivo de reconquistar as terras dos chamados “infiéis”.
Os reinos de Leão, Castela, Navarra e Aragão juntaram forças para uma longa guerra que chegou ao fim somente no século XV. Nesse processo, os reinos participantes desta guerra buscaram o auxílio do nobre francês Henrique de Borgonha que, em troca, recebeu terras do chamado condado Portucalense e casou-se com Dona Teresa, filha ilegítima do rei de Leão. Após a morte de Henrique de Borgonha, seu filho, Afonso Henriques, lutou pela autonomia política do condado.
A partir desse momento, a primeira dinastia monárquica se consolidou no Condado Portucalense dando continuidade ao processo de expulsão dos muçulmanos. As terras conquistadas eram diretamente controladas pela autoridade do rei, que não concedia a posse hereditária dos feudos cedidos aos membros da nobreza. Paralelamente, a classe burguesa se consolidou pela importante posição geográfica na circulação de mercadorias entre o Mar Mediterrâneo e o Mar do Norte.
No ano de 1383, o trono português ficou sem herdeiros com a morte do rei Henrique I. Nesse momento, o reino de Castela tentou reivindicar o domínio das terras lusitanas apoiando o genro de Dom Fernando. Sentindo-se ameaçada, a burguesia lusitana empreendeu uma resistência ao processo de anexação de Portugal formando um exército próprio. Na batalha de Aljubarrota, os burgueses venceram os castelhanos e, assim, conduziram Dom João, mestre de Avis, ao trono português. 
Essa luta – conhecida como Revolução de Avis – marcou a ascensão de uma nova dinastia comprometida com os interesses da burguesia lusitana. Com isso, o estado nacional português se fortaleceu com o franco desenvolvimento das atividades mercantis e a cobrança sistemática de impostos. Tal associação promoveu o pioneirismo português na expansão marítima que se deflagrou ao longo do século XV.
Formação do Estado Português (1140-1248)
Período em que os Reis dirigem seus esforços na luta pelos territórios mouros (Reconquista) e na defesa e povoamento das regiões conquistadas. Predominam, como fontes do direito, o costume (revelados nos foros ou costumes municipais) e o direito foraleiro, consignado nas Cartas de Foral, nas quais se fixavam os direitos e deveres da comunidade e o reconhecimento da autonomia municipal local. 
Além do direito costumeiro e foraleiro encontram-se em vigor o direito canônico e o Código Visigótico. Este em comunidades moçárabes e em algumas poucas cidades onde eventual juiz erudito, ou o próprio Rei, reconhecia-lhe autoridade. 
Conceito de Foral. Foral, carta foral ou carta de foro é um documento jurídico autêntico, outorgado por autoridade legítima, que se destina a regular a vida coletiva de qualquer povoação, nova ou já existente, formada por homens livres ou que ele reveste dessa condição. 
Consolidação do Estado Português (1248-1495)
Após a Reconquista (concluída com a conquista do Algarve em 1249), o Rei se entrega definitivamente à tarefa colonizadora, para o aproveitamento econômico de todas as regiões de Portugal. Ordens Militares, Clero e colonos nacionais mantém a economia das terras recebidas por doação régia. Os municípios, por meio de seus órgãos de administração local (os Concelhos) guardam certa autonomia em relação ao poder central (a Coroa) ou em relação aos senhores que reconheciam a sua independência. Participam todos (nobreza, clero e representantes dos Concelhos populares) das "Cortes", que eram as assembleias convocadas pelo rei, em cidades variadas, para solucionar os principais problemas do país. 
Distinguem-se duas épocas no período de Consolidação do Estado Português:
a) De Afonso III (1248) à Revolução burguesa de Avis (1383). Os reis organizam a administração e surgem inúmeros organismos especializados, junto ao rei ou dirigidos à organização dos municípios, que sofrerão paulatinamente a intervenção e o auxílio régio por meio dos meirinhos, corregedores e juízes de fora, em troca do reconhecimento da participação popular, dos concelhos e dos vereadores no governo reinol. 
Criado o Estudo Geral de Lisboa, progridem os esforços régios de unificação do direito com a colaboração dos juristas formados no Direito Romano justinianeu. Multiplicam-se as Leis Gerais que aos poucos se sobrepõem aos direitos locais e aos privilégios senhoriais. 
b) Da Revolução de 1383 a D.João III (1495) 
Garantida a independência em relação ao Reino de Castela, D. João I, Mestre de Avis (1385-1423), apoiado pela burguesia, inaugura o absolutismo monárquico, reduzindo direitos dos nobres e do clero. Aumenta, em importância e frequência, a reunião das Cortes. Cresce também a participação burguesa na gestão dos municípios. 
Mas o esforço de centralização do poder cede parcialmente aos interesses dos grandes senhorios. A expansão marítima e os descobrimentos alimentam a luta pela supremacia da coroa. As Ordenações Afonsinas inauguram a definitiva consolidação jurídica, que se manterá nos próximos séculos de grande centralização do poder na autoridade régia. 
Plano de Aula: 2 - A Origem do Brasil Português e o Direito na Colônia
ASPECTOS GERAIS DA FORMAÇÃO DO REINO PORTUGUÊS, DA EXPANSÃO MARÍTIMA PORTUGUESA, DO PROCESSO COLONIZADOR E DA CONSTRUÇÃO DA ORDEM JURÍDICO-POLÍTICA NO BRASIL DOS SÉCULOS XVI, XVII E XVIII
Correlacionar o processo das Grandes Navegações e da expansão marítima portuguesa à “descoberta” do Brasil;
Relacionar os fatos mais significativos ocorridos no período anterior à crise do sistema colonial em meados do Século XVIII  com as perspectivas sociopolítica, econômica e mental  do período;
   Analisar os aspectos mais relevantes do direito e da estrutura judicial aplicados no Brasil Colônia, apontando sua influência na formação do pensamento e de instituições jurídicas do Brasil como Estado independente, com  enfoque nas ordenações portuguesas, Forais, Alvarás e Cartas Régias.
A origem do Brasil português e o Direito na Colônia
Para que possamos compreender as linhas gerais do processo de colonização e da consequente implantação da ordem jurídico-administrativa levados a cabo pelos portugueses nestas costas atlânticas da América do Sul e iniciados nos primeiros tempos da chamada Idade Moderna, necessário se faz que entendamos as circunstâncias que possibilitaram a Portugal o pioneirismo no movimento de “desencravamento planetário” europeu que levaria à EXPANSÃO MARÍTIMA E COMERCIAL da Era Moderna. 
A FORMAÇÃO DO REINO PORTUGUÊS: DA INDEPENDÊNCIA (SÉCULO XII) À REVOLUÇÃO DE AVIS (FINAL DO SÉCULO XIV)
COMO SE FORMOU O REINO PORTUGUÊS? 
A formação portuguesa encontra-se intimamente relacionada ao seu caráter militar, condição esta que se configurou a partir de uma luta desenvolvida em duas frentes: A luta contra os mouros que deve ser considerada dentro de um movimento maior – a RECONQUISTA, levada a cabo pelos cristãos contra os muçulmanos que haviam invadido a Península Ibérica por volta de 711, na vaga expansionista do islamismo, então em plena expansão. A luta contra os castelhanos e leoneses, de cujo reino (o reino de Leão), o Condado Portucalense (posteriormente, Reino de Portugal) se separou em 1139. 
