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NORMAS DE REPRODUÇÃO REPETIÇÃO E NORMAS DE IMITAÇÃO

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NORMAS DE REPRODUÇÃO (REPETIÇÃO COMPULSÓRIA) E NORMAS DE IMITAÇÃO NO ÂMBITO DA CAPACIDADE DE AUTO-ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS MEMBROS - IMPACTO NA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL
Abordei na aula de hoje, quando tratava da capacidade de auto-organização dos Estados-Membros, da distinção entre normas de reprodução (ou repetição compulsória) e normas de imitação. 
Quero esclarecer um pouco a discussão para quem não entendeu na sala de aula.
Como afirmei diversas vezes, um dos traços mais relevantes de uma federação consiste no reconhecimento de um determinado grau de autonomia para os entes federados. A grande ideia que está por trás disso é aquela necessidade de manutenção de unidade política e preservação concomitante da pluralidade regional.
A forma de garantir autonomia, nas federações, passa necessariamente pelo estabelecimento de um sistema rígido de repartição de competências, definindo, de modo relativamente claro, a distribuição de tarefas e a quem a definição e implantação de políticas públicas e leis em relação a cada matéria.
Muito bem. Estados integram a federação. Logo, participam do arranjo constitucional de repartição de competências. Possuem diversas espécies de competências que tratei em sala de aula e que no momento não vem ao caso discorrer aqui.
No âmbito da autonomia dos Estados manifesta-se aquilo que a doutrina costuma chamar de Poder Constituinte Decorrente, ou seja, o Poder Constituinte dos Estados-Membros, que se projeta, dentre outros aspectos, na capacidade de auto-organização.
Neste aspecto a Constituição Federal de 1988, em seu art. 25, caput, estabelece que os "Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição".
Isso significa reconhecer, como eu disse, aos estados, um grau de autonomia. Tanto assim que existe a capacidade de auto-organização, mas respeitando-se determinados princípios e normas centrais da Constituição Federal. Caso não existisse esta cláusula de "vinculação", os Estados não teriam nenhum limite no que pertine com a auto-organização e, assim, não possuiriam autonomia mas, sim, soberania. Como existem limites, e é assim que tem que ser, Estados-Membros estão vinculados a algumas (várias) normas da Constituição Federal.
Observem: isso não significa dizer que existe superioridade da União em relação aos Estados. A vinculação é à Constituição Federal, e não à União. E, pelo princípio da supremacia da Constituição, a União também possui limites no que tange com sua auto-organização.
Assim, e deste ponto que emerge a distinção entre normas de reprodução compulsória e normas de imitação.
Quando se diz que os Estados-Membros estão vinculados obrigatoriamente a determinadas normas, ditas centrais, da Constituição Federal, isso significa que algumas normas da Constituição Estadual deverão, obrigatoriamente, reproduzir determinados modelos e opções que já foram traçados pela Constituição Federal. Nesta caso vocês notarão que existem determinadas normas das constituições estaduais que reproduzem normas da Constituição Federal em campo de matérias que são de observância obrigatória. Normas estaduais iguais às federais (no plano constitucional) mas que os Estados-Membros não possuem competência para dispor de forma contrária. Estas normas das Constituições Estaduais que obrigatoriamente reproduzem normas da Constituição federal por falta de opção, pois isto é obrigatória, são conhecidas como NORMAS E REPRODUÇÃO COMPULSÓRIA OU NORMAS DE REPETIÇÃO COMPULSÓRIA. Isso ocorre, por exemplo, no que tange com a definição de formal de governo, sistema de governos, regime de governo, separação dos poderes, direitos fundamentais, processo legislativo, processo eleitoral, vinculação a cláusulas constitucionais sensíveis. Existem outras (e a tarefa de descobri-las nem sempre é fácil). Então, não pode o poder constituinte do Estado membro, mediante reforma constitucional, por exemplo, implantar regime de governo autoritário, adotar forma de governo monárquica, escolher o parlamentarismo como sistema de governo, suprimir direitos fundamentais, relativizar a cláusula de separação dos poderes, adotar sistema proporcional para eleição de cargo de governador etc. Isso tudo feriria algumas normas de reprodução compulsória.
As normas de IMITAÇÃO, por outro lado, se manifestam naquelas situações em que os Estados-Membros possuem autonomia para dispor sobre determinada matéria, podendo disciplina-la da forma como bem entender, todavia, por decisão política (ou falta de criatividade), decide adotar o mesmo modelo adotado pela Constituição Federal. Possui autonomia mas imita, fazendo igual ao modelo válido para a União Federal. Citarei, como exemplo, dispositivo da Constituição Estadual de Alagoas. A Constituição alagoana disciplina, em parágrafo único do art. 70, que "os membros da Mesa Diretora [da Assembleia Legislativa] cumprirão mandato de dois anos, vedada a reeleição, para o mesmo cargo, na eleição imediatamente subseqüente". O constituinte estadual se inspirou no paradigma federal (existe dispositivo idêntico na Constituição Federal de 1988). Tal vedação, porém, não é estendida aos Estados-Membros, conforme já decidiu o próprio STF. Portanto, o constituinte alagoano poderia, por exemplo, consagrar a possibilidade de reeleição para os membros da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa na eleição subseqüente, o que não redundaria em qualquer inconstitucionalidade. Contudo escolheu o modelo federal. Nítida norma de imitação. Outros exemplos de normas de imitação vocês anotaram em sala de aula.
Em resumo: tanto as normas de reprodução compulsória quanto as normas de imitação são normas da Constituição Estadual idênticas às normas da Constituição federal. A diferença básica é que, no primeiro, existe obrigatoriedade na adoção do modelo federal e, no segundo caso, os Estado possuem autonomia para dispor de forma diversa, mas optam por não fazer us desta faculdade.
A RELEVÂNCIA PRÁTICA desse debate reside no plano da JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL. Não vou entrar em detalhes aqui para não fugir do tema. Mas deixo registrado que:
- Lei estadual que fere norma de reprodução compulsória admitirá controle abstrato no STF caso seja escolhida a Constituição Federal como parâmetro ou caberá também controle abstrato perante o Tribunal de Justiça, caso seja escolhida a Constituição Estadual como parâmetro de controle. Tanto faz. Em relação ao controle difuso, a violação de normas de repetição poderá justificar a manipulação de recurso extraordinário.
- Lei estadual que fere norma de imitação admitirá controle abstrato apenas perante o Tribunal de Justiça e sempre tendo a Constituição Estadual como parâmetro para o controle. Em relação ao controle difuso, a violação de normas de imitação não autoriza interposição de recurso extraordinário.
https://www.facebook.com/DireitoConstitucionalPauloRicardoSchier/posts/566184663414312

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