OBS: Pelo Tratado de Zamora, firmado em 1143 entre o duque de Portugal (D. Afonso Henriques de Borgonha – 1128/1185) e D. Afonso VII, imperador de Leão, determinou-se que este último deveria reconhecer a independência do antigo condado, agora, Reino de Portugal sob o comandoda Dinastia de Borgonha.
Aspectos gerais da economia e da política portuguesas durante o período da Dinastia de Borgonha (de meados do século XII ao final do século XIV)
A economia portuguesa durante o período da dinastia de Borgonha caracterizou-se pela hegemonia do setor agrário dominado pela nobreza, ao mesmo tempo em que se verificava uma crescente intervenção régia em relação à PRODUÇÃO, à REGULAMENTAÇÃO DE PREÇOS E SALÁRIOS e à CONCESSÃO DE TERRAS - tal hegemonia econômica da nobreza vinha acompanhada de preeminência política. 
Todavia, ao longo dos séculos XIII e XIV, desenvolveu-se uma intensa atividade comercial de “longo curso” (marítima) que passou a se articular com a agricultura, especialmente com as “novas culturas” de vinhas e de oliveiras para a produção de produtos fundamentais para a movimentação comercial portuguesa: VINHOS e AZEITE.
Características desta evolução econômica portuguesa:
 Crescimento do número de feiras e expansão da economia monetária, com consequente aumento de preços.
Aumento da pressão do comércio sobre as propriedades agrícolas no sentido do desenvolvimento de culturas mais rentáveis.
Empobrecimento da nobreza (por força da crise do século XIV) e enriquecimento do grupo mercantil ligado ao comércio internacional, o que levou a seu fortalecimento político. 
PRIMEIRO CONJUNTO DE OBSERVAÇÕES
A crise do século XIV atingiu Portugal com grande intensidade, especialmente os setores da nobreza ligados à agricultura tradicional . A segunda metade deste século foi marcada por uma série crise dinástica (o final do reinado de D. Fernando – 1367/1383) e uma crise econômica igualmente grave.
A monarquia tentou recuperar alguns dos privilégios e ganhos da nobreza, diante do avanço dos setores mercantis nos diversos campos de atuação da sociedade (econômico e político), mas foi em vão.
A crise dinástica conduziria à eclosão da Revolução de Avis (1383/1385) e à reafirmação da independência portuguesa com a vitória sobre forças castelhanas na batalha de Aljubarrota (1385), inaugurando-se, com D. João I, mestre de Avis, a dinastia de Avis.
A EXPANSÃO MARÍTIMA PORTUGUESA
ASPECTOS GERAIS DA EXPANSÃO MARÍTIMA PORTUGUESA (algumas das principais razões que podem explicar o pioneirismo português nos finais do medievo e nos primórdios da modernidade – final do século XIV, séculos XV e XVII)
A posição geográfica de Portugal, voltada para o Atlântico e, principalmente, ao longo do século XIV, seus principais portos (Lisboa e Porto) servindo de entrepostos nas relações comerciais entre as regiões produtoras do Mediterrâneo e as do Mar do Norte/Mar Báltico.
O fortalecimento e a crescente centralização do poder monárquico levada a cabo, a partir de 1385, por D. João I, o primeiro rei da Dinastia de Avis que substituiu a Dinastia de Borgonha que governara Portugal desde sua formação em meados do século XII.
Conjugação dos interesses da nobreza na incorporação de novos territórios, com os interesses da burguesia mercantil, das principais cidades portuárias, voltados para os lucros do comércio marítimo, sob os auspícios da monarquia e da Igreja Católica.
Aquisição de conhecimentos náuticos de construção naval e de experiência organizacional na montagem de expedições marítimas – tais conhecimentos foram adquiridos, principalmente, ao longo do século XV . 
SEGUNDO CONJUNTO DE OBSERVAÇÕES
A posição geográfica de Portugal tornou-se mais significativa durante o século XIV, quando, por força da incidências de surtos de doenças infectocontagiosas (como a PESTE NEGRA), associadas a condições climáticas adversas, más colheitas e guerras, em grande parte da Europa Ocidental e Central, as rotas comerciais terrestres entre o Mediterrâneo e as regiões situadas às margens do Mar do Norte/Mar Báltico foram, em grande parte, substituídas pelo comércio marítimo, o que favoreceu as regiões portuárias de Portugal, especialmente Lisboa, que se tornou um grande entreposto comercial nas ligações entre a área do Mediterrâneo e o Mar do Norte/Mar Báltico .
Com a ascensão da Dinastia de Avis ao comando da monarquia portuguesa a partir do fim da Revolução de Avis (ocorrida entre 1383 e 1385), verificou-se um crescente fortalecimento da centralização monárquica em Portugal, tendo seu primeiro rei, D. João I (Mestre da Ordem de Avis), atuado com grande habilidade política no sentido de conjugar os interesses da nobreza e da burguesia mercantil na consecução do ataque à cidade de Ceuta localizada no norte da África, nas proximidades do Estreito de Gibraltar (que se constitui na passagem do Mediterrâneo para o Atlântico), ataque este que é considerado como o evento inaugurador da expansão marítima portuguesa. 
TERCEIRO CONJUNTO DE OBSERVAÇÕES
A caminhada de Portugal no sentido da Modernidade do século XVI só pode ser entendida quando devidamente associada ao processo de expansão marítima ocorrida ao longo de todo o século XV e das primeiras décadas do século XVI.
Tal expansão encontra suas origens ainda no século XIV, quando comerciantes, pescadores e técnicos em navegação se mostraram capazes de navegar em alto-mar. 
A expansão portuguesa iniciada nos primórdios do século XV desenvolveu-se por etapas, não existindo um plano inicial voltado para o atingimento das Índias. 
A EXPANSÃO MARÍTIMA PORTUGUESA: PRINCIPAIS ETAPAS
A expansão marítima portuguesa pode ser dividida nas seguintes etapas: 
Em direção ao norte da África, etapa iniciada com a conquista de Ceuta em 1415 e Arzila em 1417. 
A ocupação das ilhas do Atlântico (Madeira, Porto Santo e Açores) a partir da década de 1420. 
Por volta de 1460, a expansão portuguesa havia atingido a região do Golfo da Guiné. 
A rota marítima para as Índias desenvolveu-se nas últimas décadas do século XV – em 1488, Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança e em 1498,Vasco da Gama atingiu Calicute, na Índia. 
QUARTO CONJUNTO DE OBSERVAÇÕES
A partir de 1460, com a morte do Infante D. Henrique, verificou-se uma interrupção no de expansão, já que o rei Afonso V manifestou interesse pelo norte da África, arrendando o monopólio do comércio africano à iniciativa privada.
Esta interrupção do processo de expansão marítima portuguesa ocorrida no reinado do rei Afonso V (1438-1481) se constituiu em um dos muitos episódios que marcaram os conflitos políticos entre a nobreza e a monarquia, mais precisamente o confronto entre a perspectiva do poder senhorial dos grandes nobres e as pretensões centralizadoras da monarquia.
Tal condição se reverteu no reinado de João II (1481-1495) que passou a tomar medidas francamente hostis à nobreza, incrementando o poder de sua burocracia e enfraquecendo o poder senhorial – com a intimidação da nobreza e com a consolidação da Monarquia, a partir de 1485 retomou-se o projeto da expansão marítima, agora com o objetivo de atingir as Índias.
A concorrência com a Espanha no Atlântico teve uma primeira solução com o Tratado de Alcáçovas (1479), através do qual Portugal reconhecia a soberania espanhola sobre as Canárias enquanto que a Espanha reconhecia a soberania portuguesa sobre as demais ilhas do Atlântico – este tratado afirmou o princípio do MARE CLAUSUM pelo qual a prioridade da descoberta dos mares determinava sua posse, com a exclusão das demais nações cristãs. 
QUINTO CONJUNTO DE OBSERVAÇÕES
Até 1486, Portugal conseguiu bulas papais bastante favoráveis a sua política de expansão marítima (bulas concedidas pelos papas Sisto IV e Inocêncio IV), uma vez que a disputa com os espanhóis parecia resolvida com o Tratado de Alcáçovas. 
Todavia, a partir de 1492, com a ascensão do papa Alexandre VI (que era aragonês), todas as decisões sobre a delimitação das áreas portuguesas e espanholas passaram a ser claramente favoráveis aos reis espanhóis, especialmente após a chegada de Cristóvão Colombo à América (tendo chegado às Antilhas, tomou tais ilhas como parte do continente asiático).
Com isso, os reis católicos espanhóis obtiveram do papa Alexandre VI a Bula Inter Coetera (03/05/1493)que confirmava as conquistas de Colombo em favor da Espanha, ao mesmo tempo em que dava aos reis espanhóis autoridade sobre qualquer território situado a mais de cem léguas a oeste e ao sul das ilhas portuguesas de Açores e Cabo Verde.
O rei português João II negou-se a aceitar os termos da bula de 1493 e diante da reação diplomática portuguesa em Roma e da ameaça de intervenção militar por parte de Portugal, os reis católicos concordaram em revisar os dispositivos da bula Inter Coetera e em 1494 foi firmado o Tratado de Tordesilhas (ato inaugural da diplomacia moderna, já que foi o primeiro acordo entre Estados, sem a interferência do Papa) – por este tratado, a linha de demarcação entre as áreas portuguesas e espanholas passaria a 370 léguas a oeste dos arquipélagos de Açores e Cabo Verde. 
SEXTO CONJUNTO DE OBSERVAÇÕES
O Tratado de Tordesilhas contemplou, tal como o Tratado de Alcáçovas, o princípio do MARE CLAUSUM que seria combatido mais tarde por outro princípio, o do MARE LIBERUM, defendido pelos países que se sentiam prejudicados pelo monopólio ibérico (França, Inglaterra e Holanda); 
O Tratado de Tordesilhas era impreciso demais para resolver a disputa entre portugueses e espanhóis – tal imprecisão se devia ao fato de que inexistia um procedimento científico e prático que possibilitasse a observação precisa das longitudes o que dificultava a localização exata, por exemplo, dos pontos onde o meridiano cortava o continente sul-americano. Assim, portugueses e espanhóis, obedecendo às realidades geográficas, trataram de tirar o máximo de vantagens, demonstrando pouco respeito pelas disposições do tratado.
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS JURÍDICO-INSTITUCIONAIS DO REINO PORTUGUÊS NOS PRIMÓRDIOS DA “ERA” MODERNA: SÉCULOS XV E INÍCIO DO SÉCULO XVI.
No processo histórico de formação e de individualização do direito português, o período que se inicia por volta de meados do século XV foi marcado pela produção de COMPILAÇÕES de um imenso conjunto de tipos normativos que se encontravam em vigência em Portugal desde sua formação como uma monarquia independente em meados do século XII. 
Estas compilações ficaram conhecidas como as ORDENAÇÕES DO REINO: 
ORDENAÇÕES AFONSINAS (1446/1447); 
ORDENAÇÕES MANUELINAS (1521); 
Coletânea de Leis Extravagantes de Duarte Nunes de Leão (1569); 
ORDENAÇÕES FILIPINAS (1603) e confirmadas por D. João IV (1643). 
Com as ORDENAÇÕES AFONSINAS buscou-se, essencialmente, sistematizar e atualizar o direito vigente à época, em Portugal, tendo sido utilizadas em sua elaboração várias espécies de fontes anteriores, tais como: leis gerais, resoluções régias, concórdias, concordatas, bulas, inquirições, costumes gerais e locais, estilos da Corte e dos tribunais superiores (ou seja, jurisprudência), preceitos de direito romano e de direito canônico.
Por possível influência das Decretais do Papa Gregório IX (coletânea de normas canônicas promulgada em 1234), as Ordenações Afonsinas foram divididas em cinco livros, cada um deles compreendendo certo número de títulos, com rubricas indicativas de seu objeto e frequentemente subdivididos em parágrafos; 
Com as ORDENAÇÕES AFONSINAS buscou-se, essencialmente, sistematizar e atualizar o direito vigente à época, em Portugal, tendo sido utilizadas em sua elaboração várias espécies de fontes anteriores, tais como: leis gerais, resoluções régias, concórdias, concordatas, bulas, inquirições, costumes gerais e locais, estilos da Corte e dos tribunais superiores (ou seja, jurisprudência), preceitos de direito romano e de direito canônico.
Por possível influência das Decretais do Papa Gregório IX (coletânea de normas canônicas promulgada em 1234), as Ordenações Afonsinas foram divididas em cinco livros, cada um deles compreendendo certo número de títulos, com rubricas indicativas de seu objeto e frequentemente subdivididos em parágrafos; 
Estrutura das Ordenações Afonsinas
O Livro I abrange 72 títulos que se ocupam dos regimentos dos diversos cargos públicos (tanto régios como municipais), compreendendo o governo, a justiça, a fazenda e o exército – este livro apresenta um conteúdo de natureza jurídico-administrativa; 
O Livro II apresenta 123 títulos bastante heterogêneos, disciplinando-se os bens e privilégios da Igreja, os direitos do rei, a jurisdição dos donatários, as prerrogativas da nobreza, o estatuto dos Judeus e dos Mouros, consagrando assim providências de natureza política ou constitucional; 
O Livro III, com 128 títulos, trata do processo civil, incluindo a execução, regulando-se nele extensamente os recursos, havendo, contudo alusões ao processo criminal; 
O Livro IV, ao longo de 112 títulos, se ocupa do direito civil substantivo, especialmente de temas de direito das obrigações, de direito das coisas, de direito da família e de direito das sucessões, sem grande ordem sistemática; 
O Livro V contém 121 títulos sobre direito criminal e processual criminal – todavia alguns atos processuais criminais encontram-se também regulados no Livro III. 
As ORDENAÇÕES AFONSINAS assumem uma posição significativa na história do direito português, constituindo uma síntese da trajetória deste ordenamento jurídico que, desde a formação da monarquia portuguesa (meados do século XII), afirmou e consolidou a autonomia do sistema jurídico português no conjunto das formações políticas da Península Ibérica.
As ORDENAÇÕES MANUELINAS (que tiveram edição definitiva em 1521) mantiveram a estrutura básica de cinco livros, integrados por títulos e parágrafos e conservou-se a distribuição das matérias conforme o disposto nas ORDENAÇÕES AFONSINAS, ainda que nas Ordenações Manuelinas sejam verificadas algumas notáveis diferenças de conteúdo. 
Dentre estas diferenças podemos citar: a supressão dos preceitos aplicáveis a Judeus já que os mesmos foram expulsos do reino em 1496 e das normas relativas à Fazenda que passaram a compor as Ordenações da Fazenda, além da inclusão da disciplina vinculativa da lei através dos assentos da Casa de Suplicação. 
Sob a égide das Ordenações Afonsinas e Manuelinas se desenvolveu o processo de expansão marítima portuguesa e de formação de seu império colonial.
As diversas funções do Estado português (como por exemplo, segurança, ordem, gestão dos interesses financeiros, prestação de justiça), assim como suas futuras colônias (entendidas como extensões jurídico-institucionais da Metrópole), encontraram-se submetidas a uma mesma lógica administrativa – na realidade, o “espaços” administrativos coloniais passaram por adaptações que tornaram possível o projeto colonial português. 
Dentre os vários tipos de instrumentos legais (além dos decretos e das leis) que marcaram a administração metropolitana portuguesa e de suas colônias, podemos destacar:
Os Regimentos: destinavam-se a instruir os funcionários em suas áreas de atuação, estabelecendo suas atribuições, obrigações e a jurisdição dos diversos órgãos incumbidos de gerir a administração colonial; 
Os Alvarás: com duração formal de um ano (podendo, muitas vezes, ter o prazo de validade dilatado) se constituíam em importantes atos jurídicos da administração colonial; 
As Cartas (régias, de sesmarias, forais, patentes): destinavam-se a variadas finalidades e determinações especiais voltadas para a regulação do campo administrativo. 
Este conjunto de atos legais quase nunca seguia critérios regulares, nem quanto à forma e nem quanto à periodicidade. 
Com relação aos FORAIS, estes se constituíam como uma das formas jurídicas mais antigas do direito português, tendo se constituído como fontes do direito desde as origens da monarquia portuguesa no século XII – em termos gerais, o Foral, carta foral ou carta de foro era um documento jurídico, outorgado por autoridade legítima, que se destinava a regular a vida coletiva de povoação, nova ou já existente, formada por homens livres ou por homens que ele revestia dessa condição. 
CLASSIFICAÇÃO DOS FORAIS (SEGUNDO O ALCANCE E O CONTEÚDO)
Cartas de povoação: são os foraismais rudimentares, que contêm, apenas certo número de disposições respeitantes ao início do povoamento, para defesa ou exploração agrícola estável de uma terra erma e a habitar para cultivo. 
Foro breve: documento legal em que se inserem normas de conduta local, quer originais, quer extraídas, mais ou menos livremente, de outros paradigmas de agregados habitacionais já existentes, mais evoluídos e destinados a criar ou melhorar a organização coletiva do núcleo de moradores a que se destina. 
Foros extensos: são os mais desenvolvidos e pormenorizados. Seu conteúdo envolve dois elementos primordiais. O primeiro refere-se à garantia da propriedade plena de terras e casas, possuídas pelos membros da coletividade local, com direito de livre alienação, em vida ou por morte, embora, em muitos casos, com encargos ou restrições. O segundo diz respeito à determinação explícita dos tributos ou prestações que os vizinhos terão de fazer à entidade outorgante, de modo a evitar quaisquer arbitrariedades ou abusos. 
As ORDENAÇÕES FILIPINAS, que de acordo com o historiador Stuart Schwartz, se constituíram como uma “revisão” (que constou de acréscimos, cancelamentos e retificações quando necessários) das ORDENAÇÕES MANUELINAS (1521) e da COLEÇÃO DE LEIS EXTRAVAGANTES de Duarte Nunes de Leão (1569), revisão esta que ficou pronta em 1595, mas que somente foi publicada em 1603.
A elaboração das ORDENAÇÕES FILIPINAS deve ser entendida no contexto de um conjunto de reformas nas estruturas judiciais e administrativas portuguesas (reformas estas que se produziram entre 1581 e 1590) promovidas no início da UNIÃO IBÉRICA por Felipe II e Felipe III de Espanha (Felipe I e Felipe II de Portugal) e que geraram efeitos duradouros tanto em Portugal como em suas colônias (mais particularmente no Brasil). 
Durante os séculos XV e XVI, ocorreram em Portugal manifestações no sentido da implantação de uma reforma judicial que se fazia necessária em virtude dos seguintes fatores: 
complexidade da “teia normativa”; 
pouca eficácia da “lei” para os indivíduos mais poderosos que se apropriavam de postos judiciais e administrativos pela nomeação de seus empregados; 
privilégios da alta hierarquia da Igreja e dos fidalgos; 
treinamento deficiente e má vontade dos “letrados” e dos juízes com relação a seus afazeres; 
Pelos acordos de Tomar, gerados pelas reivindicações produzidas nas Cortes de Tomar (1581), Felipe II tomou uma posição cautelosa com relação à reforma judiciária, mantendo formas e costumes portugueses e nomeando o jurista português Damião de Aguiar para a presidência da comissão que procederia a reforma.
Tal como as ordenações portuguesas anteriores, as Ordenações Filipinas também se dividiam em 05 livros. 
ESTRUTURA DAS ORDENAÇÕES FILIPINAS
LIVRO I: matérias acerca de Direito Administrativo e Organização Judiciária; 
LIVRO II: disposições a respeito dos direitos dos eclesiásticos, dos fidalgos, dos privilégios do Rei, envolvendo ainda fontes de direito, jurisdição e poderes; 
LIVRO III: essencialmente de caráter processual civil, contendo ainda regras gerais sobre fontes, vigência das leis que auxiliavam os juízes na tomada de decisões; 
LIVRO IV: matérias de direito civil e comercial: regras de contratos (compra e venda, sociedade, aluguéis e rendas da terra), relações entre servos e amos, aforamentos, censos, sesmarias, parceria entre marido e mulher, empréstimos, mútuos, depósitos, fianças, doações) 
LIVRO V: trata de crimes e do processo penal. 
A CONSTRUÇÃO DA AMÉRICA PORTUGUESA
COLONIZAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DO APARATO JURÍDICO-ADMINISTRATIVO 
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES INCIAIS A RESPEITO DA FORMAÇÃO COLONIAL BRASILEIRA:
De acordo com Darcy Ribeiro, o Brasil e os brasileiros, sua gestação como povo, se produziu a partir da confluência, do entrechoque, do caldeamento do INVASOR PORTUGUÊS com ÍNDIOS SILVÍCOLAS E CAMPINEIROS e com NEGROS AFRICANOS – tanto os índios como os negros, uns e outros aliciados como ESCRAVOS;
Nesta confluência que se processou sob a regência dos PORTUGUESES, diferentes matrizes étnicas, distintas tradições culturais e formações sociais díspares se enfrentaram e se fundiram para dar lugar a um povo novo e a um novo modelo de organização societária;
Em seus três primeiros séculos (XVI, XVII e XVIII), a história do Brasil esteve intimamente ligada à história da EXPANSÃO COMERCIAL E COLONIAL EUROPÉIA da chamada IDADE MODERNA - como parte integrante do IMPÉRIO ULTRAMARINO PORTUGUÊS, o Brasil, durante o período colonial, refletiu os problemas e os mecanismos de conjunto que agitaram a política imperial lusitana. 
A história da expansão ultramarina e da exploração colonial portuguesa se desenrolou no amplo quadro da competição entre as várias potências, em busca do equilíbrio europeu;
É, portanto, na história do sistema geral da colonização europeia moderna que devemos buscar o esquema de determinações dentro do qual se processou a organização da vida econômica e social do Brasil na primeira fase de sua história e se encaminharam os problemas políticos de que esta região foi o palco.
A ESTRUTURA JUDICIAL-ADMINISTRATIVA DO “EMPREENDIMENTO” PORTUGUÊS NO BRASIL (ENTRE 1530 E 1580)
“A justiça é de tão grande e particular obrigação minha, e tão necessária para a conservação e acrescentamento dos Estados, que tudo o que na administração dela encarregar será muito menos do que desejo” (trecho do Regimento de 23/01/1677 passado pelo rei de Portugal a Roque da Costa Barreto, governador geral do Estado do Brasil) 
Caracterização inicial da estrutura judicial portuguesa na colônia americana:
A expressão “justiça” no período colonial assumiu uma conotação bem mais ampla do que a atual, referindo-se não apenas à organização do aparelho judicial, mas também apresentando-se como sinônimo de lei, legislação, direito. 
Desde as primeiras etapas da colonização portuguesa na América, a aplicação da justiça foi uma das preocupações principais da Coroa – no Brasil, a implantação do aparelho judicial, além dos propósitos tradicionais (fazer cumprir a lei, evitar abusos e crimes, garantir a tranquilidade social), trazia consigo ainda a finalidade de controlar os próprios funcionários administrativos, sobretudo aqueles relacionados à Justiça. 
Visando reduzir ou mesmo evitar interferências de interesses particulares que dificultassem o exercício da justiça nas áreas coloniais, as atribuições dos diversos funcionários judiciais objetivavam uma fiscalização recíproca, ao mesmo tempo em que a montagem de uma estrutura judicial na Colônia teve como tendência a constante ampliação dos poderes concedidos aos funcionários mais diretamente ligados à Coroa.
Aspectos gerais da estrutura judicial da colonização portuguesa na América (I): 1530/1580
Em 1530, Martim Afonso de Sousa recebeu documento régio que lhe dava poderes quase absolutos para a aplicação da lei nos territórios que viesse a descobrir, estendendo-se sua alçada a condenações até a pena de morte, SEM POSSIBILIDADE DE APELAÇÃO, exceto no caso do acusado ser FIDALGO, quando então caberia recurso a Lisboa;
Por meio de outra carta de poderes da mesma data, era conferido a Martim Afonso o direito de criar ofícios de Justiça necessários a montagem da administração judicial na Colônia;
Apesar destes poderes iniciais concedidos a um agente da Coroa (a expedição de Martim Afonso teve caráter oficial, financiada pela Tesouro Real), a colonização, em suas etapas iniciais, se fez pela concessão de imensos poderes e ampla autonomia (EXCETO NA ÁREA FAZENDÁRIA) a todos os que se dispusessem a investir seus capitais na região - os CAPITÃES DONATÁRIOS;
Aspectos gerais da estrutura judicial da colonização portuguesa na América (II): 1530/1580
- No que se refere ao funcionamento do sistema de capitanias hereditárias, este foi regulamentado pela CARTA DE DOAÇÃO e pelo FORAL (passados em 10/03 e em 24/09 de 1534 ao capitão donatário da capitania de Pernambuco – Duarte Coelho).
- Estesdocumentos foram fundamentais quanto à jurisdição e aos privilégios concedidos aos donatários pela Coroa, além de representar o esboço da organização de alguns aspectos administrativos na Colônia: a aplicação da lei (Justiça), a cobrança de tributos e fiscalização do comércio (Fazenda) e manutenção da ordem interna/proteção contra a concorrência externa (Defesa). 
- As CARTAS DE DOAÇÃO estabeleciam as dimensões de cada uma das capitanias, declaradas hereditárias, e que por isso possuíam direitos amplos de sucessão por morte do donatário ou por outros motivos regimentais.
- Os FORAIS regulamentavam os direitos fiscais e os privilégios dos donatários, além de estabelecer os tributos régios.
- Através destes diplomas legais, os donatários obtiveram o direito de conceder sesmarias, fundar vilas, exercer monopólio da navegação fluvial, das moendas e dos engenhos;
Deveriam exercer o comando militar, fiscalizar o comércio, aplicar ou delegar o cumprimento da lei nas terras sob sua jurisdição;
Cabia-lhes também a nomeação de algumas autoridades administrativas (o OUVIDOR, para zelar pelo cumprimento da lei, os TABELIÃES para dar validade legal aos atos e os ALCAIDES-MORES, para garantir a defesa da capitania;
Tinham também a competência para presidir as eleições dos juízes ordinários (principais autoridades das câmaras municipais) e de alguns funcionários menores da administração local (os MEIRINHOS e os ESCRIVÃES).
Quanto à arrecadação e fiscalização das rendas reais, a Coroa portuguesa revelou-se mais cautelosa, designando de um agente de sua confiança para tais funções - a nomeação do FEITOR e ALMOXARIFE, de acordo com a “lógica da vigilância” seguida pelo Reino, deveria evitar os descaminhos das rendas coloniais para as mãos de seus parceiros-donatários.
Os poderes concedidos aos donatários pela Carta de Doação e pelo Foral, davam a estes ou ao funcionário indicado na esfera judicial, o OUVIDOR, jurisdição sobre o crime e o cível – na verdade, mais do que isto, era garantida INDEPENDÊNCIA NAS QUESTÕES DE JUSTIÇA, uma vez que era vedada a entrada de qualquer autoridade judicial nas capitanias para fiscalizar a atuação dos donatários ou de seus prepostos.
Assim, entre 1530 e 1548, a administração judicial na Colônia ficou sob a DIRETA E EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE E ARBÍTRIO dos donatários, NÃO TENDO ESTES QUALQUER ALÇADA SOBRE QUESTÕES QUE ENVOLVESSEM ECLESIÁSTICOS. 
Aspectos gerais da estrutura judicial da colonização portuguesa na América (III): 1530/1580
Com a instituição do Governo-Geral, em 1548, não foram abolidas as capitanias hereditárias, limitando-se, todavia, o poder dos donatários, especialmente na esfera da Justiça – juntamente com o cargo de governador-geral, criou-se o de OUVIDOR-GERAL (o primeiro ocupante deste cargo foi o desembargador Pero Borges); 
Apesar do desconhecimento do teor do Regimento que foi passado ao desembargador Pero Borges, tudo indica que a criação do cargo de Ouvidor-Geral trouxe limitações a atuação dos donatários na prestação jurisdicional;
 Referências a um alvará de 05/03/1557, dão conta de restrições impostas à competência dos donatários e de seus ouvidores nas questões de CONDENAÇÃO À MORTE, CRIMES DE HERESIA, SODOMIA, MOEDA FALSA E TRAIÇÃO;
 Este alvará possibilitou também a entrada de funcionários da Justiça Real nas capitanias hereditárias; 
Todavia, mais importante que a diminuição da alçada dos donatários foi a permissão de entrada do Ouvidor-Geral nas capitanias, para FAZER CORREIÇÃO, isto é, FISCALIZAR A ATUAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELO GOVERNO E PELA JUSTIÇA;
Isto acabou implicando um maior poder dos agentes da Coroa sobre a administração particular, e em especial, sobre o CUMPRIMENTO DA LEGISLAÇÃO, objetivando coibir os abusos e os desmandos dos capitães donatários ou de seus ouvidores.
A partir de 1548, organizou-se, em suas linhas básicas, o arcabouço da administração judicial na Colônia. As principais instâncias desta estrutura eram:
As povoações: localidades mais afastadas, com população entre 25 e 50 habitantes e que não constituíam um município – nelas atuava um JUIZ DE VINTENA, escolhido dentre os moradores do lugar pela Câmara Municipal mais próxima.
Os termos ou municípios: menor divisão administrativa, onde se encontravam os JUÍZES ORDINÁRIOS, eleitos pela Câmara Municipal, com alçada sobre as demandas ali acontecidas – os ocupantes destes cargos não eram LETRADOS, ou seja, não tinham formação jurídica - exerciam funções judiciais e administrativas, com jurisdição sobre as demandas locais nos âmbitos cível e criminal, sendo eleitos pelos chamados “homens bons” da comunidade (excluindo-se trabalhadores manuais e comerciantes), tais como os demais membros da Câmara Municipal. 
As comarcas: divisões judiciais das capitanias, que possuíam um OUVIDOR próprio (segundo Caio Prado Júnior, no século XVIII cada capitania possuía apenas uma comarca, com exceção de Minas Gerais e Bahia que possuíam quatro e S. Paulo e Pernambuco, três).
As capitanias: onde os OUVIDORES exerciam suas funções, sendo nomeados pelos donatários no caso das capitanias hereditárias e pelo rei, a partir do alvará de 05/03/1557, nas capitanias da Coroa – além de julgar os recursos das decisões dos juízes ordinários, os OUVIDORES conheciam processos, por AÇÃO NOVA, de questões surgidas até 10 léguas ao redor de onde estivesse.
O governo-geral: tinha como autoridade máxima da Justiça na Colônia o OUVIDOR-GERAL, subordinado administrativamente apenas ao GOVERNADOR-GERAL. O OUVIDOR-GERAL julgava os recursos vindos dos ouvidores das capitanias e dispunha de poderes para investigar a aplicação da legislação em todas as localidades. 
Havia também :
Juízes de Fora: magistrados profissionais (LETRADOS) de nomeação real cujos objetivos eram corrigir as ações dos juízes ordinários e aumentar o poder do rei – no Brasil, os juízes de fora somente foram estabelecidos no final do século XVII; 
Juízes de Órfãos: encarregados de zelar pelos órfãos e seus bens, podia ser substituído pelo Juiz Ordinário; 
Acima do Ouvidor-Geral, mas no Reino, encontrava-se a Casa de Suplicação, para onde se dirigiam as apelações e os agravos das sentenças proferidas, cabendo daí recurso ao DESEMBARGO DO PAÇO, que apresentava ao Rei a decisão final.
Cada um dos funcionários a que nos referimos anteriormente, dispunha de uma série de oficiais menores, que os auxiliavam no exercício de suas funções (MEIRINHOS, TABELIÃES, ESCRIVÃES), estendendo-se assim, a administração judicial, por todo o território colonial, tendo a Metrópole o cuidado de ocupar os cargos mais importantes com agentes diretamente ligados a ela.
A ESTRUTURA JUDICIAL-ADMINISTRATIVA DO “EMPREENDIMENTO” PORTUGUÊS NO BRASIL (ENTRE 1580 E O FINAL DO SÉCULO XVII)
Aspectos gerais da estrutura judicial da colonização portuguesa na América (I): 1580/1640
Para melhor garantir o controle sobre a organização judicial da Colônia, a Coroa ibérica (1580/1640) projetou criar um tribunal na Colônia, semelhante, em sua estrutura, à Casa de Suplicação de Lisboa e formado por desembargadores designados pela Metrópole – o Regimento de 25/09/1587 regulamentou a RELAÇÃO DO ESTADO DO BRASIL, com sede em Salvador, verificando-se, todavia, sua instalação, em 1609, quando foi baixado um novo regimento similar ao anterior; 
Em 1608, foi criado um governo-geral no Sul, a REPARTIÇÃO DO SUL, sendo nomeado, junto com o governador, um OUVIDOR-GERAL DO SUL, que possuía jurisdição em questões judiciais sobre todas as capitanias da área (S. Vicente, Rio de Janeiro e Espírito Santo);
Esta ouvidoria continuou existindo mesmo após a extinção do governo-geral do Sul, em 1612;
 O primeiro Regimento baixado para este ouvidor tem a data de 05/06/1619 e por ele, cabia ao OUVIDOR-GERAL DO SUL julgar recursos das sentenças dos juízes ordinários e dos ouvidores das capitanias do Sul, subordinando-se à RELAÇÃO DO ESTADO DO BRASIL, para onde enviava as apelações e os agravos dos feitos que julgasse;Outro Regimento de 31/03/1626, manteve as funções que lhe foram determinadas anteriormente, retirando somente o poder de realizar correições nas capitanias de sua jurisdição;
Neste mesmo período, existia um juízo especial referente às questões de órfãos, defuntos, ausentes, cuja instância máxima era a MESA DE CONSCIÊNCIA E ORDENS (cuidava dos bens e testamentos dos que faleciam e dos que deixavam filhos) localizada na Metrópole e que na Colônia cabia ao PROVEDOR DE DEFUNTOS E AUSENTES (que teve um primeiro Regimento em 1613 que lhe atribuía a mesma alçada dos ouvidores de capitania no tocante aos bens dos mortos).
O Regimento de 07/03/1609 estabeleceu o funcionamento da RELAÇÃO DO ESTADO DO BRASIL, o qual viria garantir à Coroa maior vigilância sobre a aplicação das leis na Colônia – constituiu-se como o tribunal máximo na Colônia, recebendo recursos de todas as instâncias judiciais existentes,subordinando e fiscalizando, através das correições e “residências”, os demais funcionários e oficiais de Justiça, nomeados ou não pelos donatários; 
O Tribunal da Relação era dirigido pelo próprio Governador-Geral e era formado por magistrados profissionais (um Chanceler, dois Desembargadores dos Agravos e Apelações, um Ouvidor-Geral do Cível e do Crime, um Juiz dos Feitos da Coroa, Fazenda e Fisco, um Provedor dos Defuntos e Resíduos e mais dois desembargadores extravagantes) e por oficiais menores, tornando-se assim, a Relação, passagem quase que obrigatória aos letrados que almejassem atuar nas instâncias judiciais hierarquicamente superiores localizadas na Metrópole, como a Casa de Suplicação; 
O exercício do cargo de GOVERNADOR DA RELAÇÃO, por parte do GOVERNADOR-GERAL, indica a inexistência da divisão de poderes, não existindo uma percepção muito clara da diferença entre as funções judiciais e as administrativas, o que facilitava a ingerência e a vigilância de funcionários em diversas áreas da administração, resguardando-se assim a Coroa contra a formação de interesses locais ligados a seus funcionários 
Aspectos gerais da estrutura judicial da colonização portuguesa na América (III): 1580/1640
Diante do desagrado provocado nos proprietários e comerciantes pelo funcionamento do Tribunal e com a escassez de recursos do Tesouro Real para cobrir as despesas com pagamento de tropas em luta contra os holandeses na América, a Relação foi extinta pelo alvará de 05/04/1626 – a extinção do Tribunal da Relação do Estado do Brasil trouxe modificações na estrutura judicial da Colônia; 
Através dos Regimentos de 1628 e 1630, a administração judicial ficou centralizada em três ouvidorias-gerais, independentes entre si e diretamente subordinadas à Casa de Suplicação: uma no Estado do Maranhão, outra no Estado do Brasil e uma terceira na Repartição Sul;
O estabelecimento do Estado do Maranhão, em 1621, se deu por força da conquista e da colonização da parte norte do Estado do Brasil, apesar de, desde 1619, existir um Regimento para o principal responsável pela administração judicial: o OUVIDOR-GERAL – este recebia e julgava os recursos das sentenças dos juízes ordinários e dos ouvidores das capitanias de sua jurisdição, enviando apelos e agravos de seus julgamentos para a Casa de Suplicação;
Além do Regimento de 1619, foram baixados, para o Ouvidor-Geral do Maranhão, Regimentos nos anos de 1624 e 1644 – o Regimento deste último ano ampliou a sua alçada nas causas cíveis para até cem mil-réis e passou a não receber mais recursos das decisões dos juízes ordinários, julgando apenas os recursos que saíssem dos capitães e dos ouvidores das capitanias.
Aspectos gerais da estrutura judicial da colonização portuguesa na América (IV): 1580/1640
A Ouvidoria-Geral do Estado do Brasil foi recriada e regulamentada segundo o regimento de 1628, com as seguintes atribuições, limitações e prerrogativas:
Seu titular não poderia ser suspenso nem retirado do cargo pelo governador-geral, EXCETO POR ORDEM DO REI;
Nenhuma causa ou feito pendente em sua jurisdição poderiam ser avocados por outro juiz, a não ser por ordem expressa do Rei;
Tinha total independência em relação ao governador-geral quanto à sua autoridade em matéria judicial; 
 Apesar de poder entrar nas capitanias sob sua jurisdição para fiscalizar os demais funcionários, NÃO PROCEDERIA CONTRA O CAPITÃO DA CAPITANIA, a não ser quando alguma parte representasse contra ele; 
Em 02/04/1630, um novo Regimento ampliou a alçada do Ouvidor-Geral do Estado do Brasil para cem mil-réis nas causas cíveis, além de conferir o poder para tirar residência aos capitães e ouvidores das capitanias;
Para a Ouvidoria-Geral da Repartição do Sul foi baixado um novo Regimento em 21/03/1630 – esta ouvidoria se manteve, por um longo período, como instância imediatamente superior de recurso, tanto para as sentenças dos ouvidores de capitania, quanto para as sentenças dos juízes ordinários da região sul da Colônia. 
Com o objetivo de fortalecer o processo de centralização, foram enviados ao Brasil, em 1696, os JUÍZES DE FORA, funcionários letrados diretamente designados pelo Rei para servir nos municípios e, desde então, OS OFICIAIS MAIS IMPORTANTES DAS CÂMARAS – em 1731 instituiu-se, EM NÍVEL MUNICIPAL, o cargo de JUIZ DOS ÓRFÃOS, cujo responsável deveria zelar, até a maioridade, pelos interesses e bens dos menores sem pais;
Em 1751, o Tribunal da Relação do Rio de Janeiro foi criado, recebendo o Regimento em 13/10, instalando-se em cerimônia solene em15/07 de 1752 – a criação da Relação do Rio de Janeiro está diretamente ligado ao movimento de centralização do poder promovido pela Coroa Portuguesa desde o final da União Ibérica e às condições econômicas relacionadas à atividade mineradora no interior da Colônia. 
Os tribunais superiores do Império Português localizavam-se na Metrópole:
Casa de Suplicação – Tribunal Supremo de uniformização da interpretação do Direito Português – estava localizada em Lisboa; 
Desembargo do Paço - encarregado de apreciar matérias sobre liberdade (graça, indulto, perdão, comutação de pena), sobre adoção, legitimação e emancipação, sobre reintegração de posse e sobre censura de livros. Originariamente fazia parte da Casa da Suplicação, para despachar as matérias reservadas ao rei, tornou-se corte autônoma em 1521; 
Mesa de Consciência e Ordem – Instância única, que tratava do provimento de benefícios, da administração de comendas e dos negócios relativos a interditos, cativos, ausentes e defuntos e de consciência do rei; 
Plano de Aula: 3 - O Direito na Colônia: da Decadência do Sistema à Independência do Brasil
Analisar o período que se inicia a partir da crise do sistema colonial até o momento anterior à chegada da Família Real, sob as perspectivas sociopolítica, econômica e mental; 
Reconhecer, na legislação penal portuguesa, aplicada no Brasil no período da Conjuração Mineira, uma  decorrência natural da mentalidade jurídica lusitana na época colonial;  
Correlacionar a conjuntura política europeia no início do Século XIX e a fuga da Família Real portuguesa para o Brasil;
Indicar algumas das principais consequências sociopolíticas da chegada da Família Real ao Brasil;
Compreender a organização do Estado Português e o direito aplicado no Brasil no período entre a chegada da Família Real, em 1808, até a Independência, em 1822, tendo como referência a conjuntura política, socioeconômica e cultural do período que circunstancia o processo de independência do país; 
Avaliar a repercussão dos tratados firmados entre Portugal e Inglaterra no período em que se deu a presença da Família Real no Brasil;
Apresentar as razões que levaram os portugueses a elevar o Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves.
Revisão das aulas anteriores
CONSOLIDAÇÃO DO ESTADO PORTUGUÊS
De Afonso III (1248) à Revolução de Avis (1385) 
Os reis organizam a administração e surgem inúmeros organismos especializados, junto ao rei ou dirigidos à organização dos municípios, que sofrerampaulatinamente a intervenção e o auxílio régio por meio dos funcionários do rei (meirinhos, corregedores e juízes de fora) em troca do reconhecimento da participação popular, dos Concelhos e dos vereadores no governo reinol.
Criado o Estudo Geral de Lisboa, progridem os esforços régios de unificação do direito com a colaboração dos juristas formados no Direito Romano Justinianeu. Multiplicam-se as Leis Gerais que aos poucos se sobrepõem aos direitos locais e aos privilégios senhoriais.
Da Rer. De Avis a D. João III ( 1495)
Garantida a independência em relação ao Reino de Castela, D. João I (1385-1423), apoiado pela burguesia, inaugura o absolutismo monárquico, reduzindo direitos dos nobres e do clero. Aumenta, em importância e frequência, a reunião das Cortes. Cresce também a participação da burguesia na gestão dos municípios.
Os esforços de centralização do poder cede parcialmente aos interesses dos grandes senhorios. A expansão marítima e os descobrimentos alimentam a luta pela supremacia da coroa. As ordenações do reinos inauguraram a definitiva consolidação jurídica, que se manterá nos próximos séculos de grande centralização do poder na autoridade régia.
O ESTADO PORTUGÊS E SEU DIREITO
1- Forais (cartas) – doc. Jurídico autêntico outorgado por autoridade legítima, que se destina a regular a vida coletiva de qualquer povoação nova ou já existente – formada por homens livres ou que ele reveste dessa condição.
Originais – o primeiro recebido por um localidade
Confirmatório ou ampliativo – confirmar, completar e ampliar o primeiro
Características: lei escrita, orgânica, local. 
Segundo o conteúdo, origem e alcance, os forais se classificam em:
A) carta de povoação : forais rudimentares, que contém, disposições respeitantes ao início ou incrementação do povoamento, para defesa ou exploração agrícolas estável de uma terra erma e a habitar para cultivo;
B) foro breve – normas de conduta social, quer originais, quer extraídas;
C) foro extenso – a)garantia da propriedade plena de terras e casas, possuídas pelos membros da coletividade local, com direitos livres de alienação, em vida ou por morte. b)pagamento de Tributos
2- Leis Gerais:
Primeira fase: até o reinado de Afonso III (as fontes do direito lusitano refletiam o quadro jurídico incerto, herdado do reino de Leão, ausência de força jurídica centralizado (confusas): 
a) normas de caráter local (forais e foro); 
b) normas que retravam o passado (leis visigóticas e costumes locais; 
c) Antigas normas emanadas das Cúrias e Concílios (anterior a formação de Portugal);
d) Costume do Poder Judiciário (Cúrias ou das autoridades municipais (refletidos pelos julgamentos “por façanha” ou julgamentos “por exemplos”;
e) Direito canônico;
f) Lei gerais - raras (já que não refletiam a vontade do rei, mas das Cúrias, que é ouvida – não chegando a formar um corpo unitário) escopo de proteger a fazenda da Coroa, coibir os exageros das autoridades régias e defender as classes populares contra o abuso dos mais poderosos. Ex. Lei da Cúria de 1211: hierarquias da fontes do Direito – “ leis do rei que forem contrária aos direitos da Igreja não valeriam nem teriam”. – O DIREITO CANÔNICO ERA CONSIDERADO SUPERIOR. 
Segunda Fase: a partir de Afonso III ( 1245 – 1279) inicia-se o período conhecido como o da CONSOLIDAÇÃO DO ESTADO PORTUGUÊS - o rei edita leis, inspirado no D. romano e redigida pelos letrados da Corte. Com a conquista de Algarve, o rei consolida a administração do Estado e inicia o processo irreversível da RECEPÇÃO DO DIREITO COMUM (o direito romano e o direito canônico) – Este processo também ocorreria na Espanha – o rei Afonso X, fez editar a LEY DAS SIETE PARTIDAS (1263) – assinalou a completa adesão ao direito romano, com a intenção de unificar juridicamente o país.
Em Portugal D. Dinis (1279-1325) – fomentou o uso do idioma português nos atos oficiais e que criou os Estudos Gerais de Lisboa (Universidade – 1290) logo transferida para Coimbra, manda traduzir a lei da siete partidas, para o idioma nacional e é aplicada em Portugal. Irradiaram as luzes da nova doutrina e das novas leis gerais, que recebiam o nome de decreto, degredo, ordenação, postura, carta. O princípio justinianeu (romano) fundamentará os poderes ilimitados do rei nas esferas executiva, judiciária e legislativa.
AO LADA DAS LEIS GERAIS UM GRANDE NÚMERO DE RESOLUÇÕES RÉGIAS (como as Constituições Romanas, são elas respostas do soberano aos agravamentos feitos pelos representantes das três classes sociais nas Cortes (clero, nobreza e povo) VÃO FORMAR UM CORPO DE NORMAS À PARTE. 
Para conservar e divulgar as Leis Gerais são criados REGISTROS PÚBLICOS DAS LEIS – torna-se obrigatória a leitura pública, às vezes semanalmente, dos atos legislativos.
COM O AUMENTO DAS LEIS GERAIS, DECAI O COSTUME COMO FONTE DO DIREITO.
3- Direito Subsidiário antes das Ordenações – Lei da Cúria de 1211, que revelou a primazia do D. Canônico, poucas foram as medidas para superar a falta de clareza sobre o direito a ser aplicado e muitas foram as lacunas do sistema.Nem mesmo a primazia do direito canônico prosperou. OS TRIBUNAIS CIVIS DERAM PREFERÊNCIA AO DIREITO NACIONAL, PERMANECENDO O DIREITO ROMANO-CANÔNICO como fonte permanente, em razão da grande quantidade de lacunas da legislação pátria.
A dificuldade de acesso, pelos juristas, às obras do direito comum romano-canônico (raras e escritas em latim) explica o aumento da circulação de obras simplificadas, com caráter de fonte subsidiária: leis espanholas traduzidas para o português – obras romanas e canônicas traduzidos também para o português, entre elas: as decretais de Gregório XI, o Código Justiniano, a glosa de Acúrsio e os comentários de Bártolo (no reinado de D. João I)
4- Coletâneas Privadas de Leis Gerais anteriores às Ordenações – com o crescimento da atividade legislativa dos reis e do respectivo aumento da jurisprudência do Tribunal da Corte, logo se tornou necessário a compilação do direito pátrio, a fim de facilitar o seu acesso e conhecimento. As primeiras coletâneas não foram objeto de promulgação oficial, ainda que utilizada pelos órgãos públicos (a chancelaria régio e os tribunais):
Livros das Leis e Posturas – sem sistematização, colidiu normas de Afonso II (1211-1223), Afonso III (1245-1279), D. Dinis (1279-1325), Afonso IV (1325-1357) e Pedro I
Ordenações de D. Duarte – foi uma compilação privada de leis desde Afonso II até D. Duarte (1433- 1438). De caráter privado, tomou seu nome devido ao acréscimo do índice e um discurso sobre as virtudes do bem julgador.
Compilação superior a anterior – continha maior número de leis, divididas por reinados e subdivididas por matérias – evitando a repetição.
A experiência adquirida e a consciência da utilidade de uma compilação oficial para o Reino motivaram o mesmo D. Duarte a tender o velhos reclame das Cortes, que há muito solicitavam a redação de uma compilação que pudesse termo às incertezas decorrentes da legislação dispersas e confusa. Assim o trabalho de D. Duarte foi dado continuidade. Com termino no reinado do Afonso V – denominação Ordenações Afonsinas 
As Ordenações do Reino (Afonsinas, Manuelinas e Filipinas), que vigoraram até 1830. 
De tão severas, a ponto de estabelecerem a pena de morte para a maioria das infrações, espantaram até Frederico, o Grande, da Prússia, que ao ler Livro das Ordenações, chegou a indagar: “Há ainda gente viva em Portugal?” Os castigos, porém, eram frequentemente perdoados. A regra era impor uma dialética do terror e do perdão para fazer do rei um homem justiceiro e bondoso, como relata Luís Francisco Carvalho Filho num ensaio sobre a impunidade no Brasil nos tempos da colônia e do Império.
Inicia no reinado de D. João I – junto com a Dinastia de Avis ascendeu ao poder o grupo mercantil urbano, cujos interesses tornaram-se os objetivos nacionais – o trabalho jurídico só foi concluído em 1446 – quase 50 anos após seu início;
A intenção

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